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A Voz Do Passado Historia Oral Paul Thom Rotated

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"A historia oral ndo é necessariamente um instrumento de mudanca; isso depende do esptrito com que seja utilizada, Nao obstante, a histéria oral pode certamente ser um meio de transformar tanto 0 contetido quanto a finalidade da historia, Pode ser utilizada para alterar o enfoque da prépria histéria € revelar novos campos de investigagéo; pode derrubar barreiras que existam entre professores e alunos, entre gerac&es, entre instituicdes educacionais € 0 mundo exterior; e na produgdo da histéria — seja em livros, museus, rédio ou cinema ~ pode devolver ds pessoas que fizeram e vivenciaram a histéria um lugar fundamental, mediante suas préprias palayras.” Paut THomeson aN 05219-0000. oMrasszits030 @ PAUL THOMPSON A VOZ DO PASSADO r AVOZ DO PASSADO -——Histéria Oral PAUL THOMPSON ®D PAZE TERRA A realizagao de uma entrevista ~ recurso utilizado por profissionais de diversas éreas —€ a tinica fecramenta capaz de instrumentalizar ‘0 que se denomina hoje historia oral moderna, Porém, segundo Paul Thompson, a histéria oral é to antiga quanto a pr6pria historia. Um projeto de histéria oral pode ser desenvolvido em diferentes ‘contextos, enquanto iniciativa individual ou trabalho coletivo: em pré-escolas, no primeiro e segundo graus, na universidade, na educagao de adultos, por centros comunitérios, or museus e outras instituigdes A voz do pasado — historia oral tuma obra densa, com preciso te6rica, na qual Paul Thompson | demistifica a histéria e mostra que 0 uso de entrevistas como fonte por historiadores € antigo e perfeitamente compativel com os padrdes académicos. Aponta, com exemplos priticos, como os historiadores podem desenvolver esse método. Além disso, demonstra como a fonte oral pode ser utilizada juntamente com as fontes tradicionais da hist6ria na construglo de uma membria mais democrdtica do passado Mais ainda, esta é também uma obra fundamental para socidlogos, antroplogos, psicdlogos, Pesquisadores, documentaristas, A VOZ DO PASSADO PAUL THOMPSON A VOZ DO PASSADO Historia oral Tradueaio de Lblio Lourengo de Oliveira 28 Edicao PAZ E TERRA (© Paul Thompson 1978, 1988 ‘Traduzido do original em inglés The voice ofthe past oral history Preparagao; Carmem Sim@es Costa Revisdio: Ana Mendes Barbosa e Luis Henrique Nery ‘Capa: Isabel Carballo Dacis Interacionais de Catalogasio na Publicario (CTP) (Cimara Brasileira do Livro, SP, Brasil) ‘Thompson, Paul, 1935- ‘A.vor do passado : histéra oral/ Paul Thompson ; tradugio Lélio Lourengo de Oliveira, — Rio de Janciro : Paz eTera, 1992 1 Historia - Metodologia 2. Histéria oral I, Titulo. 92-2845 cp-907.2 Indices para catilogo sistemitico: 1. Historia : Metodologia 907.2 2. Hiséria oral 907.2 Dircitos adguridos pela EDITORA PAZ E TERRA S.A. Rua do Triunfo, 177 01212 - Sdo Paulo, SP ‘el. (011) 223-6522 Rua Sto José, 90-11? andar cj. 111 120010 - Rio de Janeiro, RI Tel. (021) 221-4066 ‘quesse reserva propriedade desta tradusio 1998 Tmpresso no Brasil / Printed in Brazit INDICE Prefiicio a primeira edigado efiicio d segunda edigao Prefiicio d edigdo brasileira (ria e comunidade Historiadores e histéria oral A contribuigdo da histéria oral Evidéneia Ameméria cocu Projetos Acenitrevista Armazenamento e catalogagio Interpretagao: a construgio da hist. Sen avaene Leituras complementares ¢ notas Modelos de perguntas Indice remissivo 12 4 20 45 104 138 197 217 219 299 338 367 379 PREFACIO A PRIMEIRA EDICAO Este é um livro que trata do método ¢ do significado da historia, Antes de mais nada, é uma introdugio ao uso de fontes orais pelo histotiador. Mas a utilizagao dessas fontes suscita, ela mesma, questdcs fundamentais, ¢ decidi ocupar-me delas de ini- cio, caminhando passo a passo na ditegio dos capitulos seguin- tes, de cardter mais pritico. Ao mesmo tempo, procurei escrever tendo em mente muitos tipos diferentes de leitor. Alguns podem estar mais diretamente interessados em como elaborar um pro- jeto, e em como coletar e avaliar o material de entrevistas. Estes encontraréo conselhos priticos nos capitulos 6 (Projetos), 7 (A entrevista) e 8 (Armazenamento e catalogagio). Na verdade, seria aconselhdvel comegar pelo trabalho de campo. A experién- cia pritica da histéria oral conduziré, por si sé, as questes mais profundas a respeito da natureza da histéria, Essas questdes dizem respeito, em primeiro lugar, ao carter da evidéncia. Até que ponto é confidvel a evidéncia oral? Ela equivale as fontes documentais com que o historiador modem estd mais familiarizado? Essas questées criticas ¢ imediatas sio tratadas no capitulo 4 (Evidéncia). Mas siio mais bem comprecn- didas se colocadas dentro do contexto mais amplo do desenvolvi- mento da produgdo histérica. O capitulo 3 (A contribuiggo da histéria oral) oferece uma avaliagdo da produgao recente e da contribuigio que a evidéncia oral tem dado, a0 oferecer novas 9 perspectivas e revelar novos campos de pesquisa. O capitulo 2 (Historiadores ¢ a histéria oral) vai a0 encalgo dessa questiio no passado da propria histéria, examinando as variadas abordagens da evidéncia pelos historiadores, desde a primazia inicial da tra- digo oral até as cras do documento esctito © do gravador. # inevitdvel, porém, que isto leve a um segundo conjunto de questdes relativas 4 fungio social da histéria. De fato, ficou claro, a0 eserever 0 capitulo 2, que a evolugao das técnicas de estudo s6 podia ser explicada de maneira convincente dentro de um con- texto social determinado. E os problemas ao selecionar e avaliar a evidéncia oral jf haviam apontado na mesma diregio. Como escolhemos a quem ouvir? A histéria sobtevive como atividade social apenas por ter hoje um sentido para as pessoas. A voz do passado tem importincia para o presente. Mas de quem é a voz — ou de quem sio as vozes — que se deve ouvir? ‘Assim, embora se possa tratar do método e do significado como temas independentes, no fundo eles so insepariveis. A es- colha da evidéncia deve refletir 0 papel da histéria na comuni- dade. Em parte, esta é uma questio politica, a cujo respeito os historiadores s5 podem chegar a uma posiglo pessoal inde- pendentemente, Em conseqiiéncia, muito embora mesmo aqui a maior parte da argumentagio seja muito claramente humana nao politica, o capitulo 1 (Historia e comunidade) foi escrito de ‘uma petspectiva socialista. De minha parte, creio que as possibi- lidades mais ricas para a histéria oral se encontram no desenvol- vimento de uma histéria mais socialmente consciente e demoeré- tica, Naturalmente, a partir de uma posigao conservadora também se podetia fazer uma defesa vigorosa da utilizagio da histéria ‘oral para a preservagio da plena riqueza e do valor da tradigiio. O mérito da histéria oral nio € 0 de trazer em si, necessariamente, ‘esta ou aquela postura politica, mas sim o de levar os historiadores a tomarem consciéneia de que sua atividade se