MANUAL DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO Prof. Frederico Martins E-Prev.
MANUAL DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO Prof. Frederico Martins E-Prev.
ISBN 978-65-5701-061-7
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Brasília
3ª edição
2023
SUMÁRIO
É uma grande honra poder contar com sua participação aqui e poder lhe ajudar nessa linda jornada
de transformação para a sua aprovação no concurso dos seus sonhos.
Para que nos conheçamos melhor, permita-me contar um pouco de minha história.
Fui aprovado no XV concurso de ingresso na magistratura federal do TRF-1ª Região, em 2014. Sou
formado na UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Minha colação de grau ocorreu em 2015 e, após
curto período atuando na advocacia privada, foquei nos estudos para concurso público especificamente para
o cargo de analista judiciário. Depois de muita dedicação, após 1 ano e meio, havia sido aprovado para os
cargos de analista judiciário do TJRJ, TRT-1ª Região, TRF-3ª Região e MPU. Acabei optando por assumir o
cargo em São Paulo, na 3ª Região. Lá fiquei por quase 7 anos. Foi um período de muito aprendizado pessoal
e profissional. Atuei sempre na assessoria de juízes federais e, então, em função dessa proximidade com o
ofício da magistratura federal, decidi me tornar um juiz federal. Sentia-me vocacionado e assim permaneço
até hoje, com quase 5 anos de carreira, hoje já como juiz federal titular.
Bom, depois que tomei posse no cargo de juiz federal substituto, em 29 de janeiro de 2015, um dia
histórico e inesquecível para mim e para minha família, passei por 4 meses de curso de formação. Foram 3
meses em Brasília/DF e 1 mês em Goiânia/GO, atuando como juiz auxiliar em cada vara especializada (JEF,
cível, criminal e execução fiscal), a fim de que tivesse uma visão geral da atuação de um juiz federal na 1ª
Região.
Minha lotação inicial, após o curso de formação, foi em Cuiabá/MT, onde atuei por 1 ano e meio da
9ª Vara JEF da Seção Judiciária do Mato Grosso. Em seguida, topei o desafio de me tornar juiz federal titular
e embarquei rumo ao Oiapoque/AP, na fronteira com a Guiana Francesa, no extremo norte do Estado do
Amapá. Lá fiquei por 1 ano, morando em um pequeno destacamento militar às margens do Rio Oiapoque.
Após esse período, removi-me para Juína/MT, uma pequena cidade de 48 mil habitantes no noroeste do
Estado do Mato Grosso, onde permaneço até os dias atuais. O aprendizado continua sendo enorme, em uma
cidade distante mais de 750 Km da Capital do Estado, Cuiabá/MT. A minha jurisdição alcança 13 Municípios
e, embora o acervo de ações não seja dos maiores da 1ª Região, o trabalho é intenso, em especial na área
ambiental e previdenciária.
Espero que esse sintético testemunho possa te inspirar. Tenha a certeza de que tudo valeu à pena.
Todos os esforços. Todas as quedas e vitórias ao longo da travessia dos estudos. A recompensa é certa porque
o ofício da magistratura federal é belíssimo e, certamente, vai te propiciar muitas alegrias!
Sobre nosso curso, ele será voltado para qualquer concurso que exija conhecimentos em Direito
Previdenciário, mas para lhe dar o mais alto grau de satisfação, pegamos como referencial o concurso da
magistratura federal. Pois bem, nossa metodologia de estudo será baseada no tripé da aprovação: destaque
da lei seca, seleção de doutrina e repasse da jurisprudência sobre os temas abordados.
Conte comigo!
6
PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL: CONCEITO,
1
ORIGEM E HISTÓRIA
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
• amparo recíproco;
• diminuição de riscos incidentes sobre a vida;
• assistência mútua;
• cooperação coletiva;
• atuação pública ou privada.
A proteção social é a mesma coisa que seguridade social? A resposta é negativa. Proteção social não
é exatamente a mesma coisa que seguridade social. O conceito de proteção social, em verdade, engloba o
conceito de seguridade social. Ora, não há como negar que instituir um sistema normativo de seguridade
social — tal como, aliás, temos na Constituição Federal de 1988 — é exercer proteção social. Claro! Ou seja,
a proteção social, como um conceito amplo e precedente, encampa a noção de seguridade social. A proteção
social, então, é um conceito antecedente de seguridade social.
É antecedente tanto do ponto de vista histórico, quanto do ponto de vista lógico. Histórico, porque
jamais se poderia falar que há mais de dois mil anos, por exemplo, se tinha um sistema de seguridade social
como o que temos hoje. De outro lado, é também um antecedente do ponto de vista lógico porque a
seguridade social é um sistema que se insere em uma noção maior, que é justamente a de proteger
socialmente as pessoas. A seguridade social, em síntese, pode ser definida como sendo o sistema mediante
o qual se instrumentaliza o direito público subjetivo do cidadão, que é escorado no tripé que traduz as
possibilidades de:
• sistema normativo;
• direito público subjetivo;
• proteção social focada no tripé assistência, saúde e previdência;
• contributividade em relação à previdência.
A proteção social dada pelo Estado ocorre por meio de um sistema de seguridade social, cujas bases,
tal como estudaremos, são a assistência, a saúde e a previdência. Seguridade social é o instrumento
constitucional do Estado, isto é, a máquina estatal criada pelo Constituinte para canalizar as políticas públicas
de proteção social, afuniladas e concentradas naquele tripé protetivo. Note, portanto, que a seguridade
social é atribuída precipuamente ao Estado, que cria e mantém a rede de instrumentos, instituições públicas
e mecanismos legais que ensejam aquele tripé da assistência, saúde e previdência.
8
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
Foi a busca pelo amparo e proteção que fez nascer, ao longo dos séculos, o que se chamama de
proteção social e, mais para frente, de seguridade social. A proteção social é da natureza humana e surge de
modo consciente com a própria percepção de família. É a família o primeiro núcleo histórico de proteção
social, pela caridade e fraternidade mútua. A família é como o átomo da proteção social. Mas esse “átomo”
da proteção social, com o tempo, saiu da esfera unicamente familiar. Pois bem, analisemos a evolução da
proteção social por fases da história.
Ao longo dos séculos, na formação dos grupos sociais, os povos sempre visaram à proteção mútua
de sua existência e perpetuação, fazendo evoluir, com isso, a proteção social no seio das relações travadas
por pessoas em comum. No início, basicamente, era a caridade, então, que movia a proteção social. O início
da cobertura de certos riscos inerentes à vida do homem proveio mesmo da caridade e da assistência
voluntária e humanista, sendo obra de mãos direcionadas ao bem, impulsionada por poucos samaritanos.
Não era o mesmo assistencialismo que temos hoje. Era tudo mais primitivo do que o atual sistema
de assistência social. Nessa senda inicial assistencialista, os movimentos religiosos calcados especialmente
no Cristianismo certamente foram os que mais contribuíram com essa ação, muito embora tenha havido,
sem dúvida, um período no qual se percebeu certa nebulosidade da Igreja, adotando ela uma postura
institucional não tão próxima da assistência, tendo isso ocorrido especialmente na baixa idade média,
quando ainda se avultavam as ligações entre a nobreza dos Estados Absolutistas e o alto clero eclesiástico.
Aliás, é interessante apontar a passagem de São Francisco de Assis na história da Igreja Católica, no
século XII, notadamente pela criação da Ordem Franciscana que pregava a vida simples, a ajuda e a
aproximação com os pobres, com nítido caráter da mais pura proteção social assistencialista. Os Franciscanos
tiveram, inclusive, no século XVI, fundamental importância na criação dos chamados “montepios”. A palavra
“montepio” tem sua etimologia derivada da junção da palavra “montes” — que à época designavam uma
determinada caixa pública de dinheiro — e da palavra “pios” que significa “misericórdia”. Eram, portanto,
“caixas de misericórdia”.
Essas associações mantiveram sua existência, portanto, durante toda a idade média, por meio das
chamadas “guildas”. As guildas medievais eram o prenúncio das chamadas corporações de ofício, que
sobrevieram mais na proximidade da idade moderna, ao fim da idade média. De todo modo, a essência das
guildas era a mesma, sendo reunião de pessoas que trabalhavam no mesmo ofício, tais como sapateiros,
carpinteiros e artesãos de toda ordem. Tais grupos se reuniam sob a liderança de um mestre de ofício e,
diante dessa liderança, se organizavam e prestavam serviços de maneira mais sistematizada, com mútuas
obrigações de participação de trabalho e de capital.
Nessa sistematização havia pagamentos para a manutenção da organização definida, de sorte que
isso os mantinha relativamente protegidos de riscos contingenciais tais como baixa demanda de seus serviços
ou de ausência, por exemplo, de matérias-primas para a execução de seus ofícios, o que naturalmente
repercutiria em seus ganhos.
A proteção social desempenhada pelo Estado somente começou a surgir, de modo incipiente, no fim
da idade média, após a formação dos mencionados Estados Absolutistas. A partir disso, a proteção social
9
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
passou a englobar tanto ações estatais quanto ações meramente privadas. Aliás, há um importante marco
temporal que retrata essa preocupação dos Estados Absolutistas. Esse marco é a Lei dos Pobres.
Salvo no Império Romano, como salientado, até o século XVII não há quaisquer registros de
obrigações estatais assistencialistas. Já em 1601, podemos indicar um novo paradigma de proteção estatal,
que foi dado pela Poor Law (Lei dos Pobres) na Inglaterra.
A Lei dos Pobres pode ser um exemplo de previdência dos pobres? Não, pois ainda se está falando
de proteção social realizada apenas por assistencialismo gratuito e, no caso da Poor Law, assistencialismo
estatal. A previdência, como veremos, é contributiva, e emergiu após um bom tempo. Em 1601 somente
existia assistencialismo. A proteção social estatal ainda era incipiente e objetivava tão somente a concessão
de certos benefícios assistenciais.
Quase 200 anos após a Lei dos Pobres pode-se identificar outro importante marco temporal e
normativo no avanço da proteção social. Em 1793, ingressa ao plano normativo francês um documento que
sedimentava a seguridade social como um verdadeiro princípio de direito fundamental para qualquer pessoa.
Trata-se da segunda Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que em seu artigo XXI constou a
confirmação do direito fundamental à seguridade social. Assim, o seguro social, nas palavras da carta de
direitos fundamentais francesa de 1793, tornava-se um direito sagrado, com a seguinte redação traduzida:
Os auxílios públicos são uma dívida sagrada. A sociedade deve a subsistência aos cidadãos
infelizes, quer seja procurando-lhes trabalho, quer seja assegurando os meios de existência
àqueles que são impossibilitados de trabalhar.
Em Londres, no ano de 1762, foi instituído o primeiro seguro de vida. Não se tratava, no entanto, de
um seguro social. O primeiro seguro social, de fato, somente surgiu com Otto Von Bismarck, em 1883.
Previa a cobertura dos riscos de doença e, posteriormente, previu também a cobertura de riscos de acidente
de trabalho, invalidez e velhice.
Para reforçar a previsão de um seguro social, no final do século XIX, a própria Igreja Católica também
se manifestou oficialmente pela busca e manutenção da Justiça Social, quando propalou o rerum novarum.
A famosa Encíclica Papal assinada pelo Papa Leão XIII em 15 de maio de 1891 (ou seja, poucos anos após a
criação do seguro social por Otto Von Bismarck) foi determinante para a consolidação dos influxos de
mudança de paradigma estatal no que toca à institucionalização de políticas de justiça social.
A Revolução Industrial é apontada como ocorrida entre 1760 e algo em torno de 1820 a 1840.
Portanto foi claramente um grande pano de fundo dessas mudanças e do avanço da proteção social. A
10
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
Revolução Industrial funcionou, assim, como um salto para a ideia da proteção social e a necessidade de
consolidação da solidariedade com os incapacitados para o trabalho. Até então as políticas públicas de
seguridade social não existiam. Era o homem pelo homem, quem fazia sua proteção social em canais
exclusivos, em grupos selecionados ou pelas poucas mãos de pessoas que prestavam unilateralmente a
beneficência e a caridade (assistencialismo puro).
Assim, em meio a todos esses movimentos, a virada do século XIX para o século XX determinou uma
definitiva passagem do assistencialismo para a instituição de sistemas de previdência. A grande diferença
entre o modelo meramente assistencial e um sistema previdenciário pragmático é que a assistência atua
quando o infortúnio já ocorreu, resgatando o indivíduo de uma situação periclitante do ponto de vista
existencial, ajudando-o a sobreviver. Já a previdência atua de modo previdente, acautelando o indivíduo para
que ele não passe apuros quando o infortúnio ocorrer. É, em verdade, como vimos, um sistema de seguro
social.
Houve grande avanço histórico da proteção social no século XX, especialmente em função de eventos
mundiais muito importantes. Com isso, consagrou-se o chamado “Welfare State”, ou “Estado de Bem-Estar
Social”.
Houve, em verdade, uma crise no que toca aos Estados que adotaram o sistema de bem-estar social.
Hoje, ao que podemos concluir com as reformas de enxugamento da máquina estatal, tem havido um
crescente redimensionamento da função social estatal, com a revitalização de pilares do liberalismo mais
puro. Tem-se entendido, contudo, que os direitos sociais fundamentais de 2ª dimensão são inolvidáveis no
processo de desenvolvimento socioeconômico dos povos, de modo que há vedação ao retrocesso social.
No entanto a vedação ao retrocesso social é um conceito bastante fluido e que pode ser sopesado
em algumas contingências econômicas, tal como se pode perceber na última reforma previdenciária ocorrida
no Brasil, por meio da Emenda Constitucional nº 103, com sensível diminuição da renda mensal dos
benefícios previdenciários e demais restrições incidentes ao regime geral de previdência social. Sendo assim,
os sistemas de proteção social nos Estados têm passado, em geral, por uma redefinição, a fim de se equalizar
a possibilidade econômica estatal juntamente com a preservação da justiça social e a manutenção da
dignidade da pessoa humana.
2.5. Síntese das quatro fases históricas dos sistemas de proteção social
11
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
Sintetizou-se, portanto, todo esse processo histórico dos sistemas de proteção social em 4 etapas,
quais sejam: a) fase embrionária; b) fase do crescimento; c) fase da institucionalização; d) fase da
ressignificação.
3.1. O assistencialismo
Um quadro normativo para a instituição da Previdência Social no Brasil surgiu, então, em 1821,
com base em um texto do Príncipe Regente Dom Pedro de Alcântara, o que se deu por meio da publicação
do Decreto de 1 de outubro de 1821. Esse Decreto fixou uma regra especial de aposentadoria para os mestres
e professores, que podiam, então, se aposentar com 30 anos de serviços prestados.
A partir desse Decreto, outras normas vieram para instituir planos de previdência no Brasil. A
evolução dessas normas se deu da seguinte forma:
• Decreto de 1 de outubro de 1821: conforme dito acima, instituiu regra especial de aposentadoria
para os mestres e professores;
• Decreto 9.912-A, de 26 de março de 1888: instituiu aposentadoria para os empregados dos
Correios, também exigindo 30 anos de serviço, mas, de outro lado, condicionando à
aposentadoria aqueles que atingissem a idade mínima de 60 anos;
• Decreto 221, de 26 de fevereiro de 1890: instituiu aposentadoria para os empregados das
Estradas de Ferro Central do Brasil;
• Decreto 565, de 12 de julho de 1890: estendeu a aposentadoria acima a todos os ferroviários
estatais e não apenas àqueles integrantes dos quadros das Estradas de Ferro Central do Brasil;
• Constituição Federal de 1891, em seu art. 75: instituiu aposentadoria por invalidez aos servidores
públicos;
• Lei nº 217, de 29 de novembro de 1892: instituiu a aposentadoria por invalidez e pensão por
morte aos operários do Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro.
O marco incontroverso para se dizer que, a partir disso, efetivamente começou no Brasil um
sistema de Previdência Social foi, segundo a doutrina, a famosa Lei Eloy Chaves, que veio ao mundo jurídico
por meio do Decreto Legislativo nº 4.682, de 24 de janeiro de 1923. A citada Lei criou as Caixas de
Aposentadoria e Pensões nas empresas de estradas de ferro existentes, dando a garantia desses benefícios
aos respectivos dependentes daqueles trabalhadores que contribuíssem com o sistema instituído. É
12
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
importante frisar que essa norma criou as referidas caixas de aposentadoria e pensão tanto para as empresas
estatais, quanto para as empresas privadas que atuavam no Brasil no ramo de transporte ferroviário. Assim,
aponta-se que esse marco legal também foi o embrião para a chegada ao Brasil da previdência privada
complementar ou dos fundos de pensão.
Os benefícios instituídos nas referidas Caixas de Aposentadoria e Pensão eram, unicamente, como o
próprio nome já diz, de aposentadoria e pensão por morte. Em suma, a Lei Eloy Chaves tratava primariamente
de previdência, mas instituía também alguns benefícios assistenciais e de saúde aos seus filiados. Em função
disso, é muito importante observar que esse marco temporal é relativo ao que se poderia conceber como
sendo a primeira normatização da Previdência Social no Brasil
Cabe lembrar que, antes mesmo dessa Lei, já havia sido criada, pelo Decreto nº 9.284, de 30 de
dezembro de 1911, a Caixa de Aposentadoria e Pensões dos Operários da Casa da Moeda. Nada obstante, a
Lei Eloy Chaves continua sendo um marco temporal de relevância, porque sua norma instituiu mais um
regime de previdência social para funcionários públicos. Antes de sua existência, havia, apenas e
isoladamente, um único regime de Previdência Social no Brasil para determinada classe do funcionalismo
público, os servidores da Casa da Moeda.
A partir da Lei Eloy Chaves, nesse momento da história, iniciava-se a era das CAPs – Caixas de
Aposentadorias e Pensões, as quais se davam dentro do âmbito particularizado de cada empresa. Isso
mudou, alguns anos mais tarde, com o início de uma era normativa voltada para a criação de institutos
próprios de previdência que abarcavam as categorias como um todo e não apenas as empresas,
individualmente, como era no tempo das CAPs.
A grande diferença da era anterior (das CAPs) para essa (dos IAPs) foi que a filiação passou a ser feita
dentro de cada categoria profissional, logo mais abrangente, enquanto anteriormente tudo era feito apenas
por meio das empresas, o que, na prática, abalava a manutenção das Caixas em virtude da dificuldade de,
por vezes, manter o número de filiados. Algumas décadas depois todos esses institutos foram fundidos em
apenas um, o Instituto Nacional da Previdência Social.
13
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
Até a promulgação da CF/1988, havia as seguintes entidades da Administração Pública Federal que
atuavam na seguridade social do Brasil: a) INPS – Instituto Nacional de Previdência Social, tratando-se de
uma autarquia federal criada em 1966 (Decreto-lei nº 72/1966), resultante da unificação de todos os
Institutos de Aposentadoria e Pensão que existiam na época; b) INAMPS – Instituto Nacional de Assistência
Médica da Previdência Social, tratando-se de uma autarquia federal criada em 1977 (Lei nº 6.439/1977) e
que cuidava apenas da assistência médica dos segurados; c) IAPAS – Instituto de Administração Financeira
da Previdência e Assistência Social, tratando-se de uma autarquia federal criada também em 1977 (pela
mesma Lei nº 6.439/1977) e que cuidava, essencialmente, da arrecadação, fiscalização e cobrança das
contribuições e demais recursos destinados à previdência e assistência social; d) DATAPREV – Empresa de
Processamento de Dados da Previdência Social, tratando-se de uma empresa pública federal, cuja criação
foi autorizada em 1974 (Lei nº 6.125/1974) e que cuidava da “análise de sistemas, a programação e execução
de serviços de tratamento da informação e o processamento de dados através de computação eletrônica,
bem como a prestação de outros serviços correlatos”.
No período pós Constituição de 1988, a autarquia federal previdenciária passou a ser o INSS –
Instituto Nacional do Seguro Social, pelo Decreto-lei nº 99.350, de 27 de junho de 1990, mediante a fusão do
IAPAS com o INPS.
Importante assinar que as funções institucionais do INSS têm se expandido no período pós Emenda
Constitucional 103/19, com a absorção de concessão e manutenção de benefícios de aposentadorias e
pensões do regime próprio do Poder Executivo Federal. O Decreto nº 10.620, de 5 de fevereiro de 2021
passou a dispor sobre a competência para a concessão e a manutenção das aposentadorias e pensões do
regime próprio de previdência social da União no âmbito da administração pública federal.
Por enquanto, por expressa menção do art. 1º, parágrafo único, inciso II, daquele Decreto, suas
disposições não se aplicam ao Poder Legislativo, ao Poder Judiciário e aos órgãos constitucionalmente
autônomos. De todo modo, a tendência para o futuro é que toda a previdência do funcionalismo público
federal, dos três Poderes, seja administrada no aspecto operacional da concessão e manutenção das
prestações devidas pela autarquia previdenciária. Além disso, por ora, somente os servidores públicos
federais vinculados às autarquias e fundações públicas federais é que estão sujeitos ao INSS, no quanto
relativo à concessão e manutenção de aposentadorias e pensões. Já o pessoal vinculado à Administração
Pública Direta continua sujeito ao órgão central do Sistema de Pessoal Civil da Administração Federal – SIPEC.
14
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
Cabe lembrar, como visto em linhas anteriores, que o INSS passou a operar também a concessão e
manutenção de aposentadorias e pensões dos servidores públicos da Administração Pública indireta, mais
especificamente das autarquias e fundações públicas, mas continua precipuamente exercendo como função
institucional primeira a operação das ações administrativas de concessão e manutenção dos benefícios e
serviços previstos no RGPS.
Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, o texto constitucional fixador das bases da
previdência brasileira passou por algumas reformas previdenciárias, quais sejam: Emenda Constitucional
nº 20/98, Emenda Constitucional nº 41/03, Emenda Constitucional nº 47/05, Emenda Constitucional nº 88/15
e, por fim, a Emenda Constitucional nº 103/19. Entre todas essas emendas constitucionais, apenas a Emenda
Constitucional nº 20/98 e a Emenda Constitucional nº 103/19 implicaram alterações também no RGPS. As
demais emendas (41/03, 47/05 e 88/15), foram voltadas à previdência dos servidores públicos apenas.
5. AS REFORMAS PREVIDENCIÁRIAS
O objetivo da referida Emenda era o de alterar as normas previdenciárias tanto do regime geral de
previdência social, quanto do regime próprio dos servidores públicos. O grande intento deste dispositivo foi
inserir o requisito etário (idade mínima para se aposentar) nas aposentadorias, tanto do regime próprio
quanto do regime geral. Tratou-se, também, de extinguir o instituto do “tempo de serviço”, bem como
proibiu a contagem de tempo ficto, especialmente nos regimes próprios. Isso, porque aposentadoria dos
funcionários públicos, historicamente, era tratada como sendo uma benesse, um prêmio àquele que prestou
serviços de interesse público.
O vértice desse antigo sistema era o tempo de serviço e não o tempo de contribuição. Isso foi
determinante, claro, para desequilibrar as contas públicas destinadas ao pagamento desses benefícios nos
correspondentes regimes próprios. O discurso proeminente é que os servidores públicos não contribuíam
até a Emenda Constitucional nº 3 de 1993, que alterou a redação do §6º, do art. 40, da Constituição Federal
de 1988, para que assim passasse a constar:
Antes da Emenda Constitucional nº 3 de 1993, de fato, não havia essa indicação expressa de custeio
no corpo do art. 40, da Constituição Federal. A partir da EC nº 3 de 1993, o texto constitucional passou a não
deixar dúvidas, de fato, quanto ao mandamento constitucional de que deveria haver contribuições dos
servidores, na forma da lei, para o custeio de suas aposentadorias e pensões. Até então se tinha como
paradigma da aposentadoria no serviço público apenas e, sobretudo, o tempo de serviço, sendo que, na
essência, a passagem para a inatividade dos servidores públicos era sempre em caráter premial.
15
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
Sobre isso não há como apontarmos constatação em direção oposta. Era e sempre foi premial,
mesmo. Mas, também há que se fazer o registro que não é uma verdade completa dizer que nunca houve
contribuição previdenciária dos servidores públicos. A assertiva de que os servidores públicos não
contribuíam antes da EC nº 3 de 1993 deve ser lida com “granu salis”, portanto, dentro de um amplo estudo
histórico relacionado ao Tema. Existiam contribuições nas leis anteriores à Constituição Federal de 1988. O
que não existia era um controle orçamentário para o custeio dos respectivos benefícios previdenciários, de
modo que a concessão das aposentadorias e pensões aos servidores públicos era desconectada de um
equilíbrio financeiro e atuarial.
Isso foi percebido pelo próprio Supremo Tribunal Federal, no voto da Ministra Ellen Gracie quando
do julgamento da ADI 31051:
Por isso, é errônea a afirmativa de que os servidores públicos federais nunca contribuíram
ou pouco contribuíram para o sistema previdenciário próprio.
Essa abordagem inicial sobre a previdência dos servidores públicos foi importante para situar melhor
essa temática, já que há muita confusão sobre o assunto. Após a Emenda Constitucional nº 3 de 1993, cinco
anos depois, veio a promulgação da Emenda Constitucional nº 20 de 1998, para mudar, de modo mais
incisivo, a previdência dos servidores públicos e, como dito, também do RGPS.
Alguns pontos importantes serão sintetizados para o seu estudo a respeito da EC nº 20 de 1998.
Sobre esse ponto, frisa-se a importância de observar que a cobrança de contribuição previdenciária
aos inativos e pensionistas dos regimes próprios somente foi realmente alcançada no ordenamento jurídico
16
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
por meio da Emenda Constitucional nº 41/2003, ante a omissão da EC nº 20/1998 quanto a isso. Ao que
consta do intento governista da época, havia a vontade de se instituir a contribuição dos inativos por meio
da EC nº 20, mas isso não ocorreu, e somente por meio da Lei nº 9.783/1999 se conseguiu, ao menos
tentou-se, tal exigência tributária.
A Lei nº 9.783/1999, que dispunha “sobre a contribuição para o custeio da previdência social dos
servidores públicos, ativos e inativos, e dos pensionistas dos três Poderes da União” (grifo nosso), foi editada
logo após a EC nº 20, mas foi declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento da
ADI 2010/DF (precedente que, depois, serviu de paradigma para o STF declarar a inconstitucionalidade de
“contribuições” semelhantes instituídas pelos Estados-membros sobre seus servidores aposentados, e sobre
seus pensionistas2). A discussão acerca da impossibilidade de exigência de contribuição previdenciária em
face dos servidores inativos e pensionistas, na vigência da EC nº 20/1998, foi sacramentada pelo
apontamento do Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADI 2010 MC, em 12/4/2002:
Portanto, o Supremo Tribunal Federal assentou, sem deixar dúvidas, que entre as Emendas
Constitucionais nº 20 e nº 41 é inviável a cobrança das contribuições previdenciárias em face dos inativos e
pensionistas dos regimes próprios, devendo ser devolvidas aos contribuintes originários. Nota-se3:
2 MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito, in “A contribuição dos inativos”, artigo publicado no site Migalhas de Peso, extraído de:
https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI4912,81042-A+contribuicao+dos+inativos, em 11/11/19, às 14:23.
3 Extraído de: https://processo.stj.jus.br/SCON/, em 11/11/2019, às 13:53.
17
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
Essa mudança foi voltada tanto para o RGPS, quando para os regimes próprios. Antes da redação
dada pelo Emenda nº20 de 1998, o art. 202, inciso III, da Constituição Federal assinalava a redução em cinco
anos de maneira indistinta para todos os professores que pelo efetivo exercício do magistério. Já na redação
dada pela Emenda nº 20, a redução passou a ser dada pelo art. 201, §8º, da Constituição Federal, com
restrição àqueles professores e professoras atuantes nas funções de magistério da educação infantil e médio,
excluindo, assim, o ensino universitário.
Já no campo dos regimes próprios, o art. 40, inciso III, “b”, da Constituição Federal, concedia redução
do “tempo de serviço” exigido para qualquer professor ou professora atuante no serviço público. Com a
Emenda Constitucional nº 20, essa redução passou a ser prevista no art. 40, §5º, da Constituição Federal,
repetindo os termos usados no art. 201, no sentido de que apenas aqueles que exercem as funções de
magistério na educação infantil e no ensino fundamental.
A aposentadoria por tempo de contribuição proporcional foi extinta, mas a EC nº 20 possibilitou uma
regra de transição para aqueles que não queiram esperar os 35 anos de contribuição previstos, para homens,
ou 30 anos, para mulheres.
18
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
• aos 35 anos de serviço, se homem, e aos 30 anos, se mulher, com proventos integrais;
• aos 30 anos de serviço, se homem, e aos 25 anos, se mulher, com proventos proporcionais;
• aos 65 anos de idade, se homem, e 60 anos de idade, se mulher, com proventos proporcionais.
Após a Emenda 20/98, passaram a ser possíveis as seguintes aposentadorias voluntárias comuns
do servidor público:
Essas são as regras permanentes criadas pela Emenda Constitucional nº 20, que se fizeram incluir no
art. 40, do corpo da Constituição Federal. De outro lado, no corpo da própria emenda constitucional, foi
criada uma regra de transição para a aposentadoria proporcional revogada. Frisa-se aqui, para que não se
confunda: existiam dois tipos de aposentadoria proporcional voluntária no serviço público até a Emenda nº
20, que eram a aposentadoria proporcional sem idade mínima; e a aposentadoria proporcional com idade
mínima.
A aposentadoria proporcional sem idade mínima foi extinta e é em relação a ela que foi criada uma
regra de transição no corpo da Emenda Constitucional nº 20. Além disso, claro, foi inserido no texto da
19
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
Emenda nº 20, em seu art. 3º, uma regra de proteção do direito adquirido, permitindo aos servidores que
tivessem cumprido os requisitos até a publicação da Emenda a aposentadoria proporcional sem idade
mínima. Se o servidor não tivesse esse direito adquirido, ele poderia, então, se assim optasse, fazer uso da
regra de transição prevista no art. 8º, §1º, da Emenda nº 20. Entretanto, a regra de transição não aliviou
quanto à exigência de idade mínima, cobrando também o requisito etário ao seu destinatário. Também não
aliviou quanto ao novo requisito criado pela Emenda 20, referente ao tempo mínimo no cargo em que se der
a aposentadoria.
Calha lembrar que na regra permanente de aposentadoria voluntária aprovada pela Emenda nº 20
não foi incluída a idade mínima, por conta do famoso “voto Kandir”. Na época, o governo do então Presidente
Fernando Henrique Cardoso almejava incluir a idade mínima para a aposentaria em ambos os regimes, geral
e próprios. Contudo, apenas para os regimes próprios é que obteve êxito, pois para as regras do RGPS, o
governo perdeu a votação por apenas 1 voto, qual seja, o citado “voto Kandir”. Antônio Kandir foi o deputado
federal que, segundo ele próprio alegou, apertou o botão errado na hora da votação e por apenas um voto,
no caso o dele, não foi aprovada a idade mínima para a aposentadoria no RGPS. Na regra de transição dada
pelo art. 9º, §1º, da Emenda nº 20, contudo, foi incluída a idade mínima, o que acabou sendo um
contrassenso normativo.
Pois bem, essas foram as mudanças na aposentadoria voluntária dos servidores públicos. Quanto à
aposentadoria voluntária dos trabalhadores da iniciativa privada, isto é, vinculados ao RGPS, houve mudança
também quanto à aposentadoria proporcional. Também existia aposentadoria proporcional com proventos
proporcionais no âmbito do RGPS, sem exigência de idade mínima até então. Com a Emenda nº 20 de 1998,
foi extinta do ordenamento constitucional a aposentadoria proporcional no RGPS, que era permitida sem
idade mínima aos “30 anos de trabalho, ao homem, e, após vinte e cinco, à mulher”, nos termos da redação
original do art. 202, §1º, da Constituição Federal. Com a publicação da Emenda nº 20, passou a existir apenas
a aposentadoria por tempo de contribuição integral, conforme redação dada ao art. 201, §7º, inciso I, da
Constituição Federal.
• aos 35 anos de trabalho, se homem, e aos 30 anos, se mulher, com proventos integrais;
• aos 30 anos de trabalho, se homem, e aos 25 anos, se mulher, com proventos proporcionais;
• aos 65 anos de idade, se homem, e aos 60 anos de idade, se mulher, com proventos
proporcionais;
• aos 60 anos de idade, se homem trabalhador rural, e aos 60 anos de idade, se mulher trabalhador
rural, com proventos limitados ao salário-mínimo.
20
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
Após a Emenda nº 20, passaram a ser possíveis as seguintes aposentadorias voluntárias comuns
do servidor público:
• aos 35 anos de trabalho, se homem, e aos 30 anos, se mulher, com proventos integrais;
• aos 65 anos de idade, se homem, e aos 60 anos de idade, se mulher, com proventos
proporcionais;
• aos 60 anos de idade, se homem trabalhador rural, e aos 60 anos de idade, se mulher trabalhador
rural, com proventos limitados ao salário-mínimo.
A EC nº 20 de 1998 inclui o §3º ao art. 201, da CF de 1988, prevendo que todos “os salários de
contribuição considerados para o cálculo de benefício serão devidamente atualizados, na forma da lei”. A lei
referida foi editada posteriormente, qual seja a Lei nº 9.876 de 1999, a qual trouxe mudanças na sistemática
do cálculo do salário de benefício. A mudança foi no sentido de que, antes, o período básico de cálculo era
delineado pelos últimos 36 salários de contribuição, porém a partir da Lei nº 9.876 de 1999 o PBC (Período
Básico de Cálculo) passou a ser todo o período contributivo, ou melhor, a média de todo o período
contributivo do segurado. A nova redação dada ao art. 29, incisos I e II, da Lei nº 8.213 de 1991, passou a
considerar a “média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a oitenta por
cento de todo o período contributivo, multiplicada pelo fator previdenciário”. Assim, a partir da referida lei,
passaram a ser considerados todos os salários de contribuição. A mudança promovida na fórmula de cálculo
do salário-de-benefício foi direcionada apenas para os filiados no RGPS a partir da sua publicação, isto é,
somente a partir de 29 de novembro de 1999.
Aos anteriormente filiados foi editada uma regra de transição prevista no art. 3º, da Lei nº 9.876 de
1999. Essa regra de transição previu que:
Para o segurado filiado à Previdência Social até o dia anterior à data de publicação desta
Lei, que vier a cumprir as condições exigidas para a concessão dos benefícios do Regime
Geral de Previdência Social, no cálculo do salário-de-benefício será considerada a média
aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição, correspondentes a, no mínimo,
oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de
1994.
A grande questão é que a regra de transição foi impositiva, isto é, foi criada para ser aplicada a todos
os filiados ao RGPS até 28 de novembro de 1999, véspera da publicação da Lei nº 9.876 de 1999, sem
possibilidade de escolha da regra permanente, caso ela fosse melhor. Na regra de transição foi estabelecido
um limite temporal para a consideração dos salários de contribuição a serem incluídos na média, para fins
de cálculo do salário de benefício. Já na regra permanente, não foi criada limitação temporal, pois a nova
redação dada ao art. 29, incisos I e II, determinou a média dos 80% maiores salários de contribuição de todo
o período contributivo. Essa é, aliás, a questão central da chamada tese da “revisão da vida toda”, a qual,
atualmente, pende de julgamento do Supremo Tribunal Federal (Tema 1.102 de sua repercussão geral). O
nome da tese da “revisão da vida toda” decorre justamente do fato de que, para alguns segurados, poderia
ser mais vantajoso usar todo o período contributivo, isto é, a regra permanente no lugar da regra de
transição.
A Emenda nº 20 de 1998 trouxe uma vedação expressa ao uso do tempo ficto no serviço público,
conforme o art. 40, §10, da Constituição Federal:
21
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
§10 - A lei não poderá estabelecer qualquer forma de contagem de tempo de contribuição
fictício.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)
Exemplo clássico de contagem de tempo fictício era a licença-prêmio de servidores públicos, quando
não gozada. Em geral, os estatutos de servidores públicos sempre previram que, caso o servidor adquirisse o
direito à licença-prêmio e não a usufruísse, ele poderia contar o tempo da licença em dobro para fins de
aposentadoria. Se por hipótese, um determinado servidor acumulasse ao longo de sua vida funcional 1 ano
de licença-prêmio não gozada, ele poderia somar 2 anos de tempo de serviço no seu tempo total para fins
de aposentadoria, mesmo sem ter trabalhado nesse acréscimo ou, ainda, recolhido contribuições
previdenciárias complementares.
De acordo com o art. 195, §1º, da Portaria MTP 1.467 de 2022, entende-se como “tempo fictício
aquele considerado em lei como tempo de contribuição para fins de concessão de aposentadoria sem que
tenha havido, por parte do segurado, a prestação de serviço ou a correspondente contribuição”. No âmbito
da União, a Lei nº 8.112 de 1990 (Estatuto dos Servidores Públicos Civis da União) previa o direito â licença-
prêmio em seu art. 81, inciso V. Contudo, a Lei nº 9.527, de 10 de dezembro de 1997, revogou tal espécie de
licença, criando outra em substituição, qual seja a licença para capacitação. O art. 102, inciso VIII, alínea “e”,
da Lei nº 8.112 de 1990, considerava como sendo de efetivo exercício o período de licença-prêmio. Com a
revogação dessa licença e seus efeitos previdenciários, o art. 7º, da Lei nº 9.527 de 1998, estabeleceu a
proteção do direito adquirido aos servidores que haviam atingidos os requisitos para licença-prêmio até 15
de outubro de 1996:
Somente para os servidores que obtiveram aposentadoria antes da EC nº 20/, entretanto, é que
puderam usufruir dessa contagem em dobro. Para os que não usaram o tempo em dobro até a EC nº 20,
passou-se a adotar tese no sentido de que os períodos em dobro deveriam, então, ser indenizados. Essa tese
encontrou espaço nos Tribunais e vem sendo aplicada, senão observa-se trecho de notícia veiculada no site
do Superior Tribunal de Justiça, em 13 de julho de 2022:
Servidor federal inativo que não gozou licença-prêmio por qualquer motivo deve receber
em dinheiro
A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) fixou, sob o rito dos recursos
repetitivos, a tese de que o servidor federal inativo, independentemente de prévio
requerimento administrativo, tem direito à conversão em dinheiro da licença-prêmio não
usufruída durante a atividade funcional nem contada em dobro para a aposentadoria, sob
pena de enriquecimento ilícito do ente público.
Baseado na redação original do artigo 87, parágrafo 2º, da Lei 8.112/1990 e no artigo 7º da
Lei 9.527/1997, o colegiado definiu, também, que não é necessário comprovar que a licença
não tenha sido tirada por necessidade do serviço.
O ministro Sérgio Kukina, relator dos recursos especiais afetados no Tema 1.086, explicou
que a tese reproduz o atual entendimento do STJ – alinhado à orientação do Supremo
Tribunal Federal (STF) no Tema 635 da repercussão geral, segundo a qual é assegurada ao
servidor inativo a conversão de direitos remuneratórios em indenização pecuniária, em
virtude da vedação ao enriquecimento sem causa da administração pública.
Em seu voto, o magistrado afirmou que a Lei 9.527/1997, apesar de ter extinguido a licença-
prêmio, estabeleceu, no artigo 7º, que os períodos adquiridos até 1996 poderão ser
22
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
Isso se deve ao fato de que o art. 4º, da Emenda nº 20, estabeleceu que observado “o disposto no
art. 40, §10, da Constituição Federal, o tempo de serviço considerado pela legislação vigente para efeito de
aposentadoria, cumprido até que a lei discipline a matéria, será contado como tempo de contribuição”. O
tempo de serviço é o tempo em que não houve contribuição, embora tenha havido serviço. Já o tempo ficto
é o tempo em que sequer houve serviço, sendo uma total ficção jurídica, como no caso da licença-prêmio
não gozada contada em dobro. Aqui tem-se duas percepções: a) o art. 4º, da EC nº 20, tem como destinatário
o equilíbrio financeiro e atuarial dos regimes próprios e não do RGPS, não tendo havido uma proibição direta
ao regramento até o momento vigente sobre a possibilidade de, no regime geral, em certas hipóteses existir
contagem de tempo de serviço sem contribuição efetiva; b) o dispositivo mencionado exige que haja lei para
disciplinar o que pode ou não ser contado como tempo de contribuição nos regimes próprios, mas até hoje
essa lei não foi editada.
Tentando regular o ponto, no lugar da lei, o art. 195, §2º, da Portaria MTP 1.467 de 2022, assinala
que o “tempo de serviço considerado para efeito de aposentadoria por lei e cumprido até 16 de dezembro
de 1998 será contado como tempo de contribuição”. A vingar a disposição regulamentar acima, parece-nos
que períodos de serviço que, embora se contribuição efetiva, são permitidos (ou que já foram permitidos)
pela legislação no computo do tempo de contribuição, sofrerão declaração retroativa de invalidade, o que
pode ferir o ato jurídico perfeito.
23
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
Art. 10. Revogam-se o inciso IX do §3º do art. 142 da Constituição Federal, bem como os
arts. 8º e 10 da Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de 1998.
Com essa extinção, apenas os servidores que já tinham atingido os requisitos da regra de transição
prevista no mencionado art. 8º, da EC nº 20, é que puderam se aposentar conforme suas regras. A partir daí,
a Emenda nº 41 de 2003, ao revogar as regras de transição da Emenda nº 20 de 1998, trouxe suas próprias
regras de transição, as quais vieram com requisitos mais duros em relação ao servidor público, seja ele filiado
até 19 de dezembro de 2003 (data da publicação da Emenda nº 41), seja filiado anteriormente a 16 de
dezembro de 1998 (data da publicação da Emenda nº 20).
Já para preservar a expectativa de direito (regra de transição), daqueles que já tinham ingressado
no serviço público até 19 de dezembro de 2003, de se aposentarem com garantia de integralidade e
paridade, foi criado o art. 6º, da EC nº 41, que assim dizia:
Art. 6º Ressalvado o direito de opção à aposentadoria pelas normas estabelecidas pelo art.
40 da Constituição Federal ou pelas regras estabelecidas pelo art. 2º desta Emenda, o
servidor (...), que tenha ingressado no serviço público até a data de publicação desta
Emenda poderá aposentar-se com proventos integrais, que corresponderão à totalidade
da remuneração do servidor no cargo efetivo em que se der a aposentadoria, na forma da
lei, quando, observadas as reduções de idade e tempo de contribuição contidas no §5º do
art. 40 da Constituição Federal, vier a preencher, cumulativamente, as seguintes condições:
(...) Parágrafo único. Os proventos das aposentadorias concedidas conforme este artigo
serão revistos na mesma proporção e na mesma data, sempre que se modificar a
remuneração dos servidores em atividade, na forma da lei, observado o disposto no art.
37, XI, da Constituição Federal.
A respeito do limite mínimo de idade para a aposentadoria, conforme instituído pela EC nº 20, não
houve mudanças, de modo que as idades de 60 anos, para homens, e 55 anos, para mulheres, permaneceram
intocadas na reforma previdenciária da EC nº 41. No regime geral também não houve mudanças. Além disso,
o Congresso Nacional não conseguiu aprovar regras de idade mínima para as aposentadorias em geral.
Com a EC nº 41, a redação do caput, do art. 40, da CF de 1988 passou a asseverar com total clareza
que os regimes próprios dos agentes públicos se caracterizam por seu caráter contributivo e solidário
“mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas” (grifo
nosso).
24
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
Houve grande mudança na pensão por morte paga pelos regimes próprios. Essas pensões, com a EC
nº 41, passaram a ter como limite o teto dos benefícios concedidos no âmbito do RGPS. Estabeleceu-se um
primeiro limite, que é a totalidade dos proventos do servidor falecido, ou da remuneração deste.
Obviamente, não faria mesmo sentido lógico, tampouco atuarial, que os proventos da pensão
ultrapassassem os proventos da aposentadoria ou a remuneração ganhada em vida pelo instituidor. Além
disso, estabeleceu-se um segundo limite, que é o teto dos benefícios do RGPS, somado à rubrica máxima de
70% do valor total dos proventos ou da remuneração ganhada em vida pelo instituidor. Por esse limitador, a
pensão seria no máximo o teto do RGPS + 70% dos proventos/remuneração do instituidor.
Cabe frisar que, pela própria disposição textual da redação dada pela EC nº 41, tal matéria foi
submetida à regulamentação por lei. Essa lei veio pouco tempo após a promulgação da citada Emenda (19
de dezembro de 2003). Primeiramente veio “com força de lei” por meio da edição da Medida Provisória nº
167, de 19 de fevereiro de 2004, a qual foi convertida, posteriormente, na Lei nº 10.887, de 18 de junho de
2004. Logo, a limitação das pensões concedidas aos dependentes dos servidores públicos falecidos somente
começou a valer, realmente, a partir da publicação da referida medida provisória, eis que incide no caso o
princípio do tempus regit actum.
Outra alteração de impacto foi a redação dada aos §§3º e 17, do art. 40, CF de 1988, os quais
passaram a indicar que as aposentadorias dos servidores públicos serão calculadas com base na média
aritmética dos seus salários de contribuição, corrigidos monetariamente. Como se pode perceber, na
medida em que os proventos de aposentadoria de um servidor público passam a ser calculados com base na
média aritmética de suas remunerações, não há mais que se falar em integralidade. A norma matriz desse
novo regime passou a constar da nova redação dada ao art. 40, da Constituição Federal de 1988. Veja-se:
Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de
previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente
público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003)
(...)
§3º Para o cálculo dos proventos de aposentadoria, por ocasião da sua concessão, serão
consideradas as remunerações utilizadas como base para as contribuições do servidor aos
regimes de previdência de que tratam este artigo e o art. 201, na forma da lei.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003)
(...)
§17. Todos os valores de remuneração considerados para o cálculo do benefício previsto no
§3° serão devidamente atualizados, na forma da lei.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003).
Antes, o servidor se aposentava e tinha seus proventos calculados com base nas parcelas
incorporadas aos seus vencimentos constantes da última remuneração. Ele levava tudo o que tinha para a
25
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
inatividade, ou seja, suas rubricas remuneratórias integralmente se mantinham na inatividade. Existia, como
vimos, a espécies de aposentadoria do servidor público que permitiam a concessão com proventos
proporcionais ao tempo de serviço, mas ainda assim existia integralidade, uma vez que o percentual que
incidia para fazer valer a proporcionalidade desse tipo de aposentadoria, incidia sobre a integralidade da
última remuneração auferida pelo servidor público. Já nas hipóteses de aposentadorias com proventos
integrais, a integralidade era ainda mais forte, pois tinha-se um percentual de 100% sobre a última
remuneração, ou seja, simplesmente se mantinha a última remuneração do servidor. A paridade também
era garantida. Neste ponto do estudo, é importante demarcar as distinções conceituais entre integralidade
e paridade:
Não confundir proventos integrais com integralidade da base de cálculo dos proventos.
O valor da aposentadoria é encontrado aplicando-se um percentual sobre uma base de
cálculo. Essa base de cálculo, com a Emenda Constitucional 41/2003, deixou de ser a
remuneração integral do cargo efetivo. Quando o percentual incidente sobre a base de
cálculo (seja a remuneração integral ou não) for igual a 100%, afirma-se que os proventos
da aposentadoria serão integrais. Quando o percentual for inferior a 100%, tem-se a
aposentadoria com proventos proporcionais.
A Emenda Constitucional 41/2003, desse modo, extinguiu a integralidade (remuneração
integral do cargo efetivo) da base de cálculo da aposentadoria, mas não os proventos
integrais (permanece a existência de aposentadoria com proventos integrais, ou seja, com
a aplicação do percentual de 100% sobre a base de cálculo da aposentadoria).
e) Como passou a ser feito o cálculo a partir da Emenda nº 41, com o fim da
integralidade?
O cálculo das aposentadorias no serviço público passou a ser feito pela média, assim como já era
feito no RGPS. Nesse ponto, os regimes se aproximaram ainda mais, o que é uma tendência cada vez mais
forte. Essa média deve encontrar sempre, contudo, o limite da remuneração do próprio agente público
aposentado. Outro limite estabelecido foi o de que fosse obedecido o teto do regime geral da previdência
social se o respectivo ente federado instituir um regime de previdência complementar.
Hoje, a Emenda nº 103 não deu mais essa opção, determinando que os entes estabeleçam
obrigatoriamente regime de previdência complementar e limitando os proventos do respectivo regime
próprio ao teto do RGPS. O servidor público não é obrigado a se manter no plano de previdência
complementar do respectivo ente federativo, mas estará invariavelmente obrigado a um regime que limita
sua aposentadoria no serviço público ao teto do RGPS, de modo que o que passar desse teto, ele deverá
receber pela previdência complementar do ente federado, se mantiver sua adesão nela, ou por meio de
alguma previdência complementar privada qualquer que quiser contratar, ou por meio de investimentos
financeiros próprios, ou, nada, caso ele seja negligente nesse ponto.
4 Eduardo; MACÊDO, José L. M. Nova Previdência Social do Servidor Público. 2ª Edição. São Paulo: Método, 2007. p. 119. nota 11.
26
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
Então, nota-se que, qualquer servidor público que ingressar após a EC nº 41 – ou que, embora tenha
ingressado antes, mas em 19 de dezembro de 2003 ainda não tinha se aposentado ou sequer possuía os
requisitos cumpridos para tanto – quando vier a se aposentar:
Importante frisar que, para preservar o direito adquirido daqueles que já possuíam preenchidos os
requisitos para se aposentarem ou obterem pensão por morte até a data da publicação da EC nº 41, essa
Emenda criou três regimes de transição. Esses regimes de transição ficaram previstos nos artigos 2º, 3º e
6º, da EC nº 41 (como veremos no estudo da EC nº 47, ainda houve, posteriormente, a criação por essa
Emenda de um 4º regime de transição).
Sim, com base no direito adquirido antes da EC nº 41, de acordo com seu art. 3º, caput e §2º:
5 Cabe lembrar que a forma de cálculo deixou de ser feita com base na Lei nº 10.887/2004 a partir da publicação da Emenda nº 103,
de modo que a forma de cálculo atualmente é regulada pelo art. 26, caput, da referida emenda constitucional: “Art. 26. Até que lei
discipline o cálculo dos benefícios do regime próprio de previdência social da União e do Regime Geral de Previdência Social, será
utilizada a média aritmética simples dos salários de contribuição e das remunerações adotados como base para contribuições a
regime próprio de previdência social e ao Regime Geral de Previdência Social, ou como base para contribuições decorrentes das
atividades militares de que tratam os arts. 42 e 142 da Constituição Federal, atualizados monetariamente, correspondentes a 100%
(cem por cento) do período contributivo desde a competência julho de 1994 ou desde o início da contribuição, se posterior àquela
competência”.
6 Conforme art. 1º, caput, da Lei nº 10.884/2004.
7
Cabe lembrar que esse abono de permanência criado pela EC nº 41 restou alterado pela Emenda nº 103, que deu nova redação ao
§19, do art. 40, CF/1988: “§19. Observados critérios a serem estabelecidos em lei do respectivo ente federativo, o servidor titular de
cargo efetivo que tenha completado as exigências para a aposentadoria voluntária e que opte por permanecer em atividade poderá
fazer jus a um abono de permanência equivalente, no máximo, ao valor da sua contribuição previdenciária, até completar a idade
para aposentadoria compulsória. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)”.
27
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
Quanto à paridade, como será analisado no próximo item, também foi extinta com a EC nº 41 de
2003, mas ela também contou com regra de transição na EC nº 41, que assim dispôs em seu art. 7º:
Cabe lembrar que houve, de certo modo, um “resgate normativo” da paridade e integralidade dos
servidores aposentados por invalidez. Isso porque, quando da edição da EC 41 não foi incluído no texto
qualquer disposição mais específica relativamente às aposentadorias por invalidez. Desse modo, foi
necessária realmente a inclusão do art. 6º-A, na EC 41 para que essa passasse a constar claramente que os
servidores que já atuavam até 31/12/2003, e que viessem a se aposentar por invalidez, com proventos
proporcionais ou integrais, pudessem manter a integralidade e paridade de sua aposentadoria. Essa inclusão
ocorreu por meio da EC 70/12. Essa Emenda acrescentou o “art. 6º-A à Emenda Constitucional nº 41, de
2003, para estabelecer critérios para o cálculo e a correção dos proventos da aposentadoria por invalidez dos
servidores públicos que ingressaram no serviço público até a data da publicação daquela Emenda
Constitucional”.
Art. 6º-A. O servidor da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas
suas autarquias e fundações, que tenha ingressado no serviço público até a data de
publicação desta Emenda Constitucional e que tenha se aposentado ou venha a se
aposentar por invalidez permanente, com fundamento no inciso I do §1º do art. 40 da
Constituição Federal, tem direito a proventos de aposentadoria calculados com base na
remuneração do cargo efetivo em que se der a aposentadoria, na forma da lei, não sendo
aplicáveis as disposições constantes dos §§3º, 8º e 17 do art. 40 da Constituição Federal.
Parágrafo único. Aplica-se ao valor dos proventos de aposentadorias concedidas com base
no caput o disposto no art. 7º desta Emenda Constitucional, observando-se igual critério de
revisão às pensões derivadas dos proventos desses servidores.
Veja, agora, uma síntese das hipóteses de ultratividade normativa da paridade e integralidade. Em
suma, hoje temos apenas 3 hipóteses nas quais é possível ser aposentado com o benefício da paridade e
integralidade:
• para aqueles que se aposentaram por invalidez na forma da EC nº 70, que incluiu o art. 6º-A,
na EC nº 41;
• para aqueles que se aposentaram voluntariamente na forma do art. 3º, da EC nº 41, com
base no direito adquirido protegido por esse dispositivo;
28
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
• nas aposentadorias voluntárias e pensões concedidas com base em direito adquirido anterior
a 19 de dezembro de 2003, conforme art. 3º, da EC nº 20;
• nas aposentadorias voluntárias e pensões concedidas com base em direito adquirido anterior
a 19 de dezembro de 2003, conforme art. 3º, da EC nº 41;
• nas aposentadorias voluntárias concedidas com base na regra de transição do art. 6º, da EC
nº 41;
• nas aposentadorias por invalidez concedidas com base na regra de transição do art. 6º-A, da
EC nº 41 (incluído pela EC nº 70 de 2012).
Aos professores, a paridade ainda permaneceu vigente, de algum modo, no ordenamento jurídico?
sim, nas seguintes normas:
• nas aposentadorias voluntárias e pensões concedidas com base em direito adquirido anterior
a 19 de dezembro de 2003, conforme art. 3º, da EC nº 20;
• nas aposentadorias voluntárias e pensões concedidas com base em direito adquirido anterior
a 19 de dezembro de 2003, conforme art. 3º, da EC nº 41;
• nas aposentadorias voluntárias concedidas com base na regra de transição do art. 6º, da EC
nº 41 (nesse caso, a paridade é dada pelo art. 2º da EC nº 47 c/c art. 7º, da EC nº 41);
• nas aposentadorias por invalidez concedidas com base na regra de transição do art. 6º-A, da
EC nº 41 (incluído pela EC nº 70 de 2012);
• nas aposentadorias voluntárias concedidas com base na regra de transição do art. 3º, da EC
nº 47 (resgate da paridade para servidores filiados até 16 de dezembro de 1998, sem
integralidade nesse caso).
Mas, dessa listagem acima, o que restou efetivamente da integralidade e paridade frente à EC nº
103? Nada, pois o art. 35, da Emenda nº 103 revogou todas as regras de transição da Emenda nº 41 e Emenda
nº 47:
A Emenda Constitucional nº 47, de 5 de julho de 2005 foi, a “rebarba” da EC nº 41 de 2003, eis que,
na época da aprovação desta, alguns pontos ficaram de fora do consenso parlamentar. Assim, na época da
EC nº 41, o governo não conseguiu aprovar tudo que almejava, mas 1 ano e meio mais tarde lograram êxito
em recuperar esse lapso ao promulgar a EC nº 47. Tratou-se, em verdade, de uma “PEC paralela” à PEC que
resultou na EC nº 41, mas que somente foi ultimada um pouco depois, em 2005.
Essa Emenda Constitucional criou uma 3ª regra de transição para a aposentadoria de quem já era
servidor público antes da EC nº 20 de 1998, ou seja, antes da publicação dela, em 16 d dezembro de 1998.
Essa regra de transição veio com a finalidade de “abrandar”, em verdade, outra regra de transição. A EC nº
47, então, estabeleceu mais uma regra de transição, prevista em seu art. 3º, a fim de garantir a aposentadoria
com proventos integrais, com paridade, àqueles servidores que haviam ingressado no serviço público antes
29
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
A Emenda nº 47 também trouxe a regra do duplo teto, que passou a ser então prevista no art. 40,
§21, da Constituição Federal:
Art. 40. (...) §18. Incidirá contribuição sobre os proventos de aposentadorias e pensões
concedidas pelo regime de que trata este artigo QUE SUPEREM O LIMITE MÁXIMO
estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art.
201, com percentual igual ao estabelecido para os servidores titulares de cargos efetivos.
(...)
§21. A contribuição prevista no §18 deste artigo incidirá apenas sobre as parcelas de
proventos de aposentadoria e de pensão que superem o dobro do limite máximo
estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201
desta Constituição, quando o beneficiário, na forma da lei, for portador de doença
incapacitante.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005)
(Revogado pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
Como se pode perceber, contudo, essa regra do duplo teto já se encontra hoje revogada pela Emenda
Constitucional nº 103.
Por fim, conforme já explicado, a edição da EC nº 70 de 2012 veio apenas para corrigir uma distorção
normativa que se avultou quando da EC nº 41, a qual não contemplou uma regra de transição específica
para os servidores que já estavam no serviço público antes de 31 de dezembro de 2003 e vieram a se
aposentar por invalidez. Como não havia regra de transição específica, esses servidores, quando aposentados
por invalidez, entravam nas regras advindas com a EC nº 41, ou seja, aposentavam-se sem direito a
integralidade e paridade (mesmo tendo ingressado no serviço público antes da EC nº 41). A EC nº 70 de 2012
corrigiu isso e previu o art. 6º-A, já apontado.
30
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
para até 75 anos por meio da edição de lei complementar que trate da questão, para os cargos que nela
forem indicados.
Veja:
31
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
Com relação à Emenda nº 103, serão dedicados, oportunamente, dois capítulos específicos para a
abordarmos com profundidade. Como se trata de um Tema de estudo mais atual e, portanto, mais prático,
será abordado mais adiante. Antes, porém, serão estudadas as bases doutrinárias da previdência.
6. MODELOS DE PREVIDÊNCIA
Quando se fala de modelos de previdência, temos que nos reportar aos modelos essenciais, quais
sejam os modelos de Bismarck e Beveridge, que se constituíram e foram se formando na fase experimental
da seguridade social. Nessa fase experimental, podemos citar, assim, Otto Von Bismarck (o maior estadista
alemão do século XIX, que viveu entre 1815 e 1898) e William Beveridge (economista britânico, que viveu
entre 1879 e 1963).
O sistema Bismarckiano era de capitalização, por meio do qual tanto os empregadores quanto os
empregados contribuíam. Apenas os contribuintes, assalariados, portanto, é que estavam cobertos pelo
sistema de Bismarck. Veja-se que o sistema de capitalização nasce com a característica de prescindir da
solidariedade para existir. Em verdade ele é contrário, de certa forma, a esse princípio, na medida em que
se trata de um modelo de previdência que se finca na contribuição particularizada de cada segurado. O
sistema de Bismarck se aproxima mais de um modelo previdenciário, de verdadeiro seguro social.
A partir desses modelos essenciais de previdência, alguns sistemas de proteção securitária social
foram sendo desenvolvidos ao longo do mundo. Os sistemas podem variar conforme a linha política
proeminente em um determinado Estado, podendo se desenvolver como: a) modelo baseado em um regime
de governo social-democrata, que se constitui na máxima universalidade dos benefícios oferecidos, com
cobertura para toda a população e com benefícios, muitas vezes, sem qualquer contribuição (em geral é
instituído em nações nórdicas); b) modelo baseado em um regime de governo conservador-corporativo, que
se constitui pelo regramento de sistemas de previdência em geral baseados no modelo de Bismarck, ou seja,
com compulsoriedade de contribuição para os assalariados, estabelecendo, com isso, um seguro social no
sentido técnico dessa acepção, de modo que os benefícios são proporcionais às contribuições de cada um
(capitalização das contribuições), sendo que esse modelo se desenvolveu com mais ênfase na Europa
Ocidental; ou c) modelo baseado em um regime de governo liberal, que se constitui pelo regramento de
sistemas de previdência mínimos, ou seja, nos quais o Estado concede tão somente uma proteção residual,
quando não for possível que o próprio cidadão consiga prover-se contra riscos sociais, direta ou
indiretamente por meio de instrumentos privados, na medida em que o Estado repassa para entidades
privadas a gestão dessa proteção social.
Afora isso, de modo sintético, os sistemas previdenciários podem ser: a) sistemas contributivos de
capitalização, que são os regimes previdenciários nos quais há a cotização da participação de cada segurado,
com contribuições próprias que refletirão proporcionalmente em cada benefício assegurado pelo sistema; b)
sistemas contributivos de repartição que são sistemas contributivos lastreados no sistema de Beveridge,
nos quais há uma participação desvinculada de uma reciprocidade a ser observada entre o custeio e o
32
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
pagamento de benefícios. Isso significa que o segurado contribui, mas não necessariamente receberá
proporcionalmente aquilo que verteu aos cofres previdenciários, eis que se trata de um sistema que reparte
os ônus e bônus atuariais de sua manutenção; ou c) sistemas privados de previdência, que podem ser
exemplificados no sistema previdenciário do Chile, o qual foi implementado na época da ditatura de Augusto
Pinochet, governo que transferiu para as chamadas AFPs (Administradoras de Fundos de Pensão) a
existência, a manutenção e o desenvolvimento da previdência chilena. As AFPs se transformaram nas
gestoras dos fundos arrecadados diante das contribuições dos segurados, com destinação desses recursos
para investimentos no mercado nacional e exterior, capitalizando-se as cotas de cada segurado. Esse modelo
hoje é o preconizado pelo Banco Mundial em matéria de sistema previdenciário, com um padrão a ser
seguido pelos países em desenvolvimento. O seu funcionamento prevê uma cotização a ser feita pelo
trabalhador, circunstância que transformou o regime antigo, de repartição, em regime de capitalização. Para
abaixo dessas cotas, o Estado chileno garante o pagamento de um benefício assistencial àqueles que não
conseguirem a cota mínima.
33
FREDERICO MARTINS PRINCÍPIOS GERAIS DA SEGURIDADE SOCIAL • 2
34
FREDERICO MARTINS PRINCÍPIOS GERAIS DA SEGURIDADE SOCIAL • 2
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 194, parágrafo único, lista o que descreve como sendo
os objetivos da seguridade social no Brasil:
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade
social, com base nos seguintes objetivos:
I - universalidade da cobertura e do atendimento;
II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;
III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;
IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;
V - equidade na forma de participação no custeio;
VI - diversidade da base de financiamento;
VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão
quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e
do Governo nos órgãos colegiados. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de
1998)
Esse princípio possui, como visto, uma acepção objetiva e uma acepção subjetiva. Isso quer dizer
que o sistema de seguridade social nacional deve ser o mais amplo possível, a fim de que abarque, quanto
ao objeto, todas as hipóteses de contingências sociais possíveis, bem como, no aspecto subjetivo, alcance a
proteção do máximo de pessoas possível.
Esse princípio se justifica unicamente para reafirmar, no campo da seguridade social, o princípio da
isonomia, insculpido no art. 5º, inciso II, da CF de 1988. Não há razão para que os segurados rurais não
tenham os mesmos benefícios que os segurados urbanos têm direito, eis que contam ao longo da vida com
as mesmas contingências socioeconômicas. De todo modo, o princípio da uniformidade e equivalência entre
os benefícios dos segurados rurais e urbanos deve ser lido com ponderação, pois há prestações executadas
no campo urbano da seguridade social brasileira que não se expandem para o campo, tal como o seguro-
desemprego. Já a respeito da equivalência entre os benefícios rurais e urbanos segue a mesma necessidade
de ponderação, sendo certo que o termo equivalência não significa identidade de valores. Logo, o
trabalhador rural, como veremos, ao se aposentar por idade, vai para sua inatividade com apenas um salário-
mínimo, enquanto o trabalhador urbano pode ganhar mais do que um salário-mínimo se a média de suas
contribuições assim permitir.
35
FREDERICO MARTINS PRINCÍPIOS GERAIS DA SEGURIDADE SOCIAL • 2
proteção social, em desfavor de tutelas estatais que não seriam tão abrangentes e tão prioritárias. A
seletividade também se refere ao aspecto pessoal dos segurados, já que, quando criado pela lei um
determinado benefício, a lei seleciona aqueles que farão jus à sua concessão, exigindo o cumprimento de
requisitos próprios para a percepção das prestações previdenciárias correspondentes. Já a distributividade
é princípio que orienta a manutenção de um quadro normativo da seguridade social brasileira que promova
efetivamente a distribuição de renda, de riquezas e, bem assim, do bem-estar social de seu povo.
O princípio da irredutibilidade dos benefícios visa blindar nominalmente a renda mensal inicial das
prestações pagas aos segurados e dependentes. É importante anotar, contudo, que sua proteção é
meramente nominal. Assim, se um determinado benefício apresenta uma renda mensal inicial de R$
1.540,00, esse valor nominal jamais poderá ser reduzido, por hipótese, para R$ 1.300,00 nominais. Cabe
ressaltar que o princípio da irredutibilidade não impede a realização de descontos legalmente permitidos
(conforme arts. 114 e 115, da Lei nº 8.213 de 1991).
O princípio da equidade na forma de participação no custeio deve ser lido antes com uma lembrança
de como é esse custeio na realidade constitucional brasileira, conforme o art. 195, CF de 1988, que prevê o
financiamento por toda a sociedade, de forma direta e indireta, mediante recursos da União, dos Estados,
DF e municípios, bem como por meio de contribuições cobradas do empregador, da empresa e da entidade
a ela equiparada. Também são cobradas contribuições do trabalhador e demais segurados da previdência
social, do importador de bens ou serviços no exterior e, por fim, contribuições incidentes sobre a receita de
concursos de prognósticos. Perceba que, para cada parte envolvida no financiamento, há uma forma de
participação que se amolda às suas circunstâncias, de modo que, por exemplo, o trabalhador e o empregador
contribuem sobre o seu salário de contribuição pago ou creditado a qualquer título, enquanto as empresas
contribuirão com base na receita/faturamento e lucro. É de se perceber, assim, que a equidade na forma de
participação do custeio deve ser vista sob o aspecto da eleição daqueles que funcionarão como bases
financiadoras do sistema, bem como sob a ótica de que cada um desses que compõe essa base deverá ter a
incidência das contribuições conforme suas capacidades contributivas.
36
FREDERICO MARTINS PRINCÍPIOS GERAIS DA SEGURIDADE SOCIAL • 2
e desde que não haja a criação de contribuição com a mesma base de cálculo e fatos geradores presentes
nos tributos já existentes (art. 195, §4º, c/c art. 54, I, CF de 1988).
Esse princípio se refere à gestão da seguridade social no Brasil, conforme art. 194, parágrafo único,
VII, da CF de 1988. Assim, a gestão é quadripartite, com a presença de representantes dos trabalhadores,
dos empregadores, dos aposentados e do Poder Público nos órgãos colegiados. Os órgãos nos quais se
observa essa gestão quadripartite são: Conselho Nacional de Assistência Social; Conselho Nacional de Saúde;
Conselho Nacional de Previdência Social. Já o caráter descentralizado faz alusão à personificação própria das
entidades que compõem a seguridade social, sem que se confunda sua existência com a existência do Estado.
A prévia fonte de custeio é princípio que evita a criação, extensão ou majoração de qualquer
benefício previdenciário, assistencial ou de saúde que não encontre uma prévia fonte de custeio, tanto no
tópico do financiamento quanto orçamentário. Assim, deve haver contribuição social para que haja uma
daquelas hipóteses de expansão da seguridade social, assim como deve haver prévia indicação de dotação
orçamentária para tanto.
37
FREDERICO MARTINS FONTES DA SEGURIDADE SOCIAL • 3
38
FREDERICO MARTINS FONTES DA SEGURIDADE SOCIAL • 3
O conceito de Fonte de Direito Previdenciário é o mesmo conceito de Fonte do Direito em geral. Usa-
se a palavra Fonte (com letra maiúscula no início, pois a referência é ao direito objetivo e não ao direito
subjetivo). Quando se fala, portanto, em Fontes do Direito previdenciário, verifica-se onde nascem as normas
relativas à proteção social delineada no sistema constitucional de seguridade social.
Podemos afirmar que as Fontes do Direito são modos de expressão da norma jurídica. Conforme
ensina Lazzari8:
Fonte do Direito na concepção majoritária dos estudiosos, é todo fato social. Contudo,
devem-se estudar quais os fatos sociais geradores de normas jurídicas no campo do Direito
Previdenciário, vale dizer, de onde se originam os princípios e regras aplicáveis a este ramo
do Direito.
As fontes materiais do Direito Previdenciário são os fatos sociais, políticos e econômicos que ensejam
o surgimento da norma jurídica previdenciária. Ou seja, é tudo aquilo que propicia, motiva e estimula o
surgimento da lei e, dessa maneira, da norma relativa à seguridade social. Uma Fonte material do Direito
Previdenciário, pois, pode ser facilmente exemplificada pelo déficit nas contas públicas relacionado à
Previdência Social no país. A necessidade de equilíbrio das contas públicas é Fonte material clara do Direito
Previdenciário, fazendo com que o Congresso Nacional vote atos normativos (emendas constitucionais, leis
ordinárias etc.) que possam atender às contingências socioeconômicas advindas daquelas circunstâncias
financeiras atuais do Estado.
As fontes formais do Direito são aquelas que derivam do processo legislativo ou, em alguns casos —
ou melhor, em algumas ciências jurídicas —, também dos costumes, o que não é o caso do Direito
Previdenciário, posto que nesse ramo do ordenamento jurídico somente se admite a expressão formalizada
da lei, por meio de lei em sentido estrito, bem como por decretos e regulamentos.
Por obvio que não podemos esquecer as normas advindas da Constituição, Fonte formal de suprema
posição neste rol. As principais fontes constitucionais previdenciárias estão dispostas nos artigos 40 e 201,
os quais tratam, respectivamente, das regras relativas aos regimes próprios e ao regime geral de previdência
social. Em verdade, todo o Capítulo II, do Título VIII, da Constituição Federal de 1988, é de suma importância
para o estudo das fontes do Direito da Seguridade Social, englobando as regras e princípios atinentes não
apenas à previdência, mas também à assistência e à saúde.
2. EMENDAS CONSTITUCIONAIS
Além das normas do poder constituinte originário, também se devem incluir no rol de Fontes formais
de suprema categoria as Emendas Constitucionais que advieram após a promulgação da Constituição de
1988. Cada Emenda Constitucional que promoveu reformas previdenciárias no ordenamento alterou
significativamente o sistema de previdência social, introduzindo normas permanentes na Constituição
Federal de 1988, mas também apresentando normas de transição, normas asseguradoras de direito
8Castro, Carlos Alberto Pereira de; Lazzari, João Batista. Manual de Direito Previdenciário (Locais do Kindle 2516-2518). Forense.
Edição do Kindle.
39
FREDERICO MARTINS FONTES DA SEGURIDADE SOCIAL • 3
adquirido e, por fim, normas transitórias. Justamente por isso, as próprias Emendas Constitucionais ditas
anteriormente, por vezes, continuam a funcionar como Fontes formais do Direito Previdenciário, pois em seu
próprio texto podemos encontrar dispositivos em plena vigência, que não se esvaíram unicamente com a
finalidade de alterar o corpo da Constituição em si.
3. CONSTITUIÇÕES ANTERIORES
Não podemos nos esquecer que até mesmo, por vezes, constituições anteriores também funcionam
como Fontes formais de suprema posição no Direito Previdenciário. Isso ocorre em função da aplicação do
princípio do tempus regit actum, já que, muitas vezes, é necessário verificar quais eram os requisitos
normativos da época da contingência social para saber se há direito a um benefício específico ou não.
4. LEIS COMPLEMENTARES
As leis complementares são importantes Fontes formais do Direito Previdenciário, sendo espécie
normativa bastante usada para a regulamentação dos direitos constitucionalmente assegurados na Carta de
1988. Como se sabe, não há diferença hierárquica entre uma lei ordinária e uma lei complementar, derivando
o uso de uma ou de outra apenas pela escolha do Constituinte. No Direito Previdenciário temos vários
assuntos que são tratados por lei complementar, em função de exigência expressa da Constituição de 1988.
5. LEIS ORDINÁRIAS
As leis ordinárias são a principal e mais frequente Fonte formal do Direito Previdenciário, uma vez
que as leis complementares são, como visto acima, usadas apenas para alguns Temas previamente definidos
pelo Constituinte. As leis ordinárias mais importantes do Direito Previdenciário, relativamente ao regime
geral de previdência social, são as Leis nº 8.213 e 8.212, ambas de 1991. Aquela “dispõe sobre os Planos de
Benefícios da Previdência Social e dá outras providências”, enquanto essa “dispõe sobre a organização da
Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências”.
6. MEDIDAS PROVISÓRIAS
7. DECRETOS LEGISLATIVOS
40
FREDERICO MARTINS FONTES DA SEGURIDADE SOCIAL • 3
Segundo Lazzari9:
Essa convenção indica as contingências sociais indispensáveis do ponto de vista jurídico para que seja
considerado válido um sistema de seguridade social adotado por um Estado signatário, devendo prever
proteção aos riscos relacionados a doença, assistência médica, desemprego, acidentes de trabalho, velhice,
invalidez, doenças ocupacionais, maternidade etc.
Também existem no campo do Direito Previdenciário, conforme previsão dada pelo art. 85-A, da Lei
nº 8.212 de 1991:
9. DECRETOS REGULAMENTARES
Cabe lembrar que o decreto regulamentar é uma fonte formal secundária do Direito Previdenciário,
uma vez que são atos editados pelo Poder Executivo para regulamentar a norma prevista na lei. Além disso,
é importante registrar que, em sendo atos administrativos emanados diretamente do Chefe do Poder
Executivo (no caso do RGPS, sempre o Chefe do Poder Executivo Federal), criam efeito vinculante para a
9 Castro, Carlos Alberto Pereira de; Lazzari, João Batista. Manual de Direito Previdenciário (Locais do Kindle 2572-2574). Forense.
Edição do Kindle.
10 “Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...) IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como
41
FREDERICO MARTINS FONTES DA SEGURIDADE SOCIAL • 3
própria Administração Pública, ressalvado, claro, o poder de autotutela, ou seja, de a Administração revogar
ou anular seus próprios atos quando inconvenientes ou contrários à lei.
Uma das Instruções Normativas mais importantes é justamente a Instrução Normativa nº 128 de
2022 do INSS , que regulamenta, ainda mais, as normas previstas na Lei nº 8.212 de 1991 e na Lei nº 8.213
de 1991, as quais, por sua vez, já são detalhadas no Decreto nº 3.048 de 1999. Como exemplo de Portaria
editada no âmbito do Direito Previdenciário, pode-se citar a Portaria nº 450, de 3 de abril de 2020, editada
pelo Ministério da Economia/Instituto Nacional do Seguro Social/Presidência, a qual dispõe:
42
FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
43
FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
A interpretação das normas jurídicas de direito previdenciário não é diferente das normas jurídicas
em geral. Existem, claro, algumas peculiaridades, especialmente quando se leva em consideração a
vulnerabilidade do destinatário da norma jurídica. Deve ser sempre lembrado que se está tratando de um
complexo de direitos e obrigações que visam, em última análise, a entrega de políticas públicas de proteção
social.
Dessa maneira, como se verá ao longo deste capítulo, existe sempre a preocupação de entregar a
melhor e mais favorável interpretação possível ao segurado da previdência social. Em verdade, há uma
constante ponderação entre as duas faces de um mesmo direito fundamental: o direito fundamental à
seguridade social. Sobre uma face desse direito fundamental, percebe-se a hipossuficiência e a
vulnerabilidade, que reclamam a interpretação da norma previdenciária conforme seus fins sociais; sobre a
outra face, percebe-se o próprio sistema de previdência social, como um todo uno e incindível.
De todo modo, não há como fugir da regra e dos métodos tradicionais de interpretação da norma,
sendo necessário recorrer aos métodos de interpretação oferecidos pela hermenêutica. Como em qualquer
disciplina jurídica, na interpretação do Direito Previdenciário deve-se buscar antes e sempre a vontade do
Constituinte. E não é suficiente, evidentemente, a interpretação calcada apenas com base na leitura das leis
em sentido estrito. Em virtude disso, a interpretação das normas de Direito Previdenciário deve se
compreender, em um primeiro, momento na leitura das normas constitucionais respectivas e, em um
segundo momento, na busca das normas jurídicas presentes na legislação em geral. Naquele primeiro passo,
fazemos uso da hermenêutica constitucional; neste último, da hermenêutica clássica.
Cabe lembrar que se está transitando em regramentos cujas bases constitucionais veiculam direitos
fundamentais de 2ª dimensão (direitos sociais). Sendo assim, é mais do que impositivo que o intérprete da
norma previdenciária a leia com horizonte largo quanto a sua capacidade de efetivar o direito fundamental
que ela carrega, isto é, deve-se buscar a máxima efetividade dos direitos previdenciários.
É importante registrar que a possibilidade de interpretação mais favorável se volta sempre para a
norma e não para os fatos. A dúvida fática sobre a existência ou não de uma condição jurídica que permita
a concessão de um benefício não poderá resultar na procedência de um pedido unicamente em função do
princípio pro homine. A aplicação desse princípio não resolve a existência de dúvida sobre algum elemento
de prova relativa aos fatos alegados pela parte requerente, mas sim a dúvida na interpretação da lei, ou
melhor, a ambivalência hermenêutica da leitura da norma de Direito Previdenciário. Se houver mais de uma
interpretação possível, dentro dos elementos e métodos hermenêuticos, a escolha do intérprete deverá
recair naquela que seja mais favorável à pessoa.
Quando na aplicação da norma previdenciária nos referirmos ao princípio pro homine, o vértice da
Pirâmide de Kelsen deixa de ser a Constituição e passa a ser sempre a norma mais favorável, ainda que ela
esteja na base da estrutura piramidal do ordenamento, por meio, por exemplo, de uma instrução normativa.
44
FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
Esse é o entendimento que ressoa de maneira uníssona na doutrina e cita-se, nesse sentido, a obra de
Lazzari11, in verbis:
Para falarmos em aplicação das normas de Direito Previdenciário, pressupõe-se que já existe a
compreensão de suas fontes e, bem assim, de como interpretá-las. A aplicação é o passo seguinte. Nesse
estágio, é importante conhecer as espécies de normas de Direito Previdenciário. Em relação a classificação
das espécies normativas previdenciárias, é possível fundamentar na doutrina de Lazzari12, que muito bem
sintetiza essa classificação da seguinte forma: a) normas de filiação ou de vinculação; b) normas de proteção
ou de amparo; e c) normas de custeio.
As normas de filiação ou de vinculação com o regime geral da previdência social traduzem regras e
princípios jurídicos de direito previdenciário que permitem a formação do vínculo jurídico com o INSS. É a
partir da leitura destas normas que uma determinada pessoa se insere efetivamente dentro do complexo de
direitos e obrigações do RGPS.
As normas de proteção e amparo estão atreladas às regras e aos princípios de Direito Previdenciário
que instrumentalizam, por exemplo, o requerimento de benefícios previdenciários dirigido ao INSS. É por
meio das normas de proteção e amparo, de outro lado, que um determinado segurado pode verificar se
ainda está filiado ao sistema após um longo período sem recolhimentos previdenciários ou sem atividade
remunerada, por meio de normas que permitem o chamado “período de graça”.
As normas de custeio são aquelas presentes no Direito Previdenciário que possuem natureza
tributária. São regras e princípios de Direito Previdenciário que promovem o custeio e financiamento da
seguridade social e, bem assim, da Previdência, da Assistência e da Saúde. As normas, por exemplo, que
tratam do salário de contribuição são normas de custeio, pois elas definem qual é a base de cálculo na qual
incidirá a contribuição previdenciária paga pelos segurados.
11 Castro, Carlos Alberto Pereira de; Lazzari, João Batista. Manual de Direito Previdenciário (Locais do Kindle 2684-2692). Forense.
Edição do Kindle.
