Projeto III
Projeto III
Envelhecimento Ativo
no Idoso Institucionalizado
UNIVERSIDADE DO ALGARVE
2016
Rita Camacho Silvestre Nobre
Envelhecimento Ativo
no Idoso Institucionalizado
UNIVERSIDADE DO ALGARVE
2016
Declaração de autoria de trabalho
Declaro ser o(a) autor(a) deste trabalho, que é original e inédito. Autores e trabalhos
consultados estão devidamente citados no texto e constam na listagem de referências
incluída.
__________________________________________________
i
Dedicatória
ii
Agradecimentos
Este espaço é dedicado àqueles que deram a sua contribuição para a realização deste
trabalho. A todos eles deixo aqui o meu mais sincero agradecimento.
À professora Doutora Aurízia Anica, diretora do mestrado e orientadora do presente
trabalho, obrigada pelo apoio, paciência, dedicação e aconselhamento.
À Dra. Nicole Lobo, orientadora local, pela colaboração, disponibilidade, incentivo,
atenção e apoio que sempre me dedicou.
À Ana Caço, animadora do Lar Seara de Abril, pela colaboração, apoio,
acompanhamento e disponibilidade que sempre demonstrou em todas as atividades.
A toda a equipa do Lar Seara de Abril, sem exceção, por me fazerem sentir em casa e
pela forma como me receberam.
Aos idosos, por quem fui sempre recebida de braços abertos, por me ensinarem e
ajudarem a perceber que o melhor modo de trabalhar com eles é estar próxima deles e,
sem eles, nada disto teria sido possível. O meu mais sincero obrigada!
Aos meus amigos, Corina, Sara, Cristina, Maria que, entre outros, sempre me
acompanharam e se mostraram dispostos a ouvir os meus receios, dúvidas, ideias, e que
sempre me apoiaram neste percurso.
Um enorme obrigado ao meu namorado Miguel, pelo amor, apoio, paciência, conselhos
e acima de tudo pela força.
E, em especial aos meus pais, sem a vossa ajuda não disto teria sido possível. O meu
obrigado por sempre me terem incentivado e ajudado a prosseguir os meus sonhos, pela
educação que me deram, por todos os sacrifícios que fizeram ao longo das suas vidas
para que nada me tenha faltado, pela paciência e esforço que tiveram ao longo de todo
este percurso e, acima de tudo, por acreditarem e confiarem em mim. É a eles a quem
devo tudo.
iii
Resumo
iv
Abstract
v
Índice
Dedicatória .......................................................................................................................... ii
Agradecimentos .................................................................................................................. iii
Resumo .............................................................................................................................. iv
Abstract .............................................................................................................................. v
Introdução .......................................................................................................................... 1
Capítulo 1. Enquadramento Teórico ..................................................................................... 4
1. Conceitos de Envelhecimento ................................................................................... 4
1.1. O Envelhecimento Demográfico ........................................................................ 4
1.2. O Processo de Envelhecimento ............................................................................... 6
2. Envelhecimento Ativo ............................................................................................ 17
3. Qualidade de Vida do Idoso Institucionalizado ......................................................... 19
Capítulo 2. Metodologia .................................................................................................... 21
2.1. Investigação-ação.................................................................................................... 21
2.2. Processo de Intervenção na Instituição ...................................................................... 24
2.2.1. Objetivos ......................................................................................................... 24
2.2.2. Participantes ..................................................................................................... 25
2.3. Técnicas e instrumentos de recolha de dados ............................................................. 25
2.3.1. Questionário Sociodemográfico ......................................................................... 26
2.3.2. Mini Exame do Estado Mental – MEEM ............................................................ 26
2.3.3. Índice de Katz .................................................................................................. 27
2.3.4. Diário de Campo .............................................................................................. 28
2.4. Programa de atividades desenvolvidas ...................................................................... 29
2.5. Procedimentos Éticos .............................................................................................. 31
Capítulo 3. A Associação de Solidariedade Social Seara de Abril - Lar de Idosos Santa Bárbara
de Padrões ........................................................................................................................ 32
3.1. O Contexto Externo ............................................................................................ 32
3.2. O Contexto Interno.................................................................................................. 33
3.2.1. Espaço físico .................................................................................................... 33
3.2.2. Funcionamento e organização institucional ......................................................... 33
3.2.3. Recursos Humanos e Materiais .......................................................................... 34
3.2.4. Parcerias e apoios ............................................................................................. 36
3.3 Caracterização dos utentes ........................................................................................ 36
vi
3.3.1. Caracterização Sociodemográfica ...................................................................... 36
3.3.2. Caracterização do estado mental ........................................................................ 47
3.3.3. Caracterização da autonomia nas atividades de vida diária ................................... 50
Capítulo 4. Análise e Interpretação dos Resultados .............................................................. 52
4.1. Resultados por atividade .......................................................................................... 52
4.2. Função cognitiva ..................................................................................................... 56
4.3. Funcionalidade ....................................................................................................... 59
Considerações Finais ......................................................................................................... 61
Referências Bibliográficas ................................................................................................. 63
ANEXOS ......................................................................................................................... 68
ANEXO I - Questionário Sociodemográfico ................................................................... 69
ANEXO II – Mini Exame do Estado Mental ................................................................... 72
ANEXO III – Índice de Katz ......................................................................................... 75
ANEXO IV – Declaração de Consentimento Informado aos Inquiridos ............................ 77
ANEXO V – Cronograma de Tarefas ............................................................................. 79
ANEXO VI – Cronograma Mensal das Atividades .......................................................... 81
ANEXO VII – Planeamento Mensal das Atividades de Animação Sociocultural ............... 83
ANEXO VIII – Plano de Intervenção na Instituição de Solidariedade Social Seara de Abril
.................................................................................................................................... 89
APÊNDICES .................................................................................................................... 95
APÊNDICE I – Exemplo de uma folha do Diário de Campo ........................................... 96
APÊNDICE II – Ficha de Avaliação das Atividades ....................................................... 98
vii
Índice de Tabelas
viii
Índice de Gráficos
Gráfico 1.1 – População dos 0-4, 0-14 e com 60 ou mais anos de 1950 a 2050
ix
Listas de abreviaturas, siglas e símbolos
FA Frequência Absoluta
FR Frequência Relativa
x
Introdução
2
Decréscimo da habilidade cognitiva, dificuldade na tomada de decisões,
depressões e demências;
Inaptidão física, principalmente de mobilização, diminuição das Atividades
de Vida Diária (AVD), aumento de doenças crónicas, entre outros;
Mudanças afetivas, sociais e económicas tais como a viuvez, a solidão, as
dificuldades nas relações familiares e o apoio social.
Alguns estudos mostram que a institucionalização pode afetar negativamente a
função cognitiva, sendo o resultado do sedentarismo ou falta de incentivo ( Fernandes S.
D., 2014).
Na maior parte das vezes, as perdas cognitivas existentes nos idosos resultam da
inexistência, ou pouco treino do estímulo mental. Assim, desenvolver programas de
treino mental auxilia e potencia um envelhecimento ativo e saudável ( Fernandes S. D.,
2014).
No contexto desta problemática, surgiu a pertinência da criação de um projeto
que potenciasse as habilidades cognitivas e funcionais dos idosos institucionalizados,
que criasse e dinamizasse atividades que colocassem o idoso como agente de promoção
de aprendizagens, sendo importante desenvolver uma estratégia que potenciasse os
saberes dos idosos, estimulando o encontro e a partilha.
Neste sentido, o estágio integrou vertentes de intervenção educativa e
sociocultural, tendo como base a construção de um plano de intervenção social. Esta
intervenção procurou desenvolver estratégias para colmatar necessidades ao nível das
capacidades funcionais e cognitivas, contribuindo para um envelhecimento ativo.
Sendo o público-alvo deste estágio um grupo de idosos a residir numa instituição
social, primeiramente procedeu-se a um enquadramento institucional. São abordados os
princípios, valores e missão desta instituição, o espaço físico, o funcionamento e a
organização institucional e, por fim, as parcerias e os apoios. No capítulo dedicado à
metodologia define-se o problema e as questões de investigação. Delimita-se os
objetivos, justifica-se o estudo, caracteriza-se a população da instituição onde decorreu
o estágio. Apresenta-se o método de investigação e as técnicas utilizadas para a recolha
de dados.
Depois é a vez de se apresentar os resultados da investigação: no capítulo 3
caracteriza-se a instituição onde foi realizado o estudo do ponto de vista externo e
interno; no capítulo 4, apresenta-se e interpreta-se os dados recolhidos durante e após a
intervenção e faz-se, por último, o balanço de todo o processo de investigação-ação.