exerce, inevitavel- mente, dentro de um contexto social e que tem implicagées politicas. Este , pois, um livro pritico sobre como fontes orais podem ser coletadas ¢ utilizadas pelos historiadores. Mas tam- 10 bém pretende instigar os historiadores a se indagarem sobre 0 que esto fazendo € por qué. A reconstrugao que fazem do pas- sado baseia-se na autoridade de quem? E com vistas a quem ela é feita? Em suma, de quem € A voz do passado? Ao escrever este livro, tive a felicidade de poder contar com a ajuda de muitos amigos ¢ colegas, especialmente da Oral His- tory Society © da Universidade de Essex. Nao é possivel, aqui, registrar minha gratidio sendo a poucos deles separadamente, mas a todos agradego, Em dez anos de atividade de pesquisa e de projetos de estudantes, ¢ de um cireulo cada vez mais amplo de debates e conferéncias, experimentos, etros ¢ éxitos, ergueu-se uma experiéncia coletiva amplamente compartihada. Nisto tudo & que este livro se apdia. Sobretudo, ele se vale do trabalho con- junto, em pesquisa e, a seguir, em cursos de pés-graduaco, a que ‘Thea Vigne e eu nos dedicamos ¢ em que exploramos as possibi- lidades da evidéncia oral na histéria social. Tenho com ela uma dfvida enorme. Gostaria, também, de agradecer mais uma vez aos que foram mencionados no preficio dos primeiros resultados da- quela pesquisa, The Edwardians, ¢ patticularmente a George Ewart Evans ¢ Mary Girling. Quanto a este texto, sou especial- mente grato pelas contribuigdes especificas e pelos comentirios a versées preliminares feitos por Keith Thomas, Geoffrey Hawt- horn, Bill Williams, Colin Bundy, Trevor Lummis, Roy Hay, Mi- chacl Winstanley, Gina Harkell, Joanna Borat, Alun Howkins, Eve Hostetler, Natasha Burchardt e Raphael Samuel. u agora de actescentar muitos de outros paises, especialmente os {niimeros que tio generosamente me acolheram em viagens a Es- PREFACIO A SEGUNDA EDICAO candinavia, Polénia, Franga ¢ Itilia, Bélgica e Espanha, América do Norte e China. Permitam-me apenas que mencione de ma- neita especial Ron Grele, pelo papel fundamental que desempe- nhou na criagdo de um forum internacional para a histéria oral; e que tegistre meu débito pessoal muito especial para com Daniel Bertaux, Isabelle Bertaux-Wiame, Luisa Passerini e nossos de- mais amigos de Turim, com quem trabalhei em projetos conjun- tos de pesquisa nesses anos todos. Muita coisa aconteceu nos dez anos decortidos desde que escrevi este livro. O trabalho que cntdo se iniciava resultou em publicages importantes em histéria, Progredimos em nossa com- preensio da complexidade do processo da meméria e da interpre- tagdo das fontes orais. Assistimos a uma vigotosa difusso de pro- jetos de comunidades locais e ao surgimento de novos movimentos de alfubetizagao de adultos, teatro e terapia de reminiscéncia, Aprendemes mais a respeito do passado da histéria oral. Estabe- ecemos vineulos mais sélidos com a sociologia da histéria de vida © congregamo-nos para constituir uma comunidade internacio- nal de historiadores orais. Toda essa série de acontecimentos reflete-se nesta nova edi- gio. De modo particular, amplici os trés primeiros capitulos sobre histéria e comunidade, os historiadores e a histéria oral, e a contribuigdo da histéria oral; introduzi uma nova discussao sobre “subjetividade”, psicanilise ¢ merméria como terapia, em um ca- pitulo reeserito sobre evidéncia (4) € um novo capitulo sobre a memsria e 0 eu (5); ¢ reescrevi ¢ amplici o capitulo final sobre | interpretago (9), Gostaria de poder agradecer a todos os que me auxiliaram, no correr desses anos, na reclaboragdo e na experiéncia que se Tefletem nesta edigao revista; mais do que nunca, porém, eles sio tantos que é impossivel mencioné-los individualmente. Aos ami- | B05 e colegas britinicos, a quem continuo a dever tanto, gostaria | R B bo bs PREFACIO A EDICAO BRASILEIRA A primeira experiéncia da histéria oral como atividade orga- nizada é de 1948, quando o professor Allan Nevis langou o The Onal History Project da Universidade de Coltimbia, Hoje, nessa ‘mesma universidade, o Oral History Research Office possui uma colegio de mais de 6 mil fitas gravadas e mais de 600 mil pégi- nas de transcrigo. Esse material consultado anualmente por mais de 2.500 pesquisadores, segundo informagées do proprio érgiio sediado na Universidade de Cohimbia, na cidade de Nova York. © boom da histétia oral nos Estades Unidos se deu no final dos anos 60 e inicio dos 70, ¢ originou a Oral History Association (OHA) em 1967, com sua publicagao anual Oral History Review. Houve a proliferagio de programas de historia oral em outras universidades (UCLA, Berkeley), centros de pesquisa e institui- ‘g0es ligadas aos meios de comunicagio — como o New York Times Oral History Program, que foi estabelecido em 1972. A partir de 1970, colegdes de histéria oral foram também incluidas no National Union Catalog: Manuscript Collections, da Biblio- teca do Congresso Norte-Americano, A histéria oral estd hoje consolidada em diversos paises além dos EUA, Gri-Bretanha, Itélia, Alemanha, Canadé, Franca; faz parte do curriculo escolar nos diferentes niveis de aprendi- zado, ¢ cursos sobre © método e teoria sfo oferecidos regular- 14 mente até por universidades tidas como “conservadoras” como as de Coltimbia e Oxford © envolvimento de Paul Thompson com a histéria oral ocorreu na década de 60, quando, historiador social, integrow a equipe do Departamento de Sociologia da recém-fundada Uni- versidade de Essex, colaborando inclusive na elaboragao da seu regimento. Nessa ocasido, ao estudar um perfodo recente de his- tdria social inglesa, sem documentagio nos atquivos ¢ com uma literatura insuficiente, descobriu a importincia das pessoas como testemunhas do passado e, a0 ouvi-las, descobriu que elas tém sempre alguma coisa interessante a dizer. Foi orientado nesse projeto pelo historiador George Ewart Evans, que ha época traba- Ihava em ridio ¢ entrevistava velhos moradores de determinada regio. Ao utilizar os instrumentos de entrevista nos moldes so- ciolégicos, Paul Thompson pereebeu a riqueza ea importincia da memiéria dos sujeitos andnimos, e como o jeito do entrevistado contar “estérias” sobre 0 passado era uma alternativa perfeita para a histéria social. Entretanto, nesse momento a historia oral norte-americana estava voltada para os great men, enquanto que em Essex se buscava 0 testemunho de pessoas comuns, ordinary people, marginalizadas pelo poder, ¢ de idosos ja despossuidos de forea para o trabalho — muna considerados sujeitos da historia pelos historiadores tradicionais. Por isso a historia oral foi, no seu comego, também marginalizada na Gri-Bretanha. A experiéncia de Essex tornou-se modelo adotado por histo- riadores orais de diversos paises, influenciando inclusive pesqui- sadores norte-americanos. Segundo Paul Thompson, foi impor- tante para o movimento o eaniter interdiseiplinar da historia oral, com sua origem no Departamento de Sociologia da Universidade de Essex, pois