12 Castro, Carlos Alberto Pereira de; Lazzari, João Batista. Manual de Direito Previdenciário (Locais do Kindle 2667-2671). Forense.
Edição do Kindle.
45
FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
Trata-se dos efeitos que se pode cogitar da edição de uma nova lei em relação ao quadro normativo
anterior. Assim, fala-se em direito intertemporal. Em regra, a lei previdenciária possui vigência imediata, mas
no campo do Direito Previdenciário há certas peculiaridades que devem ser observadas quando se trata de
direito intertemporal.
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e
indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
(...)
§6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos
noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se
lhes aplicando o disposto no art. 150, III, "b".
A lei nova não retroagirá para prejudicar qualquer situação jurídica já consolidada com base nas
normas anteriormente vigentes, notadamente à vista do princípio tempus regit actum. A pedra angular de
todo esse sistema de consideração intertemporal da norma jurídica previdenciária deve se fixar no art. 5º,
inciso XXXVI, da CF de 1988, que afirma que “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito
e a coisa julgada”.
Sabe-se que a idade mínima agora é exigida para as aposentadorias programáveis do RGPS. Além
disso, não cabe mais falar em espécies distintas de aposentadoria. Antes da reforma, havia a aposentadoria
por idade e a aposentadoria por tempo de contribuição. Agora, há apenas a aposentadoria programável, com
46
FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
idade mínima de 62 anos para mulheres, e 65 anos para homens. No regime anterior, a aposentadoria por
idade urbana era concedida aos homens de 65 anos e mulheres de 60 anos de idade.
Nesse caso, as novas normas constitucionais que impõem idade mínima de 62 anos de idade para as
mulheres não poderão ser invocadas pelo INSS, de maneira que o direito adquirido protege a concessão
anterior. Não haveria como a lei retroagir para quebrar o direito que já se encontra incorporado ao
patrimônio do segurado, eis que na norma anterior ele já havia cumprido todos os requisitos para a
aposentadoria por idade, ou seja, idade e carência.
Veja que nesse exemplo não apenas os requisitos da segurada foram preenchidos antes da Emenda
nº 103, mas a própria concessão do benefício. No entanto, em havendo o preenchimento dos requisitos antes
da publicação da Emenda, não será necessário que o respectivo requerimento administrativo do segurado
seja feito junto ao INSS antes, também, da publicação da EC nº 103. O que vai ser determinante para se falar
em direito adquirido à aposentadoria nos moldes da norma anterior é a verificação, no caso, de que todos
os elementos constitutivos do direito esperado já tenham sido cumpridos e satisfeitos pelo seu sujeito ativo
antes da mudança normativa. Se sim, falaremos de direito incorporado ao patrimônio jurídico da pessoa e a
legislação nova não poderá retirar tal incorporação, sob pena de lesão direta ao art. 5º, inciso XXXVI, da CF
de 1988, logo, lesão direta a direito fundamental.
O próprio art. 3º, caput, da Emenda nº 103, já assinala essa sistemática, de proteção do direito
adquirido pelo simples preenchimento dos requisitos, não sendo necessário o requerimento anterior à
publicação da emenda:
Cabe lembrar que não há se falar no Direito Previdenciário de ultratividade da lei mais benéfica,
diferentemente do que ocorre no Direito Penal. Não importa se a lei nova é mais benéfica ou prejudicial ao
segurado, ela não se aplicará aos fatos que não foram verificados na sua vigência. Se um benefício de pensão
por morte foi concedido na vigência da lei anterior que previa um coeficiente menor do salário de benefício,
as prestações previdenciárias não poderão ser revistas unicamente pelo fato de haver, agora, nova lei com
coeficiente de cálculo do salário de benefício melhor. Mais uma vez, reporta-se ao princípio do tempus regit
actum, que demarcará, para o bem ou para o mal, o direito aplicável à espécie.
Isso já foi exaustivamente enfrentado pela jurisprudência pátria, com as chancelas da doutrina. O
fato de uma pessoa estar filiada a um determinado regime previdenciário e ter, com isso, a expectativa de
que em um determinado tempo de vida, com determinada soma de contribuições, ela poderá se aposentar,
não significa direito adquirido. Como exposto, trata-se de “expectativa de direito” e não de “direito
adquirido”.
Por óbvio que se poderia argumentar que a Constituição Federal de 1988 protege, ainda que
implicitamente pela cláusula pétrea do due process of law, a boa-fé objetiva, a confiança legítima depositada
nos atos administrativos e, bem assim, veda atos que violem o postulado jurídico do nemo potest venire
contra factum proprium.
47
FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
Veja-se que a lição acima pontua bem o fato de que as normas de transição são uma escolha do
Constituinte Derivado, algo que se viu, inclusive, em todas as Emendas Constitucionais relacionadas às
reformas previdenciárias no Brasil.
Vale reforçar a percepção de que o art. 23 da LINDB não impõe que haja sempre uma norma de
transição para as inovações legislativas, porque esse dispositivo legal se dirige apenas às decisões
“administrativa, controladora ou judiciais” que estabelecerem interpretação ou orientação nova sobre
norma de conteúdo indeterminado. Veja-se, aliás, que além de se dirigir apenas àqueles tipos de decisão,
também se exige que o conteúdo da decisão se refira à “norma de conteúdo indeterminado”, ou seja, nem
toda decisão que interprete ou estabeleça nova orientação sobre algum dispositivo legal ou dispositivos
legais exigirá uma “norma de transição”. Isso ocorrerá apenas para alterações interpretativas relacionadas a
eventual “norma de conteúdo indeterminado”.
Como desfecho dessa temática — da inexistência de direito adquirido a regime jurídico — colaciono,
ainda, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça abaixo:
13Castro, Carlos Alberto Pereira de; Lazzari, João Batista. Manual de Direito Previdenciário (Locais do Kindle 2792-2795). Forense.
Edição do Kindle.
48
FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
julgado em 22/9/2015, DJe 30/9/2015 e AgRg no REsp nº 1.116.644/SC, Rel. Ministro Jorge
Mussi, Quinta Turma, julgado em 27/10/2009, DJe 7/12/2009.
VI - Agravo interno improvido.
(AgInt no REsp 1755473/RJ, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA TURMA, julgado
em 5 de fevereiro de 2019, DJe 14/02/2019, grifos nossos)
Um caso típico de busca pela existência ou não de direito adquirido é da existência ou não de algum
direito à aposentadoria por um segurado falecido quando de seu óbito. Muitas vezes ocorre o óbito de um
trabalhador em momento no qual ela já não tinha mais a qualidade de segurado. Ocorre que, se ele em algum
período anterior de sua vida já atingiu os requisitos para se aposentar, em qualquer espécie de
aposentadoria, haverá direito adquirido anteriormente, embora não exercido. Assim, virtualmente, é como
se ele tivesse a qualidade de segurado na data do óbito. A Turma Nacional de Uniformização já enfrentou
essa questão no julgamento do Tema 225, de seus representativos de controvérsia:
RAMO DO
TEMA 225 SITUAÇÃO DO TEMA Julgado Direito previdenciário
DIREITO
È possivel a concessão de pensão por morte quando instituidor, apesar de titular de beneficio
QUESTÃO SUBMETIDA A
assistencial, Questão submetida a julgamento tinha direito adquirido a beneficio
JULGAMENTO
previdenciário?
É possível a concessão de pensão por morte quando o instituidor, apesar de titular de beneficio
TESE FIRMADA assistencial, tinha direito adquirido a beneficio previdenciário não concedido pela
Administração.
DECISÃO
JULGADO ACÓRDÃO
PROCESSO DE RELATOR TRÂNSITO EM JULGADO
EM PUBLICADO EM
AFETAÇÃO
Note que o direito adquirido nesse caso se refere a qualquer benefício previdenciário que gere
qualidade de segurado e, não necessariamente, aposentadorias. Um auxílio por incapacidade temporária,
por exemplo, decorrente de alguma incapacidade que tenha eclodido pouco tempo antes do óbito poderia
gerar o direito à prestação previdenciária do INSS e, com isso, a manutenção da qualidade de segurado do
instituidor da pensão por morte na data do óbito.
49
FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
A definição de ato jurídico perfeito é importante no que toca ao fato de que se trata de uma garantia
que, assim como o direito adquirido, decorre do princípio da segurança e do devido processo legal, mas
possui distinção em grau e extensão. Isso porque também se trata de um reconhecimento jurídico o qual
apresenta reflexos incorporáveis ao patrimônio de seu titular sob o manto da lei velha, mas nem sempre a
incorporação desses reflexos resultará em direito adquirido.
Uma boa lembrança da proteção do ato jurídico perfeito na esfera do Direito Previdenciário é o
relativo à comprovação de atividades consideradas nocivas para efeito de reconhecimento de tempo
especial. Essa questão também se relaciona, obviamente, com a proteção do direito adquirido, à medida em
que o período de atividade especial pode ser integrado ao patrimônio jurídico do segurado de modo
autônomo do direito à aposentadoria em si. Isso também se aplica ao reconhecimento de tempo de segurado
especial.
A Súmula 49, da Turma Nacional de Uniformização, por exemplo, cristaliza essa proteção:
SÚMULA 49:
Para reconhecimento de condição especial de trabalho antes de 29/4/1995, a exposição a
agentes nocivos à saúde ou à integridade física não precisa ocorrer de forma permanente.
No campo do Direito Previdenciário, há dois aspectos que necessitam ser abordados em relação à
coisa julgada formada nas ações previdenciárias. A primeira é referente à natureza das sentenças
relacionadas a benefícios por incapacidade; a segunda se refere à possibilidade ou não de revisão desses
50
FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
mesmos benefícios diretamente pelo INSS, ainda quando tenha havido processo judicial transitado em
julgado.
Isso quer dizer, nos termos do Supremo Tribunal Federal14, que, quanto à coisa julgada formada
nessas condições, “sua eficácia permanece enquanto se mantiverem inalterados os pressupostos fáticos e
jurídicos adotados para o juízo de certeza estabelecido pelo provimento sentencial”. De fato, havendo
progressão da doença e atingido, então, o estado de incapacidade, parece evidente que se trata de uma nova
relação jurídica a ser certificada pelo Juízo, desde que, claro, tenha havido novo requerimento administrativo,
sob pena de não se ter desenhado o interesse jurídico no caso.
Veja-se:
Mas a jurisprudência, em verdade, oscila sobre isso e, anteriormente, o Superior Tribunal de Justiça
já havia julgado no sentido de que não é exigível o paralelismo de formas para a revisão administrativa, sendo
dispensável que o INSS intente ação revisional para cessar benefício concedido judicialmente, desde que seja
respeitado o devido processo legal e seus consectários (contraditório e ampla defesa do segurado). Nota-se
a informação veiculada no Informativo 536, do STJ (de 26 de março de 2014):
14MS 32435 AgR, Relator(a): Min.º CELSO DE MELLO, Relator(a) p/ Acórdão: Min.º TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em
04/08/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-206 DIVULG 14-10-2015 PUBLIC 15-10-2015)
51
FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
O art. 43, §4º, da Lei nº 8.213 de 1991, assinala que “o segurado aposentado por invalidez poderá
ser convocado a qualquer momento para avaliação das condições que ensejaram o afastamento ou a
aposentadoria, concedida judicial ou administrativamente”. Já o art. 60, §10, também da Lei nº 8.213 de
1991 vai na mesma linha, asseverando que o “segurado em gozo de auxílio-doença, concedido judicial ou
administrativamente, poderá ser convocado a qualquer momento para avaliação das condições que
ensejaram sua concessão ou manutenção”.
Há, nessa base, um ato normativo, a Portaria Conjunta INSS nº 7, de 19 de agosto de 2016, que
estabelece procedimentos relacionados à revisão administrativa de benefícios previdenciários por
incapacidade prevista na Medida Provisória 739 de 2016. Frisa-se, contudo: qualquer corte de benefício que
não respeite a coisa julgada é, em verdade, descumprimento de ordem judicial. De outro lado, vedar
completamente a revisão de um benefício apenas porque ele foi implantado por ato judicial, após sentença
ou liminar, não é condizente com a própria natureza desses benefícios, os quais, como dito, são concedidos
sempre rebus sic stantibus.
Importante mencionar que foi aprovada a Lei nº 14.441 de 2022 para expandir o programa de revisão
de benefícios por incapacidade operado pelo INSS, permitindo expressamente, agora, a convocação de
beneficiários de auxílio-acidente. Anteriormente, já existia a previsão expressa para os beneficiários de
auxílio por incapacidade temporária, aposentadoria por incapacidade permanente e para o pensionista
inválido. Veja-se:
52
FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
I - exame médico a cargo da Previdência Social para avaliação das condições que ensejaram
sua concessão ou manutenção; (Incluído pela Lei nº 14.441, de 2022)
II - processo de reabilitação profissional prescrito e custeado pela Previdência Social; e
(Incluído pela Lei nº 14.441, de 2022)
III - tratamento oferecido gratuitamente, exceto o cirúrgico e a transfusão de sangue, que
são facultativos.
(Incluído pela Lei nº 14.441, de 2022)
§9º Na ausência de fixação do prazo de que trata o §8º deste artigo, o benefício cessará
após o prazo de cento e vinte dias, contado da data de concessão ou de reativação do
auxílio-doença, exceto se o segurado requerer a sua prorrogação perante o INSS, na forma
do regulamento, observado o disposto no art. 62 desta Lei.
(Incluído pela Lei nº 13.457, de 2017)
Saber quais são os reflexos das novas regras constantes na MP nº 739 de 2016 (§§8º e 9º
do art. 60 da Lei nº 8.213 de 1991) na fixação da data de cessação do benefício auxílio-
doença e da exigência, quando for o caso, do pedido de prorrogação, bem como se são
aplicáveis aos benefícios concedidos e às demandas ajuizadas em momento anterior à sua
vigência.
Por não vislumbrar ilegalidade na fixação de data estimada para a cessação do auxílio-
doença, ou mesmo na convocação do segurado para nova avaliação da persistência das
condições que levaram à concessão do benefício na via judicial, a Turma Nacional de
Uniformização, por unanimidade, firmou as seguintes teses:
a) os benefícios de auxílio-doença concedidos judicial ou administrativamente, sem Data de
Cessação de Benefício (DCB), ainda que anteriormente à edição da MP nº 739 de 2016,
podem ser objeto de revisão administrativa, na forma e prazos previstos em lei e demais
normas que regulamentam a matéria, por meio de prévia convocação dos segurados pelo
INSS, para avaliar se persistem os motivos de concessão do benefício;
b) os benefícios concedidos, reativados ou prorrogados posteriormente à publicação da MP
nº 767 de 2017, convertida na Lei nº 13.457 de 2017, devem, nos termos da lei, ter a sua
DCB fixada, sendo desnecessária, nesses casos, a realização de nova perícia para a cessação
do benefício;
c) em qualquer caso, o segurado poderá pedir a prorrogação do benefício, com garantia de
pagamento até a realização da perícia médica.
53
FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
Em verdade, a discussão acerca da chamada “alta programada” é antiga, mas desde o ano de 2010,
em decorrência da ACP nº 2005.33.00.020219-8 (na qual se decidiu com abrangência nacional) o INSS editou
a Resolução INSS/PRES nº 97 de 2010, possibilitando a cessação automática, mas desde que não haja pedido
de prorrogação do segurado. E isso restou chancelado pelo julgamento da TNU, como visto, e reverberado
o art. 60, §9º, da Lei nº 8.213 de 1991, incluído pela Lei nº 13.457 de 2017, de modo que é legitima a
imposição de um prazo máximo pelo INSS, de 120 dias, conforme diz a lei, nos casos omissos, ou seja, quando
a decisão judicial (ou administrativa) não fixar um prazo de cessação.
Ocorre que o Superior Tribunal de Justiça não comunga do mesmo entendimento, tendo proferido
reiteradas decisões no sentido de que a alta programada é contrária ao ordenamento jurídico vigente e que
não pode haver cessação do benefício sem perícia médica prévia, acompanhada de processo administrativo
que garanta ao segurado o contraditório.
Embora na ementa acima transcrita não tenha constado nada a respeito da possibilidade de pedido
de prorrogação por parte do segurado, como medida apta a evitar a cessação automática, no inteiro teor do
acórdão proferido há menção ao entendimento de que é do INSS o ônus de acompanhar o estado clínico
daquele que está em gozo do benefício por incapacidade.
Veja-se:
Sobre a necessidade de reavaliação do segurado, vale dizer que todos têm acesso ao
sistema de saúde gratuito, em que um médico do sistema público poderá acompanhar a
recuperação do segurado e indicar se ele deve pedir a prorrogação do auxílio-doença por
remanescer a incapacidade temporária.
Todavia, entendo não ser possível que um sistema previdenciário, cujo pressuposto é a
proteção social, se abstenha de acompanhar a recuperação da capacidade laborativa dos
segurados incapazes, atribuindo-lhes o ônus de auto-exame clínico, a pretexto da
diminuição das filas de atendimento na autarquia.
Resta saber como o entendimento vai se firmar, se pela legalidade da alta programada ou não, sendo
que é possível que o Superior Tribunal de Justiça defina a questão com base no art. 14, §4º, da Lei nº 10.259
de 2001, que assim diz:
54
FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
No âmbito do Supremo Tribunal Federal, houve afetação dessa questão ao Tema 1196, da
repercussão geral:
Portanto, na letra do referido dispositivo da lei de benefícios da previdência social, não é segurado
obrigatório aquele que presta serviço no Brasil a missão diplomática ou a repartição consular de carreira
estrangeira e a órgãos a elas subordinados, ou a membros dessas missões e repartições, caso ele seja não-
brasileiro sem residência permanente no Brasil ou o brasileiro amparado pela legislação previdenciária do
país da respectiva missão diplomática ou repartição consular. No que concerne à origem desse dispositivo,
tem-se que a leitura do art. 11, I, “d”, da Lei nº 8.213 de 1991 deve ser feita em conjunto com duas
Convenções Internacionais: a) a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, da qual o Brasil é
signatário e que foi internalizada no ordenamento pelo Decreto nº 56.435/1965; e b) a Convenção de Viena
sobre Relações Consulares, da qual o Brasil também é signatário e cuja internalização no ordenamento
jurídico se deu por meio do Decreto nº 61.078 de 1967.
Lembre-se que o chefe de uma Missão Diplomática representa politicamente o Estado acreditante
no Estado acreditado, enquanto o chefe da Repartição Consular não possui função representativa do ponto
de vista político, atuando no estreitamento das relações privadas entre os países, especialmente do ponto
de vista comercial. Nada obstante essa diferença, para ambos existe, por força das Convenções Internacionais
citadas, a previsão da isenção da relação jurídico-previdenciária com o país em que estejam investidos de
suas funções. Em outros termos: para eles, não há nenhuma relação jurídico-tributária ou jurídico-
previdenciária com o país em que atuam, não sendo considerados segurados obrigatórios, no caso do
Brasil, do RGPS.
Ressalta-se o que dizem as normas internacionais citadas. O art. 33, da Convenção de Viena sobre
Relações Diplomáticas estabelece que “o agente diplomático estará no tocante aos serviços prestados ao
Estado acreditante, isento das disposições sobre seguro social que possam vigorar no Estado acreditado”
(grifo nosso). Já o art. 48 da Convenção de Viena sobre Relações Consulares estatui que “os membros da
repartição consular, com relação aos serviços prestados ao Estado que envia, e os membros de sua família
55
FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
que com eles vivam, estarão isentos das disposições de previdência social em vigor no Estado receptor”
(grifos nossos).
Então, em suma, estão isentos e não possuem relação jurídica com a previdência social do país em
que estejam investidos:
E, para além dos representantes máximos e suas famílias, há outras pessoas que trabalham nas
missões diplomáticas e nas repartições consulares as quais também ficam isentas com a previdência social
do país acreditado (país receptor)?
Sim. Na Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas previu-se isenção também para os
“criados particulares que se acham a serviço exclusivo do agente diplomático”. Além disso, o art. 37 da
referida convenção complementa o artigo 33, para incluir na isenção relativa à previdência social do país
acreditado os “membros do pessoal de serviço da Missão”, bem como os “membros de suas famílias”.
Em síntese, entre aqueles que prestam serviço para as missões diplomáticas, também ficam isentos
com a previdência social (a princípio) os:
56
FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
Em suma, para ser segurado obrigatório no Brasil (tomando a hipótese de o país acreditado ser o
Brasil), aquele que presta serviço a uma missão diplomática em Brasília:
• precisa ser brasileiro (ainda que não tenha residência permanente aqui, pois o art. 11, I, “d”, da
Lei nº 8.213 de 1991, somente exclui o brasileiro que já estiver amparado pela legislação
previdenciária do país acreditante, impondo a necessidade de residência permanente no Brasil
apenas aos “não-brasileiros”);
• precisa residir permanentemente no Brasil, se for não-brasileiro;
• em ambas as situações acima, não pode haver cobertura pela legislação previdenciária do país
acreditante.
Sempre deve ser questionado se já possuem ou não cobertura previdenciária no país acreditante
(país de origem). Caso possuam, não serão segurados obrigatórios aqui no RGPS.
Exemplo 2: se um criado particular que esteja a serviço exclusivo do agente diplomático da Missão
Diplomática italiana for estrangeiro e tiver residência permanente no Brasil, bem como não estiver coberto
pela previdência social italiana, deverá obrigatoriamente ser segurado obrigatório do RGPS. Já neste
exemplo, em um primeiro momento se teria isenção, pois não se trata de um nacional do Estado acreditado,
mas sim de um estrangeiro. Todavia, esse estrangeiro possui residência permanente no Brasil e, por fim, não
está coberto pela previdência de seu país de origem. Logo, deve ser segurado obrigatório no RGPS, aqui no
Brasil.
Perceba que, se houver situação na qual o trabalhador da missão for isento com a previdência (ou
seja, não for considerado segurado obrigatório), poderá ele se filiar como segurado facultativo. Isso se extrai
do item 4 do art. 48, da Convenção, quando dispõe que a “isenção prevista nos parágrafos 1 e 2 do presente
artigo não exclui a participação voluntária no regime de previdência social do Estado receptor, desde que
seja permitida por este Estado”.
57
FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
jurídico-previdenciária com o Estado acreditado (país receptor). Nesses casos, assim como nos casos dos
agentes diplomáticos e os membros de suas famílias, não há condições impostas para a isenção relativa à
previdência social no país acreditado. Ou seja, para eles também não haverá nenhuma hipótese em que se
constituirá uma relação jurídico-previdenciária com o RGPS, de modo que eles não serão segurados
obrigatórios (salvo, igualmente, na absurda e hipotética situação na qual eles não estejam cobertos pela
previdência social de seus países de origem, o que é bem improvável).
Mas, assim como vimos na Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, há outros membros da
repartição consular que não seja o chefe da repartição.
A expressão “membros da repartição consular”, aliás, é ampla. Para compreender melhor seu
significado, é preciso perceber que se trata, assim, de conceito que envolve não apenas o chefe da repartição
consular, mas também os demais funcionários contratados para os serviços consulares, bem como os demais
empregados contratados para serviços administrativos. Há, ainda, os membros do pessoal de serviço,
integrantes do conceito, também, de “membros da repartição consular” (são as pessoas empregadas no
serviço doméstico de uma repartição consular).
Para esses, as condições são as mesmas para que sejam isentos da previdência social no país
acreditado:
• se forem nacionais do país acreditado, não poderão ficar isentos com a previdência social local,
salvo se já detiverem cobertura previdenciária no país de origem;
• se forem estrangeiros e tiverem residência permanente no país acreditado, não poderão ficar
isentos com a previdência social local, salvo se já detiverem cobertura previdenciária no país de
origem.
Portanto, mais uma vez, é igualmente importante verificar sempre se já há ou não cobertura
previdenciária no país acreditante (país de origem). Caso haja essa cobertura, não importa se é brasileiro
ou estrangeiro, não serão segurados obrigatórios aqui no RGPS. O artigo 33 da Convenção de Viena sobre
Relações Diplomática dispõe, in verbis:
É importante perceber que o art. 11, I, “d”, da Lei nº 8.213 de 1991, por sua vez, deriva daqueles
dispositivos internacionais:
58
FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas:
(Redação dada pela Lei nº 8.647, de 1993)
I - como empregado: (Redação dada pela Lei nº 8.647, de 1993)
(...)
d) aquele que presta serviço no Brasil a missão diplomática ou a repartição consular de
carreira estrangeira e a órgãos a elas subordinados, ou a membros dessas missões e
repartições, excluídos o não-brasileiro sem residência permanente no Brasil e o brasileiro
amparado pela legislação previdenciária do país da respectiva missão diplomática ou
repartição consular;
Quanto aos que prestam serviços em missões diplomáticas e repartições consulares, não serão
segurados obrigatórios:
• os brasileiros com ou sem residência permanente (salvo se já estiver coberto pelo regime
previdenciário do país acreditante).
• os não brasileiros com residência permanente no brasil (salvo se já estiver coberto pelo regime
previdenciário do país acreditante).
Em síntese:
Nos casos em que não há relação previdenciária com o RGPS, conforme quadro acima, falaremos,
portanto, em hipóteses nas quais a territorialidade da lei previdenciária é mitigada.
Nada obsta, contudo, a incidência de outros direitos afetos à proteção social estatal previstos na
seguridade social brasileira, permanecendo hígida a possibilidade de que àqueles não-brasileiros seja
garantido o direito à saúde e, bem assim, à assistência social. Entretanto, o Supremo Tribunal Federal já
59
FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
Por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a condição de estrangeiro
residente no Brasil não impede o recebimento do Benefício de Prestação Continuada (BPC),
pago pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) às pessoas com deficiência e aos idosos
que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou ter o sustento
provido por sua família, desde que atendidos os requisitos necessários para a concessão.
Em julgamento concluído nesta quinta-feira (20), o Plenário negou provimento ao Recurso
Extraordinário (RE) 587970, no qual o INSS questionava decisão da Primeira Turma Recursal
do Juizado Especial Federal da 3ª Região que o condenou a conceder a uma italiana
residente no Brasil há 57 anos o benefício assistencial de um salário-mínimo, previsto no
artigo 203, inciso V, da Constituição Federal.
O recurso extraordinário tem repercussão geral reconhecida, o que significa que o
entendimento firmado hoje pelo STF deve ser aplicado pelas demais instâncias do Poder
Judiciário a processos semelhantes. A tese de repercussão geral aprovada é a seguinte: “Os
estrangeiros residentes no país são beneficiários da assistência social prevista no artigo 203,
inciso V, da Constituição Federal, uma vez atendidos os requisitos constitucionais e legais”.
Como visto, entretanto, a única condicionante para o recebimento do benefício assistencial pelo
estrangeiro é que ele possua residência no Brasil. A ementa do julgado restou assim redigida:
60
FREDERICO MARTINS INTEGRAÇÃO E EFICÁCIA DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 5
61
FREDERICO MARTINS INTEGRAÇÃO E EFICÁCIA DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 5
Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do
ordenamento jurídico.
Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.
E, dentro dessa impossibilidade de se eximir de julgar alegando lacuna ou obscuridade da lei, o juiz
deve se valer dos caminhos propostos no art. 4º, da LINDB, que assim diz:
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes
e os princípios gerais de direito.
1.1. Analogia
Exemplo de interpretação analógica foi a percebida pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento
conjunto da ADPF nº 132 e ADI nº 4277, entendendo a Corte Suprema pela constitucionalidade da proteção
previdenciária aos casais homoafetivos. Poder-se-ia dizer que um dos fundamentos — não o único — foi a
interpretação analógica da fórmula genérica que implicitamente se extrai das normas constitucionais
previstas no art. 226, da CF de 1988. É de se notar que o Constituinte Originário apontou a “família” como
fórmula genérica, dando exemplos de união entre homem e mulher, mas não excluindo peremptoriamente
outras formas de união civil ou meramente afetiva.
15 IBRAHIM, Fábio Zambitte. in Curso de Direito Previdenciário, 24ª Edição, Rio de Janeiro. Ed. Impetus, 2019, pg. 149.
62
FREDERICO MARTINS INTEGRAÇÃO E EFICÁCIA DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 5
Outro exemplo que vale a pena destacar para fixação de aplicações práticas da analogia no campo
do Direito Previdenciário é o caso da possibilidade de extensão do período de graça também para o segurado
especial, permitindo-se que essa categoria de segurado também faça uso dos prazos previstos no art. 15, da
Lei nº 8.213 de 1991. Assim, entende-se na jurisprudência atual que é viável a manutenção da relação
jurídico-previdenciária do segurado especial quando considerada a extensão do período de graça de modo
analógico e isonômico com o previsto no art. 15, §§1º e 2º, da Lei nº 8.213 de 1991, sem distinção entre
trabalhadores, sejam eles do meio urbano ou rural. Cabe ressaltar, inclusive, sobre isso, que tal consideração
analógica já se encontra sedimentada no âmbito da TNU, no julgamento do PEDILEF
05009466520144058400. Nota-se:
(...)
Considero que deve prevalecer a interpretação da Turma Regional de Uniformização da 4ª
Região.
De fato, os enunciados constantes dos §§1º e 2º do artigo 15 da Lei 8.213 de 1991 não
podem ser interpretados literalmente.
A aplicação de normas, extraídas de leis ou regulamentos, para a resolução de conflitos
sociais, tem a vantagem de simplificar o trabalho dos operadores do direito que não
necessitam realizar juízos morais complexos.
Contudo, não é possível aplicar nenhum texto sem a realização de uma atividade de
interpretação que não pode ser uma operação mecânica e meramente cognoscitiva. Por
melhores que sejam os legisladores de um País, jamais será possível abarcar toda a
complexidade da vida social e, além disso, todos os sistemas jurídicos aceitam o critério
interpretativo de que a aplicação de uma norma não pode levar a um resultado irracional,
absurdo ou incompatível com o princípio da isonomia.
No julgamento da Reclamação 4374, cabe recordar que o STF, no voto ministro Gilmar
Mendes, destacou que o legislador deve tratar a matéria de forma sistemática. Isso significa
dizer que todos os benefícios da seguridade social (assistenciais e previdenciários) devem
compor um sistema consistente e coerente.
Com isso, podem-se evitar incongruências na concessão de benefícios, cuja consequência
mais óbvia é o tratamento anti-isonômico entre os diversos beneficiários das políticas
governamentais.
(...)
De todo o modo, o princípio da uniformidade e equivalência das prestações devidas aos
trabalhadores urbanos e rurais (parágrafo único do art.194 da CF/88) não compactua com
distinções previdenciárias que não estejam amparadas em justificativas razoáveis, seja do
ponto de vista da responsabilidade pelo recolhimento das contribuições ou no princípio da
seletividade.
De efeito, se os trabalhadores verteram o mesmo número de contribuições, ou trabalharam
pelo mesmo período (nas situações em que a lei exige apenas a prova do trabalho), sendo
todos segurados obrigatórios, não faz sentido que a manutenção da qualidade de
segurado seja maior para uma categoria e menor para outra.
(...)
Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, a Turma
Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos juizados Especiais Federais, por
unanimidade, CONHECEU do incidente de uniformização e, por maioria, DEU-LHE PARCIAL
PROVIMENTO, nos termos do voto do (a) Juiz (a) Federal DANIEL MACHADO DA ROCHA, que
lavra o presente acordão.
(PEDILEF 05009466520144058400, JUIZ FEDERAL DANIEL MACHADO DA ROCHA, TNU, DOU
03/06/2016 PÁGINAS 79/167, grifo nosso)
Essa orientação já foi também adotada pelo próprio INSS, no Ministério da Previdência Social, por
meio da 21ª Junta de Recursos do Conselho de Recursos da Previdência Social (processo:
44232.065526/2014-91).
1.2. Costumes
63
FREDERICO MARTINS INTEGRAÇÃO E EFICÁCIA DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 5
É a prática geral, reiterada, constante, notória e, por fim, aceita como socialmente correta, desde
que não seja contrária à lei posta. Essa é a definição de costume. De se notar, portanto, diante da definição
acima, que o costume somente ganha relevância jurídica normativa quando é composto de um elemento
objetivo e de um elemento subjetivo. O elemento objetivo deriva da percepção espacial e temporal da
invocação de uma determinada prática social. Já o elemento subjetivo deriva da vontade e da convicção de
obrigatoriedade da prática como necessidade social16.
Cabe lembrar, contudo, que os costumes são apenas elementos de integração da norma
previdenciária, jamais Fontes formais. Um exemplo interessante, que pode ser lembrado como uma forma
de uso do costume para integrar a norma jurídica previdenciária, é o relativo à flexibilização da exigência de
apresentação de início de prova material para os trabalhadores rurais “boias-frias”. Sabe-se, pelo costume
desse tipo de atividade, pelas práticas campesinas que se repetiram ao longo de décadas em nosso país,
sobretudo na abertura das fronteiras agrícolas para as regiões mais distantes dos centros urbanos, que os
trabalhadores volantes, safristas, chamados de boias-frias, não possuem a prática de assinar contratos e, em
geral, possuem pouca instrução. Muitas vezes são verdadeiros flagelos do campo a vagar em busca de um
mínimo de trabalho apto a gerar o pagamento de uma diária mínima, ou apenas para terem onde dormir.
Em vista disso, a jurisprudência flexibilizou a obtenção de documentos por esses trabalhadores rurais, sem
olvidar a imposição normativa, mas colmatando a norma para abarcar situações de trabalhadores rurais que
não possuíam expressa e particularizada norma jurídica que lhes tutelasse adequadamente em relação às
contingências sociais do campo, dentro de suas realidades. Essa temática foi enfrentada no julgamento do
Tema 554, do Superior Tribunal de Justiça, por meio do REsp 1321493/PR, de modo que a questão submetida
a julgamento foi a seguinte:
Discute-se a possibilidade de admitir prova exclusivamente testemunhal (art. 55, §3º, da Lei
nº 8.213/1991) para configurar tempo de serviço rural para fins previdenciários no caso do
trabalhador denominado 'boia-fria'.
Aplica-se a Súmula 149/STJ ('A prova exclusivamente testemunhal não basta à comprovação
da atividade rurícola, para efeitos da obtenção de benefício previdenciário') aos
trabalhadores rurais denominados 'boias-frias', sendo imprescindível a apresentação de
início de prova material. Por outro lado, considerando a inerente dificuldade probatória da
condição de trabalhador campesino, a apresentação de prova material somente sobre parte
do lapso temporal pretendido não implica violação da Súmula 149/STJ, cuja aplicação é
mitigada se a reduzida prova material for complementada por idônea e robusta prova
testemunhal.
1.3. Equidade
Regra geral, a equidade é mero mecanismo de integração da norma jurídica, notadamente quando
se tem em mira a determinação do art. 5º, da LINDB, no sentido de que na “aplicação da lei, o juiz atenderá
aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”. Contudo, para não haver particularizações
indevidas de aplicação da lei, como justificativa de alcançar sempre a justiça do caso concreto e, por isso,
atender às supostas finalidades sociais das normas, o ordenamento jurídico proíbe o uso indiscriminado do
recurso valorativo da equidade (até porque, historicamente, se trata de um conceito impreciso e aberto).
Essa proibição de uso indiscriminado é extraída da cláusula constitucional do devido processo legal e, ainda,
da isonomia, quanto do art. 140, parágrafo único, do Código de Processo Civil, que deixa bem claro que o juiz
16 STOLZE, Pablo e Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Parte Geral, 14ª edição. Editora Saraiva, 2012, São Paulo, p. 65.
64
FREDERICO MARTINS INTEGRAÇÃO E EFICÁCIA DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 5
“só decidirá por equidade nos casos previstos em lei”. No campo do Direito Previdenciário, o princípio da
equidade surge na forma de participação no custeio, tal como previsto no art. 194, V, da Constituição Federal
de 1988. Veja-se, assim, que o próprio Constituinte Originário autorizou o uso da equidade especificamente
para o regramento tributário relativo àqueles que vão financiar a Seguridade Social.
No âmbito do processo judicial previdenciário, a equidade por vezes é invocada como princípio
norteador da intepretação de normas previdenciárias e de sua aplicação no caso concreto. Essa percepção
da equidade no processo judicial previdenciário ganha contornos mais expressivos a partir da concepção de
que os direitos previdenciários, como direito da seguridade social que é, reveste-se de natureza de direito
fundamental. Com isso, segundo o Superior Tribunal de Justiça, quando do julgamento do Tema 995, de seus
repetitivos, o “dever de coerência tem que estar atrelado à justiça do caso concreto, vale dizer, assim como
o direito material, o direito processual também não pode ignorar a realidade”, de modo que “é preciso
conduzir o processo civil previdenciário adequadamente à relação jurídica de proteção social”17.
Os princípios gerais de Direito, como já enfrentado nos tópicos iniciais da aula, revestem-se hoje de
natureza indiscutível de Fonte formal do Direito. Embora estejam indicados no art. 4º, da LINDB como
instrumento usado para suprir lacunas do ordenamento jurídico, tratam-se, os princípios, de Fontes diretas
da norma jurídica. Nada obstante, tendo em vista que carregam sempre grande carga axiomática, também
podem ser usados como forma de concluir eventuais omissões da lei, integrando-a por meio dos influxos de
seus valores.
Quando se fala em norma, é necessário passar por alguns planos de sua consideração, quais sejam
da existência, da vigência, da validade e da eficácia. O plano da existência decorre de sua simples edição,
sanção (ou promulgação, no caso das Emendas Constitucionais) e assinatura (no caso de normas
regulamentares). O plano da vigência origina-se da publicação da norma, podendo, contudo, ter vigência
diferida no tempo em razão do prazo de vacatio legis que cada lei pode indicar (ou, na omissão, no prazo de
45 dias, conforme o art. 1º, da LINDB). O plano da validade se relaciona com a verificação de suas exigências
de produção, tanto na ótica formal relacionada ao tramite procedimental de sua edição, quando à ótica
material, relacionada aos controles de constitucionalidade, convencionalidade e legalidade.
Por fim, o plano da eficácia, que se opera dentro da verificação da possibilidade de a norma
efetivamente produzir efeitos no mundo concreto (a publicação gera efeitos no mundo jurídico e a eficácia
é o plano de análise de efeitos no mundo concreto). Nada obstante, tem-se entendido que as normas
veiculadoras de direitos fundamentais possuem plena aplicabilidade, em caso de omissão do legislador,
quando esse é demandado pelo Constituinte a agir na produção normativo-regulamentar, mas se mantém
na inércia. Um bom exemplo sobre essa constatação, no campo do Direito Previdenciário, foi a edição da
Súmula Vinculante nº 33. Tal Súmula visou dar fim aos sucessivos e intermináveis mandados de injunção
impetrados pelos servidores públicos a fim de garantirem a possibilidade de aposentadoria especial, tendo
em vista a inexistência de norma regulamentadora do art. 40, então §4º, da CF 1988:
17Voto do Min. Mauro Campbell Marques, no julgamento do TEMA 995, do STJ. REsp n. 1.727.063/SP, relator Ministro Mauro
Campbell Marques, Primeira Seção, julgado em 23/10/2019, DJe de 2/12/2019.
65
FREDERICO MARTINS INTEGRAÇÃO E EFICÁCIA DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 5
66
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
67
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
A Constituição prevê a ampla proteção das pessoas em face das mais diversas contingências sociais,
não se limitando a instituir apenas um Sistema Previdenciário. Consagrou, também, ferramentas essenciais
do Assistencialismo Estatal àqueles que necessitarem e não contarem com recursos próprios ou de sua
família. E, por fim, de modo amplíssimo, consolidou o acesso universal à saúde, por meio de um Sistema
Único de Saúde, com o apoio indispensável da prestação da saúde pela iniciativa privada. Temos, então, um
tripé da seguridade social, de modo que cada ramo da proteção social prevista na Constituição conta com
conceitos e princípios próprios.
O Direito à previdência social, à assistência social e à saúde são direitos fundamentais. Logo,
possuem as seguintes características:
• historicidade;
• universalidade;
• relatividade;
• essencialidade;
• irrenunciabilidade;
• inalienabilidade;
• imprescritibilidade;
• inviolabilidade;
• complementariedade;
• efetividade;
• interdependência.
1. SAÚDE
O conceito de saúde não é apenas físico, abrangendo também o aspecto mental, psicológico e
espiritual. Dessa maneira, o direito à saúde manifesta-se sempre como uma projeção da dignidade da pessoa
humana. Ao falar em “saúde”, está se tratando de um conceito conglobante do bem-estar geral humano e
não apenas a cura de doenças ou prescrição de fármacos, procedimentos cirúrgicos etc. A saúde do ser
humano, deve ser lida em sua perspectiva integral: mente, corpo e espírito. Essa é a interpretação efetiva
que deve prevalecer quanto ao termo “saúde” constante do texto constitucional, notadamente porque o
Constituinte Originário não fez absolutamente nenhuma restrição no art. 196, da CF de 1988. Em nível
mundial, o conceito de saúde dado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é o de que saúde “é o
completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença". Com relação à conexão da
saúde com o meio ambiente, ela se torna ainda mais nítida por meio da leitura do art. 200, inciso VIII, da CF
de 1988:
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da
lei:
(...)
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.
Como se pode perceber da leitura do caput do art. 3º da Lei nº 8.008 de 1990, a concretização da
saúde passa, de fato, por diversas condicionantes metajurídicas, relativas ao aspecto socioeconômico da
sociedade. Os níveis de saúde da população são, invariavelmente, a pura expressão da realidade de
desenvolvimento humano das regiões do país, dependendo, pois, a saúde, da concretização de diversos
outros direitos sociais (alimentação, moradia, saneamento básico, lazer, transporte, segurança etc.).
68
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
No ordenamento constitucional, quando o serviço público de saúde for prestado por particulares,
o regime jurídico será privado, de modo que nessa situação as pessoas físicas e pessoas jurídicas de direito
privado desempenham atividade econômica em sentido estrito, mas sempre com a inafastável percepção
de que se trata de “serviço de relevância pública”. Em resumo, podemos afirmar que as ações e serviços de
saúde serão, na essência, sempre serviço público, mas quando forem prestados por particulares, pessoas
físicas e jurídicas de direito privado, serão atividade econômica em sentido estrito, de regime jurídico de
direito privado, mas sempre com a natureza peculiar de serem de relevância pública, o que permitirá maior
regulamentação, fiscalização e controle do Estado.
Na Constituição, o direito à saúde está previsto no art. 196, que assim dispõe:
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais
e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. (grifo
nosso).
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
(...)
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de
deficiência; (grifo nosso).
A Constituição Federal de 1988 é bem elucidativa ao descrever e dar as bases normativas do direito
à saúde e seu acesso pelas pessoas. O texto é bastante descritivo e não oferece, na letra fria da “lei”, maiores
dificuldades de entendimento de todo o sistema, apesar de alguns pontos serem ligeiramente complexos,
tais como o que descreve a origem dos recursos que serão destinados à saúde, eis que há muitas remissões
a outros dispositivos constitucionais.
Serão analisadas, a seguir, as características e diretrizes das ações e serviços públicos de saúde
previstas na Constituição Federal de 1988. Observe que quando se fala da atividade estatal referente à
condução das ações e serviços de saúde, inclui-se a palavra “públicos” na redação do art. 198, da CF88. Já,
de outro lado, no art. 197, quando se fala em ações e serviços de saúde, não se menciona aquela palavra,
usando-se a expressão “de relevância pública”.
69
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
"ações e serviços
públicos de "ações e serviços Saúde na
saúde" integram de saúde" são Constituição
uma rede de relevância Federal de 1988
regionalizada e pública (arts. 187 a 198)
hierarquizada
Isso deixa claro a dicotomia de regimes jurídicos. Os princípios e diretrizes gerais do sistema Único
de Saúde (SUS), no entanto, devem ser aplicados a todos os componentes do sistema, inclusive às entidades
privadas conveniadas ou que possuem qualquer outra forma de contratação pública18. Tem prevalecido
que toda e qualquer ação e serviço de saúde é, na essência, serviço público não-privativo do estado, eis que
pode ser executado também por pessoas físicas e jurídicas de direito privado.
• regionalização e;
• descentralização administrativa.
A Constituição, indo além da indicação de como vai se organizar e se estruturar o sistema Único de
Saúde, definiu também as atribuições desse grande complexo administrativo. Logo, essas atribuições foram
dadas de antemão pelo Constituinte Originário, conforme os incisos do art. 200, da CF 1988. Para fixação,
transcreve-se-os abaixo:
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da
lei:
I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e
participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados
e outros insumos;
18 Essa é, aliás, a exata dicção legal contida no art. 24, §2º, da Lei nº 8.080 de 1990: “Art. 24. (...) §2º Os serviços contratados submeter-
se-ão às normas técnicas e administrativas e aos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), mantido o equilíbrio
econômico e financeiro do contrato”. (grifo nosso).
70
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Interessante anotar que, dentre as atribuições do SUS, estão algumas que se relacionam apenas de
modo indireto com a saúde propriamente dita, o que reforça o conceito complexo, como já foi abordado, do
que se deve conceber como sendo saúde. Assim, atente-se ao fato de que:
Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS):
I - a execução de ações:
a) de vigilância sanitária;
b) de vigilância epidemiológica;
c) de saúde do trabalhador; e
d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica;
II - a participação na formulação da política e na execução de ações de saneamento básico;
III - a ordenação da formação de recursos humanos na área de saúde;
IV - a vigilância nutricional e a orientação alimentar;
V - a colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho;
VI - a formulação da política de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos e outros
insumos de interesse para a saúde e a participação na sua produção;
VII - o controle e a fiscalização de serviços, produtos e substâncias de interesse para a saúde;
VIII - a fiscalização e a inspeção de alimentos, água e bebidas para consumo humano;
IX - a participação no controle e na fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização
de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;
X - o incremento, em sua área de atuação, do desenvolvimento científico e tecnológico;
XI - a formulação e execução da política de sangue e seus derivados.
71
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
O financiamento do sistema Único de Saúde, por sua vez, é Tema constitucional que evoluiu
normativamente com o tempo. Atualmente, a divisão da origem dos recursos está feita no art. 198, da
Constituição Federal de 1988, in verbis:
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes
diretrizes:
(...)
§1º O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do
orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, além de outras fontes.
(Parágrafo único renumerado para §1º pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
§2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão, anualmente, em ações
e serviços públicos de saúde recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais
calculados sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
I - no caso da União, a receita corrente líquida do respectivo exercício financeiro, não
podendo ser inferior a 15% (quinze por cento);
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 86, de 2015)
II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que
se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso
II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a
que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e
§3º.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
§3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos, estabelecerá:
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
I - os percentuais de que tratam os incisos II e III do §2º;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 86, de 2015)
II – os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos Estados,
ao Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados a seus respectivos
Municípios, objetivando a progressiva redução das disparidades regionais;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
III – as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas
federal, estadual, distrital e municipal;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
IV – (revogado).
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 86, de 2015)
Os recursos da União são garantidos previamente com a aplicação obrigatória de no mínimo 15% da
receita corrente líquida do exercício financeiro anterior. As receitas correntes líquidas são, conforme o art.
2º, da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101 de 2000), “o somatório das receitas
tributárias, de contribuições, patrimoniais, industriais, agropecuárias, de serviços, transferências correntes e
outras receitas também correntes”, deduzidos as transferências constitucionais obrigatórias19, as
19As transferências constitucionais obrigatórias são as repartições da receita tributária, bem como a repartição dos fundos públicos.
De um modo geral, cabe lembrar que a repartição das receitas pela União aos demais entes federativos podem ser classificada como
direta ou indireta. A repartição direta é aquela que não passa por nenhum fundo de intermediação, sendo feita com base em critérios
objetivos e percentuais previamente definidos na Constituição Federal ou na legislação. Exemplo: IPVA, cujo rateio é feito na base de
50% para os Municípios. Já a repartição indireta é aquela que se baseia em parâmetros variáveis e cuja receita é repassada por meio
de algum fundo público. Exemplo: FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação, cujo rateio é feito, de acordo com a legislação, com base em diversos critérios, tais como índices
populacionais, bem como o IDH do respectivo Estado e Município.
72
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Para os Estados e o Distrito Federal, os recursos da saúde provêm de diversas fontes tributárias (em
relação às quais devem ser deduzidas as parcelas que forem eventualmente devidas aos respectivos
Municípios). Em síntese, os recursos da saúde dos Estados e do DF:
20 Apenas uma observação quanto a LC nº 68/1992: o seu artigo 2º foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal nas
ADIs nº 875, nº 1987, nº 2727 e nº 3243, eis que ele não atenderia aos critérios constitucionais previstos no art. 167, II, da CF/1988,
que assim diz: “Art. 161. Cabe à lei complementar: I – (...) II - estabelecer normas sobre a entrega dos recursos de que trata o art.
159, especialmente sobre os critérios de rateio dos fundos previstos em seu inciso I, objetivando promover o equilíbrio
socioeconômico entre Estados e entre Municípios”. A LC nº 143/13, portanto, veio para preencher o vazio normativo que a
declaração de inconstitucionalidade do STF ocasionou, muito embora a Corte Suprema tenha modulado os efeitos de sua decisão,
fixando um prazo, até 2012 (posteriormente aumentado na liminar deferida na ADO 23), para que o Legislativo da União editasse a
norma complementar correspondente.
73
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
• vêm de um percentual sobre 25% do produto da arrecadação do ICMS recolhido pelo respectivo
Estado, sendo que do total devido aos Municípios será feito repasse na base de 65% (sessenta e
cinco por cento), no mínimo, na proporção do valor adicionado nas operações relativas à
circulação de mercadorias e nas prestações de serviços, realizadas em seus territórios e, bem
assim, repasse na base de até 35% (trinta e cinco por cento), de acordo com o que dispuser lei
estadual, observada, obrigatoriamente, a distribuição de, no mínimo, 10 (dez) pontos percentuais
com base em indicadores de melhoria nos resultados de aprendizagem e de aumento da
equidade, considerado o nível socioeconômico dos educandos (art. 158, parágrafo único, incisos
I e II, da CF/88, na redação dada pela Emenda Constitucional 108/2020);
• vêm de percentual sobre 25% do produto da arrecadação de 10% do IPI geral arrecadado pela
União e pagos diretamente aos Estados/DF proporcionalmente ao valor das exportações de cada
um (o rateio desses 25% entre os Municípios do correspondente Estado deverá ser feito com base
nos mesmos critérios acima), nos termos do art. 159, §3º, conforme determinação dada pelo art.
198, §2º, III;
• vêm de um percentual sobre as verbas que a União repassa ao Fundo de Participação dos
Municípios, nos termos do art. 159, inciso I, “b”, conforme determinação dada pelo art. 198, §2º,
III. Assim, deve ser aplicado um percentual sobre os 22,5% do IR e IPI geral arrecadados pela União
(esses 22,5% são vertidos para os Municípios via FPM, sendo o rateio feito proporcionalmente na
forma do previsto na Lei Complementar nº 62/1989, ficando o produto recebido por cada
Município vinculado à prestação de ações e serviços de saúde no importe do percentual definido
na LC 141/2012, o qual, como se verá mais adiante é de 15%).
A Constituição exigiu lei complementar para que o percentual dos Estados, DF e Municípios fosse
estipulado (art. 198, §3º, CF). No entanto, tal como em vários outros casos previstos na Constituição, o
Congresso Nacional também negligenciou na edição da norma prevista no art. 198, §3º, CF, atrasando sua
veiculação no ordenamento jurídico por mais de uma década. Nesse contexto é que a referida lei
complementar somente foi editada em 2012, sendo que até essa data os percentuais foram os previstos no
art. 77, do ADCT – Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. O art. 77, do ADCT fez a função da norma
regulamentadora complementar, por vários anos, para definir quais seriam os limites mínimos
orçamentários a serem aplicado em ações e serviços públicos de saúde em nosso país, pelos Estados, DF e
Municípios. Veja o citado dispositivo constitucional transitório:
Art. 77. Até o exercício financeiro de 2004, os recursos mínimos aplicados nas ações e
serviços públicos de saúde serão equivalentes:
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
I – no caso da União:
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
a) no ano 2000, o montante empenhado em ações e serviços públicos de saúde no exercício
financeiro de 1999 acrescido de, no mínimo, cinco por cento;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
b) do ano 2001 ao ano 2004, o valor apurado no ano anterior, corrigido pela variação
nominal do Produto Interno Bruto – PIB;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, doze por cento do produto da arrecadação
dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159,
inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos
Municípios; e
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, quinze por cento do produto da
arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts.
158 e 159, inciso I, alínea b e §3º.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
74
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
§1º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que apliquem percentuais inferiores aos
fixados nos incisos II e III deverão elevá-los gradualmente, até o exercício financeiro de
2004, reduzida a diferença à razão de, pelo menos, um quinto por ano, sendo que, a partir
de 2000, a aplicação será de pelo menos sete por cento.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
§2º Dos recursos da União apurados nos termos deste artigo, quinze por cento, no mínimo,
serão aplicados nos Municípios, segundo o critério populacional, em ações e serviços
básicos de saúde, na forma da lei.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
§3º Os recursos dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinados às ações e
serviços públicos de saúde e os transferidos pela União para a mesma finalidade serão
aplicados por meio de Fundo de Saúde que será acompanhado e fiscalizado por Conselho
de Saúde, sem prejuízo do disposto no art. 74 da Constituição Federal.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
§4º Na ausência da lei complementar a que se refere o art. 198, §3º, a partir do exercício
financeiro de 2005, aplicar-se-á à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios o
disposto neste artigo.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
Após longos anos de vigência do art. 77, ADCT, a Lei Complementar nº 141, de 13 de janeiro de 2012
foi editada para regulamentar o “§3º do art. 198 da Constituição Federal”, dispondo sobre “valores mínimos
a serem aplicados anualmente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios em ações e serviços públicos
de saúde”. A referida Lei Complementar também estabeleceu “os critérios de rateio dos recursos de
transferências para a saúde e as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas
três esferas de governo”. De um modo geral, a lei complementar esperada não inovou significativamente e
manteve a regra geral que já era adotada pelo ADCT, inclusive mantendo os mesmos percentuais a serem
aplicados sobre as bases de cálculo constitucionalmente previstas.
Uma questão bastante frequente na prática e, não raro, indagada nos concursos, se refere ao
descumprimento dos limites mínimos orçamentários impostos pelas normas acima e suas consequências
para o respectivo ente federativo. O não atendimento dos limites mínimos em saúde pelos Estados/DF e
Municípios implica consequências negativas relacionadas tanto às transferências obrigatórias, quanto às
transferências voluntárias de receitas.
75
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
público chegue efetivamente ao seu destino constitucionalmente traçado, no caso as ações e serviços
públicos de saúde.
Quanto às transferências voluntárias em geral, há uma observação paradoxal a ser feita: o fato de
um Município, por exemplo, estiver descumprindo os limites mínimos em saúde, tal como estabelecido na
Constituição, ele não vai poder receber transferências voluntárias de qualquer tipo, exceto se essa
transferência se destinar a ações de educação, saúde e assistência social. Conforme o art. 25, §1º, da Lei de
Responsabilidade Fiscal (LC nº 101 de 2000), o ente federativo fica proibido de transacionar com a União
transferências voluntárias de recursos públicos, se não houver o cumprimento dos investimentos mínimos
em saúde e educação. O artigo mencionado assim dispõe:
Sobre a responsabilidade dos entes federativos para o cumprimento do direito à saúde, o art. 196 da
Carta Magna de 1988 assim enuncia, in verbis:
Qualifica-se o direito à saúde, portanto, como um direito fundamental do ser humano, cabendo ao
Estado, aqui considerado em sentido amplo, ou seja, União, Estados, Distrito Federal e Municípios, a
obrigação de prover as condições indispensáveis ao seu livre exercício, por meio da “formulação e execução
de políticas econômicas e sociais que visem a redução de riscos de doença e de outros agravos e no
estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a
sua promoção, proteção e recuperação”, tal como preceitua o artigo 2º da Lei nº 8.080 de 1990.
Além disso, a jurisprudência é farta no sentido de que o direito à saúde é consectário do direito à
vida. Como exemplo, a segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, quando do exame do Agravo
76
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Regimental no Recurso Extraordinário nº 271286/RS, consignou que, além de qualificar-se como direito
fundamental, representa consequência indissociável do direito à vida, contemplado, por sua vez, no caput
do artigo 5º do Texto Maior de 1988.
caráter programático da regra inscrita no art. 196 da Carta Política – que tem por
destinatários todos os entes políticos que compõem, no plano institucional, a organização
federativa do Estado brasileiro – não pode converter-se em promessa constitucional
inconsequente, sob pena de o Poder Público, fraudando justas expectativas nele
depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento de seu
impostergável dever, por um gesto irresponsável de infidelidade governamental ao que
determina a própria Lei Fundamental do Estado.
O Supremo Tribunal Federal, desde muito, passou a se manifestar a respeito do Tema no sentido da
responsabilidade solidária de todos os entes:
77
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Posteriormente, a questão foi recebida sob o rito da repercussão geral, de modo que o RE 855.178
foi afetado ao Tema 793 do STF. Na ocasião do julgamento, em 2015, reafirmou-se a jurisprudência da Corte
nos seguintes termos:
Assim, em suma:
• o medicamento, tratamento ou procedimento cirúrgico é fornecido pela rede do SUS, mas por
algum motivo não foi disponibilizado à parte autora;
• o medicamento, tratamento ou procedimento cirúrgico não é fornecido pela rede do SUS, mas há
alternativa terapêutica disponibilizada na rede do SUS com evidências cientificas que
demonstram eficácia similar no combate à patologia da parte autora;
• o medicamento, tratamento ou procedimento cirúrgico manifestamente não é fornecido pela
rede do SUS e não há alternativa terapêutica disponibilizada na rede do SUS com evidências
cientificas que demonstram eficácia similar no combate à patologia da parte autora.
A primeira hipótese trata, assim, de judicialização que não altera a política pública já estabelecida,
mas apenas força o seu cumprimento. Esse caso é, talvez, o mais frequente das demandas de saúde,
notadamente no âmbito dos Municípios. Cabe lembrar que, no que toca ao fornecimento de medicamentos,
é muito frequente que a demanda de saúde objetive algum fármaco que já está incluído na RENAME –
78
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Relação Nacional de Medicamentos Essenciais. Em relação a essa hipótese, importante tese foi firmada pelo
STJ, quando do julgamento do Tema 84 de seus recursos repetitivos (REsp 1.069.810/RS):
SITUAÇÃO DO ÓRGÃO
TEMA 84 Trânsito em Julgado Primeira Seção
TEMA JULGADOR
QUESTÃO
Questão referente ao fornecimento de medicamento necessário ao tratamento de saúde, sob pena
SUBMETIDA A
de bloqueio ou sequestro de verbas do Estado a serem depositadas em conta-corrente.
JULGAMENTO
REPERCUSSÃO
Tema 289/STF – bloqueio de verbas públicas para garantia de fornecimento de medicamentos.
GERAL
RAMO DO
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO
DIREITO
TRIBUNAL ACÓRDÃO
DATA DE JULGADO TRÂNSITO
PROCESSO DE RRC RELATOR PUBLICADO
AFETAÇÃO EM EM JULGADO
ORIGEM EM
Napoleão
REsp
TJRS Não Nunes Maia 15/9/2008 23/10/2013 6/11/2013 13/12/2013
1.069.810/RS
Filho
Assim, de acordo com a tese firmada, em se tratando “de fornecimento de medicamentos, cabe ao
Juiz adotar medidas eficazes à efetivação de suas decisões, podendo, se necessário, determinar até mesmo
o sequestro de valores do devedor (bloqueio), segundo o seu prudente arbítrio, e sempre com adequada
fundamentação.”
Essa mesma questão, relativa ao bloqueio de verbas públicas para a garantia de fornecimento de
medicamentos, está pendente de apreciação pelo Supremo Tribunal Federal no Tema 289 de sua repercussão
geral. A repercussão geral foi reconhecida em 13 de agosto de 2010, mas até o momento ainda não foi
julgado o referido recurso extraordinário.
Também como questão afeta cumprimento de decisões judiciais que imponham o fornecimento de
medicamentos, consolidou-se o entendimento no âmbito do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que
79
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
é possível a “imposição de multa diária (astreintes) a ente público, para compeli-lo a fornecer medicamento
à pessoa desprovida de recursos financeiros”. Essa tese ficou definida no julgamento do Tema 98 (REsp
1.474.665/RS) dos recursos repetitivos do STJ:
TEMA/REPETITIVO ÓRGÃO
SITUAÇÃO DO TEMA Trânsito em Julgado Primeira Seção
98 JULGADOR
QUESTÃO
Possibilidade de ser imposta a multa a que alude o art. 461 do CPC, nos casos de
SUBMETIDA A
descumprimento da obrigação de fornecer medicamentos, imposta ao ente estatal.
JULGAMENTO
Benedito 1)17/10/2017
REsp 1.474.665/RS TJRS Não 4/9/2014 26/4/2017 22/6/2017 26/6/2018
Gonçalves 2)30/4/2018
Benedito
REsp 1.101.725/RS TJRS Sim 19/12/2008 - - - -
Gonçalves
A segunda hipótese também não é rara, mas havendo protocolo clínico no SUS com similar eficácia
para o tratamento requerido pelo paciente, a lide somente se resolve mediante prova pericial médica. A
perícia, bem como o apoio da consulta ao banco de dados dos chamados Núcleos de Apoio Técnico (NATs) é
fundamental nesses casos. Isso porque o fato de haver protocolo clínico já incorporado ao SUS para uma
determinada patologia não dispensa imediatamente a análise de eventuais peculiaridades do paciente.
Pode haver a hipótese de que determinado paciente necessite de algum medicamento que não é
incorporado ao SUS, justamente porque o protocolo médico adotado pela rede pública não atende alguma
necessidade médica específica de sua parte. A perícia médica irá dizer, assim, se a patologia do demandante
é real e se realmente há peculiaridades que lhe permitem exigir uma alternativa terapêutica diversa daquela
incorporada ao SUS. Já o apoio do NAT permitirá um maior aprofundamento nas razões da inclusão e da não
inclusão de determinados medicamentos ou procedimentos na rede pública. O cotejo de todos esses
elementos fornecerá ao Juízo a cognição exata para que seja determinado o fornecimento de certo
medicamento ou procedimento já incorporado ou não.
Aliás, cabe lembrar que o Enunciado nº 18 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre Saúde Pública
prescreve que, sempre que possível, as decisões liminares sobre saúde devem ser precedidas de notas de
evidência científica emitidas por Núcleos de Apoio Técnico em Saúde (NATS). Embora a regra seja a realização
de perícia médica e, assim, consulta ao respectivo NAT do Estado, frisa-se que é possível a antecipação da
80
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
tutela satisfativa quando imprescindível para evitar o perecimento de direito, requisito esse, obviamente,
sempre satisfeito nas hipóteses em que se pretende tratamento médico indispensável à garantia do direito
à saúde e à vida.
Em conclusão, na 3ª e última hipótese, a União é invariavelmente parte legítima para responder pela
ação, uma vez que o objeto da demanda versará sobre a possibilidade ou não de custeio pelo Estado de
medicamento, tratamento ou procedimento cirúrgico que não são fornecidos oficialmente e, também, não
encontram substitutivos eficazes da rede pública. Nessa última instância hipotética, com frequência,
inclusive, ter-se-ão demandas que busquem a concessão de medicamentos de alto custo ou, ainda, de
medicamentos experimentais (tal como a recente e malfadada fosfoetanolamina). Quanto ao fornecimento
de medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS, a questão foi balizada de maneira
consolidada no Superior Tribunal de Justiça quando do julgamento do Tema 106 de seus recursos repetitivos,
no julgamento do REsp 1.657.156:
TEMA/REPETITIVO
SITUAÇÃO DO TEMA Acórdão Publicado ÓRGÃO JULGADOR Primeira Seção
106
A concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS exige a presença
cumulativa dos seguintes requisitos:
81
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Modulação de efeitos:
“Modula-se os efeitos do presente repetitivo de forma que os requisitos acima elencados sejam
exigidos de forma cumulativa somente quanto aos processos distribuídos a partir da data da
publicação do acórdão embargado, ou seja, 4/5/2018.” (trecho do acórdão dos embargos de
declaração publicado no DJE de 21/9/2018).
ANOTAÇÕES NUGEP A questão submetida a julgamento foi ajustada pela Primeira Seção em questão de ordem
apresentada na sessão de julgamento do dia 24/5/2017 e publicada no DJE do dia 31/5/2017.
Tema 6/STF – Dever do Estado de fornecer medicamento de alto custo a portador de doença
REPERCUSSÃO GERAL
grave que não possui condições financeiras para comprá-lo.
Benedito
REsp 1.657.156/RJ TJRJ Não 3/5/2017 25/4/2018 4/5/2018 21/9/2018 -
Gonçalves
Benedito 18/2/2009
REsp 1.102.457/RJ TJRJ Sim - - - -
Gonçalves 29/5/2009
Observação: Decisão de desafetação reconsiderada, admitindo o processamento do REsp 1.102.457 como recurso
repetitivo (DJE 29/5/2009)
A tese firmada estabeleceu que a concessão dos medicamentos não incorporados em atos
normativos do SUS exige a presença cumulativa dos seguintes requisitos:
82
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
• comprovação, por meio de laudo fundamentado e circunstanciado expedido por médico que
assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como da
ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS;
• incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento prescrito;
• existência de registro do medicamento na ANVISA, observados os usos autorizados pela agência.
Houve, contudo, modulação de efeitos em relação à tese acima firmada, quando do julgamento dos
embargos de declaração publicado no dia 21 de setembro de 2018. Definiu-se, na modulação, que os efeitos
da tese firmada somente valeriam para os “processos distribuídos a partir da data da publicação do acórdão
embargado, ou seja, 4 de maio de 2018" (grifos nossos).
O objeto da ação foi o veto presidencial ao art. 59, §2º, da Lei nº 10.777 de 2003 (Lei de Diretrizes
Orçamentárias — LDO — daquele ano e que, portanto, nortearia a edição da Lei Orçamentária Anual — LOA
— do exercício de 2004). O referido dispositivo almejava garantir os recursos mínimos previstos para a saúde,
em consonância com a Emenda Constitucional nº 29 de 2000, a qual, como vimos, inseriu na Constituição
Federal de 1988 a previsão desses recursos mínimos.
Ocorre que, após o ingresso da ADPF nº 45, o veto foi contornado no Congresso Nacional e o
dispositivo voltou a valer, fazendo com que aquela ação constitucional fosse reputada prejudicada pelo seu
relator. Mas a fundamentação dada pelo Min. Celso de Mello em seu voto serviu de paradigma importante
para validar o controle de políticas públicas pelo Judiciário, em especial pelo Supremo Tribunal Federal.
Nesse ponto, o voto assinalou a “dimensão política da jurisdição constitucional atribuída ao Supremo
Tribunal Federal”, o que chancela a intervenção do Supremo dentro da “necessidade de preservação, em
favor dos indivíduos, da integridade e da intangibilidade do núcleo consubstanciador do ‘mínimo
existencial".
Há que se lembrar, ainda, dos fundamentos adotados no Tema 6 da repercussão geral, os quais
podem ser sintetizados da seguinte forma:
• o Estado pode sim ser obrigado a fornecer medicamentos de alto custo, dentro de algumas
hipóteses;
• o medicamento de alto custo deve ter a comprovação de que possui registro na ANVISA ou que
houve negativa ou demora não razoável de registro naquele órgão;
• o beneficiário não deve ter meios de arcar diretamente, ou por sua família, com a compra do
medicamento de alto custo;
• deve ser comprovado por meio de laudo médico que o protocolo terapêutico já incorporado ao
SUS não atende à melhora da condição de saúde do autor da ação;
Questão, também, de grande repercussão foi a julgada no Tema 500, da repercussão geral do
Supremo Tribunal Federal, relativa ao dever do Estado de fornecer, ou não, medicamentos experimentais
ou, ainda, medicamentos sem registro na Anvisa. Esse Tema foi tratado no julgamento do RE 657.718, em
maio de 2019 e já conta com trânsito em julgado. A ementa do julgado assim dispõe:
83
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
1. Como regra geral, o Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos não
registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) por decisão judicial. O
registro na Anvisa constitui proteção à saúde pública, atestando a eficácia, segurança e
qualidade dos fármacos comercializados no país, além de garantir o devido controle de
preços.
2. No caso de medicamentos experimentais, i.e., sem comprovação científica de eficácia e
segurança, e ainda em fase de pesquisas e testes, não há nenhuma hipótese em que o Poder
Judiciário possa obrigar o Estado a fornecê-los. Isso, é claro, não interfere com a
dispensação desses fármacos no âmbito de programas de testes clínicos, acesso expandido
ou de uso compassivo, sempre nos termos da regulamentação aplicável.
3. No caso de medicamentos com eficácia e segurança comprovadas e testes concluídos,
mas ainda sem registro na ANVISA, o seu fornecimento por decisão judicial assume caráter
absolutamente excepcional e somente poderá ocorrer em uma hipótese: a de mora
irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao previsto na Lei nº
13.411/2016). Ainda nesse caso, porém, será preciso que haja prova do preenchimento
cumulativo de três requisitos. São eles: (i) a existência de pedido de registro do
medicamento no Brasil (salvo no caso de medicamentos órfãos para doenças raras e
ultrarraras); (ii) a existência de registro do medicamento pleiteado em renomadas agências
de regulação no exterior (e.g., EUA, União Europeia e Japão); e (iii) a inexistência de
substituto terapêutico registrado na ANVISA. Ademais, tendo em vista que o pressuposto
básico da obrigação estatal é a mora da agência, as ações que demandem fornecimento de
medicamentos sem registro na ANVISA deverão necessariamente ser propostas em face da
União.
4. Provimento parcial do recurso extraordinário, apenas para a afirmação, em repercussão
geral, da seguinte tese:
“1. O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais.
2. A ausência de registro na ANVISA impede, como regra geral, o fornecimento de
medicamento por decisão judicial.
3. É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro
sanitário, em caso de mora irrazoável da ANVISA em apreciar o pedido de registro (prazo
superior ao previsto na Lei nº 13.411/2016), quando preenchidos três requisitos: (i) a
existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de medicamentos
órfãos para doenças raras e ultrarraras); (ii) a existência de registro do medicamento em
renomadas agências de regulação no exterior; e (iii) a inexistência de substituto terapêutico
com registro no Brasil.
4. As ações que demandem fornecimento de medicamentos sem registro na Anvisa deverão
necessariamente ser propostas em face da União”. (RE 657718, Relator(a): MARCO
AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em
22/5/2019, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-267 DIVULG 06-
11-2020 PUBLIC 09-11-2020)
Outro precedente muito importante, embora sem repercussão geral, é o constatado no julgamento
do AI 553.712, pelo Supremo Tribunal Federal, em 2009. O referido julgado assentou a possibilidade da
realização de bloqueio de valores para assegurar o fornecimento gratuito de medicamentos, em favor de
pessoas hipossuficientes:
84
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
improvido. (AI 553712 AgR, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado
em 19/05/2009, DJe-104 DIVULG 04-06-2009 PUBLIC 05-6-2009 EMENT VOL-02363-09 PP-
01777 RT v. 98, n
º 887, 2009, p. 164-167, grifos nossos)
O precedente acima, contudo, não é vinculante. Sobre a questão do bloqueio de verbas para
fornecimento de medicamentos, é o Tema 289 da repercussão geral do Supremo Tribunal Federal que
decidirá a validade ou não desse procedimento (sem previsão de julgamento na data de fechamento desta
aula).
2. ASSISTÊNCIA SOCIAL
A assistência é ramo da seguridade social que não possui a imposição de uma prévia contraprestação
do assistido, tal como também ocorre no ramo da saúde. Distingue-se da previdência social, pois, como se
sabe, tal braço da proteção social estatal exige a contribuição do segurado, já que foi adotado o modelo
previdenciário de Bismarck. A assistência, pois, é forma de atuação estatal que está fora do conceito de
previdência social, sendo ramo autônomo da seguridade social. Seu principal benefício é o que se encontra
previsto diretamente no texto da Constituição Federal de 1988, no art. 203, inciso V. Assim diz o dispositivo
em sua literalidade:
SEÇÃO IV
DA ASSISTÊNCIA SOCIAL
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de
contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
(...)
V - a garantia de um salário-mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência
e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la
provida por sua família, conforme dispuser a lei.
Como se vê, a CF de 1988 garantiu a concessão de um salário-mínimo para o deficiente e o idoso que
comprovarem a impossibilidade de se sustentarem ou de serem sustentados por sua própria família,
conforme critérios definidos em lei. A regulamentação da assistência social no Brasil foi feita pela Lei nº
8.742, de 7 de dezembro de 1993. Posteriormente, a referida lei foi alterada pela Lei nº 12.435, de 7 de julho
de 2011, que promoveu mudanças no texto no que toca aos objetivos da assistência social, bem como, e
especialmente, no que toca aos conceitos de grupo familiar e de deficiência, para fins de recebimento do
benefício previsto no art. 203, inciso V, da CF de 1988.
O art. 20, da Lei nº 8.742 de 1993, alterado pela Lei nº 12.435 de 2011 dispõe que o “benefício de
prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65
(sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de
tê-la provida por sua família”.
No que concerne ao conceito de idoso, se extrai do art. 34, caput, da Lei nº 10.741 de 2003, que
aponta o critério etário de 65 anos, muito embora a classificação legal dada pelo art. 1º dessa lei identifique
o idoso como sendo a pessoa com 60 anos ou mais. Nada obstante, o mencionado artigo é norma específica
em relação ao benefício assistencial ao idoso, de maneira que o critério vigente é, realmente, a idade de 65
anos, no mínimo.
Sobre o conceito de deficiente, apesar de a Constituição Federal de 1988 indicar que o deficiente
que não conseguir seu próprio sustento e, tampouco, obtê-lo de sua família, fará jus a um benefício de renda
mínima, não há no corpo constitucional a definição de deficiência. A Lei nº 8.742 de 1993 também possuía,
85
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
desde sua aprovação, o desiderato de conceituar o deficiente, mas a definição de deficiência somente veio a
ser completada de maneira mais clara por meio da alteração normativa dada pela inserção da Convenção de
Nova Iorque (sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência) no ordenamento jurídico. Cabe frisar que a
referida Convenção foi internalizada por meio do rito previsto para as Emendas Constitucionais e, dessa
maneira, adquiriu status de norma constitucional, tal como prevê o art. 5º, §3º, da CF de 1988.
Posteriormente à promulgação da Convenção de Nova Iorque sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência, sobreveio a Lei nº 12.435, de 6 de julho de 2011, que visou, em verdade, adequar as normas da
Lei Orgânica da Assistência Social ao que dispunha a “lei” internacional. O conceito de pessoa com deficiência
então previsto no art. 20, §2º, da Lei nº 8.742 de 1993, conforme a redação dada pela Lei nº 12.435 de 2011,
passou a ser definido da seguinte forma:
Posteriormente, a Lei nº 12.470 de 2011 deu nova redação a este dispositivo, que passou a prever:
§2º Para efeito de concessão deste benefício, considera-se pessoa com deficiência aquela
que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial,
os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
(Redação dada pela Lei nº 12.470, de 2011)
Após, o art. 20, §2º, da Lei nº 8.742 de 1993, recebeu nova redação (este é o entendimento legislativo
que vige atualmente) a partir da Lei nº 13.146 de 2015, e passou, então, a expressar que:
Dessa feita, o conceito de pessoa com deficiência dado pela Lei nº 8.742 de 1993 contempla três
elementos:
Súmula 80: Nos pedidos de benefício de prestação continuada (LOAS), tendo em vista o
advento da Lei 12.470/2011, para adequada valoração dos fatores ambientais, sociais,
86
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
E para que não haja dúvidas a respeito desse entendimento firmado na TNU, a questão foi pacificada
no julgamento do TEMA 34 de seus representativos de controvérsia:
RAMO DO Direito
TEMA 34 SITUAÇÃO DO TEMA Julgado
DIREITO Previdenciário
DECISÃO
JULGADO ACÓRDÃO TRÂNSITO EM
PROCESSO DE RELATOR
EM PUBLICADO EM JULGADO
AFETAÇÃO
Dessa forma, os julgados acima, conquanto usem a expressão “incapacidade parcial” devem ser
lidos diante desse espectro normativo. Pelo fato de o conceito de deficiência não ser o mesmo do que o
conceito de incapacidade, é de todo evidente que não importa se existe uma incapacidade parcial ou total
para a concessão de benefício assistencial, pois este tem como vértice a pessoa com deficiência, a qual, por
87
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
sua vez, tem como pilar de caracterização sua condição física, mental, intelectual e/ou sensorial em conjunto
com diversas barreiras, de natureza econômica, social, cultural etc.
RAMO DO Direito
TEMA 173 SITUAÇÃO DO TEMA Julgado
DIREITO Previdenciário
DECISÃO
JULGADO ACÓRDÃO TRÂNSITO EM
PROCESSO DE RELATOR
EM PUBLICADO EM JULGADO
AFETAÇÃO
88
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
a regulamentação desses critérios é feita pela Lei nº 8.742 de 1993. O §3º, do art. 20, da citada lei, considera
como incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa “a família cuja renda mensal per
capita seja inferior a ¼ do salário-mínimo”. Entretanto, esse critério puramente objetivo não vingou, uma vez
que o Supremo Tribunal Federal entendeu no ano de 2013 pela inconstitucionalidade superveniente, por
mutação constitucional, do art. 20, §3º, da citada lei. A questão foi apreciada no bojo do Tema 27, de
repercussão geral.
O julgamento do Tema 27 ocorreu de modo conjunto com o Tema 312, também da repercussão geral
do STF, que se deu em relação à interpretação extensiva “ao parágrafo único do art. 34 da Lei nº 10.741 de
2003 para fins do cálculo da renda familiar de que trata o art. 20, §3º, da Lei nº 8.742 de 1993”. Praticamente
ao mesmo tempo em que os recursos acima foram julgados, também foi realizado o julgamento da Rcl 4374,
que objetivava preservar a decisão emanada do Supremo Tribunal Federal quando do julgamento da ADI
1232, mas não houve êxito nesse sentido. O julgamento daqueles REs foi feito na data de 17 de abril de 2013,
enquanto a reclamação foi julgada no dia 18 de abril de 2013. O RE 567.985 era da relatoria do Min. Marco
Aurelio, enquanto o RE 580.963 tinha como relator o Min. Gilmar Mendes, que também era o relator na Rcl
4374. O resultado do julgamento desses Temas pode ser observado na tabela abaixo:
QUAIS FORAM AS TESES FIXADAS NO JULGAMENTO DOS TEMAS 27 E 132 DA REPERCUSSÃO GERAL
TEMA 27 (RE 567.985) TEMA 132 (RE 580.963)
TESE FIXADA TESE FIXADA
É inconstitucional o §3º do artigo 20 da Lei nº 8.742 É inconstitucional, por omissão parcial, o parágrafo
de 1993, que estabelece a renda familiar mensal per único do art. 34 da Lei nº 10.741 de 2003 (Estatuto
capita inferior a um quarto do salário-mínimo como do Idoso).
requisito obrigatório para concessão do benefício
assistencial de prestação continuada previsto no
artigo 203, V, da Constituição.
Quanto ao Tema 27, considerou-se que o critério puramente econômico já estaria defasado para
caracterizar a situação de miserabilidade das pessoas no contexto social brasileiro, sobretudo quando
comparado a outras referências financeiras estipuladas em programas sociais oficiais, tal como o “Bolsa
Família” e os programas habitacionais do “Minha Casa, Minha Vida”. Outro exemplo que serviu de referência
foi o do Programa Nacional de Acesso à Alimentação (PNAA), criado pela Lei nº 10.689 de 2003, o qual
normatizou o critério social de renda per capta no patamar de meio salário-mínimo. A mutação
constitucional foi verificada, portanto, ocasionando um processo de inconstitucionalização crescente e
gradativo do critério econômico de ¼ do salário-mínimo para a renda per capita familiar.
Apesar de não ter contado da tese fixada, indicou-se como norte de avaliação da renda per capita o
critério de ½ (meio) salário-mínimo. O Tribunal, por maioria, negou provimento ao Recurso Extraordinário e
declarou incidenter tantum a inconstitucionalidade do §3º do art. 20 da Lei nº 8.742 de 1993. Ficaram
vencidos, parcialmente, o Ministro Marco Aurélio (relator), que apenas negava provimento ao recurso, sem
declarar a inconstitucionalidade da norma referida, e os Ministros Teori Zavascki e Ricardo Lewandowski, que
davam provimento ao recurso. Cabe destacar que não foi alcançado o quórum de ⅔, previsto no art. 27, da
Lei nº 9.868 de 1999, para modulação dos efeitos da decisão para que a norma tivesse validade até 31 de
dezembro de 2015.