3
Capítulo 1. Enquadramento Teórico
1. Conceitos de Envelhecimento
4
O envelhecimento demográfico define-se pelo aumento da proporção das
pessoas idosas na população total. Em Portugal, à semelhança dos outros países
desenvolvidos, estas alterações na estrutura demográfica estão bem patentes,
apresentando um aumento significativo do número de idosos nos últimos anos, como
consequência das tendências de aumento da longevidade e de declínio da fecundidade
(Instituto Nacional de Estatística, 2011)
Nos últimos 30 anos, a esperança média de vida cresceu mas em ordem inversa.
A evolução científica e tecnológica ou a nova visão sobre o significado de qualidade de
vida têm-se evidenciado cada vez mais como dois dos fatores justificativos para este
aumento. Pela redução da taxa de fecundidade e natalidade que originam a redução da
população ativa e jovem do país, prevê-se um futuro onde os idosos predominam, e
cresce a preocupação com o apoio que esta população necessitará (Instituto Nacional de
Estatística, 2011).
A Gerontologia foi criada em 1903 por Elie Metchnikoff e define-se a partir das
expressões gero (velhice) e logia (estudo), e, neste sentido lato, esta ciência tem vindo a
valorizar-se, crescendo exponencialmente a sua visibilidade pública e política, em
termos mundiais, já que enquanto campo do saber especificamente comprometido com a
velhice e com o envelhecimento, a Gerontologia tem como objeto de estudo a pessoa
idosa, as suas circunstâncias e representações, sendo, atualmente reconhecida como uma
área interessante e atrativa para estudos futuros (Ribeiro & Paúl, 2012).
Esta preocupação crescente para ampliar a Gerontologia deveu-se aos inúmeros
desafios lançados à sociedade moderna, como reflexo do envelhecimento populacional
ao longo dos anos e do aumento gradual da população idosa que torna as populações
cada vez mais envelhecidas.
A sociedade antiga, contrariamente ao que se verifica na sociedade moderna,
estimava o saber e a experiência dos mais velhos, protegendo-os e cuidando-os a todo o
custo, até um fim de vida respeitável, embora pudesse haver circunstâncias em que esta
realidade não se verificava. Como nos refere (Daniel, 2009), hoje, não porque tenha
desaparecido o conceito de família, mas por uma necessidade de readaptação constante
às exigências sociais e económicas das famílias, o cuidado dos idosos é confiado,
muitas vezes, a grupos sociais externos à família ou instituições.
Desta forma, este envelhecimento demográfico é apontado como o fenómeno
mais relevante do século XX-XXI nas sociedades desenvolvidas devido às suas
implicações na esfera socioeconómica, traduzindo-se na reestruturação familiar e
5
profissional, para além das modificações ocorridas a nível individual e em novos estilos
de vida na população portuguesa.
Este crescente fenómeno veio obrigar-nos a refletir sobre várias questões como
são exemplo a qualidade de vida dos idosos, a sua saúde, o seu estatuto na sociedade e
os serviços que há ao seu dispor. É essencial que se venha a capacitar o indivíduo para
uma vida ativa e participativa nesta faixa etária, de modo a promover-se um
envelhecimento positivo e a contribuir-se para uma boa qualidade de vida onde não se
exclua o idoso da restante sociedade, o que traduz uma forte preocupação na construção
de estruturas que dêem resposta a este número crescente de idosos que necessitam de
apoios.
6
E, ainda, de acordo com a OMS, à medida que a pessoa envelhece a sua
qualidade de vida é fortemente marcada pela capacidade em manter autonomia e
independência, uma vez que a autonomia é caracterizada pela possibilidade de tomar
decisões por si, sobre como deverá viver diariamente em concordância com as suas
próprias regras e preferências, estando a independência virada para a capacidade de
realizar atividades relacionadas com a vida diária (Dalsenter & Matos, 2009).
No que diz respeito ao processo de envelhecimento, acredita-se que a sociedade
deverá entender que este processo é dinâmico, progressivo distinguindo-se por
manifestações a nível biológico, psíquico e social que sucedem ao longo da vida do
indivíduo de modo diferenciado (Lima, Lima, & Ribeiro, 2010).
O envelhecimento, para Fernández-Ballesteros (2009), pode ser classificado em
dois tipos: como envelhecimento normal ou primário (alterações normais associadas ao
processo de envelhecimento, não afetadas pela doença e/ou influências ambientais) e
como envelhecimento patológico ou secundário (associado a múltiplas patologias de
carácter crónico). Desta distinção, emergem dois conceitos distintos: o de senescência e
o de senilidade, que apesar da sua fácil distinção do ponto de vista teórico, na prática
muitas vezes essa diferenciação é extremamente difícil devido à sua mútua interação. A
senescência ou envelhecimento primário caracteriza-se pelas mudanças corporais
associadas à idade enquanto a senilidade ou envelhecimento secundário consiste nas
mudanças que ocorrem com maior frequência, mas que não têm que estar
necessariamente presentes. O envelhecimento primário parece estar associado à
longevidade máxima da espécie e o envelhecimento secundário às diferenças
interindividuais (Spar & La Rue, 2005).
Para Fontaine (2000), o envelhecimento é o conjunto de processos que o
organismo sofre após a sua fase de desenvolvimento. Envelhecimento e
desenvolvimento são fenómenos dinâmicos que evocam transformações do organismo
de natureza biológica e psicológica em função do passar do tempo.
Carvalho e Dias (2011), referem, ainda, que o envelhecimento é um fenómeno
complexo que não envolve somente aspetos demográficos da população, mas também
aspetos de cariz sociocultural, económico e político, estando estes em permanente
interação com a dimensão biológica e subjetiva de cada pessoa.
7
1.2.1. Aspetos Biológicos
8
Tabela 1.1 - Modificações Fisiológicas do Envelhecimento (Berger & Poirier-Mailloux,
1995, p. 127)
9
personalidade e os modos de vida mantêm-se mais ou menos idênticos na velhice. É
fundamental ter em conta os estados emotivos, as respostas às situações antigas e novas,
o ambiente e o papel que continuam a desempenhar na sociedade para uma melhor
perceção das mudanças vividas pelas pessoas idosas. As alterações emotivas e a
afetividade são influenciadas pelo ambiente em que estão inseridas e pela saúde física e
mental. Com a idade, os fatores de stress aumentam, as crises e os problemas tornam-se
mais numerosos.
Ainda de acordo com os autores acima citados, “a adaptação ao envelhecimento é
função do equilíbrio entre as estruturas cognitivas e emocionais do sujeito” (p.184). Os
idosos para terem um comportamento adaptado têm que estar motivados para tal e são
as suas preocupações e as suas expectativas que irão determinar a mudança de
comportamento.
Ao nível das emoções ou afetividade, o envelhecimento está frequentemente ligado a
imagens estereotipadas de pessoas irritáveis, difíceis, desagradáveis e tristes. No
entanto, é sabido que a vida afetiva dos idosos não é assim tão diferente da vida das
pessoas mais novas, embora tenham que lidar com certos elementos como a reforma, o
sentimento de inutilidade e de impotência, as perdas no plano físico, emotivo e social,
que a tornam mais difícil (Berger & Poirier-Mailloux, 1995, p. 186).
Relativamente à motivação (Berger & Poirier-Mailloux, 1995, p. 186), isto é, à
capacidade para ter atividades ou para agir, os idosos são tendencialmente menos ativos
e tendem a passar mais tempo a descansar, a ler e a ver televisão. No entanto, não se
deve analisar de forma tão rígida a motivação dos idosos, uma vez que é necessário ter
em conta outros fatores como a condição socioeconómica, o grau de escolaridade e as
características individuais.
Por último, relativamente à personalidade (Berger & Poirier-Mailloux, 1995, pp.
186-190), o seu desenvolvimento é um processo de diferenciação contínuo, que se
explica pela acumulação de experiências do indivíduo e um melhor domínio das
pulsões, ou seja, o ser humano está sempre a adaptar-se, desde a infância até à velhice.
As pesquisas demonstram que existe na certa continuidade entre as estruturas da
personalidade e os aspetos sociais e pessoais da adaptação. Nem sempre é fácil definir e
medir a personalidade, contudo estabeleceram-se duas tipologias sobre a personalidade
das pessoas idosas. A primeira tipologia refere-se às personalidades adaptadas e
personalidades mal-adaptadas e provêm de um estudo de Reichard, Levinson e
Peterson. Esta tipologia define cinco tipos de personalidades, três consideradas
10
adaptadas e duas consideradas mal adaptadas (tabela 1.2.)
11
Tabela 1.3. Tipologia do Envelhecimento segundo Neugarten, Havighurst e Toben
(Adaptado Berger & Poirier-Mailloux, 1995, p. 189)
No entanto, nos últimos anos, outras teorias têm ganhado cada vez mais notoriedade
e importância, tal como as que se desenvolvem com especial enfoque no “ciclo vital”,
através do estudo do processo de envelhecimento ao longo da vida como um processo
contínuo. Entre os diversos autores, que estudaram o ciclo vital, destaca-se Baltes
(1987) que estabeleceu uma série de reflexões sobre esta temática, que passamos a
referir, socorrendo-nos da síntese de Fernández-Ballesteros (2009):
I. Ao longo da vida existe um equilíbrio entre ganhos (crescimento) e perdas
(declínio). Sendo que durante os primeiros anos os ganhos são maiores que as perdas, e
na velhice acontece o contrário.