a confluéncia do trabalho de sociélogos ¢ historia- dores resultou no avango qualitative da Ciéneia Social. Enfrentando oposigao das historiadores mais tradicionais, a Oral History Society (OHS) foi fundada em 1973, na Gri-Bre- tanha, Seu boletim, inicialmente chamado Oral History Newslet- ter e feito de forma mambembe no proprio Departamento de So- 1s ciologia, rapidamente se propagou. Apés a criagio da OHS, o boletim transformou-se no Journal of the Oral History Society. Gradualmente, esse periddico foi aprimorando-se e tomando-se efetivamente um espago destinado a artigos sobre o método e resultados de pesquisa com histéria oral que no teriam espaco em jornais e revistas convencionais, Atualmente, a histéria oral na Gri-Bretanha envolve profis- sionais de diversas éreas. A exemplo da entidade americana, a Oral History Society congrega elementos oriundos dos meios de comunicagao, universidades, muscus, centros de teminiscéncias ete. Digno de nota & o uso da histéria oral para a gerontologia, tendo o processo de reminiscéncias de pessoas idosas implica- ‘ges sociais, inclusive. O Age Exchange Reminiscence Centre é ‘uma instituigo inglesa que tem realizado intensa atividade no ‘campo da reminiscéncia, produzindo pegas, livros ¢ exposiges ‘baseadas em memeérias de pessoas idosas. Essa instituigio tam- ‘bém se tornou um museu do cotidiano, com objetas € utensilios que datam do comego do século, onde as pessoas idasas sio en- corajadas a manusear objetas que fizeram parte de suas vidas e a falar de suas experiéncias. Dessa forma, além de estimular a me- méria, 0 Centro permite o desfrute do lazer, do convivio, que se ‘mostram, na verdade, atividades terapéuticas. ‘A voz do passado — histéria oral de Paul Thompson surgiu em 1978 e ja é considerado hoje um clissico, por sua importante contribuigao ao método ea teoria da historia oral. ‘Sua publicagio no Brasil coincide com a recente visita do historiador que aqui esteve a convite do Museu da Imagem e do Som, érgo da Secretaria da Cultura do Estado de Sao Paulo. O evento, cujo objetivo basico foi introduzir, contextualizar ¢ pro- blematizar a discussio sobre histéria oral, possibilitou 0 amadu- recimento da questio e serviu também como catalisador das miil- tiplas experiéncias que vém sendo desenvolvidas no pais. Além disso, mostrou-nos, concretamente, a existéncia no Brasil de uma quantidade significativa de trabalhos que utilizam a histéria oral como instrumento de pesquisa e como fonte documental. Foram 16 identificados 125 projetos de histéria oral em desenvolvimento, iduais ¢ 76 projetos institucionais. Posterior- mente, no projeto Meméria & Migragio, os seminérios técnicos, ‘que apresentaram métodos e produtos finais de projetas de histé ria oral, despertaram nos participantes grande interesse. Esses dadas so relevantes, pois no Brasil nio hi tradigdes de valoriza- gio do patriménio histérico nacional; a consciéncia e a ago ins- titueionais do setor piiblico ou privado na preservagiio da memé- ria nacional ainda se limitam, timidamente, a preservagio de cconjuntos arquiteténicos do pais. Nesse contexto, « histéria oral pode dar grande contribuigao para o resgate da meméria nacional, mostrando-se um método bastante promissor para a realizagao de pesquisa em diferentes éreas. E preciso preservar a meméria fisica e espacial, como tam- bém descobrir e valorizar a meméria do homem. A meméria de um pode ser a meméria de muitos, possibilitando a evidéncia dos fatos coletivos. ‘Uma das primeiras experiéncias com histéria oral no Brasil cocorreu em 1971, em Sio Paulo, no Museu da Imagem e do Som (MIS), que tem se dedicado a preservagio da meméria cultural brasileira, Outras experiéneies ocorreram no Museu do Arquivo Histérico da Universidade Estadual de Londrina, no Parand (1972), e na Universidade Federal de Santa Catarina, onde foi implantado um laboratério de histéria oral em 1975. Porém, a experiéneia mais importante ¢ enriquecedora tem sido a do Centro de Pesquisa e Documentago de Histéria Contempordnea do Brasil (CPDOC), sediado na Fundagdo Gettlio Vargas, Rio de Janeiro, que dispde de um Setor de Histéria Oral desde a sua fundagaio em 1975. Indubitavelmente, o CPDOC é 0 exemplo da bem-sucedida experiéneia com histéria otal no Brasil, tanto no plano do seu acervo, constituido principalmente de entrevistas com personagens da histéria politica contemporinea do pats, como no plano de comunicagdes, palestras e publicagdes de sua equipe. Tampouco podemos deixar de destacar os projetos de his- teria oral e historia de vida do Centro de Estudos Rurais © Ur- 7 bano (CERU) da Universidade de Sao Paulo, e ainda o trabalho solitétio, pioneiro e interdisciplinar de Ecléa Bosi, que em sua obra Meméria e sociedade: lembrangas de velhos (1979) recons- trdi a historia da cidade de Sao Paulo por meio do registro da mem6éria de idosos. Embora seja inegivel o interesse que a historia oral vern despertando no pesquisador brasileiro, a literatura disponivel & ainda escassa e deixa muito a desejar. Apesar de algumas obras apresentarem bons resultados, elas no problematizam as ques- tes metodoldgicas, priticas e tedricas. O livro de Paul Thomp- son vem, portanto, preencher essa lacuna. Um dos aspectos mais polémicos des fontes orais diz res- peito a sua credibilidade. Para alguns historiadores tradicionais os depoimentos orais siio tidos como fontes subjetivas por mutri- rem-se da meméria individual, que as vezes pode ser falivel e fantasic No entanto, a subjetividade é um dado real em todas as fontes histéricas, sejam elas orais, escritas ou visusis. O que interessa em historia oral é saber por que o entrevistado foi sele- tivo, ou omisso, pois essa seletividade com certeza tem o seu significado. Além disso, este século é marcado pelo avango sem precedente nas tecnologias da comunicagao, o que abalou a hege- monia do documento escrito. Paul Thompson se refere a esses temas e conceitos de forma exaustiva em seu livro, que teve na segunda edigio de 1988 actéscimo importante ao introduzir um capitulo sobre a subjetivi- dade, a psicanilise e a meméria. Paul Thompson ¢ historiador-missiondrio que sabe ouvir as pessoas — caracteristicn fundamental do historiador oral — € tem 0 ideal de contribuir com seu trabalho na elaboragao de uma meméria mais democritica do passado. A histéria oral, pata ele, & também um instrumento de mudanga capaz de colaborar na cons- trugdo de uma sociedade mais justa. A histéria oral possibilita novas versdes da histéria a0 dar voz a miiltiplos e diferentes narradores. Esse tipo de projeto pro- picia sobretudo fazer da histéria uma atividade mais democritica, 18 a cargo das préprias comunidades, jé que permite construir a his- toria a partir das proprias palavras daqueles que vivenciaram e participaram de um determinado periodo, mediante suas referén- cias e também seu imagindtio. O método da histéria oral possibi- lita 0 registro de reminiscéncias das memérias individuais; enfim, a reinterpretagdio