PEDRO MARIANO
LEGADO MASSAPEENSE
Osmundo Pontes & Osvaldo Aguiar
© 2025 by Pedro Mariano
Todos os direitos reservados
ISBN: 978-65-01-45463-4
Autor
Pedro Mariano
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O autor
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1ª
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Produzido e publicado no Brasil.
SUMÁRIO
07 O Legado de Osmundo Pontes
21 O Legado de Osvaldo Aguiar
31 Entre o Passado e o Presente
33 A História Continua...
37 Registros de Osmundo Pontes
40 Registros de Osvaldo Aguiar
43 Referências
DEDICATÓRIA
Dedico este livro a todos que acreditam na força e na
efervescência da memória - ao poder das lembranças, ao
saber, às reminiscências vividas outrora, assim como às que,
futuramente, ainda hei de experimentar.
À minha terra amada, Massapê, e a querida capital,
Fortaleza.
Aos mestres massapeenses Francisco Osmundo Pontes
e Raimundo Osvaldo de Aguiar - por mais que não tenha
vivido a época em que enfrentaram seus caminhos, sei, com
admiração, da grandeza de suas trajetórias, que tanto nos
orgulham.
A Deus, à minha querida e adorável mãe, Eliane Mariano,
e a todos os meus amados familiares, pilares do meu afeto.
Aos amigos do coração: escritor Eudes de Sousa,
genealogista Assis Arruda, juiz de direito Santamaria
Mont’Alverne, ensaísta Gerardo Soares e o escritor Davi
Helder de Vasconcelos, figuras marcantes na sociedade
cearense.
Às nobres instituições culturais que mantêm vivia a
chama da palavra e do pensamento, e onde se congrega
amigos das letras: Academia Massapeense de Letras e Artes,
Academia Sobralense de Estudos e Letras, Instituto do
Ceará, Instituto de Sobral, Instituto do Maranhão, Academia
Cearense de Letras, Academia Cearense de Literatura e
Jornalismo, Associação Cearense dos Escritores, dentre
outras agremiações.
APRESENTAÇÃO
No berço fecundo da terra que nos acolhe, o solo rico
em memórias e esperanças, Massapê repousa na
centelha do tempo.
Esta publicação nasce do íntimo desejo de resgatar
a história de personalidades que tanto contribuíram
para o patrimônio cultural e literário do município que,
embora ainda ecoam no globo municipal, fazem jus ao
esquecimento nas lembranças dispersas dos filhos da
terra. É, ao mesmo tempo, portanto, um convite ao
passado e uma celebração do presente, que aqui, nesta
escrita, busca se perpetuar.
Um, filho natural da terra argilosa, o outro, com
raízes entrelaçadas ao solo massapeense. A cada linha
transcrita, oferece-se um presente aos olhos sensíveis
dos massapeenses que, certamente, caminham pelas
veredas da memória.
Osmundo Pontes e Osvaldo Aguiar, vultos marcantes
que percorreram o solo serra-verdense, pairando
vestígios do que se foi, e que, por fim, deu broto.
A escrita que aqui se estabelece foi erguida com
árdua dedicação. De um ponto a outro, foi-se meses de
pesquisa, revisando datas, relendo contextos,
mergulhando em arquivos e memórias, em jornadas
que se estenderam pelo estado do Ceará, sobretudo na
capital, Fortaleza.
Se estas páginas encontrarem o fulgor nos olhos do
leitor, o mesmo despertar que me iluminou ao escrevê-
las, em especial, ao vivenciá-las, saberás, então, da
narrativa viva que há de germinar em cada linha
absorvida.
O autor
Página 07
O LEGADO DE
OSMUNDO PONTES
Nas raízes da Serra da Meruoca, eis que surge um
conglomerado de habitantes. A Vila de Serra Verde,
sitiada na mais magnificência das serras que a
contornam, é terra de nobre grandeza já habitada.
Osmundo Pontes e Osvaldo Aguiar, vultos distintos,
com raízes enlaçadas ao solo serra-verdense - hoje
batizada como Massapê - são figuras dignas de
aclamação.
A obra Notícias Históricas de Massapê, de autoria de
Osmundo Pontes, publicada em meantes de 1945,
evidencia a efervescência fulcral na elaboração de seu
escrito. A publicação primitiva remonta aos tempos
antigos e notabiliza-se como a primeira obra exímia
dentro dos parâmetros históricos e culturais da cidade
de Massapê.