II. Existem determinadas funções psicológicas que se perdem com a idade
(inteligência fluída) e outras que se mantêm (inteligência cristalizada);
III. Durante o ciclo de vida, a variabilidade interindividual vai-se tornando mais
notória, tornando as pessoas cada vez mais diferentes entre si.
12
IV. Existe capacidade de reserva ao longo do ciclo vital, ou seja, capacidade para
compensar as perdas através de treino ou manipulação externa;
V. A variabilidade entre idosos está associada a três formas de envelhecer: normal,
patológica e bem-sucedida. O envelhecimento bem-sucedido pode ser obtido através de
mecanismos de seleção, otimização e compensação;
Baltes e Baltes (1990), tendo em conta os princípios acima referidos propuseram
um modelo, o “modelo de otimização seletiva por compensação”- modelo SOC, que
define o envelhecimento bem-sucedido assente em dois pressupostos: (1) a procura de
um elevado nível de funcionamento e o (2) afastamento dos comportamentos de risco.
De uma forma geral podemos dizer que, a seleção consiste na especialização em
certas atividades físicas e intelectuais, que serão depois otimizadas (por exemplo, na
escolha de uma profissão), enquanto a compensação consiste no desempenho de
determinada atividade na qual o indivíduo mantém o seu nível de funcionamento
mediante a utilização dos seus conhecimentos e do seu saber (utiliza a inteligência
cristalizada para neutralizar o declínio da inteligência fluída). Tendo em consideração
todo este processo, o resultado final será “a manutenção de um elevado nível de
funcionamento nalgumas atividades, a conservação de um sentimento de eficácia
pessoal (local de controlo interno) e de um sentimento geral de velhice bem-sucedida”
(Fontaine, 2000, p.157).
Partindo de uma perspetiva do envelhecimento ao longo da vida, e segundo
Sequeira (2010), a satisfação e o bem-estar psicológico estão associados ao
envelhecimento bem-sucedido. A qualidade de vida e o bem-estar psicológico
contemplam domínios como a satisfação pessoal, as emoções, a sensibilidade, os
sentimentos e os desejos de acordo com a subjetividade de cada indivíduo. A história de
vida, o sistema de valores e o contexto social assumem desta forma uma importância
significativa na obtenção do envelhecimento bem-sucedido.
13
1.2.3. Aspetos Sociais
14
mercado de trabalho, bem como alterações da estrutura familiar também conduzem à
institucionalização (Gonçalves, et al., 2010).
Como foi atrás referido, o envelhecimento normal conduz a uma série de alterações
cognitivas que não tem repercussões a nível das atividades diárias, uma vez que alguns
fatores relacionados com a natureza gradual das alterações permitem a manutenção do
funcionamento, a readaptação e a preservação dos conhecimentos, das competências e
das capacidades dos idosos.
Spar e la Rue (2005) apontam algumas variáveis como mediadoras da cognição no
envelhecimento normal, entre os quais se destaca: fatores genéticos, saúde,
escolaridade, atividade mental, atividade física, personalidade e humor, meio social e
cultural, treino cognitivo, sexo e conhecimentos especializados. No entanto importa
referir que as alterações cognitivas, quando não compensadas com outros mecanismos,
interferem na globalidade das funções do idoso, entre as quais se destacam o
processamento de informação e a memória de trabalho.
No que concerne ao processamento de informação, este está em grande parte
dependente da capacidade do idoso para receber e reter informação, sendo fundamental
efetuar a distinção entre os dois tipos de inteligência envolvidos no processo, a
inteligência fluída e a cristalizada. Estes dois tipos de inteligência sofrem diferentes
influências e alterações durante o processo de envelhecimento. Por um lado, a
inteligência cristalizada, consiste na aquisição de conhecimentos centrados na educação
(cultura), no conhecimento e na experiência que os indivíduos acumulam ao longo da
vida (Sequeira C. , 2010). Por outro lado, a inteligência fluída, isto é, a capacidade de
raciocinar, perceber a relação entre os objetos, criar novas ideias, adaptar-se a
mudanças, sofre um declínio com a idade, diminuindo a velocidade e a precisão no
processamento de informação (Sequeira C. , 2010).
Relativamente à memória, esta é uma das queixas mais frequentes associadas ao
processo de envelhecimento. De facto, a memória constitui uma das funções cognitivas
fundamentais à manutenção de um envelhecimento ativo, sendo fundamental à
manutenção do quotidiano, da orientação, da comunicação, da execução de tarefas, etc.,
e com a idade ocorre uma diminuição da velocidade de recuperação dos vários recursos
da memória, especialmente ao nível da memória de trabalho (memória a curto prazo ou
15
imediata). Relativamente à memória a longo prazo (memória de recordação), esta
mantém-se relativamente estável ou declina muito pouco com a idade (Spar & La Rue,
2005).
Segundo (Spar & La Rue, 2005), o envelhecimento pode interferir nas funções
cognitivas através de alterações nas seguintes aptidões:
Habilidades perceptivomotoras: declínio começa por volto dos 50-60 anos;
16
As alterações cognitivas, acima mencionadas, que acompanham o processo
normal de envelhecimento, dificultam muitas vezes o diagnóstico de perturbações
mentais orgânicas, como é o caso da demência. A demência constitui uma situação de
défice das faculdades mentais, onde se incluem as faculdades mentais, cognitivas e
volitivas, o comportamento e a personalidade. Existe unanimidade em afirmar que a
prevalência e incidência das demências aumentam com a idade, uma vez que esta está
associada ao envelhecimento e tem um caráter crónico e insidioso (Sequeira C. , 2010).
O diagnóstico da demência nem sempre é fácil, particularmente nos mais idosos e tendo
em conta a ausência de marcadores biológicos específicos (Spar & La Rue, 2005), pelo
que se privilegiam os instrumentos de avaliação da função cognitiva, como adotado no
presente estudo, o Mini Exame do Estado Mental (Folstein, Folstein & McHugh, 1975,
segundo adaptação portuguesa de Manuela Guerreiro et al., 1993) e que constitui uma
forma de diagnóstico e despiste das situações em que existe défice cognitivo de acordo
com o grau de escolaridade (Sequeira C. , 2010).
2. Envelhecimento Ativo
17
envelhecimento, pelo que se deve apostar numa prevenção das doenças e porque a
longevidade implica um maior risco de doença e, consequentemente, um maior índice
de dependência, logo existirá uma maior necessidade de prestação de cuidados
(Sequeira C. , 2010).
Ribeiro e Paúl (2011) dizem existir formas diferentes de envelhecer e com um
contacto diário com as pessoas mais velhas podemos constatar isso mesmo. Um
envelhecimento bem-sucedido, satisfatório ou ativo não depende de fatores como a
sorte, mas sim de cada um de nós, das nossas ações e responsabilidades individuais,
bem como dos contextos promotores dessas formas de envelhecimento.
Neste sentido, Jacob e Fernandes (2011) afirmam que qualquer programa que
pretenda melhorar um envelhecimento ativo com êxito deverá prevenir a doença e a
incapacidade associada à otimização do funcionamento psicológico e do funcionamento
cognitivo. Deste modo, os fatores psicológicos estão na base de um bom
envelhecimento ativo, pois são estes fatores que fazem o indivíduo conseguir
ultrapassar quaisquer situações adversas que encontre.
O processo de envelhecimento conduz a alterações na vida quotidiana dos
indivíduos, impondo uma adaptação a novas situações e vivências que levam
frequentemente ao isolamento e à perda de relações sociais. O modelo de
envelhecimento ativo preconizado pela OMS contempla uma variedade de fatores:
Determinantes de ordem pessoal (fatores biológicos, genéticos, e
psicológicos);
Determinantes de ordem comportamental (estilos de vida saudável e
participação ativa no cuidado da própria saúde);
Determinantes de ordem económica (rendimentos, proteção social,
oportunidades de trabalho digno);
Determinantes do meio físico (acessibilidade a serviços de transporte,
moradias e vizinhança seguras e apropriadas, água limpa, ar puro e alimentos
seguros);
Determinantes de ordem social (apoio social, educação e alfabetização,
prevenção de violência e abuso);
Determinantes relativos aos serviços sociais e de saúde (orientados para a
promoção da saúde e prevenção de doenças, acessíveis e de qualidade (Ribeiro
& Paúl, 2011, p. 3).