do passado, pois, segundo Walter Benjamin, qual- quer um de nés é uma personage histérica. ‘A publicagao do presente livro ¢ um passo decisivo para a consolidagio da historia oral no Brasil, considerando-se a diver- sidade temtica © o numero de projetos aqui existentes. Seria oportuno, a exemplo das experiéneias norte-americana e inglesa, entre outras, termos em perspectiva a criagiio de uma entidade que congtegasse os historiadores orais no plano nacional, possi- bilitasse o aprofundamento de questées tedricas ¢ metodoldgicas ea troca de experiéncias por meio de encontros ¢ publicagées. Enfim, a organizagio de um movimento que visasse princi mente contribuir na recuperagiio ¢ na preservagio da meméria nacional e, conseqiientemente, contribuir para a criagao de uma consciéncia historica, Nosso pasado é nossa memsria, disse Borges. Sénia Maria de Freitas 19 HISTORIA E COMUNIDADE Toda histéria depende, basicamente, de sua finalidade so- cial. Por isso é que, no passado, ela se transmitia de uma geragao a outra pela tradicao oral e pela crdnica eserita, e que, hoje em dia, os historiadores profissionais so mantides com recursos pii- blicos, as ctiangas aprendem histéria na escola, florescem socie- dades amadoras de histétia, ¢ os livros populates de histéria estio entre os mais vigorosos best-sellers. Pot vezes, a finalidade so- cial da histéria ¢ obscura, Hid académicos que continuam fazendo Pesquisa factual sobre problemas remotos, evitando qualquer en- Yolvimento com interpretagdes mais amplas ou com questées contemporineas, insistindo apenas na busca do conhecimento pelo conhecimento. Possuem algo em comum com 0 ameno tue rismo contemporineo que excursiona pelo passado como se fosse ‘mais um pais estrangeiro para onde se evadir: uma heranga de edificios e de paisagens tio temamente apreciada que chega a ser quase desumanameite confortavel, expurgada do sofrimento so- cial, da crueldade e do conflito, a ponto de transformar em verda- deito prazer 0 trabalho dos escravos numa fazenda. Tanto este ‘quanto aqueles cuidam de sua remuneragio livre de interferéncia ©, em troca, nio estimulam qualquer tipo de contestagao a0 sis- fema social. No outro extremo, a finalidade social da histéria pode ser bastante espalhafatosa: utilizam-na para justificar a guerra © a dominagiio, a conquista territorial, a revolugo ou a contra-revolucio, 0 dominio de uma classe ou raga por outa. 20 Quando nao existe historia alguma dispontvel, ela € crinda. Os govemantes brancos da Africa do Sul scparam seus negros urba- nos em tribos e homelands; os nacionallistas do Pais de Gales retinem-se nos eisteddfods, congressos anuais de bardos galeses; ‘os chineses da revolugao cultural foram obrigados a arquitetar as novas “quatro histérias” da luta popular; as feministas radicais cocupatam-se da historia da ama-de-leite em sua busca de miies sem instinto matemal, Entre esses dois extremos, hé muitas ou- tras finalidades, mais ou menos dbvias. Para os politicos, o pas- sado é uma fonte de simbolas em que se apsiam: vitérias impe- is, mértires, valores vitorianos, marchas da fome. E quase igualmente notaveis so as lacunas na apresentagio piiblica da historia: os siléncios da Riissia sobre Trotski, da Alemanha Oci- dental sobre a era nazista, da Franga sobre a guerra da Argélia. Por meio da histétia, as pessoas comuns procuram com- preender as revolugdes ¢ mudangas por que passam em suas prd- prias vidas: guerras, transformages sociais como as mudangas de atitude da juventude, mudangas tecnolégicas como o fim da energia a vapor, ou migragio pessoal para uma nova comuni- dade. De modo especial, a histéria da familia pode dar ao indi duo um forte sentimento de uma duragio muito maior de vida pessoal, que pode até mesino ir além de sua propria morte, Por meio da histéria local, uma aldeia ou cidade busca sentido para sua propria natureza em mudanga, e os novos moradores vindos de fora podem adquirir uma percepeao das raizes pelo conheci- mento pessoal da histéria. Por meio da histéria politica e social ensinada nas escolas, as criangas so levadas a compreender e a aceitar 0 modo pelo qual o sistema politico ¢ social sob 0 qual vivem acabou sendo como é, ¢ de que modo a forga ¢ 0 conflito tém desempenhado ¢ continuam a desempenhar um papel nessa evolugao, desafio da historia oral relaciona-se, em parte, com essa finalidade social essencial da histéria. Essa ¢ uma importante tazo por que ela tem excitado tanto alguns historiadores ¢ ame- drontado tanto outros. Na verdade, temer a histéria oral como tal 2n nio tem fundamento, Veremos mais adiante que a utilizagio de entrevistas como fonte por historiadores profissionais vem de ‘muito longe e é perfeitamente compativel com as padres académi- cos. A experiéncia norte-americana mostra muito claramente que ‘© método da histéria oral pode ser perfeitamente utilizado de maneira social ¢ politicamente conservadora; ou, até mesmo, levado aos li- mites da simpatia pelo fascismo, nio retrato que John Toland fez de ‘Adolf Hitler (Nova York, 1976). ‘A histéria oral nao € necessariamente um instrumento de mudanga; isso depende do espirito com que seja utilizada. Nao obs- tante, a historia oral pode certamente ser um meio de transformar tanto 0 contetido quanto a finalidade da histéria. Pode ser utilizada pata alterar o enfoque da propria histéria e revelar novos campos de investigagio; pode derruber barreiras que existam entre pro- fessores c alunos, entre geragdes, entre instituigdes educacionais e 0. mundo exterior; e na produgdo da histéria — seja em livros, mu- seus, ridio ou cinema — pode devolver ds pessoas que fizeram e viveneiaram a histéria um lugar fundamental, mediante suas pré- prias palavras. Antes deste século, o enfoque da histéria era essencialmente politico: uma documentagdo da luta pelo poder, onde pouca aten- ‘so mereceram as vidas das pessoas comuns, ou as realizagdes da ‘economia ou da religifo, a no ser em tempos de crise, como a Reforma, a Guerra Civil inglesa, ou a Revolugéo Francesa, O tempo histérico dividia-se segundo reinados ¢ dinastias. Até mesmo a histéria local preocupava-se mais com o governo do distrito ou da freguesia do que com o dia-a-dia da vida da comu- nidade e das ruas, Isso se devia, em parte, porque os historiado- res, eles mesmos pertencentes as classes que administravam govemavam, consideravam ser isso o que mais importava. Nao haviam desenvolvido qualquer interesse pelo ponto de vista do trabalhador, a menos que este fosse especialmente importuno; nem — sendo homens — tinham vontade de investigar sobre as ‘experiéneias da vida, entéo em mudanga, das mulheres. Porém, mesmo que tivessem desejado escrever um tipo diferente de his- 2 t6ria, isso nio teria sido nada fécil, pois a matéria-prima a partir da qual a historia era escrita, os documentos, haviam sido preser- vyados ou destruidos por pessoas que tinham as mesmas priorida- des. Quanto mais um documento fosse pessoal, local ou nio-ofi- cial, menot a