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OSMUNDO PONTES E OSVALDO AGUIAR
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Obra esta, por vezes velada e omitida por muitos,
sobretudo, pelos próprios filhos da terra. Não deve-se
negar, portanto, a carência de familiaridade para com
os numerosos massapeenses, eis que grande massa,
não todos, certamente, endeusam o culto a figuras
políticas em detrimento de extensões que nutrem o
corpo, a mente e a alma. Em referência ao trecho em
questão, recorro à lúcida fala de Osvaldo Aguiar:
"Paira muito acima da cobiça individual e da
ganância partidária [...] onde impera, altaneiro, o
interesse coletivo [...] A política, longe de ser a
mola dinâmica do progresso e do bem-estar
social, é a mãe fecunda da rotina e da discórdia.”
Perdida no calabouço histórico, a obra de Osmundo
Pontes transcende os limites do tempo, mantendo-se
distancia do solo argiloso e fértil que o originou. Há
oitenta anos pretéritos, brotava do chão a então obra,
cujo renome, tornou-se exploratório na iminência de
esvaecer-se no tempo.
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OSMUNDO PONTES E OSVALDO AGUIAR
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Ainda assim, notadamente, o fruto germinado por
Osmundo recebeu prestigiada outorga ainda em solo
massapeense. Foi lá que o moço de ascendência local
recebeu o título honroso, digno da grandeza contida
em sua escrita.
Não abandonando o que lhe prendeu, Osmundo
seguiu adiante, percorrendo ciclos, transcendendo
épocas e quebrando paradigmas. Posteriormente, o
jovem autêntico abrilhantou o Brasil e o mundo com as
obras: Portugal e Outras Pátrias (1986), China, Homem e
Paisagem (1988), Portugal dos Meus Amores (1989) e,
mais adiante, surpreendeu os filhos da pátria brasileira
com o lançamento da segunda edição da já insigne
Portugal e Outras Pátrias (1996), bem como Alma do
Cotidiano, brotada em 1977, sendo esta a última
semente escrita que deixou à prole que há de germinar.
Assim como sal da terra e luz do mundo, Osmundo
Pontes nasceu de uma família de linhagem
aristocrática, filho de José Manassés Pontes e Maria
Sabino Pontes. Decorrente ao padecimento de seu pai,
registrou:
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OSMUNDO PONTES E OSVALDO AGUIAR
Página 10
"O seu caminho, como os dos nômades e
temerários foi cheio de adversidades e triunfos.
Para ganhar a vida e manter a numerosa prole,
aventurou-se na Amazônia, comercializando no
sertão, chegando à metrópole, engrandecido pelo
árduo trabalho, pela luta do sol a sol, como
bravo..."
Mesmo em modesta passagem, cabe aqui registrar a
caminhada do então massapeense Manassés Pontes
que, outrora, assemelha-se com a trajetória de Chico
Bento, personagem simbólico do clássico O Quinze, de
Rachel de Queiroz, ambientado na grande e
devastadora seca que assolou o sertão nordestino em
1915.
Ainda em meio ao flagelo que, desastrosamente,
fixou-se no Nordeste brasileiro em tempos de mais alto
desespero, o jovem Manassés deslocou-se rumo à
Amazônia, especialmente às florestas de seringais que,
margeavam os grandes rios da região movido pela
esperança de sobrevivência e pelo anseio de trabalho
na terra em que o broto é de vida.
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Com sede na crença do amanhã, seu destino foi
Lábrea, município amazonense situada na ribeirinha do
rio Purus, a 856 quilômetros de Manaus.
Lábrea é terra que remonta às grandes levas de
imigrantes nordestinos, sobretudo durante o ciclo da
borracha, advento da Revolução Industrial, quando
eclodiu-se, no âmago do país, um surto de
desigualdade social, fruto da intensificação da
concentração de riquezas movida pelo capitalismo.
O episódio histórico, amplamente conhecido, retirou
os pobres sertanejos de suas casas, forçando-os a
locomoveram em busca de melhores condições de vida
motivado pela seca que provocou fome, miséria e a
criação de campos de confinamento humano.
A localidade, firmada sobre território de domínios
florestais, abrigou dezenas de massapeenses a partir da
segunda metade do século XIX.
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O oásis ali presente, cortado por águas caudalosas e
barrentas, com percursos tenebrosos e condições
insalubres ao meio de se viver, castigou os filhos de
Massapê até o último suspiro.
Três anos depois, o jovem massapeense Manassés
Pontes retornou ao Ceará com o objetivo de casar-se
com a jovem que deixara em Massapê, Maria Sabino
Pontes.