Acerca do Tema 312, restou igualmente declarada como inconstitucional a disposição do art. 34,
parágrafo único, da Lei nº 10.471 de 2003 (Estatuto do Idoso), no julgamento dos Recursos Extraordinários
nº 567.985 e nº 580.963, ambos com repercussão geral, bem como a Reclamação 4374:
89
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Na toada desses reconhecimentos jurisprudenciais feitos pelo Supremo Tribunal Federal, pouco
tempo depois, foi aprovada a Lei nº 13.146 de 2015, que alterou a redação do art. 20, §11, da Lei nº 8.742
de 1993, que deixou clara, em sua nova redação, a possibilidade de se considerarem “outros elementos
probatórios da condição de miserabilidade do grupo familiar e da situação de vulnerabilidade”.
Durante a pandemia, muita coisa mudou em relação ao critério da renda para fins de benefício
assistencial. No ano de 2020, foi aprovada a Lei nº 13.981, que deu nova redação ao §3º, do art. 20, da Lei
nº 8.742 de 1993, asseverando o parâmetro legal de ½ salário-mínimo para se definir o critério da
vulnerabilidade econômica. A referida lei proveio do Projeto de Lei do Senado (PLS) 55/1996 e, ao ser enviada
para a sanção presidencial, sofreu o veto do Presidente Jair Bolsonaro quanto ao aumento daquele limite
da renda per capita, mantendo-se, com isso, o critério legal anterior de ¼ do salário-mínimo.
Posteriormente, o veto foi derrubado por uma sessão conjunta da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal, conforme a competência constitucional prevista no art. 57, §3º, IV, CF 1988, tendo sido
publicada a Lei nº 13.981 de 2020 em 24 de março de 2020, com o novo critério de meio salário-mínimo
como limite da renda per capita para fins de recebimento do benefício assistencial ao idoso e ao deficiente.
Ocorre que, logo após a derrubada do veto e da publicação da Lei nº 13.981/2020, outro Projeto de Lei foi
enviado para sanção ou veto, relacionado a medidas excepcionais de proteção social a serem adotadas
90
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Esse escalonamento implicaria pagamento do referido benefício aos que apresentassem renda per
capita familiar de até ¼ do salário-mínimo até 31 de dezembro de 2020 e, a partir de 1º de janeiro de 2021
o limite seria aumentado para meio salário-mínimo. Ocorre que, novamente, houve veto do Presidente da
República, de modo que foi publicada a Lei nº 13.982 de 2020 em 2 abril de 2020. Não houve, nesse caso,
deliberação da Câmara dos Deputados e do Senado Federal em sessão conjunta para derrubada do veto.
O veto se referiu ao segundo momento daquele escalonamento, ou seja, proibiu-se que a partir de
1º de janeiro de 2021 houvesse aumento do limite de renda per capita familiar para ½ salário-mínimo. Isso
gerou um vazio normativo, pois o critério de ¼ findaria em 31 de dezembro de 2020 e o critério de meio
salário-mínimo a partir de 1º de janeiro de 2021 havia sido vetado.
Em função disso, sobreveio a Medida Provisória 1.023 de 2020, que deu nova redação ao inciso I, do
§3º, do art. 20, estabelecendo de maneira incondicional, isto é, sem termo final, o critério de ¼ do salário-
mínimo. A referida MP 1.023 foi posteriormente convertida na Lei nº 14.176 de 2021, a qual assinalou que
“terão direito ao benefício financeiro de que trata o caput deste artigo a pessoa com deficiência ou a pessoa
idosa com renda familiar mensal per capita igual ou inferior a ¼ do salário-mínimo”.
Assim restou definida a redação do art. 20, §3º, da Lei 8.742 de 1993:
§3º Observados os demais critérios de elegibilidade definidos nesta Lei, terão direito ao
benefício financeiro de que trata o caput deste artigo a pessoa com deficiência ou a pessoa
idosa com renda familiar mensal per capita igual ou inferior a ¼ (um quarto) do salário-
mínimo.
(Redação dada pela Lei nº 14.176, de 2021)
Cabe registrar, contudo, que a Lei nº 14.176/2021 aprovou a inclusão do §11-A, no art. 20, da Lei nº
8.742 de 1993, o qual somente entrou em vigor em 1º de janeiro de 2022, determinando que:
O regulamento de que trata o §11 deste artigo poderá ampliar o limite de renda mensal
familiar per capita previsto no §3º deste artigo para até ½ (meio) salário-mínimo, observado
o disposto no art. 20-B desta Lei.
O art. 20-B, por sua vez, elenca critérios possíveis para a consideração da elevação da renda per
capita:
• o grau da deficiência;
• a dependência de terceiros para o desempenho de atividades básicas da vida diária e;
• o comprometimento do orçamento do núcleo familiar de que trata o §3º do art. 20 desta Lei,
exclusivamente com gastos médicos, tratamentos de saúde, fraldas, alimentos especiais e
medicamentos do idoso ou da pessoa com deficiência, não disponibilizados gratuitamente pelo
SUS, ou com serviços não prestados pelo Sistema Único de Assistência Social (SUAS), desde que
comprovadamente necessários à preservação da saúde e da vida.
A Lei 13.982 de 2020 previu também abatimentos, mas apenas em razão do estado de calamidade
pública reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020, e da emergência de saúde pública
de importância internacional decorrente do coronavírus (COVID-19). Ou seja, apenas durante a pandemia. Já
a Lei nº 14.176 de 2021 passou a prever isso de maneira permanente. Ambas indicaram os mesmos tipos de
despesas para serem abatidas no cálculo da renda per capita familiar, isto é, despesas que não entram na
91
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
soma da renda familiar para se obter, então, após divisão, o valor da renda per capita. Ambas previram um
valor limite para que esses descontos pudessem ser feitos.
Qual é esse valor limite? Esse valor será definido pelo Instituto Nacional do Seguro Social, a partir de
valores médios dos gastos realizados pelas famílias exclusivamente com essas finalidades, mas o requerente
do benefício poderá demonstrar que, na prática, ele gasta mais com aquelas despesas do que os “valores
médios”. Nos termos do regulamento, será “facultada ao interessado a possibilidade de comprovação,
conforme critérios definidos em regulamento, de que os gastos efetivos ultrapassam os valores médios”.
Sim! Foi editada a Portaria Conjunta/MC/MTP/INSS Nº 14, de 7 de outubro de 2021, que alterou,
então, dispositivos da Portaria Conjunta Nº 3, de 21 de setembro de 2018.
A Lei nº 14.176 de 2021 também inovou o ordenamento jurídico assistencial brasileiro trazendo a
figura do auxílio-inclusão, com a inserção do art. 26-A, na Lei nº 8.742 de 1993, que assim diz:
Do Auxílio-Inclusão
Art. 26-A. Terá direito à concessão do auxílio-inclusão de que trata o art. 94 da Lei nº
13.146, de 6 de julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), a pessoa com
deficiência moderada ou grave que, cumulativamente:
92
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Como se vê, o auxílio-inclusão já era previsto na Lei nº 13.146 de 2015, o Estatuto da Pessoa com
Deficiência, mas nunca havia sido criado efetivamente. Ele é destinado apenas às pessoas com deficiência
moderada ou grave e tem finalidade, como o próprio nome diz, permitir a inclusão delas no mercado de
trabalho, estabelecendo uma transição entre um benefício assistencial integral e, posteriormente, um
benefício assistencial parcial, no valor da metade daquele. Assim, nos termos do art. 26-B, da Lei nº 8.742 de
1993, o “auxílio-inclusão será devido a partir da data do requerimento, e o seu valor corresponderá a 50%
do valor do benefício de prestação continuada em vigor”. Para que as pessoas com deficiência moderada ou
grave passem a receber o auxílio-inclusão, elas necessitam iniciar o exercício de alguma atividade e passar
a receber remuneração de até 2 salários-mínimos. De acordo com o próprio Ministério do Desenvolvimento
Social21, o “benefício, que tem valor de meio salário-mínimo, é destinado às pessoas com deficiência com 16
anos ou mais que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC) ou já receberam o benefício durante
qualquer período nos últimos 5 anos, e que entram no mercado de trabalho”.
No que refere ao conceito de família, para fins de recebimento do benefício assistencial, encontra-
se previsto no texto do art. 20, §1º, da Lei nº 8.742 de 1993, que assim diz:
§1º Para os efeitos do disposto no caput, a família é composta pelo requerente, o cônjuge
ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos
solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o
mesmo teto. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)
93
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
RAMO DO Direito
TEMA 73 SITUAÇÃO DO TEMA Julgado
DIREITO Previdenciário
QUESTÃO SUBMETIDA A Saber qual a composição do grupo familiar para concessão do benefício assistencial,
JULGAMENTO no período anterior à Lei nº 12.453/2011.
DECISÃO
JULGADO ACÓRDÃO TRÂNSITO EM
PROCESSO DE RELATOR
EM PUBLICADO EM JULGADO
AFETAÇÃO
Contudo, a jurisprudência esparsa tem, em alguns casos, ampliado esse conceito, sob o
fundamento de que há um dever familiar recíproco e solidário e, ainda, a assistência social seria subsidiaria
a esse dever.
Há, ainda, outras leis que também tratam da assistência social no Brasil, regulando benefícios
assistenciais específicos, tais como: a Lei nº 12.815 de 2013 e a Lei nº 13.146 de 2015. Aquela dispõe sobre
o regime jurídico do trabalhador portuário, tendo incluído o art. 10-A na Lei nº 9.719 de 1998, que “dispõe
sobre normas e condições gerais de proteção ao trabalho portuário, institui multas pela inobservância de
seus preceitos, e dá outras providências”:
Art. 73. A Lei nº 9.719, de 27 de novembro de 1998, passa a vigorar acrescida do seguinte
art. 10-A:
Art. 10-A. É assegurado, na forma do regulamento, benefício assistencial mensal, de até 1
(um) salário-mínimo, aos trabalhadores portuários avulsos, com mais de 60 (sessenta) anos,
que não cumprirem os requisitos para a aquisição das modalidades de aposentadoria
previstas nos arts. 42, 48, 52 e 57 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, e que não possuam
meios para prover a sua subsistência.
Parágrafo único. O benefício de que trata este artigo não pode ser acumulado pelo
beneficiário com qualquer outro no âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo
os da assistência médica e da pensão especial de natureza indenizatória.
O Programa Bolsa Família, por sua vez, era mais um benefício assistencial, tendo sido previsto na Lei
nº 10.836 de 2004. Ele era pago em três faixas distintas:
94
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
• benefício variável (situação de pobreza a extrema pobreza, com gestantes, nutrizes, crianças de 0
a 12 anos, ou adolescentes de 12 a 15 anos, pago até o limite de 5 benefícios por família);
• benefício variável vinculado ao adolescente (situação de pobreza ou extrema pobreza, com
adolescentes entre 16 e 17 anos, pago até o limite de 2 benefícios por família).
Todavia, a referida lei foi revogada pela Lei nº 14.284, de 29 de dezembro de 2021, a qual instituiu o
Programa Auxílio Brasil e o Programa Alimenta Brasil, bem como definindo metas para as taxas de pobreza
no Brasil. De acordo com o art. 3º, §2º, da referida lei, para fins de definição da renda familiar mensal não
serão computados os “benefícios e auxílios assistenciais de natureza eventual e temporária”, os “valores
oriundos de programas assistenciais de transferência de renda, com exceção do Benefício de Prestação
Continuada (BPC), de que trata o art. 20 da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993” e as “rendas de natureza
eventual ou sazonal, a serem regulamentadas em ato do Ministério da Cidadania”. Como se vê, o valor
recebido pelo benefício assistencial entra no cômputo da renda familiar mensal para fins de aferição do
direito ao Auxílio Brasil.
Quanto aos benefícios financeiros do Programa Auxílio Brasil, são assim devidos, nos termos do art.
4º, da Lei nº 14.284 2021:
São elegíveis ao Programa Auxílio Brasil as famílias em situação de pobreza, cuja renda familiar per
capita mensal se situe entre R$ 105,01 e R$ 210,00, bem como as famílias em situação de extrema pobreza,
com renda familiar per capita mensal igual ou inferior a R$ 105,00.
Importante salientar, por fim, que os programas de transferência de renda passaram a ser objeto
de garantia constitucional, mediante inclusão de previsão no art. 6º, parágrafo único, da Constituição
Federal. A inclusão foi promovida pela promulgação da Emenda Constitucional nº 114 de 2021, que assinalou
o seguinte:
95
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Essa mesma emenda constitucional deu nova redação ao inciso VI, do art. 203, da Constituição
Federal:
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de
contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
(...)
VI - a redução da vulnerabilidade socioeconômica de famílias em situação de pobreza ou de
extrema pobreza.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 114, de 2021)
Cabe lembrar, também, dos chamados benefícios eventuais previstos na Lei nº 8.742 de 1993, art.
22. Os benefícios eventuais são as provisões suplementares e provisórias pagas no âmbito do SUAS – Sistema
Único de Assistência Social – e possuem como objeto as contingências sociais relacionadas ao:
• Nascimento;
• Morte;
• Situações de vulnerabilidade temporária; e
• Calamidade pública.
O pagamento dessas provisões suplementares e provisórias é regulamentado pelo Decreto nº 6.307
de 2007.
Deveras, o seguro-desemprego deveria ser, mas não benefício previdenciário, pois não
previsto no Plano de Benefícios da Previdência Social, sendo pago pelo extinto Ministério
do Trabalho (com a extinção do Ministério do Trabalho, desde 2019, o Ministério da
Economia assumiu a área trabalhista, tendo sido criada uma Secretaria de Previdência e
Trabalho), com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT.
22 AMADO, Frederico. Curso de Direito e Processo Previdenciário. 11ª edição, Editora JusPodvim, 2019, Salvador, p. 136
96
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Já o abono anual do trabalhador é regulamentado pela Lei nº 7.859 de 1989, sendo que o Decreto
nº 4.524 de 2012, ao regulamentar a “Contribuição para o PIS/Pasep e a Cofins devidas pelas pessoas jurídicas
em geral”, estipula variação de alíquotas dessas (PIS/PASEP e COFINS) de 0,65% a 1% (nesse último caso,
conforme as disposições da Medida Provisória nº 2.158-35 de 2001, que tributa especificamente algumas
instituições, tais como templos de qualquer culto e partidos políticos).
Cabe registrar, por fim, que a criação do auxílio emergencial no âmbito da pandemia no Brasil
também representa uma espécie de benefício assistencial. A criação do Auxílio Emergencial foi feita por meio
da Lei nº 13.982 de 2020, tendo sido o benefício regulamentado pelo Decreto nº 10.316 de 2020. A Lei nº
13.982 de 2020, além de alterar normas da Lei nº 8.742 de 1993 — conforme já abordado em linhas
anteriores — estabeleceu “medidas excepcionais de proteção social a serem adotadas durante o período de
enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus
(COVID-19) responsável pelo surto de 2019, a que se refere a Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020”. Os
requisitos do auxílio-emergencial vieram na redação do art. 2º, da referida lei e foram assim dispostos:
Art. 2º Durante o período de 3 (três) meses, a contar da publicação desta Lei, será concedido
auxílio emergencial no valor de R$ 600,00 (seiscentos reais) mensais ao trabalhador que
cumpra cumulativamente os seguintes requisitos:
I - seja maior de 18 (dezoito) anos de idade, salvo no caso de mães adolescentes;
(Redação dada pela Lei nº 13.998, de 2020)
II - não tenha emprego formal ativo;
III - não seja titular de benefício previdenciário ou assistencial ou beneficiário do seguro-
desemprego ou de programa de transferência de renda federal, ressalvado, nos termos dos
§§1º e 2º, o Bolsa Família;
IV - cuja renda familiar mensal per capita seja de até 1/2 (meio) salário-mínimo ou a renda
familiar mensal total seja de até 3 (três) salários-mínimos;
V - que, no ano de 2018, não tenha recebido rendimentos tributáveis acima de R$ 28.559,70
(vinte e oito mil, quinhentos e cinquenta e nove reais e setenta centavos); e
VI - que exerça atividade na condição de:
a) microempreendedor individual (MEI);
b) contribuinte individual do Regime Geral de Previdência Social que contribua na forma do
caput ou do inciso I do §2º do art. 21 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991; ou
c) trabalhador informal, seja empregado, autônomo ou desempregado, de qualquer
natureza, inclusive o intermitente inativo, inscrito no Cadastro Único para Programas
Sociais do Governo Federal (CadÚnico) até 20 de março de 2020, ou que, nos termos de
autodeclaração, cumpra o requisito do inciso IV.
97
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
REQUISITOS DO AUXÍLIO-EMERGENCIAL
(CONFORME ART. 2º, DA LEI NO 13.982 DE 2020)
REQUISITOS POSITIVOS REQUISITOS NEGATIVOS
OU SEJA, O BENEFICIÁRIO DEVE APRESENTAR OU SEJA, O BENEFICIÁRIO NÃO PODE
ESSAS CARACTERÍSTICAS APRESENTAR ESSAS CARACTERÍSTICAS
Requisito etário 1. Não tenha empregado formal ativo;
2. Não seja titular de benefício previdenciário,
• Ser maior de 18 anos assistencial ou seguro-desemprego ou, ainda, algum
Obs.: as mães adolescentes também possuem direito ao programa de transferência de renda do governo
benefício federal (RESSALVADO O BOLSA-FAMÍLIA);
3. Não tenha recebido no ano de 2018 rendimentos
Requisito da renda per capita ou renda familiar tributáveis acima de R$ 28.559,70.
98
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
RAMO DO
TEMA 293 SITUAÇÃO DO TEMA Julgado Direito administrativo
DIREITO
Saber se o requisito estabelecido no artigo 2º, inciso v, da Lei nº 13.982/2020 - que impede a
QUESTÃO SUBMETIDA A concessão do auxílio emergencial a quem auferiu rendimentos superiores a R$ 28.559,70 (vinte
JULGAMENTO e oito mil, quinhentos e cinquenta e nove reais e setenta centavos) no ano de 2018- fere a
Constituição Federal, de modo a dispensar a sua exigência.
DECISÃO
JULGADO ACÓRDÃO
PROCESSO DE RELATOR TRÂNSITO EM JULGADO
EM PUBLICADO EM
AFETAÇÃO
RAMO DO Direito
TEMA 295 SITUAÇÃO DO TEMA Julgado
DIREITO administrativo
DECISÃO
JULGADO ACÓRDÃO TRÂNSITO EM
PROCESSO DE RELATOR
EM PUBLICADO EM JULGADO
AFETAÇÃO
99
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
RAMO DO Direito
TEMA 305 SITUAÇÃO DO TEMA Julgado
DIREITO administrativo
QUESTÃO SUBMETIDA A Saber se é devido o Auxílio Emergencial em cota dupla a homem provedor de família
JULGAMENTO monoparental, anteriormente à publicação da Lei nº 14 171/2021.
DECISÃO
JULGADO ACÓRDÃO TRÂNSITO EM
PROCESSO DE RELATOR
EM PUBLICADO EM JULGADO
AFETAÇÃO
3. PREVIDÊNCIA SOCIAL
Sobre a previdência social, neste capítulo faremos apenas uma abordagem relacionada aos princípios
específicos desse ramo da seguridade social.
Está previsto no art. 201, da CF de 1988, que assim diz, já nos termos da Emenda Constitucional nº
103 de 2019:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 103, de 2019, grifo nosso)
Assim, a Constituição Federal de 1988 deixa claro o caráter contributivo do Regime Geral da
Previdência Social, sendo regra também aplicável ao regime próprio da União, conforme art. 40, caput, do
mesmo dispositivo constitucional:
Art. 40. O regime próprio de previdência social dos servidores titulares de cargos efetivos
terá caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente federativo,
de servidores ativos, de aposentados e de pensionistas, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de
2019, grifo nosso)
Esse é o grande traço distintivo do ramo da previdência em relação à saúde e à assistência. Sem
contribuição, não há como participar do sistema, eis que se adota o modelo de Bismarck, como foi visto no
capítulo I do curso. Interessante observar que a contributividade, conforme doutrina de Amado, pode ser
presumida ou real. Exemplo de contributividade presumida está no art. 34, inciso I, da Lei nº 8.213 de 1991,
100
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
sendo certo que não cabe ao empregado o ônus de provar que o empregador recolheu as contribuições
devidas aos cofres do INSS, mantendo aquele seu direito à proteção previdenciária correspondente
independentemente de contribuições reais (caso o empregador não tenha feito os recolhimentos)23.
Também encontra previsão nos caputs dos artigos 201 e 40, ambos da CF de 1988, sendo decorrência
lógica da contributividade e da solidariedade do sistema bismarckiano de previdência. A regra, pois, é a
filiação obrigatória. Há, contudo, uma exceção, que é a dos segurados facultativos, tal como previsto no art.
14, da Lei nº 8.212 de 1991. Essa exceção é consectária do princípio da universalidade da cobertura e do
atendimento.
Está previsto, igualmente, nos artigos 40 e 201, caput, da CF de 1988, no sentido de que os regimes
geral e próprio deverão observar critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. Em verdade, a
previdência é direito fundamental de essência intergeracional, eis que as futuras gerações herdarão as contas
públicas relativas ao estado financeiro dos regimes hoje existentes. Logo, é imperioso que, como pilar de
ambos os sistemas, haja a inafastável observância do equilíbrio financeiro e atuarial.
Previsto no art. 2º, inciso I, da Lei nº 8.213 de 1991, nos seguintes termos:
É decorrente do princípio geral da seguridade social previsto no art. 194, parágrafo único, inciso I, CF
de 1988. Todavia deve ser lida sempre sob a ótica da contributividade, da filiação obrigatória e, sobretudo,
da prévia fonte de custeio.
Previsto no art. 2º, inciso II, da Lei nº 8.213/1991, nos seguintes termos:
É decorrente do princípio geral da seguridade social previsto no art. 194, parágrafo único, inciso II,
CF de 1988, possuindo o mesmo objetivo: vedar distinções não razoáveis entre as populações urbanas e
rurais, em relação aos benefícios e serviços oferecidos no RGPS. Anteriormente, conforme previsão antiga
23 Frederico Amado dá nome a essa hipótese legal, titulando-a de “princípio da automaticidade das prestações”, no sentido de que
são “devidas as prestações previdenciárias mesmo na hipótese de não pagamento das contribuições previdenciárias, quando a
responsabilidade tributária pelo recolhimento for das empresas tomadoras dos serviços, o que ocorre no Brasil com o segurados
empregados, trabalhadores avulsos e contribuintes individuais prestadores de sérvios à pessoa jurídica” (AMADO, Frederico, in op.
cit., p 284).
101
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
da LC nº 11/1971, o trabalhador rural podia se aposentar com renda mensal inicial abaixo do mínimo, o que
não mais é permitido em função deste princípio.
previsto no art. 2º, inciso III, da Lei nº 8.213 de 1991, nos seguintes termos:
É originário lógico do princípio geral da seguridade social previsto no art. 194, parágrafo único, inciso
III, da CF de 1988, com a ressalva de que não menciona o princípio legal, a seletividade e distributividade dos
serviços, mas apenas dos benefícios. Conforme a doutrina, “desconhece-se a motivação que levou o
legislador ordinário a suprimir a expressão ‘serviços’ prevista no texto constitucional, mas certamente foi um
descuido do Poder Legislativo, pois não se vislumbra fundamento técnico-jurídico para a referida omissão”.
Previsto no art. 201, §3º, da CF de 1988, bem como no art. 2º, IV, da Lei nº 8.213 de 1991, in verbis:
Art. 201.
(...)
§3º Todos os salários de contribuição considerados para o cálculo de benefício serão
devidamente atualizados, na forma da lei.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
Lei nº 8.213/1991
Art. 2º A Previdência Social rege-se pelos seguintes princípios e objetivos:
(...)
IV - cálculo dos benefícios considerando-se os salários-de-contribuição corrigidos
monetariamente;
Impõe que no cálculo do salário de benefício, todos os salários de contribuição desde julho de 1994
sejam corrigidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
Ocorre que essa previsão específica condiciona a manutenção daquele “valor real” à edição de lei
ordinária. Dessa forma, o princípio constitucional da irredutibilidade do valor real dos benefícios
previdenciários, por si só, não garante a manutenção esperada do poder real de compra, já que é a lei que o
completa, conforme o arbítrio político do Congresso Nacional e, bem assim, por óbvio, das eventuais
contingências econômicas de nosso país.
102
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Está previsto no art. 201, §12, da CF de 1988, que diz que “Nenhum benefício que substitua o salário
de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário-mínimo.”
O art. 2º, inciso VI, da Lei nº 8.213 de 1991, também tem previsão desse princípio:
A grande percepção é a de que esse princípio somente vale para os benefícios previdenciários que
possuam o objetivo de substituir o salário de contribuição. Se não houver esse intento substitutivo da renda
que representa o salário de contribuição do segurado, então o benefício poderá ter sua renda mensal inicial
abaixo do salário-mínimo. Isso ocorre somente em dois benefícios:
• auxílio-acidente;
• salário-família.
Esse princípio está previsto no art. 2º, inciso VIII, da Lei nº 8.213 de 1991:
Decorre do princípio geral previsto no art. 194, parágrafo único, VII, da CF de 1988:
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade
social, com base nos seguintes objetivos:
(...)
VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão
quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e
do Governo nos órgãos colegiados.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
Essa gestão administrativa, democrática e descentralizada da previdência social é feita pelo Conselho
Nacional da Previdência Social (CNPS), previsto no art. 3º, da Lei nº 8.213 de 1991. O CNPS é composto da
seguinte forma:
103
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Art. 114. Salvo quanto a valor devido à Previdência Social e a desconto autorizado por esta
Lei, ou derivado da obrigação de prestar alimentos reconhecida em sentença judicial, o
benefício não pode ser objeto de penhora, arresto ou sequestro, sendo nula de pleno direito
a sua venda ou cessão, ou a constituição de qualquer ônus sobre ele, bem como a outorga
de poderes irrevogáveis ou em causa própria para o seu recebimento.
104
FREDERICO MARTINS CUSTEIO E FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL • 7
105
FREDERICO MARTINS CUSTEIO E FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL • 7
É a sociedade quem banca a seguridade social e a previsão da origem dos recursos e o modo de seu
recolhimento estão previstos no Capítulo II (“Da Seguridade Social”), do Título VIII (“Da Ordem Social”), da
Carta de 1988. E, especificamente, a norma que trata dessa estrutura de custeio e financiamento pela
sociedade restou inserida na Constituição Federal de 1988 por meio do art. 195, caput, que assim diz:
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e
indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes
sobre:
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer
título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
b) a receita ou o faturamento;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
c) o lucro;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição
sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que
trata o art. 201;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
III - sobre a receita de concursos de prognósticos.
IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 2003)
Como se vê, os recursos financeiros são originados da União, Estados, DF, Municípios, eis que
derivam das receitas primárias de natureza tributária obtidas por esses entes federativos. Mas, importante
ficar atendo ao fato de que, em eventual insuficiência financeira, a garantidora desses recursos financeiros,
conforme previsto na Lei nº 8.212 de 1991, é a União.
Veja, no entanto, que o mais relevante desse tópico é saber que a Constituição Federal de 1988 é
clara e expressa ao dizer que é a sociedade a financiadora total da seguridade social.
Desse modo, não se esqueça: é pela sociedade, na base de tudo, que se constroem os alicerces do
financiamento da seguridade social, seja de modo direto por meio do recolhimento das contribuições sociais
para a seguridade social, seja de modo indireto pelas demais verbas e recursos públicos vertidos por aqueles
entes da Federação à manutenção da seguridade social. Em outras palavras, tem-se que os entes federativos,
por meio de seus mandatários eleitos - que representam as escolhas democráticas da sociedade – e, bem
assim, por meio das leis promulgadas de natureza orçamentária, destinam os recursos públicos angariados
pela arrecadação de outros tributos e por outras receitas, com vistas a manter a rede de proteção social
pública instituída pela Constituição.
106
FREDERICO MARTINS CUSTEIO E FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL • 7
Contribuições para a
Seguridade Social
União, Estados, DF e
Municípios
Art. 165.
(...)
§5º A lei orçamentária anual compreenderá:
I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da
administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder
Público;
II - o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente,
detenha a maioria do capital social com direito a voto;
III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela
vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações
instituídos e mantidos pelo Poder Público (grifo nosso).
Por esse comando constitucional, as contribuições sociais para a seguridade social ingressam
diretamente em um orçamento construído em separado para esse setor, não adentrando no volume de
receitas gerais do Tesouro Nacional (isso, ao menos, em tese, uma vez que há controvérsias fáticas sobre a
real destinação feitos em nome da seguridade social, conforme é apontado no tópico deste capítulo
relacionado ao princípio da destinação vinculada das contribuições sociais). Isso vale não apenas para as
contribuições sociais para a seguridade social já previstas no texto do art. 195, incisos I a IV, CF de 1988, mas
também para qualquer nova exação criada com base no art. 195, §4º, da CF de 1988 – as chamadas
contribuições sociais residuais. Assim diz o referido dispositivo constitucional:
Art. 195.
(...)
§4º A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão
da seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, I (grifo nosso).
107
FREDERICO MARTINS CUSTEIO E FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL • 7
Embora não explícito no referido artigo constitucional, toda nova contribuição social para a
seguridade social deve ter sua finalidade e destinação voltadas para o financiamento da previdência,
assistência e saúde.
É feita de modo integrado por cada ramo da seguridade social. Assim, cada órgão responsável pela
saúde, previdência e assistência formula e indica suas demandas orçamentarias, com base nas metas e
prioridades estabelecidas pela lei de diretrizes orçamentarias do corrente ano.
Art. 195.
(...)
§2º A proposta de orçamento da seguridade social será elaborada de forma integrada
pelos órgãos responsáveis pela saúde, previdência social e assistência social, tendo em
vista as metas e prioridades estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias, assegurada a
cada área a gestão de seus recursos (grifo nosso).
Como se vê, a redação do dispositivo legal determina que haverá uma comissão orçamentária
própria, formada por 1 representante de cada ramo da seguridade social. Além disso, o Conselho Nacional
da Previdência Social, o Conselho Nacional de Assistência Social e o Conselho Nacional de Saúde participam
ativamente desse processo de formação da proposta orçamentária de cada ramo da seguridade social.
108
FREDERICO MARTINS PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL RELACIONADOS AO CUSTEIO • 8
Art. 40. O regime próprio de previdência social dos servidores titulares de cargos efetivos
terá caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente federativo,
de servidores ativos, de aposentados e de pensionistas, observados critérios que
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
Há que se entender que o equilíbrio da seguridade social, em relação às suas contas públicas, se
escora na manutenção de sua higidez financeira e, bem assim, na conformidade de seus cálculos atuariais. O
primeiro aspecto (equilíbrio financeiro) refere-se à relação coerente que se deve buscar entre a arrecadação
e as despesas da seguridade social. Já o segundo aspecto (equilíbrio atuarial) refere-se especificamente à
previdência social e busca a positividade dos cálculos atuariais de seu sistema público de seguro. Lembre-se
109
FREDERICO MARTINS PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL RELACIONADOS AO CUSTEIO • 8
que a previdência social é, na verdade, um sistema de seguro social, no qual se pode manter a relação
jurídico-previdenciária com seus filiados por meio, em tese, de um regime de capitalização ou um regime de
repartição. Em Tema de finanças públicas, registro que o princípio do equilíbrio financeiro e atuarial é
setorial, destinado à seguridade social, mas decorre de uma base axiológica mais ampla, que visa ao equilíbrio
orçamentário de um modo geral.
Cabe lembrar que déficit público não significa sempre que o Estado esteja com suas contas públicas
comprometidas. Haverá comprometimento a partir de um determinado ponto, ou melhor, a partir do
momento e que o PIB nacional esteja exageradamente vinculado ao pagamento da dívida pública. Em relação
a esse último caso, como você deve ter acompanhado na mídia, no caso do Brasil, essa relação entre o
endividamento e o PIB atingiu níveis alarmantes nos últimos anos, nascendo desse contexto a necessidade
de aprovação da chamada Emenda do teto dos gastos públicos.
3. PRINCÍPIO CONTRIBUTIVO
Sobre a contributividade, trata-se de uma regra que somente se flexibiliza por conta do princípio da
equidade na forma de participação do custeio, com base na capacidade econômica do contribuinte. Embora
flexível, contudo, sem a contribuição não haverá a qualidade de segurado e, sem essa qualidade, não haverá
filiação e inscrição no sistema previdenciário, com a consequente situação de não cobertura da proteção
social contra as contingências previstas no art. 201 e seus incisos (morte, idade avançada, incapacidade,
reclusão e maternidade).
4. PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE
110
FREDERICO MARTINS PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL RELACIONADOS AO CUSTEIO • 8
há situações jurídicas nas quais prevalecerá o peso de seus valores a fim de se manter o equilíbrio financeiro
e atuarial de todo o sistema público de previdência social, ainda que – atenção - não haja uma
correspondência exata, por parte do RGPS, de benefícios ou serviços. Em outros termos, haverá situação na
qual alguém contribuirá, mas não terá retorno algum, contraprestação alguma, ou quase nenhuma, por parte
do sistema previdenciário público. Como exemplo, é possível citar que o Supremo Tribunal Federal, em
setembro de 2019, reafirmou sua jurisprudência no sentido de que o aposentado que retorna ao trabalho
deve contribuir para o RGPS, em razão do princípio da solidariedade do sistema previdenciário adotado.
Transcrevo a emenda do respectivo julgado:
Outro exemplo está no julgamento da ADI 3105, que reconheceu a constitucionalidade das regras
constitucionais advindas com a Emenda Constitucional nº 41 de 2003, a qual autorizou expressamente, e
diretamente no texto da Constituição, a cobrança de contribuições previdenciárias de inativos e pensionistas
nos regimes próprios de previdência.
Cabe lembrar que não existe a contribuição do aposentado ou pensionista do RGPS, tal como constou
do art. 40, caput, da CF de 1988, em relação aos servidores inativos e pensionistas dos regimes próprios. No
regime geral, o único caso no qual se autoriza a cobrança de contribuições previdenciárias ao aposentado é
se ele retornar ao trabalho, ou nele permanecer, conforme já explicitado nos tópicos anteriores.
A prévia fonte de custeio é princípio que evita a criação, extensão ou majoração de qualquer
benefício previdenciário, assistencial ou de saúde que não encontre uma previa fonte de custeio, tanto no
tópico do financiamento quanto orçamentário. Assim, deve haver contribuição social bastante para que haja
uma daquelas hipóteses de expansão da seguridade social, assim como deve haver prévia indicação de
dotação orçamentária para tanto.
Cabe registrar, contudo, que, dos recursos angariados na origem, tal como consta acima, há uma
exceção constitucional que permite que parte deles não chegue ao financiamento da seguridade social (ou,
pelo menos, não chegava até a EC nº 103 de 2019, como se verá adiante). Essa exceção constitucional resulta
na desafetação das contribuições sociais de sua destinação constitucional primária. Refiro-me a DRU –
Desvinculação das Receitas da União – e a DREM – Desvinculação das Receitas dos Estados e Municípios –,
mecanismos esses que estão previstos, respectivamente, nos arts. 76 e 76-A, do ADCT – Ato das Disposições
111
FREDERICO MARTINS PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL RELACIONADOS AO CUSTEIO • 8
Constitucionais Transitórias. Atualmente, após a EC nº 103/2019, a redação do art. 76, do ADCT prevê a
desvinculação das receitas da União relacionadas apenas:
• às contribuições sociais (em parte, estando ressalvadas da DRU todas as contribuições sociais para
a seguridade social desde a EC nº 103/2019);
• às contribuições de intervenção no domínio econômico; e
• às taxas.
Conforme disposto acima, a DRU, portanto, não incide sobre as contribuições sociais para a
seguridade social. Mas essa não incidência, sobre as contribuições sociais para a seguridade social, nem
sempre foi assim. É que a referida Emenda nº 103 incluiu o §4, do art. 76, do ADCT, afirmando expressamente
que a “desvinculação de que trata o caput não se aplica às receitas das contribuições sociais destinadas ao
custeio da seguridade social”.
A partir da EC nº 103 de 2019, não apenas as contribuições destinadas ao pagamento dos benefícios
do RGPS é que estarão fora da incidência da DRU, mas também todas as contribuições sociais destinadas
para a seguridade social (contribuições sociais estrito senso, previstas no art. 195, incisos I a IV, CF, bem como
as contribuições sociais para a seguridade social eventualmente criadas pela União por meio de sua
competência residual prevista no art. 195, §4º, CF24).
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e
indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
(Vide Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
(...)
§6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após
decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou
modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, "b". (grifos nossos)
24 Art. 195. (...) §4º. A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social,
obedecido o disposto no art. 154, I.
25 §2º Excetua-se da desvinculação de que trata o caput a arrecadação da contribuição social do salário-educação a que se refere o
§5º do art. 212 da Constituição Federal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 68, de 2011).
112
FREDERICO MARTINS PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL RELACIONADOS AO CUSTEIO • 8
A diversidade da base de financiamento é prevista no art. 195, da CF, exclamando a atuação conjunta
do poder público, dos trabalhadores e das empresas para que a seguridade social permaneça de pé em
termos financeiros. A diversidade da base de financiamento da seguridade social brasileira é mantida da
seguinte forma:
Essa base de financiamento pode ser aumentada por meio de lei complementar e desde que não
haja a criação de contribuição com a mesma base de cálculo e fatos geradores presentes nos tributos já
existentes (art. 195, §4º, c/c art. 54, I, CF/88).
Esse princípio já foi estudado. Vale repisar, contudo, o seu conceito, lendo-o, agora, dentro do
contexto do presente capítulo, para tomar a percepção de que se trata de base principiológica que completa
e equaliza a estrutura normativa da diversidade da base de financiamento da seguridade social. Perceba que
para cada parte envolvida no financiamento, então, há uma forma de participação que se amolda às suas
circunstâncias econômicas e sociais. O trabalhador e o empregador contribuem sobre o salário de
contribuição pago ou creditado a qualquer título, enquanto as empresas contribuirão com base na
receita/faturamento e lucro.
113
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
114
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
É possível chamar o estudo das regras gerais do RGPS, em analogia ao Direito Civil e ao Direito Penal,
de parte geral do Direito Previdenciário.
As contingências sociais que são cobertas pelo Regime Geral de previdência social podem ser
observadas na Constituição Federal de 1988 e, também, na Lei nº 8213 de 1991. São as seguintes
contingências sociais cobertas pelo regime geral de previdência social:
• doença;
• invalidez;
• morte;
• idade avançada;
• proteção à maternidade, especialmente a gestante;
• proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;
• proteção à família de baixa renda, por meio do salário-família;
• proteção à família de baixa renda em razão da reclusão do segurado instituidor.
Essas previsões estão assinaladas no art. 201, da Constituição Federal de 1988, que transcrevo
abaixo:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:
I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho e
idade avançada;
II - proteção à maternidade, especialmente à gestante;
III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda;
V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e
dependentes, observado o disposto no §2º.
Cabe destacar, contudo, como já assinalado anteriormente nessa obra, que o seguro-desemprego é
um benefício que não é pago do âmbito do INSS. Embora a Constituição Federal indique que a contingência
social do desemprego involuntário seja objeto do Regime Geral de Previdência Social, o seguro-desemprego
não é tratado desta forma pela legislação ordinária. A Lei nº 7.998 de 1990 determina que o seguro-
desemprego seja pago pelo Ministério do Trabalho, com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador.
Cabe lembrar, mais uma vez, que há discussão acerca da natureza jurídica do seguro-desemprego,
ou seja, se se trata de benefício previdenciário ou de benefício assistencial, ou ainda um benefício sui generis.
Sobre isso, a Administração Pública Federal, por meio da Advocacia Geral da União, editou a Parecer
CONJUR/TEM 256/2010, que aponta que se trata de benefício previdenciário. O órgão de advocacia pública
da União argumenta isso com base na leitura do artigo 201, inciso III, da Constituição Federal, o qual
prescreve literalmente o desemprego involuntário como objeto de cobertura da previdência social. De todo
modo, tem prevalecido entendimento de que se trata de um benefício de cunho mais assistencial do que
previdenciário.
As características gerais do regime geral de previdência social são: público, contributivo, escorado
no equilíbrio financeiro e atuarial, de filiação obrigatória para os trabalhadores em geral, de repartição e de
fundo único, solidário, de gestão quadripartite e custeio tripartite. A doutrina aponta que se trata de um
pacto político e social intra e intergeracional26.
26 Idem, p. 237.
115
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
1. SEGURADOS
No Regime Geral de previdência social há dois grandes grupos de segurados. Temos os segurados
obrigatórios e os segurados facultativos. Em geral, os segurados obrigatórios são os trabalhadores da
iniciativa privada, com algumas exceções dispostas na Lei nº 8.213 de 1991, de trabalhadores que, embora
vinculados à Administração Pública, ficam acobertados pelo Regime Geral da Previdência Social.
• segurado empregado;
• segurado empregado doméstico;
• segurado contribuinte individual;
• segurado trabalhador avulso;
• segurado especial.
O segurado especial é um tipo de trabalhador rural. Logo, não existe “segurado especial urbano”. Já
as outras espécies de segurados obrigatórios podem ser segurados urbanos ou rurais. É possível, assim, que
se tenha:
Com relação a distinção entre a categorização de um segurado obrigatório como sendo rural ou
urbano, há que se verificar a forma pela qual a norma faz esse enquadramento. A distinção reside na natureza
27 Conforme Gilson Ricardo, citando FERRAZ, Fernando Basto. Empregados domésticos. São Paulo: LTr, 2003: “A caracterização do
“âmbito residencial”, às vezes, apresenta alguns obstáculos na zona rural, pois como adverte Orlando Teixeira da Costa, “nem sempre
a propriedade utilizada pela família no interior guarda sua feição de moradia”. Em vista disto já podemos afirmar que, por prudência,
convém estudar, isoladamente, cada caso que se lhe nos for permitido apreciar no que diz respeito ao empregado doméstico rural,
de modo que não haja risco de considerarmos como doméstico o trabalhador rural, que não se enquadra nos termos da Lei nº
5.859/1972”.
116
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
da atividade ou do serviço efetivamente prestado pelo empregado ou pelo contribuinte individual. Nada
impede, portanto, que um trabalhador rural exerça a sua atividade rural dentro da cidade. Também não será
impeditivo o enquadramento de um trabalhador urbano que trabalha no campo. Tudo dependerá do tipo de
atividade realmente prestada por esse tipo de trabalho trabalhador.
Toda essa distinção é sobremaneira relevante no aspecto prático e não meramente conceitual.
Influencia diretamente, por exemplo, na eleição do requisito temporal da aposentadoria por idade destes
trabalhadores, bem como o aspecto contribuitivo, no caso do segurado especial.
No Brasil, existe uma lei que define o que é trabalhador rural. É a Lei nº 5.889/1973. É importante,
contudo, observar que o rol lá presente não é exaustivo, mas sim exemplificativo. Essa, pelo menos, e a
interpretação que tem sido extraída da leitura das normas daquela lei. Um administrador de fazenda, por
exemplo, pode ser trabalhador rural ou não. Tudo vai depender da natureza efetiva de seu labor, se
realmente rural ou meramente administrativo, sem nenhuma associação com as lides campesinas. Daí se
permite concluir que casos como o do administrador da fazenda sejam resolvidos mediante a conclusão de
que a preponderância de sua atividade se vincula à finalidade de manutenção das lides rurais no interior do
imóvel da fazenda.
Essa espécie de segurado obrigatório está prevista no art. 12, I, da Lei nº 8.212 de 1991, no art. 11, I,
da Lei nº 8.213 de 1991, bem como o art. 9º, I, do Decreto nº 3.048 de 1999.
Um dos traços mais marcantes do segurado empregado é que ele se beneficia de uma proteção
normativa em relação à hipótese de seu empregador não recolher as contribuições previdenciárias. Sabemos
que o RGPS é contributivo e, dessa maneira, a contribuição previdenciária é essencial para que o regime
jurídico-previdenciário esteja completamente delineado, acobertando o segurado daquelas contingências
sociais previstas no art. 201, da Constituição Federal. Entretanto, existem regras legais que definem a quem
cabe a obrigação de proceder aos recolhimentos previdenciários e, no caso do segurado empregado, essa
obrigação cabe ao empregador.
117
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
• o contribuinte individual que não presta serviço a uma ou mais empresas (isto é, presta seus
serviços a pessoas físicas apenas);
• o segurado facultativo;
• o segurado especial.
Afora essas três espécies, os demais possuem a proteção de que, em caso de não recolhimento pelo
empregador ou pelo contratante dos serviços (contribuinte individual que presta serviços a uma ou mais
empresas) ou pelo tomador de serviços (trabalhador avulso), mesmo assim, o segurado não será prejudicado.
Isso está previsto no art. 30, I, “a”, da Lei nº 8.212/1991, no art. 3º, §4º, da Lei nº 10.666/2003, bem como
no art. 29, §4º, do Decreto nº 3.048/1999:
SEGURADOS EMPREGADOS
NO BRASIL, É AQUELE QUE: NO EXTERIOR, É O:
presta serviço urbano à empresa, não eventual, com brasileiro que trabalha como empregado em sucursal ou
subordinação e remuneração; agência de empresa nacional no exterior;
presta serviço à missão diplomática (e a órgãos a ela brasileiro domiciliado e contratado no Brasil para
subordinados) trabalhar como empregado em empresa domiciliado no
118
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Na condição de segurado empregado, também, devemos lembrar, figura ainda o empregado rural.
O trabalho do empregado rural é regulado pela Lei nº 5.889 de 1973. O empregado rural é toda pessoa física
que, em propriedade rural ou em prédio rústico, presta serviços de natureza não eventual, sobre a
dependência deste e mediante salário. Cabe lembrar que, para o empregado rural, também vige a presunção
de recolhimentos previdenciários por parte de seu empregador.
Assim, mesmo que não haja o efetivo recolhimento das contribuições previdenciárias ao INSS, o
empregado rural não deixa de ser segurado obrigatório do Regime Geral da previdência social e,
consequentemente, não deixa de estar coberto e assim poder gozar dos benefícios previdenciários previstos.
Existem algumas espécies sobre as quais cabe fazer um registro: menor-aprendiz e aluno-aprendiz.
Quanto ao menor aprendiz, ele também é considerado segurado empregado. Isso porque a o art.
428, da CLT define o contrato de aprendizagem como sendo um contrato de trabalho especial, escrito e com
prazo determinado. Nesse contrato o empregador fica comprometido assegurar ao maior de 14 anos e menor
de 24 anos uma formação técnico profissional metódica. Portanto, o menor aprendiz é segurado obrigatório
do RGPS, sendo segurado obrigatório na condição de segurado empregado.
Já no que concerne ao aluno aprendiz, nem sempre será segurado do RGPS. Primeiramente, cabe
registrar que o aluno aprendiz não é sinônimo de menor aprendiz. O menor aprendiz deriva de um contrato
de aprendizagem. Já o aluno aprendiz deriva de escolas técnicas federais que antigamente existiam no Brasil.
O aluno aprendiz aprendia trabalhando em escola técnica federal, recebendo ou não pecúnia à conta do
orçamento público, ou salário indireto, representado por alimento, fardamento, atendimento médico-
odontológico e pousada.
Para que seja considerado segurado empregado, o aluno aprendiz deve perceber remuneração,
ainda que tal remuneração tenha se dado de maneira indireta, como por meio de alimentação, material
119
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
escolar, fardamento, parcela de renda auferida com a execução de encomendas para terceiros etc. Se isso
for comprovado, a jurisprudência entende que o tempo do aluno aprendiz pode ser contado como tempo de
contribuição, independentemente do recolhimento de contribuições. De acordo com o inciso IX, do art. 188-
G, do Decreto nº 3.048/1999, incluído pelo Decreto nº 10.410/2020, será considerado como tempo de
contribuição “o tempo exercido na condição de aluno-aprendiz referente ao período de aprendizado
profissional realizado em escola técnica, desde que comprovados a remuneração pelo erário, mesmo que
indireta, e o vínculo empregatício”.
Cabe lembrar que o empregado público, conforme a previsão dada pelo art. 40, parágrafo 13, da
Constituição Federal, está abrangido pelo Regime Geral da previdência social, eis que é regulado pela
consolidação das Leis do Trabalho:
Art. 40.
(...)
§13. Aplica-se ao agente público ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão
declarado em lei de livre nomeação e exoneração, de outro cargo temporário, inclusive
mandato eletivo, ou de emprego público, o Regime Geral de Previdência Social.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
É importante anotar algumas considerações sobre o detentor de mandato eletivo federal, estadual
ou municipal. Alguns anos após a EC 20 de 1998, foi editada a Lei nº 10.887 de 2004, a qual passou a incluí-
los como segurados obrigatórios na condição de empregados (art. 12, I, “j”, da Lei nº 8.212 de 1991):
Art. 12. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas:
I - como empregado:
(...)
j) o exercente de mandato eletivo federal, estadual ou municipal, desde que não vinculado
a regime próprio de previdência social; (Incluído pela Lei nº 10.887, de 2004).
Acerca dessa inovação legislativa, o Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento do Tema 691
de sua repercussão geral, afirmou que a
Registre-se, por fim, que a Emenda nº 103 alterou a redação do art. 38, inciso V, da Constituição
Federal, devendo a regra ali inserta ser lida em conjunto com o art. 40, §13º, CF, cuja nova redação também
120
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
foi dada pela EC nº 103 e diz que se aplica “ao agente público ocupante, exclusivamente, de cargo em
comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração, de outro cargo temporário, inclusive mandato
eletivo, ou de emprego público, o Regime Geral de Previdência Social”.
Conjugando a regra do art. 40, §13, com a do art. 38, V, teremos as seguintes situações:
• se o ocupante de mandato eletivo não for também servidor público efetivo, ou seja, se já não
estiver vinculado a regime próprio da previdência social, ficará automaticamente filiado ao
RGPS quando ocupar o cargo para o qual foi eleito. Exemplo: se o eleito ocupa o cargo de
deputado federal, sua remuneração será paga pelo Poder Legislativo da União e sua contribuição
será vertida para o RGPS;
• de outro lado, se o ocupante de mandato eletivo já for, antes da eleição, servidor público
efetivo e vinculado a regime próprio da previdência social, permanecerá filiado a esse regime
mesmo quando estiver ocupando o cargo para o qual foi eleito.
Em suma, a regra prevista no art. 12, I, “j”, da Lei nº 8.212 de 1991, continua valendo, mas deverá
ser lida com a possibilidade de que o eleito seja, na origem, um servidor público. Se for servidor público,
continuará vinculado ao regime próprio de previdência social do cargo público (se houver esse regime
próprio, pois sabemos que em muitos Municípios não houve sequer a implantação de regimes próprios e,
agora, com a Emenda nº 103, não poderão mais implementar tais regimes, a teor do art. 40, §22, CF); se não
for servidor de origem, ficará vinculado ao RGPS.
Além das disposições da Lei nº 8.212 de 1991, há algumas especificações normativas de outras
hipóteses de segurados empregados dispostas no art. 9º, I, do Decreto nº 3.048 de 1999 e art. 45, da
Instrução Normativa nº 128/2022, do INSS.
Do empregado
Art. 45. É segurado obrigatório na categoria de empregado:
(...)
XXV - o assalariado rural safrista, de acordo com o art. 14 da Lei nº 5.889, de 1973,
observado que para aqueles segurados que prestam serviços a empresas agroindustriais e
agropecuárias, a caracterização, se urbana ou rural, dar-se-á pela natureza da atividade
exercida, conforme definido no Parecer CJ nº 2.522, de 9 de agosto de 2001, caracterizando,
desta forma, a sua condição em relação aos benefícios previdenciários, observado o
disposto no art. 6º;
121
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
O segurado empregado doméstico tem a sua previsão normativa baseada nos elementos de
caracterização deste tipo de contrato de trabalho expostos na Lei Complementar nº 150 de 2015. Essa lei
complementar revogou a antiga Lei nº 5.859 de 1972. Veja:
Art. 1o Ao empregado doméstico, assim considerado aquele que presta serviços de forma
contínua, subordinada, onerosa e pessoal e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família,
no âmbito residencial destas, por mais de 2 (dois) dias por semana, aplica-se o disposto
nesta Lei.
O segurado empregado doméstico tem sua previsão de cobertura previdenciária pelo RGPS prevista
no art. 12, II, da Lei nº 8.212/1991:
Art. 12. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas:
(...)
II - como empregado doméstico: aquele que presta serviço de natureza contínua a pessoa
ou família, no âmbito residencial desta, em atividades sem fins lucrativos;
Perceba que se não houver a caracterização de um contrato de emprego doméstico, ou seja, se não
houver a prestação de serviços por mais de dois dias ao longo da semana, haverá, como dito, apenas diárias,
sendo que nesse caso a relação jurídica de filiação não será mais de segurado empregado doméstico, mas
sim contribuinte individual.
O grande traço caracterizador do trabalhador avulso é o fato de ele prestar suas atividades por
intermédio de um órgão gestor de mão-de-obra ou do sindicato da categoria. O órgão gestor de mão-de-
obra é uma entidade civil de utilidade pública, sem fins lucrativos, constituída pelos operadores portuários,
em conformidade com a lei. Tem por finalidade administrar o fornecimento de mão-de-obra do trabalhador
avulso28. A cobertura previdenciária do segurado trabalhador avulso está prevista no art. 12, VI, da Lei nº
8.212 de 1991:
Art. 12. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas:
(...)
VI - como trabalhador avulso: quem presta, a diversas empresas, sem vínculo empregatício,
serviços de natureza urbana ou rural definidos no regulamento;
É aquele que presta serviços, portanto, por meio do órgão gestor, a diversas empresas, não
apresentando nenhum vínculo empregatício com essas empresas, sendo elas de natureza urbana ou rural.
Como exemplos de trabalhadores avulsos podemos citar os seguintes: os trabalhadores que atuam na
atividade portuária (capatazia, estiva, conferência etc.), trabalhadores de estiva em geral (carvão, minério
28 AMADO, Frederico. Curso de Direito e Processo Previdenciário. 11ª edição, Editora JusPodvim, 2019, Salvador, p. 306.
122
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
etc.); o ensacador de café, cacau, sal e similares; o trabalhador da indústria de extração de sal; o guindasteiro
etc.29
O trabalhador avulso portuário possui uma previsão normativa que lhe dá direito a um exclusivo
benefício assistencial de até um salário-mínimo. É o que diz o art. 10-A, da Lei nº 9.719 de 1998, conforme
abaixo transcrevo:
Trata-se de espécie de segurado obrigatório que foi criada por meio da Lei nº 9.876 de 1999, sendo
decorrente da reunião das categorias até então existentes relacionadas ao empresário, ao autônomo e, por
fim, ao equiparado a autônomo. A previsão dos segurados contribuintes individuais se encontra no art. 12,
V, da Lei nº 8.212 de 1991:
Art. 12. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas:
(...)
V - como contribuinte individual:
(Redação dada pela Lei nº 9.876, de 1999).
a) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agropecuária, a qualquer título,
em caráter permanente ou temporário, em área superior a 4 (quatro) módulos fiscais; ou,
quando em área igual ou inferior a 4 (quatro) módulos fiscais ou atividade pesqueira, com
auxílio de empregados ou por intermédio de prepostos; ou ainda nas hipóteses dos §§10 e
11 deste artigo;
(Redação dada pela Lei nº 11.718, de 2008).
b) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade de extração mineral - garimpo,
em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por intermédio de prepostos, com
ou sem o auxílio de empregados, utilizados a qualquer título, ainda que de forma não
contínua;
(Redação dada pela Lei nº 9.876, de 1999).
c) o ministro de confissão religiosa e o membro de instituto de vida consagrada, de
congregação ou de ordem religiosa;
(Redação dada pela Lei nº 10.403, de 2002).
d) revogada;
(Redação dada pela Lei nº 9.876, de 1999).
e) o brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo oficial internacional do qual o
Brasil é membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo quando coberto por
regime próprio de previdência social;
(Redação dada pela Lei nº 9.876, de 1999).
f) o titular de firma individual urbana ou rural, o diretor não empregado e o membro de
conselho de administração de sociedade anônima, o sócio solidário, o sócio de indústria, o
sócio gerente e o sócio cotista que recebam remuneração decorrente de seu trabalho em
empresa urbana ou rural, e o associado eleito para cargo de direção em cooperativa,
associação ou entidade de qualquer natureza ou finalidade, bem como o síndico ou
29 Idem, p. 307.
123
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
administrador eleito para exercer atividade de direção condominial, desde que recebam
remuneração;
(Incluído pela Lei nº 9.876, de 1999).
g) quem presta serviço de natureza urbana ou rural, em caráter eventual, a uma ou mais
empresas, sem relação de emprego;
(Incluído pela Lei nº 9.876, de 1999).
h) a pessoa física que exerce, por conta própria, atividade econômica de natureza urbana,
com fins lucrativos ou não;
(Incluído pela Lei nº 9.876, de 1999).
Hipótese que confunde bastante e vale lembrar é a do “brasileiro civil que trabalha no exterior para
organismo oficial internacional do qual o Brasil é membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado,
salvo quando coberto por regime próprio de previdência social”. Essa hipótese é muito semelhante a uma
das espécies de segurado empregado no exterior, relativa ao “brasileiro civil que trabalha para a União, no
exterior, em organismos oficiais brasileiros ou internacionais dos quais o Brasil seja membro efetivo, ainda
que lá domiciliado e contratado, salvo se segurado na forma da legislação vigente do país do domicílio”.
Em síntese, se o brasileiro civil trabalhar diretamente para o organismo oficial internacional, será ele
contribuinte individual; já se ele trabalhar para a União, embora no organismo oficial internacional, aí será
ele segurado empregado. Ambas as hipóteses, contudo, indicam que o brasileiro não será segurado do RGPS,
caso ele já esteja coberto por algum tipo de previdência na forma da legislação do país estrangeiro no qual
possui domicílio.
Art. 201.
(...)
§7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos da lei,
obedecidas as seguintes condições:
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
(...)
II - 60 (sessenta) anos de idade, se homem, e 55 (cinquenta e cinco) anos de idade, se
mulher, para os trabalhadores rurais e para os que exerçam suas atividades em regime de
economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
Cabe pontuar, também, a previsão de que é contribuinte individual a pessoa física, proprietária ou
não, que explora atividade agropecuária, a qualquer título, em caráter permanente ou temporário, em área
superior a 4 (quatro) módulos fiscais. Essa previsão deve ser lida em conjunto com outra, que dispõe que é
segurado especial a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele
que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros a
título de mútua colaboração, na condição de “produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor,
assentado, parceiro ou meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rurais, que explore atividade”
agropecuária em área de até 4 (quatro) módulos fiscais.
Assim, havendo produção agropecuária em área maior do que 4 módulos fiscais, a norma
previdenciária deixa de enquadrar o trabalhador como segurado especial, mas sim como contribuinte
individual, exigindo contribuições.
124
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
O segurado contribuinte individual possui uma peculiaridade em relação aos demais segurados
obrigatórios. Para ele, a exigência de recolhimentos é direta, ou seja, ele mesmo quem deve recolher suas
contribuições previdenciárias, tal como, aliás, o segurado facultativo, até o dia 15 do mês subsequente ao
da competência. Essa é a dicção clara do art. 30, II, da Lei nº 8.212 de 1991:
Há uma única exceção quanto a essa obrigação de recolhimento direto pelo contribuinte individual.
Ela está prevista no art. 4º, da Lei nº 10.666 de 2003, que retrata a hipótese na qual o contribuinte individual
é contratado para prestar serviços a uma determinada empresa ou pessoa equiparada a empresa. Em tal
hipótese, o contribuinte individual não possui o ônus de promover o recolhimento de suas contribuições
previdenciárias, eis que é a empresa ou equiparada a empresa que arca com essa obrigação legal:
Assim, a regra geral é que o contribuinte individual deve recolher diretamente suas contribuições
previdenciárias ao INSS e, mais do que isso, que assim proceda até o dia “até o dia quinze do mês seguinte
ao da competência”.
Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas:
(...)
125
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
VII – como segurado especial: a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado
urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar,
ainda que com o auxílio eventual de terceiros, na condição de:
(Redação dada pela Lei nº 11.718, de 2008)
a) produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro
outorgados, comodatário ou arrendatário rurais, que explore atividade:
(Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)
1. agropecuária em área de até 4 (quatro) módulos fiscais;
(Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)
2. de seringueiro ou extrativista vegetal que exerça suas atividades nos termos do inciso XII
do caput do art. 2º da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, e faça dessas atividades o
principal meio de vida;
(Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)
b) pescador artesanal ou a este assemelhado que faça da pesca profissão habitual ou
principal meio de vida; e
(Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)
c) cônjuge ou companheiro, bem como filho maior de 16 (dezesseis) anos de idade ou a este
equiparado, do segurado de que tratam as alíneas a e b deste inciso, que,
comprovadamente, trabalhem com o grupo familiar respectivo.
(Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)
§1º Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o trabalho dos
membros da família é indispensável à própria subsistência e é exercido em condições de
mútua dependência e colaboração, sem a utilização de empregados.
§1º Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o trabalho dos
membros da família é indispensável à própria subsistência e ao desenvolvimento
socioeconômico do núcleo familiar e é exercido em condições de mútua dependência e
colaboração, sem a utilização de empregados permanentes.
(Redação dada pela Lei nº 11.718, de 2008)
Veja, agora, o que diz o art. 12, VII, da Lei nº 8.212 de 1991:
Art. 12. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas:
(...)
VII – como segurado especial: a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado
urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar,
ainda que com o auxílio eventual de terceiros a título de mútua colaboração, na condição
de:
(Redação dada pela Lei nº 11.718, de 2008).
a) produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro
outorgados, comodatário ou arrendatário rurais, que explore atividade:
(Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008).
1. agropecuária em área de até 4 (quatro) módulos fiscais; ou
(Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008).
2. de seringueiro ou extrativista vegetal que exerça suas atividades nos termos do caput do
art. 2º da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, e faça dessas atividades o principal meio de
vida;
(Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008).
b) pescador artesanal ou a este assemelhado, que faça da pesca profissão habitual ou
principal meio de vida; e
(Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008).
c) cônjuge ou companheiro, bem como filho maior de 16 (dezesseis) anos de idade ou a este
equiparado, do segurado de que tratam as alíneas a e b deste inciso, que,
comprovadamente, trabalhem com o grupo familiar respectivo.
(Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008).
§1º Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o trabalho dos
membros da família é indispensável à própria subsistência e é exercido em condições de
mútua dependência e colaboração, sem a utilização de empregados.
126
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
§1º Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o trabalho dos
membros da família é indispensável à própria subsistência e ao desenvolvimento
socioeconômico do núcleo familiar e é exercido em condições de mútua dependência e
colaboração, sem a utilização de empregados permanentes.
(Redação dada pela Lei nº 11.718, de 2008).
Premissa 1: para ser segurado especial não é necessário morar efetivamente no imóvel rural que
serve de produção, bastando que resida em aglomerado urbano ou rural próximo aquele. Isso está claro no
trecho que dispõe que o segurado especial precisa residir no imóvel rural ou “em aglomerado urbano ou
rural próximo a ele”. Isso é bastante comum em cidades do interior do Mato Grosso, ou Goiás, por exemplo,
sobretudo quando o segurado vai ficando mais velho e precisa com mais frequência dos serviços médicos
prestados na cidade.
Premissa 2: para ser segurado especial pode haver um grupo familiar ou um trabalho
individualmente exercido por aqueles que não constituíram família ou que de algum modo já as perderam.
Isso está previsto na norma quando ela dispõe que pode haver trabalho rural “individualmente ou em regime
de economia familiar”.
Premissa 3: para ser segurado especial nada impede que haja a colaboração de terceiros, a título de
mútua colaboração. Isso é bastante comum no campo, por exemplo, por meio da prática corriqueira de
“troca de diárias”, quando os vizinhos e confrontantes se ajudam e em mútua colaboração laboram na
propriedade um do outro.
Premissa 4: para ser segurado especial componente do grupo familiar, a lei afirma que o filho menor
deve ter no mínimo 16 anos de idade, dicção legal essa dada pela Lei nº 11.718 de 2008, que alterou a outrora
idade mínima de 14 anos. Essa alteração objetivou a conformação da norma infraconstitucional à norma
constitucional advinda pela EC nº 20 de 1998 no art. 7º, XXXIII, que passou a indicar a idade mínima de 16
anos para qualquer trabalho, salvo na condição de aprendiz a partir dos 14 anos. Nada obstante, a
jurisprudência tem interpretado de modo restritivo essa norma, para não excluir da proteção previdenciária
o direito de cônjuges menores de 16 anos, especialmente mulheres, que geralmente se casam cedo no
campo, ou que se tornam mães antes daquela idade. Dessa forma, a idade mínima de 16 anos somente seria
exigível ao filho menor, para que somente a partir dessa faixa etária passasse a compor o grupo familiar, não
se aplicando essa limitação ao cônjuge. Sobre isso, cabe lembrar do Tema 54 dos representativos de
controvérsia da TNU, que ilustra a pacificação da questão em âmbito judicial:
RAMO DO Direito
TEMA 54 SITUAÇÃO DO TEMA Julgado
DIREITO Previdenciário
Saber se a exigência etária de no mínimo 16 anos prevista no art. 11, VII, alínea “c”, da
QUESTÃO SUBMETIDA A
Lei nº 8.213/1991 se aplica ao cônjuge ou companheiro, ou apenas ao filho de produtor
JULGAMENTO
rural ou pescador artesanal.
127
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
ACÓRDÃO
JULGADO TRÂNSITO
PROCESSO RELATOR (A) PUBLICADO
EM EM JULGADO
EM
PEDILEF 2009.70.61.000792-
Juiz Federal Rogério Moreira Alves 27/6/2012 27/6/2012 24/7/2012
5/ PR
Premissa 5: para ser segurado especial deve haver trabalho em regime de subsistência em um imóvel
rural que corresponda a no máximo 4 módulos fiscais. Vale anotar que o módulo fiscal é uma medida cuja
agrimensura é variável em cada Município da Federação, de acordo com o INCRA. A lei escrita no art. 12, V,
“a”, é taxativa e inflexível ao afirmar que o trabalho rural em área superior a 4 módulos fiscais, ou ainda,
trabalho em área menor de 4 módulos fiscais com o auxílio de empregados ou prepostos, descaracteriza a
condição de segurado especial, ensejando a filiação à previdência social apenas na condição de contribuinte
individual. Nada obstante, a jurisprudência tem flexibilizado essa regra, veja-se a Súmula 30, da TNU:
No aspecto probatório destes enquadramentos como segurado especial, entendia-se, até a Lei nº
13.846 de 2019, que os meios provas só produziriam efeitos quando baseados em início de prova material,
não se admitindo prova exclusivamente testemunhal, nos termos do art. 55, §3º da Lei nº 8.213 de 1991.
Nada obstante, a jurisprudência também flexibilizou tal entendimento, minorando a exigência de provas
materiais para todos os anos de trabalho rural. Nesse sentido, a Súmula 14, da TNU, destaca que o início de
prova não precisa preencher minuciosamente todos os anos e períodos do intervalo de tempo em que houve
trabalho rural:
Súmula 14: Para a concessão de aposentadoria rural por idade, não se exige que o início de
prova material corresponda a todo o período equivalente à carência do benefício.
O mesmo restou pontuado no Tema 3, da TNU, que assinalou a possibilidade de se estender a eficácia
probatória do início de prova material por meio de complementação de prova testemunhal robusta:
RAMO DO Direito
TEMA 3 SITUAÇÃO DO TEMA Julgado
DIREITO Previdenciário
QUESTÃO SUBMETIDA A Saber se a prova material extemporânea, devidamente corroborada por prova oral
JULGAMENTO idônea, é hábil à concessão do benefício de aposentadoria por idade rural.
128
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
ACÓRDÃO
JULGADO TRÂNSITO EM
PROCESSO RELATOR (A) PUBLICADO
EM JULGADO
EM
Além disso, restou assentado no Tema 18 dos representativos de controvérsia da TNU a possibilidade
de uso de documentos de terceiros, como prova válida para satisfazer a exigência do início de prova material:
Julgado
(Súmulas 5 RAMO DO Direito
TEMA 18 SITUAÇÃO DO TEMA
e 14 da DIREITO Previdenciário
TNU)
QUESTÃO SUBMETIDA A Saber se documentos em nome de terceiros integrantes do grupo familiar, relativos à
JULGAMENTO propriedade da terra trabalhada, servem como início de prova material da atividade rural.
ACÓRDÃO
JULGADO TRÂNSITO EM
PROCESSO RELATOR (A) PUBLICADO
EM JULGADO
EM
Assim, sobre os documentos em nome de terceiros, mister ressaltar que o fato de o segurado não
dispor de documentos da atividade agrícola em seu nome não afasta o seu direito, eis que se admite como
início de prova material documentos em nome de terceiros, integrantes do grupo familiar, desde que a parte
autora apresente um mínimo documental em seu nome.
129
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
A redação atual do art. 55, §3º, da Lei nº 8.213/1991, manteve tal sistemática após as alterações
promovidas pela MP nº 871/2019, convertida na Lei nº 13.846/2019. Trata-se de dispositivo que se aplica a
qualquer pretensão de comprovação de “tempo de serviço” (rectius: tempo de contribuição). Por isso a
necessária permanência no ordenamento jurídico, mesmo considerando, como tenho exposto até aqui, as
alterações na sistemática de prova do trabalho rural do segurado especial.
Ainda funciona o art. 55, §3º, da Lei nº 8.213/1991, como instrumento normativo subsidiário
relativamente ao objetivo de se atingir aquela comprovação. Trata-se de norma subsidiária porque somente
terá aplicabilidade quando for constatada à “falta de documento”.
Isto é: a norma do art. 55, §3º, da Lei nº 8.213/1991, pode ser usada para a comprovação do trabalho
rural, mas sua aplicação na seara do segurado especial deriva, como visto, de remessa normativa feita pelo
art. 108, da Lei de Benefícios, sendo que esse dispositivo trata da solução jurídica que pode ser dada à “falta
de documento”. Não havendo documentos para a comprovação do trabalho rural, o segurado pode se valer
da justificação administrativa ou, trazendo isso para a prática judicial previdenciária, pode se valer de
produção probatória testemunhal, sendo, entretanto, vedada a “prova exclusivamente testemunhal” (art.
55, §3º, da Lei nº 8.213 de 1991).
Em síntese, dentro das novas normas que tratam da comprovação da qualidade de segurado especial,
o art. 108 c/c art. 55, §3º, da Lei nº 8.213/1991, ainda terá serventia para a demonstração do trabalho rural
em regime de economia familiar (desde que não haja documentos aptos a tal).
De certo que ainda se poderá encontrar situação na qual os documentos rurais juntados possam
estar em contradição ou, ainda, pouco esclarecedores, de modo que a prova testemunhal poderá servir a
esse fim. No entanto, a histórica função eficacial temporal de cunho prospectivo e/ou retrospectivo dos
documentos perdeu importância, pois, desde aquelas noveis normas são os próprios documentos que
possuem tal eficácia. Agora, são os próprios documentos, ou dados governamentais que contenham
informações do trabalhador rural, que possuem no seu bojo aquela eficácia prospectiva e retrospectiva. E
mais: para atingir essa finalidade, a nova norma previdenciária exige agora apenas 1 instrumento
ratificador (dado governamental ou documento) para cada metade do período de carência.
Assim, no panorama normativo atual, tudo gira em torno de uma autodeclaração do segurado
especial a ser ratificada por meio de dados extraídos de bases governamentais ou, se for o caso, por meio de
documentos complementares. A norma usa a expressão “instrumentos ratificadores” para se referir a
alguma consulta a base de dados governamentais ou, subsidiariamente, a algum documento complementar
que seja idôneo o suficiente para ratificar a autodeclaração apresentada.
130
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
A Constituição Federal de 1988, mesmo após as novas regras da EC 103/2019, prevê regras de
aposentadoria diferenciadas para o trabalhador rural em regime de economia familiar. Nota-se, portanto, o
que aduz a Constituição, primeiramente, quanto à redução do critério etário para a aposentadoria:
Art. 201.
(...)
§7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos da lei,
obedecidas as seguintes condições
(...)
II - 60 (sessenta) anos de idade, se homem, e 55 (cinquenta e cinco) anos de idade, se
mulher, para os trabalhadores rurais e para os que exerçam suas atividades em regime de
economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal.
Art. 195.
(...)
§8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem
como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia
familiar, sem empregados permanentes, contribuirão para a seguridade social mediante a
aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da produção e farão jus aos
benefícios nos termos da lei.
Para a aplicação dessa regra constitucional diferenciada para o trabalhador rural é que, além do
trabalho rural, é necessária a comprovação de que esse trabalho se desenvolveu em regime de economia
familiar, ou seja, em regime de subsistência pessoal ou de seu grupo familiar. Além disso, para os
trabalhadores rurais somente haverá necessidade de contribuição se houver apuração de resultado da
comercialização de suas produções agropecuárias. Bem por isso, há uma correlação indissociável entre
regime de economia familiar rural e inexistência de contribuição previdenciária.
E como ficam aqueles que não exercem nenhuma atividade na iniciativa privada ou no serviço público
ou ainda no âmbito militar? Para esses que não estão filiados em um regime de previdência social por conta
da sua atividade, existe a possibilidade de se filiarem como segurados facultativos, medida essa que
claramente se permite por conta do princípio da universalidade da cobertura e do atendimento, bem como
do princípio da solidariedade ínsito ao RGPS.
Na Lei nº 8.212 de 1991 a previsão de enquadramento do segurado facultativo é dada por exclusão,
por um critério residual. Assim, todos aqueles que não se enquadrarem no art. 12 daquela lei, que trata das
hipóteses de segurados obrigatórios, poderá, se quiser, se filiar ao RGPS como segurado facultativo, desde
que seja maior de 14 anos:
Art. 14. É segurado facultativo o maior de 14 (quatorze) anos de idade que se filiar ao
Regime Geral de Previdência Social, mediante contribuição, na forma do art. 21, desde que
não incluído nas disposições do art. 12.
131
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
O art. 13, da Lei nº 8.213 de 1991, repete esse mesmo critério de enquadramento:
Art. 13. É segurado facultativo o maior de 14 (quatorze) anos que se filiar ao Regime Geral
de Previdência Social, mediante contribuição, desde que não incluído nas disposições do
art. 11.
Nenhuma dessas leis, assim, esmiuça situações concretas de segurados facultativos, sendo esse
trabalho desempenhado pelo Decreto nº 3.048 de 1999, que aponta o seguinte:
Art. 11. É segurado facultativo o maior de dezesseis anos de idade que se filiar ao Regime
Geral de Previdência Social, mediante contribuição, na forma do art. 199, desde que não
esteja exercendo atividade remunerada que o enquadre como segurado obrigatório da
previdência social.
§1º Podem filiar-se facultativamente, entre outros:
I - a dona-de-casa;
II - síndico de condomínio, quando não remunerado;
III - o estudante;
IV - o brasileiro que acompanha cônjuge que presta serviço no exterior;
V - aquele que deixou de ser segurado obrigatório da previdência social;
VI - o membro de conselho tutelar de que trata o art. 132 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de
1990, quando não esteja vinculado a qualquer regime de previdência social;
VII - o bolsista e o estagiário que prestam serviços a empresa de acordo com a Lei nº 6.494,
de 1977;
VIII - o bolsista que se dedique em tempo integral a pesquisa, curso de especialização, pós-
graduação, mestrado ou doutorado, no Brasil ou no exterior, desde que não esteja
vinculado a qualquer regime de previdência social;
IX - o presidiário que não exerce atividade remunerada nem esteja vinculado a qualquer
regime de previdência social;
X - o brasileiro residente ou domiciliado no exterior, salvo se filiado a regime previdenciário
de país com o qual o Brasil mantenha acordo internacional; e
XI - o segurado recolhido à prisão sob regime fechado ou semi-aberto, que, nesta condição,
preste serviço, dentro ou fora da unidade penal, a uma ou mais empresas, com ou sem
intermediação da organização carcerária ou entidade afim, ou que exerce atividade
artesanal por conta própria.
Cabe pontuar, por fim, a existência de regra constitucional que veda expressamente o
enquadramento do servidor público como segurado facultativo, conforme o art. 201, §5º, da Constituição
Federal:
Art. 201.
(...)
§5º É vedada a filiação ao regime geral de previdência social, na qualidade de segurado
facultativo, de pessoa participante de regime próprio de previdência.
2. FILIAÇÃO E INSCRIÇÃO
Podemos definir a filiação como a relação jurídica que se estabelece entre uma pessoa física e o
regime geral de previdência social. A filiação jurídica a um determinado sistema previdenciário consolida no
patrimônio jurídico da pessoa um determinado reconhecimento do tempo de filiação correspondente. Ou
seja, para cada período de filiação haverá um correspondente tempo de contribuição ou, no caso de filiação
anterior a Emenda Constitucional nº 20 de 1998, tempo de serviço correspondente em alguns casos.
132
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Art. 20. Filiação é o vínculo que se estabelece entre pessoas que contribuem para a
previdência social e esta, do qual decorrem direitos e obrigações.
Art. 2º. Filiação é o vínculo que se estabelece entre a Previdência Social e as pessoas que
para ela contribuem, do qual decorrem direitos e obrigações.
§1º Filiado é aquele que se relaciona com a Previdência Social na qualidade de segurado
obrigatório ou facultativo, mediante contribuição ao RGPS.
(...)
Art. 3º. São segurados obrigatórios os filiados ao RGPS nas categorias de empregado,
empregado doméstico, trabalhador avulso, contribuinte individual e segurado especial.
§1º A filiação à Previdência Social, para os segurados obrigatórios, decorre
automaticamente do exercício de atividade remunerada.
Veja que, embora o §1º, do art. 3º, da Instrução expresse que a filiação para os segurados
obrigatórios decorrerá automaticamente do simples fato de existir atividade remunerada. O §2º, indo além,
deixa claro que a condição de “filiado” somente se delineia “mediante contribuição”.
Não há dúvidas, entretanto, de que o art. 34, I, da Lei nº 8.213 de 1991 garante que não haverá
prejuízo ao segurado empregado, inclusive o doméstico, bem como ao trabalhador avulso, se o empregador
ou o tomador de serviço não promover os recolhimentos previdenciários. Isso não afasta, contudo, a
conclusão de que a contribuição é elemento essencial, também, da filiação. A regra do art. 34, I, da Lei nº
8.213 de 1991, é apenas um mecanismo de proteção do trabalhador, a fim de que ele, como parte mais fraca,
não sofra prejuízo em sua cobertura previdenciária, se aquele a quem a lei incumbe o dever de arrecadar e
recolher as contribuições não o fizer. O mesmo se diga em relação ao contribuinte individual que presta
serviços a uma ou mais empresas, já que essas possuem a obrigação de recolhimento previdenciário do
prestador de serviços em tais casos, conforme art. 4º, da Lei nº 10.666 de 2003.
Veja, aliás, que a TNU já decidiu no Tema 29 de seus representativos de controvérsia que a presunção
de recolhimentos previdenciários por parte do empregador também deve incidir para os empregados
domésticos:
RAMO DO Direito
TEMA 29 SITUAÇÃO DO TEMA Julgado
DIREITO Previdenciário
133
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
ACÓRDÃO
RELATOR JULGADO TRÂNSITO EM
PROCESSO DECISÃO DE AFETAÇÃO PUBLICADO
(A) EM JULGADO
EM
Juíza
Federal
PEDILEF 2008.70.50.01.8498-
24/11/2011 Vanessa 24/11/2011 19/12/2011 24/01/2012
8/ PR
Vieira de
Mello
Quanto ao contribuinte individual que presta serviços à empresa a partir da competência abril/2003,
a TNU orienta até mesmo no sentido de recolhimentos previdenciários em atraso post mortem:
RAMO DO Direito
TEMA 26 SITUAÇÃO DO TEMA Julgado
DIREITO Previdenciário
QUESTÃO SUBMETIDA A Saber se é possível regularizar contribuições previdenciárias em atraso, após a morte de
JULGAMENTO segurado contribuinte individual exercente de atividade informal.