18
3. Qualidade de Vida do Idoso Institucionalizado
O conceito de qualidade de vida é algo difícil de definir, pois não há uma definição
exata. A Direção-Geral da Saúde - Programa Nacional para a Saúde das Pessoas Idosas
(2004, p. 6), citando a OMS, corrobora a dificuldade em definir qualidade de vida, visto
considerar que se trata de uma “percepção individual da posição na vida, no contexto do
sistema cultural e de valores em que as pessoas vivem e relacionada com os seus
objectivos, expectativas, normas e preocupações. É um conceito amplo, subjectivo, que
inclui de forma complexa a saúde física da pessoa, o seu estado psicológico, o nível de
independência, as relações sociais, as crenças e convicções pessoais e a sua relação com
os aspectos importantes do meio ambiente”.
Para compreender a qualidade de vida dos idosos institucionalizados devemos ter em
conta vertentes de natureza material, emocional, social e de saúde, tentando não
sobrevalorizar a saúde em detrimento dos restantes, visto a qualidade de vida não ser
uma consequência direta do estado de saúde ( Paúl & Fonseca, Psicossociologia da
Saúde, 2001).
Por seu lado, Fernández-Ballesteros (1998) afirma que a qualidade de vida dos
idosos institucionalizados está muito dependente das vivências, do estilo de vida e das
características individuais de cada pessoa. Estamos, assim, perante uma conceito
multidimensional que pressupõe a correlação de diferentes componentes e
condicionantes, cuja relevância dependente não só de parâmetros sociais, como
pessoais.
A questão da qualidade de vida emerge com peculiar importância, uma vez que
surgem questões de ordem ética e prática, nas quais reside o princípio da legitimidade e
oportunidade de prolongamento da vida dos idosos. Efetivamente, este ciclo de vida
apresenta-se como sendo o mais frágil do ponto de vista físico e mental, pressupondo
com alguma evidência a formação de equipas multidisciplinares, onde se deverão juntar
vários profissionais, especialistas em áreas muito diferentes, capacitados em prestar
cuidados primários e secundários aos idosos mais dependentes física e psicologicamente
(Zagher, Pierezan, & Claudino, 2009). A nível biológico, os idosos são suscetíveis a
mais problemas de saúde que poderão influenciar positiva ou negativamente o seu bem-
estar subjetivo e/ou psicológico na sua qualidade de vida (Fernandes M. S., 1996).
Frequentemente, os idosos que estão institucionalizados possuem um
autoconceito mais baixo e um maior índice de depressão do que os idosos que vivem em
19
suas casas. Isto pode dever-se ao facto do reduzido número de atividades que os idosos
institucionalizados efetuam e também ao facto de se sentirem sós e da modificação da
vida pessoal a que o idoso fica sujeito quando entra para uma instituição (Marrachinho ,
2014).
Assim, é muito importante que estas instituições prestem cuidados
especializados e cuidados de qualidade, pois a qualidade das instituições depende muito
das pessoas que trabalham nessa mesma instituição. Os trabalhadores têm tarefas
importantes a cumprir, nomeadamente, a criação de um ambiente institucional favorável
ao idoso, onde a vida deve ser valorizada e a dignidade do idoso reconhecida. Segundo
Winnicott (Pinhel, 2011), o ambiente institucional deve ser adaptado às necessidades
emocionais da pessoa idosa, onde esta possa demonstrar a sua própria personalidade e
onde usufrua de uma base segura, evitando, deste modo, possíveis sentimentos de
solidão, ou seja, o ambiente institucional deve centralizar-se na pessoa, desenvolvendo
cuidados gerontológicos apropriados a cada caso.
20
Capítulo 2. Metodologia
2.1. Investigação-ação
21
implicados na acção.
Kurt Lewin surge, após John Dewey, como pioneiro da investigação-ação. A
escola psicossocial de Kurt Lewin é a primeira a introduzir o conceito de investigação-
ação durante os anos 40 nos Estados Unidos. Contudo, ao longo dos anos, vários foram
os autores que se debruçaram sobre esta temática. Nos anos 70, do séc XX, temos
Stenhouse da escola de Cambrigde, Stephen Kemmis da corrente australiana, entre
outros. Charles Delorme – corrente francófona – e Orlando Fals-Borda, assim como
Paulo Freire surgem, também, como defensores do processo de investigação-ação, que,
para fazer sentido, tem que partir de necessidades sentidas quer a nível individual, quer
a nível social (Lucio-Villegas, 1993).
Segundo Guerra (2002), as metodologias de investigação-ação permitem, em
simultâneo, a produção e o conhecimento sobre a realidade, a inovação no sentido da
singularidade de cada caso, a produção de mudanças sociais e, ainda, a formação de
competências dos intervenientes. Os trabalhos de Kurt Lewin evidenciavam três grandes
características da investigação-ação, nomeadamente o carácter participativo, o impulso
democrático e o seu interesse simultâneo em consolidar um corpo de conhecimentos
válido para as Ciências Sociais, com atividades de transformação inerentes a tentativas
de mudança social nas populações que participam nestes processos (Lucio-Villegas,
1993).
Lewin apresenta-nos a investigação-ação associada a uma espiral auto-reflexiva,
que acaba por ser seguida pela grande maioria dos precursores desta metodologia. De
acordo com Lewin, tanto nas relações intergrupais, como noutros campos da prática
social, o diagnóstico tem de ser complementado, por estudos experimentais
comparativos sobre a efectividade de diferentes mecanismos de mudança. Assim,
segundo o autor, nem sempre basta partir de um bom diagnóstico, sendo muitas vezes
necessário complementá-lo com estudos experimentais, mesmo, com projectos
experimentais (Lucio-Villegas, 1993).
A abordagem de consciencialização caracteriza-se por tentar intervir na
realidade de uma forma rigorosa e sistemática, por um procedimento em espiral, no qual
se intervém a partir do momento em que se inicia o diagnóstico, guardando claramente
todos os passos da investigação-ação (diagnóstico, plano de acção, seguimento,
avaliação e reajuste do plano de ação) (López Górriz, 1998).
Rahman e Fals Borda (1992), por sua vez, definem a investigação-ação como
um processo de vida e de trabalho, uma vivência, uma progressiva evolução para uma
22
transformação total e estrutural da sociedade e da cultura com objetivos sucessivos e
parcialmente coincidentes. É um processo que requer um compromisso, uma postura
ética e uma persistência em todos os níveis. Enfim, é uma filosofia da vida na mesma
medida em que é um método.
Este é um processo que releva extrema consistência, na medida em que envolve
não só o investigador, mas, também, os próprios sujeitos da ação, bem como todos os
elementos nela envolvida, directa ou indirectamente. A investigação-ação é aplicada,
não só em contextos educativos mas, também. nos mais diversos contextos sociais, onde
todos os indivíduos são encarados como possíveis produtores de conhecimento.
A participação de todos os intervenientes no processo é fundamental para levar a
cabo um qualquer projeto de investigação-ação (Lucio-Villegas, 1993). É a partir destes
pressupostos que surge o conceito de investigação participativa, uma das abordagens da
investigação-ação, segundo a qual os indivíduos se tornam, simultaneamente, objetos e
sujeitos da investigação. De acordo com Lucio-Villegas (1993), a investigação
participativa permite-nos ir construindo saberes que nascem da reflexão sobre as
práticas.
Esta investigação-ação participativa (López Górriz, 1998), implica uma
participação ativa e total da comunidade, dos investigadores e dos técnicos. Estes têm
de ajudar a consciencializar os sujeitos das suas possibilidades, dos seus recursos e
acompanhá-los na sua mobilização e organização.
Importa, ainda, salientar que sendo a investigação-ação uma estratégia de
investigação bastante complexa, de carácter qualitativo, a mesma implica a utilização de
vários métodos e técnicas no decorrer de todo o processo.
23
2.2. Processo de Intervenção na Instituição
2.2.1. Objetivos
24
2.2.2. Participantes
Le Compte e Preissle (1993) elucidam-nos que esta fase começa com uma
abordagem clara no âmbito da realidade a pesquisar, os objetivos do estudo, a
informação adequada às questões específicas da pesquisa e às estratégias mais
adequadas para obter a informação necessária. No presente relatório procura-se
descrever um conjunto flexível de linhas orientadoras que relaciona os paradigmas
teóricos com as estratégias de pesquisa e os métodos de recolha de todo material
empírico.
Para Fortin (2009), os dados são elementos de informação recolhidos junto dos
participantes, trata-se de uma das etapas da investigação e poderá levar muito tempo. Os
tipos de métodos de recolha de dados são vários.
Segundo Quivy e Campenhout (1992), o instrumento selecionado, neste caso o
questionário, está dependente dos objetivos da investigação, do modelo de análise e das
características do estudo. Referem ainda que o questionário apresenta como vantagens a
possibilidade de quantificar uma pluralidade de dados possibilitando imensas análises
de correlação. Permitindo, igualmente, em períodos curtos de tempo obter muita
informação.