O matrimônio do recém-chegado casal, então, tão
jovens, mas nutridos pela esperança de um sonho
próximo, ocorreu em 1919, na Igreja de Nossa Senhora
do Perpétuo Socorro, afamada como "Igreja Matriz", no
coração de Massapê.
Após meses transcorridos, o casal viajou de volta à
sofrida Lábrea, agora com um sonho de melhorar de
vida e, enfim, viverem juntos. Lá formaram família. E foi
nesse lugar, nas terras do Sul do Amazonas, às margens
do Rio Purus, que nasceu Osmundo Pontes, no dia 4 de
novembro de 1920.
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Com raízes massapeenses, o jovem Osmundo herdou
da vida o dom do aprender. Formou-se em Ciências
Jurídicas e Sociais no Ceará, em 1945.
Com vasta e multifacetada atuação intelectual,
literária e profissional, exerceu importantes cargos
públicos de destaque, como diretor do Departamento
Estadual de Imprensa e Propaganda, procurador
judicial de terras, juiz presidente da Junta de
Conciliação e Julgamento de Fortaleza, juiz do Tribunal
Regional do Trabalho da 7ª Região, e, por fim,
desembargador.
Com antevisão triunfante e profundo amor por suas
origens, Osmundo Pontes, juntamente com outros
filhos conterrâneos de Massapê, fundou, na capital
cearense, Fortaleza, a então "Liga Massapeense",
fundada em 30 de novembro de 1922, localizada
outrora na Rua Barão do Rio Branco, nº 832.
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OSMUNDO PONTES E OSVALDO AGUIAR
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Dez anos posterior, o lugar vívido em nostalgia e
marcado por memórias, mudou-se o nome, passando a
se chamar "Centro Massapeense", sob presidência do
Coronel João Arruda, bisneto do patriarca Amaro José
de Arruda, português que se estabeleceu em terras
brasileiras, assentando-se na Fazenda Oiticará,
território pertencente, portanto, ao município de
Massapê.
Seguindo o idealismo e o alinhamento fraterno da
instituição, Osmundo, aos vinte e dois anos de idade,
ainda como acadêmico de Direito, tomou posse, no dia
1º de dezembro de 1942, na presidência do Centro
Massapeense, para o então biênio 1942-1943.
Certamente, ao término de sua gestão, em 1943,
apresentou o relatório financeiro acompanhado das
principais realizações diante sua administração.
No referido documento, destacava-se a liberação de
verbas pelo Governo Estadual para a conclusão da
estrada Massapê-Sobral, uma antiga e nobre aspiração
do povo massapeense à sofrida época.
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OSMUNDO PONTES E OSVALDO AGUIAR
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Mencionava-se ainda a entrega de gêneros
alimentícios aos pobres sertanejos, flagelados pela seca
que abraçava o município, bem como a manutenção da
Escola Aprígio Coelho, em Massapê, e a honrosa
promoção de assistência médico-odontológica à
população.
Outro feito, portanto, foi o reconhecimento, por
parte do Governo Estadual, do Centro Massapeense
como instituição de utilidade pública, conferindo-lhe
prestígio, legitimidade e conquistas importantes.
Mais adiante, no dia 30 de novembro de 1954,
Osmundo Pontes foi orador oficial da solenidade de
inauguração da sede própria do Centro Massapeense,
evento este que abrilhantou a noite festiva em
Fortaleza, celebrando aos trinta e dois anos da colônia
massapeense na capital cearense.
O ato solene foi presidido pelo então presidente da
instituição, Francisco de Melo Arruda, e as obras do
prédio ficaram sob responsabilidade da firma Sílvio
Jaguaribe Ekman.
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A história triunfal dos filhos da terra, todavia,
encontrou um capítulo de melancolia. Cinquenta anos
depois, o edifício foi demolido, cedendo lugar a uma
estrutura moderna, erradicada pelo consumismo
elitizado e desenfreado, fruto do capitalismo urbano.
Encerrava-se, assim, fisicamente, um marco que jamais
deixaria de existir na memória coletiva. Pois, embora
apagado do espaço-tempo, jamais será esquecida em
sua magnitude histórica, cultural, comunitária e
simbólica.
Francisco Osmundo se foi, faleceu em 11 de junho de
1995, em Fortaleza, aos 75 anos de idade. Em virtude do
açoite que lhe abraçou, sua história ficará lembrada.
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O moço que se forjou como homem foi consagrado
como figura de notável relevância. Francisco Osmundo
Pontes destacou-se como membro da Academia
Cearense de Letras, ocupando a cadeira nº 21, cujo
patrono é José de Alencar.
