MEDIDA DE SEGURANÇA
Medida de segurança:
é a modalidade de sanção penal com finalidade exclusivamente
preventiva, e de caráter terapêutico, destinada a tratar inimputáveis
e semi-imputáveis dotados de periculosidade, com o escopo de evitar
a prática de futuras infrações penais.
DIFERENÇAS ENTRE PENA E MEDIDA DE SEGURANÇA:
PENA:
Tem caráter retributivo-preventivo;
O fundamento da aplicação da pena é a culpabilidade;
Têm prazo determinado.
São aplicadas aos imputáveis e aos semi-imputáveis sem
periculosidade.
Medida de Segurança
Medida de Segurança:
Têm natureza essencialmente preventiva. Olha-se para o futuro,
busca evitar a reincidência, ou seja, que o agente volte a
delinquir.
Obs. Não obstante, Rogério Sanches entende que não se pode negar
o caráter aflitivo da medida de segurança.
Não possuem prazo determinado.
São aplicadas aos inimputáveis, e, excepcionalmente, aos semi-
imputáveis dotados de periculosidade, ou seja, que precisam de
tratamento curativo.
PRINCÍPIOS DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA:
Legalidade; Anterioridade; Jurisdicionalidade.
REQUISITOS PARA APLICAÇÃO DA
MEDIDA DE SEGURANÇA
Prática de um fato típico e ilícito;
Deve haver existência de fato típico, e ilícito; e provas de autoria e
materialidade.
O fato de o agente ser inimputável é motivo suficiente para a
imposição da medida de segurança?
Aplica-se medida de segurança ao inimputável que tenha praticado
um fato típico em estado de necessidade/legítima defesa?
Periculosidade do agente:
Periculosidade é a efetiva probabilidade do agente (inimputável ou
semi-imputável) voltar a delinquir.
O Código Penal prevê duas espécies de periculosidade:
Periculosidade presumida, ocorre quando o sujeito é considerado
inimputável (art. 26, do CP);
Periculosidade real ou judicial:
Ocorre quando o agente é considerado semi-imputável (art. 26, p.
único, do CP), e o magistrado entender que ele precisa de especial
tratamento curativo, ou seja, que possui periculosidade.
Não tenha ocorrido a extinção da punibilidade.
Natureza da sentença penal nos casos do inimputável (art. 26) e
do semi-imputável (art. 26, p. único):
Inimputável: Sentença absolutória imprópria;
Semi-imputável: Sentença condenatória. Há presença de
culpabilidade, embora diminuída, o que autoriza a imposição da
pena, obrigatoriamente reduzida de 1 a 2/3.
Atenção!!! Se for constatada a periculosidade do agente semi-
imputável, bem como a necessidade de tratamento curativo, a
pena reduzida pode ser substituída por medida de segurança.
SISTEMA DUPLO BINÁRIO/DUPLA VIA
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SISTEMA VICARIANTE/UNITÁRIO.
Antes da reforma da parte geral do CP (lei 7.209/84), imperava o
sistema duplo binário, pelo qual o semi-imputável perigoso
inicialmente cumpria pena privativa de liberdade, e ao final desta,
se subsistisse a periculosidade, era submetido a medida de
segurança.
Atualmente, o art. 98 do CP adota o sistema vicariante/ou
unitário, pois ao semi-imputável será aplicada pena privativa de
liberdade, com o reconhecimento da causa de diminuição de pena
- minorante - ou será aplicada a medida de segurança, mas
NUNCA as duas.
Espécies de medida de segurança
ESPÉCIES DE MEDIDA DE SEGURANÇA:
Detentiva: Consiste em internação em hospital de custódia e
tratamento psiquiátrico, ou em outro estabelecimento adequado.
Ocasiona a privação da liberdade do sujeito.
Obs. Atualmente, Adélio Bispo está internado na Penitenciária Federal de
Campo Grande/MS.
O STJ e o STF negaram o pedido de transferência formulado pela DPMG.
Restritiva: Consiste no Tratamento Ambulatorial.
o agente permanece livre, mas submetido a tratamento médico
adequado.
critério utilizado para a escolha da
espécie da medida de segurança
De acordo com o art. 97 do CP o critério para a escolha da espécie de
medida de segurança reside na natureza da pena privativa de
liberdade cominada abstratamente.
Se o fato for punido com reclusão: Aplica-se a internação.
Se o fato for punido com detenção: O Magistrado poderá aplicar
tratamento ambulatorial ou internação, levando-se em
consideração a periculosidade do agente.