Para a recolha dos dados foram selecionados vários métodos, tais como, o
inquérito por questionário para a caracterização sociodemográfico, elaborado por mim,
tendo em atenção as características da investigação e a necessidade de recolha de
informação sobre os idosos. Como instrumentos de avaliação foram aplicados: o Mini
Exame do Estado Mental – MEEM (Folstein, Folstein & McHugh, 1975, segundo
adaptação portuguesa de Manuela Guerreiro e colabs., 1993) e o Índice de Katz (Katz e
25
colabs., 1963, versão apresentada por Sequeira, 2007) validados para a população
portuguesa e que seguidamente apresento.
O Mini Exame do Estado Mental (MEEM), elaborado por Folstein et al., (1975),
é um dos instrumentos mais estudados e utilizados para avaliar o estado cognitivo e
rastrear quadros demenciais (Lourenço & Veras, 2006). É um teste de fácil e rápida
aplicação, que procura a existência de distúrbios cognitivos, permitindo avaliar a
gravidade e intensidade dos mesmos (Gil & Busse, 2009). Foi também desenvolvido
para se utilizar na prática clínica, mais precisamente, na avaliação da mudança do
estado cognitivo de pacientes geriátricos (Apóstolo, 2011).
É constituído por várias questões agrupadas em domínios cognitivos diferentes:
orientação; retenção; atenção e cálculo; evocação; linguagem e habilidade construtiva.
Em termos de validade de conteúdo avalia oito de onze aspetos principais do estado
cognitivo, não focando a abstração, o julgamento e a expressão (Chaves, 2009). Cada
questão tem uma pontuação de 0 ou 1, ou seja, depende da realização ou não da questão
e se esta está ou não correta, sendo que a pontuação máxima é de 30 pontos.
As questões são realizadas pela ordem apresentada no instrumento, recebendo
assim uma pontuação imediata para cada questão. Após a conclusão do teste, serão
26
somados os pontos atribuídos a cada questão respondida corretamente, obtendo-se assim
a pontuação final (Apóstolo, 2011). Uma vez que o desempenho neste teste depende
também da escolaridade do sujeito, recomenda-se a utilização de pontos de corte
distintos, consoante o nível de educação do sujeito (Lourenço & Veras, 2006). Na
versão original de Folstein et al., (1975), a cotação de 23/24 pontos foi considerada o
valor indicador de declínio cognitivo. No entanto, com a tradução e adaptação do
MEEM para a população portuguesa, são identificados valores de corte para detetar
défice cognitivo, nomeadamente, menor ou igual a 15 pontos para indivíduos
analfabetos, menor ou igual a 22 pontos para 1 a 11 anos de literacia e menor ou igual a
27 pontos para literacia superior a 11 anos (Guerreiro M. G., 1998).
Este instrumento pode ser utilizado como teste de rastreio para perdas cognitivas
ou mesmo como avaliação cognitiva, apenas não pode ser utilizado para diagnosticar
demência (Chaves, 2009). Esta escala de avaliação foi escolhida por essa mesma razão,
para avaliar o estado cognitivo e também pela sua aplicação rápida e eficaz,
possibilitando uma avaliação breve do estado mental. Participaram no pré-teste, com
este instrumento, vinte e sete utentes (Anexo II).
27
Independência nas Atividades de Vida Diária de Katz, bem como as modificações e
adaptações desenvolvidas.
Com a versão de Sequeira (2007), podemos avaliar se o idoso é dependente,
necessita de ajuda, necessita de supervisão ou é independente. A pontuação das
atividades vai de 1 a 4 para cada item, sendo que a pontuação 1 representa dependência
completa, 2 necessidade de ajuda, 3 necessidade de supervisão e 4 independência total
(Sequeira C. , 2010). Assim, quanto maior a pontuação, melhor é a funcionalidade do
idoso, isto é, quanto mais próximo de 24 valores, mais independência o idoso tem face
às atividades básicas de vida diária (Sequeira, 2007). Considera-se que se um idoso se
recusar a realizar determinada tarefa, não realiza a mesma, embora pudesse ser
considerado capaz (Apóstolo, 2011). Estudos feitos na Turquia, Brasil e Índia com este
mesmo índice revelam a sua fiabilidade na avaliação funcional dos idosos (Luthra, Negi
& Grupta, 2016; Rebustini et al., 2015; Arik et al., 2015). Participaram no pré-teste,
com este instrumento, vinte e sete utentes (Anexo III).
28
desenvolvia com os utentes e as informações que obtinha junto dos profissionais que
trabalhavam diariamente na instituição (Apêndice I).
29
- Convívio.
Jogo do Bingo -Estimular o Cada utente jogava Roleta do bingo;
raciocínio; individualmente. À Cartões com
-Desenvolver e/ou medida que iam números;
manter a saindo os números, Feijões.
capacidade teriam que
intelectual, confirmar nos seus
participativa e cartões se tinham
organizativa; esse número. O
- Convívio. primeiro que
preenchesse o
cartão, ganhava.
Acerta no Alvo - Estimular o O idoso tinha que 1 Arco;
raciocínio lógico; conseguir acertar 4 Discos.
- Coordenação com as malhas, de 4
óculo-manual; cores diferentes,
- Fortalecimento dentro do arco.
dos músculos dos
braços e mãos.
Jogo das Tampas - Estimular o Cada utente tinha Alguidar com água;
raciocínio lógico; que conseguir Várias tampas de
- Fortalecimento retirar o maior garrafas;
dos músculos das número de tampas, Pauzinhos.
mãos e da colocadas no
motricidade fina; alguidar com água,
- Coordenação com a ajuda de dois
óculo-manual. pauzinhos.
30
objeto igual ao que
retirou
anteriormente.
Jogo dos Sons - Estimular a Importa referir que Computador com
memória auditiva; previamente é diversos sons.
- Identificar os necessário reduzir
diversos sons. os sons distratores,
tais como o som da
tv. De seguida,
coloco diversos
sons e peço aos
idosos para
identificarem cada
um.
Fila de Objetos - Estimular a Coloco em cima da Livro;
memória visual; mesa sete objectos Relógio;
- Ser capaz de e peço a cada um Lápis;
enunciar os objetos dos utentes para os Estojo;
observados. observarem durante Garrafa de água;
30 segundos. Borracha;
Passados 30 Caixa de
segundos, tapo os comprimidos;
objectos com um Pano.
pano e peço ao
utente para
mencionar os
objetos que
visualizou.
31
2003). Neste sentido, foi disponibilizado a todos os inquiridos, um documento relativo
ao consentimento livre, informado e esclarecido de participação na presente
investigação (Anexo IV).
32
agricultura e à pastorícia, refletindo-se essa realidade nos hábitos artesanais, dos quais
se destaca o fabrico das tradicionais mantas de lã do Lombador. Nesta freguesia
encontram-se ainda em atividade, não há muitos anos, um conjunto importante de
cardadores e tecedeiras. Apesar dos muitos esforços efetuados, esta actividade encontra-
se em declínio. Entre o artesanato da freguesia encontramos ainda as cadeiras de buínho
e a construção de Violas Campaniças.
Contrariamente às outras aldeias integradas, com necessidade de revitalização
populacional, a Santa Bárbara de Padrões levanta-se outro desafio não menos
importante, a promoção de um crescimento controlado que respeite as suas
características e identidade próprias.
A nível cultural, destacam-se a Associação de Artesãs Dobadoira e a Associação
de Cante Alentejano "Os Cardadores", e a nível do desporto destaca-se o Grupo
Desportivo da Sete.
33
finalidade a prestação de apoio social à população em geral e, promoção de actividades
de âmbito sociocultural que permitam o estabelecimento de laços de solidariedade bem
como atividades de animação comunitária.
Embora a instituição pareça não ter definido a missão, a visão e os valores
podemos considerar com base na informação oral fornecida pela directora técnica, que a
missão do Lar passa por proporcionar serviços permanentes e adequados às utentes;
contribuir, dentro do possível, para a melhor qualidade de vida dos utentes no seu
processo natural de envelhecimento; criar condições que permitam preservar e
incentivar a relação interfamiliar e potenciar a integração social. Assim, como os
Valores do Lar que são o respeito pela dignidade, a individualidade, a integridade e o
desenvolvimento da sua personalidade, autonomia, privacidade e intimidade,
confidencialidade, igualdade, participação, liberdade de expressão, liberdade religiosa,
autonomia na gestão do seu património.
O Lar proporciona aos seus utentes, serviços adequados às suas necessidades,
procurando contribuir para uma melhor qualidade de vida do idoso. Os principais
serviços passam pelo alojamento; cuidados de higiene e conforto; a alimentação variada
e equilibrada e tratamento de roupa; prestação de cuidados de saúde e tratamentos de
fisioterapia; atividades de animação sociocultural, de atividade física e de atividade
lúdica, cuidados de imagem, acompanhamento nas tarefas diárias e saídas ao exterior,
para efeito de consultas e tratamentos, dando conhecimento aos familiares e solicitando
a sua ajuda, se necessário.