Acervo O Povo
Presidiu a Academia Cearense de Retórica, foi
membro titular do Instituto Latino-Americano de
Derecho del Trabajo y de la Seguridad Social, sócio da
Confraternité Universelle Balzacienne do Uruguai e
sócio correspondente das academias de letras do
Amazonas, Maranhão, Paraíba, além da Academia de
Estudos e Letras de Sobral. Foi ainda membro da
Sociedade Brasileira de Direito Aeroespacial.
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Recebeu numerosas honrarias, entre as quais se
destacaram: a Medalha da Ordem de Benemerência
(Portugal), o título de Oficial da Ordem do Mérito
Judicial do Trabalho, a Comenda do Sesquicentenário
do Poder Legislativo Brasileiro, a Medalha de Graça
Aranha (Maranhão) e a Medalha do Mérito Bancário.
Acervo Anuário do Ceará
Merece, pois, a justa menção aquele que foi agraciado
por instituições de notável prestígio, como o Instituto
do Ceará, a Marinha do Brasil e a Federação das
Indústrias, as quais lhe renderam reverências por sua
atuação entre as mais diversas classes intelectuais e
sociais. Por méritos inquestionáveis, fez jus à outorga
das cidadanias honorárias do Ceará, Fortaleza, Juazeiro
do Norte, Massapê e Sobral.
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Osmundo, o escritor que não apenas encantou os
leitores, mas, sabidamente, fascinou as mais altas
personalidades das letras do Brasil e mundo. Em face,
para atestar tal grandeza, recorro às palavras do
saudoso intelectual Ribeiro Ramos:
"Intelectual, desde cedo demonstrou pendores
para a arte de escrever, a qual, por certo, o levou,
jovem ainda, a buscar ambiência maior onde
mais alto vôo pudesse alçar, dando asas às mais
elevadas aspirações."
Ainda que pudesse, outrora, trilhar caminhos por
anseios distintos, Osmundo Pontes andou sob o mar,
contemplou horizontes, saboreando da vida a brisa
suave que o prazer lhe tinha a oferecer.
Rachel de Queiroz, imortal das letras brasileiras,
menciona ainda Osmundo, com especial estima em sua
obra Portugal e Outras Pátrias:
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OSMUNDO PONTES E OSVALDO AGUIAR
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"Areias de Portugal! Se ainda algum dia eu viajar,
será principalmente para lá. E, se esse sonho se
realizar, um dia, levarei comigo o livro do mestre
Osmundo, como guia e companheiro de viagem.
Tenho a certeza de que dificilmente poderia
escolher melhor."
LEGADO MASSAPEENSE
OSMUNDO PONTES E OSVALDO AGUIAR
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O LEGADO DE
OSVALDO AGUIAR
O primeiro, com raízes fincadas no solo massapeense,
o segundo, Osvaldo Aguiar, filho nascido e criado na
terra fértil que o viu crescer, florescer e, mais tarde, se
imortalizar na memória do povo.
Oriundo da terra argilosa onde viveu sua infância,
Osvaldo Aguiar iniciou sua trajetória educacional em
Massapê, aprendendo ali as primeiras letras e
absorvendo os saberes que delineariam seu caminho.
Posteriormente, o jovem massapeense deu
continuidade aos estudos no Instituto São Luís, situada
na cidade de Pacoti, vindo a aprimorá-los, mais adiante,
na capital cearense, Fortaleza.
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Nasceu em 8 de julho de 1902. Era filho de Pergentino
Aguiar e Joaquina Frota Aguiar, figuras memoráveis na
história de Massapê.
Raimundo Osvaldo de Aguiar, ainda em sua juventude,
ingressou na tradicional Faculdade de Direito do Ceará.
Lá, destacou-se por seu talento e dedicação,
recebendo honrarias acadêmicas e, posteriormente,
conquistando o diploma na área jurídica.
O jovem promissor, ainda durante a graduação em
Direito, destacou-se à frente da Revista Acadêmica,
exercendo a sua função de secretário.
Seu talento logo se expandiu para além dos muros
universitários, escrevendo para diversos jornais e
revistas de prestígio, como Jornal do Comércio,
Correio, Gazeta, Iracema, Jandaia e Ceará Ilustrado.