ACÓRDÃO
JULGADO TRÂNSITO EM
PROCESSO RELATOR (A) PUBLICADO
EM JULGADO
EM
Já o conceito de inscrição traduz-se no ato formal de filiação. Assim, a filiação é o movimento material
de ligação jurídica com a previdência social. Já a inscrição é simplesmente o cadastro, a anotação nos
registros do INSS dos elementos individuais do segurado, os quais se caracterizam por meio de sua atividade
laboral ativa remunerada ou por meio de sua atividade campesina ou, por fim, por meio da sua filiação
formal, no caso dos segurados facultativos. O Decreto nº 3.048/1999, no art. 18, define a inscrição:
Art. 18. Considera-se inscrição de segurado para os efeitos da previdência social o ato pelo
qual o segurado é cadastrado no Regime Geral de Previdência Social, mediante
comprovação dos dados pessoais e de outros elementos necessários e úteis a sua
caracterização, observado o disposto no art. 330 e seu parágrafo único, na seguinte forma:
(Redação dada pelo Decreto nº 3.265, de 1999)
A inscrição de todos os segurados e o seu tipo de filiação é feita no chamado Cadastro Nacional de
Informações Sociais – CNIS. A inscrição da pessoa física nesse cadastro gera um número correspondente de
identificação que consiste no número de identificação do trabalhador – NIT. Esse número de identificação do
trabalhador pode ser um número originariamente dado pelo INSS, ou derivar de outro número de
134
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
identificação já existente da pessoa, tal como o número NIT PIS/PASEP/SUS, ou, ainda, qualquer outro NIS -
número de identificação social, gerado pela Caixa Econômica Federal30.
Para os segurados obrigatórios a filiação nascerá, inicialmente, de modo coincidente com a própria
atividade laboral ativa do trabalhador, desde que seja remunerada.
A filiação dos segurados especiais decorre do simples fato de estarem exercendo suas atividades
campesinas em regime de economia familiar, isto é, por meio de produção agropecuária de subsistência, ou,
ainda, por meio da pesca artesanal. Quanto ao garimpeiro, lembro, somente se exige regime de economia
familiar para que ele tenha direito à aposentadoria com exigência reduzida de idade. Ele, no entanto, é
considerado contribuinte individual, não sendo segurado especial.
A filiação dos contribuintes individuais difere dos segurados obrigatórios, pois no caso daqueles não
basta que haja simplesmente o início das atividades laborais, devendo haver obrigatoriamente a contribuição
previdenciária respectiva para que se estabeleça a completa relação jurídico-previdenciária com o INSS. Isso
se deve ao fato de que o contribuinte individual é quem pessoalmente recolhe, geralmente, aos cofres do
INSS, conforme o art. 3º, II, da Lei nº 8.212/1991:
Lembro, contudo, mais uma vez, do fato de que o contribuinte individual que presta serviços para
uma pessoa jurídica, a partir da competência de abril/2003, conforme o art. 4º, da Lei nº 10.666/2003, não
recolhe diretamente a suas contribuições previdenciárias, eis que a responsabilidade é da empresa tomadora
do serviço.
A filiação do segurado facultativo é ainda mais dependente de algum ato de sua própria
responsabilidade. Deverá ele promover por ato próprio e de maneira formal essa filiação, bem como
proceder ao pagamento da primeira contribuição previdenciária. Em verdade, o segurado facultativo realiza
o ato de inscrição com a finalidade de se filiar, assim é comum a afirmação de que o segurado facultativo faz
a inscrição antes da filiação, diferentemente dos segurados obrigatórios. O Decreto nº 3.048, no art. 11, prevê
a idade mínima de 16 anos de idade para filiação do segurado facultativo, mas deve prevalecer a melhor
interpretação de que seria possível a filiação a partir dos 14 anos de idade, notadamente porque conquanto
30 Idem, p. 355.
135
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
não seja possível o trabalho do menor de 16 anos, isso é indiferente para o segurado facultativo, já que salvo
o estagiário, não trabalha.
3. TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO
Art. 59. Considera-se tempo de contribuição o tempo, contado de data a data, desde o
início até a data do requerimento ou do desligamento de atividade abrangida pela
previdência social, descontados os períodos legalmente estabelecidos como de suspensão
de contrato de trabalho, de interrupção de exercício e de desligamento da atividade (grifos
nossos).
O art. 59, do RPS, encontra-se atualmente revogado pelo Decreto nº 10.410/2020, que tratou da
definição de tempo de contribuição no art. 19-C, de modo que, por via de seu §2º, tem-se entendido que a
contagem das competências com recolhimento (igual ou superior ao mínimo) será feita por mês. Na vigência
do art. 59, do RPS, fala-se que a contagem ocorre “data a data” significava dizer que quando o segurado fizer
a contagem de seu tempo de contribuição, a totalidade desse tempo será expressará em anos, meses e dias.
Isso porque era considerada a data exata da admissão e da demissão do trabalhador, ou, ainda, do dia exato
do início e fim das atividades de trabalho.
De outro modo, falar que a contagem ocorrerá “por mês” significa dizer que será irrelevante no
cômputo total do tempo de contribuição do segurado que, em alguma competência, a atividade de trabalho
tenha sido feita em apenas quinze dias, por exemplo. Se um empregado for demitido aos 16 dias do mês de
março de 2020, por exemplo, já tendo ele 10 anos de contribuição, seu cômputo total do tempo de
136
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
contribuição não será 10 anos e 16 dias, mas, sim, 10 anos e 1 mês, desde que ele tenha recolhido sobre o
limite mínimo do RGPS.
Será analisado, agora, o que pode ser considerado tempo de contribuição. Pela leitura do atual art.
19-C, do Decreto nº 3.048/1999, com a redação dada pelo Decreto nº 10.410/2020, considera-se “tempo de
contribuição o tempo correspondente aos períodos para os quais tenha havido contribuição obrigatória
ou facultativa ao RGPS”. Essa é a definição de “tempo de contribuição”. E não poderia ser diferente, porque
sem contribuições e, consequentemente, sem a consideração do tempo de contribuição para que o segurado
possa gozar dos benefícios e serviços previdenciários, não há previdência, mas sim assistencialismo.
Cabe fazer um retrospecto de alterações constitucionais para melhor entender o conceito de tempo
de contribuição e sua crescente importância no RGPS.
A partir da Emenda nº 20/1998, o tempo de serviço como elemento apto a gerar aposentadoria foi
retirado do ordenamento jurídico, permanecendo apenas na redação do art. 4º, da referida emenda
constitucional. Esse art. 4º, da EC nº 20 assinalou que “o tempo de serviço considerado pela legislação vigente
para efeito de aposentadoria, cumprido até que a lei discipline a matéria, será contado como tempo de
contribuição”. Como não houve lei disciplinando a matéria, o tempo de serviço continuou a ser considerado
em algumas hipóteses. Sobre isso, a doutrina de Marisa Santos31 aduz:
O que findou de modo absoluto, pela EC nº 20 no RGPS, foi a contagem de tempo fictício ou tempo
contado em dobro no serviço público. Contudo, a partir da EC nº 103/2019 acabou de vez a possibilidade de
se computar “tempo de serviço”, salvo para os períodos até 13 de novembro de 2019. É que a EC nº 109
incluiu no §14, do art. 201 o seguinte:
§14. É vedada a contagem de tempo de contribuição fictício para efeito de concessão dos
benefícios previdenciários e de contagem recíproca.
Na medida em que o art. 201, §14, da Constituição, passa a vedar qualquer tempo em relação ao
qual não haja contribuição previdenciária recolhida, passa a impedir, também, a consideração do “tempo de
serviço”. Inclusive, neste ponto, importa salientar que o art. 25, §3º, da EC nº 103, asseverou que serão nulas
as aposentadorias concedidas nos regimes próprios, ou que venham a ser concedidas, com a consideração
de contagem recíproca com o RGPS, em tendo sido considerados períodos de tempo de serviço proveniente
desse regime geral:
§3º Considera-se nula a aposentadoria que tenha sido concedida ou que venha a ser
concedida por regime próprio de previdência social com contagem recíproca do Regime
Geral de Previdência Social mediante o cômputo de tempo de serviço sem o recolhimento
da respectiva contribuição ou da correspondente indenização pelo segurado obrigatório
31 SANTOS, Marisa Ferreira dos. Direito previdenciário esquematizado. 6ª edição – São Paulo, 2016, p. 289.
137
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Nada obstante, o referido §3º deve ser lido em consonância com seu caput, de maneira que deve ser
preservado o tempo de serviço considerado como tempo de contribuição até a data de entrada em vigor da
Emenda Constitucional nº 103 (13 de novembro de 2019), sob pena de ofensa ao direito adquirido. Além de
violar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito, o princípio tempus regit actum e, bem assim, o próprio art.
4º, da Emenda nº 20 de 1998, o qual não foi revogado pela Emenda nº 103.
A própria EC nº 103, aliás, fez a proteção do ato jurídico perfeito e do direito adquirido ao tempo de
serviço (que também é tempo fictício) tal como considerado na legislação vigente até a data de publicação
da referida emenda constitucional (EC nº 103). Veja-se o art. 25, da Emenda nº 103:
Art. 25. Será assegurada a contagem de tempo de contribuição fictício no Regime Geral de
Previdência Social decorrente de hipóteses descritas na legislação vigente até a data de
entrada em vigor desta Emenda Constitucional para fins de concessão de aposentadoria,
observando-se, a partir da sua entrada em vigor, o disposto no §14 do art. 201 da
Constituição Federal.
Pode-se considerar, assim, que o art. 4º, da EC nº 20 foi parcial e tacitamente revogado pelo art. 25,
da EC nº 103. Nada obstante, pelo art. 25, da Emenda 103 acima transcrito, deve-se entender que o tempo
de serviço que até então era possível de ser considerado como tempo de contribuição continuará assim
sendo considerado, desde que o respectivo período de tempo de serviço esteja temporalmente situado até
13 de novembro de 2019, data de vigência da última reforma previdenciária. O Supremo Tribunal Federal
também já se pronunciou nesse sentido, garantindo que a lei nova não pode desconstituir o tempo de serviço
então adquirido na vigência da norma anterior:
Tempo de serviço/ contribuição é disciplinado pela lei vigente à época em que efetivamente
prestado, passando a integrar, como direito autônomo, o patrimônio jurídico do
trabalhador.
E a lei nova que venha a estabelecer restrição ao cômputo do tempo de serviço/
contribuição não pode ser aplicada retroativamente, em razão da intangibilidade do direito
adquirido. Nesse sentido: STF, RE 783331/ RS, Min. Ricardo Lewandowski, DJe 1.8.2014 32.
A vedação dada pelo art. 201, §14, CF c/c art. 25, EC 103, aplica-se, portanto, da Emenda 103 para
frente. Assim, as normas até então vigentes, que tratavam de hipóteses de consideração de tempo de serviço
como tempo de contribuição para efeito de aposentadoria, devem ser ainda aplicadas. Elas têm
ultratividade, pois, mesmo após a Emenda nº 103, poderão ser consideradas para períodos anteriores a essa
emenda constitucional.
Por isso é importante ter conhecimento de tais normas. As hipóteses até então descritas na legislação
estavam previstas no art. 55, da Lei de Benefícios e art. 60, do Decreto nº 3.048/1999. O art. 55, da Lei de
Benefícios também trata de hipóteses de tempo de serviço, mas os seis incisos listados tratam, em geral, de
períodos nos quais haveria contribuição, com exceção dos incisos I, II e IV:
32Castro, Carlos Alberto Pereira de; Lazzari, João Batista. Manual de Direito Previdenciário (Locais do Kindle 22741-22744). Forense.
Edição do Kindle.
138
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
O inciso I trata, em verdade, de hipótese de contagem recíproca. Embora não estivesse muito claro
nos referidos incisos, com a Emenda nº 103 não restam dúvidas de que em havendo consideração de tempo
de serviço militar no RGPS, deverá haver a compensação financeira entre os respectivos regimes, conforme
disposto no art. 201, §9º-A:
§9º-A. O tempo de serviço militar exercido nas atividades de que tratam os arts. 42, 142 e
143 e o tempo de contribuição ao Regime Geral de Previdência Social ou a regime próprio
de previdência social terão contagem recíproca para fins de inativação militar ou
aposentadoria, e a compensação financeira será devida entre as receitas de contribuição
referentes aos militares e as receitas de contribuição aos demais regimes.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) (grifos nossos)
O inciso IV também se refere, na realidade, à contatem recíproca, mas deve ser lembrado que a
Emenda nº 103 vedou a adesão e a criação aos regimes próprios que foram criados anteriormente para
titulares de mandato eletivo, conforme art. 14, da Emenda33. Ao detentor de mandato eletivo, a partir da
Emenda nº 103, portanto, deve haver a filiação obrigatória ao RGPS, caso ele não seja servidor público filiado
a regime próprio34.
Quanto ao inciso II, ele permanece sendo computado como tempo de contribuição, conforme
previsão mantida pelo art. 19-C, §1º, do RPS, na redação dada pelo Decreto nº 10.410/2020:
33 Art. 14. Vedadas a adesão de novos segurados e a instituição de novos regimes dessa natureza, os atuais segurados de regime de
previdência aplicável a titulares de mandato eletivo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios poderão, por meio
de opção expressa formalizada no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data de entrada em vigor desta Emenda
Constitucional, retirar-se dos regimes previdenciários aos quais se encontrem vinculados.
34 Deve ser feita a leitura conjunta dos artigos 38, V, e art. 40, §13, ambos da CF 1988:
Art. 40. (...) §13. Aplica-se ao agente público ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e
exoneração, de outro cargo temporário, inclusive mandato eletivo, ou de emprego público, o Regime Geral de Previdência Social.
Art. 38. Ao servidor público da administração direta, autárquica e fundacional, no exercício de mandato eletivo, aplicam-se as
seguintes disposições: (...) V - na hipótese de ser segurado de regime próprio de previdência social, permanecerá filiado a esse regime,
no ente federativo de origem. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
35 Art. 4º - Observado o disposto no art. 40, §10, da Constituição Federal, o tempo de serviço considerado pela legislação vigente
para efeito de aposentadoria, cumprido até que a lei discipline a matéria, será contado como tempo de contribuição.
139
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
um Decreto cuidou de abordar as situações de “tempo de serviço” que poderiam ser consideradas como
“tempo de contribuição”. O Constituinte Derivado disse lei, mas o que se tinha era um decreto.
Nada obstante, ao tratar do Tema, o Decreto nº 3.048 praticamente não mudou a redação que se
usava antes existente no seu decreto antecessor (Decreto nº 2.172). Perceba o comparativo entre o que
dispunha o Decreto nº 2.172 e o que dispunha o Decreto nº 3.048, quando tratavam da aposentadoria por
tempo de serviço (no regime anterior) e por tempo de contribuição (no regime pós EC nº 20/1998):
Decreto nº 2.172/1997
Art. 57. Considera-se tempo de serviço o tempo, contado de data a data, desde o início até
a data do requerimento ou do desligamento de atividade abrangida pela previdência social,
descontados os períodos legalmente estabelecidos como de suspensão de contesto de
trabalho, de interrupção de exercício e de desligamento da atividade (grifos nossos).
Decreto nº 3.048/1999
Art. 59. Considera-se tempo de contribuição o tempo, contado de data a data, desde o
início até a data do requerimento ou do desligamento de atividade abrangida pela
previdência social, descontados os períodos legalmente estabelecidos como de suspensão
de contrato de trabalho, de interrupção de exercício e de desligamento da atividade (grifos
nossos).
Não havia nenhuma diferença, salvo a troca da expressão “tempo de serviço” por “tempo de
contribuição”, mantendo-se todos os elementos definidores do conceito. Ora, o que chama atenção é: como
o conceito de “tempo de contribuição”, então definido pelo art. 59, do Decreto nº 3.048/1999 (hoje revogado
pelo Decreto nº 10.410/2020) podia estar dissociado de qualquer termo ou expressão que vincule o ato de
contribuir? A meu ver, parecia ilógico considerar apenas e tão somente o “tempo, contado de data a data”
para definir um conceito que precisaria estar ligado ao algum elemento linguístico relacionado à
contribuição.
Eram anomalias normativas, incoerentes com o princípio do equilíbrio financeiro e atuarial que
vigiam e, por existir essa ultratividade dada pela parte final do art. 25, caput, da Emenda 103, ainda vigoram
de algum modo, para períodos anteriores a publicação dessa Emenda Constitucional. Porque, a bem da
verdade, ainda se vive uma fase de transição no trato da gestão atuarial do sistema previdenciário do RGPS.
Nesse sentido, o Decreto nº 3.048 até se propôs a amenizar o problema, com a indicação, como referido
acima, de hipóteses de “tempo de serviço” que podem até hoje serem consideradas “tempo de
contribuição”. Eram as hipóteses de tempo de serviço elencadas no art. 60, do Decreto nº 3.048, o qual dizia
que até “que lei específica discipline a matéria, são contados como tempo de contribuição, entre outros (...)”.
Sugiro uma leitura atenta ao artigo. Deixo de transcrevê-lo aqui pela sua extensão, mas faço as observações
pertinentes e importantes para o seu estudo dentro da ótica de sua possível ultratividade. Várias das
hipóteses listadas no art. 60, do Decreto nº 3.048 mencionavam – um pouco sem sentido, mas mencionavam
– a necessidade de ter havido contribuição para que o tempo de serviço seja então considerado tempo de
contribuição. Todavia, há algumas nas quais não se exigia essa prova, o que implicava considerar realmente
como tempo de contribuição a simplória constatação de tempo de serviço, independentemente de ter havido
ou não contribuição no período correspondente.
Para os períodos posteriores a Emenda 103, é o art. 19-C, do RPS, com a redação dada pelo Decreto
nº 10.410/2020, que dá o tom normativo inflexível em relação a exigência sempre constante da contribuição,
(veja como agora a palavra “contribuição” aparece, e muito bem, na definição do conceito de “tempo de
contribuição”):
140
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Art. 19-C. Considera-se tempo de contribuição o tempo correspondente aos períodos para
os quais tenha havido contribuição obrigatória ou facultativa ao RGPS, dentre outros, o
período:
(Incluído pelo Decreto nº 10.410, de 2020)
I - de contribuição efetuada por segurado que tenha deixado de exercer atividade
remunerada que o enquadrasse como segurado obrigatório da previdência social;
(Incluído pelo Decreto nº 10.410, de 2020)
II - em que a segurada tenha recebido salário-maternidade;
(Incluído pelo Decreto nº 10.410, de 2020)
III - de licença remunerada, desde que tenha havido desconto de contribuições;
(Incluído pelo Decreto nº 10.410, de 2020)
IV - em que o segurado tenha sido colocado em disponibilidade remunerada pela empresa,
desde que tenha havido desconto de contribuições;
(Incluído pelo Decreto nº 10.410, de 2020)
V - de atividade patronal ou autônoma, exercida anteriormente à vigência da Lei nº 3.807,
de 26 de agosto de 1960, desde que tenha sido indenizado conforme o disposto no art. 122;
(Incluído pelo Decreto nº 10.410, de 2020)
VI - de atividade na condição de empregador rural, desde que tenha havido contribuição na
forma prevista na Lei nº 6.260, de 6 de novembro de 1975, e indenização do período
anterior, conforme o disposto no art. 122;
(Incluído pelo Decreto nº 10.410, de 2020)
VII - de exercício de mandato eletivo federal, estadual, distrital ou municipal, desde que
tenha havido contribuição na época apropriada e este não tenha sido contado para fins de
aposentadoria por outro regime de previdência social;
(Incluído pelo Decreto nº 10.410, de 2020)
VIII - de licença, afastamento ou inatividade sem remuneração do segurado empregado,
inclusive o doméstico e o intermitente, desde que tenha havido contribuição na forma
prevista no §5º do art. 11; e
(Incluído pelo Decreto nº 10.410, de 2020)
IX - em que o segurado contribuinte individual e o segurado facultativo tenham contribuído
na forma prevista no art. 199-A, observado o disposto em seu §2º.
(Incluído pelo Decreto nº 10.410, de 2020)
§1º Será computado o tempo intercalado de recebimento de benefício por incapacidade,
na forma do disposto no inciso II do caput do art. 55 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991,
exceto para efeito de carência. (Incluído pelo Decreto nº 10.410, de 2020)
§2º As competências em que o salário de contribuição mensal tenha sido igual ou superior
ao limite mínimo serão computadas integralmente como tempo de contribuição,
independentemente da quantidade de dias trabalhados.
(Incluído pelo Decreto nº 10.410, de 2020)
§3º Na hipótese de o débito ser objeto de parcelamento, o período correspondente ao
parcelamento somente será computado para fins de concessão de benefício no RGPS e de
emissão de certidão de tempo de contribuição para fins de contagem recíproca após a
comprovação da quitação dos valores devidos.
(Incluído pelo Decreto nº 10.410, de 2020)
Importante assinalar, ainda, que para os períodos nos quais ainda se pode considerar o tempo de
serviço contado como tempo de contribuição, não há exigência de indenização de contribuições
previdenciárias. De outro lado, na esteira da lei, o Decreto nº 3.048/1999, já na redação dada pelo Decreto
nº 10.410/2020, clarifica a necessidade de indenização para os casos nos quais a atividade remunerada
desempenhada, quando foi prestada, não exigia filiação obrigatória à previdência social. Veja-se o art. 122,
do Decreto nº 3.048/1999, a respeito disso:
141
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
A contagem recíproca de tempo de serviço está prevista no art. 201, §§9º e 9º-A, ambos da
Constituição Federal. Essa compensação é feita nos termos das normas dispostas na Lei nº 9.796/1999, na
Lei nº 8.213/1991 e no Decreto nº 3.048/1999. Trata-se de um “acerto de contas” entre os regimes, quando
houver migração de um segurado do RGPS para o serviço público e vice-versa, ou entre algum regime
previdenciário militar e aqueles regimes.
Existem três grandes regimes previdenciários principais que protegem o trabalhador, em geral, da
proteção social relativa às contingências sociais: o RGPS, os regimes próprios e os regimes previdenciários
militares. Em relação aos militares, cabe registrar as alterações promovidas pela Emenda 103. Foi incluído
por essa Emenda Constitucional o §9-A ao art. 201, CF, que permite agora a mesma compensação entre
aqueles regimes e o regime previdenciário militar, desde que, na mesma medida, haja compensação
financeira entre os regimes. Assim, entre todos esses regimes, se houver migração, não pode o trabalhador
ter desconsiderado seu histórico contributivo anterior e, com isso, vir a ser prejudicado. Há nisso uma
simbiose entre os princípios da solidariedade, da contributividade e da proteção social da pessoa humana.
Justamente em função desses valores principiológicos que o direito à contagem recíproca de tempo
de contribuição se constitui como um direito constitucional de índole fundamental, assegurado ao
trabalhador de qualquer esfera, seja ele vinculado a Administração Pública, militar ou simplesmente
trabalhador da iniciativa privada.
A lei que assegura esse direito no plano infraconstitucional é a Lei nº 9.796/1999. Essa lei assegura a
contagem recíproca de tempo de contribuição, determinando que haja a compensação entre os regimes
previdenciários envolvidos. Na verdade, a própria Constituição Federal já determina que haja essa
compensação, mas a lei referida desce a detalhes a sistemática pela qual a compensação financeira deverá
ser feita.
Veja-se as definições dadas pelo art. 2º, da Lei nº 9.796/1999, a respeito do sistema de compensação
entre os regimes envolvidos:
Como se vê, o lado atuarial da contagem recíproca ocorre mediante a transferência financeira do
regime de origem para o regime instituidor. O regime instituidor será aquele que se responsabilizará pelo
pagamento do benefício previdenciário. A compensação financeira, contudo, somente é feita quando houver
o pagamento do benefício. Veja, por exemplo, que um servidor público que tenha vindo do Regime Geral de
Previdência Social, quando se aposentar, receberá regularmente a sua aposentadoria no regime próprio
respectivo. Este regime próprio, contudo, receberá, por compensação financeira, a proporção das
contribuições vertidas ao regime geral referente aposentadoria então recebida no regime próprio. Suponha-
se que ele tenha contribuído para o Regime Geral de Previdência Social por 15 anos e, então, foi aprovado
para o cargo de analista judiciário do Superior Tribunal de Justiça. Após atendidos todos os requisitos da
142
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
aposentadoria do servidor Público, ele poderá se aposentar. Contudo, aqueles 15 anos que foram averbados
no regime próprio e oriundos do RGPS deverão ser compensados financeiramente por esse regime.
Cabe lembrar, ainda, que há também a previsão da contagem recíproca de tempo de contribuição
no art. 94, da Lei nº 8.213/1991. Esse artigo exclui da possibilidade de contagem recíproca aqueles segurados
que contribuíram dentro do sistema especial de cobertura previdenciária, que permite o recolhimento com
alíquotas reduzidas, mas, em contrapartida, impede o direito à aposentadoria por tempo de contribuição
(que, desde a Emenda 103, passou a se chamar aposentadoria programada). Nesse sentido, aquele
dispositivo enuncia que não “será computado como tempo de contribuição, para efeito dos benefícios
previstos em regimes próprios de previdência social, o período em que o segurado contribuinte individual ou
facultativo tiver contribuído na forma do §2º do art. 21 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, salvo se
complementadas as contribuições na forma do §3º do mesmo artigo”.
O art. 96, da Lei nº 8.213/1991, ademais, estabelece algumas regras relacionadas à contagem
recíproca do tempo de contribuição, as quais, em suma, são:
Nos casos em que houver atividade concomitante no serviço público e na iniciativa privada existe,
em regra, uma vedação à contagem recíproca. Nessa hipótese, a CTC expedida pelo regime de origem sai
“zerada”, ou seja, sem tempo a ser contado também no regime de destino. A norma previdenciária entende
essa concomitância como uma forma de contagem fictícia de tempo. Seria como se o trabalhador estivesse
contando sempre em dobro o seu tempo de contribuição. Cabe ressaltar que, embora o período
concomitante não possa ser considerado para fins de contagem recíproca (ou seja, em um mesmo regime de
destino), poderá ser usado em regimes distintos. Portanto, perceba: a vedação à violação ao princípio da
unicidade não proíbe que o tempo de atividade concomitante seja aproveitado em regimes distintos.
Assim, somente o período não concomitante ou que não foi usado para a concessão de
aposentadoria em um regime é que poderá ser usado em outro regime, mediante a compensação financeira,
o que se dá por meio da contagem recíproca de tempo de contribuição. Cabe notar a ressalva constante do
art. 130, §12, do Decreto nº 3.048/1999, no sentido de que ficam ressalvados os casos de acumulação de
cargos ou empregos públicos admitidos pela Constituição. Nesse caso – de acumulação lícita de cargos -
temos a concessão de duas aposentadorias no mesmo regime próprio, a ser concedida em cada cargo.
5. SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO
143
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
ou seja, quanto ao que pode ou não ser considerado “folha de salários e demais rendimentos do trabalho”,
sendo certo que a densidade material desse conceito foi dada pelo legislador de modo idêntico entre as
contribuições da empresa e as contribuições do trabalhador. Há diferença, portanto, apenas quanto à
existência de limites mínimo e máximo.
Nada obstante essa identidade principiológica, no quanto relativo ao salário de contribuição destes
últimos, ou seja, no que concerne à base de cálculo da contribuição previdenciária do trabalhador e demais
segurados da previdência, ela não está prevista diretamente no corpo da Constituição Federal de 1988. O
art. 195, II, CF/1988, somente expressa que haverá contribuições sociais a serem exigidas do trabalhador e
demais segurados da previdência social, nada falando sobre o fato gerador do tributo:
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e
indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: (Vide
Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
I - dos empregadores, incidente sobre a folha de salários, o faturamento e o lucro;
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes
sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer
título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
(...)
II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, podendo ser adotadas
alíquotas progressivas de acordo com o valor do salário de contribuição, não incidindo
contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime Geral de Previdência
Social; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) (grifos nossos).
144
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
RMI
SALÁRIO DE SALÁRIO DE
CONTRIBUIÇÃO BENEFÍCIO (renda mensal
inicial)
O salário de contribuição servirá para, ao longo do tempo, formar o PBC – Período Básico de Cálculo
do segurado, ou seja, servirá para propiciar a checagem do quantitativo de remuneração e ganhos habituais
auferidos a qualquer título dentro do período de vida no qual houve trabalho. Nesse intervalo de tempo –
PBC – haverá a contabilização dos valores auferidos pelo trabalho – remuneração e ganhos habituais - para
efeito de apuração de médica aritmética dos correspondentes números encontrados e, com isso, a fixação
do salário de benefício do segurado.
O salário de contribuição, desse ponto de vista, portanto, é tudo que se paga ao trabalhador pelo
fruto de seu trabalho, excluindo-se, com isso, as verbas de natureza indenizatória. Note que, nesse segundo
aspecto, nessa visão secundária do salário de contribuição, – afeta, pois, ao regime normativo da concessão
de benefícios da previdência social – o salário de contribuição também funciona como base de cálculo, mas
não para nos referirmos mais à incidência de contribuições previdenciárias e, sim, para a formação do
período básico de cálculo e, consequentemente, do salário de benefício. É a base de cálculo para se extrair
o salário de benefício.
145
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
O art. 22, I, da Lei nº 8.212/1991, tanto na redação dada pela Lei nº 9.528/1997 - anterior, portanto,
a EC nº 20/1998 – quanto pela Lei nº 13.189/1915, indica como base de cálculo da contribuição previdenciária
a cargo da empresa o “total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer título”, conforme
disposto abaixo:
Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto
no art. 23, é de:
I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer
título, durante o mês, aos segurados empregados que lhe prestem serviços, destinados a
retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos
habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial,
quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador
ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo
coletivo de trabalho ou sentença normativa. (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 10.12.97)
I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer
título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestem
serviços, destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as
gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de
reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição
do empregador ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de
convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa.
De outro lado, o art. 28, I, II e III, da Lei nº 8.212/1991, indica invariavelmente o total das
remunerações recebidas pelo trabalhador segurado da previdência, seja ele empregado, trabalhador avulso,
empregado doméstico ou contribuinte individual.
O segurado facultativo não é mencionado por conta de seu salário de contribuição ser simplesmente
o que ele declarar, conforme art. 28, IV, da Lei de Custeio. Da mesma forma, não é mencionado o segurado
especial, uma vez que seu salário de contribuição será o resultado da comercialização de sua produção.
Quanto ao supratranscrito art. 195, I, “a”, da CF/88, indicava, antes da EC 20/1998, como base de
cálculo das contribuições previdenciárias a “folha de salários”. Após a referida Emenda, o Constituinte
Derivado ampliou a expressão da base de cálculo para abarcar a “folha de salários e demais rendimentos
pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo
empregatício”.
Dessa forma, o primeiro ponto a ser tratado quanto à definição de quais parcelas entram no conceito
de salário de contribuição, para que se considere a incidência válida das respectivas contribuições
previdenciárias, é que a norma constitucional e, bem assim, a norma legal, vão além do simples conceito de
146
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
“salário”. O conceito de “folha de salários e demais rendimentos do trabalho” se identifica com a definição
do gênero “remuneração”, não se limitando unicamente à espécie “salário”. Além disso, a expressão “folha
de salários”, mesmo antes de ser emendada por sua segunda parte (“demais rendimentos do trabalho”),
prevista no art. 195, I, “a”, CF/88, é fixada normativamente ao disposto no art. 201, §11, também da CF/88,
que assim diz:
Art. 201.
(...)
§11. Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao salário
para efeito de contribuição previdenciária e consequente repercussão em benefícios, nos
casos e na forma da lei. (Incluído dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
Com efeito, qualquer verba remuneratória, bem como qualquer verba, ademais, paga com caráter
de habitualidade, integrará o salário de contribuição para fins de incidência de contribuição previdenciária.
Assim, é de suma importância perceber que o conceito de “folha de salários” previsto na norma
constitucional é mais amplo do que o disposto na conceituação de salário pela legislação trabalhista (espécie
do gênero remuneração).
147
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
• 21. participação do empregado nos lucros ou resultados da empresa, quando paga ou creditada
de acordo com lei específica;
• 22. Abono do Programa de Integração Social/Programa de Assistência ao Servidor Público;
• 23. valores correspondentes a transporte, alimentação e habitação fornecidos pela empresa ao
empregado contratado para trabalhar em localidade distante da de sua residência, em canteiro
de obras ou local que, por força da atividade, exija deslocamento e estada, observadas as normas
de proteção estabelecidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego;
• 24. complementação ao valor do auxílio-doença desde que este direito seja extensivo à
totalidade dos empregados da empresa;
• 25. parcelas destinadas à assistência ao trabalhador da agroindústria canavieira de que trata o
art. 36 da Lei nº 4.870, de 1º de dezembro de 1965;
• 26. Valor das contribuições efetivamente pago pela pessoa jurídica relativo a programa de
previdência complementar privada, aberta ou fechada, desde que disponível à totalidade de seus
empregados e dirigentes, observados, no que couber, os arts. 9º e 468 da Consolidação das Leis
do Trabalho;
• 27. valor relativo à assistência prestada por serviço médico ou odontológico, próprio da empresa
ou com ela conveniado, inclusive o reembolso de despesas com medicamentos, óculos, aparelhos
ortopédicos, despesas médico-hospitalares e outras similares, desde que a cobertura abranja a
totalidade dos empregados e dirigentes da empresa;
• 28. valor correspondente a vestuários, equipamentos e outros acessórios fornecidos ao
empregado e utilizados no local do trabalho para prestação dos respectivos serviços;
• 29. ressarcimento de despesas pelo uso de veículo do empregado, quando devidamente
comprovadas;
• 30. Valor relativo a plano educacional que vise à educação básica, nos termos do art. 21 da Lei nº
9.394, de 1996, e a cursos de capacitação e qualificação profissionais vinculados às atividades
desenvolvidas pela empresa, desde que não seja utilizado em substituição de parcela salarial e
que todos os empregados e dirigentes tenham acesso ao mesmo;
• 31. valores recebidos em decorrência da cessão de direitos autorais;
• 32. valor da multa paga ao empregado em decorrência da mora no pagamento das parcelas
constantes do instrumento de rescisão do contrato de trabalho, conforme previsto no §8º do art.
477 da Consolidação das Leis do Trabalho.
• 33. Reembolso creche pago em conformidade com a legislação trabalhista, observado o limite
máximo de seis anos de idade da criança, quando devidamente comprovadas as despesas;
reembolso babá, limitado ao menor salário-de-contribuição mensal e condicionado à
comprovação do registro na Carteira de Trabalho e Previdência Social da empregada, do
pagamento da remuneração e do recolhimento da contribuição previdenciária, pago em
conformidade com a legislação trabalhista, observado o limite máximo de seis anos de idade da
criança;
• 34. valor das contribuições efetivamente pago pela pessoa jurídica relativo a prêmio de seguro
de vida em grupo, desde que previsto em acordo ou convenção coletiva de trabalho e disponível
à totalidade de seus empregados e dirigentes, observados, no que couber, os arts. 9º e 468 da
Consolidação das Leis do Trabalho.
Além da lista acima, acrescenta-se, ainda, outras verbas que foram apreciadas diretamente pelos
Tribunais, ora por não estarem presentes no rol de verbas acima, ora por estarem, mas que sofreram
questionamento sobre à validade ou não da respectiva incidência da contribuição previdenciária:
148
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
593.068 (Tema 163). Já havia abordado esse julgado quando tratei da análise sobre a questão da
retributividade como critério de inclusão no salário de contribuição.
c) Adicional Noturno;
d) Adicional De Insalubridade.
Com relação às verbas acima, elas também não integram o salário de contribuição, conforme o
julgado. Cabe chamar à atenção para o fato de que o reconhecimento da não incidência da contribuição
previdenciária nos casos acima se refere ao regime próprio de previdência. Relativamente ao RGPS, o
Supremo, no Tema 908, já afirmou a inexistência de repercussão geral no exame de questão envolvendo
indagação sobre a incidência ou não de contribuição previdenciária (tal como vimos nas linhas anteriores, no
sentido de que não há ofensa direta à Constituição nesses casos) no pagamento de: adicional de férias, aviso
prévio indenizado; 13º salário proporcional; auxílio-doença; horas extras.
CONTRIB ÓRGÃO
VERBA
PREVIDENCIÁRIA JULGADOR /
149
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
PREVISÃO
LEGAL
FÉRIAS GOZADAS DO TRABALHADOR EMPREGADO Incide STJ
ABONO DE FÉRIAS (venda de 1/3 de férias, ou até 20 dias – se Lei nº 8.212/91 (art.
previsto em norma contratual, regulamento da empresa ou Não incide 28, §9º, “e”, item
acordo/convenção coletiva - com base nos arts. 143 e 144, CLT) “6”)
150
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
151
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
152
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
O salário de contribuição previsto para o Regime Geral da previdência social indica um limite mínimo
e um limite máximo sobre o qual deve se formar a base de cálculo para a contribuição previdenciária e, de
outro lado, para o cálculo das prestações previdenciárias.
O limite mínimo confunde-se, inicialmente, com o salário-mínimo fixado nacionalmente, nos termos
do art. 7º, da Constituição Federal de 1988. Cabe frisar, entretanto, que é possível que haja, para além do
salário-mínimo fixado nacionalmente, alguma convenção normativa de determinada categoria profissional,
ou até mesmo norma legal relacionada a determinada classe de trabalhadores, que fixe um piso salarial.
Assim, havendo o piso salarial, seja ele derivado da lei ou derivado de um acordo coletivo de uma
determinada categoria, será ele o limite mínimo do salário de contribuição da previdência social.
Os limites vigentes no ano de 2022 estão previstos na portaria interministerial MTP/ME Nº 12, DE 17
DE JANEIRO DE 2022. Por esse ato normativo, o teto dos benefícios pagos pelo Instituto Nacional do Seguro
Social é de R$ 7.087,22. Já o piso é de R$ 1.212,00, que é o mesmo valor do salário-mínimo vigente para o
ano de 2022.
Dentro desses limites, a partir da EC nº 103/2019, passou a se considerar a incidência progressiva das
alíquotas aplicáveis no cálculo das contribuições previdenciárias devidas. Assim, o salário de contribuição do
segurado foi divido em faixas. Até a EC 103/2019 a alteração da alíquota se dava apenas em razão do valor
total da remuneração, sendo que, daquela Emenda em diante, a incidência passou a ser progressiva, ou seja,
por faixas salariais, assim como ocorre no imposto sobre a renda e demais rendimentos da pessoa física.
Cada faixa do salário de contribuição, previamente definida pela norma, será objeto de uma determinada
alíquota referente à incidência da contribuição previdenciária.
Com isso, teremos o conceito de alíquota por faixa e alíquota efetiva, sendo essa a média das
alíquotas incidentes em todas as faixas. É como se em cada faixa houvesse um “subteto” e um “subpiso”, de
modo que entre esses marcos incide a respectiva alíquota, conforme previsão dada pelo art. 28, da EC
103/2019:
153
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Art. 28. Até que lei altere as alíquotas da contribuição de que trata a Lei nº 8.212, de 24 de
julho de 1991, devidas pelo segurado empregado, inclusive o doméstico, e pelo trabalhador
avulso, estas serão de:
I - até 1 (um) salário-mínimo, 7,5% (sete inteiros e cinco décimos por cento);
II - acima de 1 (um) salário-mínimo até R$ 2.000,00 (dois mil reais), 9% (nove por cento);
III - de R$ 2.000,01 (dois mil reais e um centavo) até R$ 3.000,00 (três mil reais), 12% (doze
por cento); e
IV - de R$ 3.000,01 (três mil reais e um centavo) até o limite do salário de contribuição, 14%
(quatorze por cento).
§1º As alíquotas previstas no caput serão aplicadas de forma progressiva sobre o salário de
contribuição do segurado, incidindo cada alíquota sobre a faixa de valores compreendida
nos respectivos limites.
§2º Os valores previstos no caput serão reajustados, a partir da data de entrada em vigor
desta Emenda Constitucional, na mesma data e com o mesmo índice em que se der o
reajuste dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, ressalvados aqueles
vinculados ao salário-mínimo, aos quais se aplica a legislação específica (grifos nossos).
Art. 195.
(...)
§14. O segurado somente terá reconhecida como tempo de contribuição ao Regime Geral
de Previdência Social a competência cuja contribuição seja igual ou superior à contribuição
mínima mensal exigida para sua categoria, assegurado o agrupamento de contribuições.
DO TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO
Art. 27. Somente será computada como tempo de contribuição a competência cujo
recolhimento seja igual ou superior à contribuição mínima mensal exigida para sua
categoria.
(...)
Art. 28. A competência cujo recolhimento seja inferior à contribuição mínima mensal não
será computada para nenhum fim, ou seja, para o cálculo do valor do benefício, para a
carência, para a manutenção da qualidade de segurado, além do tempo de contribuição.
(...)
154
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Os fundamentos contra a novel norma do art. 195, §14, CF/88, em síntese, circunscrevem-se a
fundamentos ligados ao princípio da repercussão das contribuições nos proventos, conforme o que a
própria Constituição diz em outro dispositivo, qual seja o art. 201, §11. O Constituinte afirma que se houver
consideração dos ganhos habituais do empregado para efeito de contribuição previdenciária, também o será
para efeito de repercussão em benefícios previdenciários.
De outro lado, a novel norma também prevê forma de complementação, agrupamento e utilização
de saldo (recolhimento acima do mínimo em uma competência) pelos segurados em relação àquelas
competências em que a contribuição foi inferior ao mínimo. Isso está previsto expressamente na norma
transitória do art. 29, da EC 103:
Art. 29. Até que entre em vigor lei que disponha sobre o §14 do art. 195 da Constituição
Federal, o segurado que, no somatório de remunerações auferidas no período de 1 (um)
mês, receber remuneração inferior ao limite mínimo mensal do salário de contribuição
poderá:
I - complementar a sua contribuição, de forma a alcançar o limite mínimo exigido;
II - utilizar o valor da contribuição que exceder o limite mínimo de contribuição de uma
competência em outra; ou
III - agrupar contribuições inferiores ao limite mínimo de diferentes competências, para
aproveitamento em contribuições mínimas mensais.
Parágrafo único. Os ajustes de complementação ou agrupamento de contribuições
previstos nos incisos I, II e III do caput somente poderão ser feitos ao longo do mesmo ano
civil.
Assim, o segurado terá as seguintes opções, quando perceber que recolheu contribuição inferior ao
mínimo em uma competência, a fim de evitar que isso não valha nada para efeitos previdenciários no RGPS:
b) Agrupar o valor recolhido com outros valores recolhidos em outras competências, a fim de que a
soma das correspondentes competências resulte no patamar mínimo de contribuição exigida para fins de
efeitos previdenciários;
c) Utilizar um valor recolhido acima do piso em uma outra competência, cujo diferença a maior seja
suficiente para cobrir o déficit em uma competência recolhida abaixo do mínimo.
Contudo, de acordo com o parágrafo único, do art. 29, retrotranscrito, somente poderá haver ajustes
de complementação, agrupamento ou utilização de contribuições previstos nos incisos I, II e III, se feitos ao
longo do mesmo ano civil.
Calha lembrar, também, que antes mesmo da edição da Medida Provisória 808/2017 já existia no
ordenamento jurídico o artigo 5º, da Lei nº 10.666/2003, o qual, desde 2003, já dava o mesmo tratamento
ao contribuinte individual que presta serviços a pessoa jurídica, sendo que, nesses casos, esta pessoa jurídica,
tomadora do serviço, é a responsável por promover as retenções da contribuição e recolhê-las aos cofres do
INSS. A complementação, contudo, é da responsabilidade do contribuinte individual, conforme prescreve o
mencionado dispositivo:
155
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
6. SALÁRIO DE BENEFÍCIO
O salário de benefício é obtido pela média dos salários de contribuição acima do mínimo, ou melhor,
a média de remunerações/pagamentos sobre as quais incide a contribuição previdenciária. Conforme o §2º,
do art. 29, da Lei nº 8.213/1991, o “valor do salário-de-benefício não será inferior ao de um salário-mínimo,
nem superior ao do limite máximo do salário-de-contribuição na data de início do benefício”.
A identificação das rubricas remuneratórias permite a delimitação da base de cálculo para a formação
do salário de benefício, que se forma a partir da média mensal daquelas rubricas. Na etapa final desta
engrenagem, então, dentro do salário de benefício, conforme as regras de cada benefício previdenciário,
calcula-se a renda mensal inicial da prestação previdenciária. Para cada benefício previdenciário, quando
fizermos o estudo em espécie das prestações do RGPS, será possível perceber que o coeficiente do SB (salário
de benefício), será, geralmente, de 60%, nos termos das novas regras advindas pela EC 103.
Após a EC 20, sobreveio a Lei nº 9.876/1999, que implementou a sistemática de cálculo do salário de
benefício (que vigia até a EC 103), cujo cálculo passou a ser feito por meio da média aritmética simples dos
maiores salários de contribuição, correspondentes a 80% de todo o período contributivo. A regra, como se
percebe, permitia o descarte dos 20% mais baixos salários de contribuição, tratando-se de regra, em geral,
benéfica, pois esse descarte resulta no aumento da média dentro do PBC do segurado. Com a Emenda 103,
tem-se nova sistemática de cálculo do salário de benefício, que agora seguirá as regras previstas em seu art.
26, que assim dispõe:
Art. 26. Até que lei discipline o cálculo dos benefícios do regime próprio de previdência
social da União e do Regime Geral de Previdência Social, será utilizada a média aritmética
simples dos salários de contribuição e das remunerações adotados como base para
contribuições a regime próprio de previdência social e ao Regime Geral de Previdência
Social, ou como base para contribuições decorrentes das atividades militares de que tratam
os arts. 42 e 142 da Constituição Federal, atualizados monetariamente, correspondentes a
100% (cem por cento) do período contributivo desde a competência julho de 1994 ou desde
o início da contribuição, se posterior àquela competência.
Agora, para os fatos geradores ocorridos após 13 de novembro de 2019, data da publicação da
Emenda 103, deverá o salário de benefício ser calculado com base na média dos salários de contribuição
correspondentes a 100% do período contributivo desde julho de 1994. Deve-se perquirir a existência ou não
de direito adquirido à aplicação da sistemática de cálculo do regime anterior a EC 103/19. Ou seja, para os
fatos geradores ocorridos antes de 13 de novembro de 2019, deverá ser aplicável o disposto no art. 29, II, da
Lei nº 8.213/1991. Quanto à possibilidade de descarte de competências, a EC 103 ainda prevê tal instrumento
do segurado, mas com algumas mudanças. A previsão do descarte está na letra do §6º, do art. 26, da referida
Emenda, que assim dispõe:
§6º Poderão ser excluídas da média as contribuições que resultem em redução do valor do
benefício, desde que mantido o tempo mínimo de contribuição exigido, vedada a utilização
do tempo excluído para qualquer finalidade, inclusive para o acréscimo a que se referem os
§§2º e 5º, para a averbação em outro regime previdenciário ou para a obtenção dos
proventos de inatividade das atividades de que tratam os arts. 42 e 142 da Constituição
Federal.
156
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Assim, nada impede que o segurado possa descartar da média de suas contribuições aquelas que
resultem em menor valor do benefício, desde que mantido o tempo mínimo de contribuições exigido para a
concessão do benefício. Importante destacar que a regulamentação desse Tema pelo INSS foi feita por meio
da Portaria nº 450/2020 (alterada pela Portaria nº 528/2020), tendo chamado à atenção o fato de que na
norma infralegal foi definido, a contrario senso, que não se aplica a regra do descarte aos benefícios
previdenciários não programáveis, dentre os quais os decorrentes de incapacidade:
7. SEGURADOS E DEPENDENTES
A conceituação e espécies dos segurados já foram estudados. Agora, busquemos entender conceito
de dependentes. Os dependentes do segurado estão previstos no art. 16, da Lei nº 8.213/1991, in verbis:
Como se vê, pela leitura do dispositivo, existem três categorias ou classes de dependentes, arrolados,
respectivamente, nos incisos I, II e III, do art. 16, da Lei nº 8.213/1991. Cabe lembrar, contudo, que essas
classes não convivem ativamente, perante o INSS. Em outras palavras, não é possível que dependentes da
primeira e da segunda classe estejam, ao mesmo tempo, recebendo uma pensão por morte. É que a
existência de dependente de qualquer das classes do art. 16, da Lei nº 8.213/1991 exclui do direito às
prestações os das classes seguintes.
Além disso, a Emenda 103/19 determinou que não é mais possível a reversão de cotas. Isso significa
dizer que, quando um dependente, por algum motivo previsto na lei, não tiver mais direito a uma pensão
por morte, sua cota será cessada e ela não poderá ser revertida para outro dependente de qualquer classe.
Então, em síntese: a cota do dependente acaba sendo apenas dele, ou seja, se houver um
dependente apenas da 1ª classe – por exemplo, um filho menor de 21 anos não emancipado – somente ele
vai poder se habilitar ao recebimento de uma pensão por morte, mesmo que existam outros possíveis
dependentes de 2ª e 3ª classe. O filho menor de 21 anos, portanto, jamais concorrerá ao recebimento da
pensão com os pais do segurado instituidor ou, ainda, com o irmão deste, uma vez que eles são,
respectivamente, dependentes de 2ª e 3ª classe.
Além disso, imagine o exemplo de dois dependentes de classe 1, por exemplo, dois filhos menores
de 21 anos ainda não emancipados. Quando um deles atingir a chamada “maioridade previdenciária”, isto é,
157
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
21 anos de idade, a sua cota de pensão (metade) será cessada imediatamente e, conforme a novel disposição
dada pela Emenda 103, sua cota não poderá ser revertida para o outro dependente que já estava habilitado
também (o outro filho menor de 21 anos). O art. 21, §3º, da citada emenda constitucional, assinala que as
“cotas por dependente cessarão com a perda dessa qualidade e não serão reversíveis aos demais
dependentes”. Contudo, na medida em que deve ser sempre aplicada a lei vigente na data do óbito do
instituidor – e não a lei vigente no momento da cessação da cota – a proibição de reversão de cota somente
valerá para as pensões cujo óbito gerador do benefício tenha ocorrido antes de 13/11/2019, data da
publicação da Emenda 103/19.
Se o óbito for até aquela data, de outro lado, incide o disposto no art. 77, §1º, da Lei nº 8.213/1991,
de modo que reverterá em favor dos demais a parte daquele cujo direito à pensão cessar. Enquanto não
houver cessação e, no caso acima, reversão de cotas, a pensão por morte, havendo mais de um pensionista,
será rateada entre todos em parte iguais.
I. Cônjuge
II. Companheiro
III. Filho
a. filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos
b. Filho Inválido
c. Filho Com Deficiência
i. Deficiência Intelectual
ii. Deficiência Mental
iii. Deficiência Grave
Essa relação de dependentes da classe foi consolidada normativamente pela Lei nº 13.146/2015. A
primeira coisa que se deve observar com relação essa primeira classe de dependentes, é que a dependência
econômica nesses casos é de presunção absoluta, embora o art. 16, §4º, da Lei nº 8.213/1991 não mencione
expressamente isso. Segundo o referido dispositivo, a “dependência econômica das pessoas indicadas no
inciso I é presumida e a das demais deve ser comprovada”. Somente não haverá presunção absoluta de
dependência econômica em relação ao enteado e ao menor tutelado, os quais são dependentes de classe I
por equiparação, na forma do §2º, do art. 16, da Lei nº 8.213/1991. De acordo com esse dispositivo, o
enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho mediante declaração do segurado e desde que comprovada
a dependência econômica na forma estabelecida no Regulamento.
Note que isso não se trata de carência, mas sim apenas de um requisito temporal da comprovação
da união estável, o que na prática equivale a uma tarifação de prova para a demonstração do cumprimento
dos requisitos configuradores da relação de dependência. Paralelamente a essa exigência probatória, a
duração da união estável também é fator importante para a configuração temporal da relação jurídica de
158
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
dependente. É que, se a união estável for menor do que 2 anos, a duração da pensão por morte será de
apenas 4 meses, na forma do art. 16, §6º, c/c art. 77, §2º, V, alíneas “b” e “c”, ambos da Lei nº 8.213/1991:
Art. 16.
(...)
§5º As provas de união estável e de dependência econômica exigem início de prova material
contemporânea dos fatos, produzido em período não superior a 24 (vinte e quatro) meses
anterior à data do óbito ou do recolhimento à prisão do segurado, não admitida a prova
exclusivamente testemunhal, exceto na ocorrência de motivo de força maior ou caso
fortuito, conforme disposto no regulamento.
§6º Na hipótese da alínea c do inciso V do §2º do art. 77 desta Lei, a par da exigência do §5º
deste artigo, deverá ser apresentado, ainda, início de prova material que comprove união
estável por pelo menos 2 (dois) anos antes do óbito do segurado.
Art. 77.
(...)
§2º O direito à percepção da cota individual cessará:
(...)
V - para cônjuge ou companheiro
(...)
b) em 4 (quatro) meses, se o óbito ocorrer sem que o segurado tenha vertido 18 (dezoito)
contribuições mensais ou se o casamento ou a união estável tiverem sido iniciados em
menos de 2 (dois) anos antes do óbito do segurado;
c) transcorridos os seguintes períodos, estabelecidos de acordo com a idade do beneficiário
na data de óbito do segurado, se o óbito ocorrer depois de vertidas 18 (dezoito)
contribuições mensais e pelo menos 2 (dois) anos após o início do casamento ou da união
estável:
1) 3 (três) anos, com menos de 21 (vinte e um) anos de idade;
2) 6 (seis) anos, entre 21 (vinte e um) e 26 (vinte e seis) anos de idade;
3) 10 (dez) anos, entre 27 (vinte e sete) e 29 (vinte e nove) anos de idade;
4) 15 (quinze) anos, entre 30 (trinta) e 40 (quarenta) anos de idade;
5) 20 (vinte) anos, entre 41 (quarenta e um) e 43 (quarenta e três) anos de idade;
6) vitalícia, com 44 (quarenta e quatro) ou mais anos de idade.
VI - pela perda do direito, na forma do §1º do art. 74 desta Lei.
Em suma:
• se a união estável for igual ou maior do que 2 anos, a duração das prestações recebidas pelo
cônjuge sobrevivente ou companheiro(a) sobrevivente variará conforme a idade desses, desde
que, além do tempo da união estável, o segurado instituidor já detivesse, também, igual ou mais
do que 18 contribuições vertidas para o INSS (seguidas ou não);
• Se a união estável for menor do que 2 anos, ainda que o segurado instituidor detivesse igual ou
mais do que 18 contribuições, a pensão não passará de 4 meses;
• Se a união estável for maior do que 2 anos, mas o segurado instituidor não detivesse à época do
óbito igual ou mais do que 18 contribuições, a pensão não poderá ultrapassar 4 meses.
Cabe chamar à atenção, ainda, para a Súmula 336, do Superior Tribunal de Justiça, que assinala que
a mulher que renunciou aos alimentos na separação judicial tem direito à pensão previdenciária por morte
do ex-marido, comprovada a necessidade econômica superveniente. Isso quer dizer que o cônjuge que,
embora estivesse separado do segurado instituidor ao tempo do óbito, comprovar que dependia
economicamente dele, poderá ter direito à pensão por morte junto ao INSS. E cabe anotar que o
entendimento fixado na Súmula 336, do Superior Tribunal de Justiça, não se aplica apenas às situações de
separação judicial, mas também se estende aos casos de divórcio.
Quanto aos filhos de qualquer condição, menor de 21 anos, sem nenhum grau de invalidez ou
deficiência mental, intelectual ou grave, somente será considerado dependente até os 21 anos de idade ou
159
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
até eventual causa de emancipação. Argumentava-se muito, outrora, que, no trilho do entendimento
aplicável ao Direito de Família, a manutenção da qualidade de dependente do filho deveria se estender até
os 25 anos de idade. Mas a jurisprudência se solidificou no sentido de que isso não é possível na seara
previdenciária, já que a Lei nº 8.213/1991 deixa claro que o dependente é o filho menor de 21 anos, não
podendo haver alargamento dessa hipótese, notadamente por conta do princípio da prévia fonte de custeio
e, bem assim, do equilíbrio financeiro e atuarial do sistema.
Acerca da condição de invalidez do filho, o art. 17, do Decreto nº 3.048/1999, assevera que para se
enquadrar como dependente do segurado era indispensável que a invalidez do filho tenha ocorrido antes
dos 21 anos de idade ou, caso tenham ocorrido as hipóteses da lei civil, antes das causas de emancipação:
(...) 2. Consoante a jurisprudência do STJ, é irrelevante o fato de a invalidez ter sido após a
maioridade do postulante, uma vez que, nos termos do artigo 16, III c/c o parágrafo 4º, da
Lei 8.213/1991, é devida a pensão por morte, comprovada a dependência econômica, ao
filho inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou
relativamente incapaz, assim declarado judicialmente. (AREsp 1570257/RS, Rel. Ministro
Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 21/11/2019, DJe 19/12/2019)
A Turma Nacional de Uniformização reverbera esse entendimento, desde que a invalidez tenha
ocorrido antes do óbito:
160
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Assim, não importa se a invalidez ocorreu após a maioridade ou emancipação, de modo que o
surgimento dela antes do óbito é causa suficiente da constituição da relação de dependência, para fins de
enquadramento do filho maior no rol do art. 16, I, da Lei nº 8.213/1991, conquanto com a ressalva de que a
dependência econômica nesses casos deverá ser devidamente comprovada.
Quanto ao menor sob guarda, ele já foi expressamente considerado dependente, mas não é mais.
Era considerado dependente até a edição da medida provisória nº 1.523/1996, a qual foi sucessivamente
reeditada e posteriormente revogada pela MP nº 1.596/1997 (com a qual guardava muitas semelhanças),
para em seguida ser convertida na Lei nº 9.528/1997, alterando definitivamente o §2º, do art. 16, da Lei de
Benefícios e excluindo o menor sob guarda da proteção previdenciária do RGPS.
Contudo, importante assinalar que o Supremo Tribunal Federal julgou as ADIs 4878 e 5083, dando
interpretação conforme a Constituição Federal ao §2º do art. 16 da Lei nº 8.213/1991, para não afastar o
menor sob guarda da cobertura previdenciária. Vale lembrar que se trata de decisão proferida em ação de
controle concentrado de constitucionalidade, logo, com eficácia erga omnes e vinculante em relação aos
demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e
municipal.
Na segunda classe prevista no inciso II, do art. 16 da Lei nº 8.213/1991, tem-se como dependentes
do segurado apenas os pais. Os pais serão os dependentes chamados à habilitação dos benefícios de pensão
por morte ou auxílio-reclusão, na falta dos dependentes indicados na primeira classe do referido artigo. A
grande questão em relação aos dependentes da segunda classe é que eles precisam demonstrar a
dependência econômica em relação ao segurado instituidor.
Não se trata, muito importante frisar, de colaboração eventual ou ajuda pontual sobre alguma
contingência financeira dos pais, mas sim de uma simbiose orçamentária que define uma indispensável
participação orçamentária, seja em dinheiro, seja em pagamento in natura de determinadas necessidades
básicas da vida dos daqueles. Somente assim haverá dependência econômica. Deve haver substancialidade
e a habitualidade da participação financeira do segurado instituidor em relação os pais. No âmbito da própria
Administração Pública, tem-se o Enunciado 13, do Conselho de Recursos da Previdência Social, cujo teor
aponta que a dependência econômica pode ser até parcial, mas precisa representar um auxílio "substancial,
permanente e necessário, cuja falta acarretaria desequilíbrio dos meios de subsistência do dependente"36.
Assim como apontados em linha supra, a respeito da comprovação da união estável, as recentes
alterações legais passaram a exigir que a comprovação da dependência econômica seja feita também por
início de prova material, não se admitindo prova exclusivamente testemunhal para essa finalidade. Veja o
dispositivo legal, incluído pela Lei nº 13.846/2019, no art. 16, da Lei nº 8.213/1991:
Art. 16.
(...)
§5º As provas de união estável e de dependência econômica exigem início de prova material
contemporânea dos fatos, produzido em período não superior a 24 (vinte e quatro) meses
anterior à data do óbito ou do recolhimento à prisão do segurado, não admitida a prova
exclusivamente testemunhal, exceto na ocorrência de motivo de força maior ou caso
fortuito, conforme disposto no regulamento. (Incluído pela Lei nº 13.846, de 2019, grifos
nossos)
Com efeito, foi abandonado o sistema de livre convencimento motivado ou da persuasão racional do
juízo em relação a essas questões. A partir das alterações acima noticiadas, passou a valer para o sistema da
36 Ibidem, p. 587.
161
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
prova tarifada na comprovação da união estável e da dependência econômica, implicando, a lei, maior valor
para a prova documental contemporânea aos fatos que se pretende provar.
Aprendemos, até aqui, que no processo de filiação e inscrição há que se observar inexoravelmente o
recolhimento das contribuições previdenciárias devidamente vertidas aos cofres do INSS. Sabe-se que não
há como manter um sistema de proteção social previdenciário, lastreado, portanto, no princípio da
contributividade, sem que os segurados recolham, efetivamente, a suas contribuições aos cofres públicos
previdenciários. De outro lado, o RGPS também se escora em outro princípio bastante importante, já
estudado. Refiro-me ao princípio da solidariedade.
Existem algumas hipóteses indicadas pela lei que permitem o período de graça. O gozo de um
benefício previdenciário, por exemplo, permite que o beneficiário não contribua e mesmo assim mantenha
sua qualidade de segurado. Há uma exceção, apenas, quanto ao auxílio-acidente, desde a Medida Provisória
871/19, convertida na Lei nº 13.846/2019. Assim, quem está em gozo de auxílio-acidente, por si só, não
mantém a qualidade de segurado independentemente do recolhimento de contribuições, tal como nos
demais benefícios. Cabe perceber, ademais, que quem está no gozo de benefício conserva essa qualidade de
segurado sem limite de prazo.
Também mantém a qualidade de segurado o beneficiário de algum benefício por incapacidade, isto
é, auxílio por incapacidade temporária ou aposentadoria por incapacidade permanente. Todavia, após a
cessação desses benefícios, há, ainda, mais um tempo durante o qual se preserva a qualidade de segurado
mesmo que não haja nenhuma contribuição por parte do segurado. O prazo é de 12 meses após a cessação
daqueles benefícios.
Existe, ainda, a hipótese do segurado que foi acometido por alguma doença de segregação
compulsória. Nessa situação, após cessar a segregação, a norma permite um período de graça de 12 meses
também.
Além das duas hipóteses acima, há mais uma, por fim, que também prevê um período de graça de
12 meses, referente ao segurado que estava recluso ou detido. Após o livramento do segurado detido ou
recluso, ele ganha 12 meses de período de graça, considerando-se segurado mesmo sem recolher uma única
contribuição aos cofres do RGPS.
162
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Para o segurado facultativo, o período de graça é reduzido para apenas 6 meses após a cessação das
suas contribuições.
Também há a previsão de um período de graça de até três meses após o licenciamento referente ao
segurado incorporado às Forças Armadas para prestar serviço militar.
É no art. 15, da Lei nº 8.213/1991, bem como no art. 13, do Decreto 3.048/1999, que é possível
verificar como o legislador tratou de disciplinar o denominado período de graça. Como o próprio nome diz,
para que o segurado mantenha sua relação jurídico-previdenciária mesmo sem pagar por ela. Em outros
termos, continua sendo segurado do RGPS de graça, sem ter que recolher para isso.
Cabe registrar que, apesar de ser tido como segurado aquele que se encontra em período de graça,
obviamente, não é possível considerar esse intervalo de tempo como tempo de contribuição ou, ainda,
carência para quaisquer benefícios da previdência social.
Os períodos de graça discriminados nos dispositivos citados acima são dirigidos, a princípio, a todos
os segurados do Regime Geral da Previdência Social. Todavia, há certas hipóteses de período de graça que
não se aplicariam, em tese, a todos os segurados. Por exemplo, há uma hipótese normativa que permite a
extensão do período de graça em mais doze meses ao segurado que se encontra em situação de desemprego
involuntário. A princípio, trata-se de regra que somente teria cabimento para o segurado empregado.
Entretanto, é necessário destacar que a jurisprudência caminha no sentido contrário à lição doutrinária
citada. A TNU já se posicionou no sentido de que os prazos de prorrogação previstos em relação ao período
de graça do art. 15, da Lei nº 8.213/1991, seriam extensíveis aos demais segurados obrigatórios:
163
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, a Turma
Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos juizados Especiais Federais, por
unanimidade, CONHECEU do incidente de uniformização e, por maioria, DEU-LHE PARCIAL
PROVIMENTO, nos termos do voto do (a) Juiz (a) Federal DANIEL MACHADO DA ROCHA, que
lavra o presente acordão. (PEDILEF 05009466520144058400, Juiz Federal Daniel Machado
da Rocha, TNU, DOU 03/06/2016 páginas 79/167, grifos nossos)
Pelo art. 15, §1º, da Lei nº 8.213/1991, ademais, é possível a prorrogação do período de graça por
mais 12 meses após o segurado ter contribuído por mais de 120 meses sem interrupções. A jurisprudência
da TNU assinalou que, alcançado esse quantitativo de contribuições, ocorre a incorporação definitiva daquela
vantagem, ou seja, o segurado pode usar novamente a expansão do período de graça no caso de se defrontar
com um novo período longo sem recolhimentos. Pode ele, ainda, usar mesmo após a perda de sua qualidade
de segurado. Foi, então, firmada “a tese de que se incorpora definitivamente ao patrimônio jurídico do
segurado(a) a extensão do período de graça previsto no §1º do art. 15 da Lei nº 8.213/91 quando houver
contribuído por mais de 120 meses sem interrupções que importem a perda da qualidade de segurado(a)”,
conforme PUIL nº 0001377-02.2014.4.03.6303/SP (extraído do Boletim nº 28, da TNU).
Uma questão a ser lembrada se refere à hipótese de fuga do segurado recolhido à prisão. Se isso
ocorrer, o período de graça do foragido já eventualmente usado antes do recolhimento será descontado do
novo prazo de manutenção que se abrir após a fuga. Essa norma está prevista no art. 139, da Instrução
Normativa INSS nº 128/2022:
Art. 187. No caso de fuga do recolhido à prisão, será descontado do prazo de manutenção
da qualidade de segurado, a partir da data da fuga, o período de graça já usufruído antes
da reclusão.
Também é importante lembrar da regra específica que está prevista no art. 3º, da Lei nº 10.666/2003,
no sentido de que a perda da qualidade de segurado não será considerada para concessão das
aposentadorias por tempo de contribuição e especial. Na aposentadoria por idade vige a mesma regra.
164
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
A perda da qualidade segurado ocorrerá no dia seguinte à data máxima prevista para o recolhimento
da contribuição previdenciária relativa ao mês seguinte ao fim do período de graça. Isso está previsto no art.
14, do Decreto nº 3.048/1999, que assim diz:
Art. 14. O reconhecimento da perda da qualidade de segurado no termo final dos prazos
fixados no art. 13 ocorrerá no dia seguinte ao do vencimento da contribuição do
contribuinte individual relativa ao mês imediatamente posterior ao término daqueles
prazos. (grifos nossos)
Lembrando que, conforme a Lei nº 11.933/2009, que alterou a redação do art. 30, I, “b”, da Lei nº
8.212/1991, é o dia 20 do mês subsequente a data limite para o pagamento de cada competência, no caso
dos segurados empregados, trabalhadores avulsos e contribuintes individuais que estejam a serviço de uma
ou mais empresas. Logo, se um segurado contribuiu por último na competência 10/2020, e não havendo
nenhuma causa de extensão do período de graça – isto é, ele conta com apenas doze meses de período de
graça – esse período findará em 20 de dezembro de 2021. Isso porque, considerados doze meses, o prazo do
período de graça terminaria em outubro de 2021. Contudo, a norma permite um alargamento ao permitir
que o reconhecimento da perda da qualidade de segurado somente ocorra no dia seguinte ao do vencimento
da contribuição referente a do último mês do período de graça. Assim, se o último mês do período de graça,
como vimos, é outubro de 2021, temos que o mês imediatamente posterior é novembro de 2021, cujo
vencimento é em 20 de dezembro de 2021. Com isso, no dia 21 de dezembro de 2021, não haveria mais
qualidade de segurado.
9. CARÊNCIA
A carência é instituto típico da relação securitária oferecida pelo plano de benefícios da previdência
social. Trata-se, na prática, de um mecanismo de manutenção do equilíbrio financeiro e atuarial do sistema,
pois visa ao atendimento de dois objetivos: a) prevenir que segurados ingressem no sistema já portadores
de doença incapacitante e, com poucos recolhimentos, já possam se valer das prestações; b) exigir alguma
monta de contribuição ao sistema para que haja contributividade distributiva, mantendo a higidez
orçamentária do regime geral.
Mas, há que se chamar à atenção o seguinte: a carência é a regra na concessão dos benefícios
previdenciários, todavia, existem exceções. Assim, embora para a concessão dos benefícios previdenciários
será exigida, de um modo geral, a satisfação da carência, existem situações previstas na lei previdenciária
que dispensam tal instituto. Além disso, a carência, quando exigida, nem sempre será a mesma, variando em
quantidade de meses para as prestações previstas, especialmente no que toca à natureza programada ou
não programada dessas.
165
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
O conceito de carência é intimamente ligado a tempo de contribuição, embora com esse não se
confunda. Tempo de contribuição é um requisito distinto e autônomo na análise do direito aos benefícios
previdenciários. Embora a contribuição seja critério geral para qualquer prestação previdenciária, o tempo
de contribuição tem relevância direta apenas para os benefícios previdenciários programados, isto é, para as
aposentadorias não decorrentes de incapacitação laboral. Assim, a aposentadoria programada, como
veremos, exige não apenas a carência, mas também o tempo de contribuição mínimo previsto na norma,
tempo esse que hoje é de 15 anos, para mulheres, e 20 anos para homens, conforme art. 19, caput, da
Emenda Constitucional 103/19. Já a carência para a aposentadoria programada é de 180 contribuições
mensais, ou seja, 15 anos, salvo se o segurado for filiado anterior a Lei nº 8.213/1991, de modo que, nesse
caso, a carência será aquela exigida na tabela progressiva prevista no art. 142 dessa lei.
Art. 142. Para o segurado inscrito na Previdência Social Urbana até 24 de julho de 1991,
bem como para o trabalhador e o empregador rural cobertos pela Previdência Social Rural,
a carência das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e especial obedecerá à
seguinte tabela, levando-se em conta o ano em que o segurado implementou todas as
condições necessárias à obtenção do benefício:
ANO DE IMPLEMENTAÇÃO DAS MESES DE CONTRIBUIÇÃO EXIGIDOS
CONDIÇÕES
1991 60 meses
1992 60 meses
1993 66 meses
1994 72 meses
1995 78 meses
1996 90 meses
1997 96 meses
1998 102 meses
1999 108 meses
2000 114 meses
2001 120 meses
2002 126 meses
2003 132 meses
2004 138 meses
2005 144 meses
2006 150 meses
2007 156 meses
2008 162 meses
2009 168 meses
2010 174 meses
2011 180 meses
Quanto ao art. 142, da Lei nº 8.213/1991 trata-se de dispositivo aplicável para os segurados “filiados”
à Previdência Social até 24/7/1991, e não apenas aos “inscritos”, sendo essa interpretação a mais favorável
e que se coaduna mais com a proteção das legítimas expectativas de direito dos segurados anteriores. Isso é
muito importante para categorias de segurados obrigatórios que dependiam também da inscrição e do
primeiro pagamento de contribuição sem atraso para que tivessem efetiva relação jurídico-previdenciária:
os contribuintes individuais. Importante lembrar, sobre isso, que a filiação decorre da mera atividade
remunerada, enquanto que a inscrição decorre dos registros cadastrais do trabalhador junto ao INSS.
Cabe lembrar que a figura “contribuinte individual” foi criada por meio da Lei nº 9.876/1999, sendo
decorrente da reunião das categorias até então existentes relacionadas ao empresário, ao autônomo e, por
fim, ao equiparado a autônomo. No entanto, antes mesmo da Lei n. 9.876/1999, esses segurados já possuíam
166
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
sobre eles a exigência de recolhimentos diretos, isto é, os próprios segurados é que deveriam recolher suas
contribuições previdenciárias. Nada obstante, se esses tipos de segurado já exerciam suas respectivas
atividades autônomas antes da Lei nº 8.213/1991, mesmo que não tenham antes dessa lei procedido à
inscrição junto aos cadastros do INSS, poderão se valer das regras de transição do art. 142. O que importa,
então, para qualquer tipo de segurado, é a filiação anterior à Lei nº 8.213/1991. Além disso, o segurado não
necessariamente precisava estar filiado exatamente na data de 24 de julho de 1991, bastando que ele, em
algum momento, tenha se filiado anteriormente ao novo regramento para fazer jus à tabela progressiva do
art. 142, da Lei nº 8.213/1991.
Já o tempo de contribuição é o “tempo correspondente aos períodos para os quais tenha havido
contribuição obrigatória ou facultativa ao RGPS”, conforme art. 19-C, do Decreto nº 3.048/1999, na redação
dada pelo Decreto nº 10.410/2020. Veja, assim, que tanto a carência quanto o tempo de contribuição exigem
contribuições em seus conceitos. Tempo de contribuição é a conjunção dos períodos nos quais houve
contribuição; a carência é o número mínimo de meses nos quais houve contribuição. Ambos os institutos,
portanto, são centrados na contribuição.
A primeira diferença está na finalidade de cada um. Enquanto o tempo de contribuição visa
concretizar a contributividade do segurado e sua consequente repercussão em benefícios da previdência
social, especialmente os benefícios programados, a carência se destina a assegurar, mais diretamente, o
princípio do equilíbrio financeiro e atuarial do sistema.
A segunda diferença reside no fato de que, em alguns casos, a norma considera tempo de serviço
como tempo de contribuição, isto é, incluiu no conceito de “tempo de contribuição” alguns períodos nos
quais não houve contribuição. Isso não ocorre com a carência, cujo lapso temporal exigido deverá contar
sempre com o recolhimento correspondente das contribuições (ou a presunção de recolhimentos, no caso
de alguns segurados obrigatórios, como já foi estudado aqui). Cabe ressaltar, contudo, que a dispensa de
contribuições em determinado lapso de tempo exigido para fins de carência já foi chancelada pela
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no Tema 1125 da repercussão geral dessa Corte.
Assim, em síntese, a carência, do ponto de vista da norma escrita, exige sempre contribuições
efetivamente recolhidas, mas a jurisprudência já excepcionou essa exigência em certos casos. No caso do
Tema 1125, o Supremo Tribunal Federal entendeu que o período intercalado de atividade remunerada com
benefício por incapacidade contará para fins de carência. A tese fixada foi no sentido de que é “constitucional
o cômputo, para fins de carência, do período no qual o segurado esteve em gozo do benefício de auxílio-
doença, desde que intercalado com atividade laborativa”.
167
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
sim, por óbvio, de natureza previdenciária. Aliás, cabe lembrar que essa é dicção expressa do art. 28, §9º,
alínea “a”, da Lei nº 8.212/1991:
Logo, não se constituindo fato gerador de contribuição previdenciária, não há recolhimentos aos
cofres do RGPS no período de percepção de benefícios por incapacidade. Em sendo assim, pela regra disposta
no art. 24, da Lei nº 8.213/1991, segundo a qual carência é o número mínimo de “contribuições mensais”
para a concessão de um determinado benefício previdenciário, o período daquele auxílio-doença não seria
contado para tal finalidade. Isto é, pela regra escrita do art. 24 citado, não contaria para efeito de carência.
Entretanto, como visto, a maioria do Supremo Tribunal Federal assentou, no Tema 1125 que,
mesmo sem contribuições, haverá a contagem desses períodos para efeito de carência e não apenas para
efeito de tempo de contribuição. A regra legal sempre considerou o período intercalado de auxílio-doença
e aposentadoria por invalidez para efeito de tempo de contribuição. Sempre considerou, portanto, uma
exceção ao conceito de tempo de contribuição, que como visto exige contribuições. Não havendo
contribuições durante o recebimento de benefícios previdenciários, dentre eles os benefícios por
incapacidade, não deveria, os respectivos períodos intercalados serem contados nem para efeito de tempo
de contribuição, nem para carência. A própria norma previdenciária, contudo, sempre excepcionou a
exigência de contribuições nesses casos para efeito de “tempo de contribuição”. A consideração para efeito
de carência, também, ficou a cargo da jurisprudência e, de maneira definitiva, pelo Supremo Tribunal Federal.
O art. 19-C, §1º, do Decreto nº 3.048/1999, incluído pelo Decreto nº 10.410/2020, vigente desde
1/7/2020, deixou claro, entretanto, a ampliação dessa flexibilização para o instituto da “carência” não seria
possível. Mas, ainda assim, afora o Tema 1125 do STF, que não abordou diretamente ainda essa inovação
normativa expressa dada pelo Decreto nº 10.410/2020 (esse fundamento foi lançado pelo INSS em embargos
de declaração, ainda não julgados pelo STF naquele Tema de repercussão geral), tem-se permitida a
consideração do tempo intercalado de benefícios por incapacidade também para efeito de carência, em
decorrência de decisão judicial prolatada no âmbito da Ação Civil Pública nº 0216249-77.2017.4.02.5101, que
tramita no Tribunal Regional Federal da 2ª Região.
Agora uma questão peculiar. Pois bem, já vimos que o art. 19-C, §1º, do Decreto nº 3.048/1999 prevê
que será computado o tempo intercalado de recebimento de benefício por incapacidade, na forma do
disposto no inciso II do caput do art. 55 da Lei nº 8.213/1991, para efeito de tempo de contribuição, exceto
para efeito de carência. No entanto, tais dispositivos devem ser analisados, para o trabalhador rural, de
forma distinta da interpretação dada ao trabalhador urbano, devendo, pois, ser relativizada sua aplicação.
Isso porque as normas previdenciárias do segurado especial devem ser interpretadas diante de sua
matriz constitucional, que expressa a não contributividade do trabalhador rural que não aufere resultado da
comercialização de sua produção (art. 195, §8º, CF). Com efeito, é irrelevante considerar contributividade
nos períodos intercalados de benefício por incapacidade no caso dos segurados especiais, uma vez que,
nesses casos, o que importa é verificar se, mesmo durante o período de recebimento de benefício por
37 Acerca do salário-maternidade, deve-se lembrar do Tema 72 da repercussão geral do Supremo Tribunal Federal, cujos fundamentos
assinalaram a não incidência de contribuição previdenciária sobre valores pagos a tal título, no que toca à cota patronal a cargo da
empresa em relação às suas empregadas.
168
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
incapacidade, houve permanência no grupo familiar que lhe serve de base para as dinâmicas
socioeconômicas no meio rural.
Ademais, conforme a própria norma ressalta, não se perde a qualidade de segurado especial
durante o recebimento de benefício a título de segurado especial, independentemente, aliás, do valor
recebido. Isso está claro no art. 9º, §8º inciso I-A, do Decreto nº 3.048/1999, conforme redação dada,
inclusive, pelo recente Decreto nº 10.410/2020, assim redigido:
Art. 9º
(...)
§8º Não é segurado especial o membro de grupo familiar que possuir outra fonte de
rendimento, exceto se decorrente de: (Redação dada pelo Decreto nº 6.722, de 2008).
(...)
I-A - benefício concedido ao segurado qualificado como segurado especial,
independentemente do valor;
(Incluído pelo Decreto nº 10.410, de 2020).