probabilidade de que continuasse a existir. A ia estrutura de poder funcionava como um grande gravador, que modelava o passado a sua prépria imagem. Isso continuou sendo assim mesmo apds a instalagio de re- partigdes locais de registro, Os registros de nascimentos e casa- mentos, as atas de conselhos ¢ a administragio de ajuda e assis- téncia social aos pobres, jomnais de ambito nacional e local, disrios escolares dos professores — registros legais de todo tipo sio preservados em quantidade; muito freqiientemente, hd tam- bém arquivos de igrejas e balangos e outros livros de grandes firmas ptivadas ¢ de propriedades rurais, e até mesmo correspon- déncia particular da classe fundisria dominante. Porém, onde quer que seja, muito pouco foi preservado dos imimeros cartées- postais, cattas, didrios outros registros do dia-a-dia de homens e mulheres da classe operiia, ou dos documentos de pequenos ne- g6cios, como lojas ou propricdades agricolas de pequeno porte, por exemplo. Em conseqiiéncia, mesmo com a ampliago do campo de interesse da histéria, permaneceu igual o enfoque politico ¢ ad- inistrativo original. Nos casos em que as pessoas comuns foram considetadas, isso em geral ocorreu sob a forma de agregados ‘statisticos provenientes de alguma investigacio administrativa anterior. Assim, a histétia econémica construiu-se em toro de tts tipos de fonte: taxas agregadas de salérios, pregos e desem- rego; intervengses politicas nacionais e internacionais na econo- nia ¢ a informagio decorrente destas; e estudos sobre determina- dos ramos do comércio ¢ da indiistria, que dependiam das firmas maiores e mais bem-sucedidas para os registros de empresas in- dividuais. Analogamente, a historia operétia consistiu, durante muito tempo, de estudos, por um lado, sobre a relagao entre as Classes trabalhadoras ¢ 0 Estado em geral e, por outro, sobre de- 23 terminados relatos, esscncialmente institucionais, de sindicatos e de otganizagées politicas da classe opersiia; e, inevitavelmente, so as organizagoes maiores ¢ mais bem-sucedidas que normal- mente deixam registros ou encomendam suas proprias histérias, A histéria social tem continuado a ocupar-se especialmente dos (acontecimentos administrativos ¢ legislativos, como o surgi- mento do welfare state; ou dos dados agregados, tais como popu- Jago total, taxas de nascimento, idade de casamento, estrutura domeéstica e familiar. E dentre as especialidades historicas mais recentes, a demografia tem-se ocupado quase que exclusivamente de agregados; a histéria da familia, a despeito de alguns ensaios ambiciosos e malvistos para partir para uma historia da emogio € do sentimento, tendeu a seguir as linhes da histéria social tradi- cional; enquanto, pclo menos até pouco tempo atris, a historia das mulheres se centrava, em muito grande medida, na luta poli- tica pela igualdade eivil e, sobretudo, pelo voto. Por cetto, ld excegdes importantes em cada um desses cam- pos, que demonstram serem possiveis abordagens diferentes ‘mesmo com as fontes de que se dispoe. E ha quantidade conside- ravel de informagéo pessoal ¢ comum inexplorada, até mesmo em registros oficiais — tais como documentos judiciérios —, que pode ser utilizada de novas maneiras. O padrio que persiste na produgo de textos histérices reflete, provavelmente, as priotida- des da maioria dos historiadotes profissionais — ainda que nao mais pertencentes classe dirigente propriamente dita — numa era de buroeracia, poder estatal, ciéncia c estatistica. Nao obs- tante, continua sendo verdade que escrever qualquer outro tipo de historia a partir de fontes documentais continua a ser tarefa muito dificil, que requer especial criatividade. Esclarece bem essa situa- gio 0 fato de que The Making of English Working Class (1963), de E. PB. Thompson, e The First Shop Stewards’ Movement (1973), de James Hinton, dependeram ambos, em grande medida, de relates de informantes governamentais pagos do inicio do sé- culo XIX e da Primeira Guerra Mundial, respectivamente. Se his- totiadores socialistas sio constrangidos a escrever histéria a par- 24 tir de registros de espides do governo, fica bem evidente que as restrigdes impostas so extremas. Infelizmente no podemos en- trevistar as Lipides dos timulos, mas, pelo menos para o periodo da Primeira Guerra Mundial e, ainda antes, até fins do século XIX, a utilizagdo da historia oral fornece imediatamente uma fonte rica e variada para o historiador criativo. No sentido mais geral, uma vez. que a experiéncia de vida das pessoas de todo tipo possa ser ulilizada como matéria-prima, a historia ganha nova dimensio. A histéria otal oferece, quanto a sua natureza, uma fonte bastante semelhante autobiografia pu- blicada, mas de muito maior aleance. A maioria esmagadora das tobiografias publicadas sio de um grupo restrito de lideres po- icas, sociais ¢ intelectuais e, mesmo quando o historiador tem a grande sorte de encontrar uma autobiografia exatamente do local, Epoca e grupo social de que esteja precisando, pode muito bem. acontecer que cla dé pouea ou nenhuma afengao ao tema objeto de seu interesse. Em contraposicdo, os historiadores orais podem escolher exatamente a quem entrevistar e a respeito de que per- guntar, A entrevista propiciard, também, um meio de descobrit documentos escritos e fotografias que, de outro modo, nio teriam sido localizados. A frontcira do mundo académico jé no sio ‘mais os volumes tio manuseaclos do velho catilogo bibliogrifico. Os historiadores orais podem pensar agora como se eles préprios fossem editores: imaginar qual a evidéncia de que precisam, ir procuré-la e obté-Ia, Para a maior parte dos tipos existentes de histéria, provavel- mente 0 resultado critico dessa nova abordagem serd propiciar cvidéncia vinda de uma nova diregao. O historiador de politica da classe operiria pode justapor as afirmagdes do governo ou dos ditigentes do sindicato e a vor. das pessoas do povo — sejam elas apiticas, ou militantes. Nao hi divida alguma de que isso deve contribuir para uma reconstrugao mais realista do passado. A tea lidade € complexa e multifacetada; e um mérito principal da his- tétia oral é que, em muito maior amplitude do que a maioria das, fontes, permite que se recric a multiplicidade griginal de pontos 25 de vista. Mas cssa vantagem no é importante apenas para escte- ver histéria. Em sua maioria, os historiadores fazem julgamentos implicitos ou explicitos — 0 que é muito certo, uma vez que @ finalidade social da histéria requer uma compreensio do passado uc, direta ou indiretamente, se relaciona com o presente. Os his- torindores profissionais modemos sio menos francos quanto a suas mensagens sociais do que Macaulay ou Marx, uma vez que se considera que os padres académicos conflitam com um viés declarado. De modo geral, porém, a mensagem social esté pre- sente, ainda que dissimuleda. £ bastante fécil a um historiador dedicar a maior parte de sua atengiio e de suas citagdes aos lide- res sociais que admira, sem emitir