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OSMUNDO PONTES E OSVALDO AGUIAR
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O filho da terra fértil, demonstrou desde as primeiras
palavras o espírito flamejante pela justiça, ordenado no
âmago literato de sua escrita herdada por grandes
juristas defensores da ordem, do direito e da dignidade
humana, como Rui Barbosa e Clóvis Beviláqua, no qual
demonstrou, com coragem e ardor, um desejo sagrado
em conquistar mundo a fora.
Em sua trajetória histórica, ingressou no Ministério
Público, onde exerceu Promotorias nas cidades de São
Benedito, Itapipoca, Massapê e Maranguape, deixando
marcas de retidão por onde passou.
Certamente, um entusiasta da seara jurídica,
arquitetou seu destino com zelo, erudição e espírito
público.
Em horizontes futuros, especificamente no ano de
1944, já não mais um jovem idealista, mas um homem
formado do barro da terra argilosa, assumiu função na
Procuradoria Judicial de Terras. No ano seguinte, em
1945, tornou-se membro fundador do Conselho
Penitenciário do Estado do Ceará, ampliando ainda
mais sua atuação em defesa da justiça.
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OSMUNDO PONTES E OSVALDO AGUIAR
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Decorridos dois anos, foi nomeado Procurador-Geral
do Estado do Ceará, cargo que ocupou por uma
década. Sem deixar de enaltecer tal feito, sua
nomeação foi celebrada com grande simpatia pela
impressa, sobretudo pela Gazeta Notícias.
Honrosamente, o massapeense foi aclamado pelo
Ministério Público do Estado do Ceará, que o saudou
com as seguintes palavras:
"Sua gestão colheu os frutos do retorno
democrático, quando uma nova constituição foi
aprovada em 1945 e com ela impactos diretos na
organização do Ministério Público. Foi nesta carta
que as garantias constitucionais da instituição
retornaram."
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Osvaldo moldou-se como figura central, atuando
com vigor na seara do jornalismo, onde, com notável
domínio, redigiu e orientou o Projeto de Código do
Ministério Público Cearense, remetido ao então
governador do Estado do Ceará, Stênio Gomes,
acompanhada de uma longa e detalhada exposição de
motivos.
Sob a alma que, com primor, sabedoria e firmeza,
valeu-se da retidão como alicerces de seu êxito,
Osvaldo Aguiar desempenhou, com dignidade, a função
de Secretário Municipal do Patrimônio de Fortaleza, no
lapso de 1960 a 1963, período em que o massapeense
saiu consagrado por atuações meritosas.
Como uma mãe que zela, com ternura, por seu único
filho, dedicou-se, posteriormente, à advocacia e ao
jornalismo com admirável assiduidade. Escreveu, além
de artigos e crônicas, oito monografias versando sobre
assuntos diversos.
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Poderia, por certo, aludir inúmeras personalidades
que enobreceram o cidadão da terra fértil, mas um
escritor, em especial, deixou registrada uma carta nas
sendas dos tempos passados. Assim escreveu o amigo
José Alcides Pinto:
"Osvaldo de Aguiar é uma figura central de nossa
cultura, dedicado às letras e às artes, à literatura
popular e ao jornalismo, ao folclore e à própria
história - um homem de muitas acetas, muitos
aspectos, e que só enriquecem a história da
literatura cearense."
Imortalizou sua escrita no solo da literatura, onde
deixou impresso seus livros Crônicas Alegres (1960),
Massapê em Foco (1969), O Júri no Brasil e a Necessidade
de sua Reforma, em 1956.
Acervo Pedro Mariano
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OSMUNDO PONTES E OSVALDO AGUIAR
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Vulto literário com repertórios eruditos, concedeu a
si mesmo seis distintos pseudônimos, como "Antônio
Pastora", "Dandora Briolanja", "Guanabara Neto", "H.
Relho", "Ovêncio Júnior" e "Sheley de Aguiar",
identidades marcantes que transitaram com elegância
pelas páginas de jornais, revistas, crônicas, ensaios e
tratados monográficos.
Além disso, o literato impôs a si uma tarefa majestosa
enquanto em vida: escrever. E o fez com fervor. Entre
suas produções destacam-se obras como Caricaturas
Políticas (1944), Comentário à Lei de Terras do Estado
(1945), Parcela de uma Gestão (1950), No Ministério
Público (1955), além de mais de vinte e três outras obras
ainda inéditas.
Não se pode deixar de mencionar seu pai, Pergentino
Aguiar, homem caridoso, cuja memória se perpetua
pelas contribuições culturais e sociais deixadas à
região.