Obs. O critério adotado pelo CP é criticado pela doutrina e pela
jurisprudência.
Ex: Um agente imputável condenado por furto simples dificilmente
será recolhido ao cárcere.
Todavia, se se tratar de agente inimputável, ele seria internado
(privação da liberdade), pois é prevista pena de reclusão para o crime
de furto.
Prazo da medida de segurança
Prazo mínimo da medida de segurança:
A sentença que aplica medida de segurança deve fixar o prazo
mínimo de internação ou tratamento ambulatorial, entre:
1 a 3 anos: prazo mínimo, art. 97, §1º do CP.
Prazo máximo da medida de segurança:
O art. 97, §1º, 1ª parte do CP, prevê que a internação ou o
tratamento ambulatorial será por tempo indeterminado,
perdurando enquanto não for averiguada, mediante pericia médica, a
cessação da periculosidade.
Para o legislador a medida de segurança seria um bem, destinado a
proteger o autor de uma infração penal.
Assim, pelo texto da lei, a medida de segurança pode ser eterna,
acaso não haja a cessação da periculosidade do agente.
Posicionamento da doutrina e da jurisprudência:
1ª corrente: Deve-se aplicar, por analogia, o limite de
cumprimento de pena (40 anos) para a medida de segurança;
2ª corrente: A duração da medida de segurança não pode
ultrapassar o limite máximo da pena cominada
abstratamente ao delito praticado.
Efeitos da condenação
O que é a sentença penal condenatória?
Trata-se de ato exclusivo do poder judiciário;
Deve respeitar o devido processo legal;
Aplicação de pena por meio de sentença ou acórdão.
Agente culpável.
Efeitos da condenação: São as consequências que atingem
direta ou indiretamente o autor da infração penal.
Só há que se falar em efeitos da sentença penal condenatória se
houver TRÂNSITO EM JULGADO.
Qual a natureza jurídica da sentença que aplica medida de segurança
aos inimputáveis? Aplicam-se os efeitos da condenação neste caso?
Resposta: Art. 386, CPP, parágrafo único.
Qual a natureza jurídica da sentença que aplica medida de segurança
aos semi-imputáveis? Aplicam-se os efeitos da condenação neste caso?
Efeitos principais da sentença penal
Imposição de sanção penal, ou seja, pena privativa de liberdade,
restritiva de direito, multa, e imposição de medida de segurança ao
semi-imputável, dotado de periculosidade.
Efeitos Secundários
Os efeitos secundários se dividem em penais e extrapenais.
PENAIS: Relacionados ao direito penal;
EXTRAPENAIS. Efeitos não relacionados ao direito penal.
Caracterização da reincidência (art. 63 e 64 do CP);
Efeitos secundários de natureza penal
Fixação do regime fechado para o cumprimento da pena privativa
de liberdade - pelo menos para o CP (art. 33, §2º do CP);
Configuração dos maus antecedentes. (art. 59 do CP);
Impedimento de suspensão condicional da pena, ou revogação do
Sursis e/ou livramento condicional. (arts. 77, I e § 1.º, 81, I, 86,
caput, e 87).
Aumento ou interrupção do prazo da prescrição da pretensão
executória (arts. 110, caput, e 117, VI);
Conversão da pena restritiva de direito em privativa de liberdade,
se não for possível o cumprimento simultâneo (art. 44, §5º do
CP).
Impede o acordo de não persecução penal; na lei 9099/95 impede a
transação penal e a suspensão condicional do processo.
EFEITOS SECUNDÁRIOS DE NATUREZA EXTRAPENAL
Os efeitos secundários de natureza extrapenal se subdividem em
efeitos:
Genéricos: Recaem sobre todos os crimes. O efeito genérico é
automático, art. 92, do CP.
Específicos: Aplicam-se a determinados crimes. O efeito específico
não é automático, art. 92, §único do CP.
Efeitos secundários de natureza extrapenal em espécie:
1. REPARAÇÃO DO DANO
Previsão legal: Art. 91, I. Não se pode confundir a responsabilidade
civil com a responsabilidade penal, pois são distintas e autônomas.
Busca-se facilitar o ressarcimento da vítima, afinal, há uma condenação
penal que reconhece a materialidade e a autoria, portanto, não há que
se obrigar a vitima a entrar com ação de conhecimento na esfera
cível.
De acordo com o art. 515, VI, do CPC, a sentença penal condenatória
transitada em julgado consiste em título executivo judicial, e,
portanto, pode ser executada no cível.