Art. 188-G. O tempo de contribuição até 13 de novembro de 2019 será contado de data a
data, desde o início da atividade até a data do desligamento, considerados, além daqueles
referidos no art. 19-C, os seguintes períodos:
I - o tempo de serviço militar, exceto se já contado para inatividade remunerada nas Forças
Armadas ou auxiliares ou para aposentadoria no serviço público federal, estadual, distrital
ou municipal, ainda que anterior à filiação ao RGPS, obrigatório, voluntário ou alternativo,
assim considerado o tempo atribuído pelas Forças Armadas àqueles que, após o
alistamento, alegaram imperativo de consciência, entendido como tal aquele decorrente de
crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de
caráter militar;
II - o tempo em que o anistiado político esteve compelido ao afastamento de suas atividades
profissionais, em decorrência de punição ou de fundada ameaça de punição, por motivo
exclusivamente político, situação que será comprovada nos termos do disposto na Lei nº
10.559, de 13 de novembro de 2002;
III - o tempo de serviço público federal, estadual, distrital ou municipal, inclusive aquele
prestado a autarquia, sociedade de economia mista ou fundação instituída pelo Poder
Público, regularmente certificado na forma prevista na Lei nº 3.841, de 15 de dezembro de
1960, desde que a certidão tenha sido requerida na entidade para a qual o serviço tenha
sido prestado até 30 de setembro de 1975, data imediatamente anterior ao início da
vigência da Lei nº 6.226, de 14 de junho de 1975;
IV - o tempo de serviço do segurado trabalhador rural anterior à competência novembro de
1991;
V - o tempo de exercício de mandato classista junto a órgão de deliberação coletiva em que,
nessa qualidade, tenha havido contribuição para a previdência social;
VI - o tempo de serviço prestado à Justiça dos Estados, às serventias extrajudiciais e às
escrivanias judiciais, desde que não tenha havido remuneração pelo erário e que a atividade
não estivesse, à época, vinculada a regime próprio de previdência social;
VII - o tempo de atividade dos auxiliares locais de nacionalidade brasileira no exterior
amparados pela Lei nº 8.745, de 9 de dezembro de 1993, anteriormente a 1º de janeiro de
1994, desde que a sua situação previdenciária esteja regularizada no INSS;
VIII - o tempo de contribuição efetuado pelo servidor público de que tratam as alíneas “i”,
“j” e “l” do inciso I do caput do art. 9º e o §2º do art. 26, com fundamento do disposto nos
169
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Cabe registrar que a limitação relativa ao “tempo de contribuição até 13 de novembro de 2019”
decorre da vedação absoluta imposta pelo Emenda 103/19 acerca da consideração de tempo ficto no regime
geral de previdência social. Pela disposição incluída como §14, no art. 201, da CF/88, o Constituinte Derivado
assentou que é terminantemente “vedada a contagem de tempo de contribuição fictício para efeito de
concessão dos benefícios previdenciários e de contagem recíproca”. Nada obstante essa vedação absoluta,
o art. 25, da EC 103, fixou regra protetiva do ato jurídico perfeito e do direito adquirido quanto aos períodos
de “tempo de serviço” sem contribuição, portanto “fictos” na ampla acepção da questão, cumpridos até a
vigência da emenda constitucional.
Sendo assim, por essa regra, disposta de maneira nuclear no art. 25, da EC 103, e reverberada no art.
188-G, do Decreto nº 3.048/1999, ainda existem alguns períodos de “tempo de serviço”, não contributivos,
que valerão para efeito de “tempo de contribuição”. Cumpre ressaltar, contudo, a diferença prática – do
ponto de vista dessas exceções normativas – entre “tempo de contribuição” e “carência”. Essas flexibilizações
dispostas no art. 188-G, do Decreto nº 3.048/1999, somente alcançam o instituto “tempo de contribuição”,
nada valendo para a “carência”.
Quanto aos períodos de carência em si, eles estão dispostos no art. 25, da Lei nº 8.213/1991:
Art. 25. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social
depende dos seguintes períodos de carência, ressalvado o disposto no art. 26:
I - auxílio-doença e aposentadoria por invalidez: 12 (doze) contribuições mensais;
II - aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de serviço e aposentadoria especial:
180 contribuições mensais.
III - salário-maternidade para as seguradas de que tratam os incisos V e VII do caput do art.
11 e o art. 13 desta Lei: 10 (dez) contribuições mensais, respeitado o disposto no parágrafo
único do art. 39 desta Lei; e
IV -auxílio-reclusão: vinte e quatro contribuições mensais.
IV - auxílio-reclusão: 24 (vinte e quatro) contribuições mensais.
Parágrafo único. Em caso de parto antecipado, o período de carência a que se refere o
inciso III será reduzido em número de contribuições equivalente ao número de meses em
que o parto foi antecipado.
PRAZOS DE CARÊNCIA
Tempo exigido em número
Benefícios previdenciários
de meses de contribuição
170
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
• Aposentadoria por idade rural (sendo que, nesse caso, são 180 meses de
trabalho rural em regime de economia familiar).
• Salário-maternidade
Existem, de outro lado, as hipóteses de dispensa de carência previstas no art. 26, da Lei nº
8.213/1991:
Quanto à contagem da carência, será contada de modo distinto a depender da categoria de segurado.
Em sendo segurado empregado, empregado doméstico ou trabalhador avulso, a carência inicia sua contagem
de modo coincidente com a filiação desses trabalhadores, ou seja, a partir do primeiro dia do mês em que se
iniciou a atividade remunerada (art. 27, inciso I, da Lei nº 8.213/1991).
Lembre-se, aliás, que a contagem da carência é pelo mês cheio. Isso significa que não importa o
momento no qual se iniciou ou findou uma determinada atividade, sendo irrelevante se foram trabalhados
30 dias do mês ou apenas um. Trata-se de interpretação que deriva da leitura do art. 24, caput, da Lei nº
171
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
8.213/1991, que não deixa dúvidas quando assinala que as contribuições mensais, para fins de carência,
serão “consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas competências”.
Há que se destacar, por fim, que existe regra específica para os casos de recuperação da carência
quando houver perda e posterior reaquisição da qualidade de segurado. Em relação a isso, contudo,
importante nos atentar-se ao fato de que houve, ao longo dos anos, algumas mudanças nos critérios de
recuperação da carência em tais hipóteses.
A regra de recuperação da carência está disposta no art. 27-A, da Lei nº 8.213/1991, sendo a redação
atual a seguinte:
Art. 27-A Na hipótese de perda da qualidade de segurado, para fins da concessão dos
benefícios de auxílio-doença, de aposentadoria por invalidez, de salário-maternidade e de
auxílio-reclusão, o segurado deverá contar, a partir da data da nova filiação à Previdência
Social, com metade dos períodos previstos nos incisos I, III e IV do caput do art. 25 desta
Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019)
Antes da redação atual, contudo, a redação dessa regra estava disposta no art. 24, parágrafo único,
da Lei nº 8.213/1991:
Art. 24.
(...)
Parágrafo único. Havendo perda da qualidade de segurado, as contribuições anteriores a
essa data só serão computadas para efeito de carência depois que o segurado contar, a
partir da nova filiação à Previdência Social, com, no mínimo, 1/3 (um terço) do número de
contribuições exigidas para o cumprimento da carência definida para o benefício a ser
requerido. (Vide Medida Provisória nº 242, de 2005) (Revogado pela Medida Provisória nº
767, de 2017) (Revogado pela lei nº 13.457, de 2017)
Note-se que essa regra do pedágio de ⅓, para a recuperação da carência pretérita anterior à perda
da qualidade de segurado, que então vigia no art. 24, parágrafo único, da Lei nº 8.213/91, foi revogada pela
Medida Provisória n, 767, de 06 de janeiro de 2017, posteriormente convertida na Lei nº 13. 457/2017. Na
redação da MP 767, passou a constar que, com a perda da qualidade de segurado, deveria haver novo
computo dos períodos de carência relativos ao benefício pretendido. Na conversão da MP 767 na Lei nº
13.457/17 o texto do art. 27-A, da Lei nº 8.213/91, passou a prever, contudo, de modo diverso, no sentido
de que poderia haver recuperação, se houvesse novos recolhimentos na proporção apenas da metade dos
prazos de carência para os benefícios. Ou seja, se tivesse perdido a qualidade de segurado, bastaria recolher
novamente pelo período equivalente à metade da carência exigida para o respectivo benefício, a fim de
recuperar a carência acumulada antes da perda da qualidade de segurado.
172
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Por fim, houve nova revogação e alteração. Adveio a Lei nº 13.846/2019, cunhada de “minirreforma
previdenciária”, e determinou, por fim, nova redação do art. 27-A, da Lei de Benefícios da Previdência Social,
para que passasse a constar que aquela recuperação de carência anterior à perda da qualidade de segurado
somente seria possível se houver recolhimento INTEGRAL dos respectivos prazos de carência exigido para o
benefício pretendido. Veja, novamente, a redação atual do art. 27-A, da Lei nº 8.213/1991:
Art. 27-A Na hipótese de perda da qualidade de segurado, para fins da concessão dos
benefícios de auxílio-doença, de aposentadoria por invalidez, de salário-maternidade e de
auxílio-reclusão, o segurado deverá contar, a partir da data da nova filiação à Previdência
Social, com metade dos períodos previstos nos incisos I, III e IV do caput do art. 25 desta
Lei.
(Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019) (grifos nossos)
A lei previdenciária permite que haja um desconto incidente sobre os benefícios previdenciários, em
alguns casos previamente indicados pela norma, tanto em relação aos benefícios pagos aos segurados,
quanto aos dependentes. A indisponibilidade dos benefícios previdenciários decorre de sua natureza de
direito fundamental, portanto, irrenunciável e indisponível. Contudo, a indisponibilidade dos benefícios
previdenciários é ressalvada no art. 114, da Lei nº 8.213/1991:
Art. 114. Salvo quanto a valor devido à Previdência Social e a desconto autorizado por
esta Lei, ou derivado da obrigação de prestar alimentos reconhecida em sentença judicial,
o benefício não pode ser objeto de penhora, arresto ou sequestro, sendo nula de pleno
direito a sua venda ou cessão, ou a constituição de qualquer ônus sobre ele, bem como a
outorga de poderes irrevogáveis ou em causa própria para o seu recebimento. (grifos
nossos)
Com relação aos descontos autorizados, é o art. 115, da Lei nº 8.213/1991 que disciplina a questão:
173
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Na concomitância de consignações, existe uma prioridade entre esses tipos de descontos. Serão
priorizados os descontos obrigatórios em detrimento dos descontos eletivos, sendo que entre os obrigatórios
será observada a ordem cronológica de suas constituições de crédito.
Sobre os descontos de benefícios recebidos indevidamente, há dois Temas julgados no STJ que
tratam da questão: Tema 692 e Tema 979 dos recursos repetitivos. O Tema 692, inicialmente, teve tese
fixada no sentido de que “a reforma da decisão que antecipa a tutela obriga o autor da ação a devolver os
benefícios previdenciários indevidamente recebidos”. Contudo, após algum tempo, o próprio STJ decidiu
promover procedimento de revisão de tese, conforme os seguintes termos:
174
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
No ponto, lista as seguintes situações que, dentre outras, poderão ser analisadas pelo
Superior Tribunal de Justiça na presente afetação:
a) tutela de urgência concedida de ofício e não recorrida; b) tutela de urgência concedida a
pedido e não recorrida; c) tutela de urgência concedida na sentença e não recorrida, seja
por agravo de instrumento, na sistemática processual anterior do CPC/1973, seja por
pedido de suspensão, conforme o CPC/2015; d) tutela de urgência concedida initio litis e
não recorrida; e) tutela de urgência concedida initio litis, cujo recurso não foi provido pela
segunda instância; f) tutela de urgência concedida em agravo de instrumento pela segunda
instância; g) tutela de urgência concedida em primeiro e segundo graus, cuja revogação se
dá em razão de mudança superveniente da jurisprudência então existente; h) tutela de
urgência concedida e cassada, a seguir, seja em juízo de reconsideração pelo próprio juízo
de primeiro grau, ou pela segunda instância em agravo de instrumento ou mediante pedido
de suspensão; i) tutela de urgência cassada, mesmo nas situações retratadas
anteriormente, mas com fundamento expresso na decisão de que houve má-fé da parte ou
afronta clara a texto de lei, como no caso das vedações expressas de concessão de medida
liminar ou tutela antecipada.
O STJ julgou a revisão de tese do Tema 692, mas manteve o entendimento anterior no sentido da necessidade
de devolução dos valores recebidos a título de tutela antecipada posteriormente revogada, consignando,
apenas, um limite de 30% de eventual benefício previdenciário que ainda lhe tiver sendo pago:
175
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Proposta de Revisão de Entendimento firmado em tese repetitiva firmada pela Primeira Seção
Questão submetida a relativa ao Tema 692/STJ, quanto à devolução dos valores recebidos pelo litigante
julgamento beneficiário do Regime Geral da Previdência Social - RGPS em virtude de decisão judicial
precária, que venha a ser posteriormente revogada.
A reforma decisão que antecipa os efeitos da tutela final obriga o autor da ação a devolver os
valores dos beneficios previdenciários ou assistenciais recebidos, o que pode ser feito por
Tese firmada
meio de desconto em valor que não exceda 30% (trinta por cento) da importância de eventual
beneficio que ainda lhe estiver sendo pago.
O Supremo Tribunal Federal, por sua vez, já se manifestou no sentido de que não há repercussão
geral em relação a essa questão, de maneira que verificar a possibilidade de desconto de benefícios pagos
indevidamente pela Administração Pública é matéria que deve ser aferida junto às normas
infraconstitucionais (Tema 425 da repercussão geral). Além do Tema 425, o Supremo também afirmou, de
modo mais especifico, que no caso de tutela antecipada posteriormente revogada, a questão de se verificar
se os valores recebidos precariamente pela decisão necessitam ou não serem devolvidos deve ser analisada
sob a ótica da legislação infraconstitucional. Isso foi assentado na análise do Tema 799, por meio do qual a
Corte Suprema afirmou que a “questão acerca da devolução de valores recebidos em virtude de concessão
de antecipação de tutela posteriormente revogada tem natureza infraconstitucional e a ela atribuem-se os
efeitos da ausência de repercussão geral”.
Com relação aos pagamentos indevidos aos segurados decorrentes de erro administrativo
(material ou operacional), não embasado em interpretação errônea ou equivocada da lei
pela Administração, são repetíveis, sendo legítimo o desconto no percentual de até 30%
(trinta por cento) de valor do benefício pago ao segurado/beneficiário, ressalvada a
hipótese em que o segurado, diante do caso concreto, comprova sua boa-fé objetiva,
sobretudo com demonstração de que não lhe era possível constatar o pagamento indevido.
Em síntese:
176
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Mas o entendimento da devolução com limitação de 10% do benefício acabou sendo consolidado no
julgamento do REsp nº 1.384.418/SC, feito pela 1ª Seção do STJ.
O Tema da prescrição e decadência no Direito Previdenciário pode ter o enfoque relativo ao custeio
e financiamento da Seguridade Social, bem como o enfoque relacionado à concessão ou indeferimento dos
benefícios previdenciários previstos no RGPS. Aqui será abordado apenas a prescrição e decadência prevista
para os benefícios do RGPS.
A despeito de a essência dos institutos da decadência e prescrição estar regulada na parte geral do
Código Civil, as normas previdenciárias tratam de modo específico da questão em relação aos benefícios
previdenciários. As disposições da norma previdenciária prevalecem, por óbvio, sobre a norma geral, sendo
aplicável a regra do Código Civil naquilo de maneira subsidiária. O tratamento específico, portanto, no campo
previdenciário é dado pelos arts. 103 e 104, da Lei nº 8.213/1991, bem como pelos arts. 347 e 347-A, do
Decreto nº 3.048/99, esses já na redação dada pelo Decreto nº 10.410/20.
Na Lei nº 8.213/1991, em seu art. 103, trata-se da instituição de um prazo de decadência. Esse prazo
é decenal, isto é, permite que o segurado ou beneficiário possa invocar seu direito a uma determinada
obrigação do INSS no prazo máximo de dez anos. A norma é dirigida tanto ao segurado, quanto aos
dependentes do segurado. Logo, não importa se se trata de um benefício pago diretamente ao trabalhador,
tal como um auxílio por incapacidade temporária, ou uma prestação paga aos seus dependentes, tal como
uma pensão por morte ou auxílio-reclusão. Além disso, o objetivo da norma é instituir um prazo de
decadência para o direito de revisão de certos atos administrativos emitidos pelo INSS. Na literalidade da lei,
esses atos são:
177
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Na prática, após esse julgamento, a lista acima deve ser lida da seguinte forma:
A ação do tempo não incide sobre o direito ao benefício em si, mas apenas sobre as parcelas não
pagas mês a mês, isto é, somente incide a prescrição. Já com relação aos casos de atos de concessão,
deferimento de revisão, de indeferimento de revisão e não concessão de revisão, o dispositivo (art. 103) tem
aplicabilidade, isto é, aplica-se normalmente o prazo decenal de decadência.
No caso do direito à revisão de parcelas do benefício concedido, o prazo de dez anos é contado a
partir do primeiro dia do mês subsequente ao do recebimento da primeira prestação (ou da data em que a
prestação deveria ter sido paga com o valor revisto e não foi). Já no caso de decisão de deferimento ou
indeferimento de revisão de benefício, o prazo de decadência começa a ser contado da data em que o
beneficiário tomou conhecimento da decisão administrativa.
178
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Com relação às parcelas, não restam dúvidas, incide a prescrição prevista no art. 103, parágrafo
único, da Lei nº 8.213/1991. Antes mesmo da ADI 6096, o Supremo Tribunal Federal já havia enfrentado essa
questão no julgamento do Tema 313 de sua repercussão geral:
Como se vê, o STF, nessa ocasião, também assinalou o entendimento de que o prazo decadencial
previsto no art. 103, caput, da Lei de Benefícios, somente passa a valer a partir da vigência da MP 1.523/97,
a qual foi convertida na Lei nº 9.528/1997. Isso, pois antes dessa medida provisória não havia a previsão de
qualquer prazo decadencial em relação ao direito de revisão do benefício previdenciário. Existia apenas a
previsão de prazo prescricional, conforme redação original do citado dispositivo.
Com relação ao prazo decadencial do INSS em relação ao beneficiário, ele está previsto no art. 103-
A, da Lei nº 8.213/1991. Assinala-se no referido dispositivo o poder de autotutela da Administração Pública,
que possui o direito de anular seus próprios atos quando eivados de vícios de que o tornem inválido. Esse
direito, contudo, somente pode ser exercido no prazo decadencial de 10 anos, salvo comprovada má-fé.
Portanto, a regra é que esse prazo decenal tenha início na data em que os atos inválidos foram praticados.
Contudo, existem duas exceções a essa regra, que implicam diferimento do termo a quo do prazo
decadencial.
A primeira exceção ocorre, como dito acima, no caso de má-fé do beneficiário. A segunda exceção
ocorre quando o ato praticado gera efeitos patrimoniais ao beneficiário, ou seja, gera algum direito
incorporável ao seu patrimônio jurídico. Bem, não há como se negar que essa exceção é, em verdade, a regra,
uma vez que se torna difícil imaginar algum ato praticado pelo beneficiário que não implique ou não tenda a
lhe implicar efeitos patrimoniais favoráveis. Em sendo assim, isto é, em gerando efeitos patrimoniais
favoráveis, o prazo decenal do INSS somente começa a correr a partir da data de recebimento do primeiro
pagamento gerado pelo ato inválido praticado.
38 Redação da tese aprovada nos termos do item 2 da Ata da 12ª Sessão Administrativa do STF, realizada em 9/12/2015.
179
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
No que toca à prescrição, somente há previsão de prazo prescricional para o beneficiário. De todo
modo, ainda assim, quanto às pretensões ressarcitórias do INSS, tem-se entendido pela aplicação analógica
do quanto disposto no art. 1º, do Decreto 20.910/1932, que estabelece o prazo quinquenal de toda e
qualquer ação contra a Fazenda Pública.
180
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
181
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Até aqui foram abordadas todas as regras gerais mais importantes do regime geral de previdência
social. Agora, estudaremos as regras específicas, relacionadas às prestações em si que são previstas no
sistema previdenciário.
Quanto às espécies de prestações previdenciárias, basta que você saiba que existem apenas duas: os
benefícios e os serviços.
Basicamente, você poderá perceber que os benefícios previdenciários são as espécies de prestações
que veiculam as obrigações de pagamento pelo INSS baseadas em um cálculo derivado do salário de
contribuição e, posteriormente, do salário de benefício do segurado, gerando uma renda mensal inicial a ser
paga mês a mês até a respectiva hipótese de cancelamento ou extinção do benefício. Já o serviço é espécie
de prestação previdenciária que disponibiliza ao segurado uma obrigação de fazer a ser prestada pelo INSS.
Em geral, por óbvio, as prestações previdenciárias são direcionadas aos segurados, que são os
principais beneficiários do regime geral de previdência social, mas há dois benefícios que são direcionados
aos dependentes daqueles segurados: pensão por morte e auxílio-reclusão. Existe a previsão de um total de
10 benefícios previdenciários, mas apenas 2, como dito, são direcionados aos dependentes do segurado. Já
os quanto aos serviços previstos para o RGPS, existem apenas 2 também. São eles: serviço social e
reabilitação profissional.
Sobre isso, veja o que diz o art. 25, I, “b”, do Decreto nº 3.048/1999, alterado pelo Decreto nº
10.410/2020:
As prestações previdenciárias podem ser classificadas sob variadas óticas. Adotaremos a classificação
sugerida na obra de Frederico Amado:
• Quanto à natureza da prestação, as prestações, como já vimos, podem ser prestações de pagar -
os benefícios previdenciários – ou de fazer - os serviços previdenciários.
• Quanto ao tipo de beneficiário, as prestações previdenciárias podem ser dos segurados e dos
dependentes.
• Quanto à programação da prestação previdenciária, a prestação previdenciária pode ser
programável ou não programável. As prestações programáveis são aquelas que dependem de um
tempo maior de contribuição e carência, relacionando-se a eventos futuros em certos, portanto
previsíveis do segurado. Com a reforma previdenciária de 2019, as antigas aposentadorias por
tempo de contribuição e por idade do trabalhador urbano se fundiram e passaram a figurar como
182
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Art. 151. Até que seja elaborada a lista de doenças mencionada no inciso II do art. 26,
independe de carência a concessão de auxílio-doença e de aposentadoria por invalidez ao
segurado que, após filiar-se ao RGPS, for acometido das seguintes doenças: tuberculose
ativa, hanseníase, alienação mental, esclerose múltipla, hepatopatia grave, neoplasia
maligna, cegueira, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de
Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, estado avançado da doença de
Paget (osteíte deformante), síndrome da deficiência imunológica adquirida (AIDS) ou
contaminação por radiação, com base em conclusão da medicina especializada.
183
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Com a publicação da Emenda Constitucional nº 103/2019, não há mais que se falar em dicotomia
classificatória quanto à aposentadoria por tempo de contribuição e aposentadoria por idade. A Emenda 103
passou a exigir, finalmente, a idade mínima como requisito de qualquer aposentadoria no regime geral de
previdência social. Hoje em dia somente não teremos previsão direta de idade mínima em algumas
aposentadorias previstas nas regras de transição da Emenda 103 (artigos 15, 17, 21 e 22), bem como em uma
das espécies de aposentadoria prevista na Lei Complementar nº 142, que trata da aposentadoria dos
trabalhadores deficientes.
É bem razoável e condizente com a vontade do Constituinte Originário que a aposentadoria seja dada
a quem está mesmo na idade avançada. Dessa forma, impor limite de idade é atender esse reclamo
constitucional. A previdência social, neste tocante, nunca exigiu tão somente o tempo de contribuição
mínimo, mas também o avanço da idade. Assim sendo, com essa mudança de paradigma normativo, não
cabe mais falar na dicotomia aposentadoria por idade e aposentadoria por tempo de contribuição. Agora,
tudo é uma coisa só: aposentadoria programada. A norma regulamentadora apenas ressalva da
denominação “aposentadoria programada” a jubilação do trabalhador rural, mantendo a classificação de
“aposentadoria por idade” desse trabalhador, deixando-a mais clara, contudo, para dizer que ela também se
aplica ao garimpeiro.
Acerca dessas alterações constitucionais e suas repercussões no plano infraconstitucional, foi editada
a Portaria nº 450, de 3 de abril de 2020, que dispõe sobre as alterações constantes na Emenda Constitucional
nº 103, de 12 de novembro de 2019. Importante observarmos o art. 2º, da referida Portaria:
Art. 2º Com a vigência da EC nº 103, de 2019, as aposentadorias por idade e por tempo de
contribuição foram substituídas por uma única espécie, a aposentadoria programada, da
qual derivam a aposentadoria especial e a aposentadoria programada do professor. (grifos
nossos)
Além disso, conforme muito bem pontuado no art. 4º, da Portaria 450, ficaram mantidas, mesmo
após a Emenda 103, a aposentadoria por idade rural e as aposentadorias da pessoa com deficiência da Lei
Complementar nº 142, de 8 de maio de 2013. A aposentadoria por idade rural, contudo, passou a se
denominar “aposentadoria do trabalhador rural e do garimpeiro”.
Sendo assim, desde a Emenda 103, deve-se trocar o conceito de aposentadoria por tempo de
contribuição e de aposentadoria por idade, pelo conceito amplo de aposentadorias programadas. As
aposentadorias concedidas com base no direito adquirido, com espeque nas normas anteriores, continuam
sendo denominadas de aposentadorias por tempo de contribuição e aposentadoria por idade. Não existem
mais as antigas aposentadorias por tempo de contribuição e por idade urbana, salvo em caso de direito
adquirido. É que essas aposentadorias eram previstas antes da Emenda 103, no entanto o art. 3º dessa
emenda garantiu que, se os filiados do RGPS tivessem satisfeitos todos os requisitos para aquelas
aposentadorias até 13 de novembro de 2019, eles teriam direito adquirido a sua concessão, conforme regras
então vigentes.
Quem se filiou no RGPS na data de 14 de novembro de 2019 em diante, ou que não conseguiu se
aposentar pelas regras antigas com base em direito adquirido – ou, ainda, quem, embora tenha se filiado
anteriormente à reforma da previdência, não conseguir se aposentar pelas regras de transição criadas –
deverá observar as novas regras relacionadas à aposentadoria programada.
184
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Nas novas regras de aposentadoria programada estatuídas pela Emenda 103, o que é de mais
impactante em relação ao regime anterior é a fixação de idade mínima para se aposentar. A idade mínima já
havia sido fixada para as aposentadorias dos regimes próprios desde a Emenda 20/98, mas para o regime
geral o legislador não havia ainda conseguido prever expressamente esse requisito. Sabe-se, contudo, que
houve pela Lei nº 9.876/1999 a instituição do chamado “fator previdenciário” que, de algum modo, fazia a
função de considerar a idade do segurado no cálculo da RMI de sua aposentadoria. A idade mínima, no
entanto, ainda não havia sido prevista para o RGPS.
À época da Emenda nº 20 de 1998, a idade que se pretendia fixar como mínima seria de 60 anos para
os homens e de 55 anos para as mulheres, aliada ao tempo de contribuição de 35 anos para homens e 30
anos para mulheres. A idade mínima, como dito, não vingou naquele momento, remanescendo desde então
– até a Emenda 103 – apenas a exigência de tempo de contribuição de 35 anos para homens e 30 anos para
mulheres, bem como a carência de 15 anos (180 contribuições mensais). Quando da votação da Emenda nº
20 de 1998, um Deputado Federal apertou o botão errado na hora da votação e acabou, pela ausência do
voto dele, impedindo a fixação da idade mínima. Seu nome é Antônio Kandir, filiado à época ao PSDB-SP,
tendo sido, no próprio governo de Fernando Henrique Cardoso, Ministro do Planejamento. Desde então não
se conseguia implementar a idade mínima para a aposentadoria no RGPS.
Isso, finalmente, foi superado na Emenda 103. As idades mínimas fixadas foram de 62 anos para
mulheres e 65 para homens, mantendo-se a exigência de tempo de contribuição e carência. No corpo da
Constituição, as regras da aposentadoria programada estão dispostas no art. 201, §7º, I, da CF:
Art. 201.
(...)
§7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos da lei,
obedecidas as seguintes condições: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de
1998)
I - 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 62 (sessenta e dois) anos de idade, se
mulher, observado tempo mínimo de contribuição;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
A Constituição fixa a idade mínima, mas os demais requisitos serão dispostos nos termos da lei,
inclusive o tempo mínimo de contribuição. A diferença, assim, é que, agora, esse tempo de contribuição será
previsto por lei ordinária. Na redação anterior, previa-se o tempo de contribuição de 30 anos, para mulheres,
e 35 anos, para homens. Agora, o dispositivo constitucional remete à lei ordinária a indicação do tempo
mínimo de contribuição. E, enquanto não for editada essa lei ordinária, valerá a norma transitória do art. 19,
da Emenda 103, que diz o seguinte:
Art. 19. Até que lei disponha sobre o tempo de contribuição a que se refere o inciso I do §7º
do art. 201 da Constituição Federal, o segurado filiado ao Regime Geral de Previdência Social
após a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional será aposentado aos 62
(sessenta e dois) anos de idade, se mulher, 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem,
com 15 (quinze) anos de tempo de contribuição, se mulher, e 20 (vinte) anos de tempo de
contribuição, se homem. (grifos nossos)
Como se vê, a norma transitória da Emenda 103, que funciona como uma espécie de lei ordinária por
enquanto, fixa o tempo de contribuição de 15 anos para as mulheres e 20 anos para os homens, repetindo
as idades mínimas fixadas diretamente no corpo da Constituição (62 anos para mulheres; 65 anos para
homens). O art. 19, caput, da EC 103, repete os requisitos previstos na norma constitucional, apenas
acrescentando o tempo mínimo de contribuição.
185
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Importante frisar que, conquanto não mencionado nos textos normativos acima, a aposentadoria
programada não dispensa a carência, cuja imposição continua a ser dada pelo art. 25, II, da Lei nº 8.213/1991
ou, conforme o caso, pelo art. 142, também da Lei nº 8.213/1991. O art. 142, da Lei nº 8.213/1991 é, em
verdade, uma regra legal de transição aplicáveis para aqueles trabalhadores que já eram filiados ao RGPS
antes da própria Lei nº 8.213/1991. Essa lei instituiu o prazo de carência de 180 meses para as aposentadorias
programadas, enquanto que na legislação anterior o prazo era de apenas 60 meses. Assim, foi criada essa
regra de transição, que se constituiu em uma tabela progressiva, isto é, a exigência de carência – em meses
– vai aumentando na medida em que o tempo vai passando desde a publicação da Lei nº 8.213/1991.
Art. 142. Para o segurado inscrito na Previdência Social Urbana até 24 de julho de 1991,
bem como para o trabalhador e o empregador rural cobertos pela Previdência Social Rural,
a carência das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e especial obedecerá à
seguinte tabela, levando-se em conta o ano em que o segurado implementou todas as
condições necessárias à obtenção do benefício: (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995)
Ano de implementação das condições Meses de contribuição exigidos
1991 60 meses
1992 60 meses
1993 66 meses
1994 72 meses
1995 78 meses
1996 90 meses
1997 96 meses
1998 102 meses
1999 108 meses
2000 114 meses
2001 120 meses
2002 126 meses
2003 132 meses
2004 138 meses
2005 144 meses
2006 150 meses
2007 156 meses
2008 162 meses
2009 168 meses
2010 174 meses
2011 180 meses
Assim, a carência da aposentadoria programada será, em regra de 180 contribuições mensais (15
anos), ou conforme a tabela acima, se o segurado for filiado anterior a Lei nº 8.213/1991. Nesse sentido,
veja-se o que diz a Portaria 450:
Art. 5º Fica mantida a carência disciplinada pela Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991,
mantendo-se, assim, a exigência de 180 (cento e oitenta) contribuições mensais para as
aposentadorias programáveis e de 12 (doze) contribuições para a aposentadoria por
incapacidade permanente previdenciária, antiga aposentadoria por invalidez
previdenciária, classificada como não-programável.
Parágrafo único. Para definição da carência, deve ser verificado o direito à aplicação da
tabela progressiva prevista no art. 142 da Lei nº 8.213, de 1991. (grifos nossos)
Com isso, sintetizando todos os requisitos da aposentadoria programada, o art. 7º, da referida
Portaria, enuncia o seguinte:
186
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Já o art. 51, do Decreto nº 3.048/99, na redação incluída pelo Decreto 10.410/20, editado após a
Emenda 103, prescreve, também, os requisitos da aposentadoria programada:
Art. 51. A aposentadoria programada, uma vez cumprido o período de carência exigido,
será devida ao segurado que cumprir, cumulativamente, os seguintes requisitos:
I - sessenta e dois anos de idade, se mulher, e sessenta e cinco anos de idade, se homem;.e
II - quinze anos de tempo de contribuição, se mulher, e vinte anos de tempo de
contribuição, se homem. (grifos nossos)
Quanto à renda mensal inicial da aposentadoria programada, esta será calculada conforme o
disposto no art. 26, da EC 103, isto é, corresponderá a 60% do salário de benefício do segurado, apurado esse
com base na média aritmética de 100% de todo o seu período contributivo desde a competência julho1994,
ou a última que existir caso filiado após aquela data. A regra do art. 26, da Emenda 103, prescreve, ainda,
que serão acrescidos 2% naquele coeficiente inicial de 60% para cada ano que exceder o tempo mínimo de
contribuição exigido. Assim sendo, se o tempo mínimo de contribuição exigido para os homens é de 20 anos,
um segurado, por exemplo, que tenha 25 anos de contribuição, terá direito a acrescer 10% no coeficiente de
partida (2% x 5, já que são cinco anos que excedem o tempo mínimo de vinte anos). Com efeito, esse
segurado terá direito a um coeficiente de 70% sobre o seu salário de benefício.
Por fim, a DIB da aposentadoria programada continuará seguindo as regras antigas já dispostas no
art. 54 c/c art. 49, ambos da Lei nº 8.213/1991. Note que a Lei nº 8.213/1991 ainda não foi alterada,
constando totalmente defasada normativamente em relação a Emenda 103. Na verdade, desde a Emenda nº
20 de 1998. Tanto é assim que o art. 54 ainda enuncia a expressão “tempo de serviço”, o que foi proscrito do
ordenamento jurídico por essa emenda. Em síntese, a regra da DIB da aposentadoria programada implica,
para o segurado empregado, a retroatividade do requerimento administrativo se esse for feito em até 90
dias do desligamento do emprego. De outro lado, se o pedido for feito após 90 dias, os efeitos financeiros de
eventual concessão do pedido de aposentadoria somente valerão a partir da Data de Entrada do
Requerimento – DER:
Art. 54. A data do início da aposentadoria por tempo de serviço será fixada da mesma forma
que a da aposentadoria por idade, conforme o disposto no art. 49.
Art. 49. A aposentadoria por idade será devida:
I - ao segurado empregado, inclusive o doméstico, a partir:
a) da data do desligamento do emprego, quando requerida até essa data ou até 90
(noventa) dias depois dela; ou
b) da data do requerimento, quando não houver desligamento do emprego ou quando for
requerida após o prazo previsto na alínea "a";
II - para os demais segurados, da data da entrada do requerimento.
Em síntese:
APOSENTADORIA PROGRAMADA
IDADE MÍNIMA CARÊNCIA TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO RMI
187
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Art. 201.
(...)
§7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos da lei,
obedecidas as seguintes condições:
I - 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 62 (sessenta e dois) anos de idade, se
mulher, observado tempo mínimo de contribuição;
(...)
§8º O requisito de idade a que se refere o inciso I do §7º será reduzido em 5 (cinco) anos,
para o professor que comprove tempo de efetivo exercício das funções de magistério na
educação infantil e no ensino fundamental e médio fixado em lei complementar. (grifos
nossos)
Como se vê, a Constituição assinala que deverá ser comprovado um tempo mínimo de efetivo
exercício nas funções de magistério, sendo que esse deverá ser fixado por meio de lei complementar. Além
disso, embora não esteja expresso no §8º acima, a aposentadoria do professor não dispensa o tempo de
contribuição mínimo, tampouco a carência para a obtenção do benefício. Em verdade, o tempo de efetivo
exercício nas funções de magistério deverá ser, também, tempo de contribuição, uma vez que não se admite
mais tempo de serviço e tempo ficto, ambos sem contribuição efetiva.
A lei complementar ainda não existe no ordenamento jurídico. Devido a isso existe uma norma
transitória no corpo da Emenda 103 que fixa, por enquanto, esse tempo mínimo. É o art. 19, da Emenda 103,
pelo qual se exige o tempo mínimo de efetivo exercício no magistério de 25 anos. Esse tempo, como dito,
também deve ser de contribuição, isto é, são 25 anos trabalhando e contribuindo exclusivamente como
professor(a) do ensino infantil, fundamental e médio. O tempo de 25 anos vale tanto para homens, quanto
para mulheres, não havendo distinção nesse tipo de aposentadoria.
Art. 19. Até que lei disponha sobre o tempo de contribuição a que se refere o inciso I do §7º
do art. 201 da Constituição Federal, o segurado filiado ao Regime Geral de Previdência
Social após a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional será aposentado aos
62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se
homem, com 15 (quinze) anos de tempo de contribuição, se mulher, e 20(vinte) anos de
tempo de contribuição, se homem.
§1º Até que lei complementar disponha sobre a redução de idade mínima ou tempo de
contribuição prevista nos §§1º e 8º do art. 201 da Constituição Federal, será concedida
aposentadoria:
(...)
II - ao professor que comprove 25 (vinte e cinco) anos de contribuição exclusivamente em
efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e
médio e tenha 57 (cinquenta e sete) anos de idade, se mulher, e 60 (sessenta) anos de idade,
se homem.
Assim, a mudança que importa é a redução do requisito etário, exigindo-se 5 anos a menos do que
na aposentadoria programada comum. Isso quer dizer que as professoras poderão se aposentar com 57 anos
de idade, enquanto que os professores com 60 anos de idade. Nada obstante, deverão comprovar um tempo
188
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
mínimo de contribuição maior e exclusivo em efetivo exercício das funções de magistério na educação
infantil e no ensino fundamental e médio. Veja o que diz a Portaria 450 sobre:
Art. 20. A aposentadoria programada do professor é devida aos segurados filiados ao RGPS
a partir de 13 de novembro de 2019, ou, se mais vantajosa, aos demais, exigidos,
cumulativamente:
I - 25 (vinte e cinco) anos, para ambos os sexos, de efetivo e exclusivo exercício nas funções
de magistério na educação infantil e nos ensinos fundamental e médio; e
II - 57 (cinquenta e sete) anos de idade, se mulher, e 60 (sessenta) anos de idade, se homem.
Quanto à RMI, ela seguirá a regra do art. 26, caput, da EC nº 103. Perceba, apenas, que o professor
já começa com um coeficiente de 70% para os homens e de 80% para as mulheres. Isso porque, se o tempo
de contribuição mínimo é de 25 anos para ambos os sexos (com efetivo exercício nas funções de magistério
no ensino básico), então, o professor homem terá 5 anos a mais do que os 20 anos previstos na regra do art.
26, §2º, da EC 103, enquanto que a professora mulher terá 10 anos a mais. Com isso:
189
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Quanto à extensão das regras diferenciadas da aposentadoria do professor, deve-se destacar que
elas somente valem, realmente, para os professores do ensino básico, não alcançando professores de
graduação. O Decreto 10.410/2020, nada obstante, deu interpretação expansiva ao conceito de função de
magistério, abarcando “aquela exercida por professor em estabelecimento de ensino de educação básica em
seus diversos níveis e modalidades, incluídas, além do exercício da docência, as funções de direção de
unidade escolar e de coordenação e assessoramento pedagógicos” (art. 54, §2º, do Decreto nº 3.048/99,
com as alterações do Decreto nº 10.410/20). Logo, não apenas o professor que atua na sala de aula que terá
direito às regras diferenciadas de aposentadoria, como vimos acima, mas também aqueles professores que
eventualmente estejam ocupando as seguintes funções dentro da unidade escolar:
• de direção;
• de coordenação pedagógica;
• de assessoramento pedagógico.
Em síntese:
APOSENTADORIA
PROGRAMADA DO
PROFESSOR
A reforma previdenciária não mudou a aposentadoria por idade dos trabalhadores rurais. Sobre isso,
destaca-se o art. 4º, da Portaria 450:
Art. 4º Ficam mantidas as concessões da aposentadoria por idade rural, agora denominada
de aposentadoria do trabalhador rural e do garimpeiro, e as aposentadorias da pessoa
com deficiência da Lei Complementar nº 142, de 8 de maio de 2013, nas mesmas condições
anteriormente previstas, inclusive quanto ao seu valor, observadas, no entanto, com novas
regras quanto à formação do Período Básico de Cálculo - PBC. (grifos nossos)
Os requisitos para a concessão da aposentadoria por idade rural, considerando a atual regra
estabelecida pela Emenda Constitucional nº 103 de 2019, são:
190
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
rural, o garimpeiro e o pescador artesanal - se a implementação dos requisitos de idade e carência foram
atendidos antes ou depois da Emenda Constitucional nº 103/19.
Lembrando, ainda, que o salário de benefício do segurado especial consiste no valor de 1 salário-
mínimo, conforme art. 29, §6º, da Lei nº 8.213/1991, salvo se contribuírem facultativamente na forma do
art. 21, da Lei nº 8.212/1991. O segurado especial somente contribuiu sobre o resultado da comercialização
de sua produção, isto é, se ele vender sua produção, necessita contribuir sobre o faturamento. A norma
tributária que especifica o fato gerador da contribuição, bem como suas alíquotas está prevista no art. 25,
da Lei 8.212/91:
No plano do Decreto 3.048/99, com as alterações já promovidas pelo Decreto 10.410/20, o art. 56
enuncia que:
Art. 56. A aposentadoria por idade do trabalhador rural, uma vez cumprido o período de
carência exigido, será devida aos segurados a que se referem a alínea “a” do inciso I, a
alínea “j” do inciso V e os incisos VI e VII do caput do art. 9º e aos segurados garimpeiros
que trabalhem, comprovadamente, em regime de economia familiar, conforme definido
no §5º do art. 9º, quando completarem cinquenta e cinco anos de idade, se mulher, e
sessenta anos de idade, se homem. (grifos nossos)
Nos termos do art. 25, da Portaria 450/20, o “garimpeiro que trabalha em regime de economia
familiar terá acesso ao benefício de aposentadoria por idade com redução do requisito etário”. Assim, todo
garimpeiro é contribuinte individual, mas comprovando que exerce sua atividade em regime de economia
familiar, fará jus à idade reduzida para se aposentar. Nada obstante, como contribuinte individual que é,
precisa recolher obrigatoriamente para computar o tempo de carência.
Já o segurado especial e o pescador artesanal que laboram em regime de economia familiar não
precisam recolher, mas apenas comprovar o regime de subsistência de suas atividades. Com isso, não
havendo contribuições efetivas do segurado especial, deve-se dar aplicação ao disposto no art. 29, §6º, da
Lei nº 8.213/1991, que assim diz:
191
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Nessas condições de não contributividade, aplica-se a regra acima, conjugada com a norma do art.
39, I e II, da Lei nº 8.213/1991. Isso significa que os segurados especiais que não recolherem farão jus aos
benefícios no valor de 1 salário-mínimo, enquanto que, caso eventualmente recolham, terão o salário de
benefício calculado na forma do art. 26, da Emenda Constitucional nº 103 (média aritmética de todos os
salários de contribuição desde a competência julho/1994 ou a última recolhida em caso de filiação posterior
àquela). É o art. 39, I, da Lei nº 8.213/1991, a pedra de toque para a previsão do direito aos benefícios de 1
salário-mínimo para os segurados especiais:
Art. 39. Para os segurados especiais, referidos no inciso VII do caput do art. 11 desta Lei,
fica garantida a concessão
I - de aposentadoria por idade ou por invalidez, de auxílio-doença, de auxílio-reclusão ou de
pensão, no valor de 1 (um) salário-mínimo, e de auxílio-acidente, conforme disposto no art.
86 desta Lei, desde que comprovem o exercício de atividade rural, ainda que de forma
descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao
número de meses correspondentes à carência do benefício requerido, observado o disposto
nos arts. 38-A e 38-B desta Lei (...)
De outro lado, em sendo o caso de trabalhadores rurais que não sejam segurados especiais, bem
como garimpeiros e, ainda, segurados especiais que contribuam facultativamente na forma do art. 21, da Lei
nº 8.212/1991, a RMI não será de apenas um salário-mínimo. Nesses casos, a RMI será calculada pela
aplicação do coeficiente de 70% sobre o salário de benefício, com o acréscimo de 1% a cada ano de
contribuição. Assim, por exemplo, em havendo 20 anos de contribuição, um garimpeiro poderá se aposentar
com uma RMI de 90% de seu salário de benefício (20 x 1% = 20% + 70% = 90%).
§2º O valor da renda mensal da aposentadoria de que trata este artigo para os
trabalhadores rurais a que se referem a alínea “a” do inciso I, a alínea “j” do inciso V e o
inciso VI do caput do art. 9º, para o garimpeiro e para o segurado especial que contribua
facultativamente corresponderá a setenta por cento do salário de benefício definido na
forma prevista no art. 32, com acréscimo de um ponto percentual para cada ano de
contribuição.
(Redação dada pelo Decreto nº 10.410, de 2020).
Art. 201.
(...)
§7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos da lei,
obedecidas as seguintes condições:
(...)
II - 60 (sessenta) anos de idade, se homem, e 55 (cinquenta e cinco) anos de idade, se
mulher, para os trabalhadores rurais e para os que exerçam suas atividades em regime de
economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal.
192
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Veja-se, pois, que a Constituição Federal engloba na redução do requisito etário não apenas o
trabalhador rural, mas também o garimpeiro e o pescador artesanal. Quanto aos trabalhadores rurais, ao
tratar o requisito de redução da idade mínima o Constituinte não dirigiu a norma apenas aos trabalhadores
braçais empregados, mas também aos produtores rurais, empregadores rurais, inclusive contribuintes
individuais rurais. O requisito etário reduzido é para todos os trabalhadores rurais. Assim, para a redução da
idade não importa se o trabalhador rural trabalha ou não em regime de economia familiar, já que a regra
constitucional desse redutor etário prevista no art. 201, §7º, II, da CF/88, é indistinta a todos os trabalhadores
rurais, bem como para aqueles que laboram em regime de economia familiar.
Em síntese, o requisito etário reduzido para esse tipo de aposentadoria destina-se a todo e qualquer
tipo de trabalhador rural, assim entendidos os empregados rurais, os contribuintes individuais rurais, os
trabalhadores avulsos rurais e os segurados especiais (sendo que esses últimos são o pequeno produtor rural
em regime de economia familiar, o garimpeiro e o pescador artesanal). Todos esses trabalhadores rurais e
trabalhadores em regime de economia familiar, neles incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador
artesanal terão o direito de se aposentarem com 60 anos, se homens, e 55 anos, se mulheres.
Quanto à carência, o §2º, do art. 48, da Lei nº 8.213/1991, exige que o trabalhador rural deve
comprovar o efetivo exercício da atividade rural no período imediatamente anterior ao requerimento
administrativo. Isso significa que, para ter direito àqueles requisitos etários reduzidos, o segurado deve ser
efetivamente um daqueles trabalhadores rurais quando for requerer o benefício ou que, pelo menos, tenha
adquirido o direito ao benefício quando era trabalhador rural. Ambos os requisitos – idade e carência –
devem ser cumpridos quando o segurado ainda era um trabalhador rural.
Por exemplo, na situação hipotética em que um segurado tenha trabalhado 15 anos como
trabalhador rural no interior do Mato Grosso, mas quando ele tinha ainda 55 anos de idade, mudou-se do
campo para a cidade, passando a ser trabalhador urbano, deixando as lides campesinas no passado. Nesse
caso, quando completar 60 anos de idade, ao tentar o benefício de aposentadoria por idade rural, já terão
passados cinco anos desde que ele deixou o campo e, com isso, não poderá mais atender ao que o art. 48,
§2º, da Lei nº 8.213/1991, exige: que o exercício da atividade rural tenha se dado no período imediatamente
anterior ao requerimento.
Em resumo, ele não será mais trabalhador rural no momento do requerimento e não poderá se
aposentar com a idade reduzida. No momento do requerimento, ele já tinha se transformado em trabalhador
urbano e, com isso, deve cumprir os requisitos da aposentadoria programada, que é de natureza urbana.
Mas o grande problema é que a lei não especifica qual é o “período imediatamente anterior”. Há
entendimento no sentido de que se deve considerar o período até o máximo de 36 meses anteriores a DER,
em analogia ao prazo máximo previsto para os períodos de graça assinalados no art. 15, da Lei nº 8.213/1991.
De outro lado, em tese, poder-se-ia argumentar pela aplicabilidade, também no caso de aposentadorias
rurais, da aplicação da Lei nº 10.666/2003. Mas o STJ manteve em nível de precedente qualificado esse
entendimento, alçando-o ao patamar de julgado em recurso repetitivo, como se pode ver da ementa abaixo
(Tema 642 de seus recursos repetitivos):
193
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
por idade rural, momento em que poderá requerer seu benefício. Se, ao alcançar a faixa
etária exigida no artigo 48, §1º, da Lei 8.213/1991, o segurado especial deixar de exercer
atividade rural, sem ter atendido a regra transitória da carência, não fará jus à
aposentadoria por idade rural pelo descumprimento de um dos dois únicos critérios
legalmente previstos para a aquisição do direito. Ressalvada a hipótese do direito
adquirido em que o segurado especial preencheu ambos os requisitos de forma
concomitante, mas não requereu o benefício.
2. Recurso especial do INSS conhecido e provido, invertendo-se o ônus da sucumbência.
Observância do art. 543-C do Código de Processo Civil. (REsp 1354908/SP, Rel. Ministro
MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 09/09/2015, DJe 10/2/2016)
No inteiro teor do acordão acima, restou muito clara a assertiva de que “a regra prevista no art. 3º,
§1º, da Lei nº 10.666/2003 referente à desnecessidade do preenchimento dos requisitos da aposentadoria
não se aplica à aposentadoria por idade rural prevista no art. 143 da Lei 8.213/1991. Não se mostra possível
conjugar de modo favorável ao segurado especial a norma do §1º do art. 3º da Lei nº 10.666/2003, que
permitiu a dissociação da comprovação dos requisitos para os benefícios que especificou: aposentadoria por
tempo de contribuição, aposentadoria especial e aposentadoria por idade urbana, as quais pressupõem
contribuição” (grifo nosso).
APOSENTADORIA POR
IDADE DO Esses requisitos
TRABALHADOR RURAL também valem para o
em regime de PESCADOR ARTESANAL
economia familiar
Sobre a aposentadoria programada, trata-se de benefício não programado por razões óbvias, pois
ninguém se programa para em algum momento da sua vida ficar incapaz para o trabalho, muito menos de
forma total e permanente. Sendo assim, foi de bom grado a mudança promovida pela Emenda Constitucional
103 no que toca à alteração da nomenclatura até então adotada.
Assim, em relação à Emenda 103, houve alteração da nomenclatura para a aposentadoria decorrente
de incapacidade total e permanente. Antes da reforma previdenciária de 2019 o nome deste benefício era
“aposentadoria por invalidez”. Nos termos do art. 40, da Portaria 450, a “aposentadoria por invalidez passa
a ser chamada aposentadoria por incapacidade permanente e poderá ser concedida nas modalidades
previdenciária e acidentária”. Com efeito, temos que a aposentadoria por incapacidade permanente pode
194
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
ser acidentária ou previdenciária. Nesse ponto, a expressão adotada não é das melhores, porque mesmo
sendo uma aposentadoria por incapacidade permanente decorrente de algum tipo de acidente, seja ele de
trabalho ou não, continua esse benefício mantendo sua natureza previdenciária, já que depende da
verificação do cumprimento de requisitos gerais atinentes à qualidade de segurado e carência.
De todo modo, vale a lembrança de que, em sendo uma incapacidade oriunda de acidente de
trabalho, o respectivo pedido de concessão de benefício deverá ser dirigido à Justiça Estadual, ante a ressalva
expressa dada pelo Constituinte Originário no art. 109, inciso I, da Constituição Federal de 1988:
Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes
entidades mórbidas:
I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do
trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada
pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social;
II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de
condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente,
constante da relação mencionada no inciso I.
§1º Não são consideradas como doença do trabalho:
a) a doença degenerativa;
b) a inerente a grupo etário;
c) a que não produza incapacidade laborativa;
d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se
desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto
determinado pela natureza do trabalho.
§2º Em caso excepcional, constatando-se que a doença não incluída na relação prevista
nos incisos I e II deste artigo resultou das condições especiais em que o trabalho é
executado e com ele se relaciona diretamente, a Previdência Social deve considerá-la
acidente do trabalho.
Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei:
I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído
diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o
trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação;
II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em consequência de:
a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de
trabalho;
b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao
trabalho;
c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de
trabalho;
d) ato de pessoa privada do uso da razão;
e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força
maior;
III - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua
atividade;
IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho:
a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa;
195
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Quanto às normas que regem a aposentadoria por incapacidade permanente são as seguintes:
A incapacidade, conforme reza o art. 43, §1º, do RPS, deverá ser verificada por meio de exame
médico-pericial a cargo da perícia médica federal, de modo que o segurado possa, às suas expensas, ser
acompanhado por médico de sua confiança. Note que o segurado pode levar para a perícia médica do INSS
um médico de sua confiança. É na perícia médica a cargo da perícia médica federal que o segurado terá seu
afastamento do trabalho avaliado. Não necessariamente haverá um auxílio por incapacidade temporária
anterior à aposentadoria, na medida em que se a incapacidade for constatada em seu grau máximo, logo na
primeira avaliação médica, o INSS deverá conceder imediatamente a aposentação do segurado. As hipóteses
de conclusão possíveis decorrentes da perícia médica federal são as seguintes:
• inexistência de incapacidade,
• existência de incapacidade parcial e/ou meramente temporária, o que vai gerar o benefício de
auxílio por incapacidade temporária; ou,
• por fim, em havendo constatação de incapacidade total e permanente, insuscetível de
reabilitação para qualquer atividade que lhe garanta a subsistência, o segurado será aposentado
por incapacidade permanente.
196
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
No âmbito administrativo, todos os anos o INSS edita uma portaria para regular os procedimentos
internos de revisão daqueles benefícios por incapacidade, tal como, por exemplo, a portaria nº 914, de 6 de
agosto de 2021, que dispõe “sobre os procedimentos de operacionalização do Programa de Revisão dos
Benefícios por Incapacidade – PRBI”. O art. 4º, §3º, da referida Portaria, deixa bem claro que, no “caso de
não atendimento da convocação no prazo estabelecido no caput, o benefício será suspenso”.
(...) o segurado aposentado por invalidez poderá ser convocado a qualquer momento para
avaliação das condições que ensejaram o afastamento ou a aposentadoria, concedida
judicial ou administrativamente, observado o disposto no art. 101 desta Lei.
Cabe chamar à atenção, assim, nos termos do art. 101, caput, que:
O art. 101, da Lei nº 8.213/1991, portanto, reforça a regra do art. 43, §4º, da Lei nº 8.213/1991.
Assim, em relação ao segurado em gozo de auxílio-doença, aposentadoria por invalidez, bem como o
pensionista inválido serão obrigados, sob pena de suspensão do benefício, a submeter-se a exame médico a
cargo da Previdência Social. Além disso, o citado artigo também determina outras obrigações, sob pena de
suspensão das prestações:
Assim, esse referido artigo especifica hipóteses diante das quais o INSS não pode mais convocar o
segurado para o exame médico pericial de revisão. Esse dispositivo é dirigido não apenas ao segurado
aposentado por incapacidade permanente e ao pensionista inválido, ou seja, aquele dependente habilitado
para fins de pensão por morte na condição de filho ou irmão inválido, conforme art. 16, da Lei de Benefícios,
mas também ao segurado em gozo de auxílio por incapacidade temporária. Cabe anotar, entretanto, que
para os segurados que estão recebendo benefício de auxílio por incapacidade temporária, o dispositivo
complementa outro sistema de revisão da incapacidade. Isso, pois, quanto aos segurados em gozo de auxílio
por incapacidade temporária, vigora a regra da “alta programada”, que será estudada oportunamente,
quando formos tratar desse benefício.
Tratemos das exceções. Para que o segurado – e o pensionista inválido - incidam nessas exceções, a
primeira questão a ser identificada é se houve retorno ou não ao trabalho. Além dessa primeira questão,
existem outros requisitos cumulativos para que haja a isenção da obrigação de comparecimento à perícia
médica revisional. Esses outros requisitos são ligados à idade do beneficiário, bem como ao tempo de
duração do benefício por incapacidade.
197
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
• não tiverem retornado ao trabalho e já tenham 55 anos de idade ou mais e já estejam recebendo
o benefício por 15 anos ou mais; ou
• não tiverem retornado ao trabalho e já tenham mais de 60 anos, independentemente do tempo
de duração do benefício.
Mas, de outro lado, existem as exceções das exceções! Mesmo nas hipóteses acima, os segurados
serão convocados nas seguintes situações:
Acerca da extensão dos beneficiários possíveis para receberem a aposentadoria por incapacidade
permanente, não há restrições no RGPS. todos os segurados têm direito a esse benefício.
Em relação à carência exigida para a aposentadoria por incapacidade permanente, temos que, de
acordo com o art. 5º, da Portaria 450, ela será de 12 contribuições mensais, mesmo após a EC nº 103:
Art. 5º Fica mantida a carência disciplinada pela Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991,
mantendo-se, assim, a exigência de 180 (cento e oitenta) contribuições mensais para as
aposentadorias programáveis e de 12 (doze) contribuições para a aposentadoria por
incapacidade permanente previdenciária, antiga aposentadoria por invalidez
previdenciária, classificada como não-programável. (grifos nossos)
Art. 25. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social
depende dos seguintes períodos de carência, ressalvado o disposto no art. 26:
I - auxílio-doença e aposentadoria por invalidez: 12 (doze) contribuições mensais;
Art. 29. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social,
ressalvado o disposto no art. 30, depende dos seguintes períodos de carência:
I - doze contribuições mensais, nos casos de auxílio por incapacidade temporária e
aposentadoria por incapacidade permanente (...)
198
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Cabe lembrar que, no caso de aposentadoria por incapacidade permanente acidentária, vale a
mesma regra aplicável ao auxílio por incapacidade temporária, segundo a qual é isento de carência o
segurado que sofrer acidente de qualquer natureza.
A respeito da renda mensal inicial da aposentadoria por incapacidade permanente, seu cálculo deve,
desde 13/11/2019, ser extraído do art. 26, caput, da Emenda 103:
Art. 26. Até que lei discipline o cálculo dos benefícios do regime próprio de previdência
social da União e do Regime Geral de Previdência Social, será utilizada a média aritmética
simples dos salários de contribuição e das remunerações adotados como base para
contribuições a regime próprio de previdência social e ao Regime Geral de Previdência
Social, ou como base para contribuições decorrentes das atividades militares de que tratam
os arts. 42 e 142 da Constituição Federal, atualizados monetariamente, correspondentes a
100% (cem por cento) do período contributivo desde a competência julho de 1994 ou desde
o início da contribuição, se posterior àquela competência.
§1º A média a que se refere o caput será limitada ao valor máximo do salário de
contribuição do Regime Geral de Previdência Social para os segurados desse regime e para
o servidor que ingressou no serviço público em cargo efetivo após a implantação do regime
de previdência complementar ou que tenha exercido a opção correspondente, nos termos
do disposto nos §§14 a 16 do art. 40 da Constituição Federal.
§2º O valor do benefício de aposentadoria corresponderá a 60% (sessenta por cento) da
média aritmética definida na forma prevista no caput e no §1º, com acréscimo de 2 (dois)
pontos percentuais para cada ano de contribuição que exceder o tempo de 20 (vinte) anos
de contribuição nos casos:
I - do inciso II do §6º do art. 4º, do §4º do art. 15, do §3º do art. 16 e do §2º do art. 18;
II - do §4º do art. 10, ressalvado o disposto no inciso II do §3º e no §4º deste artigo;
III - de aposentadoria por incapacidade permanente aos segurados do Regime Geral de
Previdência Social, ressalvado o disposto no inciso II do §3º deste artigo; e
IV - do §2º do art. 19 e do §2º do art. 21, ressalvado o disposto no §5º deste artigo.
§3º O valor do benefício de aposentadoria corresponderá a 100% (cem por cento) da média
aritmética definida na forma prevista no caput e no §1º:
I - no caso do inciso II do §2º do art. 20;
II - no caso de aposentadoria por incapacidade permanente, quando decorrer de acidente
de trabalho, de doença profissional e de doença do trabalho.
§4º O valor do benefício da aposentadoria de que trata o inciso III do §1º do art. 10
corresponderá ao resultado do tempo de contribuição dividido por 20 (vinte) anos, limitado
a um inteiro, multiplicado pelo valor apurado na forma do caput do §2º deste artigo,
ressalvado o caso de cumprimento de critérios de acesso para aposentadoria voluntária que
resulte em situação mais favorável.
199
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
§5º O acréscimo a que se refere o caput do §2º será aplicado para cada ano que exceder 15
(quinze) anos de tempo de contribuição para os segurados de que tratam a alínea "a" do
inciso I do §1º do art. 19 e o inciso I do art. 21 e para as mulheres filiadas ao Regime Geral
de Previdência Social.
§6º Poderão ser excluídas da média as contribuições que resultem em redução do valor do
benefício, desde que mantido o tempo mínimo de contribuição exigido, vedada a utilização
do tempo excluído para qualquer finalidade, inclusive para o acréscimo a que se referem os
§§2º e 5º, para a averbação em outro regime previdenciário ou para a obtenção dos
proventos de inatividade das atividades de que tratam os arts. 42 e 142 da Constituição
Federal.
§7º Os benefícios calculados nos termos do disposto neste artigo serão reajustados nos
termos estabelecidos para o Regime Geral de Previdência Social.
Art. 44. A aposentadoria por incapacidade permanente será devida a partir do dia imediato
ao da cessação do auxílio por incapacidade temporária, ressalvado o disposto no §1º, e
consistirá em renda mensal decorrente da aplicação dos seguintes percentuais incidentes
sobre o salário de benefício, definido na forma do disposto no art. 32:
I - sessenta por cento, com acréscimo de dois pontos percentuais para cada ano de
contribuição que exceder o tempo de vinte anos de contribuição, para os homens, ou quinze
anos de contribuição, para as mulheres; ou
II - cem por cento, quando a aposentadoria decorrer de:
a) acidente de trabalho;
b) doença profissional; ou
c) doença do trabalho.
Primeiramente deverá ser calculado o salário de benefício, com base na média aritmética de 100%
do período básico de cálculo do segurado, considerado esse o período contributivo desde a competência
julho de 1994 ou desde o início da contribuição, se posterior àquela competência. A partir disso, aplica-se o
coeficiente de partida de 60% sobre o SB (salário de benefício). A norma temporária do art. 26, da EC 103,
ademais, permite que ao coeficiente de 60% possa se somar 2% a cada ano que ultrapassar:
• acidente de trabalho;
• doença profissional e de;
• doença do trabalho.
Nesses casos, a RMI será calculada com base em 100% do SB encontrado, independentemente do
tempo de contribuição do segurado. Além disso, a melhor interpretação é que, tal como na regra relativa aos
casos não derivados de acidente de trabalho e afins, no caso dessas incapacitações laborais e equiparadas a
renda mensal inicial não se limitará, igualmente, a 100% do salário de benefício, desde que não ultrapasse o
teto da previdência, por óbvio. Isso quer dizer que os acréscimos de 2% a cada ano que exceder o tempo
mínimo de 15 anos para mulheres e 20 anos para homens poderão ultrapassar 100% do salário de benefício,
mas limitado ao teto dos benefícios da previdência social. Isso significa que se um segurado homem sofrer
200
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
acidente de trabalho e já contar com 45 anos de contribuição, ele poderá aplicar o acréscimo de 2% a cada
ano que ultrapassar os 20 anos de contribuição de modo a ultrapassar, na soma, os 100% do seu salário de
benefício. Assim, 2% x 25 anos, o acréscimo será de 50% sobre o coeficiente de partida (sim, não será 50% +
100%), de sorte que a RMI de sua aposentadoria será de 110% do salário de benefício.
É importante lembrar, também, da previsão legal que permite o aumento da RMI em 25%, tal como
previsto no art. 45, da Lei nº 8.213/1991:
Art. 45. O valor da aposentadoria por invalidez do segurado que necessitar da assistência
permanente de outra pessoa será acrescido de 25% (vinte e cinco por cento).
Parágrafo único. O acréscimo de que trata este artigo:
a) será devido ainda que o valor da aposentadoria atinja o limite máximo legal;
b) será recalculado quando o benefício que lhe deu origem for reajustado;
c) cessará com a morte do aposentado, não sendo incorporável ao valor da pensão.
Art. 45. O valor da aposentadoria por incapacidade permanente do segurado que necessitar
da assistência permanente de outra pessoa será acrescido de vinte e cinco por cento,
observada a relação constante do Anexo I, e:
I - devido ainda que o valor da aposentadoria atinja o limite máximo legal; e
II - recalculado quando o benefício que lhe deu origem for reajustado.
Parágrafo único. O acréscimo de que trata o caput cessará com a morte do aposentado,
não sendo incorporado ao valor da pensão por morte.
Haverá o acréscimo mesmo que a aposentadoria atinja teto do RGPS. O segurado que faz jus ao
acréscimo da grande invalidez pode ter, portanto, sua RMI calculada na base de 125% de seu salário de
benefício, podendo “furar” o limite máximo do salário de contribuição do RGPS. De outro lado, é um
acréscimo personalíssimo, pois se refere à condição médica do aposentado por incapacidade permanente,
que necessita de terceiros para cuidados diários. É comum nas perícias judiciais, inclusive, um quesito que
indaga se o periciando possui necessidade de assistência permanente e se tem condição de ter uma vida
independente com relação a cuidados pessoais, etc. Em sendo personalíssimo, o acréscimo referente à
grande invalidez cessa com a morte do segurado, de modo que não entra na RMI da pensão por morte
derivada da aposentadoria do segurado falecido.
Com relação às possíveis hipóteses nas quais o segurado terá direito ao acréscimo do art. 45, da Lei
de Benefícios, o Regulamento da Previdência Social indica em seu Anexo I um rol de incapacidades que
presumidamente se enquadra na grande invalidez. Tem-se, contudo, um rol meramente exemplificativo na
lista de incapacidades indicadas naquele anexo.
Também é importante lembrar que o STF, no julgamento do Tema 1095 de sua repercussão geral,
entendeu ser vedada a extensão do referido adicional a outras hipóteses de aposentadoria. A tese firmada
pela Corte Suprema foi assim definida:
No âmbito do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), somente lei pode criar ou ampliar
benefícios e vantagens previdenciárias, não havendo, por ora, previsão de extensão do
auxílio da grande invalidez a todas às espécies de aposentadoria.
Com isso, não possui mais aplicabilidade o quanto decidido pelo STJ, quando do julgamento do Tema
982 de seus recursos repetitivos, cujo julgamento havia permitido a extensão daquele adicional para outras
aposentadorias.
201
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
A respeito da DIB da aposentadoria por incapacidade permanente, ela pode derivar da conversão do
auxílio por incapacidade temporária ou ser concedida diretamente pelo INSS. Na primeira hipótese, a
aposentadoria iniciará no dia imediato à cessação do auxílio, enquanto que, em não havendo esse, a DIB da
aposentadoria corresponderá ao 16º dia de afastamento para os segurados empregados (exceto o
doméstico) e no primeiro dia afastamento pra os demais segurados, desde que o afastamento seja maior do
que 15 dias. Nessa segunda hipótese, caso o pedido administrativo tenha sido feito após 30 dias do início do
afastamento, a aposentadoria será devida desde a DER. Quando não houver prévio requerimento
administrativo, aplica-se a Súmula 576 do STJ:
Cabe registrar, contudo, que essa súmula foi editada antes do Tema 350 do Supremo Tribunal
Federal, que fixou a tese relativa à indispensabilidade do prévio requerimento administrativo para que se
configure o interesse de agir na ação judicial. Assim, a Súmula 576 do STJ, deve ser lida nessas circunstâncias,
tais como a hipótese de reconhecimento da incapacidade permanente somente no curso do processo. É
comum que os pedidos judiciais atinentes à incapacidade do segurado sejam declinados em nível subsidiário
e cumulativo, isto é, são formulados de modo a, não sendo concedida a aposentadoria por invalidez, que seja
então considerado o pedido de auxílio por incapacidade temporária. Em paralelo, também é frequente que
decisões judiciais entendam que uma incapacidade tida como parcial pela perícia médica judicial seja
considerada como total, levando em conta aspectos relativos à idade da parte, ao seu histórico profissional
limitado e, bem assim, à baixa instrução. Com isso, nessas ocasiões, pode-se ter como válida a aplicação da
Súmula 576, do STJ, de modo a considerar o início da aposentadoria por invalidez na data da citação,
mantendo os atrasados desde a DER – e até a citação – apenas no importe respectivo do auxílio por
incapacidade temporária.
Em relação à cessação da aposentadoria por incapacidade permanente, ela é regulada pelos arts. 47
e 49, da Lei nº 8.213/1991, enquanto no Regulamento a questão é dirimida pelo art. 49. Em suma, a
aposentadoria por incapacidade permanente somente cessa com a morte do segurado, caso a sua
capacidade para o trabalho não seja atestada em alguma perícia revisional, conforme já abordo. Caso ocorra
essa última hipótese, em se verificando a recuperação da capacidade do segurado, a norma previdenciária
estabelece uma distinção entre a recuperação dentro do prazo de cinco anos da incapacitação ou maior do
que cinco anos, a fim de que se estabeleça o prazo de cessação do benefício.
Nessa última hipótese, fala-se da chamada mensalidade de recuperação. Portanto, para os casos de
recuperação da capacidade laboral no prazo de 5 anos, há duas hipóteses de cessação, conforme a categoria
do segurado:
• 1º) sendo segurado empregado que tenha o direito de retornar imediatamente à função que
desempenhava na empresa ao se aposentar, na forma da legislação trabalhista (ou seja, na forma
do art. 475, da CLT39)40, a da aposentadoria será imediata. Essa cessação é imediata por conta do
39 Art. 475 - O empregado que for aposentado por invalidez terá suspenso o seu contrato de trabalho durante o prazo fixado pelas
leis de previdência social para a efetivação do benefício. §1º - Recuperando o empregado a capacidade de trabalho e sendo a
aposentadoria cancelada, ser-lhe-á assegurado o direito à função que ocupava ao tempo da aposentadoria, facultado, porém, ao
empregador, o direito de indenizá-lo por rescisão do contrato de trabalho, nos termos dos arts. 477 e 478, salvo na hipótese de ser
ele portador de estabilidade, quando a indenização deverá ser paga na forma do art. 497. (Redação dada pela Lei nº 4.824, de
5.11.1965) §2º - Se o empregador houver admitido substituto para o aposentado, poderá rescindir, com este, o respectivo contrato
de trabalho sem indenização, desde que tenha havido ciência inequívoca da interinidade ao ser celebrado o contrato.
40 Súmula n.º 160 do Tribunal Superior do Trabalho: “Cancelada a aposentadoria por invalidez, mesmo após cinco anos, o trabalhador
terá direito de retomar ao emprego, facultado, porém, ao empregador, indenizá-lo na forma da lei”.
202
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
direito trabalhista que assegura a estabilidade temporária do segurado afastado por acidente de
trabalho ou fato equiparado a acidente de trabalho;
• 2º) para os demais segurados, se a recuperação ocorrer antes de 5 anos, as prestações da
aposentadoria serão prolongadas por tantos meses quantos forem os anos de duração do auxílio
por incapacidade temporária e da aposentadoria por incapacidade permanente. Assim, por
exemplo, se o benefício durou 4 anos, a mensalidade de recuperação durará 4 meses.
Já para os casos de recuperação da capacidade laboral no prazo maior do que 5 anos, há a previsão
de cessação gradual:
• 1º) nos seis meses após a verificação da capacidade, o valor da prestação continua sendo
integral;
• 2º) após o período acima e pelo tempo de seis meses, a prestação cai para 50% do valor anterior;
• 3º) por fim, após os períodos acima e por mais seis meses, a prestação cai mais 25% em relação
ao valor anterior, ou seja, passa a ter uma redução de 75% do valor inicial da aposentadoria.
Mas, atenção: o pagamento da mensalidade de recuperação de forma gradual, tal como supracitado,
também ocorrerá quando a recuperação for parcial para o trabalho ou quando o segurado for declarado apto
para o exercício de outra atividade. Nesses casos, independentemente do tempo de duração do benefício
por incapacidade, não importa se maior ou menor do que cinco anos, haverá sempre a mensalidade de
recuperação paga de forma gradual, isto é, com redução de 6 em 6 meses.
APOSENTADORIA POR
INCAPACIDADE PERMANENTE
RMI = calculada na
Incapacidade absoluta 12 meses de
carência forma do art. 26, da EC
(total e permanente)
103.
Em relação a aposentadoria especial, é muito importante se ter em mente que houve mudança
significativa por meio da Emenda 103. Após a redação dada por essa emenda constitucional, o inciso II, do
203
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
§1º, do art. 201, CF/1988, agora, é mais detalhista e minucioso. Antes, a expressão era muito ampla:
condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. Agora, de antemão, o Constituinte já
aponta quais são as condições especiais que prejudicam a saúde: unicamente aquelas atividades exercidas
com efetiva exposição a agentes nocivos químicos, físicos e biológicos, ou a associação desses.
Quanto ao agente periculosidade, ele não se encontra mais no texto constitucional. É que a norma
constitucional antes previa que a aposentadoria especial era devido ao trabalhador que estivesse exposto a
agentes prejudiciais à saúde ou a sua integridade física. Essa última expressão foi retirada do texto
constitucional e, com isso, entende-se que não há mais fundamento para a concessão de aposentadoria
especial com base no agente periculosidade, a partir de 13/11/2019. Todavia, o texto do art. 57, da Lei nº
8.213/1991 ainda menciona aquela expressão. Ademais, deve-se ter em mira que a jurisprudência da TNU e
do STJ entendeu que é possível a concessão de aposentadoria especial com base na periculosidade mesmo
após o Decreto nº 2.172/1997. A jurisprudência da TNU e do STJ ainda não se manifestou sobre a supressão
da expressão “integridade física” do texto constitucional, de modo que, até eventual superação (overruling)
dos precedentes firmados, continua valendo a possibilidade judicial de concessão de aposentadoria especial
ao vigilante e aos eletricitários.
Essa questão foi decidida pela TNU, no Tema 128, no sentido de que é “possível o reconhecimento
de tempo especial prestado com exposição ao agente nocivo periculosidade, na atividade de vigilante, em
data posterior à vigência do Decreto nº 2.172/92, de 5 de março de 1997, desde que laudo técnico (ou
elemento material equivalente) comprove a permanente exposição à atividade nociva, com o uso de arma
de fogo”. No âmbito do STJ, o Tema 1031 assinalou que é
Quanto aos requisitos atuais para a aposentadoria especial, tem-se que, no âmbito
infraconstitucional, o art. 57 da Lei nº 8.213/1991, com a alteração introduzida pela Lei nº 9.032/95, dispõe
que a aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida, ao segurado que tiver
trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física durante 15 (quinze),
20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei. Portanto, pela regra constante do art. 57, da
Lei de Benefícios, a aposentadoria especial pode ser concedida com base em certos limites temporais de
exposição aos respectivos agentes nocivos. De acordo com o grau de nocividade, a lei permite que essa
exposição seja feita por até 15, 20 ou 25 anos.
Os requisitos para a concessão da aposentadoria especial, contudo, após a Emenda 103, estão
dispostos no corpo da própria emenda constitucional. O art. 19, §1º, I, da referida emenda, funciona
atualmente como norma transitória, valendo enquanto não sobrevier uma lei complementar para
estabelecer os requisitos para a aposentadoria especial. O art. 201, §1º, II, da Constituição Federal, na
redação dada pela Emenda 103, estabelece que podem ser estabelecidos, via lei complementar, previsão de
idade e tempo de contribuição distintos para os trabalhadores expostos aos agentes prejudiciais à saúde. E,
na medida em que essa lei complementar ainda não foi editada, o art. 19, §1º, I, da EC 103, funciona como
norma transitória.
Assim diz o referido dispositivo que regulamenta o art. 201, §1º, II, da CF/1988:
204
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Art. 19.
(...)
§1º Até que lei complementar disponha sobre a redução de idade mínima ou tempo de
contribuição prevista nos §§1º e 8º do art. 201 da Constituição Federal, será concedida
aposentadoria:
I - aos segurados que comprovem o exercício de atividades com efetiva exposição a
agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes,
vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação, durante, no mínimo, 15
(quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, nos termos do disposto nos arts. 57 e 58 da
Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, quando cumpridos:
a) 55 (cinquenta e cinco) anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 15
(quinze) anos de contribuição;
b) 58 (cinquenta e oito) anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 20 (vinte)
anos de contribuição; ou
c) 60 (sessenta) anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 25 (vinte e cinco)
anos de contribuição;
II - ao professor que comprove 25 (vinte e cinco) anos de contribuição exclusivamente em
efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e
médio e tenha 57 (cinquenta e sete) anos de idade, se mulher, e 60 (sessenta) anos de idade,
se homem.
§2º O valor das aposentadorias de que trata este artigo será apurado na forma da lei. (grifos
nossos)
Ao realizar a leitura atenta das novas regras permanentes para a aposentadoria especial, pode ser
concluído que:
• não consta mais possibilidade de aposentadoria especial com base em atividades que expõem o
trabalhador ao risco de sua integridade física, constando apenas que é possível benefício com
base em agentes nocivos;
• não consta mais a expressão genérica “prejudiciais à saúde”, mas sim “atividades com efetiva
exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde” ou a associação desses
agentes;
• ficou vedada a caracterização de atividade especial por categoria profissional ou ocupação
profissional;
• continua havendo gradação em três níveis temporais de exposição aos agentes nocivos, isto é, 15,
20 ou 25 anos de exposição, conforme o grau de agressividade do agente nocivo;
• passou-se a prever idade mínima para a aposentadoria especial.
As idades mínimas variam conforme o tempo de exposição ao agente nocivo. Em relação a esse
tempo, lembro que ele deve representar efetivo tempo de contribuição, especialmente porque a EC 103
também vedou expressamente qualquer contagem de tempo ficto após 13 de nivembro de 2019, conforme
inclusão do §14, ao art. 201, da CF/1988 (§14. É vedada a contagem de tempo de contribuição fictício para
efeito de concessão dos benefícios previdenciários e de contagem recíproca). Sendo assim, serão exigidas as
idades de:
Com relação ao cálculo da RMI, será ela feita com base no art. 26, caput, da Emenda Constitucional
nº 103. Ademais, não há que se falar mais em incidência de fator previdenciário. Na hipótese de atividade
especial com tempo mínimo de 15 anos de contribuição, incide o §5º, do art. 26, da EC 103, ou seja, será
possível o acréscimo de 2% para cada ano que sobejar 15 anos de contribuição, independentemente de o
requerente da aposentadoria ser homem ou mulher.
205
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Frisa-se, novamente, que o Constituinte também deixou clara a vedação da caracterização por
categoria profissional ou ocupação, fazendo isso de modo irrestrito. Perceba que isso almeja impedir a
interpretação jurisprudencial que se formou a respeito do reconhecimento de atividades especiais por mero
enquadramento ou ocupação profissional com base na norma da época. Isso porque, é de se notar que,
mesmo para os filiados antes da Emenda 103, a norma de transição estabelecida no art. 21 da Emenda proibiu
a caracterização da atividade especial por categoria profissional ou ocupação profissional, o que denota
possível violação à jurisprudência acima mencionada, que visa à proteção do ato jurídico perfeito e do direito
adquirido.
Se a norma de transição é dirigida aos segurados filiados anteriormente à Emenda 103, isso significa
que eles podem ter, em período anterior a 1995 (ano a partir do qual se extinguiu a aposentadoria
profissional pelo mero enquadramento), atividades consideradas especiais pelo simples enquadramento em
categoria profissional ou ocupação. No entanto se a própria norma de transição já proíbe esse
enquadramento, isso também pode significar a intenção normativa de não se permitir que os períodos
anteriores a 1995 sejam considerados naquela sistemática de enquadramento, violando, com isso, o ato
jurídico perfeito e o direito adquirido. Acerca disso, calha transcrever o art. 21, da Emenda 103, que é a
norma de transição para aqueles segurados filiados antes de 13 de novembro de 2019:
Art. 21. O segurado ou o servidor público federal que se tenha filiado ao Regime Geral de
Previdência Social ou ingressado no serviço público em cargo efetivo até a data de entrada
em vigor desta Emenda Constitucional cujas atividades tenham sido exercidas com efetiva
exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses
agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação, desde que
cumpridos, no caso do servidor, o tempo mínimo de 20 (vinte) anos de efetivo exercício no
serviço público e de 5 (cinco) anos no cargo efetivo em que for concedida a aposentadoria,
na forma dos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, poderão aposentar-se
quando o total da soma resultante da sua idade e do tempo de contribuição e o tempo de
efetiva exposição forem, respectivamente, de:
I - 66 (sessenta e seis) pontos e 15 (quinze) anos de efetiva exposição;
II - 76 (setenta e seis) pontos e 20 (vinte) anos de efetiva exposição; e
III - 86 (oitenta e seis) pontos e 25 (vinte e cinco) anos de efetiva exposição.