LEGADO MASSAPEENSE
OSMUNDO PONTES E OSVALDO AGUIAR
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Em 1911, a figura de Pergentino tornou-se um marco
para a cidade massapeense ao erguer um imponente
casarão na Rua Manassés Pontes. É sabido mencionar
que, não por acaso, a rua carrega o nome do pai de
Osmundo Pontes, onde o casarão se tornou um dos
mais significativos marcos arquitetônicos de Massapê.
A estrutura que se constitui por parâmetros e
influências portuguesas, se venera como um
verdadeiro palacete. Não tão grandioso, é verdade,
quanto os clássicos e luxuosos palácios que dominam
quarteirões, mas carrega, em sua essência, a majestade
arquitetônica suficiente para se firmar como edificação
de notável presença.
É digno de menção, portanto, a semelhança entre
este casarão, ou melhor dizendo, entre os diversos
casarões presentes no município com estética
arquitetônica de matriz portuguesa, marcada por
linhas elegantes, detalhes clássicos e a memória viva de
uma herança colonial.
LEGADO MASSAPEENSE
OSMUNDO PONTES E OSVALDO AGUIAR
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Cabe ainda uma reflexão sobre um fato remoto,
muitas vezes ignorado, pois, embora evidente na
cronologia histórica, a presença de personalidades
portuguesas no território de Massapê. Dentre elas,
destaca-se Amaro José de Arruda, português que se
radicou em terras massapeenses há séculos, e cuja
vasta descendência espalhou-se pelo Brasil e alcançou,
inclusive, terras estrangeiras.
Retornando aos princípios conceituais dos edifícios
e à sua inserção na conjuntura histórica, destaca-se o
dia 24 de junho de 1933, quando o moço massapeense
Pergentino Aguiar protagonizou um feito memorável.
Promoveu, de maneira pioneira, a primeira edição
da Festa de Chitão no Ceará, ato este idealizado em sua
própria residência, no palacete situado na Rua
Manassés Pontes, onde tornou-se símbolo de inovação
cultural para a época.
LEGADO MASSAPEENSE
OSMUNDO PONTES E OSVALDO AGUIAR
Página 30
A festividade, de essência junina e traços já modernos,
constituiu-se como novidade inusitada e, certamente,
tornou-se febre pela região, atraindo visitantes de
diversas localidades do Estado do Ceará, e firmando-
se, portanto, como um marco no calendário cultural
massapeense.
Assim sendo, como apontamento terminal, cabe
mencionar o nome de Raimundo Osvaldo de Aguiar,
portanto, o sublinhar dos sublinhares. Moço emergido
do seio fecundo de sua terra natal, dotado de rara
sensibilidade, cuja existência se sobressai como flores
secas que se desprendem ao sopro da nova estação,
levou o nome de sua terra fértil e argilosa por terras
longínquas, provando, com nobreza, a força, o brilho e
a grandeza oriundos de seu sertão.
Raimundo Osvaldo de Aguiar faleceu na capital
cearense, Fortaleza, em 1970, um ano após o
lançamento do livro Massapê em Foco, obra publicada
em 1969.
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ENTRE O PASSADO
E O PRESENTE
É inegável, certamente, os pilares exitosos e
meritosos que personalidades massapeenses se
propuseram a transcender. Não porque o destino o
quisera, mas pelo percurso imprevisível que, foi além, e
através da pujança de seus esforços, lograram abraçar
conquistas que ultrapassam os limites da mera
meritocracia.
Acervo Pedro Mariano
Em vista disso, resgatar memórias esquecidas e,
mais ainda, ações humanas que tanto contribuíram
para o enobrecimento literário, intelectual, social e
cultural, deve-se, portanto, ser objeto de nossa
reverência. Não por bajulação ou adulação, mas pelo
compromisso com o resgate, pela democratização do
conhecimento e pelos valores que nos foram legados.
LEGADO MASSAPEENSE
OSMUNDO PONTES E OSVALDO AGUIAR
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Por mais que o contexto vivido no solo argiloso
insista em provar o contrário, sustentado, aliás, por
inundações governamentais incongruentes, trata-se de
uma realidade atravessada não apenas pelo campo
filosófico do idealismo, mas também por fatores
debruçados à luz da psicanálise. Esse cenário se revela,
portanto, como um jogo de projeções entrelaçadas por
interesses pessoais, que, ao se concretizarem, tornam-
se banais. Assim o enuncia o poeta Carlos Drummond
de Andrade:
"No meio do caminho tinha uma pedra,
Tinha uma pedra no meio do caminho,
Tinha uma pedra,
No meio do caminho."