Todavia, deve haver a liquidação no juízo cível, art. 509 CPC.
O Juízo Criminal, por ocasião da prolação da sentença, deve fixar
um valor mínimo para a reparação do dano – art. 387, IV, do CPP.
Este valor pode ser executado diretamente no cível.
Mas, se a vítima quiser apurar/aumentar o valor do dano
efetivamente sofrido, deverá liquidá-lo no cível, art. 63, CPP.
Se a vítima for hipossuficiente, a Defensoria Pública promoverá a
execução, ou o Ministério Público, se não houver Defensoria na
comarca.
Pode-se executar a sentença penal condenatória contra quem não foi
parte no processo criminal? Não. Neste caso, a sentença servirá
apenas como prova – e não como título executivo, sendo que a
vítima deverá entrar com ação de conhecimento no cível.
Obs. No caso de falecimento do réu, a vítima pode executar a
sentença penal condenatória contra os herdeiros?
Sim, até o limite da herança, afinal, trata-se de efeito da
condenação – e não pena.
Obs. E a pena de multa poderá ser executada em desfavor dos
herdeiros?
Não, pois trata-se de pena, e a pena somente pode ser imputável
ao réu, sob pena de violação ao princípio da pessoalidade ou
Intranscendência.
Obs. E se a natureza jurídica da decisão for de sentença declaratória:
Ex. extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva,
arquivamento de inquérito policial, transação penal, entre outros?
Neste caso, a vítima deverá intentar ação civil de indenização em
razão de ato ilícito, ou seja, ação de conhecimento.
Obs. O ofendido não precisa aguardar o desfecho da ação penal
para ingressar no juízo cível, mas, neste caso deverá entrar com
ação civil ex delicto, a qual poderá ser suspensa durante o tramite
da ação penal. (art. 64 do CPP).
A absolvição na esfera penal faz coisa julgada no campo civil,
impedindo a reparação do dano, quando fundamentada no:
Reconhecimento inequívoco da inexistência do fato ou
da autoria;
Exercício regular do direito;
Estrito cumprimento do dever legal;
Legítima defesa.
Em caso de absolvição penal em razão da comprovação do estado de
necessidade, permanece a responsabilidade civil, na forma
prevista no art. 929 do Código Civil.
Neste caso, se o proprietário da coisa destruída não foi o causador do
perigo, este poderá ingressar com ação contra o autor do fato típico.
Confisco
2. Confisco - Previsão legal: Art. 91, II, do CP.
O Confisco é previsto como efeito secundário extrapenal genérico
da condenação penal, assim como a reparação do dano.
Confisco, como efeito da condenação, é a perda de bens de
natureza ilícita em favor da União.
Não é possível o confisco de bens particulares e lícitos do
condenado.
Ex: Condenação por porte ilegal de arma de fogo, quando o agente
possui o registo da arma. A arma deverá ser restituída ao
proprietário.
Instrumento do crime (instrumenta sceleris) é o meio de que se
vale o agente para cometer o delito, e apenas pode ser confiscado
quando seu fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constituir fato
ilícito.
Produto do crime (producta sceleris) significa a vantagem direta
obtida pelo agente em decorrência da prática do crime:
É o caso do relógio roubado.
Proveito do crime, por outro lado, é a vantagem indireta do
crime, (é o caso do ouro derivado do derretimento do relógio),
o bem adquirido pelo agente em razão de alienação do
produto do crime (o dinheiro auferido com a venda do relógio
roubado).
O produto e o proveito do crime deverão ser restituídos ao
prejudicado pelo crime ou ao terceiro de boa-fé.
Essa restituição será possível ainda que se trate de bem cujo fabrico,
alienação, uso, porte ou detenção se constitua em fato ilícito, desde
que tal pessoa, por força de sua qualidade ou função, tenha
autorização para ser seu proprietário. Exemplo: uma arma de guerra
é apreendida, mas vem a ser devolvida ao seu legítimo dono, um
colecionador de armas autorizado pelo Comando do Exército.
CONFISCO ALARGADO
Confisco é um efeito da condenação. No Brasil sempre foi limitado
aos instrumentos do crime, ao produto e ao proveito do crime.
Todavia, o confisco alargado não segue esse padrão.
CONFISCO ALARGADO - Art. 91-A. – Já existia na lei de
lavagem e de orcrim.
Se aplica aos bens correspondentes à diferença entre valor do
patrimônio do condenado e àquele que seja compatível com o seu
rendimento licito.