diretamente nenhuma opinigo pessoal. Uma vez que é da natureza da maiot parte dos registros existentes refletir 0 ponto de vista da autoridade, no é de admi- ar que 0 julgamento da histéria tenha, o mais das vezes, defen- dido a sabedoria dos poderes existentes. A histéria otal, a0 con- trério, toma possivel um julgamento muito mais imparcial: as testemunhas podem, agora, ser convocadas também de entre as classes subalternas, os desprivilegiados e os derrotados. Isso pro- picia uma reconstrugio mais realista e mais impatcial do pas- sado, uma contestagio ao relato tido como verdadeito. Ao fazé- Jo, a histéria oral tem um compromisso radical em favor da ‘mensagem social da histéria como um todo. Ao mesmo tempo, a histéria oral implica, para a maioria dos tipos de histéria, uma certa mudanga de enfoque. Assim, 0 historiador da educagio passa a preocupar-se com as experién- clus dos alunos e estudantes, bem como com os problemas dos professores ¢ administradores. O historiador militar © naval pode olhat, para além da estratégia em nivel de comando e do equipa- mento, pata as condigdes, recreages e motal dos soldadas rasos © do convés inferior. O historiador social pode passar dos buro- eratas e politicos para o mundo dos pobres, ¢ aprender como o pobre via o funcionirio da assisténcia social e de que modo so- brevivia a suas negativas. O historiador politico pode abordar 0 eleitor em casa ou no trabalho; e pode esperar compreender até 26 mesmo © operitio conservador, que no ctiou nem jornais nem corganizages que possam ser investigados. O economista pode observar tanto o empregador quanto © opersrio como seres so- ciais ¢ em seu trabalho costumeito e, desse modo, chegar mais perto da compreensio do processo econétnico tipico e de seus axitos € contradigées. Em alguns campos, a histéria oral pode resultar nao apenas numa mudanga de enfoque, mas também na abertura de novas reas importantes de investigagao. Os historiadores do movi- mento opetitio, por exemplo, esto pela primeira vez. capacitados empreender estudos convincentes sobre a maioria nio-sindica- lizada dos operérios, e sobre a experiéncia normal de trabalho e seu impacto sobre a familia e a comunidade. Ié no esto mais confinados as categorias sindicalizadas, ou Aquelas que, em sua época, mereceram publicidade e investigagio devido as greves que fizeram ou a extrema pobreza em que viviam. De modo se- melhante, os historiadores urbanos podem deixar as éreas proble- miticas jé bem estudadas, como as favelas, para olhar para outras formas tipicas da vida social urbana: a pequena cidade industrial ou comercial, por exemplo, ou o subtitbio de classe média, onde se criam padrées locais de distingZo social, de ajuda mitua entre vizinhos e parentes, de lazer ¢ de trabalho. Podem, até mesmo, abordar por dentro a histéria dos grupos imigrantes — um tipo de histéria que certamente se tomar mais importante na Gri-Bre- tanha é principalmente documentado apenas exteriormente como ‘um problema social. Destas oportunidades — e de muitas outras — podem partilhar os historiadores orais: 0 estudo do lazer e di cultura da classe openiria, por exemplo; ou do crime, do ponto de vista do Pequeno ladrio, gatuno ou pé-de-chinelo comuns, muitas vezes ‘io identificados e socialmente semitolerados. O traco mais surpreendente de todos, porém, talvez seja o ‘impacto transformador da historia oral sobre a histéria da familia. Sem a evidéncia oral, 0 historiador pode, de fato, descobrir muito Pouca coisa, quer sobre os contatos comuns da familia com os Vizinhos e parentes, quer sobre suas relagdes internas. Os papéis 27 de marido e mulher, a educagdo de meninas ¢ meninos, os confli- tos e dependéncia emocionais e materiais, a luta dos jovens pela independéncia, o namoro, o comportamento sexual dentro ¢ fora do casamento, a contracepgi0 € 0 aborto — todas essas cram, efetivamente, éreas secretas. As tinicas pistas tinham que set pro- curadas a partir de estatisticas agregadas ¢ de uns poucos obser- vadores — em geral parciais. A pobreza historica disso resultante est bem sumariada no estudo especulativo e brilhante, mas abs- trato, de Michael Anderson, Family Structure in Nineteenth Cen- tury Lancashire (1971): uma construgdo irregular e vazia. Com 0 uso da entrevista, é possivel agora desenvolver uma histéria muito mais completa da familia através dos tiltimos noventa ‘anos, ¢ estabelecer seus padres ¢ mudancas principais no correr do tempo, de lugar para lugar, durante o ciclo de vida e entre os sexos. Pela primeira vez, torna-se vidvel a histéria da infiincia como um todo. E, dada a predominéncia da familia na vida de muitas mulheres, pelo trabalho em casa, pelo servigo doméstico e pela maternidade, verifica-se um alargamento quase equivalente do campo de ago da histéria da mulher. Em todos esses campos da histéria, com a introdugdo de nova evidéncia antes néo disponivel; com a mudanga do enfoque da investigagao e com a abertura de novas dreas para ela; con- testando alguns dos pressupostos dos historiadores e julgamentos por eles aceitos; reconhecendo grupos importantes de pessoas que haviam estado ignoradas, dé-se inicio a um processo cumula- tivo de transformagdes. Amplia-se e se enriquece 0 préprio campo de ago da produgio histériea; ¢, a0 mesino tempo, sua mensagem social se modifica. Para ser claro, a histéria se toma mais democratica. A crénica dos reis introduziu entre suas preo- cupagdes a experiéncia de vida das pessoas comuns. Hi, porém, ‘uma outra dimensio igualmente importante dessa mudanca. O processo de escrever histéria muda juntamente com o contetido. A utilizago da evidéncia oral rompe as barreiras entre os cronistas € seu piblico; entre a instituigaio educacional e o mundo exterior. 28 Essa mudanga brota da natureza essencialmente criativa cooperativa do método da histéria oral. E claro que, uma vez gravada, a evidéncia oral pode ser utilizada por estudiosos solité~ Fos nas biblictecas, exatamente como qualquer outro tipo de fonte documental. Satisfazer-se com isso, porém, é perder uma ‘vantagem essencial desse método: sua flexibilidade, a capacidade de dominar a evidéncia exatamente onde ela ¢ necesséria, Assim que os historiadores comecam a entrevistar, véemn-se inevitavel- mente trabalhando com outras pessoas — quando menos com seus informantes. E para ser um entrevistadot bem-sucedido é necessério um novo conjunto de habilidades, entre as quais uma certa compreensio das relagdcs humanas. Alguns adquirem quase jimediatamente essas habilidades, outros precisam aprendé-las; mas em contraposi¢ao ao processo cumulative de conhecer ¢ reu- nir informagGes que tanta vantagem oferece, na andlise documen- tal © na interpretagio, ao historiador profissional experiente, é possivel aprender bem rapidamente a tomar-se um entrevistador eficicnte. Assim, os historiadotes em trabalho de campo, ainda que mantenham, sob muitos aspectos importantes, as vantagens do conhecimento profissional, véem-se também longe de sua mesa de trabatho, compartilhando de expetigncias em nivel humano. Devido a essas caracteristicas, a histétia oral ajusta-se parti- cularmente ao trabalho por projeto — quer para estudantes em grupo, quer individualmente: em escolas, universidades, faculda- des, na educagio de adultos, ou em centros comunitirios. Pode set realizado em qualquer parte. Por todo 0 pais, hd um sem-nti- mero de temas que podem ser estudades localmente; a histétia de ‘uma inchistria ou de um oficio local, relagdes sociais em determi- nada comunidade, cultura ¢ dialeto, mudanga na familia, o im- acto das guettas ¢ das greves, ¢ assim pot diante, Um projeto de histéria oral serd certamente vidvel. Além disso, especialmente sc © projeto enfocar as raizes histéricas de alguma preocupagio contemporinea, demonstrari muito bem a impottincia do estudo histérico para o meio ambiente imediato. 