Um trabalho de tese, embora aparentemente individual, autoral, não é possível sem que haja uma infinidade de interações fundamentais para a sua realização e conclusão a bom termo. Por esta razão sinto-me imensamente grata a toda essa rede...
moreUm trabalho de tese, embora aparentemente individual, autoral, não é possível sem que haja uma infinidade de interações fundamentais para a sua realização e conclusão a bom termo. Por esta razão sinto-me imensamente grata a toda essa rede de colaboradores que se formou em razão desta pesquisa. Como não seria possível nominar todas as pessoas que direta ou indiretamente são também um pouco responsáveis por esta empreitada, mencionarei alguns representantes deste vasto grupo, imaginando que as eventuais ausências se sentirão representadas. Inicio agradecendo ao Prof. Dr. Jalcione Pereira de Almeida, meu orientador, com quem muito aprendi durante estes mais de quatro anos de boa convivência. Em seu nome agradeço também a todos os professores do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Rural, que, sem dúvida, muito me ensinaram e me incentivaram à realização deste trabalho. Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Espírito Santo, que me concedeu o afastamento de minhas funções docentes durante 48 meses para que fosse possível a minha qualificação profissional. Em especial, agradeço aos professores Andrea Weiss, Haloysio Miguel de Siqueira e Lenir Cardoso Porfírio que gentilmente concordaram em assumir as responsabilidades sobre meus encargos didáticos durante meu período de afastamento. Este afastamento também só foi possível porque durante 2 anos o amigo e professor Paulo Jorge Lucio se dispôs a trabalhar voluntariamente, sem remuneração alguma, oferecendo as aulas de sociologia que estavam sob minha responsabilidade. Se não fosse essa doação, possível apenas entre amigos verdadeiros, não teria sido possível minha permanência em Porto Alegre. Mais uma vez, Paulo, muita gratidão. Agradeço também aos meus colegas da Turma de 2013 do PGDR, tanto os do mestrado, como os do doutorado, com quem convivi e também tive a oportunidade de aprender e ensinar. Este processo de aprendizado contínuo e mútuo também foi muito potencializado pelos colegas do Grupo de Pesquisa Tecnologia, Meio Ambiente e Sociedade, em especial a Lorena, a Yara, a Gitana, a Camila, o Felipe e o Adriano, com quem tive uma convivência mais próxima. A vocês todos, muito obrigada. À Ana Cristina Hebling Meira, minha irmã, agradeço a tradução para o inglês do resumo deste trabalho. Aos meus companheiros de moradia em Porto Alegre, em especial à Silvia, à Maria e ao Mário que, em muitos momentos de solidão e saudades de casa, me fizeram companhia, doaram um pouco de si e de seu tempo em bate-papos acolhedores, me incentivaram continuar o trabalho em momentos de "preguiça", se dedicaram a preparar gostosas refeições e partilhar comigo, se preocuparam com minha saúde, me mostraram um pouquinho da cidade em deliciosos passeios e constituíram-se em verdadeiros amigos que seguirão sempre comigo pelos caminhos da vida. Agradeço também a todas as pessoas que de alguma maneira tiveram que aceitar minhas ausências, entre elas os amigos do Sítio Jaqueira e companheiros de projetos, em especial todos os participantes do projeto Plantadores de Água e todos os membros da Plant'Água. A distância geográfica impôs um distanciamento de meus familiares (meus pais, meus irmãos, meus sobrinhos), mas durante todo esse tempo eles não apenas compreenderam minhas ausências, como me deram muito apoio para seguir em frente, trocaram o local das férias do Sítio em Alegre para um apartamento no litoral do Espírito Santo e, no caso específico de minha mãe e meus sobrinhos Thiago e Lucas, deixaram os passeios típicos de férias para me acompanharem em entrevistas e visitas aos meus interlocutores. Ao Thiago devo também algumas fotos feitas em minha pesquisa de campo. A todos, meus mais profundos agradecimentos. Esta temporada em Porto Alegre me obrigou a deixar minha casa em Alegre aos cuidados de amigos que guardaram e cuidaram de minhas coisas. Neste sentido, sou especialmente grata à Joana, colega que dividiu a casa comigo durante o período em que eu cursava as disciplinas. Por fim, sou também profundamente grata ao meu companheiro Newton. Ele esteve comigo durante todo esse tempo, cuidando de mim, de minha casa, de meus bichos de estimação, me apoiando nos momentos de dificuldades e fraquezas, sem se queixar da distância ou das ausências que este trabalho impôs. Muito obrigada! Esta pesquisa tem como objetivo principal problematizar as situações de disputas onde, de um lado estão os grandes projetos para o desenvolvimento do litoral sul do Espírito Santo, mais especificamente a construção dos terminais portuários da Itaoca Offshore e da Edson Chouest e a construção do Porto Central, e, de outro, as comunidades de pescadores artesanais das praias de Itaipava, do Pontal e de Marobá, questionando sobre a possibilidade de existência de acordos pacíficos, justos e justificáveis, assim como anseiam os pescadores atingidos. Para tanto, parte de dados empíricos coletados em pesquisa de campo, por meio de observação, diário de campo, entrevistas semiestruturadas e análise documental, com o objetivo de responder às seguintes questões: por que nos projetos de desenvolvimento existem parcelas da população que não partilham de suas "benesses", ao contrário, sofrem consequências degradantes em que por vezes são impedidas de continuar exercendo seu trabalho ou até mesmo são expulsas de seu local de origem? Quais as características destas disputas considerando-se a relação sociedade e natureza? Elas podem ser configuradas como conflitos ambientais? Os sentimentos de justiça que motivam as críticas aos grandes projetos de desenvolvimento, ou que os justificam, são passíveis de fundamentarem acordos pacíficos, justos e justificáveis? Apoiando-se nas contribuições de ), Foucault (1998), Massey;), Escobar (2013), se interpreta o desenvolvimento do litoral sul do Espírito Santo como um mito construído a partir de práticas discursivas, que o elabora como um lugar "atrasado" e "vazio" e, portanto, como uma "entidad desarrollable". O discurso do desenvolvimento oculta as diferenças presentes no espaço e pretende uma homogeinização imposta pelos interesses dos grandes empreendimentos, razão pela qual as "benesses" do desenvolvimento não são partilhadas com parcela significativa da população local. As diferenças locais mencionadas são interpretadas como uma diversidade de perspectivas que provoca um encontro problemático de práticas, característico dos conflitos ambientais. Esta conclusão se apoia nas contribuições de Fleury (2013), Latour (2007) e Stengers (2007), por meio, das categorias analíticas de "conflitos ambientais", "pluriverso" e "cosmopolítica" e visa demonstrar que a relação entre humanos e não humanos desempenha um papel importante na configuração destas diferenças, o que permite concluir que as disputas em tela configuram-se como conflitos ambientais. Retomando , tomam-se as críticas empreendidas pelos agentes sociais a fim de verificar se os sentimentos de injustiça que as motivam -e que carregam consigo, portanto, uma concepção de justiçaencontram alguma semelhança com as concepções de justiça que embasam as justificativas para as ações de desenvolvimento. Não encontrando tal semelhança, conclui-se que a relação entre humanos e não humanos também cumpre papel importante para a construção de ideias de justiça, o que nos leva a sugerir um abandono da perspectiva de humanidade comum, ou de bem comum, como elemento pacificador e que permite então acordos justos, e sugere-se ampliar a visão de justiça, do ponto de vista da pragmática, para a noção de "cosmojustiça".