§1º A idade e o tempo de contribuição serão apurados em dias para o cálculo do somatório
de pontos a que se refere o caput.
§2º O valor da aposentadoria de que trata este artigo será apurado na forma da lei.
Em suma: a) quanto à natureza da atividade, se especial ou não, deve-se adotar a lei da época em
que a atividade foi prestada; b) quanto ao fator de conversão da atividade especial em comum, deve-se
adotar a lei do momento em que a conversão for realizada. Isso restou assentado no Tema 546, do STJ:
206
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
A lei vigente por ocasião da aposentadoria é a aplicável ao direito à conversão entre tempos
de serviço especial e comum, independentemente do regime jurídico à época da prestação
do serviço.
EMENTA
6. A tese adotada por esta Primeira Seção não viola o direito adquirido, pois o direito à
conversão é expectativa que somente se incorpora ao patrimônio jurídico do segurado
quando feita a proporção temporal, no momento do jubilamento, entre aposentadoria
especial (25 anos) e aposentadoria por tempo de contribuição (30 anos, se mulher, e 35
anos, se homem). Já a natureza do trabalho exercido (se especial ou comum) é
regido pela lei vigente ao tempo da prestação e gera direito adquirido desde o
efetivo labor, conforme jurisprudência pacífica desta Corte Superior aventada na
decisão embargada 7. Em observância ao princípio tempus regit actum, a lei que
deve reger a conversão entre tempo comum e especial é a vigente no momento
em que for realizada a própria conversão, ou seja, quando da reunião dos
requisitos para a aposentadoria. (...) (EDcl nos EDcl no REsp 1310034/PR, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 10/6/2015, DJe 16/11/2015)
A respeito da conversão do tempo especial em comum, até a Emenda 103, isso era permitido. No
regramento anterior, exercendo o segurado uma ou mais atividades sujeitas a condições prejudiciais à saúde
sem que, no entanto, tenha complementado o prazo mínimo para aposentadoria especial, era permitida a
conversão de tempo de serviço prestado em condições especiais em tempo de serviço comum, para fins de
concessão de aposentadoria por tempo de contribuição.
Já foi visto que a aposentadoria por tempo de contribuição não existe mais nas regras permanentes
da Constituição e, bem assim, do ordenamento jurídico-previdenciário, tendo sido substituída pela
aposentadoria programada. Nada obstante, em havendo conversão de atividades especiais em comum,
prestadas no máximo até 13 de novembro 2019, elas poderão ser convertidas em tempo comum para fins
de obtenção da antiga aposentadoria por tempo de contribuição, com espeque no direito adquirido. Assim,
feita a conversão, se o segurado tiver reunido o tempo total de 35 anos de contribuição, se homem, ou 30
anos, se mulher, poderá se aposentar por tempo de contribuição com base na regra do art. 3º, da Emenda
103, a qual estabelece o direito adquirido para as aposentadorias anteriores à emenda.
Mas, cabe frisar que a conversão de tempo especial em comum, no regramento atual, está
absolutamente vedada, conforme o art. 25, §2º, da Emenda 103, a partir de sua publicação. Isso significa
que eventuais atividades especiais prestadas após 13 de novembro 2019 não poderão ser convertidas em
tempo comum:
Art. 25.
(...)
§2º Será reconhecida a conversão de tempo especial em comum, na forma prevista na Lei
nº 8.213, de 24 de julho de 1991, ao segurado do Regime Geral de Previdência Social que
comprovar tempo de efetivo exercício de atividade sujeita a condições especiais que
efetivamente prejudiquem a saúde, cumprido até a data de entrada em vigor desta Emenda
Constitucional, vedada a conversão para o tempo cumprido após esta data.
Como se vê, é possível converter o tempo especial em comum, desde que cumprido até a data de
entrada em vigor da Emenda 103. Dessa maneira, as atividades prestadas sob condições especiais que se
efetivaram sob os critérios estabelecidos pela lei vigente à época em que o segurado realizou o
correspondente labor passam a integrar, repito, como direito autônomo, o patrimônio jurídico do
trabalhador. Eventual alteração ocorrida na legislação, posteriormente, não pode ser aplicada
retroativamente, mesmo que não mais se reconheça aquela atividade como especial. Essa alteração
normativa, então, não retira do trabalhador o direito à contagem do tempo de serviço na forma
207
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Cabe registrar, de outro lado, que tramita no Supremo Tribunal Federal a Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 6309, que, dentre outros dispositivos, aponta a inconstitucionalidade do art. 25,
§2º, da EC 103. A referida ação de controle de constitucionalidade em abstrato, contudo, ainda não produziu
nenhuma decisão, continuando a valer, com isso, a presunção de constitucionalidade da norma prevista no
art. 25, §2o, da EC 103, bem como outras que também são alvo de impugnação.
Após 1995, pela Lei nº 9.032/1995, somente se passou a permitir atividades especiais que eram assim
consideradas diante da constatação técnica de que estavam efetivamente submetidas a agentes nocivos de
ordem química, física e/ou biológica. Para esse tipo de enquadramento, as normas previdenciárias sempre
exigiram comprovação por meio de formulários técnicos, assinados por engenheiros do trabalho. Esse último
tipo de consideração de atividade especial já existia, em verdade, antes de 1995, coexistindo com a
comprovação pelo mero enquadramento por categoria profissional ou ocupação.
No entanto a partir da Lei nº 9.032/1995 somente passou a existir no ordenamento jurídico – salvo
o direito adquirido em relação a atividades até então prestadas – a comprovação por meio de formulários de
demonstração efetiva da incidência não ocasional, nem intermitente, de agentes nocivos físicos, químicos e
biológicos, bem como a associação desses. Assim, a partir da vigência da Lei nº 9.032/1995, a atividade
208
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
especial passou a ser dependente de comprovação por meio, unicamente, de formulários. Esses formulários
eram estipulados por normas infralegais de cunho administrativo. Ao longo das décadas, foram inúmeros os
tipos de formulários, sendo os mais comuns os seguintes: SB-40, DISES BE 5235, DSS-8030 e DIRBEN 8030.
Somente no ano de 2004 é que passou a vigorar o formulário que temos vigente até hoje: o Perfil
Profissiográfico Previdenciário (PPP).
Além disso, antes mesmo da vigência do PPP, a lei previdenciária passou a exigir um laudo técnico
para embasar as informações contidas nos formulários até então vigentes, a fim de dar mais robustez e
higidez às informações lançadas por mera declaração do empregador em relação às atividades especiais.
Com a edição da Lei nº 9.528/1997, portanto, passou-se a exigir laudo técnico para comprovação da efetiva
exposição aos agentes nocivos. Importante lembrar que para o agente ruído sempre foi exigido o laudo
técnico para embasar os respectivos formulários da época, mesmo antes da Lei nº 9.528/1997.
Então, desde a Lei 9.528/1997, a verificação efetiva daqueles agentes nocivos é consubstanciada em
formulário administrativo emitido pela empresa empregadora (a partir de 2004, com base no PPP), com base
em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de
segurança do trabalho (Lei nº 8.213/1991, art.58). Deve-se acrescentar, ainda, na esteira da Súmula nº 68 da
TNU, que o laudo pericial, embora não contemporâneo ao período trabalhado, é apto para comprovar a
atividade especial. Nesse mesmo sentido, o julgamento do Tema 14, da TNU, cuja tese afirmou que, na
aposentadoria especial, a apresentação de laudo pericial extemporâneo não afasta sua força probante, desde
que não modificadas as condições do ambiente.
Podemos sintetizar o histórico de normas que trataram da indicação do que era atividade especial e
sua forma de comprovação por meio de duas linhas:
Com relação às normas que permitiam o mero enquadramento das categorias profissionais, devem
ser considerados, inicialmente, como já dito, os Decretos nº 53.831/1964 e nº 83.080/1979, até 28 de abril
de 1995, data da extinção do reconhecimento da atividade especial por presunção legal, em virtude da Lei
nº 9.032/1995.
Quanto à indicação da atividade especial pela comprovação da incidência dos agentes nocivos, esses
agentes – físicos, químicos e biológicos, bem como as atividades de risco, tal como o fogo, risco de explosões,
a segurança patrimonial e de pessoas e, bem assim, a exposição ao agente eletricidade - também constavam
daqueles Decretos 53.831/64 e 83.080/79, que vigoraram (em relação à listagem dos agentes nocivos) até 5
de março de 1997. Nessa data, sobreveio o Decreto nº 2.172/97, que os substituiu como uma nova listagem
de agentes nocivos. Assim, entre 6 de março de 1997 e 6 de maio 1999, deve ser considerado o Decreto
2.172/97, que estabeleceu a lista dos agentes nocivos no seu Anexo IV. A partir de 7 de maio de 1999, deve
ser considerado o Decreto 3.048/99 (Anexo IV), que trouxe, também, nova lista de agentes nocivos, vigente
até hoje.
209
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Em suma:
Quanto aos formulários técnicos exigidos para a comprovação das atividades nocivas, eis a seguinte
síntese histórica para o entendimento de como era feita a prova das atividades especiais com base na
incidência de agentes físicos, químicos e biológicos:
somente até esta data é que se admite a consideração da atividade especial apenas
por enquadramento, por presunção do fator de risco, provando-se a atividade
a) até 28/04/1995
desempenhada (a partir de 29/04/1995 somente se admite a atividade especial por
comprovação efetiva da exposição aos agentes nocivos de modo permanente);
b) de 11/10/1996 até
a exposição aos agentes nocivos deve ser feita com base nos quadros anexos aos
05/03/1997 (vigência da
Decretos nº 53.831/64 e 83.080/79), admitindo-se, para tanto, os formulários
Medida Provisória nº
DIRBEN-8030, SB-40, DISES-BE-5235 e DSS-8030;
1.523/96)
c) de 06/03/1997 a a exposição aos agentes nocivos deve ser feita com base no Anexo IV do Decreto nº
31/12/2003 (conversão da 2.172/97, exigindo-se sempre a apresentação dos formulários (DIRBEN-8030, SB-40,
Medida Provisória nº DISES-BE-5235 e DSS-8030), bem como laudo técnico a partir de 11/12/98 (a partir
1.523/96 na Lei nº da vigência da Lei nº 9.732/98), que alterou a redação do art. 58, da Lei nº 8.213/91,
9.528/97) com menção obrigatória ao uso de EPCs e EPIs;
com base na IN INSS/DC nº 99/03, somente se admite o PPP como formulário (não
sendo mais admitidos os formulários DIRBEN-8030, SB-40, DISES-BE-5235 e DSS-
8030), a ser emitido com base em laudo técnico, (desde então o PPP passou
d) a partir de 01/01/2004 efetivamente a funcionar como substitutivo dos formulários e laudo pericial, ante a
regulamentação do art. 58, parágrafo 4º da Lei nº 8.213/91, pelo Decreto nº
4.032/01, regulamentação cuja efetividade foi sendo postergada por sucessivas
instruções normativas do INSS até 31 de dezembro de 2013).
Cabe destacar que se entende no sentido de que há um rol exemplificativo quanto aos agentes
nocivos e atividades enquadráveis. Ou seja, para ambas as linhagens normativas de comprovação da
atividade especial, consolidou-se o entendimento de que as listas elaboradas por ato infralegal não são
exaustivas.
210
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Portanto, no que tange às atividades não enquadradas nos aludidos Decretos, é possível que venham
a ser reconhecidas como especiais, desde que, no caso concreto, comprove-se a exposição aos agentes
nocivos ali relacionados. Desse modo, pode-se afirmar que o rol de categorias profissionais é de natureza
exemplificativa, o que permite a inclusão de outras classes de trabalhadores, desde que no caso concreto
fique comprovada a exposição.
É necessário analisar com cuidado as teses acima. O Supremo Tribunal Federal afirma que se a
utilização de EPI for realmente eficaz (leia-se: realmente neutralizador), ou seja, capaz de neutralizar a
nocividade, não haverá respaldo à concessão da aposentadoria especial. Em outras palavras, a simples
menção de EPI eficaz pelo empregador no âmbito do PPP não descaracteriza o tempo de serviço especial da
aposentadoria, pois é necessário que haja realmente a neutralização.
A indicação da eficácia do EPI permite inferir que houve proteção, mas o que se questiona é até que
ponto sua função protetiva chegou, ou seja, se houve realmente o afastamento total e, por conseguinte,
neutralização, dos agentes nocivos. Ou, ainda, se houve afastamento parcial e até que ponto isso
efetivamente interferiu positivamente na proteção da saúde do trabalhador. Com efeito, há, de certa forma,
presunção legal da nocividade do agente físico, químico e/ou biológico, a favor do segurado (em outros
termos, a favor da caracterização da atividade especial). A lei, previamente, já diz que, havendo exposição
permanente, afigura-se a nocividade à saúde e, com isso, nasce a caracterização da atividade especial. A
menção pura e simples em PPP de uma possível eficácia não pode levar à quebra dessa presunção sem a
indicação de elementos técnicos e precisos para tanto.
Tanto é assim que a tese 2 explanada acima aduz que, quanto ao ruído, não basta a simples menção
em PPP de que o EPI é eficaz, justamente por conta da presunção anterior e legal acerca de aquele agente
nocivo é (quase que) inafastável.
Em suma: conquanto a tese nº 1 firmada pelo STF, no julgamento do citado Recurso Extraordinário,
possa transparecer certo automatismo na conclusão de que a menção ao EPI “eficaz” implicaria
desconsideração da atividade especial, não é bem assim. O próprio Pretório Excelso, quando explanou sua
fundamentação, nas bases da fixação das teses, deixou transparecer o mesmo prisma de entendimento aqui
adotado. Disse a Corte Suprema que, em caso “de divergência ou dúvida sobre a real eficácia do Equipamento
de Proteção Individual, a premissa a nortear a Administração e o Judiciário é pelo reconhecimento do
211
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
direito ao benefício da aposentadoria especial. Isto porque o uso de EPI, no caso concreto, pode não se
afigurar suficiente para descaracterizar completamente a relação nociva a que o empregado se submete”.
Eis o quadro-resumo da aposentadoria especial por agentes nocivos, conforme regime anterior a EC
nº 103:
Veja, agora, o quadro-resumo da aposentadoria especial por agentes nocivos, conforme regime
previsto para a regra de transição do art. 21, da EC 103:
Veja, por fim, o quadro-resumo da aposentadoria especial por agentes nocivos conforme a regra
atual prevista no art. 19, §1º, I, da EC 103:
212
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
filiação posterior à
13/11/2019
Quanto às aposentadorias dos professores vinculados ao RGPS, temos no art. 19, II, da EC 103, a
previsão de seus requisitos atuais:
Art. 19. Até que lei disponha sobre o tempo de contribuição a que se refere o inciso I do §7º
do art. 201 da Constituição Federal, o segurado filiado ao Regime Geral de Previdência
Social após a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional será aposentado aos
62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se
homem, com 15 (quinze) anos de tempo de contribuição, se mulher, e 20(vinte) anos de
tempo de contribuição, se homem.
§1º Até que lei complementar disponha sobre a redução de idade mínima ou tempo de
contribuição prevista nos §§1º e 8º do art. 201 da Constituição Federal, será concedida
aposentadoria:
(...)
II - ao professor que comprove 25 (vinte e cinco) anos de contribuição exclusivamente em
efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e
médio e tenha 57 (cinquenta e sete) anos de idade, se mulher, e 60 (sessenta) anos de idade,
se homem.
A regra é acima é norma transitória, vigendo enquanto não for editada a lei ordinária prevista no art.
201, §7º, I, da CF/1988, que trata da aposentadoria com requisitos diferenciados para os professores. Os
requisitos da aposentadoria do professor tomam em consideração o disposto no art. 201, §7º, I, que trata da
aposentadoria programada em geral. A diferença é a exigência de um requisito etário reduzido, bem como a
comprovação de tempo de efetivo exercício nas funções de magistério do ensino básico, isto é, na educação
infantil, ensino fundamental e médio:
Art. 201.
(...)
§7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos da lei,
obedecidas as seguintes condições:
213
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Portanto, como se vê, a mudança que importa, nesse caso, é a redução do requisito etário, exigindo-
se 5 anos a menos do que na aposentadoria programada comum. Isso quer dizer que as professoras poderão
se aposentar com 57 anos de idade, enquanto que os professores com 60 anos de idade. Nada obstante,
deverão comprovar um tempo mínimo de contribuição maior e exclusivo em efetivo exercício das funções
de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio. Veja o que diz a Portaria nº 450 sobre:
Cabe lembrar que não há incidência do fator previdenciário e a RMI será calculada com base no art.
26, caput, da EC 103. Aliás, o fator previdenciário somente persiste no ordenamento jurídico em três
hipóteses, quais sejam:
Quanto às regras de aposentadoria dos professores previstas no Decreto nº 3.048/1999, note seu
art. 54, já na redação dada pelo Decreto 10.410/2020.
214
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
II - vinte e cinco anos de contribuição, para ambos os sexos, em efetivo exercício na função
a que se refere o caput.
§1º O valor da aposentadoria de que trata este artigo será apurado na forma prevista no
art. 53.
§2º Para fins de concessão da aposentadoria de que trata este artigo, considera-se função
de magistério aquela exercida por professor em estabelecimento de ensino de educação
básica em seus diversos níveis e modalidades, incluídas, além do exercício da docência, as
funções de direção de unidade escolar e de coordenação e assessoramento pedagógicos.
§3º A comprovação da condição de professor será feita por meio da apresentação:
I - do diploma registrado nos órgãos competentes federais e estaduais ou de documento
que comprove a habilitação para o exercício do magistério, na forma prevista em lei
específica; e
II - dos registros em carteira profissional ou Carteira de Trabalho e Previdência Social
complementados, quando for o caso, por declaração do estabelecimento de ensino no qual
tenha sido exercida a atividade, sempre que essa informação for necessária para
caracterização do efetivo exercício da função de magistério, nos termos do disposto no
caput.
§4º É vedada a conversão de tempo de serviço de magistério, exercido em qualquer época,
em tempo de serviço comum.
§5º A aposentadoria de que trata este artigo será devida na forma prevista no art. 52.
Art. 55. A aposentadoria por idade poderá ser decorrente da transformação de
aposentadoria por invalidez ou auxílio-doença, desde que requerida pelo segurado,
observado o cumprimento da carência exigida na data de início do benefício a ser
transformado.
Art. 52. A aposentadoria programada será devida:
I - ao segurado empregado, inclusive o doméstico:
a) a partir da data do desligamento do emprego, quando requerida até noventa dias depois
dela; ou
b) a partir da data do requerimento, quando não houver desligamento do emprego ou
quando for requerida após o prazo da alínea "a"; e
II - para os demais segurados, a partir da data da entrada do requerimento.
Assim, não apenas o professor que atua dentro de sala de aula fará jus à aposentadoria programada
com requisitos diferenciados, mas também aquele que atua nas funções de direção escolar, de coordenação
escolar e de assessoramento pedagógicos, desde que sejam, por óbvio, professores.
A data de início do benefício segue a regra geral disposta para a aposentadoria programada,
conforme previsão do art. 52, do Decreto nº 3.048/99. Assim, sendo requerida a aposentadoria em até 90
dias do desligamento do emprego, os valores retroagirão para essa data, isto é, a DIB do benefício será a data
do desligamento. De outro lado, se o pedido de aposentadoria for feito após 90 dias, a DIB será a DER – data
do requerimento administrativo.
Veja o quadro-resumo da aposentadoria dos professores, conforme regime atual previsto no art. 19,
§1º, II, da EC 103:
215
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
APOSENTADORIA dos
PROFESSORES
25 anos de contribuição, voltados ao exercício efetivo das
(regras atuais)
funções de magistério na educação do ensino infantil,
fundamental e médio.
Todos os requisitos abordados acima são destinados àqueles professores que se filiaram ao RGPS
após 13 de novembro de 2019, data de publicação da Emenda 103, ou para aqueles que não se enquadram
nas regras estabelecidas para o direito adquirido (aposentadoria do professor com base nas regras antigas)
ou nas regras de transição. Se o professor for filiado ao RGPS até 13 de novembro de 2019, ele poderá fazer
uso dessas duas últimas hipóteses normativas, as quais estão previstas, respectivamente, nos arts. 3º e 15,
ambos da Emenda 103.
A aposentadoria do professor com base nas regras antigas deverá ser concedida se houver o
cumprimento dos requisitos dispostos na redação antiga do art. 201, §8º, da CF/1988, a saber:
Art. 201.
(...)
§8º Os requisitos a que se refere o inciso I do parágrafo anterior serão reduzidos em cinco
anos, para o professor que comprove exclusivamente tempo de efetivo exercício das
funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
Pelas regras anteriores, havia apenas tempo de contribuição e não se exigia idade mínima. Logo,
basta que o professor cumpra 30 anos de contribuição, se homem, e 25 anos de contribuição, se mulher.
Esse tempo precisa ser oriundo exclusivamente do efetivo exercício das funções de magistério na educação
infantil e no ensino fundamental e médio, tal como as regras foram definidas atualmente também.
Já para aqueles professores que são filiados ao RGPS até 13 de novembro de 2019, mas que não
satisfazem os requisitos para a aposentadoria com base no direito adquirido, podem fazer uso da regra de
transição disposta no art. 15, §3º, da Emenda Constitucional nº 103, que assim diz:
216
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Art. 15. Ao segurado filiado ao Regime Geral de Previdência Social até a data de entrada em
vigor desta Emenda Constitucional, fica assegurado o direito à aposentadoria quando forem
preenchidos, cumulativamente, os seguintes requisitos:
I - 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, e 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se
homem; e
II - somatório da idade e do tempo de contribuição, incluídas as frações, equivalente a 86
(oitenta e seis) pontos, se mulher, e 96 (noventa e seis) pontos, se homem, observado o
disposto nos §§1º e 2º.
§1º A partir de 1º de janeiro de 2020, a pontuação a que se refere o inciso II do caput será
acrescida a cada ano de 1 (um) ponto, até atingir o limite de 100 (cem) pontos, se mulher,
e de 105 (cento e cinco) pontos, se homem.
§2º A idade e o tempo de contribuição serão apurados em dias para o cálculo do somatório
de pontos a que se referem o inciso II do caput e o §1º.
§3º Para o professor que comprovar exclusivamente 25 (vinte e cinco) anos de
contribuição, se mulher, e 30 (trinta) anos de contribuição, se homem, em efetivo
exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e
médio, o somatório da idade e do tempo de contribuição, incluídas as frações, será
equivalente a 81 (oitenta e um) pontos, se mulher, e 91 (noventa e um) pontos, se
homem, aos quais serão acrescidos, a partir de 1º de janeiro de 2020, 1 (um) ponto a cada
ano para o homem e para a mulher, até atingir o limite de 92 (noventa e dois) pontos, se
mulher, e 100 (cem) pontos, se homem.
§4º O valor da aposentadoria concedida nos termos do disposto neste artigo será apurado
na forma da lei.
• 81 pontos, se mulher;
• 91 pontos, se homem.
A pontuação acima era a vigente na data da publicação da Emenda 103. A partir de 1º de janeiro de
2020, começou a ser acrescido 1 ponto a cada ano para o homem e para a mulher, até atingir o limite de 92
pontos, se mulher, e 100 pontos, se homem. No ano de 2021, portanto, a pontuação necessária se encontra
em:
• 83 pontos, se mulher;
• 93 pontos, se homem.
Isso significa que, no ano de 2021, um homem, professor, deverá comprovar no mínimo 30 anos de
contribuição e 63 anos de idade. O tempo de contribuição mínimo é de 30 anos, como vimos. Sendo assim,
para se alcançar 93 pontos, esse professor deverá ter no mínimo 63 anos de idade, já que: 63 + 30 = 93
pontos.
A RMI será calculada na forma do art. 15, §4º, c/c art. 26, §2º, I, ambos da Emenda 103. Isto é, será
calculada com base na média aritmética simples de todo o período contributivo desde julho de 1994, ou a
última competência em caso de filiação posterior àquela data. Sobre o resultado dessa média incide o
217
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
coeficiente de partida no importe de 60%, acrescido de 2% a cada ano que exceder 15 anos de contribuição,
se mulher, e 20 anos de contribuição, se homem.
Ao final, como visto acima, a pontuação máxima será de 100 pontos, o que será atingido em 2028.
No ano de 2028, então, um professor que já tenha 30 anos de contribuição, deverá ter 70 anos de idade,
para atingir 100 pontos. Concluiu-se, por óbvio, que em 2028 essa regra de transição não será mais atrativa,
porque a regra atual permanente para a aposentadoria do professor exige, conforme art. 19, §1º, II, da EC
103, apenas 60 anos de idade, com 25 anos de tempo de contribuição desempenhados efetivamente nas
funções de magistério da educação do ensino básico.
A RMI será calculada na forma do art. 19, §2º, c/c art. 26, §2º, I, ambos da Emenda 103, isto é, será
calculada com base na média aritmética simples de todo o período contributivo desde julho de 1994, ou a
última competência em caso de filiação posterior àquela data. Sobre o resultado dessa média incide o
coeficiente de partida no importe de 60%, acrescido de 2% a cada ano que exceder 15 anos de contribuição,
se mulher, e 20 anos de contribuição, se homem.
Art. 201.
(...)
§1º É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados para concessão de
benefícios, ressalvada, nos termos de lei complementar, a possibilidade de previsão de
idade e tempo de contribuição distintos da regra geral para concessão de aposentadoria
exclusivamente em favor dos segurados:
I - com deficiência, previamente submetidos a avaliação biopsicossocial realizada por
equipe multiprofissional e interdisciplinar;
De acordo com a nova redação do dispositivo acima, dada pela Emenda n º 103, não mais se adota a
expressão “portadores de deficiência”, como constava antes no texto constitucional, mas apenas
“deficiência”. Preconiza-se, com isso, a orientação normativa dada pela Convenção de Nova Iorque sobre o
Direito das Pessoas com Deficiência, internalizada no ordenamento jurídico com o status de norma
constitucional, aprovada pelo rito das emendas constitucionais. Em âmbito interno, pois, a referida
Convenção está normativamente instrumentalizada pelo Decreto nº 6.040, de 25 de agosto de 2009.
Na mesma toada da Convenção, posteriormente, foi editada a Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015,
que instituiu a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Veja
o parágrafo único do art. 1º da Lei nº 13.146/2015, que também faz uso da expressão “pessoas com
deficiência”:
Art. 1º É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa
com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o
exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à
sua inclusão social e cidadania.
Parágrafo único. Esta Lei tem como base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência e seu Protocolo Facultativo, ratificados pelo Congresso Nacional por meio do
Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho de 2008 , em conformidade com o procedimento
previsto no §3º do art. 5º da Constituição da República Federativa do Brasil , em vigor para
o Brasil, no plano jurídico externo, desde 31 de agosto de 2008, e promulgados pelo Decreto
nº 6.949, de 25 de agosto de 2009, data de início de sua vigência no plano interno. (grifos
nossos)
218
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Os critérios que o legislador poderá adotar como diferenciadores para as pessoas com deficiência
são a idade e o tempo de contribuição. A forma pela qual esses critérios poderão ser exigidos pelo legislador
infraconstitucional continua sendo a lei complementar. De outro lado, quanto à forma de constatação de
deficiência do segurado, houve um processo de constitucionalização de procedimentos administrativos.
Agora, a própria Constituição determina o que antes era dado pela lei. Pela nova redação do §1º do art. 201
da CF/88, ficou assentado que a o segurado com deficiência será submetido à avaliação biopsicossocial
realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar. Essa previsão já era do ordenamento jurídico, mas
apenas em nível legal. A mencionada Lei nº 13.146/2015, por exemplo, enuncia em seu art. 2º, que a
avaliação da deficiência será, quando necessário, feita por equipe multidisciplinar:
Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo
de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais
barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas.
§1º A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial, realizada por
equipe multiprofissional e interdisciplinar e considerará: (Vigência)
I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo;
II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;
III - a limitação no desempenho de atividades; e
IV - a restrição de participação. (grifos nossos)
A norma constitucional determina a avaliação biopsicossocial, não mais sendo válida a previsão acima
de que somente quando for necessária é que será feita tal avaliação. De se ver, portanto, que no campo
previdenciário não mais se trata de uma faculdade do administrador a realização da avaliação da deficiência,
mas de dever invariável.
Além da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (também chamada de Estatuto da
Pessoa com Deficiência, Lei nº 13.146/2015), que é norma geral, já havia antes da EC 103 a previsão da Lei
Complementar nº 142, de 8 de maio de 2013. É essa lei complementar que “regulamenta o §1º do art. 201
da Constituição Federal, no tocante à aposentadoria da pessoa com deficiência segurada do Regime Geral de
Previdência Social – RGPS”. E essa norma, até que outra seja editada pela União, continua sendo aplicável
por expressa disposição do art. 22, da Emenda nº 103:
Art. 22. Até que lei discipline o §4º-A do art. 40 e o inciso I do §1º do art. 201 da Constituição
Federal, a aposentadoria da pessoa com deficiência segurada do Regime Geral de
Previdência Social ou do servidor público federal com deficiência vinculado a regime próprio
de previdência social, desde que cumpridos, no caso do servidor, o tempo mínimo de 10
(dez) anos de efetivo exercício no serviço público e de 5 (cinco) anos no cargo efetivo em
que for concedida a aposentadoria, será concedida na forma da Lei Complementar nº 142,
de 8 de maio de 2013, inclusive quanto aos critérios de cálculo dos benefícios. (grifos
nossos)
Perceba que, inclusive, no que toca aos critérios de cálculos, será aplicável a Lei Complementar nº
142 de 2013, não incidindo nesse caso a nova norma geral de cálculos dos benefícios previdenciários do RGPS
e do RPPS da União (art. 26, caput, da EC 103). A Portaria 450 dispõe, a respeito disso:
Art. 4º Ficam mantidas as concessões da aposentadoria por idade rural, agora denominada
de aposentadoria do trabalhador rural e do garimpeiro, e as aposentadorias da pessoa
com deficiência da Lei Complementar nº 142, de 8 de maio de 2013, nas mesmas condições
anteriormente previstas, inclusive quanto ao seu valor, observadas, no entanto, com novas
regras quanto à formação do Período Básico de Cálculo - PBC. (grifos nossos)
219
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Portanto, a respeito dos requisitos para a concessão da aposentadoria da pessoa com deficiência, é
necessário que observemos os requisitos estabelecidos pela Lei Complementar nº 142 de 2013, que assim
diz em seu art. 3º:
A primeira percepção que se tem ao fazer a leitura da lei é que existem duas espécies de
aposentadoria para a pessoa com deficiência:
Com relação ao conceito de pessoa com deficiência, bem como quanto aos graus de deficiência, são
estabelecidos pelo Regulamento da lei, dado pelo Decreto nº 3.048/1999, conforme as alterações
promovidas pelo Decreto nº 8.145/2013, que introduziu os artigos 70-A e seguintes. Em verdade, o conceito
de deficiência deriva da própria Convenção de Nova Iorque, internalizada no ordenamento jurídico, mas é
220
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
replicada nos diplomas legais que tratam de direitos das pessoas com deficiência, tal como a Lei
Complementar nº 142/2013 e seu regulamento.
De acordo com o art. 2º, da Lei Complementar nº 142/2013, para o reconhecimento do direito à
aposentadoria, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
O art. 70-D, §3º, do Decreto nº 3.048/1999, replica a referida norma legal. Trata-se de um sistema
de avaliação da deficiência que não se atém somente ao aspecto físico e estático das eventuais restrições
funcionais, mas vai além e considera como é a interação dessas restrições e impedimentos, com barreiras
encontradas na dinâmica socio-laboral da pessoa com deficiência. Por isso, é um sistema biopsicossocial.
De um lado, há que se fazer o cotejo dos elementos físicos, que são os impedimentos de longo prazo;
de outro lado, há que se fazer o cotejo dos elementos sociais, que são as diversas barreiras encontradas na
sociedade. Se a conjunção desses elementos indicar que não há uma participação plena e efetiva da pessoa
em igualdade de condições com as demais, então, trata-se de pessoa com deficiência.
Com isso, é de ser perceber que o conceito de pessoa com deficiência para fins das aposentadorias
previstas na Lei Complementar nº 142/2013 é o mesmo conceito dado pela Lei nº 8.742/1993, para fins de
concessão do benefício assistencial àquelas pessoas.
221
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Com relação especificamente à avaliação biopsicossocial da pessoa com deficiência, o art. 4º, do
Decreto nº 10.410/2020, determinou que para
fins de acesso a benefícios da pessoa com deficiência, até que seja aprovado o instrumento
específico para a avaliação biopsicossocial da pessoa com deficiência, realizada por equipe
multiprofissional e interdisciplinar, será utilizado o instrumento aprovado pela Portaria
Interministerial AGU/MPS/MF/SRDH/MP nº 1, de 27 de janeiro de 2014.
De acordo com o art. 2º, dessa portaria, compete à perícia própria do Instituto Nacional do Seguro
Social - INSS, por meio de avaliação médica e funcional, para efeito de concessão da aposentadoria da pessoa
com deficiência, avaliar o segurado e fixar a data provável do início da deficiência e o respectivo grau. Essa
perícia deverá também apontar a ocorrência de variação no grau de deficiência e indicar os respectivos
períodos em cada grau.
O método Fuzzy considera qual os domínios sensíveis da deficiência. Isso, pois existem quatro tipos
de deficiência: auditiva, visual, motora e intelectual. Cada um desses tipos possui um domínio, isto é, em que
parte da vida da pessoa a deficiência tem mais relevância. Então, por exemplo, a deficiência auditiva possui
como domínios os âmbitos de “comunicação” e “socialização”. Já a deficiência visual possui os domínios
“mobilidade” e “vida doméstica”. A deficiência motora possui como domínios a “mobilidade” e os “cuidados
pessoais”. Por fim, a deficiência do tipo intelectual, cognitiva-mental possui como domínios a “vida
doméstica” e a “socialização”.
Após a atribuição das pontuações para cada uma daquelas 41 atividades, dentro de 7 domínios, é o
Método Fuzzy que fará o balanceamento dos pontos com base nos domínios sensíveis da respectiva
deficiência avaliada. A consequência prática do Método Fuzzy é que nos domínios sensíveis da deficiência
avaliada, a pontuação atribuída pelo médico e pelo assistente social serão reduzidas ao menor grau lançado.
Exemplo: em uma deficiência motora, que se relaciona aos domínios “mobilidade” e “cuidados pessoais”,
foram atribuídas às respectivas atividades desses domínios notas que variaram de 50, 75 e 100. Contudo, em
função de esses serem os domínios sensíveis da deficiência motora, o Método Fuzzy fará com que todas as
pontuações lançadas naquelas atividades sejam reduzidas para 50, que foi a menor pontuação lançada.
São os peritos médicos federais que realizam as perícias de avaliação biopsicossocial. Interessante
lembrar que foi criada uma carreira específica para o cargo de Perito Médico Federal, por meio da Lei nº
13.846/2019. Originariamente, a carreira de perito do INSS foi criada pela Lei nº 9.620/1998, integrando os
quadros próprios do INSS, mas com a edição da MP 871/2019, convertida na Lei nº 13.846/2019, a carreira
passou a compor os quadros do Ministério da Economia, especialmente por conta da então extinção do
222
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Ministério do Trabalho e da Previdência Social. Todavia, com o retorno desse Ministério, o quadro de perito
médico federal volta a compor os quadros do INSS.
A deficiência será constada, ao final, de acordo com as seguintes pontuações extraídas da avaliação
biopsicossocial:
A RMI da aposentadoria da pessoa com deficiência deve ser calculada com base no disposto no art.
8º, da Lei Complementar nº 142/2013:
Art. 8º. A renda mensal da aposentadoria devida ao segurado com deficiência será calculada
aplicando-se sobre o salário de benefício, apurado em conformidade com o disposto no art.
29 da Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991, os seguintes percentuais:
I - 100% (cem por cento), no caso da aposentadoria de que tratam os incisos I, II e III do art.
3º; ou
II - 70% (setenta por cento) mais 1% (um por cento) do salário de benefício por grupo de 12
(doze) contribuições mensais até o máximo de 30% (trinta por cento), no caso de
aposentadoria por idade.
Inclusive, a própria Emenda 103, ao determinar que continua válida a LC nº 142/2013 até que outra
venha a lhe substituir, assinala que devem valer os critérios de cálculo dispostos naquela lei:
Art. 22. Até que lei discipline o §4º-A do art. 40 e o inciso I do §1º do art. 201 da Constituição
Federal, a aposentadoria da pessoa com deficiência segurada do Regime Geral de
Previdência Social ou do servidor público federal com deficiência vinculado a regime próprio
de previdência social, desde que cumpridos, no caso do servidor, o tempo mínimo de 10
(dez) anos de efetivo exercício no serviço público e de 5 (cinco) anos no cargo efetivo em
que for concedida a aposentadoria, será concedida na forma da Lei Complementar nº 142,
de 8 de maio de 2013, inclusive quanto aos critérios de cálculo dos benefícios. (grifos
nossos)
Dessa feita, o art. 29, da Lei nº 8.212/1991 não foi revogado pelo art. 26, da Emenda 103, no que
toca à aposentadoria da pessoa com deficiência, pois o art. 8º, da LC nº 142/2013, determina que sejam
usados os critérios daquele dispositivo da lei de benefícios. O salário de benefício, portanto, será calculado
com base nos 80% maiores salários de contribuição desde a competência julho/1994, ou a última existente
em caso de filiação posterior àquela competência.
223
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Podem ser descartados, pois, os 20% menores salários de contribuição, sem nenhum ônus ao
segurado, o que é regra mais vantajosa em relação ao disposto no art. 26, da Emenda 103, cujos termos
determinam a consideração de todo o período contributivo.
O art. 26 referido permite o descarte de contribuições que reduzam a média, desde que mantenham
o tempo mínimo de contribuição. O INSS tem ido além e asseverado administrativamente que o descarte de
contribuições pela regra do art. 26 da EC nº 103 provoca a desconsideração da competência excluída para
todos os efeitos e não apenas para tempo de contribuição. Isso, portanto, é extremamente desvantajoso em
relação à regra antiga, a qual, como visto, permanece incólume no art. 29, da Lei nº 8.213/1991, mas apenas
para as aposentadorias das pessoas com deficiência (e, claro, para as hipóteses de direito adquirido de outras
espécies de aposentadorias).
Apurado, assim, o salário de benefício com base no art. 29, da Lei nº 8.213/1991, o art. 8º, da LC nº
142/2013, prevê coeficientes distintos para cada tipo de aposentadoria prevista para as pessoas com
deficiência. No caso da aposentadoria por tempo de contribuição, o coeficiente será de 100% do SB,
limitando-se, apenas, ao teto dos benefícios da previdência social. O coeficiente será de 100% do SB, aliás,
para qualquer grau de deficiência. Já para a aposentadoria por idade da pessoa com deficiência, o art. 8º,
inciso II, da LC nº 14/2013, prevê um coeficiente de partida de 70% do salário de benefício, sendo acrescido
1% para cada grupo de 12 contribuições, limitando-se a 30% o acréscimo, isto é, a 100% do salário de
benefício.
Com relação a essa última espécie de aposentadoria, ela é, quanto ao cálculo da RMI, idêntica à
antiga aposentadoria por idade urbana, que consta do art. 48 e seguintes da Lei nº 8.213/1991 (mas que foi
revogada pela Emenda 103, pois, como dito, com a reforma previdenciária, passou-se a ter fusão da antiga
aposentadoria por tempo de contribuição e aposentadoria por idade urbana em uma única espécie de
aposentadoria, qual seja a aposentadoria programada). A diferença está no fato de que, para a pessoa com
deficiência, o requisito etário é reduzido, exigindo-se apenas 60 anos, para homens, e 55 anos de idade, para
mulheres. Já na antiga aposentadoria por idade urbana, a exigência etária era de 65 anos, para homens, e 60
anos, para mulheres.
Cabe destacar, por fim, que em ambas as espécies de aposentadoria da pessoa com deficiência,
poderá incidir o fator previdenciário se esse for benéfico ao cálculo. Cabe lembrar que o fator previdenciário
foi introduzido no ordenamento jurídico como uma alternativa para a não inclusão, na época, da idade
mínima como requisito para as aposentadorias do RGPS.
A Lei nº 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário, logo após a reforma previdenciária advinda com
a Emenda Constitucional nº 20/1998, em virtude, na pratica, como se sabe, de não ter vingado no Congresso
Nacional a aprovação da idade mínima para se aposentar no Regime Geral de Previdência Social. A propósito,
vale citar trecho de estudo feito pelo IPEA41, que aborda bem o contexto de criação do fator previdenciário:
41 CONSTANZI, Rogerio Nagamine, Alexandre Zioli Fernandes e Graziela Ansiliero, in “O Princípio Constitucional de Equilíbrio
Financeiro e Atuarial no Regime Geral de Previdência Social: tendências recentes e o caso da regra 85/95 progressiva”, Texto para
discussão / Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.- Brasília : Rio de Janeiro : Ipea.
224
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Como se vê, quanto maiores a idade e o tempo de contribuição, maior o FP a ser aplicado e,
consequentemente, o valor do benefício. É por isso que o fator previdenciário pode ser aplicado às
aposentadorias das pessoas com deficiência, pois, diante das peculiaridades do requerente, pode ser que o
seu cálculo resulte em um fator maior que 1, sendo, pois, favorável. Caberá, pois, à pessoa com deficiência
decidir se incide ou não o fator previdenciário.
Por fim, as aposentadorias previstas na Lei Complementar nº 142/2013 podem ser concedidas para
todos os tipos de segurados. Com relação ao segurado especial, contudo, somente terá direito à
aposentadoria por tempo de contribuição prevista no art. 8º, I, da LC nº 14/2013, se contribuir
facultativamente na forma do art. 25, §1º, c/c art. 21, da Lei nº 8.212/1991, bem como art. 70-B, parágrafo
único, c/c art. 199 e 200, §2º, todos do Decreto nº 3.048/99:
Lei nº 8.212/1991
Art. 25. A contribuição do empregador rural pessoa física, em substituição à contribuição
de que tratam os incisos I e II do art. 22, e a do segurado especial, referidos,
respectivamente, na alínea a do inciso V e no inciso VII do art. 12 desta Lei, destinada à
Seguridade Social, é de:
I - 1,2% (um inteiro e dois décimos por cento) da receita bruta proveniente da
comercialização da sua produção;
225
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
deficiência GRAVE:
25 anos de TC (H);
20 anos de TC (M).
deficiência MODERADA:
29 anos de TC (H);
24 anos de TC (M).
Aposentadoria
por tempo de
contribuição deficiência LEVE:
33 anos de TC (H);
28 anos de TC (M).
226
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
A aposentadoria por idade do trabalhador urbano, como espécie autônoma, não existe mais. Como
já foi visto no curso, a Emenda Constitucional nº 103 de 2019 instituiu a idade mínima para as aposentadorias
no RGPS, de maneira que não há mais a distinção entre aposentadoria por idade e aposentadoria por tempo
de contribuição, como era antes. Somente há, desde 13 de novembro de 2019, a aposentadoria programada,
com os requisitos que já foram estudados.
Assim, somente falaremos de aposentadoria por idade do trabalhador urbano, como espécie
autônoma, em duas hipóteses.
Cabe registrar, ademais, que havia, no antigo regramento, a divisão entre aposentadoria por idade
do trabalhador urbano e aposentadoria por idade do trabalhador rural. No âmbito de estudo do direito
adquirido, relativamente às inovações dadas pela Emenda 103, cabe-nos falar tão somente no regramento
anterior da aposentadoria por idade do trabalhador urbano, uma vez que a aposentadoria por idade do
trabalhador rural não sofreu nenhuma alteração.
Para saber as situações que se enquadram no espectro do direito adquirido, é preciso, portanto,
conhecer os requisitos da época. Os dispositivos aplicáveis, com as redações anteriores, são:
• art. 201, §7º, II, CF/88 (na redação dada pela EC 20);
• arts. 48 a 51, da Lei nº 8.213/1991;
• arts. 51 a 53, do Decreto nº 3.048/99 (antes das revogações dadas pelo Decreto nº 10.410/20);
• arts. 225 a 229, da IN 77/2015.
Veja a regra constitucional, então vigente, a fim de conhecer os requisitos que o segurado precisa
demonstrar como cumpridos até 13 de novembro de 2019:
Art. 201.
(...)
§7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos da lei,
obedecidas as seguintes condições:
(...)
II - sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher,
reduzido em cinco anos o limite para os trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os
que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o produtor
rural, o garimpeiro e o pescador artesanal. (grifos nossos)
Art. 25. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social
depende dos seguintes períodos de carência, ressalvado o disposto no art. 26:
227
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
(...)
II - aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de serviço e aposentadoria especial:
180 contribuições mensais. (grifos nossos)
O requisito da carência, portanto, era igual ao da aposentadoria por tempo de contribuição, ou seja,
eram necessárias 180 contribuições para a concessão do benefício ou, caso o segurado seja filiado ao INSS
até 24 de julho de 1991 (data da promulgação da Lei nº 8.213/1991), deve-se aplicar a tabela progressiva
prevista no art. 142, da Lei nº 8.213/1991. A mencionada tabela progressiva é uma norma de transição
prevista nessa Lei. Na sistemática anterior, vigia a Lei nº 3.807/1960 (a chamada LOPS – Lei Orgânica da
Previdência Social), pela qual era prevista a carência de apenas 60 meses.
Então, em suma, para a aposentadoria por idade do trabalhador urbano filiado até 13 de novembro
de 2019, isto é, antes da reforma previdenciária de 2019, os requisitos a serem cumpridos para a
demonstração do direito adquirido são:
Na Lei nº 8.213/1991, a aposentadoria por idade do trabalhador urbano está disposta nos arts. 48 a
51:
Art. 48. A aposentadoria por idade será devida ao segurado que, cumprida a carência
exigida nesta Lei, completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60 (sessenta),
se mulher.
(...)
§4º Para efeito do §3 deste artigo, o cálculo da renda mensal do benefício será apurado de
acordo com o disposto no inciso II do caput do art. 29 desta Lei, considerando-se como
salário-de-contribuição mensal do período como segurado especial o limite mínimo de
salário-de-contribuição da Previdência Social.
O regramento acima permanecia vigente até a EC 103, sem revogações tácitas, de modo que continua
a ser aplicável aos casos de direito adquirido, no que toca à aposentadoria por idade do trabalhador urbano.
Se, na data da publicação da Emenda 103, um segurado, homem, trabalhador urbano, já detinha 65 anos e
180 meses de carência (ou com a carência respectiva da tabela progressiva do art. 142, da Lei nº 8.213/91),
pode ele se aposentar por idade na forma da sistemática anterior, mesmo que o requerimento administrativo
seja feito hoje, por exemplo.
228
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Quanto à renda mensal inicial da aposentadoria por idade em tais casos de direito adquirido, deverá
ela ser calculada na forma prevista pelo art. 50, da Lei nº 8.213/1991, afastando-se a regra temporária
prevista no art. 26, caput, da Emenda Constitucional nº 103. Assim diz o art. 50, da Lei nº 8.213/1991:
Art. 50. A aposentadoria por idade, observado o disposto na Seção III deste Capítulo,
especialmente no art. 33, consistirá numa renda mensal de 70% (setenta por cento) do
salário-de-benefício, mais 1% (um por cento) deste, por grupo de 12 (doze) contribuições,
não podendo ultrapassar 100% (cem por cento) do salário-de-benefício.
A regra do art. 26, caput, da Emenda 103 é desfavorável, aparentemente, para o segurado, já que a
norma anterior permitia o descarte das mais baixas contribuições correspondentes a 20% do período básico
de cálculo, sem que isso implicasse qualquer prejuízo ao segurado. Esse é o maior ponto de diferença entre
a norma anterior e a novel norma de cálculo do salário de benefício, uma vez que o descarte de menores
contribuições, hoje permitido, implica prejuízo sensível para o segurado. Isso, pois o descarte atual de
contribuições mais baixas do PBC resulta na inutilização das respectivas competências para quaisquer fins,
ou seja, não poderá o segurado usar as contribuições retiradas para os acréscimos de 2% a cada ano que
exceder o tempo de vinte anos de contribuições. Isso está previsto no §6º, do art. 26, da Emenda:
§6º Poderão ser excluídas da média as contribuições que resultem em redução do valor do
benefício, desde que mantido o tempo mínimo de contribuição exigido, vedada a utilização
do tempo excluído para qualquer finalidade, inclusive para o acréscimo a que se referem os
§§2º e 5º, para a averbação em outro regime previdenciário ou para a obtenção dos
proventos de inatividade das atividades de que tratam os arts. 42 e 142 da Constituição
Federal.
Na sistemática anterior, dada pelo art. 29, I, da Lei nº 8.213/1991, não havia qualquer ressalva nesse
sentido, de modo que o direito de exclusão das menores competências somente favorecia e não prejudicava.
Portanto, na regra anterior, o cálculo do salário de benefício deve ser feito com base no referido artigo, ou
seja, com base nos oitenta por cento maiores salários de contribuição apurados desde a competência
julho/1994, ou a última competência, em caso de a filiação ter sido posterior àquela. Veja:
229
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
de serviço até então admitidos como tempo de contribuição, ou ainda, tempo ficto, a renda mensal inicial
seria menor, já que o dispositivo menciona “a cada grupo de 12 contribuições”.
Quanto à data de início da aposentadoria, devem ser seguidas as regras do art. 49, da Lei nº
8.213/1991, variando o termo inicial de pagamento conforme o momento do pedido administrativo, no caso
dos segurados empregados e empregados domésticos:
O quadro-resumo da aposentadoria por idade urbana a ser concedida com base na regra do direito
adquirido, em face das mudanças promovidas pela Emenda 103, pode ser assim concebido:
incidência facultativa do
FATOR PREVIDENCIÁRIO
Passemos, então, a estudar a possibilidade de concessão de aposentadoria por idade urbana com
base na regra de transição disposta no art. 18, da Emenda Constitucional 103/2019, que assim diz:
Art. 18. O segurado de que trata o inciso I do §7º do art. 201 da Constituição Federal filiado
ao Regime Geral de Previdência Social até a data de entrada em vigor desta Emenda
Constitucional poderá aposentar-se quando preencher, cumulativamente, os seguintes
requisitos:
I - 60 (sessenta) anos de idade, se mulher, e 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem;
e
II - 15 (quinze) anos de contribuição, para ambos os sexos.
§1º A partir de 1º de janeiro de 2020, a idade de 60 (sessenta) anos da mulher, prevista no
inciso I do caput, será acrescida em 6 (seis) meses a cada ano, até atingir 62 (sessenta e
dois) anos de idade.
§2º O valor da aposentadoria de que trata este artigo será apurado na forma da lei.
230
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Optando pela regra de transição disposta no art. 18, da EC 103, há que se observar que as principais
diferenças se referem à idade mínima fixada para as mulheres, bem como à regra de cálculo da
aposentadoria. Com relação à idade mínima das mulheres, fixa-se na regra de transição crescente, iniciando-
se a exigência do requisito etário em 60 anos e chegando em 62 anos no ano de 2023. Se estipulou o
acréscimo de 6 meses a cada ano, a partir de 1º de janeiro de 2020. Assim, tem-se que a idade mínima para
a mulher se aposentar nessa regra de transição é de:
• 60 anos em 2019;
• 60 anos e 6 meses em 2020;
• 61 anos em 2021;
• 61 anos e 6 meses em 2022;
• 62 anos em 2023.
Quanto ao cálculo da aposentadoria, o §2º, do art. 18, da Emenda, sinaliza que ele será feito na forma
da lei. A lei vigente, no momento, para esse cálculo é dada pelo art. 26, §2º, I, também da Emenda 103. Veja:
Art. 26. Até que lei discipline o cálculo dos benefícios do regime próprio de previdência
social da União e do Regime Geral de Previdência Social, será utilizada a média aritmética
simples dos salários de contribuição e das remunerações adotados como base para
contribuições a regime próprio de previdência social e ao Regime Geral de Previdência
Social, ou como base para contribuições decorrentes das atividades militares de que tratam
os arts. 42 e 142 da Constituição Federal, atualizados monetariamente, correspondentes a
100% (cem por cento) do período contributivo desde a competência julho de 1994 ou desde
o início da contribuição, se posterior àquela competência.
§1º A média a que se refere o caput será limitada ao valor máximo do salário de contribuição
do Regime Geral de Previdência Social para os segurados desse regime e para o servidor
que ingressou no serviço público em cargo efetivo após a implantação do regime de
previdência complementar ou que tenha exercido a opção correspondente, nos termos do
disposto nos §§14 a 16 do art. 40 da Constituição Federal.
§2º O valor do benefício de aposentadoria corresponderá a 60% (sessenta por cento) da
média aritmética definida na forma prevista no caput e no §1º, com acréscimo de 2 (dois)
pontos percentuais para cada ano de contribuição que exceder o tempo de 20 (vinte) anos
de contribuição nos casos:
I - do inciso II do §6º do art. 4º, do §4º do art. 15, do §3º do art. 16 e do §2º do art. 18;
Com efeito, o cálculo da aposentadoria por idade urbana com base na regra de transição do art. 18,
da Emenda nº 103, deverá usar como base a média aritmética simples de 100% dos salários de contribuição
existentes desde a competência julho/1994, ou a posterior em caso de inexistência daquela. Essa média fica
limitada ao mesmo teto fixado para o salário de contribuição do RGPS. A partir da apuração dessa média,
que será, portanto, o salário de benefício do segurado, incidirá o percentual de 60%, acrescido de 2% a cada
ano que exceder 15 anos de contribuição, para mulheres, e 20 anos de contribuição, para homens.
O quadro-resumo da aposentadoria por idade urbana a ser concedida com base na regra do direito
adquirido, em face das mudanças promovidas pela Emenda 103, pode ser assim disposto:
231
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
tempo de contribuição:
15 anos (H);
15 anos (M).
A aposentadoria por idade na modalidade híbrida passou a ser prevista pela Lei nº 11.718/2008,
permitindo a soma de períodos rurais e urbanos, mas sem a redução do requisito etário. A Portaria 450
assevera a permanência da aposentadoria hibrida no ordenamento jurídico, mesmo com as mudanças da EC
103:
Nesse caso, se houver a conjunção de períodos rurais e urbanos em momento anterior a EC 103, o
requisito etário será o do regramento anterior, ou seja, 60 anos para as mulheres e 65 anos para os homens.
A carência, igualmente, deverá ser a do regramento anterior: 15 anos de contribuição para ambos os sexos.
Isso decorre da possibilidade de preenchimento dos requisitos da aposentadoria por idade hibrida até 13 de
novembro de 2019, de modo que, nesse caso, pelo direito adquirido, devem ser buscados os critérios fixados
para a então vigente aposentadoria por idade urbana, cujas regras já foram analisadas nas linhas anteriores.
De outro lado, se houver qualquer período a ser usado referente a momento anterior a 13 de
novembro de 2019, não há clareza nas novas normas previdenciárias acerca da possibilidade de uso das
regras de transição do art. 18, da EC 103. Se isso for possível, a idade mínima a ser considerada será de 60
anos para as mulheres (ou, conforme o ano, com os acréscimos correspondentes de 6 meses) e 65 anos para
os homens, sendo a carência de 15 anos para ambos os sexos. Nessa ótica, somente será, então, demandada
a aplicação da nova regra permanente da aposentadoria programada, conforme art. 19, da EC 103, se todos
os períodos, urbanos e rurais, a serem somados, forem posteriores a 13 de novembro de 2019. Nesse caso,
a idade mínima da mulher será de 62 anos, enquanto que para os homens permanece o requisito etário em
65 anos. Já a carência deverá também ser maior para os homens, ou seja, de 20 anos, enquanto para as
mulheres, a carência continua de 15 anos, conforme o dispositivo citado (art. 19, caput, da Emenda 103).
232
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Pela regra do art. 57, do Decreto nº 3.048/1999, conforme redação dada pelo Decreto nº
10.410/2020, tem-se que deve ser aplicada a regra da aposentadoria programada em qualquer hipótese, não
se abrindo brecha, ao que se depreende, para a regra mais branda prevista no art. 18, da Emenda 103:
Art. 57. Os trabalhadores rurais que não atendam ao disposto no art. 56 mas que satisfaçam
essa condição, se considerados períodos de contribuição sob outras categorias de segurado,
farão jus ao benefício ao atenderem os requisitos definidos nos incisos I e II do caput do art.
51.
§1º Para fins do disposto no caput, o valor da renda mensal da aposentadoria será apurado
na forma do disposto no art. 53, considerando-se como salário de contribuição mensal do
período como segurado especial o salário-mínimo.
§2º O disposto neste artigo aplica-se ainda que, na oportunidade do requerimento da
aposentadoria, o segurado não se enquadre como trabalhador rural.
Art. 56. A aposentadoria por idade do trabalhador rural, uma vez cumprido o período de
carência exigido, será devida aos segurados a que se referem a alínea “a” do inciso I, a alínea
“j” do inciso V e os incisos VI e VII do caput do art. 9º e aos segurados garimpeiros que
trabalhem, comprovadamente, em regime de economia familiar, conforme definido no §5º
do art. 9º, quando completarem cinquenta e cinco anos de idade, se mulher, e sessenta
anos de idade, se homem.
Art. 51. A aposentadoria programada, uma vez cumprido o período de carência exigido,
será devida ao segurado que cumprir, cumulativamente, os seguintes requisitos:
I - sessenta e dois anos de idade, se mulher, e sessenta e cinco anos de idade, se homem; e
II - quinze anos de tempo de contribuição, se mulher, e vinte anos de tempo de contribuição,
se homem.
Havia dúvidas se a aposentadoria por idade híbrida exigia que o segurado fosse rural no momento
do requerimento e esse era o argumento do INSS. No entanto questão foi dirimida pelos Tribunais, que
apontaram por meio de consolidada jurisprudência a irrelevância do segurado ser rural ou urbano no
momento do requerimento administrativo desse tipo de aposentadoria. Logo, pode ser um segurado rural
que já teve ao longo de sua vida alguns vínculos urbanos, ou pode ser também um segurado urbano que, no
passado, trabalhou em atividades campesinas. Tanto faz para a aposentadoria por idade híbrida, pois o
objetivo da norma é somar todos os períodos rurais e urbanos para fins de atingimento de carência. Isso
acabou sendo sedimentado no Superior Tribunal de Justiça por meio do julgamento do Tema 1007 dos
recursos repetitivos daquela Corte, de modo que a tese fixada foi a seguinte:
O tempo de serviço rural, ainda que remoto e descontínuo, anterior ao advento da Lei
8.213/1991, pode ser computado para fins da carência necessária à obtenção da
aposentadoria híbrida por idade, ainda que não tenha sido efetivado o recolhimento das
contribuições, nos termos do art. 48, §3º. da Lei 8.213/1991, seja qual for a predominância
do labor misto exercido no período de carência ou o tipo de trabalho exercido no momento
do implemento do requisito etário ou do requerimento administrativo.
O STJ assinalou, portanto, que pode ser computado o tempo rural remoto, isto é, aquele período
rural anterior a Lei nº 8.213/1991, independentemente do recolhimento de contribuições previdenciárias.
Além disso, assinalou que é irrelevante saber qual foi a predominância do tipo de labor.
No âmbito da Turma Nacional de Uniformização também há precedente firmado. O Tema 131 dos
representativos de controvérsia da TNU firmou tese no sentido de que:
Para a concessão da aposentadoria por idade híbrida ou mista, na forma do art. 48, §3º, da
Lei nº 8.213/91, cujo requisito etário é o mesmo exigido para a aposentadoria por idade
urbana, é irrelevante a natureza rural ou urbana da atividade exercida pelo segurado no
período imediatamente anterior à implementação do requisito etário ou ao requerimento
do benefício. Ainda, não há vedação para que o tempo rural anterior à Lei nº 8.213/1991
233
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
seja considerado para efeito de carência, mesmo que não verificado o recolhimento das
respectivas contribuições.
Com relação ao Tema 1007, do STJ, contudo, houve recurso extraordinário do INSS junto ao STF,
tendo sido recebido com a suspensão nacional dos processos, em grau recursal, conforme restou
determinado pela Vice-Presidência daquela Corte Superior:
Nada obstante, ao receber o recurso extraordinário, o Supremo Tribunal Federal o afetou ao Tema
1104, entendendo que não havia questão constitucional a ser enfrentada no recurso, imputando-lhe os
efeitos da ausência de repercussão geral. Com isso, o recurso extraordinário foi devolvido ao STJ e o Tema
1007 transitou em julgado:
Tema 1104
Requisitos legais necessários para a concessão do benefício previdenciário de
aposentadoria híbrida por idade.
Tese
É infraconstitucional, a ela se aplicando os efeitos da ausência de repercussão geral, a
controvérsia relativa à definição e ao preenchimento dos requisitos legais necessários para
a concessão de aposentadoria híbrida, prevista no art. 48, §3º da Lei nº 8.213/91.
Atualmente, cabe ressaltar, a aposentadoria por idade híbrida deve seguir os requisitos fixados para
a aposentadoria programada, de acordo com as novas regras fixadas pela Emenda Constitucional 103/19.
Como vimos, as regras para a aposentadoria programada são o cumprimento de idade mínima de 62 anos,
para mulheres, e 65 anos, para homens, bem como o tempo mínimo de contribuição e carência. O tempo
mínimo de contribuição para homens é de 20 anos, enquanto que para as mulheres é de 15 anos. Já a
carência é invariável para ambos os sexos, devendo ser cumprido, no mínimo, 180 meses, isto é, 15 anos de
contribuições mensais.
Sendo assim, se um segurado rural não conseguir atingir os requisitos para a aposentadoria do
trabalhador rural - cujos requisitos são idade mínima de 60 anos, para homens, e 55 anos para mulheres,
bem como a comprovação de 180 meses de trabalho rural em regime de economia familiar, ou, se filiado
anterior a Lei nº 8.213/1991, a carência indicada na tabela progressiva do art. 142 dessa lei – ele poderá
buscar a aposentadoria na modalidade híbrida, caso tenha também alguns vínculos urbanos a serem
somados no computo total de sua vida laboral.
Cabe chamar à atenção, contudo, que ele precisará demonstrar 20 anos de tempo de contribuição
efetiva, e não apenas de trabalho rural em regime de economia familiar, cuja dinâmica normativa, como
sabemos, dispensa, em regra, o recolhimento previdenciário. Sendo assim, será, na prática, que um segurado
rural consiga obter a aposentadoria por idade híbrida, uma vez que dificilmente terá 20 anos de tempo de
contribuição. Isso pode implicar um verdadeiro retrocesso social em matéria de cobertura previdenciária da
população rural, já que a instituição de novos requisitos tão rígidos em comparação com os anteriores podem
traduzir uma real e concreta extinção de uma prestação previdenciária que foi criada justamente para
garantir o princípio da universalidade da cobertura e do atendimento da seguridade social e, especialmente,
o princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais,
conforme art. 194, parágrafo único, I e II, da CF/1988.
234
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Nada obstante essa discussão doutrinária a respeito da aposentadoria por idade híbrida, os requisitos
atualmente vigentes para sua concessão, tal como disposto no art. 57 c/c art. 51, do Decreto nº 3.048/1999,
na redação dada pelo Decreto nº 10.410/2020:
As normas que regem o benefício previdenciário de pensão por morte estão previstas nos seguintes
dispositivos: a) art. 201, V, da CF/88; b) arts. 74 a 78, da Lei nº 8.213/1991; c) arts. 105 a 115, do Decreto nº
3.048/1999; d) arts. 47 a 50, da Portaria 450/2020; e) arts. 365 a 380, da IN 128/22.
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:
(...)
V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e
dependentes, observado o disposto no §2º.
(...)
§2º Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho
do segurado terá valor mensal inferior ao salário-mínimo.
Como se vê, a norma constitucional matriz da pensão por morte manda, ainda, observar o disposto
no §2º, do art. 201, que se refere à garantia de renda mensal não inferior ao mínimo para os benefícios
substitutivos do salário de contribuição ou do rendimento do trabalho do segurado. Isto é, ao determinar a
observância dessa regra, o Constituinte impõe que seja garantido o pagamento de prestação da pensão por
morte não inferior ao salário-mínimo.
Todos os segurados do RGPS, em incorrendo no risco morte, podem gerar pensão por morte aos seus
dependentes habilitados. Não importa a categoria de segurado, se obrigatório ou facultativo, haverá sempre
235
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
o direito à pensão por morte, desde que os dependentes comprovem a qualidade de segurado de segurado
do instituidor. Como bem descreve o art. 105, caput, do RPS, não importa se o segurado falecido estava
aposentado ou não. Independentemente da aposentadoria do segurado falecido, haverá direito à pensão
por morte:
Art. 105. A pensão por morte será devida ao conjunto dos dependentes do segurado que
falecer, aposentado ou não, a contar da data:
Dessa forma, se um segurado, embora desempregado e já fora de seu respectivo período de graça,
contasse na data de seu óbito com o cumprimento dos requisitos para se aposentar, seus dependentes
poderiam obter o benefício de pensão por morte. O Superior Tribunal de Justiça editou, no sentido acima, a
Súmula 416, no sentido de que é “devida a pensão por morte aos dependentes do segurado que, apesar de
ter perdido essa qualidade, preencheu os requisitos legais para a obtenção de aposentadoria até a data do
seu óbito”. Além disso, julgou, também, o Tema 21 de seus recursos repetitivos, que assinalou a tese de que
é “devida a pensão por morte aos dependentes do segurado que, apesar de ter perdido essa qualidade,
preencheu os requisitos legais para a obtenção de aposentadoria até a data do seu óbito”.
O fato gerador do benefício é, como o próprio nome já diz, a morte. A pensão por morte pode ser
concedida nos casos de “morte real” e nos casos de “morte presumida”. Quanto à morte presumida,
conforme arts. 74 e 78, da Lei nº 8.213/1991, também se trata, portanto, de uma hipótese geradora da
pensão por morte. Aqui é necessário que se recorra à lei civil. O art. 6º, segunda parte, do Código Civil, elucida
que se presume a morte “quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão
definitiva”. Além disso, o art. 7º, I e II, do Código, trata da morte presumida, sem decretação de ausência,
quando “for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida”, bem como quando
“alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término
da guerra”. A lei civil, pois, prevê a declaração de morte presumida em duas hipóteses: com ou sem
reconhecimento de ausência.
A “ausência” é “antes de tudo, um estado de fato, em que uma pessoa desaparece de seu domicílio,
sem deixar qualquer notícia”42. Portanto, a ausência não implica imediato e automático reconhecimento de
morte presumida. Isso ocorre somente quando a lei autorizar a abertura de sucessão definitiva (art. 6º, caput,
CC). O próprio Código Civil delineia o procedimento a ser adotado para a sucessão definitiva dos ausentes, o
que leva tempo considerável.
Trata-se de procedimento deveras longo, que se inicia, em regra, pela curadoria dos bens do ausente
(arts. 22 a 25, CC), passando pela sucessão provisória (arts. 26 a 36, CC) e, por fim, chegando à sucessão
definitiva (arts. 37 a 39, CC). Justamente em função desse longo prazo é que a lei previdenciária permite, em
seu art. 78, caput, da Lei nº 8.213/1991, que, a título de “morte presumida do segurado, declarada pela
autoridade judicial competente, depois de 6 (seis) meses de ausência, será concedida pensão provisória”.
É, em vista desse prazo especial para concessão de pensão provisória, que a jurisprudência do STJ entende
42 Ibidem, p. 186.
236
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
que a declaração de ausência no âmbito previdenciário possui normas próprias. Nesse sentido, o STJ já
assinalou que o “reconhecimento da morte presumida, com o fito de concessão de pensão previdenciária,
não se confunde com a declaração de ausência regida pelos diplomas cível e processual. In casu, obedece-
se ao disposto no art. 78, da Lei nº 8.213/199143.
A Portaria 991/22, do INSS, parece apontar que, de fato, trata-se de declaração de ausência regulada
por normas próprias do Direito Previdenciário. Isso, pois seu art. 508 determina que, nessas hipóteses, a
“cada 6 (seis) meses o recebedor do benefício deverá apresentar documento da autoridade competente,
contendo informações acerca do andamento do processo, relativamente à declaração de morte presumida,
até que seja apresentada a certidão de óbito”.
Não há normas muito claras sobre a declaração de ausência para fins de pensão por morte, mas o
conjunto das regras acima dispostas denota que o reconhecimento de morte presumida poderá ser feito no
prazo de 6 meses na seara previdenciária, permitindo a concessão de pensão por morte provisória. De todo
modo, não dispensará a continuidade do processo civil que certificará a morte presumida, a extinção da
pessoa natural para todos os fins e, por fim, a abertura da sucessão definitiva.
Cabe repisar, por fim, que a competência para o reconhecimento de morte presumida para os fins
de recebimento de pensão por morte é da Justiça Federal, conforme já decidiu o Superior Tribunal de Justiça
no Conflito de Competência nº 130296. O STJ afirmou, nesse julgamento, que “tendo o pedido de
reconhecimento de morte presumida o único propósito de percepção de pensão por morte (ex. VI do art. 78
da Lei nº 8.213/91), cabe à Justiça Federal o processamento e julgamento da lide”.
Quanto aos beneficiários da pensão por morte, são os dependentes habilitados na forma da lei
previdenciária, os quais são extraídos do art. 16, da Lei nº 8.213/1991. Foram muitas as alterações, além de
que o rol dos dependentes já passou por algumas mudanças legais significativas desde a edição da Lei nº
8.213/1991, há quase 30 anos.
Em síntese, o rol do art. 16 da Lei de Benefícios foi objeto de mudança decorrente das seguintes leis:
1º) Lei nº 9.032/1995; 2º) Lei nº 12.470/2011; 3º) Lei nº 13.135/2015; 4º) Lei nº 13.146/2015. Além dessas
leis, outras também foram editadas de modo a alterar os parágrafos do art. 16, modificando, por isso, alguns
aspectos importantes de cada classe de dependente. Essas leis, em suma, foram as seguintes:
• Lei nº 9.528/1997;
• Medida Provisória nº 871/2019, convertida na Lei nº 13.846/2019.
43 Resp - Recurso Especial - 232893 1999.00.88085-4, Jorge Scartezzini, STJ - Quinta Turma, DJ Data:07/08/2000 Pg:00135 .DTPB.
237
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
À vista disso, a par das inúmeras alterações legais no rol de dependentes, é importante ter a noção
segura de quem são, atualmente, esses dependentes. Sintetizaremos no quadro abaixo, a fim de facilitar o
estudo:
1. cônjuge ou companheiro(a);
2. filho não emancipado de qualquer condição menor de 21 anos;
3. filho inválido;
4. filho com deficiência mental;
5. filho com deficiência intelectual;
6. filho com deficiência grave.
CLASSE II
1. os pais.
CLASSE III
CLASSE IV
1. enteado;
2. menor tutelado.
Cabe lembrar que o art. 23, §6º, da Emenda 103, assinalou que se equiparam “a filho, para fins de
recebimento da pensão por morte, exclusivamente o enteado e o menor tutelado, desde que comprovada a
dependência econômica”. Objetivou-se, com isso, afastar o enquadramento por equiparação feito pela
jurisprudência relativamente ao menor sob guarda44. Nada obstante, recentemente, o Supremo Tribunal
Federal julgou, por maioria, a ADI 4878, procedente, de modo a conferir interpretação conforme ao §2º do
art. 16 da Lei nº 8.213/1991, para contemplar, em seu âmbito de proteção, o “menor sob guarda”. Assim, na
relação acima deve ser incluído o menor sob guarda.
Conforme art. 113, do Decreto nº 3.048/1999, a pensão por morte, havendo mais de um pensionista,
será rateada entre todos, em partes iguais. Já as hipóteses de perda da qualidade de dependente estão
previstas no art. 17, do Decreto nº 3.048/1999.
Para o cônjuge, a pensão por morte cessará pelo divórcio ou pela separação judicial ou de fato, salvo
se assegurada a prestação de alimentos. Nesse caso, contudo, a pensão por morte poderá ter a duração da
pensão fixada em decisão judicial. Também cessará a pensão por morte pela superveniente anulação do
casamento, por óbito ou por sentença judicial transitada em julgado relativo, nesse caso, a qualquer hipótese
que venha reconhecer a invalidade da pensão. Para a companheira ou companheiro, também cessa a pensão
por morte pela dissolução da união estável, salvo se for estabelecido o pagamento de prestação de alimentos.
44Gueller, Marta Maria R. Penteado; Berman, Vanessa Carla Vidutto. O Que muda com a reforma da previdência: regime geral e
regime próprio dos servidores (p. 141). Edição do Kindle.
238
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Já para o filho, irmão, enteado, menor tutelado ou, ainda, para o menor sob guarda, a pensão cessa
ao se atingir 21 anos de idade ou quando ocorrem quaisquer causas de emancipação, salvo se inválido ou
deficiente intelectual, mental ou grave, hipótese na qual somente cessará a pensão quando a causa da
invalidez ou deficiência deixar de existir. Note, entretanto, que exercício de atividade remunerada, inclusive
na condição de MEI, não impede a concessão ou a manutenção da parte individual da pensão do dependente
com deficiência intelectual, mental ou grave, nos termos do §3º, do art. 105, do RPS. Isso deixa bem claro
que a pessoa com deficiência não é sinônimo de pessoa inválida, de modo que o deficiente intelectual,
mental ou grave poderá, em tese, se readaptar e trabalhar ou exercer qualquer tipo de atividade
remunerada, inclusive na condição de microempreendedor individual, sem que isso implique
necessariamente impedimento para a concessão do benefício de pensão por morte, ou sua manutenção.
Importante observar que outra causa de cessação da pensão por morte é a condenação por
homicídio doloso contra o instituidor, fato esse que implica perda do direito à pensão. Diz o art. 105, §4º, do
RPS, já na redação dada pelo Decreto nº 10.410/2020, que “perde o direito à pensão por morte o condenado
criminalmente por sentença transitada em julgado, como autor, coautor ou partícipe de homicídio doloso,
ou de tentativa desse crime, cometido contra a pessoa do segurado, ressalvados os absolutamente incapazes
e os inimputáveis”. Somente o homicídio doloso é que implica essa perda, não havendo que se falar em
qualquer impedimento ao recebimento da pensão por morte se o crime foi culposo. Ressalva-se, contudo, a
hipótese de que o agente seja absolutamente incapaz e inimputável.
Também é necessário lembrar que a simulação ou fraude no casamento ou na união estável implica,
igualmente, perda do direito à pensão. De acordo com o §5º, do art. 105, do RPS, incluído pelo Decreto nº
10.410/2020, perde o:
Quando houver a cessação da pensão por morte para um dos dependentes habilitados, a respectiva
cota não será reversível para os demais. Assim, as cotas por dependente cessarão com a perda dessa
qualidade e não serão reversíveis aos demais dependentes. Trata-se, em verdade, de nova regra que rompe
com a regra anterior, no sentido de que seria reversível aos demais dependentes habilitados a cota cessada,
conforme antiga redação do art. 113, parágrafo único, do RPS, já revogada pelo Decreto nº 10.410/2020.
Conforme art. 50, §3º, da Portaria 450, a não reversão das cotas aplica-se somente aos benefícios
com fato gerador posterior à EC nº 103, de 2019, não atingindo os benefícios em manutenção, tampouco aos
requeridos com fato gerador anterior. É que essa inovação desfavorável aos dependentes da pensão por
morte foi promovida pela reforma previdenciária de 2019, que estabeleceu expressamente em seu texto
essa vedação. O art. 23, §1º, da EC 103, deixou claro que as “cotas por dependente cessarão com a perda
dessa qualidade e não serão reversíveis aos demais dependentes”.
Não há exigência de carência para a concessão de pensão por morte, conforme disposto no art. 26,
I, da Lei nº 8.213/1991:
239
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
A respeito do cálculo da RMI da pensão por morte, a Emenda Constitucional nº 103 alterou
profundamente a regra anterior, instituindo um sistemade cotas que se encontra previsto atualmente no
art. 23, da referida Emenda:
Art. 23. A pensão por morte concedida a dependente de segurado do Regime Geral de
Previdência Social ou de servidor público federal será equivalente a uma cota familiar de
50% (cinquenta por cento) do valor da aposentadoria recebida pelo segurado ou servidor
ou daquela a que teria direito se fosse aposentado por incapacidade permanente na data
do óbito, acrescida de cotas de 10 (dez) pontos percentuais por dependente, até o máximo
de 100% (cem por cento).
§1º As cotas por dependente cessarão com a perda dessa qualidade e não serão reversíveis
aos demais dependentes, preservado o valor de 100% (cem por cento) da pensão por morte
quando o número de dependentes remanescente for igual ou superior a 5 (cinco).
§2º Na hipótese de existir dependente inválido ou com deficiência intelectual, mental ou
grave, o valor da pensão por morte de que trata o caput será equivalente a:
I - 100% (cem por cento) da aposentadoria recebida pelo segurado ou servidor ou daquela
a que teria direito se fosse aposentado por incapacidade permanente na data do óbito, até
o limite máximo de benefícios do Regime Geral de Previdência Social; e
II - uma cota familiar de 50% (cinquenta por cento) acrescida de cotas de 10 (dez) pontos
percentuais por dependente, até o máximo de 100% (cem por cento), para o valor que
supere o limite máximo de benefícios do Regime Geral de Previdência Social.
§3º Quando não houver mais dependente inválido ou com deficiência intelectual, mental
ou grave, o valor da pensão será recalculado na forma do disposto no caput e no §1º.
§4º O tempo de duração da pensão por morte e das cotas individuais por dependente até
a perda dessa qualidade, o rol de dependentes e sua qualificação e as condições necessárias
para enquadramento serão aqueles estabelecidos na Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991.
§5º Para o dependente inválido ou com deficiência intelectual, mental ou grave, sua
condição pode ser reconhecida previamente ao óbito do segurado, por meio de avaliação
biopsicossocial realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar, observada revisão
periódica na forma da legislação.
§6º Equiparam-se a filho, para fins de recebimento da pensão por morte, exclusivamente o
enteado e o menor tutelado, desde que comprovada a dependência econômica.
§7º As regras sobre pensão previstas neste artigo e na legislação vigente na data de entrada
em vigor desta Emenda Constitucional poderão ser alteradas na forma da lei para o Regime
Geral de Previdência Social e para o regime próprio de previdência social da União.
§8º Aplicam-se às pensões concedidas aos dependentes de servidores dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios as normas constitucionais e infraconstitucionais anteriores
à data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional, enquanto não promovidas
alterações na legislação interna relacionada ao respectivo regime próprio de previdência
social.
A RMI, portanto, parte de uma cota familiar de 50% sobre o valor que o segurado recebia de
aposentadoria na data do óbito, caso estivesse aposentado. Caso não estivesse aposentado, o percentual
incide sobre o valor que o segurado receberia, em tese, se estivesse aposentado por incapacidade
permanente na data do óbito. Com isso, acresce-se o percentual de 10% para cada dependente habilitado,
até o máximo de 100% a incidir sobre a aposentadoria (qualquer aposentadoria no RGPS que eventualmente
o segurado estivesse recebendo) ou sobre a aposentadoria por incapacidade permanente.
A Emenda 103 previu, ainda, uma regra de cálculo especial para a pensão por morte a ser concedida
em caso de dependentes inválidos e/ou com deficiência intelectual, mental ou grave. As regras especiais de
cálculo da pensão por morte nessas hipóteses estão descritas no art. 23, I e II, da Emenda 103. O inciso I é
dirigido tanto para os segurados do RGPS, quanto para os servidores públicos federais. Já o inciso II é dirigido
apenas aos servidores públicos federais, uma vez que permite o pagamento da pensão por morte em patamar
superior ao teto do RGPS, de acordo com os mesmos percentuais descritos no caput, do art. 23, da Emenda.
Embora o inciso II não fale expressamente que é dirigido apenas aos segurados do regime próprio da União,
240
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
é de todo evidente essa interpretação, eis que não existe aposentadoria no RGPS que supere o teto dos
benefícios pagos pelo INSS.
Cabe registrar que, quando não houver mais dependente inválido ou com deficiência intelectual,
mental ou grave, o valor da pensão será recalculado na forma do disposto no caput e no §1º, do art. 26, da
Emenda 103. Desse modo, a redução do valor do benefício poderá ser drástica.