A Estrutura Residencial para Pessoas Idosas está localizada no coração do
Alentejo, numa aldeia rodeada de amplas vistas e tranquilidade. O edifício de
construção moderna e totalmente equipado de acordo com as necessidades dos seus
destinatários é composto por quarenta e seis camas, divididas entre vinte quartos duplos
e seis individuais. Todos os quartos têm wc privado, acesso à Internet e ligação para
TV.
O lar é dirigido a nível técnico pela diretora técnica, a qual conta com o apoio da
secretária, e a qual faz a ponte entre a mesma e o pessoal operacional. Todo o pessoal
34
trabalha por turnos, com a exceção da diretora técnica, da secretária, da técnica de
animação, da fisioterapeuta, da enfermeira e dos dois rececionistas, estando as noites
apenas reservadas para as auxiliares de ação direta e para as auxiliares de serviços
gerais.
A enfermeira possui um gabinete próprio e apoia tanto a nível de medicação e
tratamentos, como na higiene das residentes com saúde mais instável e
acompanhamento a consultas fora da instituição. O serviço de enfermagem está
disponível todos os dias (exceto ao fim-de-semana e feriados), das 8h às 17h. A
fisioterapeuta tem uma sala de fisioterapia onde ajuda os utentes na melhoria das suas
capacidades de locomoção e equilíbrio, bem como a coordenação dessas funções e o
aumento da força muscular. O lar possui animadora sociocultural e existe uma sala de
atividades onde esta desenvolve diversas atividades com os utentes. A instituição dispõe
ainda de uma sala de convívio onde os utentes passaram a maior parte do seu tempo e
onde também se desenvolvem atividades em grupo, uma sala de refeições e dois jardins
interiores, onde os utentes gostam de dar um passeio.
Físico/Materiais Humanos
1 Imóvel térreo 1 Diretora Técnica
23 Quartos com wc privativa num total de 1 Técnica de Animação
46 camas
8 Wc individuais 1 Enfermeira
1 Cozinha 1 Fisioterapeuta
2 Copas 1 Cozinheira
1 Sala de Fisioterapia 2 Ajudantes de cozinha
1 Enfermaria 2 Lavadeiras
1 Sala de Atividades 1 Secretária
1 Secretaria 1 Jardineiro
1 Sala de Convívio 11 Auxiliares de Ação Direta
1 Gabinete de Direção 8 Auxiliares de Serviços Gerais
1 Lavandaria 2 Rececionistas
4 Salas de Arrumo 1 Dispenseiro
1 Receção
35
2 Escritórios
1 Sala de Reuniões
1 Átrio
4 Corredores
2 Jardins interiores
1 Quintal
1 Sala para o pessoal
1 Dispensa
Fonte: Observação de dados facultados pela instituição
Este projeto foi feito com e para os idosos do lar Seara de Abril de Santa
Bárbara de Padrões.
Os utentes desta IPSS são 44 e a média de idades é de 83 anos. Como se pode
verificar na tabela e gráfico abaixo, os indivíduos têm entre os 55 e os 93 anos. Embora
para efeitos estatísticos sejam considerados idosos os indivíduos com mais de 65 anos, o
lar tem 4 utentes com menos de 65 anos, que sofrem de patologias do foro psicológico e
necessitam de apoio (tabela 3.2 e gráfico 3.2).
36
Tabela 3.2 – Distribuição de frequência da variável idade
IDADES
35
30
25
20
IDADES
15
10
0
[50;65,5[ [65,5;80,5[ [80,5; 95,5[
37
No lar, 68% dos utentes são mulheres e apenas 32% são homens. Esta
discrepância deve-se talvez há maior longevidade da mulher face ao homem (tabela 3.3
e gráfico 3.3).
Género FA FR
Masculino 14 14/44= 0, 32
Feminino 30 30/44= 0,68
Total 44 1
Fonte: Observação de dados facultados pela instituição
GÉNERO
35
30
25
20
15 GÉNERO
10
0
Masculino Feminino
38
Apesar do lar se situar em Santa Barbara de Padrões a população abrangida
compreende outras localidades. O maior número de idosos provém do concelho de
Castro Verde (43%), de Mértola com 20% e de Almodôvar com 14% (tabela 3.4 e
gráfico 3.4).
Concelho FA FR
Castro Verde 19 19/44= 0,43
Almodôvar 6 6/44= 0,14
Mértola 9 9/44= 0,20
Odemira 3 3/44= 0,07
Ferreira do Alentejo 1 1/44= 0,02
Beja 2 2/44= 0,05
Castelo Branco 1 1/44= 0,02
Ourique 1 1/44= 0,02
Serpa 1 1/44= 0,02
Évora 1 1/44= 0,02
Total 44 1
Fonte: Observação de dados facultados pela instituição
Concelho
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2 concelho
0
39
A maioria dos idosos são viúvos (66%). Solteiros e casados têm a mesma
percentagem, 16%, e divorciados 2% (tabela 3.5 e gráfico 3.5).
Estado Civil FA FR
Casado 7 7/44= 0,16
Viúvo 29 29/44= 0,66
Solteiro 7 7/44= 0,16
Divorciado 1 1/44= 0,02
Total 44 1
Fonte: Observação de dados facultados pela instituição
ESTADO CIVIL
35
30
25
20
15 ESTADO CIVIL
10
0
Casado Viúvo Solteiro Divorciado
40
A nível de escolaridade, 78% dos utentes não sabem ler nem escrever, 22%
sabem ler e escrever e não há ninguém licenciado (tabela 3.6 e gráfico 3.6).
Escolaridade FA FR
Não sabe ler nem escrever 35 35/44= 0, 80
Sabe ler e escrever 9 9/44= 0, 20
Licenciatura 0 0/45= 0
Total 44 1
Fonte: Observação de dados facultados pela instituição
Escolaridade
40
35
30
25
20
Escolaridade
15
10
5
0
Não sabe ler nem escrever Sabe ler e escrever Licenciatura
41
Sobre o tempo de institucionalização, a maioria dos utentes, 77%, estão
institucionalizados há 1 a 4 anos, 23% dos utentes estão institucionalizados há menos de
1 ano e ninguém está institucionalizado há mais de 5 anos (tabela 3.7 e gráfico 3.7).
Tempo de FA FR
Institucionalização
1 ano 10 10/44= 0,23
1 A 4 anos 34 34/44= 0,77
5 A 9 anos 0 0/44= 0
10 anos 0 0/44= 0
Total 44 1
Fonte: Observação de dados facultados pela instituição
Tempo de Institucionalização
40
35
30
25
20
Tempo de Institucionalização
15
10
0
< 1 ano 1 A 4 anos 5 A 9 anos > 10 anos
42
A maioria dos utentes, 73%, estão institucionalizados devido a problemas de
saúde, 18% estão institucionalizados devido a motivos familiares, 9% por ter medo da
solidão e 0% devido a problemas económicos (tabela 3.8 e gráfico 3.8).
Motivos de FA FR
Institucionalização
Problemas Económicos 0 0/44= 0
Problemas de Saúde 32 32/44= 0,73
Motivos Familiares 8 8/44= 0,18
Medo da Solidão 4 4/44= 0,09
Total 44 1
Fonte: Observação de dados facultados pela instituição
Motivo de Institucionalização
35
30
25
20
15 Motivo de Institucionalização
10
5
0
problemas problemas de motivos medo da
economicos sáude familiares solidão
43
Mais de metade dos utentes, 66% não é ativo na participação de tarefas
organizadas pela instituição, apenas 34% se diz ativo na participação de tarefas
organizadas pela instituição (tabela 3.9 e gráfico 3.9).
Ser ativo FA FR
Sim 15 15/44= 0,34
Não 29 29/44= 0,66
Total 44 1
Fonte: Observação de dados facultados pela instituição
44
Em relação à questão de como os utentes avaliam a sua mobilidade/dependência
(capacidade para se movimentar e deslocar sozinho), 27% dos utentes avalia a sua
mobilidade/dependência como sendo Muito Má, 25% diz que a sua
mobilidade/dependência é Muito Boa, 20% avalia a sua mobilidade/dependência como
Boa, 16% como Razoável e 11% como sendo Má (tabela 3.10 e gráfico 3.10).
Mobilidade/dependência FA FR
Muito Boa 11 11/44= 0,25
Boa 9 9/44= 0,20
Razoável 7 7/44= 0,16
Má 5 5/44= 0,11
Muito Má 12 12/44= 0,27
Total 44 1
Fonte: Observação de dados facultados pela instituição
Mobilidade/dependência
14
12
10
6 Mobilidade/dependência
0
Muito Boa Boa Razoável Má Muito Má
45
Na questão de como avaliam a sua qualidade de vida na Instituição, 48% dos
utentes avalia-a como sendo Boa, 36% como Razoável. E apenas 16% avalia a sua
qualidade de vida como Muito Boa. Nas duas restantes opções (Má ou Muito Má)
ninguém se manifestou (tabela 3.11 e gráfico 3.11).