29 Nas escolas, tém sido desenvolvides projetas sobre a histéria das familias dos alunos, que oferecem um meio eficiente de vineu. lar seu priptio ambiente a um pussado mais amplo. A histéria da familia possui dois outros méritos educacionais especiais. Contri- ui para uma abordagem centrada na crianca, pois utiliza como base do projeto o conhecimento que a prépria crianga tem de sua familia e de sua parentela © 0 acesso que tem a fotografia, velhas cartas ¢ documentos, recortes de jomais e recordages, A histéria da familia stimula, também, a participagio dos pais na atividade escolar A histéria da familia de uma crianga talvez represente o tipo mais simples de tema para um projeto. Presta-se mais para suge- tir do que para resolver um problema histérico. Grupos mais ve- lhos provavelmente escolherio algum tema de maior interesse coletive. No Corpus Christi College de Oxford, por exemplo, Brian Harrison conduziu um grupo de seus estudantes em ume Pequena pesquisa sobre a histéria dos funcionatios da faculdade, que so um grupo de trabalhadores cuja maneira antiquada de se comportar, com profundo respeito pelos patrées, lealdade e meti- culosidade no trabalho e formalismo nos modos de vestir ¢ na conduta, causa compreensivel perplexidade 4 maiotia dos eat. dantes de hoje. Com o projeto, eles passaram a compreender me- Ihor os funcionitios — e vice-versa — e, 4 mesmo tempo, & entender melhor o significado da propria histéria. Como comen- tou um deles: “Achei igualmente importante e interessante (..) ver o impacto da mudanga social de maneira realmente detalhada (..) como as mudangas no ambiente social geral mudaram o es- tilo de vida, os valores © as relagSes no interior de uma comuni- dade tradicional”.' Pelo sentimento de descoberta nas entrevistas, © meio ambiente imediato também adquire uma dimensdo histo. rica viva: uma percepgéo viva do passado, o qual no é apenas conhecido, mas sentido pessoalmente. Isto se dé particularmente com elguém que acaba de se mudar para uma comunidade on bairro. Uma coisa é saber que as ruas ou campos em tomo de luna casa tinham um passado antes que ali tivesse chegado; bem diferente ¢ ter tido conhecimento, por meio das lembrangas do 30 [ passado, vivas ainda na meméria dos mais velhos do lugar, das jintimidades amorosas por aqueles campos, dos vizinhos ¢ casas em determinada rua, do trabalho em determinada loja. Esses fatos isolados nao so simplesmente evocativos por si mesmos, mas podem também ser utilizados como matéria-prima para uma histéria valiosa. E possivel até que um estudante, so- zinho, num projeto de entrevistas durante as férias de verio, con- siga ampliar de maneira itil o conhecimento histérico — bem como criat novos recursos que, posteriormente, outros poderao utilizar. Com um projeto em grupo, naturalmente as oportunida- des aumentario. O niimero de entrevistas pode set maior, as bus- ‘cas em arquivos mais amplas, 0 tema mais ambicioso. O projeto em grupo possui algumas caracteristicas peculia- res. Em vez da atmosfera de competigio comum na educacdo, ele requer um espitito de cooperagio intelectual, A leitura solitiria, 0s exames € as aulas expositivas cedem lugar & pesquisa historica fem colaboragio. A investigagio em conjunto também leva pro- fessores ¢ estudantes a um relacionamento muito mais intimo, menos hierirquico, criando muito mais oportunidades de um contato informal entre eles. Sua dependéncia passa a ser reci- proea. O professor pode contribuir com a experiéneia especifica za interpretagdo © no conhecimento de fontes existentes, mas ccontard com 0 apoio dos estudantes na orgenizacio ¢ no trabalho de campo. Por essa via, alguns dos estudantes provavelmente de- monstrarao habilidades insuspeitadas. Nao é 0 que faz as melho- tes dissertagses, nem o proprio professor, que seri nevessaria- mente o melhor entrevistador. Cria-se uma situagio muito mais igualitaria. Ao mesmo tempo, porém paradoxalmente, ao resolver — ou pelo menos interromper — o conflito entre pesquisa ¢ en- sino, isso possibilita que o professor seja um profissional melhor. projeto em grupo ¢ 20 mesmo tempo pesquisa ¢ ensino, inex- tricavelmente mesclados, em conseqiiéncia do que ambos aca- bbam sendo feitos com mais eficiéncia. Contudo, 0 valor essencial dos projetos em grupo e dos pro- jets individuais ¢ semelhante. Os estudantes podem partilhar 31 dos entusiasmos ¢ das satisfagdes da pesquisa histérica criativa de valor intrinseco. Ao mesmo tempo, adquirem experiéncia pessoal sobre as dificuldades desse tipo de trabalho, Formulam uma in- terpretagio ou teoria © logo descobrem fatos excepcionais que sio dificeis de explicar satisfatoriamente, Descobrem que as pes- soas por eles entrevistadas no se ajustam facilmente aos tipos sociais apresentados pelas leituras preliminares. Precise de fatos, ou pessoas, ou registros que se mostram exaspetadora- mente esquivos, Véem-se diante de problemas de vieses, de con- ‘tadigio ¢ de interpretagio da evidéncia. Acima de tudo, so trazidos de volta dos modelos grandiosos da histéria escrita para as vidas ‘humanas, incomodamente individuais, que sio a base daqueles. Ambos os tipos de projeto tém, também, a conseqiéncia importante de fazer a educagao sair de seus refiigios institucio- nais para o mundo. Ambas as partes se beneficiam com isso. O Proceso de entrevista pode reunir pessoas de diferentes classes sociais e grupos de idade que, de outro modo, raramente se en- contrariam, ¢ muito menos se conheceriam intimamente, Muito da hostilidade generalizada contra os estudantes baseia-se no co- nhecimento deficiente sobre aquilo que realmente so ou fazem, © esses encontros podem resultar numa apreciagio da seriedade ¢ do idealismo disseminados entre eles. Podem também mostrar és pessoas comuns que a histéria nao precisa ser imelevante para suas vidas. Inversamente, professores e estudantes poclem tomar sse mais conseicntes da imagem que representam pata o grande piiblico. E, entrando na vida de seus informantes, adquirem uma compreensio melhor dos valores de que nao partilham e, fre- Giientemente, respeito pela coragem demonstrada em