Outro ponto de grande relevância em relação à pensão por morte constitui no fato de que a Emenda
Constitucional 103 estabeleceu algumas regras de acumulação desse benefício com aposentadorias. O art.
24, da EC 103, assevera a norma transitória que regula as hipóteses possíveis de acumulação de benefícios,
enquanto não sobrevier a lei complementar a ser editada nos termos do art. 201, §15, da CF/1988. A partir
da EC 103, as regras de acumulação previstas no RGPS também valem para os regimes próprios, conforme o
§6º, do art. 40, CF/1988. Os casos de acumulação de benefícios deverão ser tratados por lei complementar,
mas enquanto não sobrevier a referida lei, as hipóteses de acumulação são as previstas no art. 24, da EC 103.
Em síntese, não se pode acumular mais de uma pensão por morte no âmbito do mesmo regime, seja
no RGPS, seja nos RPPSs, ressalvados os cargos acumuláveis na forma do art. 37, XVI, CF/1988. De outro lado,
a priori, não há vedação para que haja recebimento de uma pensão por morte em regimes previdenciários
distintos. Em verdade, cabe anotar, já havia a proibição de acumulação de mais de uma pensão dentro do
RGPS, conforme inciso VI, do art. 124, da Lei nº 8.213/1991, de sorte que essa regra dada pela EC 103
impactou, mais propriamente, os regimes próprios e regimes previdenciários militares.
Nada obstante, embora continuem valendo as demais regras de acumulação previstas no art. 124,
da LBPS, para as pensões e aposentadorias, o art. 24, §2º, da Emenda 103, determinou o recebimento do
valor integral do benefício acumulado mais vantajoso, somado ao recebimento de parte do outro benefício.
O benefício menos vantajoso, assim, sofrerá uma redução, sendo limitado seu valor por faixas, conforme os
percentuais de 10%, 20%, 40% ou 60% consoante à correspondência da faixa em salários mínimos. Sendo
assim, não há óbice para o acúmulo de pensão com aposentadoria, ainda que no mesmo regime, mas haverá
limitação do valor a ser pago quanto ao segundo benefício, conforme art. 24, §2º, da EC 103.
Atenção! Essas regras de acumulação previstas acima são aplicáveis apenas às pensões instituídas
por cônjuge ou companheiro, ex-cônjuge e ex-companheiro, conforme art. 59, parágrafo único, incisos I e II,
da Portaria 450. A vedação da Emenda 103 alcança apenas pensões que tenham sido geradas por cônjuge
ou companheiro(a), bem como ex-cônjuge ou ex-companheira (quando houver comprovação de
dependência econômica nesses últimos casos). Ademais, somente se aplicam às hipóteses em que o fato
gerador ou preenchimento dos requisitos de qualquer dos benefícios seja posterior a 14 de novembro de
2019, independentemente do início dos demais. Assim, se qualquer das pensões ou aposentadorias
envolvidas no caso concreto tiver sido concedida em data posterior a 14 de novembro de 2019, incidirão as
regras de acumulação previstas no art. 24, da Emenda 103.
No campo infralegal, o art. 167-A, do RPS, na redação dada pelo Decreto nº 10.410/2020, reproduz
as normas constitucionais relativamente às restrições de acumulação, estabelecendo que as “restrições
previstas neste artigo não se aplicam caso o direito aos benefícios tenha sido adquirido até 13 de novembro
de 2019”.
Em relação aos percentuais de limitação do benefício acumulado, nos termos do art. 24, §2º, da
Emenda 103, ou seja, limitação da aposentadoria ou pensão acumulada, são os seguintes percentuais e faixas
para a incidência da redução:
241
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
1ª FAIXA Naquilo que exceder 1 SM e chegar até 2 SMs Será pago somente 60% da faixa
2ª FAIXA Naquilo que exceder 2 SMs e chegar até 3 SMs Será pago somente 40% da faixa
3ª FAIXA Naquilo que exceder 3 SMs e chegar até 4 SMs Será pago somente 20% da faixa
4ª FAIXA Naquilo que exceder 4 SMs Será pago somente 10% da faixa
A data de início do benefício de pensão por morte é tratada no art. 74, da Lei nº 8.213/1991 e no art.
105, do Decreto nº 3.048/1999. Essa questão já passou por algumas alterações ao longo do tempo. Logo,
tem-se uma questão de conflito intertemporal de normas. Atualmente, a DIB da pensão será paga desde o
óbito somente se o requerimento administrativo não ultrapassar 90 dias desse, ou, em caso de menores de
16 anos, até 180 dias. Já para os casos de morte presumida, a pensão será paga a partir da decisão judicial.
Quanto ao prazo de até 180 dias fixado para que os menores de 16 anos tenham direito ao
pagamento da pensão desde o óbito do instituidor, trata-se de inovação dada pela MP 871/19, convertida
na Lei nº 13.846/2019, cunhada de “minirreforma previdenciária”. O objetivo foi evitar a regra anterior que
permitia o afastamento da prescrição em face dos menores absolutamente incapazes. Tanto é assim, que a
minirreforma previdenciária também acabou por revogar o art. 79, da Lei nº 8.213/1991, o qual prescrevia,
justamente, que não se “aplica o disposto no art. 103 desta Lei ao pensionista menor, incapaz ou ausente,
na forma da lei”.
O art. 103, da Lei nº 8.213/1991, por sua vez, em sua redação original, assentava que “prescreve em
cinco anos o direito às prestações não pagas nem reclamadas na época própria, resguardados os direitos dos
menores dependentes, dos incapazes ou dos ausentes”. O próprio art. 103, como visto em sua parte final, já
mencionava que se resguardava da prescrição as prestações devidas aos menores, incapazes e ausentes.
Posteriormente, o art. 103 foi alterado pela MP 1.596-14/97, convertida na Lei nº 9.528/1997, a qual passou
a estabelecer um prazo decadencial decenal para o direito de revisão do ato de concessão do benefício.
Quanto à previsão da prescrição quinquenal relativa às parcelas não pagas, aquelas mesmas normas
passaram a descrevê-la no art. 103, parágrafo único, da Lei de Benefícios, o qual se encontra vigente até hoje
sem alterações:
Art. 103.
(...)
Parágrafo único. Prescreve em cinco anos, a contar da data em que deveriam ter sido pagas,
toda e qualquer ação para haver prestações vencidas ou quaisquer restituições ou
diferenças devidas pela Previdência Social, salvo o direito dos menores, incapazes e
ausentes, na forma do Código Civil.
Como se vê, o art. 103, parágrafo único, ainda prevê de forma expressa a não incidência da
prescrição quinquenal em face de menores, incapazes e ausentes. E, além disso, o art. 347, parágrafo único,
do Decreto nº 3.048/1999, por sua vez, continua prevendo da mesma forma que o art. 103, parágrafo único,
da Lei de Benefícios, no sentido de resguardar dos efeitos da prescrição as parcelas eventualmente devidas
em relação aos menores, incapazes e ausentes. Diz o art. 347 que prescreve “em cinco anos, a contar da data
em que deveriam ter sido pagas, toda e qualquer ação para haver prestações vencidas ou quaisquer
242
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
restituições ou diferenças devidas pela previdência social, salvo o direito dos menores, incapazes e ausentes,
na forma do Código Civil”. De se notar, aliás, que o Decreto nº 10.410/2020 não alterou o dispositivo acima.
Além disso, a favor do afastamento da prescrição em relação aos menores de 16 anos, malgrado a
existência daquele prazo de 180 dias, deve prevalecer o que se encontra previsto nos art. 198, I e art. 208,
ambos do Código Civil:
Em sendo assim, contra os absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil,
ou seja, contra os menores de 16 anos, não pode correr a prescrição, seja qual for a relação jurídico-civil, de
modo que no campo previdenciário também assim deverá ser, notadamente em virtude da máxima
efetividade das normas protetivas da criança e do adolescente. A jurisprudência dominante do Superior
Tribunal de Justiça sempre assinalou que deve ser seguida a diretriz prevista no art. 198, I, 3º e 208, todos do
Código Civil, mediante os quais se resguarda peremptoriamente os menores de 16 anos dos efeitos da
prescrição e decadência:
3. O Superior Tribunal de Justiça orienta-se no sentido de que não corre a prescrição contra
incapazes, resultando na conclusão de que são devidas as parcelas a partir da data do
falecimento do instituidor da pensão, independentemente do momento em que formulado
o requerimento administrativo ou de quando ocorreu a citação judicial válida. (...) (REsp
1770679/MS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
13/12/2018, DJe 19/12/2018)
No que toca à duração da pensão por morte e, bem assim, a cessação do benefício, as hipóteses
estão previstas no art. 77, §2º, da Lei nº 8.213/1991, bem como no art. 114, do RPS. Nessa seara, além das
hipóteses de cessação já abordadas no início deste tópico, há que se chamar à atenção que, em relação ao
cônjuge, companheiro ou companheira existem regras mais complexas, cujos prazos previstos para a
duração da pensão por morte se relacionam com a idade daqueles, o tempo de relacionamento e, bem assim,
o tempo de contribuição apurado em relação ao segurado instituidor.
A variação do tempo da pensão por morte para o cônjuge, companheiro ou companheira vai variar
com base na verificação do número de contribuição que o segurado instituidor verteu em vida (se mais ou
menos do que 18 contribuições) e no tempo do casamento ou união estável (se mais ou menos do que 2
anos de relação conjugal ou de união estável).
Se um desses elementos não atingir o mínimo, isto é, se não houver 18 contribuições do instituidor
e/ou não houver mais de 2 anos de relação conjugal ou de união estável, a pensão por morte somente vai
durar 4 meses. Se houver 18 contribuições ou mais, bem como no mínimo 2 anos de relação, a pensão vai
variar conforme a idade do beneficiário, conforme quadro abaixo:
243
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Para finalizar, serão sintetizadas as características da pensão por morte, conforme esquema abaixo:
2.10. Auxílio-reclusão
O benefício de auxílio reclusão está previsto no art. 80, da Lei nº 8.213/1991, bem como no art. 116,
do Regulamento da Previdência Social. Além disso, é importante lembrar que a Constituição Federal também
inclui a reclusão entre os riscos expressamente cobertos pela previdência social. Nesse sentido, o benefício
previdenciário de auxílio reclusão para os dependentes do segurado de baixa renda se encontra previsto no
art. 201, IV, da CF/1988:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:
(...)
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda;
Cabe perceber, contudo, que a redação atual desse dispositivo foi dada pela Emenda Constitucional
nº 20/1998, substituindo a redação anterior que, embora indicasse também a reclusão como um risco
coberto pela previdência social, não condicionava a cobertura desse risco mediante comprovação da baixa
renda. A partir da Emenda 20, passou a ser exigida a comprovação da baixa renda do segurado, para que ele
faça jus à concessão de auxílio-reclusão aos seus dependentes. Note, assim, que o auxílio-reclusão e o salário-
família são os únicos benefícios previdenciários que possuem vinculação à comprovação da baixa renda do
respectivo segurado.
Assim, o auxílio-reclusão será devido aos dependentes do segurado de baixa renda recolhido à prisão
em regime fechado. Além disso, o segurado nessas condições não poderá estar recebendo remuneração da
244
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
empresa nem estar em gozo de auxílio por incapacidade temporária, de pensão por morte, de salário-
maternidade, de aposentadoria ou de abono de permanência em serviço.
Quanto a esses impeditivos, importante frisar que o INSS deverá sempre preservar o direito de opção
pelo melhor benefício. Note, sobre isso, que a IN 128/2022, assegura no art. 526, §2º, que o “o segurado
recluso em regime fechado, durante a percepção, pelos dependentes, do benefício de auxílio-reclusão, não
terá direito à concessão do benefício de salário-maternidade reconhecido, exceto se manifestada a opção
pelo benefício mais vantajoso também pelos dependentes”.
No mais, quanto ao auxílio por incapacidade temporária, embora a norma o aponte como causa
impeditiva do recebimento do auxílio-reclusão, a constatação de seu recebimento pelo segurado no
momento da prisão implicará apenas sua suspensão, a princípio. Essa suspensão durará 60 dias e, caso, a
prisão se mantenha após esse período, então, o auxílio por incapacidade temporária será cessado. Trata-se
isso de uma inovação normativa dada pela MP 871/2019, convertida na Lei nº 13.846/2019, no §3º, do art.
59, da Lei de Benefícios. Portanto, embora o auxílio por incapacidade temporária conste como benefício
impeditivo do auxílio-reclusão, a solução a ser dada não será o indeferimento automático desse, mas sim a
suspensão daquele e, posteriormente, sua cessação, na hipótese da prisão se prolongar por mais de dois
meses.
Quanto aos benefícios de salário-maternidade e pensão por morte, também arrolados como
impeditivos de recebimento do auxílio-reclusão, a menção a eles no art. 80, da Lei nº 8.213/1991 somente
veio com a MP 871/2019. Não havia nenhuma proibição na lei, tampouco no regulamento, de acumulação
do auxílio-reclusão com pensão por morte ou salário-maternidade antes daquela medida provisória. Assim,
apenas a partir da publicação dessa medida provisória que se poderá ter a incidência de tais impedimentos
quanto à concessão do auxílio-reclusão. Isso significa que, até 17 de janeiro de 2019, de acordo com o
princípio tempus regit actum, o segurado preso poderia estar recebendo pensão por morte no momento da
prisão e, mesmo assim, ter o direito à concessão do auxílio-reclusão, com o pagamento das respectivas
parcelas para os seus dependentes. O valor da pensão, contudo, não poderia ultrapassar o limite estabelecido
pela norma quanto ao que se concebe como segurado de baixa renda. O mesmo se diga em relação ao salário-
maternidade. Ressalta-se, ainda, que a compleição do direito adquirido no caso do recebimento conjunto de
benefícios previdenciários somente se perfectibiliza quando ambas as prestações nascem de fatos geradores
anteriores à proibição normativa da acumulação.
Por fim, importa lembrar que o abono de permanência em serviço foi extinto por meio da Lei nº
8.870/1994, que revogou a previsão dessa prestação previdenciária então prevista no art. 18, I, “i”, da Lei nº
8.213/1991. Era constituído por uma renda mensal de 25% do salário de benefício do segurado que,
conquanto já contasse com todos os requisitos para a aposentadoria integral, optasse por permanecer em
serviço.
Quanto ao requisito da reclusão, é bem verdade que somente por meio da MP 871/2019, convertida
na Lei nº 13.846/2019, é que se alterou a norma legal do auxílio-reclusão para que o regime necessário à sua
concessão fosse necessariamente o fechado. Assim, somente, pois, a partir de 18 de janeiro de 2019 é que
se passou a condicionar o direito ao auxílio-reclusão à efetiva e integral reclusão, ou seja, em regime
fechado. Antes era possível o recebimento do benefício em regime semiaberto até a MP 871. Quanto ao
regime aberto, ele nunca foi apto a gerar o benefício de pensão por morte. O regime fechado sempre foi
apto a gerar o benefício e, desde a MP 871, passou a ser a única forma de se efetivamente cumprir o requisito
constitucional da demonstração da “reclusão”.
245
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Art. 116. O auxílio-reclusão será devido, nas mesmas condições da pensão por morte, aos
dependentes do segurado recolhido à prisão que não receber remuneração da empresa
nem estiver em gozo de auxílio-doença, aposentadoria ou abono de permanência em
serviço, desde que o seu último salário-de-contribuição seja inferior ou igual a R$ 360,00
(trezentos e sessenta reais).
§1º É devido auxílio-reclusão aos dependentes do segurado quando não houver salário-
de-contribuição na data do seu efetivo recolhimento à prisão, desde que mantida a
qualidade de segurado.
Essa norma gerou muitos questionamentos, pois havia entendimento no sentido de que a baixa
renda deveria ser dos dependentes do segurado recluso. Em momento posterior, a resposta decisiva ao
questionamento foi dada de maneira peremptória pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do Tema
89, com repercussão geral. Assinalou a Corte Suprema que segundo “decorre do art. 201, IV, da Constituição,
a renda do segurado preso é que a deve ser utilizada como parâmetro para a concessão do benefício e não
a de seus dependentes”45.
Até a edição da MP 871, não havia na Lei nº 8.213/1991 as disposições incluídas no art. 80, §§3º e
4º, as quais indicam que a aferição da renda mensal bruta para enquadramento do segurado como de baixa
renda ocorrerá pela média dos salários de contribuição apurados no período de 12 (doze) meses anteriores
ao mês do recolhimento à prisão. Não havendo salários de contribuição nos doze meses anteriores ao fato
gerador do benefício, deve-se considerar delineada a condição de baixa renda do segurado46.
A previsão normativa que vigia, até então, sobre o momento de se considerar a renda do segurado
recluso estava presente apenas no art. 116, caput e §1º, do RPS. A leitura conjunta das previsões do caput e
do §1º promovia a conclusão de que a apuração da renda do segurado recluso deveria ocorrer no momento
do recolhimento da prisão, mas se não houvesse renda nesse momento, a apuração deveria buscar o
último salário de contribuição do segurado.
Na Lei nº 8.213/1991 não existia nenhum indicativo de que se deveria buscar o último salário de
contribuição do segurado, na hipótese de não haver renda na data da prisão. Assim, havia decisões em
sentidos diversos, ora dando prevalência à expressa determinação regulamentar, ora dando ênfase ao
primado da lei, impedindo, nessa última orientação, que se buscasse o último salário de contribuição do
segurado. Após certo tempo de discussão, o STJ definiu a questão no julgamento do Tema 896 de seus
recursos repetitivos, estabelecendo que, se não houvesse renda no momento da prisão, não seria possível
buscar o último salário de contribuição do segurado, mas sim considerá-lo sem renda e, com isso,
autorizando a sua caracterização como “segurado de baixa renda” para fins de percepção de auxílio-reclusão:
TESE PARA FINS DO ART. 543-C DO CPC/1973 8. Para a concessão de auxílio-reclusão (art.
80 da Lei 8.213/1991), o critério de aferição de renda do segurado que não exerce atividade
laboral remunerada no momento do recolhimento à prisão é a ausência de renda, e não o
último salário de contribuição. (....) (REsp 1485417/MS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 22/11/2017, DJe 02/02/2018) (grifos nossos).
246
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Já no STF, reconheceu-se que não há repercussão geral em relação à identificação de critérios legais
de aferição da renda do segurado, para fins de percepção do benefício do auxílio-reclusão (Tema 1017), no
seguinte sentido:
No entanto, no próprio STJ, recentemente, foi proposta a revisão da tese firmada no Tema 896:
A tese revisada pelo STJ considerou a inovação legislativa dada pela MP 871/19, convertida na Lei nº
13.846/2019, que, finalmente, passou a prever, na Lei nº 8.213/1991, critério de aferição da baixa renda do
segurado tal qual já constava no Decreto nº 3.048/1999. Sendo assim, o Tema 896, do STJ passou a constar
com a seguinte tese firmada:
Quanto ao valor do que se estabeleceu para baixa renda, com a Emenda nº 20/1998, que introduziu
esse conceito na Constituição Federal, foi fixada a quantia de R$ 360,00. Esse valor, obviamente, vem
passando por atualizações anuais, conforme determinou o art. 13, da Emenda nº 20/1998. Esse dispositivo
foi revogado, como se vê, pela Emenda nº 103 de 2019, que em seu art. 27, caput, disciplinou o seguinte:
Art. 27. Até que lei discipline o acesso ao salário-família e ao auxílio-reclusão de que trata
o inciso IV do art. 201 da Constituição Federal, esses benefícios serão concedidos apenas
àqueles que tenham renda bruta mensal igual ou inferior a R$ 1.364,43 (mil, trezentos e
sessenta e quatro reais e quarenta e três centavos), que serão corrigidos pelos mesmos
índices aplicados aos benefícios do Regime Geral de Previdência Social.
Portanto, desde 13 de novembro de 2019, a renda bruta mensal tida como limite para se configurar
a baixa renda do segurado apto à concessão do auxílio-reclusão para os seus dependentes é de R$ 1.364,43.
Esse valor já sofreu atualização em 2020, pela Portaria nº 3.659, de 10 de fevereiro de 2020, que assim o
fixou em R$ 1.425,56.
Quanto aos beneficiários do auxílio-reclusão, são os dependentes do segurado recluso, conforme rol
previsto no art. 16, da Lei de Benefícios. Cabe anotar, ainda, que o auxílio-reclusão será devido nas condições
da pensão por morte. Aplicam-se ao auxílio-reclusão as normas referentes à pensão por morte e, no caso de
qualificação de cônjuge ou companheiro ou companheira após a prisão do segurado, o benefício será devido
a partir da data de habilitação, desde que comprovada a preexistência da dependência econômica (art. 116,
§3º, do RPS).
247
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Em relação à carência exigida para o auxílio-reclusão, ela não existia até a MP 871/2019, convertida
na Lei nº 13.846/2019. A partir dessa mudança, conforme art. 25, IV, da Lei nº 8.213/1991, a carência exigida
é de 24 meses:
Art. 25. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social
depende dos seguintes períodos de carência, ressalvado o disposto no art. 26:
IV - auxílio-reclusão: 24 (vinte e quatro) contribuições mensais.
A carência, contudo, somente pode ser exigida a partir de 18 de janeiro de 2019, com a publicação
da MP 871, uma vez que não havia sua exigência anteriormente, com a redação original da Lei de Benefícios.
A MP 664/2014 chegou a prever, durante sua vigência, o mesmo prazo hoje exigido, de 24 meses, mas essa
previsão não foi confirmada na conversão daquela medida provisória na Lei nº 13.135/2015.
Acerca do valor do auxílio-reclusão, atualmente, é o art. 27, §1º, da EC 103, que determina que até
que “lei discipline o valor do auxílio-reclusão, de que trata o inciso IV do art. 201 da Constituição Federal, seu
cálculo será realizado na forma daquele aplicável à pensão por morte, não podendo exceder o valor de 1
(um) salário-mínimo”. Nos termos da Portaria 450, o valor do auxílio-reclusão, com fato gerador posterior à
EC nº 103, de 2019, sempre será de um salário-mínimo, sendo apurado na forma do cálculo da pensão por
morte, conforme §1º do art. 27 da EC nº 103, de 2019.
Art. 116.
(...)
§4º A data de início do benefício será:
I - a do efetivo recolhimento do segurado à prisão, se o benefício for requerido no prazo de
cento e oitenta dias, para os filhos menores de dezesseis anos, ou de noventa dias, para os
demais dependentes; ou
II - a do requerimento, se o benefício for requerido após os prazos a que se refere o inciso.I.
Aplicam-se aqui as mesmas observações feitas quanto à pensão por morte, relativamente a não
fluência dos prazos prescricionais e decadenciais aos absolutamente incapazes.
Para finalizar, foram sintetizadas as características da pensão por morte, conforme esquema abaixo:
248
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
As normas que regem o benefício previdenciário de auxílio por incapacidade temporária estão
previstas nos seguintes dispositivos:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:
I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada;
I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho e
idade avançada;
A redação anterior e a nova redação, dada pela Emenda nº 103, torna perceptível a substituição da
nomenclatura. Essas alterações na redação do art. 201, §7º, I, da Constituição Federal, foram estudadas no
capítulo IX. O benefício não protege o risco da doença, mas sim da incapacidade gerada por essa doença. O
que é e sempre foi coberto pela norma previdenciária é a doença incapacitante e não a simples doença, pois
249
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
nem sempre essa vai afastar o trabalhador do trabalho. Em verdade, mesmo antes da EC nº 103, a
normatização infraconstitucional dos benefícios previdenciários sempre indicou como fato gerador da
cobertura previdenciária promovida pelo INSS a existência de incapacidade para o trabalho, temporária ou
permanente, parcial ou total. A doença em si não necessariamente será incapacitante e, por isso, a simples
existência de alguma patologia no segurado não lhe dava direito à fruição de benefício de auxílio-doença ou,
ainda, de aposentadoria por invalidez.
Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o
caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para
a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos.
§1º Não será devido o auxílio-doença ao segurado que se filiar ao Regime Geral de
Previdência Social já portador da doença ou da lesão invocada como causa para o benefício,
exceto quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento da
doença ou da lesão.
O dispositivo acima, em seu parágrafo único, deve ser interpretado no sentido de que a incapacidade
não pode ser anterior à filiação ao sistema. Em um primeiro momento, como se vê, a lei aponta para a
impossibilidade de doença anterior à filiação, mas a lei ressalva a progressão ou o agravamento da doença
ou da lesão anterior à filiação ao sistema. Se dessa progressão ou agravamento se delinear a incapacidade
para o trabalho ou para a atividade habitual e, se isso ocorrer já quando o trabalhador estiver filiado, então
ele terá direito ao benefício previdenciário, desde que cumprida a carência.
Logo, se já filiado quando do início da incapacidade, não importa se a doença era anterior ou não à
filiação. Aliás, de acordo com Súmula nº 26, de 9 de junho de 2008, da Advocacia-Geral da União, para a
“concessão de benefício por incapacidade, não será considerada a perda da qualidade de segurado
decorrente da própria moléstia incapacitante." Quer-se dizer, com isso, que é na DII que se deve perquirir a
qualidade de segurado ou não do trabalhador.
Grave, portanto, isso: doença preexistente não impede a concessão do benefício; já a incapacidade
preexistente impede. Note, aliás, que o novo regulamento da previdência social, dado pelas alterações
imprimidas no Decreto nº 3.048/1999, pelo Decreto nº 10.410/2020, reforça a impossibilidade de doença
anterior à filiação ao RGPS, conforme art. 71:
Art. 71. O auxílio por incapacidade temporária será devido ao segurado que, uma vez
cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido, ficar incapacitado para o seu
trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de quinze dias consecutivos, conforme
definido em avaliação médico-pericial.
§1º Não será devido auxílio por incapacidade temporária ao segurado que se filiar ao RGPS
já portador de doença ou lesão invocada como causa para a concessão do benefício, exceto
quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença
ou lesão.
No §1º do art. 71 do RPS (Regulamento da Previdência Social), a norma regulamentar, assim como a
Lei de Benefícios, continua a ressalvar a situação médica de agravamento ou de progressão da doença ou
lesão invocada para requerer o benefício, afirmando que essa circunstância de piora do quadro médico,
denotando incapacidade posterior à filiação, é apta a conferir o direito ao benefício.
250
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
A TNU já de muito expressa essas percepções em sua Súmula 53, no sentido de que não “há direito
a auxílio-doença ou a aposentadoria por invalidez quando a incapacidade para o trabalho é preexistente ao
reingresso do segurado no Regime Geral de Previdência Social”.
Nos representativos de controvérsia da TNU, a questão já foi, também, pacificada no julgamento dos
Temas 38 e 40, os quais assinalaram a tese firmada no sentido de que a “incapacidade laboral preexistente
veda a concessão de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, mesmo nos casos de reingresso no RGPS”.
No âmbito do STJ, o mesmo entendimento é expressado, de modo que o “que não se permite é a
cobertura social à incapacidade preexistente à filiação ao Regime. Portanto, a doença pode ser preexistente,
não a incapacidade”47.
Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o
caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para
a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos.
Já no art. 60, da Lei nº 8.213/1991, há uma distinção entre o segurado empregado e os demais
segurados do RGPS. Assinala a norma que apenas àquele é que se deve o pagamento do auxílio a partir do
16º dia de afastamento, enquanto que para os demais é devido a contar do início da incapacidade:
Art. 60. O auxílio-doença será devido ao segurado empregado a contar do décimo sexto
dia do afastamento da atividade, e, no caso dos demais segurados, a contar da data do
início da incapacidade e enquanto ele permanecer incapaz.
Cabe esclarecer que, para todo e qualquer segurado, o fato gerador do auxílio por incapacidade
temporária é a incapacidade maior do que 15 dias. Não há cobertura previdenciária para o risco de
afastamento do trabalho inferior aos quinze primeiros dias de incapacitação. A diferença dada pelo art. 60,
caput, então, refere-se à retroatividade ou não das prestações devidas pelo INSS: se retroagem para o
primeiro dia de afastamento ou não. No caso do segurado empregado, não há essa retroação para o
primeiro dia de afastamento porque é o próprio empregador quem arca com esses primeiros quinze dias de
afastamento, conforme consta expressamente no §3º, do art. 60. No caso dos demais segurados, sim, há
essa retroação ao primeiro dia de afastamento, mas somente se a incapacidade, ao final, ultrapassar os 15
dias exigidos no art. 59, caput, da Lei nº 8.213/1991.
Para ambas as hipóteses (segurados empregados e demais segurados) há, na lei, uma condicionante
temporal de que, se o pedido administrativo do benefício for feito após 30 dias de afastamento, o seu
pagamento não retroagirá para o início da incapacidade (quanto aos demais segurados) ou para o 16º dia de
afastamento (quanto ao segurado empregado), mas sim será contado da DER. Isso consta do §1º, do art. 60,
da Lei de Benefícios, o qual assevera que, quando “requerido por segurado afastado da atividade por mais
de 30 (trinta) dias, o auxílio-doença será devido a contar da data da entrada do requerimento”. Portanto, se
o segurado solicitou após 30 dias do início de seu afastamento, as prestações não serão retroativas ao
47
ARESP - AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - 1188470 2017.02.57055-8, MAURO CAMPBELL MARQUES, STJ - SEGUNDA TURMA, DJE
DATA:04/10/2019. DTPB.
251
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
primeiro dia, ou a qualquer dia anterior ao trigésimo dia de afastamento, mesmo que seja constatada que já
nesse momento o segurado estava incapacitado.
Havia exceção ao disposto acima, no sentido de que, caso a incapacidade tivesse decorrido de
acidente de trabalho, não importaria se o pedido fosse feito após 30 dias ou não, pois o pagamento do
benefício sempre retroagiria àqueles marcos de início da incapacidade. A Lei nº 9.032/1995, contudo,
revogou essa isenção legal direcionada aos casos de acidente de trabalho, não havendo mais essa norma
especial.
Quanto ao ônus financeiro de arcar com os primeiros quinze dias de afastamento, o pagamento é
feito pelo próprio empregador e não pelo INSS. De acordo com o §3º, do art. 60, da Lei de Benefícios, durante
“os primeiros quinze dias consecutivos ao do afastamento da atividade por motivo de doença, incumbirá à
empresa pagar ao segurado empregado o seu salário integral”. O §4º, do art. 60, é ainda mais explicativo
sob as responsabilidades do empregador em relação ao ónus pelo pagamento dessa quinzena inicial:
Art. 60.
(...)
§4º A empresa que dispuser de serviço médico, próprio ou em convênio, terá a seu cargo o
exame médico e o abono das faltas correspondentes ao período referido no §3º, somente
devendo encaminhar o segurado à perícia médica da Previdência Social quando a
incapacidade ultrapassar 15 (quinze) dias.
Se houver serviço médico dentro da empresa, o próprio empregador poderá avaliar a incapacidade
de seus empregados, abonando as faltas, se for o caso. Se não houver serviço médico interno ou conveniado,
caberá ao empregado levar os devidos atestados médicos para a avaliação do empregador. Em qualquer
caso, sendo hígida a causa do afastamento, ou seja, em havendo, de fato, incapacidade para o trabalho, a
empresa deve abonar essas faltar. Feito isso, se a incapacidade persistir, deverá encaminhar o segurado ao
INSS somente após o 15º dia, ou seja, no 16º dia de afastamento, quando o segurado já poderá formular
pedido administrativo para a concessão do auxílio por incapacidade temporária.
A norma previdenciária, quando trata do auxílio por incapacidade temporária, faz uma distinção
entre “trabalho” e “atividade habitual”. Essa distinção se deve ao fato de que a habitualidade da atividade
252
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
desempenhada pelo segurado é relevante para se aferir se a incapacidade é parcial ou não. A incapacidade
para o “trabalho” deve ser lida como sendo a incapacidade para todo e qualquer trabalho, ou seja, a
incapacidade total. De outro lado, a incapacidade para a “atividade habitual” deve ser lida como a
incapacidade única e exclusivamente para o trabalho que o segurado desempenha de modo habitual, ou seja,
nesse caso a incapacidade é parcial.
Partindo dessas premissas, é possível observar os seguintes tipos de incapacidade, os quais podem
variar conforme o grau e extensão:
TIPOS DE “INCAPACIDADES”
GRAU e EXTENSÃO BENEFÍCIO DEVIDO MEDIDA PREVIDENCIÁRIA
PARCIAL e PERMANENTE Auxílio por incapacidade temporária Reabilitação para outra atividade
Se a incapacidade é total e temporária, não há que se falar em reabilitação, uma vez que o
impedimento laboral é total, ou seja, para qualquer atividade, de modo que não há como o segurado ser
reabilitado para outra função. Para todas as funções laborais ele está absolutamente incapacitado. Nada
obstante, essa incapacidade total e absoluta é meramente temporária, de sorte que bastará o afastamento
das atividades laborais por um tempo, até sua completa recuperação, não sendo cabível a aposentadoria.
Nesse caso, o perito médico não fixa uma DCB, mas sim, encaminha o segurado para o serviço de
reabilitação do INSS, conforme disposto no art. 62, da Lei nº 8.213/1991, in verbis:
253
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Note que, nos casos de incapacidade parcial e permanente, o segurado, ao final do processo de
reabilitação, poderá ter conclusões que podem se dar no sentido de sua recuperação ou de sua “não
recuperação”. Nessa última hipótese o benefício deve ser convertido em aposentadoria por incapacidade
permanente. Isso, porque, na medida em que se conclui, ao final, pela não recuperabilidade do segurado, ele
está insuscetível de recuperação para qualquer outra atividade que lhe garanta sua subsistência.
Cabe registrar, também, que o art. 101 da Lei nº 8.213/1991 assevera que o
Não cabe ao segurado escolher se quer se reabilitar ou se tratar, portanto. Nada obstante, se o
segurado não cumprir com sua obrigação pessoal de comparecer ao processo de reabilitação ou se negar
injustificadamente a fazer tratamento médico, poderá ter o benefício suspenso. Somente não terá essa
obrigação e, por isso, não poderá ter o seu benefício cortado, se o tratamento médico correspondente
indispensavelmente a processo cirúrgico ou transfusão de sangue, de modo que, nesses casos, não terá o
benefício suspenso, por expressa ressalva do art. 101, da Lei de Benefícios.
De acordo com a redação do §2º, do art. 59, da Lei de Benefícios, dada pela Lei nº 13.846/2019 (a
minirreforma previdenciária), o segurado recluso em regime fechado não pode receber o benefício de auxílio
por incapacidade temporária:
Art. 59.
(...)
§2º Não será devido o auxílio-doença para o segurado recluso em regime fechado.
§3º O segurado em gozo de auxílio-doença na data do recolhimento à prisão terá o
benefício suspenso.
§4º A suspensão prevista no §3º deste artigo será de até 60 (sessenta) dias, contados da
data do recolhimento à prisão, cessado o benefício após o referido prazo.
§5º Na hipótese de o segurado ser colocado em liberdade antes do prazo previsto no §4º
deste artigo, o benefício será restabelecido a partir da data da soltura.
§6º Em caso de prisão declarada ilegal, o segurado terá direito à percepção do benefício por
todo o período devido.
§7º O disposto nos §§2º, 3º, 4º, 5º e 6º deste artigo aplica-se somente aos benefícios dos
segurados que forem recolhidos à prisão a partir da data de publicação desta Lei.
§8º O segurado recluso em cumprimento de pena em regime aberto ou semiaberto terá
direito ao auxílio-doença.
254
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Assim, o segurado recluso não pode receber auxílio por incapacidade temporária, de modo que, (i)
se estava recebendo quando foi para prisão, deverá ser suspenso o benefício (art. 59, §3º, da Lei nº
8.213/1991); (ii) se surgiu a incapacidade durante o encarceramento, não poderá gozar do benefício. No
primeiro caso, a suspensão do benefício terá a duração de 60 dias. Findo esse prazo, se não houver retorno
à liberdade, o benefício deverá ser cessado. Se houver soltura antes do prazo de 60 dias, o restabelecimento
do benefício contará da data em que foi posto em liberdade, não retroagindo para o momento em que foi
suspenso, salvo se a prisão for declarada ilegal, quando, então, retroagirá.
O segurado que durante o gozo do auxílio-doença vier a exercer atividade que lhe garanta
subsistência poderá ter o benefício cancelado a partir do retorno à atividade (art. 60, §6º, da Lei de
Benefícios). Veja que, quanto ao retorno à atividade que lhe garanta subsistência após o deferimento do
benefício, não há dúvidas de que a disposição normativa acima se aplica sem ressalvas. Nada obstante, o
disposto no §6º deve ser lido em conjunto com o §7º, ambos do art. 60, da Lei de Benefícios.
O §6º aduz que poderá haver o cancelamento porque nem sempre o retorno implicará
descaracterização da incapacidade que gerou o benefício. Isso porque o §7º diz que na “hipótese do §6º,
caso o segurado, durante o gozo do auxílio-doença, venha a exercer atividade diversa daquela que gerou o
benefício, deverá ser verificada a incapacidade para cada uma das atividades exercidas”. Em resumo, se
houver retorno para a mesma atividade habitual que ensejou o benefício, ou seja, para a atividade em
relação à qual foi reconhecida a incapacidade do segurado, aplicar-se-á o cancelamento. Seria, portanto, um
comportamento totalmente contrário à constatação de incapacidade, com a demonstração, ao contrário, de
capacidade para a atividade habitual.
De outro lado, em havendo exercício de outra atividade diversa daquela que gerou o benefício, não
haverá que se falar em cancelamento do benefício, uma vez que a incapacidade deve ser aferida em cada
uma das atividades exercidas pelo segurado. Sobre isso, calha lembrar que o art. 73, do Decreto nº
3.048/1999, já na redação dada pelo Decreto nº 10.410/2020, diz que o
Auxílio por incapacidade temporária do segurado que exercer mais de uma atividade
abrangida pela previdência social será devido mesmo no caso de incapacidade apenas para
o exercício de uma delas, hipótese em que o segurado deverá informar a Perícia Médica
Federal a respeito de todas as atividades que estiver exercendo.
Portanto, mesmo que um segurado exerça, por exemplo, duas atividades de trabalho
concomitantemente, e caso fique incapacitado apenas para uma delas, mesmo assim receberá o auxílio por
incapacidade temporária, independentemente de continuar trabalhando na segunda atividade.
Perceba, contudo, que no caso de o segurado ficar incapacitado para ambas as atividades que exerce,
a norma assinala que ele poderá receber o segundo auxílio em patamar abaixo do salário-mínimo, mas com
a condição de que somadas as prestações de cada benefício seja superado aquele mínimo.
Art. 74. Quando o segurado que exercer mais de uma atividade for considerado
definitivamente incapacitado para uma delas, o auxílio por incapacidade temporária
deverá ser mantido indefinidamente, hipótese em que não caberá a concessão de
255
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Sabe-se que pode haver morosidade na apreciação do pedido administrativo junto ao INSS e que a
necessidade de sobrevivência pode impelir que um segurado incapaz se esforce além de suas capacidades
médicas para garantir o seu sustento, enquanto as prestações previdenciárias não comecem a ser pagas.
Além disso, não é raro identificar que, antes mesmo do requerimento administrativo e após o início da
incapacidade, um segurado tenha tido a necessidade extremada de manter alguma atividade, a fim de, igual
modo, sobreviver.
Nessas hipóteses, no âmbito da Justiça Federal sempre prevaleceu o posicionamento sintetizado pelo
Enunciado 142, do XI FONAJEF, no sentido de que a “natureza substitutiva do benefício previdenciário por
incapacidade não autoriza o desconto das prestações devidas no período em que houve exercício de
atividade remunerada”. Assim, embora o benefício previdenciário tenha a finalidade de substituir o salário
do empregado, disso não se pode concluir que é devido o desconto das prestações previdenciárias quando
houver atividade remunerada concomitante com período de incapacidade. Isso, pois, nessas condições, o
trabalhador realiza um sobre-esforço, ou seja, vai além de suas limitações e dá o máximo que pode, e o que
não pode, em termos médicos, para sobreviver.
Nesse mesmo sentido, a TNU cristalizou o entendimento de que é possível o recebimento de todo o
período. A Súmula 72 da Turma Nacional de Uniformização, portanto, demarcou que é “possível o
recebimento de benefício por incapacidade durante período em que houve exercício de atividade
remunerada quando comprovado que o segurado estava incapaz para as atividades habituais na época em
que trabalhou”.
No Superior Tribunal de Justiça, a questão foi dirimida no julgamento do Tema 1013, que firmou a
tese de que no:
Há, contudo, uma regra específica que consta do Decreto nº 3.048/1999 – que foi mantida na nova
redação dada pelo Decreto nº 10.410/2020 – que é referente à CONTINUIDADE DE INCAPACIDADE em
intervalo inferior a 60 dias. Nesses casos, quando após a cessação de um auxílio por incapacidade temporária
se constata, em até 60 dias, um novo afastamento decorrente do mesmo fato gerador, o INSS deve conceder
um novo benefício contado da cessação anterior e DESCONTAR da prestação a ser paga os dias que foram
trabalhados:
Art. 75.
(...)
§3º Se concedido novo benefício decorrente do mesmo motivo que gerou a incapacidade
no prazo de sessenta dias, contado da data da cessação do benefício anterior, a empresa
256
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Cabe falar, agora, sobre a chamada “alta programada”. Esse instituto é conhecido como COPES –
Cobertura Previdenciária Estimada. No início, a previsão da alta programada era dada apenas pelo art. 78,
§§1º a 3º, do Decreto nº 3.048/1999, os quais foram incluídos pelo Decreto nº 5.844/2006. Não havia
previsão direta na Lei de Benefícios e isso era o que abria margem para discussão sobre sua legalidade.
Basicamente, a chamada “alta programada” era prevista no §1º, do art. 78, pelo qual o INSS, no ato de
concessão do benefício, poderia estabelecer o prazo que entendesse suficiente para a recuperação da
capacidade para o trabalho do segurado, dispensando, com isso, uma nova avaliação médico-pericial. Essa
sempre foi a questão: a possibilidade ou não do INSS dispensar uma nova avaliação médico-pericial, cessando
o benefício sem prévia reavaliação da situação médica do segurado.
Um dos argumentos de defesa do INSS, recorrentemente, foi o fato de que o segurado sempre pode
requerer, antes da data demarcada como alta programada, uma nova avaliação médico-pericial. Nesse
sentido, como é possível constatar na leitura do §2º, do art. 78, do RPS, sempre houve, realmente, essa
possibilidade. Desde o nascedouro normativo do instituto da alta programada se disponibilizou ao segurado
em gozo de benefício, a faculdade administrativa de formular um PP – pedido de prorrogação –, pleiteando,
para tanto, a marcação de nova perícia antes do prazo assinalado na COPES. Com isso, nunca houve, em
tese, mácula à prévia defesa do segurado, já que ele poderia intentar administrativamente a prorrogação do
benefício.
Aliás, quanto à possibilidade de formular pedido de prorrogação do benefício, a TNU entende que
não é necessário formulá-lo para que seja pleiteado o restabelecimento do benefício previdenciário junto ao
Judiciário. Isso ficou assentado no julgamento do Tema 4, dos representativos de controvérsia da TNU48.
A tese firmada foi no sentido de que é “devido o restabelecimento do auxílio-doença nas hipóteses
conhecidas por “alta programada”, independentemente de prévio pedido administrativo de prorrogação”.
Apesar do antigo julgado acima, a TNU afetou há pouco tempo o Tema 277, o qual possui como questão
submetida a julgamento saber “se à vista do decidido no Tema 164/TNU, quais as consequências da ausência
de pedido administrativo de prorrogação do auxílio-doença cessado por alta programada na postulação
judicial de restabelecimento do benefício”.
Inicialmente, como vimos, somente havia previsão da alta programada por meio de Decreto. Diante
disso, a sistemática de fixação pelo INSS de um termo final para o benefício de incapacidade, portanto, sem
nova perícia, acabou não sendo aceita pela jurisprudência, especialmente nos Juizados Especiais Federais,
justamente porque não havia “lei em sentido estrito a regulamentar a matéria”49.
De todo modo, após dez anos da criação expressa da alta programada e sua instituição no art. 78, do
Decreto nº 3.048/1999, o imbróglio normativo decorrente da ausência de dispositivo legal específico para
aquele instituto foi superado com a aprovação das Medidas Provisórias nº 739/2016 e nº 767/2017. Essas
medidas provisórias introduziram alterações diretas na própria Lei nº 8.213/1991, encerrando a questão. A
MP nº 767/2017 foi convertida na Lei nº 13.457, de 26 de junho de 2017, de sorte que, definitivamente,
passou a constar expressamente no art. 60, §8º, da Lei nº 8.213/1991, a alta programada:
257
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Art. 60. O auxílio-doença será devido ao segurado empregado a contar do décimo sexto dia
do afastamento da atividade, e, no caso dos demais segurados, a contar da data do início
da incapacidade e enquanto ele permanecer incapaz.
§8º Sempre que possível, o ato de concessão ou de reativação de auxílio-doença, judicial
ou administrativo, deverá fixar o prazo estimado para a duração do benefício.
§8o Sempre que possível, o ato de concessão ou de reativação de auxílio-doença, judicial
ou administrativo, deverá fixar o prazo estimado para a duração do benefício.
Recentemente, no âmbito regulamentar, o art. 78, do RPS, ganhou, como dito, nova redação pelo
Decreto nº 10.410/2020:
Art. 78. O auxílio por incapacidade temporária cessa pela recuperação da capacidade para
o trabalho, pela concessão de aposentadoria por incapacidade permanente ou, na hipótese
de o evento causador da redução da capacidade laborativa ser o mesmo que gerou o auxílio
por incapacidade temporária, pela concessão do auxílio acidente.
§1º Sempre que possível, o ato de concessão ou de reativação de auxílio por incapacidade
temporária, judicial ou administrativo, deverá estabelecer o prazo estimado para a duração
do benefício.
O §1º, do art. 78, do RPS, com a redação dada pelo Decreto nº 10.410 de 2020, ganhou ainda mais
corpo, eis que, agora, menciona-se expressamente que não apenas o ato de concessão administrativa deve,
sempre que possível, apontar um prazo estimado para a duração do benefício, mas também o ato judicial
que concede o benefício de auxílio por incapacidade temporária. Quanto ao possível pedido de prorrogação
por parte do segurado antes do termo indicado para a cessação do benefício, manteve-se tal faculdade,
conforme §2º, do art. 78, do RPS, abaixo transcrito:
Art. 78.
(...)
§2º Caso o prazo concedido para a recuperação se revele insuficiente, o segurado poderá
solicitar a sua prorrogação, na forma estabelecida pelo INSS.
Art. 78
(...)
§4º Caso não seja estabelecido o prazo de que trata o §1º, o benefício cessará após o prazo
de cento e vinte dias, contado da data de concessão ou de reativação do auxílio por
incapacidade temporária, exceto se o segurado requerer a sua prorrogação ao INSS,
observado o disposto no art. 79.
§5º O segurado que se considerar capaz antes do prazo estabelecido pela Perícia Médica
Federal no ato da concessão ou da prorrogação do auxílio por incapacidade temporária
somente retornará ao trabalho após nova avaliação médico-pericial.
§6º O segurado poderá desistir do requerimento de prorrogação antes da realização do
exame médico-pericial, hipótese em que o benefício será mantido até a data da sua
desistência, desde que posterior à data de cessação estabelecida pela Perícia Médica
Federal.
§7º O segurado que não concordar com o resultado da avaliação a que se refere o §1º
poderá apresentar, no prazo de trinta dias, recurso da decisão proferida pela Perícia Médica
Federal perante o Conselho de Recursos da Previdência Social - CRPS, cuja análise médico-
pericial, se necessária, será feita por perito médico federal diverso daquele que tenha
realizado o exame anterior.
258
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Visto isso, a norma atualmente vigente não determina que seja realizada uma perícia de saída do
segurado, isto é, ao fim do prazo estipulado para sua recuperação. A questão, aliás, no âmbito da
jurisprudência, ficou bem alinhada no sentido do julgamento do Tema 164, da TNU, no qual se apontou, em
outras palavras, que a alta programa é válida, de modo que “os benefícios concedidos, reativados ou
prorrogados posteriormente à publicação da MP nº 767/2017, convertida na Lei nº 13.457/2017, devem, nos
termos da lei, ter a sua DCB fixada, sendo desnecessária, nesses casos, a realização de nova perícia para a
cessação do benefício”.
Deve-se ter em mente, contudo, que a TNU fez um recorte no tempo, tomando como marco legal a
Medida Provisória nº 739/2016. Para os benefícios concedidos anteriormente a essa medida provisória,
entendeu-se que eles podem ser objeto de revisão administrativa, na forma e prazos previstos em lei e
demais normas que regulamentam a matéria, por meio de prévia convocação dos segurados pelo INSS, para
avaliar se persistem os motivos de concessão do benefício. A decisão não foi muito clara, mas parece apontar
para a negativa de validade da alta programada em relação aos benefícios de auxílio-doença concedidos,
judicial ou administrativamente, anteriormente à edição da MP nº 739/2016.
No âmbito do STJ, cabe anotar que não há recurso repetitivo sobre a matéria, mas apenas julgados
esparsos no sentido de que a introdução da alta programada no ordenamento jurídico por meio de Decreto
não pode ser considerada válida.
O Superior Tribunal de Justiça não comunga do mesmo entendimento da TNU, tendo proferido
reiteradas decisões no sentido de que a alta programada é contrária ao ordenamento jurídico vigente e que
não pode haver cessação do benefício sem perícia médica prévia, acompanhada de processo administrativo
que assegure ao segurado o contraditório. De todo modo, essas decisões se referiram à momento anterior a
MP 767/2018. Note, por fim, que, conquanto não tenha ocorrido pronunciamento direto, o STJ em outro
259
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
julgado já apontou que, indiretamente, a validade da introdução da alta programada por meio da Medida
Provisória nº 767/2017:
A questão que se indaga, agora, é sobre a possibilidade, ou não, do INSS revisar ou cancelar benefícios
previdenciários concedidos judicialmente e já acobertados pela coisa julgada. A resposta é SIM, mas com
ressalvas óbvias, pois permitir a ampla possibilidade de revisão administrativa de sentenças judiciais é
chancelar uma interferência totalmente anômala de um Poder em outro, ferindo de morte, além disso, a
garantia fundamental da inafastabilidade da tutela jurisdicional (art. 5º, XXXVI).
O art. 43, §4º, da Lei nº 8.213/1991, assinala que o “segurado aposentado por invalidez poderá ser
convocado a qualquer momento para avaliação das condições que ensejaram o afastamento ou a
aposentadoria, concedida judicial ou administrativamente”. Já o art. 60, §10, também da Lei nº 8.213/1991
vai na mesma linha, asseverando que o “segurado em gozo de auxílio-doença, concedido judicial ou
administrativamente, poderá ser convocado a qualquer momento para avaliação das condições que
ensejaram sua concessão ou manutenção”.
Cabe assinalar, contudo, que um ato administrativo que cancela um benefício sem comprovação de
alteração da situação fática que o ensejou, não estará respeitando a coisa julgada e, desse modo,
promovendo inequívoco descumprimento de ordem judicial. De outro lado, vedar completamente a revisão
de um benefício apenas porque ele foi implantado por ato judicial, após sentença ou liminar, não é
condizente com a própria natureza desses benefícios, os quais são concedidos sempre mediante a implícita
cláusula rebus sic stantibus.
Nada obstante, lembre-se que, no que toca à cessação programada de benefícios concedidos
judicialmente, pode o INSS promover a chamada alta programada, em caso de não demarcação do tempo de
cessação na sentença transitada em julgado, como visto no tópico anterior. Nesses casos de omissão na
decisão judicial, a DCB do benefício será de 120 dias.
Ausência de fixação do prazo de que trata o §8º deste artigo, o benefício cessará após o
prazo de cento e vinte dias, contado da data de concessão ou de reativação do auxílio-
doença, exceto se o segurado requerer a sua prorrogação perante o INSS, na forma do
regulamento, observado o disposto no art. 62 desta Lei.
A carência do benefício de auxílio por incapacidade temporária está prevista no art. 25, I, da Lei nº
8.213/1991:
Art. 25. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social
depende dos seguintes períodos de carência, ressalvado o disposto no art. 26:
260
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Art. 29. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social,
ressalvado o disposto no art. 30, depende dos seguintes períodos de carência:
I -doze contribuições mensais, nos casos de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez; e
I - doze contribuições mensais, nos casos de auxílio por incapacidade temporária e
aposentadoria por incapacidade permanente; e
(Redação dada pelo Decreto nº 10.410, de 2020).
Portanto, a regra é que sejam exigidas 12 contribuições mensais para ter direito ao benefício.
Havendo perda da qualidade de segurado, para readquirir eventual carência já atingida, deverá haver novo
recolhimento de pelo menos a metade do prazo exigido, ou seja, pelo menos 6 meses de contribuições,
conforme art. 27-A, da Lei nº 8.213/1991. Existem exceções, contudo, que estão previstas no art. 26, II,
também da Lei de Benefícios:
Em síntese, não será exigível a carência para a concessão do AIT quando a causa da incapacidade
laboral que acomete o segurado for decorrente de:
Art. 151. Até que seja elaborada a lista de doenças mencionada no inciso II do art. 26,
independe de carência a concessão de auxílio-doença e de aposentadoria por invalidez ao
segurado que, após filiar-se ao RGPS, for acometido das seguintes doenças: tuberculose
ativa, hanseníase, alienação mental, esclerose múltipla, hepatopatia grave, neoplasia
maligna, cegueira, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de
Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, estado avançado da doença de
Paget (osteíte deformante), síndrome da deficiência imunológica adquirida (AIDS) ou
contaminação por radiação, com base em conclusão da medicina especializada.
261
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
mutilação, deficiência ou outro fator que lhe confira especificidade e gravidade que
mereçam tratamento particularizado;
§1º Entende-se como acidente de qualquer natureza ou causa aquele de origem
traumática e por exposição a agentes exógenos, físicos, químicos ou biológicos, que
acarrete lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou a
redução permanente ou temporária da capacidade laborativa.
§2º Até que seja elaborada a lista de doenças ou afecções a que se refere o inciso III do
caput, independerá de carência a concessão de auxílio por incapacidade temporária e de
aposentadoria por incapacidade permanente ao segurado que, após filiar-se ao RGPS, seja
acometido por alguma das seguintes doenças:
I - tuberculose ativa;
II - hanseníase;
III - alienação mental;
IV - esclerose múltipla;
V - hepatopatia grave;
VI - neoplasia maligna;
VII - cegueira;
VIII - paralisia irreversível e incapacitante;
IX - cardiopatia grave;
X - doença de Parkinson;
XI - espondiloartrose anquilosante;
XII - nefropatia grave;
XIII - estado avançado da doença de Paget (osteíte deformante);
XIV - síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS); ou
XV - contaminação por radiação, com base em conclusão da medicina especializada.
Perceba que não necessariamente o acidente precisa ser do trabalho, mas apenas de qualquer
natureza. Então, por exemplo, se a causa que gerou a incapacidade do segurado foi um acidente
automobilístico, não será exigível carência para que ele tenha direito ao benefício.
O cálculo do benefício de auxílio por incapacidade temporária, de acordo com o art. 39, da Portaria
450, será feito na forma do art. 35, do mesmo diploma infralegal, que assim diz:
Art. 35. Nos termos do art. 26 da EC nº 103, de 2019, o PBC é composto por 100% (cem por
cento) dos salários de contribuição a partir de julho de 1994 ou desde o início das
contribuições, se posterior a esta competência, observado o disposto no art. 27.
Portanto, desde 13 de novembro de 2019, a regra de cálculo dos benefícios previdenciários é dada
pelo art. 26, caput, da Emenda nº 103, afastando a norma ainda prevista no art. 29, II, da Lei nº 8.213/1991,
que previa, para o cálculo do salário de benefício, a média aritmética simples dos maiores salários-de-
contribuição correspondentes a oitenta por cento de todo o período contributivo.
A regra do art. 29, II, da Lei nº 8.213/1991 pode ser mais favorável para os segurados cuja data de
início da incapacidade tenha se verificado antes de 13 de novembro de 2019. A questão, portanto, deve ser
vista caso a caso, na busca do melhor benefício e com a proteção ao direito adquirido e na melhor
interpretação do princípio tempus regit actum. Apurado o SB (salário de benefício), o coeficiente a ser
aplicado para se obter a RMI do benefício em estudo é previsto no art. 72, caput, do RPS, confirmando a
regra prevista no art. 61, da Lei de Benefícios (Lei nº 8.213/1991):
Lei nº 8.213/1991
Art. 61. O auxílio-doença, inclusive o decorrente de acidente do trabalho, consistirá numa
renda mensal correspondente a 91% (noventa e um por cento) do salário-de-benefício,
observado o disposto na Seção III, especialmente no art. 33 desta Lei.
DECRETO Nº 3.048/1999
262
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Art. 72. O auxílio por incapacidade temporária consiste em renda mensal correspondente a
noventa e um por cento do salário de benefício definido na forma prevista no art. 32 e será
devido:
Em resumo, a RMI do auxílio por incapacidade temporária será apurada com base na alíquota de 91%
sobre o SB, o qual, por sua vez, é derivado da média aritmética de 100% do PBC. Interessante observar a
regra prevista no art. 39, §5º, do RPS é aplicável aos auxílios por incapacidade temporária decorrentes de
acidente de qualquer natureza ou causa. Nessas espécies de AIT, em havendo cessação do benefício e, após,
constatação de agravamento que justifique o retorno do benefício cessado, a nova RMI será de 91% do SB
anteriormente apurado. Ou seja, não será feito novo cálculo do SB, mas, sim, usado o SB apurado para o
primeiro benefício cessado, apenas corrigindo-o pelos mesmos índices de correção empregados no cálculo
dos benefícios em geral. Cabe chamar à atenção, por fim, a um limitador da RMI do AIT, previsto no art. 32,
§23, caput, do RPS, bem como no 29, §10, da Lei de Benefícios:
LEI Nº 8.213/1991
Art. 29.
(...)
§10. O auxílio-doença não poderá exceder a média aritmética simples dos últimos 12
(doze) salários-de-contribuição, inclusive em caso de remuneração variável, ou, se não
alcançado o número de 12 (doze), a média aritmética simples dos salários-de-contribuição
existentes.
DECRETO Nº 3.048/1999
Art. 32.
(...)
§23. O auxílio por incapacidade temporária não poderá exceder a média aritmética simples
dos últimos doze salários de contribuição, inclusive no caso de remuneração variável, ou,
se não houver doze salários de contribuição, a média aritmética simples dos salários de
contribuição existentes, observado o disposto no art. 33.
A data de início do benefício de auxílio por incapacidade temporária é regulada de acordo com o art.
59, caput, c/c art. 60, §1º, ambos da Lei nº 8.213/1991, bem como no art. 72, do Decreto nº 3.048/1999, já
na redação dada pelo Decreto nº 10.410/2020, transcrevido abaixo:
Art. 72. O auxílio por incapacidade temporária consiste em renda mensal correspondente a
noventa e um por cento do salário de benefício definido na forma prevista no art. 32 e será
devido:
I - a contar do décimo sexto dia do afastamento da atividade para o segurado empregado,
exceto o doméstico;
II - a contar da data do início da incapacidade, para os demais segurados, desde que o
afastamento seja superior a quinze dias;
III - a contar da data de entrada do requerimento, quando requerido após o trigésimo dia
do afastamento da atividade, para todos os segurados.
Art. 78. O auxílio por incapacidade temporária cessa pela recuperação da capacidade para
o trabalho, pela concessão de aposentadoria por incapacidade permanente ou, na hipótese
de o evento causador da redução da capacidade laborativa ser o mesmo que gerou o auxílio
por incapacidade temporária, pela concessão do auxílio acidente.
263
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Incapacidade para o
trabalho/atividade
habitual + 15 dias.
As normas que regem o benefício referido estão previstas nos seguintes dispositivos:
264
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Art. 86. O auxílio-acidente será concedido, como indenização, ao segurado quando, após
consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultarem
sequelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente
exercia.
§1º O auxílio-acidente mensal corresponderá a cinquenta por cento do salário-de-
benefício e será devido, observado o disposto no §5º, até a véspera do início de qualquer
aposentadoria ou até a data do óbito do segurado.
§2º O auxílio-acidente será devido a partir do dia seguinte ao da cessação do auxílio-
doença, independentemente de qualquer remuneração ou rendimento auferido pelo
acidentado, vedada sua acumulação com qualquer aposentadoria.
§3º O recebimento de salário ou concessão de outro benefício, exceto de aposentadoria,
observado o disposto no §5º, não prejudicará a continuidade do recebimento do auxílio-
acidente.
§4º A perda da audição, em qualquer grau, somente proporcionará a concessão do auxílio-
acidente, quando, além do reconhecimento de causalidade entre o trabalho e a doença,
resultar, comprovadamente, na redução ou perda da capacidade para o trabalho que
habitualmente exercia.
Com base no regramento normativo acima, podemos identificar que o benefício de auxílio-acidente
está ligado a uma indenização, decorrente da consolidação das lesões, as quais, por sua vez, são provenientes
de um acidente. Esse acidente não precisa ser de trabalho, mas apenas um acidente de qualquer natureza.
Aquelas lesões consolidadas, portanto, precisam gerar no segurado uma sequela, de modo que essa, tendo
relação com a dinâmica funcional do trabalhador, reduza sua capacidade para o trabalho que habitualmente
exercia.
Nada obstante essa necessária relação com o trabalho que habitualmente exercia, desde o Decreto
nº 6.722, de 2008, cabe “a concessão de auxílio-acidente oriundo de acidente de qualquer natureza ocorrido
durante o período de manutenção da qualidade de segurado”. Nesse caso, a solução a ser dada, para
verificação do direito ao auxílio-acidente, é considerar a última atividade habitualmente exercida. Somente
assim será possível concluir pela relação de prejudicialidade entre a sequela e a função laboral do segurado.
De fato, não fazia sentido impedir o direito ao auxílio-acidente enquanto o segurado está desempregado,
desde que esteja no período de graça, uma vez que o fato gerador do auxílio-acidente já não era, desde 1995,
atrelado a acidente de trabalho. Logo, poderia um acidente de qualquer natureza, ocorrido enquanto o
segurado já estivesse desempregado, ensejar perfeitamente o fato gerador do benefício.
Assim, justamente por ser um benefício previdenciário de índole indenizatória, e não substitutiva da
remuneração, é que pode haver cumulação dos valores recebidos pelo INSS com a remuneração do trabalho
do segurado. Dessa forma, o benefício de auxílio-acidente é recebido juntamente com os ganhos habituais
do trabalhador.
265
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
O fato gerado do auxílio-acidente é a consolidação das lesões, como dito. Não qualquer consolidação
das lesões, mas apenas aquelas que deixarem sequelas no indivíduo. Deve haver um nexo causal entre a
sequela e o trabalho habitualmente exercido. Como dito, apenas as sequelas que reduzirem a capacidade
laboral do trabalhador, desde que essa redução tenha relação com o trabalho que habitualmente exercia, é
que são efetivamente consideradas na concessão do auxílio-acidente.
Há, como se vê, um encadeamento lógico de fatos para que nasça o direito ao auxílio-acidente. O
primeiro fato consubstanciador do direito ao benefício é um acidente de qualquer natureza. Novamente
chamo à atenção: não é necessário, portanto, que o acidente seja de trabalho. Basta que seja um acidente,
por exemplo, tropeçando na calçada da rua da sua casa, o que não tem nada a ver com o trabalho. A definição
de “acidente de qualquer natureza” está posta no art. 30, §1º, do Decreto nº 3.048/1999:
§1º Entende-se como acidente de qualquer natureza ou causa aquele de origem traumática
e por exposição a agentes exógenos, físicos, químicos ou biológicos, que acarrete lesão
corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou a redução permanente
ou temporária da capacidade laborativa.
Para ser acidente de qualquer natureza, deve haver, assim, alguma ação exógena sobre a pessoa, por
meio de agentes físicos, químicos ou biológicos. Essa ação externa deve causar um trauma no corpo,
acarretando algum tipo de lesão ou, no mínimo, perturbação funcional. Esse evento traumático pode gerar
até a morte, como diz a norma, mas para fins de auxílio-acidente, bastará, obviamente, que haja apenas uma
perda ou redução da capacidade laborativa.
Atenção! Embora a palavra “sequela” possa nos induzir a concluir que a redução da capacidade
laboral causada por ela seja permanente, a norma previdenciária deixa claro que a lesão ou perturbação
funcional pode ser apenas temporária. Então, não é impossível que um auxílio-acidente dure apenas por um
tempo. A sequela pode ser superada de algum modo, com o tempo, o que será objeto de revisões periódicas
do INSS.
Nada obstante, a questão da reversibilidade ou não da sequela é Tema que transita nos tribunais.
Existem decisões judiciais que que afirmam ser irrelevante a constatação médica de reversibilidade futura da
lesão. Contudo tem prevalecido o entendimento de que uma lesão anatômica seja superada com o tempo,
seja pelo uso e pela modernização, por exemplo, de próteses mecânicas, robóticas etc. De outro lado, o
próprio segurado pode se desenvolver de tal forma que a lesão consolidada não mais passe a implicar
redução da capacidade laborativa, não justificando a prestação indenizatória do auxílio-acidente. Por fim, a
própria norma previdenciária, como vimos, ao tratar do acidente de qualquer natureza, define como sendo
um evento que gera perda ou a redução permanente ou temporária da capacidade laborativa. Conclui-se,
assim, que a sequela pode ser reversível, na medida em que os efeitos do acidente de qualquer natureza
podem ser temporários.
O Superior Tribunal de Justiça acabou definindo essa discussão por meio do julgamento do Tema 156
de seus repetitivos, demarcando a tese de que será “devido o auxílio-acidente quando demonstrado o nexo
de causalidade entre a redução de natureza permanente da capacidade laborativa e a atividade profissional
desenvolvida, sendo irrelevante a possibilidade de reversibilidade da doença”50.
Além dessa questão, deve-se ter em mente que, no auxílio-acidente, pressupõe-se sempre que o
acidente de qualquer natureza tenha provocado, primeiro, uma lesão incapacitante e que, após certo lapso
50 REsp 1112886/SP, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Terceira Seção, julgado em 25/11/2009, DJe 12/02/2010.
266
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
de tempo, que essa lesão tenha se consolidado. A consolidação significa que seu processo curativo ou de
recuperação de algum modo se estagnou, estabilizando os impactos anatômicos ou funcionais na capacidade
de trabalho do segurado acidentado.
A sequela, pela letra do art. 86, da Lei nº 8.213/1991, pode ser qualquer uma, conquanto que tenha
relação com a atividade habitual do trabalhador. O art. 104, caput, do RPS, aliás, expressamente registra que
o acidente de qualquer natureza que resulta sequela definitiva “a exemplo das situações discriminadas no
Anexo III”, implica direito ao auxílio. A “relação das situações que dão direito ao auxílio-acidente”, conforme
Anexo III, do Regulamento da Previdência Social, é meramente exemplificativa. Isso constou, inclusive, da
intepretação dada pela própria Administração Pública, que reconheceu a natureza exemplificativa desse rol
no Parecer 17/2013/CONJUR-MPS/CGU/AGU, aprovado pela Portaria nº 264/2013/MPS51. Apesar disso, já
houve uma tentativa do Poder Executivo Federal em, aparentemente, tornar a interpretação sobre a noção
de sequela não mais casuística, mas sim prévia e taxativa. Isso ocorreu durante a vigência da Medida
Provisória nº 905, de 11 de novembro de 2019 (permeada pela MP 955/2019), que incluiu o §6º, ao art. 86,
da Lei nº 8.213/1991:
§6º As sequelas a que se refere o caput serão especificadas em lista elaborada e atualizada
a cada três anos pela Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da
Economia, de acordo com critérios técnicos e científicos.
(Incluído pela Medida Provisória nº 905, de 2019)
(Revogada pela Medida Provisória nº 955, de 2020) Vigência encerrada
A referida MP, no entanto, não foi convertida em lei e perdeu sua vigência em 18 de agosto de 2020.
Assim, continua não havendo previsão fechada das hipóteses que dão ensejo à concessão do auxílio-
acidente.
Importante saber, de outro lado, que o elemento “acidente de qualquer natureza” para fins de
auxílio-acidente somente, foi inserido na norma previdenciária pela Lei nº 9.528/1997. Antes dessa lei,
somente se concedia aquele benefício quando houvesse um acidente de trabalho. Portanto, a generalidade
ínsita ao conceito de “acidente de qualquer natureza” somente foi inserida na legislação previdenciária pela
Lei nº 9.032/1995. Antes dela, somente pelo acidente ocorrido no bojo das relações laborais é que se poderia
ter o nascimento do fato gerador do benefício de auxílio-acidente.
Quanto ao termo inicial do benefício de auxílio-acidente, é de ser destacar que, em regra, não existe
o auxílio-acidente deferido sem que tenha havido, antes, a concessão de um auxílio por incapacidade
temporária. Portanto, ele é comumente derivado de um benefício precedente. É o que no mais das vezes se
verifica, especialmente porque não há nas plataformas de atendimento do INSS um canal de pedido
específico para a concessão do auxílio-acidente, sendo sua concessão sempre derivada da análise relacionada
ao auxílio por incapacidade temporária.
Nada obstante, não seria impossível, do ponto de vista do direito de petição, como garantia
fundamental de qualquer pessoa, uma postulação administrativa inominada para o INSS, requerendo apenas
o auxílio-acidente, independentemente do direito, em tese, a um possível auxílio por incapacidade
temporária precedente. Além disso, a jurisprudência tem aceitado que, nesses casos, haja postulação judicial
direta, como no caso do julgado abaixo, proferido pelo STJ:
51 AMADO, Frederico, in Curso de Direito e Processo Previdenciário, 11ª edição, Editora JusPodvim, 2019, Salvador, p. 1064.
267
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
(...)
2. Com relação ao termo inicial do benefício, o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento
dos Embargos de Divergência 735.329/RJ, Rel. Ministro Jorge Mussi, pacificou o
entendimento de que, na ausência de postulação na via administrativa, é a citação, e não
a juntada do laudo pericial aos autos, que deve nortear o termo inicial dos benefícios de
cunho acidentário.
3.O STJ tem entendimento consolidado de que o termo inicial do auxílio-acidente é a data
da cessação do auxílio-doença, quando este for pago ao segurado, e de que, inexistindo
tal fato, ou ausente prévio requerimento administrativo para a concessão do auxílio-
acidente, o termo inicial do recebimento do benefício deve ser a data da citação. (...) (RESP
- RECURSO ESPECIAL - 1838756 2019.02.79166-3, HERMAN BENJAMIN, STJ - SEGUNDA
TURMA, DJE DATA:22/11/2019. DTPB.)
No âmbito administrativo também vigora esse entendimento, que pode ser constatado no
PARECER/CONJUR/MPS N° 18/13, da AGU, segundo o qual não “é possível condicionar a concessão do
auxílio-acidente à percepção de auxílio-doença antecedente. Intenção legislativa apenas de vedar o
recebimento conjunto do auxílio-doença e do auxílio-acidente decorrentes de um mesmo fato gerador, dada
a necessidade de consolidação das lesões”.
Falemos agora do elemento “redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia”
constante do fato gerador do benefício. Implica, isso, dizer que, ao final do auxílio por incapacidade
temporária, o segurado somente poderá receber o auxílio-acidente se houver a consolidação de alguma lesão
que lhe implique sequela definitiva e, com isso, redução de sua capacidade para o trabalho que
habitualmente exercia. Conclui-se, com isso, que deve haver um nexo de causalidade entre a sequela e a
funcionalidade laboral do membro ou de qualquer parte anatômica do segurado que tenha sido afetado pela
lesão ou perturbação.
Se não houver esse nexo, não há direito ao auxílio-acidente. Contudo, é importante lembrar que o
grau da lesão, se mínima, média ou máxima, não implicará absolutamente nenhuma alteração no direito ao
recebimento do benefício. Isso quer dizer que, se houver a verificação do nexo de causalidade entre a sequela
e a atividade laboral do segurado, de modo a se perceber a redução da capacidade dele em tal função, não
importará se essa redução será mínima. O que importa é que há uma sequela que, ainda que minimamente,
impactará algum tipo de atenção ou esforço especial do trabalhador na atividade que habitualmente exercia.
Essa questão já foi alvo de intensa discussão jurisprudencial, mas o STJ definiu em favor dos
segurados no âmbito do Tema 416, de seus recursos repetitivos. A tese fixada foi no sentido de que se exige
“para concessão do auxílio-acidente, a existência de lesão, decorrente de acidente do trabalho, que implique
redução da capacidade para o labor habitualmente exercido. O nível do dano e, em consequência, o grau do
maior esforço, não interferem na concessão do benefício, o qual será devido ainda que mínima a lesão”52.
Cabe perceber, ademais, que o decreto nº 10.410/2020 deu nova redação ao art. 104, do RPS,
revogando os incisos I a III que delineavam as hipóteses possíveis de redução da capacidade em decorrência
das sequelas verificadas. Agora, a redação atual está assim disposta, apenas afirmando que qualquer redução
da capacidade pode gerar o benefício:
52REsp 1109591/SC, Rel. Ministro CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP), TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
25/8/2010, DJe 08/09/2010.
268
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
definitiva que, a exemplo das situações discriminadas no Anexo III, implique redução da
capacidade para o trabalho que habitualmente exercia.
Há, também, uma previsão legal peculiar, que precisa ser lembrada e que diz respeito ao
delineamento normativo dado ao que se concebe como redução da capacidade laboral para fins de
percepção do auxílio-acidente. Diz, expressamente o §4º, do art. 86, da Lei de Benefícios, que a “perda da
audição, em qualquer grau, somente proporcionará a concessão do auxílio-acidente, quando, além do
reconhecimento de causalidade entre o trabalho e a doença, resultar, comprovadamente, na redução ou
perda da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia”. A Súmula 44, do STJ, acerca da perda da
audição para fins de auxílio-acidente, aponta que a “definição, em ato regulamentar, de grau mínimo de
disacusia, não exclui, por si só, a concessão do benefício previdenciário”. A “disacusia” é o “estado mórbido
em que certos sons produzem distúrbio da audição, dor ou mal-estar; disacústica”53.
Veja, agora, quem são os beneficiários do auxílio-acidente. É o art. 18, §1º, da Lei de Benefícios, que
define quais são esses:
Art. 18. O Regime Geral de Previdência Social compreende as seguintes prestações, devidas
inclusive em razão de eventos decorrentes de acidente do trabalho, expressas em
benefícios e serviços:
(...)
§1o Somente poderão beneficiar-se do auxílio-acidente os segurados incluídos nos incisos I,
II, VI e VII do art. 11 desta Lei.
Sinterizaremos em um quadro-resumo:
SEGURADO EMPREGADO
Segurado empregado doméstico
BENEFICIÁRIOS DO AUXÍLIO-ACIDENTE
Segurado trabalhador avulso
Segurado especial
Com relação aos empregados domésticos, eles somente passaram a ser beneficiários a partir da Lei
Complementar nº 150, de 1º de junho de 2015. Mas, a grande questão que se destaca em relação aos
beneficiários do auxílio-acidente, como se vê, é a ausência do direito ao benefício para os contribuintes
individuais e segurados facultativos. Para esses segurados, não há a incidência de contribuição para a
seguridade social a fim de cobrir os riscos inerentes ao trabalho, isto é, para o chamado SAT – segurado de
acidente de trabalho, tal como previsto no art. 22, II, da Lei nº 8.213/1991. O contribuinte individual e o
segurado facultativo, portanto, são os únicos segurados do RGPS que não fazem jus ao benefício de auxílio-
acidente.
269
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Contribuintes individuais e segurados facultativos não fazem jus a esse benefício, segundo
a interpretação dominante, por não estarem enquadrados na proteção acidentária (art. 19
da Lei nº 8.213/ 1991). Nesse sentido: TRF4, AC 0023410-26.2014.404.9999, 5ª Turma, Rel.
Juiz Federal Luiz A. Bonat, DE de 26.4.2016; AC 0003072-26.2017.4.04.9999, TRS-SC, Rel.
Des. Paulo A. B. Vaz, DE 5.4.2018).
A Constituição Federal não estabelece distinção entre os segurados da Previdência Social
no tocante ao auxílio-acidente.
Portanto, entendemos que deve ser reconhecido o direito ao tratamento isonômico entre
os segurados do RGPS.
Por outro lado, a ausência de previsão na Lei nº 8.213/ 1991 não impede a concessão do
auxílio-acidente ao contribuinte individual, pois a contribuição que financia esse benefício
não é da responsabilidade dos segurados. Nesse sentido: Recurso Cível 5000361-
91.2012.404.7200/ SC, 1ª Turma Recursal de Santa Catarina, Rel. p/ acórdão Juiz Federal
João Batista Lazzari, Sessão de 13.11.2012.
Entretanto, destaca-se que as posições acima não refletem a atual jurisprudência, que aponta pela
não concessão do auxílio-acidente ao contribuinte individual, tal como cristalizado na percepção da TNU
quando do recente julgamento do Tema 201, de seus representativos de controvérsia, que fixou a tese de
que o “contribuinte individual não faz jus ao auxílio-acidente, diante de expressa exclusão legal”.
Em relação aos segurados especiais, inicialmente eles não estavam previstos como detentores do
direito ao benefício, e havia entendimento que apontava o direito ao benefício somente se os segurados
especiais recolhessem facultativamente. A redação do art. 39, I, da Lei de Benefícios, não incluía
expressamente aquele benefício acidentário no rol de proteção previdenciária dos segurados especiais. Isso
foi alterado, no entanto, pela Lei nº 12.873/2013, que deu a seguinte redação ao art. 39, I, da Lei nº
8.213/1991:
Art. 39. Para os segurados especiais, referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, fica
garantida a concessão:
I - de aposentadoria por idade ou por invalidez, de auxílio-doença, de auxílio-reclusão ou de
pensão, no valor de 1 (um) salário-mínimo, e de auxílio-acidente, conforme disposto no art.
86, desde que comprove o exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no
período, imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao número de meses
correspondentes à carência do benefício requerido; ou
Por fim, a minirreforma previdenciária promovida pela Lei nº 13.846/2019 manteve a inclusão do
auxílio-acidente ao segurado especial:
Art. 39. Para os segurados especiais, referidos no inciso VII do caput do art. 11 desta Lei,
fica garantida a concessão:
I - de aposentadoria por idade ou por invalidez, de auxílio-doença, de auxílio-reclusão ou de
pensão, no valor de 1 (um) salário-mínimo, e de auxílio-acidente, conforme disposto no art.
54 Idem.
270
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
86 desta Lei, desde que comprovem o exercício de atividade rural, ainda que de forma
descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao
número de meses correspondentes à carência do benefício requerido, observado o disposto
nos arts. 38-A e 38-B desta Lei (...)
Apesar da mudança legislativa acima, a divergência permanecia em relação ao período anterior a Lei
nº 12.873/2013. Contudo, o STJ decidiu a questão no julgamento do Tema 627, fixando a seguinte tese no
sentido de que o “segurado especial, cujo acidente ou moléstia é anterior à vigência da Lei nº 12.873/ 2013,
que alterou a redação do inciso I do artigo 39 da Lei nº 8.213/ 91, não precisa comprovar o recolhimento de
contribuição como segurado facultativo para ter direito ao auxílio-acidente”55.
Pela Medida Provisória 1.596-14, convertida na Lei nº 9.528/1997, portanto, foram introduzidas
como causas de cessação do benefício de auxílio-acidente o óbito do segurado, bem como a concessão de
qualquer aposentadoria. Até então era possível a cumulação do auxílio-acidente com qualquer
aposentadoria. A partir disso, passou a ser proibida tal cumulação. Atualmente, o auxílio-acidente pode ser
cumulado com qualquer benefício previdenciário, salvo qualquer aposentadoria. Apesar dessa mudança, a
MP nº 1.596-14, convertida na Lei nº 9.528/97, também alterou o art. 31, da Lei nº 8.213/1991, passando a
permitir favoravelmente que o “valor mensal do auxílio-acidente integra o salário-de-contribuição, para fins
de cálculo do salário-de-benefício de qualquer aposentadoria”.
Pelo princípio tempus regit actum, somente haverá direito à cumulação de auxílio-acidente e
aposentadoria se a lesão incapacitante e a jubilação ocorressem antes daquela norma, conforme Súmula 75,
da AGU:
271
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
O Supremo Tribunal Federal, ao final, reconheceu a repercussão geral sobre essa questão, afetando
o julgamento do RE 687.813 ao Tema 599, mas até hoje não houve apreciação da questão.