Qualidade de Vida na FA FR
Instituição
Muito Boa 7 7/44= 0,16
Boa 21 21/44= 0,48
Razoável 16 16/44= 0,36
Má 0 0/44= 0
Muito Má 0 0/44= 0
Total 44 1
Fonte: Observação de dados facultados pela instituição
20
15
Qualidade de Vida na
10 Instituição
0
Muito Boa Boa Razoável Má Muito Má
46
3.3.2. Caracterização do estado mental
Categoria FA FR
Analfabetos 11 11/27= 0, 40
Alfabetizados (de 1 a 11 16 16/27= 0,60
anos de escolaridade)
Alfabetizados (mais 11 0 0/27= 0
anos de escolaridade)
Total 27 1
47
Relativamente aos resultados obtidos no MEEM, por categoria (tabela 3.13), é
possível verificar que a falta de escolaridade não é factor impeditivo de atingir um valor
alto no instrumento MEEM. Por seu turno, parece invulgar que os indivíduos que não
frequentaram a escola e/ou que são analfabetos tenham conseguido manter a função
cognitiva a um nível muito superior ao ponto de corte, pois, efetivamente, muitos
autores (Forciea & Lavizzo-Mourey; 1998, Marchand, 2001; Schaie, 1996) defendem o
nível de educação como fator protetor do surgimento de declínios cognitivos leves ou
graves na velhice.
Pormenorizando, é possível constatar que, no conjunto dos vinte e sete utentes,
na categoria dos não alfabetizados, 7 utentes obtiveram valores superiores ao ponto de
corte para esta categoria (≤ 15 pontos) e, apenas, 4 utentes obtiveram menos de 15
pontos. Na categoria dos Alfabetizados (1 a 11 anos de escolaridade), 6 utentes
apresentaram valores superiores ao ponto de corte para este grupo (≤ 22 pontos), e 10
utentes obtiveram valores menores ou iguais a 22 pontos. Por ultimo, na categoria dos
Alfabetizados com mais de 11 anos de escolaridade não houve registo de nenhum utente
(tabela 3.13).
Pode-se supor que estes resultados devem-se a factores de ordem biológica,
psicológica e social. Assim, pressupõe-se que este processo pode explicar como alguns
idosos por ação de ambientes menos favoráveis, tenham iniciado o declínio cognitivo
mais cedo (apesar de pouco acentuado) e, que por outro lado, outros o tenham
conservado, ou até mesmo melhorado as suas capacidades, por ação de ambientes mais
favoráveis (por exemplo, a permanência num trabalho mais exigente).
48
Tabela 3.13 – Resultados obtidos no pré-teste do MEEM
Utentes 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27
Categoria
Não 24 23 14 25 19 21 11 12 11 19 21
alfabetizados
(menor ou
igual a 15
pontos)
Alfabetizados 16 15 11 19 19 19 22 26 24 12 26 24 26 17 22 24
(1 a 11 anos
escolaridade)
(menor ou
igual a 22
pontos)
Alfabetizados
(com + de 11
anos de
escolaridade)
(menor ou
igual a 27
pontos)
49
3.3.3. Caracterização da autonomia nas atividades de vida diária
Segundo o Índice de Katz (Katz et al., 1963, versão apresentada por Sequeira, 2007),
quanto maior a pontuação do teste, maior a funcionalidade do idoso, isto é, quanto mais
próximo de 24 valores, melhor é a capacidade funcional.
Com base no Índice de Katz, foi caracterizada a autonomia nas atividade de vida diária
da amostra de vinte e sete utentes. Através de uma análise dos dados obtidos, constatei que as
pontuações variaram entre 9 e 24 pontos, sendo que uma percentagem significativa obteve
entre 20 a 22 pontos no teste.
Foco, de seguida, os resultados deste teste em relação às seis atividades avaliadas (tabela
3.14). No controlo de esfíncteres, a maioria dos idosos são independentes e apenas 6 idosos
revelam dependência.
Em relação ao banho, cerca de 21 idosos são independentes com ajuda, apenas 2 idosos são
totalmente independentes e 4 idosos são dependentes relativamente a esta atividade de vida
diária. Na atividade “utilização da casa de banho”, a maioria é independente (17 idosos), 4
idosos são independentes com supervisão, outros 4 idosos são totalmente dependentes e
apenas 2 são independentes com ajuda.
Na mobilidade, 16 idosos são independentes e 3 idosos apenas são independentes com
supervisão. Em relação à categoria independente com ajuda temos 3 idosos e 5 idosos são
dependentes.
No vestir/despir, 13 idosos são independentes com ajuda, 10 idosos são totalmente
independentes, ao passo que 4 idosos são dependentes. Por fim, na alimentação, todos os
idosos da amostra (27 idosos) são independentes.
50
Tabela 3.14 – Resultados obtidos no pré-teste do Índice de Katz
Utentes 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27
Categoria
Controlo de esfíncteres 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 1 4 4 1 1 1 4 4 4 1 1 4 4 4
Banho 2 2 2 2 2 2 2 2 4 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 2 2 4 1 2 2 2 2
Utilização W.C. 2 4 4 4 4 3 4 4 4 3 3 4 2 4 4 4 1 1 1 4 4 4 1 3 4 4 4
Mobilidade 4 4 4 3 4 4 4 4 4 1 3 4 2 4 3 4 1 1 1 4 4 4 1 2 4 2 4
Vestir/despir 2 2 4 2 2 4 2 2 4 2 2 2 2 2 2 4 1 1 1 4 4 4 1 2 4 4 4
Alimentação 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4
Total 18 20 22 19 20 21 20 20 24 16 18 20 16 17 19 22 9 9 9 22 22 24 9 14 22 20 22
51
Capítulo 4. Análise e Interpretação dos Resultados
52
Os objetivos parecem ter sido alcançados na medida em que se trabalhou cada
um destes objetivos através da interação entre os participantes, quer em grupo quer
individualmente, nas várias atividades. Isto foi possível inferir através da observação
direta participante e das conversas informais que ia estabelecendo no decorrer de cada
atividade.
Consegui, também, observar que os idosos ficavam bastante mais entusiasmados
quando estas atividades eram feitas em grupo, pois eram atividades mais dinâmicas que
permitiam que houvesse oportunidade de aquisição de novos conhecimentos. Devo
ainda salientar que não foram demonstradas graves dificuldades no decorrer das
mesmas.
Atividades Socioculturais
53
- Envolver a comunidade nas comemorações festivas;
- Preservar o meio ambiente.
No geral, os idosos mostraram-se cooperantes e interessados na maior parte das
atividades, mas nem sempre o tempo de duração destas foi bem controlado.
Atividades Cognitivas
54
- Estimular a memória e a concentração;
- Dominar a nomenclatura das cores e a sua distinção.
Foi possível inferir que todos os objetivos terão sido cumpridos com sucesso e que
todas estas atividades foram, na opinião dos idosos, as mais divertidas, sendo
observável no decorrer de todas as atividades a boa disposição e o interesse na partilha
de histórias relacionadas com as temáticas. O tempo de duração das atividades nem
sempre muito foi bem controlado, pois existia alguma dispersão, o que, por sua vez,
também ajudou a que o idoso interagisse mais com quem o rodeava.
Atividades Físico-Motoras
Neste quadro de atividades, o jogo da boccia parece ter sido a atividade que
conseguiu despertar alguma satisfação. Talvez por não necessitar de um grande esforço
físico, contrariamente às outras atividades.
Todos os idosos mostraram severos problemas em executar quaisquer exercícios
ligados à atividade física, inclusive era necessário incentivá-los para que realizassem a
atividade. Fatores justificativos deste acontecimento talvez sejam a idade já avançada e
as dificuldades de mobilidade relacionadas com a falta de ocupação livre.
Dentro das dificuldades sentidas, os exercícios de aquecimento e relaxamento
eram aqueles que, lentamente, eram executados dentro dos termos solicitados. Nas
caminhadas, o número de idosos também era um pouco reduzido devido à pouca
mobilidade de alguns idosos e por mais de metade estarem dependentes de cadeiras de
rodas e andarilhos. Ainda assim, com muito custo, sempre acabaram por realizar a
maior parte das atividades ligadas à animação física ou motora.
Os objetivos definidos foram:
- Estimular os/as idosos/as para as práticas desportivas;
- Coordenar e controlar o próprio corpo;
- Aumentar a resistência física;
- Estimular a comunicação não-verbal;
55
De todas as atividades, estas foram as que os participantes menos gostaram.