vidas muito menos privilegiadas do que as suas. Contudo, mais fundamental do que isso, a natureza da entre- vista implica uma ruptura da fronteita entre a instituigdo educa cional e 0 mundo, ¢ entre o profissional e o publico comum. Pos o historiador vem para a entrevista para aprender: sentar-se a0 pé de outros que, por provirem de uma classe social diferente, ou Por serem menos instruidos, ou mais velhos, sabem mais a tes- 32 ‘to de alguma coisa. A reconstrugéo da historia tomna-se, ela Bon processo de colaboragio imnito mals amplo, em que Mgo-pofissionais devem desempenhar papel crucial, Ao attibuir fim lugar central, cm scus texlos e apresentagées, a pessoas de toda espécie, a historia se beneficia enormemente. E também se peneficiam, de maneira especial, as pessoas idosas. Um projeto de historia oral, mais do que thes propiciar novos contatos sociais ‘gas vezes, levar a amizades duradouras, pode prestar-Ihes um jnestimavel servico. Muito freqiientemente ignoradas, ¢ fragiliza- das economicamente, podem adquirir dignidade e sentido de fi- nalidade 20 rememorarem a prépria vida e fomecerem informa- (g6es valiosas a uma gerag3o mais jovem. Essas mudangas que @ histéria oral toma possiveis niio se Jimitam a escrita de livros ou projetos. Afetam também a apre- sentagdo da histéria em museus, arquivos ¢ bibliotecas. Estes pos- suem agora um meio de infundir vida a suas colegées ¢, com isso, de se pot em relagao mais ativa com a comunidade. Podem elabotar scus préptios projetos de pesquisa, como o de Birming- ham a respeito dos banheiros e Javanderias da cidade, e o de Southampton sobre sua comunidade portudria antilhana, ou como (0s programas do Imperial War Museum a respeito das primicias da aviagdo e sobre os que se recusam ao servigo militar por ra- 28es de consciéncia, Nos tiltimos anos, muitos museus britdnicos tém estado entre os patrocinadores de projetos de histéria oral, oferecendo trabalho tempordrio a jovens desempregados através da Manpower Services Commission, de uma maneira que faz. lem- brar os Federal Writers Projects do tempo do New Deal nos Esta- dos Unidos. Iniciativa especialmente notével é 0 programa do ecomusée realizado na Bélgica por Etienne Bemard, idealizado ‘como um museu sem prédio, atuando pelas comunidades com Drojetos de gravagio ¢ exposigdes tempordtias de fotografias € objetos da vizinhanga, que, a seguir, eram devolvidos a seus pro- Prictarios. E interessante que 0 Museu Judaico de Manchester tenha resultado do programa de histéria oral dos Manchester Studies, langado por Bill Williams, da Politécnica, que estimulou 33 a comunidade judaica da cidade a preservar uma sinagoga vito- riana fechada. Ele foi reaberta como museu permanente onde, enquanto se olham os objetos em exposigo, pode-se erguer um fone de ouvido ¢ escutar as reminiscéncias relativas a eles. Em Erddig, um estabelecimento do National Trust recentemente aberto em Cheshire, entra-se pelos alojamentos dos criados, ao som das vores da iltima geragio de criados ¢ de seus senhores. A pesquisa de histéria oral pode também levar a propria exposig&o a se aproximar mais do original histérico. A disposigao de objetos por época é substituida pela reconstrugio de um apo- sento verdadeiro, com, por exemplo, ferramentas ¢ aparas e ces- tos semifabricados deixados por ali como se 0 attesao ainda os estivesse usando, Em alguns museus eles serdo de fato usados de ‘vez em quando; e hi alguns poucos, como o museu de trabalho agricola de Acton Scott, em Shropshire, em que o trabalho de gravagio e 0 uso disrio dos antigos processos so objetivos que fazem parte integrante do empreendimento como um todo. Quando as pessoas mais velhas do lugar véem esse tipo de museu, prova- velmente tém comentérios a fazer, € podem até colaborar para seu aperfeicoamento cedendo chjetos que possuem. Em um. museu vivo de East London, hé funcionérios que, a0 ouvir esse tipo de comentario, avisam um curador, € logo se oferece 20 idoso uma xfcara de chd e a ocasifo de gravar algumas de suas impresses ali mesmo. Como na maioria dos projetos comuniti- ios, algumas dessas gravacées serdo utilizadas para fazer fitas educativas para as escolas locais; e organizam-se fins de semana para que as criangas — normalmente da sexta série — se encon- trem com os idosos. Desse modo, estabelece-se um didlogo ativo entre os idosos, sua histéria local e um museu que se tomou um. centro social. Eis um modelo de papel social da histéria de ‘grande potencial, que precisa ser difundido para outros lugares. A utilizagio da entrevista para apresentagdes histéricas no rédio é, naturalmente, algo que vem de longe. Ai ha, de fato, uma bela tradigao de téenicas de histéria oral bastante antiga — na verdade, de bem antes de se ter comegado a usar a expressio 34 «sua chance de fazer apresentagSes breves nos intervalos entre os prograimas na Radio Three. Mas a maioria dos que conhego de- Ie cstes mito: mais tuterene por sxzulas programas do. xidlo televiso que evocam a histéria por meio do uso de materiais, alguns datados do petiodo original, outros gravados retrospecti- vyamente. Para o historiador do futuro, a preservagéo de muitos desses programas, juntamente com outros que se encontram nos Arquivos de Som da BBC, propiciar’ uma fonte preciosa. Em contraposigéo, é lamentével que, atualmente, apenas pequena patcela do que se transmite por televisio esteja sendo preservada € que, estranhamente, os historiadores venham demonstrando pouco interesse por essa destruigo sistematica de registros. Nas transmissdes de cariter histérico, 0 que torna os progra- mas vivos € a introdugio das pessoas, os atores originais. Algu- mas emissoras de ridio locais tém utilizado intencionalmente ‘esse tipo de programa para promover a ligagio € o intercimbio ‘com sua comunidade local, por meio de programas de depoimen- tos que estimulam os ouvintes a enviar seus comentitios ¢ a se oferecerem para ser, por sua vez, entrevistados, Uma série sema: nal desse tipo na Radio Stoke-on-Trent teve duragio de dois anos. A série “Making of Modem London” na Weekend Televi- sion de Londres esteve ligada a um concurso de projetos dos pré- Bios telespectadores, a que concorreram escolas locais e centros de idosos, bem como individuos isolados. Para sua série “Making Cars”, a Television History Workshop abriu uma loja proximo & fabrica para arrecadar material ¢ também opinides sobre os pro- 8ramas, Mas talvez o experimento mais impressionante de radio- difusio tenha ocorrido na Suécia. Ali, Bengt Jansson teve a opor- tunidade de organizar, pela televisio educativa sueca, uma série Sobre mudanga social (“Bygd i forvardling”), concentrada em duas regides do pais, onde se instalaram setecentos circulos Jo- sais de debates, ligados aos programas, reunindo ao todo 80 mil Pessoas no intereambio de sua experiéncia pessoal com a histéria Ro comer da vida. [ coral”. Por certo, os historiadores profissionais tiveram 35

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