Quisera, portanto, me prolongar, mas com receio
que a breve escrita se tornasse exaustiva, encerro esta
publicação com o mais sincero carinho pelos
parágrafos que aqui floresceram.
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OSMUNDO PONTES E OSVALDO AGUIAR
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A HISTÓRIA
CONTINUA...
Em meio ao caos de desinformação, ou decerto, da
quase ausência de veracidade, urgiu em minha mente
uma missão tão trabalhosa quanto necessária: O
resgate das obras de ambos os escritores com raízes
massapeenses.
Sem dúvida, um ofício exaustivo, que me levou,
outrora, a realizar pesquisas por diversas cidades,
inclusive na capital cearense, Fortaleza. Lugares estes
digno de citação: o Instituto do Ceará, a Academia
Cearense de Letras, além de inúmeros sebos e
bibliotecas públicas, onde pude reencontrar amigos
das letras e das artes do meu glorioso estado cearense.
Aliás, um fato marcante me encheu de
contentamento. Durante a buscas, em Fortaleza, tive a
graça, ou melhor, diria até sorte, de encontrar com a
prima do escritor Osmundo Pontes. O dia, embora
cansativo, foi selado com regozijo ao conhecer dona
Madalena, assim como ela mesma se apresentou.
LEGADO MASSAPEENSE
OSMUNDO PONTES E OSVALDO AGUIAR
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Fato entristecedor, ao qual apenas lamentei sem
ousar questionar, pois, a querida cidade de Massapê,
onde repousam as raízes dos escritores centrais nesta
publicação, não congrega, em sua memória
institucional, as obras, os feitos, as biografias,
tampouco qualquer outro acervo de valor que seja
digno de preservação no município.
Incansavelmente, percorri em busca de livros,
revistas, jornais, documentos, acervos de domínio
público e qualquer informação relevante que pudesse
contribuir para a justa apreciação da memória.
Digo-o, pois, esta publicação, embora não tão
completa quanto a vida abundante que os escritores
viveram, conseguiu, ainda assim, reunir de forma breve
e categórica, parte significativa da trajetória afortunada
daqueles descendentes do solo fértil e argiloso.
Um dos fatos marcantes, e pelos quais, por horas
intocáveis, me empenhei até a última gota de suar, foi o
resgate de um registro do massapeense Osvaldo
Aguiar. Inúmeras vezes tentei, em vão, alcançar tal
feito.
LEGADO MASSAPEENSE
OSMUNDO PONTES E OSVALDO AGUIAR
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O acontecimento só não é mais pugnante porque,
ao visitar o Ministério Público do Estado do Ceará,
deparei-me com uma galeria de imagens que reunia
todos os procuradores-gerais do estado, desde o
primeiro até o mais recente.
Todos estavam ali, exceto o querido filho de
Massapê, Osvaldo Aguiar. Surpreendeu-me, pois,
justamente apenas a de Osvaldo se fazia ausente. Sua
fotografia, portanto, não constava entre os vultos que
ajudaram a escrever a história do Ministério Público
cearense.
Em conclusão, o júbilo que me preencheu ao longo
desta jornada ainda me transborda em contentamento.
Na lida pelo conhecimento e pela preservação da
memória, percorri Fortaleza da zona norte ao sul, e
deixei, por todo o meu querido estado do Ceará, os
vestígios de minha caminhada com tamanha
proporção, pois, as marcas da alma se doa ao tempo.
LEGADO MASSAPEENSE
OSMUNDO PONTES E OSVALDO AGUIAR
Página 36
Que os registros de Francisco Osmundo Pontes e
Raimundo Osvaldo de Aguiar, personalidades
polivalentes, enraizadas ao chão fecundo de Massapê,
permaneçam brotados na terra natal. E que a memória
dos que se foram continue a germinar, como brotos
renascidos do solo fértil.
LEGADO MASSAPEENSE
OSMUNDO PONTES E OSVALDO AGUIAR
REGISTROS DE OSMUNDO PONTES
Osmundo Pontes diplomado bacharel em
Ciências Jurídicas e Sociais.
(Álbum da família)
Acadêmico de Direito, Osmundo Pontes, aos
22 anos presidia o Centro Massapeense.
(Álbum da família)
Capa do relatório da gestão do ano de 1943 do
Centro Massapeense, presidido por Osmundo
Pontes.
Manassés Pontes na solenidade de posse
na presidência do Tribunal do Trabalho,
em 1986.
(Álbum da família)
Sessão Solene na Academia Cearense de
Letras.