Seria necessário desenvolver um trabalho adequado, constante, persistente, de modo a
prevenir a rápida degradação física dos idosos e a cativá-los para a prática de exercício
físico. Isto acabaria não só por contribuir para que não sentissem tantas dificuldades em
executar algum tipo de exercícios como, também, para que se sentissem melhor consigo
próprios por conseguirem realizar alguns exercícios, ainda que com ajuda. Não havendo
um grande interesse na prática destas atividades, o tempo de duração destas foi bem
controlado.
56
alfabetizados se reduziu de 16 no pré-teste para 9 no pós-teste, ao passo que no grupo
dos não alfabetizados o número de participantes se reduziu de 11 no pré-teste para 9 no
pós-teste.
Relativamente ao conjunto dos 18 utentes que responderam tanto ao pré-teste
como ao pós-teste, é possível verificar que 7 (38,9%) utentes melhoraram os resultados
e 8 (44.4%) utentes obtiveram menos pontos no pós-teste, sendo que 3 (16,7%) utentes
mantiveram o mesmo resultado, tanto no pré-teste como no pós-teste.
Pormenorizando, é conveniente referir que, no conjunto dos dezoito utentes que
responderam ao pré-teste e ao pós-teste, no grupo dos não alfabetizados, composto por
nove pessoas, 4 (44,4%) utentes melhoraram os resultados, igualmente 4 (44.4%)
utentes obtiveram piores resultados e apenas 1 (11,1%) utente manteve o mesmo
resultado. Quanto ao grupo dos alfabetizados, composto igualmente por nove utentes,
verifica-se que 3 (33.3%) melhoraram nos resultados do pós-teste, 4 (44,4%) utentes
obtiveram menos pontos e 2 (22,2%) utentes mantiveram o mesmo resultado.
57
Tabela 4.1 – Resultados obtidos no pós-teste do MEEM
Utentes 1 2 3 4 5 6 7 10 12 14 15 16 17 19 24 25 26 27
Categoria
Não 20 22 18 22 20 22 12 12 22
alfabetizados
(menor ou
igual a 15
pontos)
Alfabetizados 16 20 21 19 22 22 12 23 22
(1 a 11 anos
escolaridade)
(menor ou
igual a 22
pontos)
Alfabetizados
(com mais de
11 anos de
escolaridade)
(menor ou
igual a 27
pontos)
58
4.3. Funcionalidade
59
Tabela 4.2 – Resultados obtidos no pós-teste do Índice de Katz
Utentes 1 2 3 4 5 6 7 10 12 14 15 16 17 19 24 25 26 27
Categoria
Controlo de 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4
esfíncteres
Banho 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 3 2 2
Utilização 2 4 4 2 4 4 4 2 4 4 4 4 1 1 1 4 4 4
W.C.
Mobilidade 2 4 4 4 4 4 3 1 4 4 4 4 1 1 1 4 4 4
Vestir/despir 2 2 4 2 2 4 4 3 4 2 4 4 1 1 1 4 4 4
Alimentação 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4
Total 16 20 22 18 20 22 21 16 22 20 22 22 12 12 12 23 22 22
60
Considerações Finais
61
garantindo o alcance de todos os participantes, é possível preservar as capacidades
funcionais e cognitivas e, melhor do que isso, melhorá-las em uma parte bastante
significativa dos utentes institucionalizados, com incidência, na população
institucionalizada não alfabetizada. Estes resultados foram obtidos após o
desenvolvimento de um projeto multidimensional e integrado de atividades adequadas
às necessidades e motivações dos utentes, com incidência especial nos domínios
cognitivo e físico-motor, atrás descrito.
Para terminar, é indispensável fazer um balanço global do estágio curricular no qual
se integrou o trabalho de investigação-ação apresentado. Os conhecimentos adquiridos
ao longo dos três semestres da parte curricular do curso foram postos em prática e
confrontados com a problemática de uma estrutura residencial para idosos, onde foi
necessário desenhar, desenvolver e avaliar um projeto de intervenção e os seus
resultados. O trabalho foi realizado com empenho, dedicação, iniciativa, autonomia e
responsabilidade, tanto nas atividades inerentes ao projeto propriamente dito, como nas
tarefas que se desenvolveram para além deste.
Considera-se que o investimento e o esforço tiveram êxito e foram reconhecidos, o
que representa um desafio para o futuro. Os seis meses regulamentares de estágio
equivaleram, por isso, a uma significativa oportunidade de aprendizagem que marcará
seguramente o futuro pessoal e profissional da autora deste relatório.
62
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http://www.efdeportes.com/efd135/qualidade-de-vida-nos-
profissionais-da-saude.htm.
67
ANEXOS
68
ANEXO I - Questionário Sociodemográfico
69
Questionário da Caracterização Sócio-Demográfico
Grau de Escolaridade:
<1 Ano
1 A 4 anos
5 A 9 anos
> 10 Anos
Problemas Económico
Problemas de Saúde
Motivos Familiares
Medo da Solidão
70
Outros motivos:
___________________________________________________
2. Se sim, considera que as actividades que realiza o/a ajuda a ficar mais ativo
socialmente e contribuem para o seu bem-estar?
Sim
Não
71
ANEXO II – Mini Exame do Estado Mental
72
AVALIAÇÃO COGNITIVA
MINI-EXAME DO ESTADO MENTAL
(Folstein, Folstein e McHugh, 1975, segundo adaptação portuguesa de Manuela
Guerreiro e colabs., 1993. Laboratório de Estudos de Linguagem do Centro de Estudos
Egas Moniz, Hosp. Sta. Maria)
Paciente:_____________________________________________
Idade:_______________
Data de Avaliação:__________________________
73
74
ANEXO III – Índice de Katz
75
AVALIAÇÃO FUNCIONAL
ÍNDICE DE KATZ - ESCALA DE ATIVIDADES BÁSICAS DE VIDA DIÁRIA
(Katz e colabs., 1963, versão apresentada por Sequeira, 2007)
Paciente:________________________________________________
Idade:________
Data de Avaliação:_____________________
76
ANEXO IV – Declaração de Consentimento Informado aos Inquiridos
77
Declaração de Consentimento Informado
Data _____/_____/_____
Assinatura ________________________________________
Agradecimento da investigadora
Data _____/_____/_____
Assinatura ________________________________________
78
ANEXO V – Cronograma de Tarefas
79
Cronograma de Tarefas
80
ANEXO VI – Cronograma Mensal das Atividades
81
Cronograma Mensal das Atividades
82
ANEXO VII – Planeamento Mensal das Atividades de Animação Sociocultural
83
Planeamento Mensal das Atividades de Animação Sociocultural
Mês de Fevereiro
14h30m: Boccia
Sénior
84
Planeamento Mensal das Atividades de Animação Sociocultural
Mês de Março
14h30m: Ateliê de
14h30m: Ateliê de croché 14h30m: Ateliê de
costura Costura
10h: Cuidados 10h: Cuidados 10h: Hora do Conto 10h: Jogo de
estéticos Estéticos memória visual
14h30m: Jogos de
14h30m: Boccia 14h30m: Festa do mesa 14h30m:
Sénior Dia da Mulher Caminhada pela
aldeia
10h: Trabalhos 10h: Jogo acerta no 10h: Trabalhos 10h: Trabalhos
Manuais: Páscoa alvo Manuais: Páscoa Manuais: Páscoa
85
Planeamento Mensal das Atividades de Animação Sociocultural
Mês de Abril
86
Planeamento Mensal das Atividades de Animação Sociocultural
Mês de Maio
87
Planeamento Mensal das Atividades de Animação Sociocultural
Mês de Junho
88
ANEXO VIII – Plano de Intervenção na Instituição de Solidariedade Social Seara de
Abril
89
Plano de Intervenção na Instituição de Solidariedade Social Seara de Abril
Pré-teste e pós-teste
- Observação das
atitudes e
- Identificar a
comportamentos;
existência de
algum grau de - Conversas
incapacidade física informais; - Material de
e/ou cognitiva; suporte às
- Recolha de
atividades;
informação junto da
Avaliação Física e
equipa de auxiliares; - Animadora
Cognitiva - Comparar a
sociocultural.
evolução dos - Preenchimento do
idosos antes e MiniExame do Estado
depois de aplicado Mental de Folstein,
o plano de Folstein & McHugh
intervenção. (1975), traduzido por
Guerreiro e col.
(1993);
- Índice de Katz –
Escala de Atividades
Básicas de Vida
Diária de Katz e
colabs. (1963), versão
apresentada por
Sequeira (2007).
90
Atividades lúdicas e recreativas
91
Atividades Socioculturais
92
Atividades Cognitivas
93
Atividades Físico-Motoras
94
APÊNDICES
95
APÊNDICE I – Exemplo de uma folha do Diário de Campo
96
Exemplo de uma folha do Diário de Campo
97
APÊNDICE II – Ficha de Avaliação das Atividades
98
Associação de Solidariedade Social Seara de Abril
Santa Bárbara de Padrões
Atividade:________________________________ Data:_____________________
99