Requisito para aplicação:
A pena máxima em abstrato deve ser superior a 6 anos de
reclusão, ou seja, de 7 em diante; Só é cabível em crimes
produzam enriquecimento ilícito.
Poderá ser decretada a perda. É uma faculdade, e não uma
obrigatoriedade. O art. 91-A tem que ser declarado na sentença
pelo juiz.
Ex: Operação Faroeste, venda de sentenças no TJBA. O Magistrado
possuía um patrimônio superior ao patamar de um servidor público.
O que se pode considerar como patrimônio do condenado:
O de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha domínio e
o beneficio direto ou indireto, na data da infração penal ou
recebido posteriormente.
Bens transferidos a terceiros a titulo gratuito, ou mediante
contraprestação irrisória. Também são considerados patrimônio do
agente.
O condenado poderá demonstrar que o patrimônio é lícito e se enquadra
dentro dos seus rendimentos. O que a lei faz é uma presunção
relativa, logo, admite-se prova em contrário.
O MP deve requerer expressamente o confisco alargado na denúncia,
indicando a diferença apurada – não se trata de efeito automático (MP
tem que informar o patrimônio que ele poderia ter licitamente, e
Efeitos secundários de natureza
extrapenal específicos
Previsão legal: Art. 92, do CP. Ler.
Estes efeitos NÃO SÃO AUTOMÁTICOS, portanto, devem ser
declarados de maneira fundamentada na sentença.
Deve-se analisar: A extensão do dano, as condições pessoais do réu;
e o caso concreto.
I. Art. 92, inciso I - a perda de cargo, função pública ou
mandato eletivo:
Há previsão de duas hipóteses:
1ª Hipótese alínea a) Condenação igual ou superior a um ano,
por crimes praticados contra a Administração Pública.
Requisitos
A infração deve ter sido praticada com abuso de poder: Desvio de
finalidade ou excesso de poder; ou violação de dever inerente
ao cargo, função ou atividade pública: O agente deve de alguma
forma violar os deveres impostos pelo cardo;
A pena aplicada deve ser igual ou superior a um ano de
prisão;
Deve haver fundamentação na sentença, pois estes efeitos não
são automáticos.
Tem que analisar se o agente é funcionário público nos termos do
art. 327 do CP, e se ele se valeu das facilidades
proporcionadas pelo cargo ou função que ocupa.
Ex: Crime de Peculato.
Para Bitencourt a perda se restringe ao cargo/função/ou
atividade ocupada pelo agente à época do fato criminoso;
Para Cléber Masson: No caso concreto, excepcionalmente, o
magistrado pode estendê-lo a cargo, função pública ou mandato
eletivo diverso do exercido pelo agente ao tempo da
condenação, caso entenda que o novo posto guarda relação com
as atribuições anteriores.
STJ já adotou esta 2ª corrente.
2ª HIPÓTESE alínea b) Quando for aplicada pena privativa de
liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais
casos.
Aqui pode ser qualquer crime, ou seja, não precisa ser crimes
relacionados à Administração Pública.
Requisitos:
Natureza da pena: privativa de liberdade;
Pena aplicada superior a 4 (quatro) anos.
Deve haver fundamentação na sentença, pois estes efeitos não
são automáticos.
Nas duas hipóteses não há que se falar cassação da
aposentadoria, ainda que o crime tenha sido praticado quando o
agente estava na ativa, por ausência de previsão legal.
O rol do art. 92 é taxativo. Vedada a interpretação extensiva ou
INCAPACIDADE PARA O EXERCÍCIO DO PÁTRIO PODER –
PODER FAMILIAR
Requisitos:
condenação definitiva por crime doloso, cuja pena prevista
seja de reclusão, independente do quantum aplicado;
O crime deve ser praticado contra filho, tutelado ou
curatelado;
Deve haver fundamentação na sentença, pois estes efeitos não
são automáticos.
A incapacidade para o exercício do pátrio poder se estende aos
outros filhos (não vítimas)?
Nucci entende que não se estende.
Cléber Masson entende que pode se estender a outros crimes, pois
se um pai estuprou uma filha, não se pode esperar que ela faça o
mesmo com a outra filha.
Inabilitação para dirigir veículos utilizados em crime doloso
Trata-se de efeito extrapenal não automático:
Requisitos:
Deve se tratar de condenação definitiva por crime doloso;
O veículo deve utilizado como instrumento do crime.