(Álbum da família)
Manassés Pontes, Maria Pontes e seus
descendentes.
(Álbum da família)
REGISTROS DE OSVALDO AGUIAR
Casa onde morou o escritor Osvaldo de
Aguiar, em Fortaleza-CE.
(Arquivo Pedro Mariano)
Livro “O Júri no Brasil e a Necessidade de sua
Reforma”, de autoria do escritor Osvaldo de
Aguiar.
(Arquivo Pedro Mariano)
Livro do escritor Osvaldo de Aguiar.
(Arquivo Pedro Mariano)
Livro “Massapê em Foco”, do escritor
Osvaldo de Aguiar.
(Arquivo Pedro Mariano)
Livro “Crônicas Alegres”, de
autoria do escritor Osvaldo de
Aguiar.
(Arquivo Pedro Mariano)
📚 Referências
📖 Livros e Obras Consultadas
PONTES, Osmundo. Portugal e Outras Pátrias. Fortaleza: [s.n], 1986.
PONTES, Osmundo. Alma do Cotidiano. Fortaleza: [s.n], 1977.
AGUIAR, Osvaldo de. Massapê em Foco. Fortaleza: [s.n], 1969.
QUEIROZ, Rachel de. O Quinze. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1930.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de Janeiro: Editora Pindorama, 1930.
PINTO, José Alcides. Poetas do povo. Revista de Comunicação Social, Fortaleza (CE), v. 3, n.
1, p. 10-30, 1973.
ARRUDA, Assis; CARVALHO, Evilásio. Cronologia Genealógica Massapeense. [S.l.: s.n.], [s.d.].
AGUIAR, Osvaldo de. Crônicas alegres. Fortaleza: [s.n.], 1960.
AGUIAR, Osvaldo de. O Júri no Brasil e a Necessidade de sua Reforma. Fortaleza: [s.n.], 1956.
🏛️ Arquivos Históricos
Registros do Instituto Histórico do Ceará.
Registros da Academia Cearense de Letras.
Registros da Biblioteca Lustosa da Costa.
Registros da BECE.
Registros do álbum da família.
Registros do acervo pessoal.
🌐 Fontes Online
ACADEMIA Cearense de Letras. Disponível em: www.academiacearensedeletras.org.br.
Acesso em: 10 abr. 2025.
INSTITUTO Latino-Americano de Derecho del Trabajo. Disponível em: www.iladt.org.
Acesso em: 10 abr. 2025.
DOMÍNIO Público. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 10 abr. 2025.
GOVERNO do Estado do Ceará. Disponível em: www.ceara.gov.br. Acesso em: 12 abr.
2025.
UNIVERSIDADE Federal do Ceará. Repositório Institucional UFC. Disponível em:
www.repositorio.ufc.br. Acesso em: 12 abr. 2025.
MINISTÉRIO Público do Estado do Ceará. Memorial MPCE. Disponível em:
www.memorial.mpce.mp.br. Acesso em: 12 abr. 2025.
DM Anápolis. Disponível em: www.dmanapolis.com.br. Acesso em: 13 abr. 2025.
TRIBUNAL Regional do Trabalho da 7ª Região. Disponível em: www.trt7.jus.br. Acesso em:
13 abr. 2025.
PEDRO
MARIANO
Pedro Henrique Mariano Barbosa nasceu em 1º de outubro
de 2003, na cidade de Fortaleza-CE. É diplomado em
Transações Imobiliárias (Apoena-CE) e graduando em
Ciências Contábeis (UNIP). Possui formação complementar
em Resilient Leadership e Leaders of Learning (Harvard),
além de Financial Market (Yale), onde foi bolsista e
certificado com distinção.
Atua como pesquisador, colunista, poeta e escritor. Titular
da cadeira nº5 da Academia Massapeense de Letras e Artes
(AMLA), além de membro do Clube dos Poetas Cearenses e
da Associação Cearense dos Escritores.
É autor de poesias, ensaios, contos, histórias e artigos, com
publicações em revistas, jornais e livros impressos e digitais.
Participou como coautor de diversas antologias literárias
em circulação nacional, como "Palavras Não Ditas", "Lauto
Amor", “Cartas para Belchior", "Antologia Subsolo", entre
outras.
Escreveu para jornais de prestígio, como O Povo, Correio da
Semana, Jornal do Comércio do Ceará, Jornal Segunda
Opinião, Observatório da Comunicação Institucional, além
de colaborar com blogs, portais e revistas de notícias em
âmbito nacional e internacional.
Pedro Mariano