Ainda no tópico relacionado à acumulação de benefícios, cabe frisar que há entendimento no sentido
de que dois auxílios-acidentes poderiam ser cumulados em decorrência de fatos geradores distintos, ou seja,
se cada auxílio-acidente derivasse de infortúnios diversos. Contudo, essa não é a letra da norma
previdenciária, a qual não parece abrir exceção para nenhuma hipótese de cumulação de auxílios-acidentes,
ainda que derivados de infortúnios diversos.
O art. 124, IV, da Lei nº 8.213/1991, assinala claramente que não é permitido o recebimento conjunto
de mais de um auxílio-acidente. É até possível o recebimento de auxílio por incapacidade temporária
decorrente de outro acidente ou doença, com auxílio-acidente pago em razão de atividade concomitante,
mas a norma proíbe dois auxílios-acidentes, ainda que decorrentes de atividades concomitantes. No STJ é
pacífico o entendimento quanto “à impossibilidade de acumulação de mais de um auxílio-acidente. Contudo,
havendo novo infortúnio, admite-se recalcular o benefício que já vinha sendo pago, somando-se ao salário
de contribuição vigente no dia do segundo acidente, a fim de obter valor melhorado”56
Além disso, o art. 129, do RPS, determina que o “segurado em gozo de auxílio-acidente, auxílio-
suplementar ou abono de permanência em serviço terá o benefício encerrado na data da emissão da
certidão de tempo de contribuição”. Contra essa interpretação, manifesta-se Lazzari57 ao afirmar “o INSS,
tomando conhecimento de que o beneficiário de auxílio-acidente passou a gozar de aposentadoria por
regime próprio, está cancelando o auxílio-acidente concedido pelo RGPS”.
Art. 86.
(...)
§1º O auxílio-acidente mensal corresponderá a cinquenta por cento do salário-de-
benefício e será devido, observado o disposto no §5º, até a véspera do início de qualquer
aposentadoria ou até a data do óbito do segurado.
É o salário de benefício que deu origem ao auxílio por incapacidade temporária precedente do
auxílio-acidente, sobre o qual incidirá o coeficiente acima. Nada impede, como já dito, que a RMI seja inferior
ao salário-mínimo. O STF chegou a afetar tal questão ao Tema 609, mas concluiu que se trata de matéria de
índole infraconstitucional.
56 ARESP - AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - 1545456 2019.02.13296-2, HERMAN BENJAMIN, STJ - SEGUNDA TURMA, DJE
DATA:19/12/2019. DTPB.
57 Castro, Carlos Alberto Pereira de; Lazzari, João Batista. Manual de Direito Previdenciário (Locais do Kindle 20368-20376). Forense.
Edição do Kindle.
272
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Nos termos do art. 26, I, da Lei nº 8.213/1991, independe de carência a concessão de auxílio-
acidente. Cabe lembrar, contudo, que o auxílio-acidente, em geral, é precedido de um auxílio por
incapacidade temporária, de modo que para este, em regra, deve haver a satisfação de 12 meses de carência.
Nada obstante, pode haver, também, a concessão inicial de auxílio-acidente. Em qualquer dos casos, por
óbvio, o postulante ao benefício deverá comprovar sua qualidade de segurado.
Note que o INSS, ao que parece, não disponibiliza no “meu INSS” o pedido direito de auxílio-acidente,
de modo que, com isso, fica liberado o pedido direito pela via judicial, sem ofensa à jurisprudência do STF.
Em relação a isso, o STJ entendeu, no Tema 862, que o “termo inicial do auxílio-acidente deve recair no dia
seguinte ao da cessação do auxílio-doença que lhe deu origem, conforme determina o art. 86, §2º, da Lei nº
8.213/1991, observando-se a prescrição quinquenal da Súmula 85/STJ”.
DIB
b) a partir da data da citação nos
pedidos judiciais, quando não
houver prévio AIT ou prévio
requerimento administrativo.
273
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
2.13. Salário-maternidade
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria
de sua condição social:
(...)
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e
vinte dias;
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:
(...)
II - proteção à maternidade, especialmente à gestante.
Por fim, a Lei nº 12.873/2013 permitiu o recebimento do benefício para o segurado, homem, também
em caso de adoção ou guarda judicial para fins de adoção, conforme art. 71-A, da Lei nº 8.213/1991. Veja,
274
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
aliás, que o prazo de duração do salário-maternidade nessa última hipótese é de 120 dias também, não
havendo diferenciação entre homens e mulheres. Não poderá haver, contudo, concessão dupla do benefício,
ou seja, para a mulher adotante e para o home adotante em relação a mesma criança. Essa vedação se
encontra prevista no art. 93-A, §7º, do RPS:
Art. 71-B. No caso de falecimento da segurada ou segurado que fizer jus ao recebimento do
salário-maternidade, o benefício será pago, por todo o período ou pelo tempo restante a
que teria direito, ao cônjuge ou companheiro sobrevivente que tenha a qualidade de
segurado, exceto no caso do falecimento do filho ou de seu abandono, observadas as
normas aplicáveis ao salário-maternidade.
§1º O pagamento do benefício de que trata o caput deverá ser requerido até o último dia
do prazo previsto para o término do salário-maternidade originário.
§2º O benefício de que trata o caput será pago diretamente pela Previdência Social durante
o período entre a data do óbito e o último dia do término do salário-maternidade originário
e será calculado sobre:
I - a remuneração integral, para o empregado e trabalhador avulso;
II - o último salário-de-contribuição, para o empregado doméstico;
III - 1/12 (um doze avos) da soma dos 12 (doze) últimos salários de contribuição, apurados
em um período não superior a 15 (quinze) meses, para o contribuinte individual, facultativo
e desempregado; e
IV - o valor do salário-mínimo, para o segurado especial.
§3º Aplica-se o disposto neste artigo ao segurado que adotar ou obtiver guarda judicial para
fins de adoção.
A Lei nº 9.876/1999, portanto, alterou essa antiga sistemática, impondo ao INSS o pagamento direito
do benefício para qualquer segurada, de qualquer categoria, inclusive as seguradas empregadas. Isso,
entretanto, foi revertido pela Lei nº 10.470/2003, ou seja, as empresas voltaram a pagar diretamente o
salário-maternidade de suas empregadas, com a possibilidade de compensação. Assim permanece até os
dias atuais.
275
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
=120 dias). Entretanto, considerando que nem sempre é possível definir a data do parto, o benefício de
salário-maternidade terá sempre, na verdade, a duração de 120 dias, não sendo muito relevante, na prática,
os períodos pré e pós-parto acima indicados. Veja, nesse sentido, a disposição prevista no art. 93, §4º, do
RPS:
Art. 93.
(...)
§4º Em caso de parto antecipado ou não, a segurada tem direito aos cento e vinte dias
previstos neste artigo.
Embora o dia do parto seja, administrativamente, para o INSS, a data de início do benefício, o direito
ao benefício pode ser demonstrado a partir do 28º dia antecedente ao nascimento da criança. O INSS
entende se o direito ao salário-maternidade for demonstrado a partir do 28º dia, caso a segurada perca a
qualidade de segurado logo após, na data do parto, isso não afetará a concessão do benefício, conforme
PARECER/CONJUR/MPS 616/2010. Existe regra em lei especial sobre o salário-maternidade concedido para
crianças vítimas de microcefalia, de modo que neste caso o benefício terá a duração legal de 180 dias, nos
termos da Lei nº 13.985/2020.
A regra geral é, como visto, no caso de parto, o prazo de 120 dias. No entanto a norma previdenciária
também permite exceção, estendendo o prazo anterior e posterior daquele interregno por mais duas
semanas. Assim, pelo art. 93, §3º, do RPS, é possível considerar mais duas semanas para antes e para após o
parto:
§3º Em casos excepcionais, os períodos de repouso anterior e posterior ao parto podem ser
aumentados de mais duas semanas, por meio de atestado médico específico submetido à
avaliação medico-pericial.
No caso de adoção, ou guarda judicial para fins de adoção, o salário-maternidade terá a duração,
igualmente, de 120 dias, conforme art. 71-A, da Lei de Benefícios:
Art. 71-A. Ao segurado ou segurada da Previdência Social que adotar ou obtiver guarda
judicial para fins de adoção de criança é devido salário-maternidade pelo período de 120
(cento e vinte) dias.
§1º O salário-maternidade de que trata este artigo será pago diretamente pela Previdência
Social.
Nesse caso, contudo, não há direito de extensão em mais duas semanas, já que a norma fala em
período pré e pós parto, o que não se aplica ao caso de adoção ou guarda judicial para fins de adoção. De se
perceber, ainda, que a norma previdenciária fala em adoção de criança, o que exclui a proteção no caso de
adoção de adolescente. Desse modo, é possível o recebimento de salário-maternidade se a adoção ou guarda
judicial para fins de adoção quando a criança tiver até 12 anos de idade incompletos. A expressão
“incompletos” significa que será considerada criança até o dia anterior que completar doze anos de idade.
Nesse sentido, a letra expressa do art. 93-A, caput, do RPS, conforme redação dada pelo Decreto nº
10.410/2020, cuja letra registra que o “salário-maternidade é devido ao segurado ou à segurada da
previdência social que adotar ou obtiver guarda judicial, para fins de adoção de criança de até doze anos de
idade, pelo período de cento e vinte dias”.
Já no caso de aborto não criminoso, o salário-maternidade terá a duração de duas semanas apenas.
Nesse sentido, o art. 93, §5, do RPS, registra que, em “caso de aborto não criminoso, comprovado mediante
atestado médico, a segurada terá direito ao salário-maternidade correspondente a duas semanas”. A
276
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
expressão “aborto não criminoso” abrangerá as hipóteses previstas no art. 128, I e II, do Código Penal, bem
como o aborto involuntário e, por fim, a aborto autorizado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da
ADPF 54.
Deve ser lembrado, também, de recente julgamento do Supremo Tribunal Federal na ADPF 6327, em
medida cautelar, que entendeu ser possível a extensão do salário-maternidade em caso de partos
prematuros. Veja trecho da ementa do julgado:
(...) 9. Presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora, defiro a liminar, a fim de conferir
interpretação conforme à Constituição ao artigo 392, §1º, da CLT, assim como ao artigo
71 da Lei nº 8.213/1991 e, por arrastamento, ao artigo 93 do seu Regulamento (Decreto
nº 3.048/99), e assim assentar (com fundamento no bloco constitucional e convencional de
normas protetivas constante das razões sistemáticas antes explicitadas) a necessidade de
prorrogar o benefício, bem como considerar como termo inicial da licença-maternidade e
do respectivo salário-maternidade a alta hospitalar do recém-nascido e/ou de sua mãe, o
que ocorrer por último, quando o período de internação exceder as duas semanas
previstas no art. 392, §2º, da CLT, e no art. 93, §3º, do Decreto nº 3.048/99. (ADI 6327 MC-
Ref, Relator(a): EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 03/04/2020, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-154 DIVULG 18-06-2020 PUBLIC 19-06-2020)
Quanto ao período anterior à mudança legal, a questão acabou sendo resolvida pela TNU, quando
do julgamento do Tema 202 de seus representativos de controvérsia. A tese fixada pela TNU foi no sentido
de que o “cálculo da renda mensal do salário-maternidade devido à segurada que, à época do fato gerador
da benesse, se encontre no período de graça, com última vinculação ao RGPS na qualidade de segurada
empregada, deve observar a regra contida no art. 73, III, da Lei nº 8.213/1991”.
Com efeito, se após a extinção do vínculo de emprego, a segurada desempregada receber salário-
maternidade, o valor desse benefício será calculado com base na média dos salários de contribuição
apurados no intervalo máximo de 15 meses anteriores ao parto e será pago à razão de 1/12 avos. Nas
277
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
competências anteriores ao parto nas quais não houver salário de contribuição, deverá ser considerado, para
efeito de cálculo, o valor de um salário-mínimo.
Cabe lembrar que o salário-maternidade, no caso das seguradas empregadas, não se sujeita ao teto
do RGPS, limitando-se ao teto do funcionalismo público, ou seja, o subsídio recebido pelos Ministros do
Supremo Tribunal Federal, veja-se a previsão do art. 94, da Lei de Benefícios, bem como dos artigos 248 e
37, XI, ambos da Constituição Federal de 1988:
Se a segurada empregada receber remuneração que supere o subsídio mensal dos Ministros do
Supremo Tribunal Federal, a empresa empregadora assume a diferença. Isso porque o art. 7º, inciso XVIII, da
Constituição Federal, assegura a “licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração
de cento e vinte dias”.
Em síntese:
278
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
No caso da segurada especial a carência será comprovada por meio do trabalho rural em regime de
economia familiar nos dez meses anteriores ao fato gerado do benefício.
SALÁRIO-
MATERNIDADE RMI: depende da categoria b) segurada especial: um salário mínimo.
de segurada.
2.14. Salário-família
279
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei. Note que, até a Emenda 20/1998, o salário-
família não possuía o condicionamento normativo de ser dirigido apenas ao trabalhador de baixa renda. Tal
requisito normativo, portanto, somente passou a ser exigido com a publicação daquela emenda
constitucional, de modo que antes disso, o benefício poderia ser pago independentemente da renda auferida
pelo segurado.
De todo modo, antes ou depois da inserção desse requisito, a norma previdenciária sempre restringiu
o pagamento do salário-família apenas aos segurados empregados, empregados domésticos e trabalhadores
avulsos. Portanto, contribuintes individuais, segurados facultativos e segurados especiais estão fora do
espectro de proteção previdenciária do salário-família.
Em síntese:
SALÁRIO-FAMÍLIA
Segurados que possuem direito a receber Segurados que não possuem direito a receber
Quando o pai e a mãe são segurados empregados, inclusive domésticos, ou trabalhadores avulsos,
ambos têm direito ao salário-família. O aposentado por invalidez ou por idade e os demais aposentados com
65 anos ou mais de idade, se do sexo masculino, ou 60 anos ou mais, se do feminino, terão direito ao salário-
família, pago juntamente com a aposentadoria. Assim, permite-se a cumulação de ambos os benefícios:
salário-família e aposentadoria, desde que essa tenha sido nas espécies “aposentadoria por incapacidade
permanente” ou “aposentadoria por idade”.
Na medida em que não há mais aposentadoria por idade urbana, como já estudado, o novo
regulamento da previdência social estabelecido com as alterações promovidas pelo Decreto nº 10.410/2020
assinalou a possibilidade de recebimento conjunto de salário-família pelos segurados empregados e
trabalhadores avulsos aposentados, desde que tenham 65 anos de idade, se homem, ou 60 anos de idade,
se mulher. Ao que parece, na medida em que não restringe a que tipo e aposentadoria, parece que a norma
permitiu o recebimento conjunto do benefício com qualquer aposentadoria, desde que concedida para
segurados que comprovem aquela idade mínima:
280
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
(...) que lei discipline o acesso ao salário-família e ao auxílio-reclusão de que trata o inciso
IV do art. 201 da Constituição Federal, esses benefícios serão concedidos apenas àqueles
que tenham renda bruta mensal igual ou inferior a R$ 1.364,43 (mil, trezentos e sessenta e
quatro reais e quarenta e três centavos), que serão corrigidos pelos mesmos índices
aplicados aos benefícios do Regime Geral de Previdência Social.
Além disso, a Emenda 103 deixou claro que até que “lei discipline o valor do salário-família, de que
trata o inciso IV do art. 201 da Constituição Federal, seu valor será de R$ 46,54”. Com efeito, o salário-família
passou a ter faixa única de enquadramento no que toca ao valor da cota paga por dependente. Antes havia
duas faixas de enquadramento. A Portaria 450, justamente nesse sentido de interpretação, disciplinou no
seu art. 53, que o “benefício de salário-família, a partir de 14 de novembro de 2019, passa a ter faixa única
quanto ao valor da cota devida, não havendo alteração para enquadramento como segurado de baixa renda,
conforme estabelecido pelo art. 27 da EC nº 103, de 2019”. Já no Decreto nº 3.048/1999, com as alterações
dadas pelo Decreto nº 10.410/2020, essa sistemática de pagamento em faixa única foi confirmada:
Art. 83. O valor da cota do salário-família por filho ou por enteado e por menor tutelado,
desde que comprovada a dependência econômica dos dois últimos, até quatorze anos de
idade ou inválido, é de R$ 48,62 (quarenta e oito reais e sessenta e dois centavos).
Quanto ao ônus de pagamento, conforme o art. 68, da Lei de Benefícios, as cotas do salário-família
serão pagas pela empresa ou pelo empregador doméstico, mensalmente, junto com o salário, efetivando-se
a compensação quando do recolhimento das contribuições, conforme dispuser o Regulamento. Já o art. 81,
do Regulamento da Previdência Social estabelece que o salário-família é devido, mensalmente, ao segurado
empregado, inclusive o doméstico, e ao trabalhador avulso, na proporção do respectivo número de filhos
ou de enteados e de menores tutelados, desde que comprovada a dependência econômica dos dois últimos.
Assim, o salário-família é pago em tantas cotas quantos forem o número de filhos, enteados ou menores
tutelados, sendo que para esses dois últimos é exigida a comprovação da dependência econômica. Contudo,
deve-se observar que os filhos, enteados ou menores tutelados devem ter no máximo 14 anos de idade ou
inválidos de qualquer idade.
Além disso, existe mais outro requisito relativo à comprovação da frequência escolar dos
beneficiários e à demonstração de atestado de vacinação obrigatória. Nesse sentido, conforme art. 67, do
RPS, assinala-se, pois, que:
De outro lado, o empregado doméstico deve apresentar apenas a certidão de nascimento, estando
dispensado de comprovar a frequência escolar e a vacinação anual obrigatória dos filhos e equiparados.
A apresentação do atestado de vacinação obrigatória dos referidos dependentes deve ser ANUAL e
feita até os seis anos de idade. Já a comprovação de frequência à escola deve ser SEMESTRAL a partir de
quatro anos de idade. Mas, repita-se, para recebimento do salário-família, o empregado doméstico
apresentará ao seu empregador apenas a certidão de nascimento do filho ou a documentação relativa ao
enteado e ao menor tutelado, desde que comprovada a dependência econômica dos dois últimos.
Em síntese:
281
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Para finalizar, façamos um quadro-resumo das características básicas e dos requisitos do benefício:
SALÁRIO-FAMÍLIA
PREVISÃO - Art. 201, IV, da Constituição Federal de 1988;
LEGAL
- Arts. 65 a 70, da Lei nº 8.213/1991;
FATO Trabalhadores de baixa renda: com salário de contribuição inferior ou igual a R$ 1.425,56 (mil
GERADOR quatrocentos e vinte e cinco reais e cinquenta e seis centavos), na proporção do respectivo
número de filhos ou de enteados e de menores tutelados, desde que comprovada a dependência
econômica dos dois últimos
SEGURADOS - EMPREGADO;
COBERTOS
- EMPREGADO DOMÉSTICO;
- AVULSO.
CÁLCULO DA - a partir de 14/11/19: até que lei discipline o valor do salário-família, de que trata o inciso IV do
RMI art. 201 da Constituição Federal, seu valor será de R$ 46,54 por filho ou equiparado de qualquer
condição, até 14 anos de idade, ou inválido de qualquer idade.
Como vimos, as prestações efetivadas pelo INSS no âmbito do RGPS se dividem em benefícios e
serviços. Já foram estudadas todas as prestações pagas pela autarquia previdenciária. Agora, abordaremos
os serviços, que são:
282
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
• serviço social;
• habilitação;
• reabilitação profissional.
Comecemos pelo serviço social. Trata-se de serviço considerado pela norma previdenciária como
sendo uma atividade auxiliar do seguro social. Sua previsão legal se encontra no art. 88, da Lei de Benefícios.
O objetivo primordial do serviço social é de esclarecer e informar os segurados de seus direitos e deveres
junto à previdência social. Nesse sentido, compete ao Serviço Social esclarecer, junto aos beneficiários, seus
direitos sociais e os meios de exercê-los. Por meio desse processo de esclarecimento, o INSS deve estabelecer
conjuntamente com os segurados o processo de solução dos problemas que emergirem da sua relação com
a Previdência Social. A norma dispõe que essa obrigação deve se dar tanto no âmbito interno da instituição,
como na dinâmica da sociedade. Nesse trilho de atuação, o serviço social do INSS terá como diretriz a
participação do beneficiário na implementação e no fortalecimento da política previdenciária, em articulação
com as associações e entidades de classe.
Contudo, a lei estabelece uma prioridade de atendimento aos segurados, dada a demanda crescente.
Assim, os segurados em benefício por incapacidade temporária possuem prioridade no atendimento.
Figuram também dentro de uma atenção especial os aposentados e pensionistas. O efetivo atendimento dos
usuários, inclusive mediante celebração de convênios, acordos ou contratos, será buscado por meio de
intervenções técnicas, bem como prestação de:
Art. 161. O serviço social constitui atividade auxiliar do seguro social e visa prestar ao
beneficiário orientação e apoio no que concerne à solução dos problemas pessoais e
familiares e à melhoria da sua inter-relação com a previdência social, para a solução de
questões referentes a benefícios, bem como, quando necessário, à obtenção de outros
recursos sociais da comunidade.
§1º Será dada prioridade de atendimento a segurados em benefício por incapacidade
temporária e atenção especial a aposentados e pensionistas.
§2º Para assegurar o efetivo atendimento aos beneficiários, poderão ser utilizados
mecanismos de intervenção técnica, ajuda material, recursos sociais, intercâmbio com
empresas, inclusive mediante celebração de convênios, acordos ou contratos, ou pesquisa
social.
§3º O serviço social terá como diretriz a participação do beneficiário na implementação e
fortalecimento da política previdenciária, em articulação com associações e entidades de
classes.
§4º O serviço social prestará assessoramento técnico aos estados, Distrito Federal e
municípios na elaboração de suas respectivas propostas de trabalho relacionadas com a
previdência social.
§5º O Ministro de Estado da Previdência Social editará atos complementares para a
aplicação do disposto neste artigo.
283
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Já a habilitação e a reabilitação profissional são serviços previstos no RGPS por meio dos artigos 89,
da Lei de Benefícios e 136, do RPS. De acordo com Lazzari58, citando Wladimir Novaes Martinez, temos que
habilitação:
(...) não se confunde com reabilitação. A primeira é a preparação do inapto para exercer
atividades, em decorrência de incapacidade física adquirida ou deficiência hereditária. A
segunda pressupõe a pessoa ter tido aptidão e tê-la perdido por motivo de enfermidade ou
acidente. Tecnicamente o deficiente não é reabilitado e, sim, habilitado.
Lei nº 8.213/1991
Art. 89. A habilitação e a reabilitação profissional e social deverão proporcionar ao
beneficiário incapacitado parcial ou totalmente para o trabalho, e às pessoas portadoras de
deficiência, os meios para a (re)educação e de (re)adaptação profissional e social indicados
para participar do mercado de trabalho e do contexto em que vive.
Parágrafo único. A reabilitação profissional compreende:
a) o fornecimento de aparelho de prótese, órtese e instrumentos de auxílio para locomoção
quando a perda ou redução da capacidade funcional puder ser atenuada por seu uso e dos
equipamentos necessários à habilitação e reabilitação social e profissional;
b) a reparação ou a substituição dos aparelhos mencionados no inciso anterior, desgastados
pelo uso normal ou por ocorrência estranha à vontade do beneficiário;
c) o transporte do acidentado do trabalho, quando necessário.
Art. 90-A. prestação de que trata o artigo anterior é devida em caráter obrigatório aos
segurados, inclusive aposentados e, na medida das possibilidades do órgão da Previdência
Social, aos seus dependentes.
Art. 91. Será concedido, no caso de habilitação e reabilitação profissional, auxílio para
tratamento ou exame fora do domicílio do beneficiário, conforme dispuser o Regulamento.
Art. 92. Concluído o processo de habilitação ou reabilitação social e profissional, a
Previdência Social emitirá certificado individual, indicando as atividades que poderão ser
exercidas pelo beneficiário, nada impedindo que este exerça outra atividade para a qual se
capacitar.
Art. 93. A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2%
(dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou
pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção:
I - até 200 empregados..........................................................2%;
II - de 201 a 500.....................................................................3%;
III - de 501 a 1.000.................................................................4%;
IV - de 1.001 em diante. ........................................................5%.
§1º A dispensa de pessoa com deficiência ou de beneficiário reabilitado da Previdência
Social ao final de contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias e a dispensa
imotivada em contrato por prazo indeterminado somente poderão ocorrer após a
contratação de outro trabalhador com deficiência ou beneficiário reabilitado da Previdência
Social.
§2º Ao Ministério do Trabalho e Emprego incumbe estabelecer a sistemática de fiscalização,
bem como gerar dados e estatísticas sobre o total de empregados e as vagas preenchidas
58Castro, Carlos Alberto Pereira de; Lazzari, João Batista. Manual de Direito Previdenciário (Locais do Kindle 22669-22672). Forense.
Edição do Kindle.
284
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
285
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
A premissa básica dos serviços de habilitação e reabilitação é a incapacidade parcial ou total para o
trabalho do beneficiário, a fim de promover-lhe a reeducação e readaptação profissional e social. A
habilitação e reabilitação também visam dar o mesmo atendimento às pessoas com deficiencia. Portanto,
quando falarmos em habilitação e reabilitação, deveremos correlacionar esses serviços com os beneficiários
que apresentem:
286
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
TRANSPORTE do acidentado do trabalho, quando necessário; auxílio para tratamento ou exame fora do
domicílio do beneficiário.
Além disso, importante previsão da norma relativa à habilitação e reabilitação dos segurados está na
determinação de recolocação no mercado de trabalho de beneficiários recuperados, habilitados e
reabilitados. Nesse sentido, o art. 93, da Lei de Benefícios, determina que a empresa “com 100 (cem) ou mais
empregados está obrigada a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com
beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência”, de acordo com as proporções indicadas no
dispositivo. O art. 141, do Regulamento da Previdência Social reverbera esse mandamento. Veja-se a síntese
das determinações conforme quadro abaixo:
Ainda, para manter a proteção do mercado de trabalho a esses trabalhadores recuperados de suas
incapacidades e com eventual readaptação de suas deficiências, a norma do art. 93, §1º, incluída pela Lei
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015), diz o seguinte:
Por fim, cabe mencionar que, assim como o serviço social, a habilitação e a reabilitação independem
de carência, conforme art. 26, V, da Lei de Benefícios:
287
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
O abono anual está previsto no art. 40, da Lei de Benefícios e no art. 120, do RPS, tratando-se de
prestação do RGPS categorizada como sendo benefício previdenciário acessório, uma vez que, na prática, é
o “décimo-terceiro salário” ou a “gratificação natalina” do beneficiário do INSS. Conforme art. art. 201, §6º,
da Constituição Federal de 1988, a gratificação natalina dos aposentados e pensionistas terá por base o valor
dos proventos do mês de dezembro de cada ano.
Importante observar que o abono anual é pago não apenas ao segurado, mas também ao
dependente. Logo, também é pago no âmbito da pensão por morte e do auxílio-reclusão. Também é
importante demarcar que, pela letra do art. 40, da Lei nº 8.213/1991, o abono anual somente pode ser pago
nas prestações de natureza contínua, isto é, aquelas que não são pagas por determinado período já prefixado
pela lei previdenciária, tal como o salário-maternidade. Assim, em um primeiro momento, lendo apenas a
Lei nº 8.213/1991, somente podemos falar em pagamento da chamada gratificação natalina dos segurados
e dependentes do INSS no pagamento do auxílio por incapacidade temporária, auxílio-acidente, pensão por
morte, auxílio-reclusão e aposentadorias. Todavia o art. 120, do Decreto nº 3.048/1999, já na redação
atualizada do Decreto nº 10.410/2020, expande esse direito também para o salário-maternidade. Assim diz
o referido dispositivo:
Art. 120. Será devido abono anual ao segurado e ao dependente que, durante o ano,
receberam auxílio por incapacidade temporária, auxílio-acidente, aposentadoria, salário-
maternidade, pensão por morte ou auxílio-reclusão.
(Redação dada pelo Decreto nº 10.410, de 2020).
Quanto ao cálculo do valor correspondente ao abono anual, ele será feito, no que couber, da mesma
forma que a gratificação natalina dos trabalhadores em geral, tendo por base o valor da renda mensal do
benefício do mês de dezembro de cada ano. Nesse trilho, o Decreto nº 3.048/1999 detalha que o pagamento
será efetuado em duas parcelas. A primeira parcela corresponderá a até 50% do valor do benefício devido
no mês de agosto e será paga juntamente com os benefícios dessa competência. Já a segunda parcela
corresponderá à diferença entre o valor total do abono anual e o valor da primeira parcela e será paga
juntamente com os benefícios da competência de novembro.
Sintetizando:
até 50% do valor do benefício diferença entre o valor total do abono anual e o valor da primeira parcela
O abono anual, assim, é uma prestação acessória de alguns benefícios previdenciários. Note, por fim, que o
único benefício sobre o qual não é gerado o direito ao abono anual é o salário-família. Os benefícios
assistenciais ao idoso e ao deficiente também não recebem o abono anual.
288
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
289
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
O processo judicial previdenciário não possui rito especial, sendo estabelecido conforme as regras
gerais do Código de Processo Civil. Entretanto, sabemos que a maioria das ações previdenciárias possuem
como objeto o pagamento de prestações a serem pagas pelo INSS em valores que, no quanto acumulado,
não ultrapassam os valores de alçada do Juizado Especial Federal. Assim, o maior volume de processos
judiciais previdenciários em tramitação hoje no país se encontra no âmbito das varas com especialização em
JEF, as quais, por sua vez, aplicam o rito especial da Lei nº 10.259/2001, com aplicação subsidiária da Lei nº
9.099/1995.
A competência delegada estabelecida pela Constituição Federal de 1988 permite que juízes estaduais
processem e julguem demandas previdenciárias, muito embora, como dito, as ações sejam movidas em face
de uma autarquia federal. Trata-se de hipótese de exceção, criada para facilitar o ajuizamento de ações em
localidades que não contam com vara da Justiça Federal.
Aliás, sobre o instituto da competência delegada, cabe registrar que houve uma mudança muito
importante decorrente da Emenda Constitucional nº 103. A competência delegada é um instituto processual
que já estava previsto na legislação anterior ao regime constitucional de 1988. Na década de 1960, em virtude
da pouca interiorização da justiça federal, foi editada a Lei nº 5.010/1966. Essa lei é válida até hoje e prevê
que, nas comarcas em que não há sede da justiça federal, as demandas previdenciárias podem ser
ajuizadas perante a justiça estadual. Naquela época, as demandas previdenciárias ajuizadas contra a
autarquia previdenciária federal também eram da competência da justiça federal. A competência delegada,
portanto, era uma exceção legal. Após a Constituição federal de 1988, essa competência delegada foi
transferida para a norma constitucional prevista no artigo 109, §3º, da CF/1988, in verbis:
Art. 109.
(...)
§3º Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados
ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado,
sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se verificada essa
condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam também processadas e julgadas
pela justiça estadual.
Foram feitas duas mudanças significativas no dispositivo acima, pela Emenda 103 de 2019. A redação
atual diz assim:
Art. 109.
(...)
§3º Lei poderá autorizar que as causas de competência da Justiça Federal em que forem
parte instituição de previdência social e segurado possam ser processadas e julgadas na
justiça estadual quando a comarca do domicílio do segurado não for sede de vara federal.
290
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
A primeira mudança se refere à retirada do trecho que permitia que outras causas também fossem
processadas e julgadas pela justiça estadual. Na redação anterior, era permitido que uma determinada lei
também previsse, no âmbito da competência delegada, outras hipóteses processuais e não apenas causas
previdenciárias. Aliás, existia a competência delegada em relação às execuções fiscais, mas essa hipótese foi
extinta pela da Lei nº 13.043/2014, que revogou o disposto no art. 15, inciso I, da Lei nº 5.010/1966. Logo,
não é mais possível que lei estabeleça nenhuma outra causa para que seja incluída no espectro normativo
da competência delegada. Somente processos previdenciários podem ser considerados nessa hipótese
normativa de exceção, em relação à regra de competência dos juízes federais demarcada no art. 109, inciso
I, da Constituição Federal.
Note, assim, que não há mais o caráter impositivo para a manutenção da exceção à regra de
competência da justiça federal. Pode ser que a lei autorize, pode ser que não, isso dependerá da escolha do
legislador. De todo modo, ainda existe lei autorizando. Como dito acima, ainda permanece válida a Lei nº
5.010/1966, incidindo o quanto previsto em seu art. 15, III. No entanto esse dispositivo sofreu sensível
alteração pela Lei nº 13.876/2019. Até a edição dessa lei, não havia condicionante relativa à distância da
sede de Vara Federal. Com a mudança legislativa, somente haverá competência delegada nas comarcas cuja
distância da sede da justiça federal for maior do que 70 Km:
Art. 15. Quando a Comarca não for sede de Vara Federal, poderão ser processadas e
julgadas na Justiça Estadual:
(...)
III - os feitos ajuizados contra instituições previdenciárias por segurados ou beneficiários
residentes na Comarca, que se referirem a benefícios de natureza pecuniária.
(Vide Decreto-Lei nº 488, de 1969)
III - as causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado e que se
referirem a benefícios de natureza pecuniária, quando a Comarca de domicílio do segurado
estiver localizada a mais de 70 km (setenta quilômetros) de Município sede de Vara
Federal;
Cabe lembrar que a jurisdição de unidades judiciais federais engloba vários municípios, de modo que
somente continuarão, portanto, na competência direta do próprio Juízo Federal, aquelas localidades que não
estão situados a mais de 70 Km da sede deste. Assim, mesmo fazendo parte da jurisdição de uma
determinada Vara Federal, se um segurado tiver domicílio em algum daqueles municípios situados a mais de
70 Km da sede, seu processo será julgado pelo Juízo Estadual da respectiva comarca a que pertence seu
município.
Nesse caso, se ajuizada a ação previdenciária junto ao Juízo Estadual que exerce a competência
delegada, não cabe o declínio de competência de ofício para o Juizado Especial Federal que engloba a
respectiva comarca. Se a comarca onde foi ajuizada a ação previdenciária estiver situada a menos de 70 Km
da sede de Vara Federal, tenho que o declínio de competência pode ser realizado de ofício pelo Juízo
Estadual, já que se trataria de violação de regra de competência funcional, de natureza absoluta. De outro
lado, se a ação tiver sido ajuizada em comarca que dista mais de 70 Km da sede de Vara Federal, não pode
291
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
haver declínio de competência, por se tratar de competência de natureza relativa e, nos termos da Súmula
33, do STJ, a “incompetência relativa não pode ser declarada de ofício”.
Quanto à regra geral de competência previdenciária prevista no art. 109, I, CF, há que se lembrar,
ainda, da hipótese de ações acidentárias. Nesse caso, ainda que se trate de benefício previdenciário
concedido pelo INSS, a competência não será a dos juízes federais, mas sim dos juízes estaduais. Se o fato
gerador que originou a cobertura previdenciária pelo regime geral de previdência social decorrer de um
acidente de trabalho, isso afastará a regra de competência dos juízes federais. A previsão da competência
dos juízes federais para o processamento e julgamento das pretensões previdenciárias e assistenciais em
face do INSS é de natureza funcional. Portanto, possui status indeclinável e de caráter objetivo. Afigura-se,
assim, como competência de natureza objetiva, que não pode ser prorrogada ou modificada pelos órgãos
judiciários com a competência para o processamento e julgamento dessas causas.
A súmula 501, do STF, assinala que compete “à Justiça ordinária estadual o processo e o julgamento,
em ambas as instâncias, das causas de acidente do trabalho, ainda que promovidas contra a União, suas
autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista”. A referida súmula foi criada no regime
constitucional da Constituição de 1967 e da Emenda Constitucional nº 1 de 17 de outubro de 1969, mas, por
óbvio, ainda possui a mesma aplicabilidade atualmente. Já no âmbito do STJ, foi editada a súmula 15, cujo
texto assinala que compete à “Justiça Estadual processar e julgar os litígios decorrentes de acidente do
trabalho”.
Na eventualidade, então, de uma causa previdenciária não relacionada a acidente de trabalho ser
processada e julgada na justiça estadual, teremos uma hipótese de nulidade absoluta, implicando anulação
da sentença. Em qualquer momento em que for detectada essa circunstância, o processo deverá ser
remetido ao Juízo Estadual com competência territorial para o processo, conforme a localidade da comarca
do segurado. Se houver essa constatação em grau recursal, a sentença deverá ser anulada e remetidos os
autos à Justiça Estadual de primeiro grau. De outro lado, se isso ocorrer após o trânsito em julgado caberá
ação rescisória, na forma prevista pelo art. 966, inciso II, CPC. Se a sentença transitada em julgado tiver sido
prolatada no âmbito do JEF, cabe lembrar que não é possível a ação rescisória, conforme vedação expressa
do art. 59, da Lei nº 9.099/1999, aplicável subsidiariamente ao rito dos Juizados Especiais Federais, por força
do art. 1º, da Lei nº 10.259/2001.
Havia discussão se fariam parte da competência do Juízo Estadual, não apenas as ações que intentam
a concessão de benefícios previdenciários acidentários, mas também as ações revisionais respectivas.
Pacificou-se, contudo, o entendimento de que compete, igualmente, aos juízes estaduais processar e julgar
essas causas. O Superior Tribunal de Justiça já afirmou, nessa linha, que compete à Justiça ordinária estadual
o processo e o julgamento, em ambas as instâncias, das causas de acidente do trabalho, ainda que
promovidas contra a União, suas autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista, e,
também, os pedidos de revisão delas decorrentes (AgRg no CC 135.327/ES, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 24/9/2014, DJe 02/10/2014).
Em outro julgado, o STJ assentou que tanto a ação de acidente do trabalho quanto a ação de revisão
do respectivo benefício previdenciário devem ser processadas e julgadas pela Justiça Estadual (CC
124.181/SP, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/12/2012, DJe 1/2/2013).
292
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
De outro lado, muito importante perceber que, acerca dos benefícios acidentários, note que apenas
as prestações relativas à incapacidade entram na competência da justiça estadual, estando de fora as
pensões por morte. Com efeito, se um segurado do RGPS faleceu em virtude de um acidente de trabalho, a
pretensão de recebimento da correspondente pensão por morte não deverá ser direcionada para um juiz de
direito, mas sim para um juiz federal. Nesse sentido, o STJ se manifestou aduzindo que compete à Justiça
Federal processar e julgar as ações objetivando a concessão ou revisão dos benefícios de pensão por morte,
ainda que decorrentes de acidente de trabalho (CC 166.107/BA, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/8/2019, DJe 18/10/2019).
Outra questão muito importante relacionada a aplicação, ou não, da competência da justiça estadual
pode ser vista nos casos em que o benefício previdenciário se refere a segurado especial. Nesse caso, o
Superior Tribunal de Justiça já entendeu que, ainda que se trate de causa relacionada acidente de trabalho,
a competência será da justiça federal. Segundo o STJ, é assente o entendimento da Corte quanto à
competência residual da Justiça Estadual para processar demanda relativa a acidente de trabalho.
Entretanto, a comprovação da qualidade de segurado especial, para fins de concessão de benefício perante
a Autarquia Previdenciária, como no caso, é matéria estranha à competência da Justiça Estadual, devendo
ser a demanda processada pela Justiça Federal, nos termos do art. 109, I da CF. Somente seria possível o
processamento da presente ação no Juízo Estadual, se a Comarca do domicílio do segurado não fosse sede
de Vara Federal. (STJ – CC 86797/ PE Conflito de Competência – Rel. Minº Napoleão Maia – TERCEIRA SEÇÃO
– Julgamento 22/08/2007 – DJ 03/09/2007 p. 119).
Contudo o entendimento acima foi alterado, de modo que, atualmente, o STJ entende que é
irrelevante a categoria do segurado. Em sendo causa relacionada à acidente de trabalho, a competência não
será da justiça federal, mesmo que se trate de segurado especial. O Enunciado 187, do FONAJEF, segue essa
linha, afirmando que são da competência da Justiça Federal os pedidos de benefícios ajuizados por segurados
especiais e seus dependentes em virtude de acidentes ocorridos nessa condição. Note a nova orientação do
STJ:
293
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
após a prévia provocação da Administração Pública, é que, então, haverá verdadeira lesão ou ameaça de
lesão ao direito dos segurados, em sendo negado o pedido.
Sintetizando:
• revisão;
• restabelecimento; ou
EXCEÇÕES
• manutenção do benefício previdenciário;
• casos públicos e notórios de negativa administrativa.
Por conta da grande oscilação jurisprudencial a respeito da questão tratada, foi estabelecida uma
regra de transição para os processos ajuizados até o julgamento do Tema 350, em 3 de setembro de 2014.
Assim, se for constatado que a ação foi ajuizada até aquela data e não houve o prévio requerimento
administrativo, devem ser seguidas as seguintes regras:
294
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
Ainda com relação à temática do prévio requerimento administrativo, cabe registrar que a Turma
Nacional de Uniformização já decidiu que é dispensável o pedido de prorrogação dos casos em que o
benefício previdenciário é concedido dentro da sistemática da alta programada. A tese fixada no Tema 4 da
TNU entendeu, assim, que é devido o restabelecimento do auxílio-doença nas hipóteses conhecidas por alta
programada, independentemente de prévio pedido administrativo de prorrogação. Registre-se que o Tema
164, da TNU, entendeu não haver ilegalidade na sistemática da alta programada.
Trataremos, um pouco mais, sobre o sistema dos Juizados Especiais Federais. Como dito, trata-se de
importante estudo porque a maioria das ações previdenciárias do país corre no âmbito dos JEFs. Os Juizados
Especiais Federais foram previstos na Constituição por meio da Emenda 22/1999. Até então somente havia
a previsão dos “juizados especiais” no inciso I, do art. 98, CF. Com a EC 22 foi introduzido o parágrafo único,
do art. 98, posteriormente remunerado pela EC 45 para §1º. No plano infraconstitucional, a sua criação
efetiva ocorreu quando da edição da Lei nº 10.259/2001. Conforme expressa previsão da referida lei, são
aplicadas de maneira subsidiária as disposições referentes aos juizados especiais estaduais previstas na Lei
nº 9.099/1995. E de maneira supletiva são aplicadas também às disposições do Código de Processo Civil,
quando não forem incompatíveis com os regramentos específicos dos juizados especiais.
Os o Juizados Especiais Federais são, atualmente, a principal via de acesso ao Judiciário para os
segurados da previdência social, especialmente após a reforma promovida pela Emenda Constitucional 103,
que reduziu sensivelmente a renda mensal inicial dos benefícios. Assim, na maioria das vezes, as pretensões
de recebimento das prestações previdenciárias não ultrapassaram o teto da competência dos juizados
especiais federais, que é de 60 salários-mínimos. A competência dos JEFs é estabelecida pelo art. 3º, caput,
da Lei nº 10.259/2001:
Art. 3o Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas de
competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários-mínimos, bem como
executar as suas sentenças.
Note-se que se trata de competência para processar e julgar, bem como para executar suas próprias
sentenças condenatórias. Atente-se ao fato de que se trata de competência absoluta, conforme art. 3º, §3º,
da Lei nº 10.259/2001, cujo texto menciona que no “foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a
sua competência é absoluta”.
295
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
Perceba que a competência é absoluta sob o critério funcional, mas quanto ao critério territorial,
ainda há divergência na jurisprudência. Há entendimento no sentido de que o ajuizamento de ação em JEF
da Capital do Estado, e não na Subseção Judiciária Federal do domicílio da parte autora, implicaria a extinção
do feito sem resolução do mérito, nos termos do art. 51, III, da Lei nº 9.099/1995. É que, em sendo absoluta
a competência do JEF no foro onde instalada a Vara Federal, bem como, sendo competente o Juizado Especial
Federal mais próximo do domicílio da parte autora (art. 20, da Lei nº 10.259/2001), a parte autora não
poderia escolher ajuizar a demanda na Capital do Estado, ou ainda, no DF. Em sendo absoluta, ademais, o
Juízo pode reconhecer a incompetência de ofício.
Nada obstante, é possível encontrar julgado do STJ em sentido contrário, apontando que se trata de
competência territorial consubstanciada em escolha do autor, logo, de cunho relativa. Além disso, o Supremo
Tribunal Federal já exarou decisão também nesse sentido, aduzindo ser possível a escolha do demandante
quanto ao local de ajuizamento da ação, não sendo possível, pois, declínio da competência de ofício.
De fato, esse parece ser o entendimento dominante, do ponto de vista jurisprudencial, de sorte que
cabe ao demandante optar onde pode ajuizar sua demanda previdenciária, nos moldes, inclusive, da Súmula
689, do Supremo Tribunal Federal, a qual registra que o “segurado pode ajuizar ação contra a instituição
previdenciária perante o juízo federal do seu domicílio ou nas varas federais da Capital do Estado-Membro”.
Nesse sentido, cita-se, ainda, o julgamento do ARE 974460, em decisão monocrática do então Minº Celso de
Mello:
Quanto à identificação do valor da causa, para fins de fixação da competência funcional, o cálculo é
feito com base na soma das parcelas vencidas na data do ajuizamento da ação, com as doze parcelas
vincendas. Essa interpretação é antiga e decorria da conjunção do art. 3º, §2º, da Lei nº 10.259/2001, com o
art. 260 do CPC de 1973. O art. 260, do CPC de 1973 é hoje replicado no art. 292, §§1º e 2º, do CPC de 2015:
Assim, não houve mudança de entendimento, que há muito se consagrou na jurisprudência do STJ
(CC 91.470/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/8/2008, DJe
26/8/2008) e continua a ser aplicada até hoje, de modo que “o valor da causa, na espécie, deve corresponder
à soma das parcelas vencidas com 12 parcelas vincendas, não havendo que se cogitar no acréscimo de
296
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
Cabe registrar, contudo, que o STJ fixou tese no TEMA 1030 e seus repetitivos que ao autor
que deseje litigar no âmbito de Juizado Especial Federal Cível, é lícito renunciar, de modo
expresso e para fins de atribuição de valor à causa, ao montante que exceda os 60 (sessenta)
salários mínimos previstos no art. 3º, caput, da Lei 10.259/2001, aí incluídas, sendo o caso,
até doze prestações vincendas, nos termos do art. 3º, §2º, da referida lei, c/c o art. 292,
§§1º e 2º, do CPC/2015.
Assim, para adequação ao limite de alçada dos JEFs, a parte autora pode renunciar não apenas
valores atrasados, mas também parcelas vincendas ao longo da ação.
Registro que essa renúncia se refere ao momento da fixação da competência, ou seja, a parte autora
escolhe renunciar valores (incluindo parcelas vincendas) que ultrapassarem o teto dos Juizados Especiais
Federais. Todavia, ao final da ação, em havendo condenação do INSS, nada impedirá que sejam computadas
também as parcelas vincendas não renunciadas. Nessa situação, a única questão é que o pagamento do
montante condenatório não poderá ser feito via RPV, mas apenas por meio de precatório, se o valor total for
superior a sessenta salários-mínimos (pois esse é, também, como visto, o limite para pagamento por meio
de RPV).
O pagamento das condenações no âmbito dos Juizados Especiais Federais ocorre no prazo de 60 dias
a partir do trânsito em julgado por meio de RPV – requisição de pequeno valor –, não se submetendo à
sistemática mais morosa dos precatórios. Se o quantum condenatório exceder o limite de 60 salários, todo o
valor será pago por meio de precatório, sendo vedado o fracionamento. Nada obstante, o credor pode
renunciar ao que exceder esse limite para evitar o recebimento por meio de precatório, que é inegavelmente
mais moroso, já que é feito nos termos do art. 100, §5º, da Constituição Federal.
Além dos princípios processuais gerais, são aplicáveis aos juizados especiais, conforme artigo 2º, da
Lei nº 9.099/1995, os princípios específicos da:
• oralidade;
• simplicidade;
• informalidade;
• economia processual;
• celeridade.
Ademais, são pilares do sistema processual específico dos juizados, de maneira mais proeminente
ainda, do que as disposições do CPC/2015, a busca da conciliação e da transação.
59 FONTE: https://portal.trf1.jus.br/portaltrf1/comunicacao-social/imprensa/noticias/decisao-jef-nao-possui-competencia-para-
julgar-acao-de-aposentadoria-para-o-reconhecimento-de-tempo-de-servico-especial-a-pessoa-com-deficiencia.htm acesso em
15/9/2021, às 13:15.
297
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
(...) o relator, desembargador federal João Luiz de Sousa, ao analisar a questão, destacou
ser orientação já consolidada pelo TRF1 que as causas com instruções complexas, com
perícias, para fins de reconhecimento de tempo de serviço especial, “não se incluem na
competência dos Juizados Especiais Federais, por não atender aos princípios da oralidade,
simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade (art. 1º da Lei nº
10.259/2001 c/c art. 2º da Lei nº 9.099/1995).
Como um dos pontos importantes do sistema processual específico dos juizados especiais federais,
deve-se mencionar a igualdade de prazos entre as partes autoras e os entes públicos que figuram no polo
passivo. Outrossim, registre-se que somente cabe recurso, em regra, da sentença definitiva e também das
decisões que indeferirem medidas cautelares ou tutelas provisórias no curso do processo, não havendo
possibilidade de recurso de decisões interlocutórias em geral. Não há que se falar, também em reexame
necessário no caso de sentenças desfavoráveis aos entes públicos demandados. As partes podem demandar
diretamente sem advogados para as causas até 60 salários-mínimos.
Os recursos das sentenças dos Juizados Especiais Federais são interpostos no prazo de 10 dias,
tratando-se de recurso inominado. Os recursos são dirigidos às Turmas Recursais das respectivas seções
judiciárias em cada TRF. Assim, por exemplo, um Juizado Especial Federal localizado em Cuiabá/MT submete-
se, em grau recursal, a Turma Recursal da Seção Judiciária do Mato Grosso. Existem Seções Judiciárias com
apenas uma Turma Recursal, enquanto há outras, como no DF, com várias Turmas Recursais. Cada uma delas,
em regra, deveria ser composta apenas por juízes federais titulares, mas na prática, há vários juízes federais
substitutos que compõem esses colegiados, por conta de afastamentos de seus titulares. As TR´s são
compostas por 3 juízes, sendo um nomeado Presidente, responsável por algumas atribuições administrativas
junto à Secretaria da Turma Recursal.
Como há diversas Turmas Recursais, tem-se como bastante frequente a existência de entendimentos
distintos entre esses variados órgãos judiciários do sistema JEF. Assim, prevendo a possibilidade de
divergência de entendimento sobre a interpretação de lei federal pelas Turmas Recursais, a Lei nº
10.259/2001 prescreveu que caberá “pedido de uniformização de interpretação de lei federal quando houver
divergência entre decisões sobre questões de direito material proferidas por Turmas Recursais na
interpretação da lei” (art. 14, caput, da Lei nº 10.259/2001).
298
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
Previu, ainda, aquela lei, que o pedido “fundado em divergência entre Turmas da mesma Região será
julgado em reunião conjunta das Turmas em conflito, sob a presidência do Juiz Coordenador” (art. 14, §1º,
da Lei nº 10.259/2001). Já a divergência instalada entre Turmas de diferentes regiões, será dirimida pela
Turma Nacional de Uniformização (art. 14, §2º, da Lei nº 10.259/2001).
Caberá também pedido de uniformização junto a TNU quando aquelas Turmas Recursais de origem
– ou, ainda, as Turmas Regionais de Uniformização - decidirem de modo contrário à “jurisprudência
dominante” do Superior Tribunal de Justiça. Também é possível que se utilize, para tais fins, enunciado de
súmula da TNU ou do STJ (Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei (Turma) 0500197-
74.2016.4.05.8304, BIANOR ARRUDA BEZERRA NETO - TURMA NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO). De outro
lado, quando a divergência envolver questão constitucional, o PUIL não deve ser admitido, uma vez que,
nestes casos, é cabível recurso extraordinário junto ao STF, conforme expressa previsão dada pelo art. 14,
§10 e art. 15, da Lei nº 10.259/2001. A Súmula 86, da TNU também explicita isso, ao dizer que não “cabe
incidente de uniformização que tenha como objeto principal questão controvertida de natureza
constitucional que ainda não tenha sido definida pelo Supremo Tribunal Federal em sua jurisprudência
dominante”.
A Turma Nacional de Uniformização é órgão jurisdicional, mas faz parte da estrutura administrativa
do Conselho da Justiça Federal. Esse órgão, por sua vez, desempenha tão somente funções administrativas e
financeiras da Justiça Federal, junto à estrutura do Superior Tribunal de Justiça, conforme previsão
constitucional nesse sentido, conforme art. 105, da Constituição Federal:
É a resolução nº 586, de 30 de setembro de 2019, editada pelo Conselho da Justiça Federal, que
dispõe sobre o Regimento Interno da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais.
Quanto à composição e organização da TNU, ela será composta por 10 juízes federais e será sempre
presidida pelo Corregedor-Geral da Justiça Federal, conforme art. 1º, §2º, da referida Resolução:
DA COMPOSIÇÃO E ORGANIZAÇÃO
Art. 1º A Turma de Uniformização, com sede na Capital Federal e jurisdição em todo o
território nacional, tem a designação de Turma Nacional de Uniformização dos Juizados
Especiais Federais - TNU.
299
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
Cabe registrar que, à semelhança do que existe em relação aos recursos repetitivos no âmbito do STJ
e do STF, a Turma Nacional de Uniformização também possui os chamados “Temas representativos de
controvérsia”. Sobre isso, note-se os dispositivos pertinentes no Regimento Interno da TNU (Resolução CJF
nº 586/2019):
Art. 14. Decorrido o prazo para contrarrazões, os autos serão conclusos ao magistrado
responsável pelo exame preliminar de admissibilidade, que deverá, de forma sucessiva:
(...)
VI – admitir o pedido de uniformização de interpretação de lei federal que preencha os
requisitos legais e regimentais, encaminhando os autos à Turma Nacional de Uniformização
e, havendo multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica questão de direito,
indicar sua afetação como representativo de controvérsia, observando, neste caso, o
disposto no art. 16, ficando sobrestados os demais enquanto não julgado o caso-piloto;
(...)
Art. 16. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica questão
de direito, a Turma Nacional de Uniformização poderá afetar dois ou mais pedidos de
uniformização de interpretação de lei federal como recurso representativo de controvérsia.
§1º O juízo responsável pelo exame preliminar de admissibilidade que indicar pedido de
uniformização de interpretação de lei federal como representativo de controvérsia na
origem comunicará o Presidente da Turma Nacional de Uniformização, indicando os dados
do respectivo processo e daqueles que ficaram sobrestados, a fim de que a Turma Nacional
delibere acerca da afetação da matéria, nos termos do caput.
(...)
VI – transitado em julgado o acórdão da Turma Nacional de Uniformização, os pedidos de
uniformização de interpretação de lei federal sobrestados:
a) terão seguimento denegado na hipótese de o acórdão recorrido coincidir com a
orientação da Turma Nacional de Uniformização; ou
b) serão encaminhados à Turma de origem para juízo de retratação, quando o acórdão
recorrido divergir do decidido pela Turma Nacional, ficando integralmente prejudicados os
pedidos de uniformização de interpretação de lei federal anteriormente interpostos.
Todavia, a TNU vem se manifestando que seus “entendimentos (...) mesmo que sumulados, não tem
efeito vinculante, a não ser nos limites da lide casuisticamente examinada, motivo pelo qual não pode a parte
pretensamente prejudicada pela não adequação do julgado valer do meio processual da Reclamação”.
(PEDILEF 5010930-17.2013.4.04.7201, Juiz Federal SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA, j. 11/9/2014).
Neste julgamento, em seu voto, o relator elencou que os arts. 1039, 1040 e 1041 do Código de Processo Civil
300
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
disciplinam o julgamento dos recursos especiais e extraordinários, sem que seja feita menção ao pedido de
uniformização julgado pela TNU.
Em certa ocasião, por exemplo, a TNU negou provimento a Embargos de Declaração para
reconhecimento de eficácia vinculante a precedente seu.60 Destacou-se, nesse sentido, que a:
(...) eficácia vinculante de precedente é efeito excepcional de decisão judicial, que deve ser
expressamente prevista na Constituição da República (arts. 102, §2°, 103-A) ou em lei, ainda
que tomada por órgão jurisdicional com competência relacionada à uniformização de
jurisprudência, por consubstanciar ressalva ao princípio da livre cognição motivada do
magistrado.
(...) o disposto no art. 17, inciso VII, do Regimento Interno da Turma Nacional de
Uniformização, abrange a eficácia obstativa e persuasiva do precedente formado em
julgamento de representativo de controvérsia, o que não é suficiente para conferir-lhe
efeito vinculante, conforme orientação adotada por este colegiado ao cancelar a sua
Questão de Ordem nº 16 (Processo nº 0000005-49.2018.4.90.0000/DF).
A uniformização da jurisprudência dos Juizados Especiais Federais também pode alcançar eventual
divergência entre a Turma Nacional de Uniformização e o Superior Tribunal de Justiça. O objetivo é
resguardar a coerência interpretativa da lei federal dentro do microssistema do JEF. Para esse último caso,
há previsão específica na Lei nº 10.259/2001 de uma simples “provocação” da parte interessada ao STJ, o
que se faz, na prática, por meio de uma petição (no STJ é classificada em seu sistema processual como PET).
A lei almejou, nesse ponto, que as decisões emanadas pela jurisprudência dominante do STJ irradiassem
efeitos nos Juizados Especiais Federais, na medida em que não faz realmente sentido que haja duas
interpretações completamente distintas entre órgãos judiciários apenas em função do limite de alçada. Pois
sabemos que, nos Juizados Especiais Federais, conforme a previsão do art. 3º, da Lei nº 10.259/2001,
somente são admissíveis as causas de competência da Justiça Federal que não ultrapassem 60 (sessenta)
salários-mínimos. Veja o art. 14, §4º, da Lei nº 10.259/2001:
Art. 14. Caberá pedido de uniformização de interpretação de lei federal quando houver
divergência entre decisões sobre questões de direito material proferidas por Turmas
Recursais na interpretação da lei.
(...)
§4o Quando a orientação acolhida pela Turma de Uniformização, em questões de direito
material, contrariar súmula ou jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Justiça -
STJ, a parte interessada poderá provocar a manifestação deste, que dirimirá a divergência.
A lei fala muito pouco sobre essa petição ao STJ. Apenas prevê a sua existência. Sua regulamentação
foi feita inicialmente pela Resolução nº 22/2008, do Conselho da Justiça Federal. A referida resolução chegou
a ser alterada pela Resolução CJF nº 163/2011, mas, posteriormente, foi revogada pela Resolução CJF nº
345/2015. Essa, por sua vez, também foi revogada pela Resolução CJF nº 586/2019, que hoje é a norma que
regula o procedimento previsto no art. 14, §4º, da Lei nº 10.259/2001. Ela dispõe, como vimos, “sobre o
Regimento Interno da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados”.
É o Conselho da Justiça Federal o órgão com atribuições, portanto, para fixar o Regimento Interno da
Turma Nacional de Uniformização. A TNU, por conseguinte, deve fazer às vezes do STJ dentro dos limites de
301
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
competência dos Juizados Especiais Federais. Para que isso seja garantido, a lei previu a petição ao STJ
quando “a orientação acolhida pela Turma de Uniformização, em questões de direito material, contrariar
súmula ou jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Justiça –STJ”. E o próprio Superior Tribunal de
Justiça esmiuçou ainda mais a regulamentação dessa petição (PET), por meio de sua Resolução nº 10/200761.
Onde está previsto? Está previsto no art. 14, caput, da Lei nº 10.259/2001.
Ele pode versar sobre questões de Não, somente pode ter como objeto controvérsia relativa a direito material,
direito processual? sendo vedado discutir por essa via questão processual (Súmula 43 da TNU).
Existem, ainda, outras hipóteses de Sim, em caso de violação da jurisprudência dominante do STJ ou da própria
cabimento de PUIL dirigido a TNU? TNU.
Os pedidos de uniformização junto Pedido de uniformização julgado pela TNU, de acordo com atual
a TNU possuem eficácia vinculante? entendimento da própria TNU, não possui eficácia vinculante.
61MARTINS, Frederico. É possível que tenhamos entendimentos diversos entre a TNU e o STJ? Blog do Gran, ago. 2020. Disponível
em: https://blog.grancursosonline.com.br/e-possivel-que-tenhamos-entendimentos-diversos-entre-a-tnu-e-o-stj/ Acesso em: 20
set. 2021
302
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
Cabe reclamação em face de Por não contar com eficácia vinculante, não cabe reclamação que pretenda a
decisões que não atendam aos garantia da autoridade de decisão proferida pela TNU em processo em que a
julgados da TNU? reclamante não tenha sido parte.
2. ACIDENTE DE TRABALHO
Lembro que, em sendo acidente de trabalho, a competência para processamento e julgamento das
causas previdenciárias correspondentes não é da Justiça Federal, conforme a letra constitucional insculpida
no art. 109, inciso I, da Constituição Federal de 1988:)
Atenção! O STJ vem entendendo que no caso de contribuinte individual, em havendo acidente, não
há como enquadrá-lo conceitualmente na noção de “acidente de trabalho”, de modo que para tais hipóteses
a competência não será da justiça estadual, mas sim da justiça federal. Veja:
Esse entendimento decorre do fato de que o art. 19, da Lei de Benefícios, esclarece que o “acidente
de trabalho” é o que se verifica “pelo exercício do trabalho a serviço de empresa ou de empregador
doméstico ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei”. Bem por
isso, calha saber o que é definido como acidente de trabalho, bem como quais são as hipóteses equiparadas
a acidente de trabalho, nos termos do art. 19 e seguintes, da Lei nº 8.213/1991:
Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de
empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho dos segurados
referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação
funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da
capacidade para o trabalho. (Redação dada pela Lei Complementar nº 150, de 2015)
§1º A empresa é responsável pela adoção e uso das medidas coletivas e individuais de
proteção e segurança da saúde do trabalhador.
§2º Constitui contravenção penal, punível com multa, deixar a empresa de cumprir as
normas de segurança e higiene do trabalho.
§3º É dever da empresa prestar informações pormenorizadas sobre os riscos da operação
a executar e do produto a manipular.
303
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
Então, nos termos do art. 19, caput, da Lei nº 8.213/1991, sintetizaremos o direcionamento dado
pela norma acima para dizer o que é e quais segurados do RGPS podem, em tese, sofrer “acidente de
trabalho”. Nessa base, o acidente de trabalho ocorre:
304
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
Ora, a meu ver, pelo número “1”, tenho que o contribuinte individual poderia se enquadrar na
descrição relativa ao “exercício do trabalho a serviço da empresa”. Isso, pois o contribuinte individual pode
prestar serviço “de natureza urbana ou rural, em caráter eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de
emprego” (art. 11, V, “g”, da Lei de Benefícios).
Quanto aos contribuintes individuais, havia apenas uma ressalva na norma feita de modo específico
para os médicos residentes, conforme Lei nº 6.932/1981, com as alterações promovidas pela Lei nº
8.138/1990. No art. 4º, §5º, da referida Lei havia a previsão de cobertura por acidentes de trabalho ao médico
residente. Essa cobertura, no entanto, foi REVOGADA pela Lei nº 12.514/2011. Assim, até a vigência dessa
lei, ou seja, até 31 de outubro de 2011, o médico residente fazia jus à proteção especial em face de acidentes
de trabalho. A partir dessa data, os acidentes sofridos pelos médicos residentes, assim como para quaisquer
contribuintes individuais, são tidos pela norma como “acidentes de qualquer natureza” e não mais como
“acidentes de trabalho”.
Há que se chamar à atenção o entendimento que prevalecia, há alguns anos, quanto à fixação da
competência da Justiça Federal ainda quando se tratasse de acidente de trabalho, na hipótese do segurado
acidente ser segurado especial. Essa orientação acabou se cristalizando no Enunciado nº 187, aprovado no
XIV FONAJEF:
Esse, contudo, não é mais o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça, que em conflito de
competência já entendeu ser da Justiça Estadual a competência para as causas relativas a acidente de
trabalho, mesmo quando o segurado é segurado especial:
305
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
A expressão “direito ao melhor benefício” pode ser empregada genericamente, quando nos
referimos à concomitância de fatos geradores previdenciários, cada qual com seus requisitos próprios, os
quais podem gerar, cada um, determinada renda mensal inicial melhor ou pior para o segurado. O segurado,
assim, em condições de concomitância de requisitos legais para mais de uma prestação inacumulável, terá
direito a receber do INSS a devida análise para o recebimento da prestação previdenciária mais vantajosa.
Aliás, a própria norma previdenciária já prevê tal obrigação por parte do INSS, tal como se pode observar da
leitura do art. 589, §1º, da IN 128/2022:
§1º Na hipótese de o segurado ter implementado todas as condições para mais de uma
espécie de aposentadoria na data da entrada do requerimento e em não tendo sido lhe
oferecido o direito de opção pelo melhor benefício, poderá solicitar revisão e alteração para
espécie que lhe é mais vantajosa.
Além disso, a questão do direito ao melhor benefício possui relação direta com o tópico do direito
adquirido. Sob tal perspectiva, pelo direito ao melhor benefício, entende-se a situação na qual o segurado já
esteja recebendo determinada prestação previdenciária, mas percebe que em algum momento, antes da
concessão de tal prestação, teria implementado requisitos para o recebimento de outro benefício mais
vantajoso.
Essa perspectiva foi ilustrada no julgamento do Tema 999, do STJ, que assim entendeu:
Nessa hipótese, o segurado acaba intentando pedido de revisão para que o INSS reveja sua concessão
e lhe conceda o melhor benefício. Pode ocorrer, que um determinado segurado tenha obtido aposentadoria
por tempo de contribuição (quando essa era prevista) com a incidência de fator previdenciário (quando esse
era previsto), mas que, em verdade, já possuía também idade mínima e carência para a aposentadoria por
idade, sem incidência de fator previdenciário e, portanto, com renda mensal inicial melhor, de acordo com
seu período básico de cálculo. Em tais casos, trata-se, em verdade, de espécie de revisão a ser promovida
pelo INSS, mas que sofre a incidência do prazo decadencial previsto no art. 103, da Lei nº 8.213/1991. Essa,
pelo menos, foi a ótica adotada pelo STJ quando do julgamento do Tema 966, de seus recursos repetitivos:
306
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
2. Em razão da natureza do direito tutelado ser potestativo, o prazo de dez anos para se
revisar o ato de concessão é decadencial.
3. No âmbito da previdência social, é assegurado o direito adquirido sempre que,
preenchidos os requisitos para o gozo de determinado benefício, lei posterior o revogue,
estabeleça requisitos mais rigorosos para a sua concessão ou, ainda, imponha critérios de
cálculo menos favoráveis ao segurado.
4. O direito ao benefício mais vantajoso, incorporado ao patrimônio jurídico do
trabalhador segurado, deve ser exercido por seu titular nos dez anos previstos no caput
do artigo 103 da Lei 8.213/1991. Decorrido o decênio legal, acarretará a caducidade do
próprio direito. O direito pode ser exercido nas melhores condições em que foi adquirido,
no prazo previsto no caput do artigo 103 da Lei 8.213/1991.
5. O reconhecimento do direito adquirido ao benefício mais vantajoso equipara-se ao ato
revisional e, por isso, está submetido ao regramento legal. Importante resguardar, além
da segurança jurídica das relações firmadas com a previdência social, o equilíbrio
financeiro e atuarial do sistema previdenciário.
6. Tese delimitada em sede de representativo da controvérsia: sob a exegese do caput do
artigo 103 da Lei 8.213/1991, incide o prazo decadencial para reconhecimento do direito
adquirido ao benefício previdenciário mais vantajoso.
7. Recurso especial do segurado conhecido e não provido. Observância dos artigos 1.036 a
1.041 do CPC/2015. (REsp 1631021/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 13/02/2019, DJe 13/03/2019)
O Supremo Tribunal Federal também já deixou claro, no julgamento do Tema 334, de sua
repercussão geral, que:
Para o cálculo da renda mensal inicial, cumpre observar o quadro mais favorável ao
beneficiário, pouco importando o decesso remuneratório ocorrido em data posterior ao
implemento das condições legais para a aposentadoria, respeitadas a decadência do direito
à revisão e a prescrição quanto às prestações vencidas.
4. A REAFIRMAÇÃO DA DER
O tópico da reafirmação da DER possui relação com a questão do direito ao melhor benefício. A
reafirmação da DER é circunstância que deve ser aferida pelo servidor do INSS responsável pelo atendimento
do segurado. Isso consta do art. 577, da IN 128/2022, in verbis:
Art. 176-D. Se, na data de entrada do requerimento do benefício, o segurado não satisfizer
os requisitos para o reconhecimento do direito, mas implementá-los em momento
posterior, antes da decisão do INSS, o requerimento poderá ser reafirmado para a data em
que satisfizer os requisitos, que será fixada como início do benefício, exigindo-se, para
307
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
Assim, a reafirmação da DER traduz hipótese na qual o requerente não tinha ainda o cumprimento
dos requisitos no momento da entrada do requerimento, mas os preencheu ao longo do processo
administrativo previdenciário, desde que antes da decisão final. Nessa hipótese, a data de início do benefício
coincidirá com a data de reafirmação da DER, desde que haja a concordância expressa e formal do segurado.
Isso pode ocorrer também em relação às hipóteses que foi estudado relacionadas ao direito ao melhor
benefício, uma vez que, ao longo do processo administrativo, o requerente pode preencher os requisitos
para outro benefício mais vantajoso e, em tal caso, o servidor do INSS é obrigado a cientificar o segurado
sobre o direito de opção.
Se optar pelo benefício, cujos requisitos somente foram cumpridos ao longo do processo
administrativo, haverá a reafirmação da DER para a data em que aqueles foram satisfeitos, contando-se, a
partir dessa reafirmação, a data de início do benefício a ser deferido. No âmbito judicial, também se discutia
a questão da reafirmação da DER, ou seja, se seria possível considerar o preenchimento dos requisitos para
o benefício ao longo do processo judicial, ou entre o indeferimento do pedido administrativo e o ajuizamento
da ação. A questão foi debatida no Tema 995, do STJ, que assim entendeu:
308
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
1. STJ
EMENTA (...) 1. Para fins do que dispõe o artigo 543-C do CPC, define-se: O segurado
especial, cujo acidente ou moléstia é anterior à vigência da Lei nº 12.873/2013, que alterou
a redação do inciso I do artigo 39 da Lei nº 8.213/91, não precisa comprovar o recolhimento
de contribuição como segurado facultativo para ter direito ao auxílio-acidente. 2. (...)
Acórdão sujeito à sistemática do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ nº 08/2008. (REsp
1361410 RS, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
08/11/2017, DJe 21/02/2018)
Tema/Repetitivo Situação do
Trânsito em julgado Órgão Julgador Primeira Seção
627 Tema
O segurado especial, cujo acidente ou moléstia é anterior à vigência da Lei n. 12.873/2013, que
Tese firmada alterou a redação do inciso I do artigo 39 da Lei n. 8.213/91, não precisa comprovar o recolhimento
de contribuição como segurado facultativo para ter direito no auxílio-acidente.
Resp Benedito
TJRS Sim 20/3/2013 8/11/2017 21/2/2018 - 28/5/2018
1.361.410/RS Gonçalves
309
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
o critério econômico da renda deve ser constatado no momento da reclusão, pois nele é
que os dependentes sofrem o baque da perda do provedor. Nesse aspecto, observa-se que
o art. 80 da Lei nº 8.213/1991 é claro ao assentar que o auxílio-reclusão será devido quando
o segurado recolhido à prisão "não receber remuneração da empresa", o que abarca a
situação do segurado que está em período de graça pelo desemprego (art. 15, II, da Lei nº
8.213/1991). Da mesma forma, o §1º do art. 116 do Decreto 3.048/1999 estipula que "é
devido auxílio-reclusão aos dependentes do segurado quando não houver salário-de-
contribuição na data do seu efetivo recolhimento à prisão, desde que mantida a qualidade
de segurado". Esse dispositivo legal deixa evidente que a qualidade de segurado é
imprescindível, até porque não se trata de benefício assistencial, mas previdenciário. Aliado
a esses argumentos, ressalta-se que a jurisprudência do STJ assentou posição de que os
requisitos para a concessão do benefício devem ser verificados no momento do
recolhimento à prisão, em observância ao princípio tempus regit actum.
Atenção! No próprio STJ, recentemente, foi proposta a revisão da tese firmada no Tema 896:
O teor da decisão proferida pelo Min. Herman Benjamin, na Questão de Ordem julgada no bojo do
Tema 896 pode ser observado a seguir:
QUESTÃO DE ORDEM
PROCESSUAL CIVIL. REVISÃO DE TEMA REPETITIVO. TEMA 896/STJ. APARENTE CONFRONTO
COM A COMPREENSÃO FIXADA PELO STF. ADMISSÃO DO RITO. SUSPENSÃO DE TODOS OS
CASOS IDÊNTICOS NO TERRITÓRIO NACIONAL. FUNDAMENTO DA QUESTÃO DE ORDEM
1. O STJ definiu o Tema repetitivo 896/STJ com o seguinte enunciado: "Para a concessão de
auxílio-reclusão (art. 80 da Lei 8.213/1991), o critério de aferição de renda do segurado que
não exerce atividade laboral remunerada no momento do recolhimento à prisão é a
ausência de renda, e não o último salário de contribuição."
2. Com o esgotamento desta instância especial no caso repetitivo paradigma, o Recurso
Extraordinário interposto na origem pelo INSS subiu ao Supremo Tribunal Federal, onde o
recurso foi provido monocraticamente, pois, segundo o Relator, Ministro Marco Aurélio de
Mello (ARE 1.122.222), aplica-se o entendimento, fixado sob o rito da repercussão geral, de
que "a renda do segurado preso é a que deve ser utilizada como parâmetro para a
concessão do benefício e não a de seus dependentes."
3. Essa situação tem causado dúvidas sobre a aplicação da tese repetitiva do Tema 896/STJ,
especialmente sobre ter ela sido ou não suplantada pela decisão monocrática do Minº
Marco Aurélio no STF.
4. A dúvida, a ser respondida com a admissão do rito de revisão da tese repetitiva, é se o
STJ teria negado a compreensão do STF, fixada em Repercussão Geral, de que a aferição da
compatibilidade da renda do segurado com o patamar legal deve considerar o último salário
por ocasião do recolhimento à prisão.
5. A proposta é, pois, a revisão, em sentido amplo, do Tema repetitivo, de forma que o STJ
modifique a tese para adequá-la à compreensão do STF ou reafirme seu teor.
CONCLUSÃO
6. Questão de Ordem acolhida para, nos termos dos arts. 256-S e 256-T do RI/STJ, submeter
o REsp 1.842.985/PR e o REsp 1.842.974/PR ao rito da revisão de tese repetitiva relativa ao
Tema 896/STJ (REsp 1.485.417), de forma que a Primeira Seção delibere sobre sua
modificação ou sua reafirmação. 7.
Determina-se a suspensão de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que
versem acerca da questão delimitada pelo Tema 896/STJ e que tramitem no território
nacional (art. 1.037, II, do CPC/2015).
310
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
Perceba, por fim, que restou determinada a suspensão de todos os processos pendentes,
individuais ou coletivos, que versem acerca da questão delimitada pelo Tema 896/STJ e que tramitem no
território nacional.
311
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
Tema/Repetitivo Situação do
Trânsito em julgado Órgão Julgador Corte Especial
629 Tema
Argumento de que a parte autora deixou de instruir seu pedido inicial com documentos que
Questão comprovassem o exercício de atividade rural em momento imediatamente anterior ao ajuizamento
submetida a da ação, consoante exigência legal prevista no art. 143 da Lei 8.213/91, motivo pelo qual o feito
julgamento deveria ter sido extinto nos termos do art. 269, I do CPC, com a decretação de improcedência do
pedido.
A ausência de conteúdo probatório eficaz a instruir a inicial, conforme determina o art. 283 do CPC,
implica a carência de pressupostos de constituição e desenvolvimento válido do processo, impondo
Tese firmada
sua extinção sem o julgamento do mérito (art. 267, IV, do CPC) e a consequente possibilidade de o
autor intentar novamente a ação (art. 268 do CPC), caso reúna os elementos necessário a tal iniciativa.
Napoleão
REsp Nunes
TRF3 Sim 4/4/2013 16/12/2015 28/4/2016 - 15/9/2017
1.352.721/SP Maia
Filho
Napoleão
REsp Nunes
TRF3 Sim 4/4/2013 - - - -
1.352.875/SP Maia
Filho
312
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
Tema/Repetitivo Trânsito em
Situação do Tema Órgão Julgador Primeira Seção
555 julgado
Questão Discute-se a possibilidade de cumular auxílio-acidente com aposentadoria, diante do art. 86, §3º,
submetida a da Lei 8.213/91, com a redação dada pela Medida Provisória 1.596-14/97 (DO.U.1997),
julgamento posteriormente convertida na Lei n. 9.528/97.
Súmula
Originada do Súmula 507/STJ
Tema
Acórdão
Tribunal Relator Data de Embargos de Trânsito em
Processo RRC Julgado em publicado
de Origem (a) afetação Declaração julgado
em
REsp Herman
TJMG Não 15/6/2012 22/8/2012 3/9/2012 - 4/10/2012
1.296.673/MG Benjamin
REsp Felix
TJSP Sim 14/4/2009 - - - -
1.111.828/SP Fischer
313
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
Marco
REsp
TJSP Não Aurélio 3/2/2010 - - - -
1.158.893/SP
Bellizze
Observação: Afetação cancelada em razão da alteração de competência interna (Emenda regimental 14/2011).
Tema/Repetitivo Trânsito em
Situação do Tema Órgão Julgador Terceira Seção
22 julgado
Questão Questão referente à decisão que, observando, única e exclusivamente, a perda mínima auditiva
submetida a (inferior a índice previsto na tabela de Fowler), nega a concessão do benefício de auxílio-
julgamento acidente.
“A expressão ‘por si só’ contida na citada Súmula significa que o benefício acidentário não pode
Anotações Nugep
ser negado exclusivamente em razão do grau mínimo de disacusia apresentado pelo Segurado.”
Referência
Súmula 44/STJ
Sumular
314
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
Laurita
REsp 1.095.523/SP TJSP Sim 12/3/2009 26/8/2009 5/11/2009 4/8/2010 6/9/2010
Vaz
315
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
REsp 1.537.571-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em
Processo
27/9/2016, DJe 20/8/2020
Ramo do
Direito Administrativo, Direito do Consumidor
Direito
Destaque
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA deve exigir, na rotulagem dos produtos alimentícios, a advertência
da variação de 20% nos valores nutricionais.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR. Trata-se de Ação Civil Pública ajuizada contra a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA -, após apuração de irregularidades na rotulagem
de produtos light e diet, a fim de que a autarquia, utilizando-se do seu poder de normatizar
e fiscalizar os produtos de interesse para a saúde, exija que passe a constar, nos rótulos dos
produtos alimentícios, a advertência de variação de 20% nos valores nutricionais. A ANVISA,
por meio da Portaria nº 27/1998 e da Resolução nº 360/2003, regulamentou a informação
nutricional complementar e a rotulagem nutricional de alimentos embalados. Ambos os
atos normativos permitem a tolerância de até 20% nos valores constantes da informação
316
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
dos nutrientes declarados no rótulo. Embora toda advertência seja informação, nem toda
informação é advertência. Quem informa nem sempre adverte. A advertência é informação
qualificada: vem destacada do conjunto da mensagem, de modo a chamar a atenção do
consumidor, seja porque o objeto da advertência é fonte de onerosidade além da normal,
seja porque é imprescindível à prevenção de acidentes de consumo. O dever de informação
exige comportamento positivo e ativo, pois o CDC afasta a regra caveat emptor e não aceita
que o silêncio equivalha à informação, caracterizando-o, ao contrário, como patologia
repreensível, que é relevante somente em desfavor do fornecedor, inclusive como oferta e
publicidade enganosa por omissão, punida civil, administrativa e criminalmente pelo CDC.
Cabe ainda ressaltar que, sobretudo nos alimentos e medicamentos, os rótulos constituem
a via mais fácil, barata, ágil e eficaz de transmissão de informações aos consumidores. São
eles mudados frequentemente para atender a oportunidades efêmeras de negócios, como
eventos desportivos ou culturais. Não se pode, por conseguinte, alegar que a inclusão
expressa da frase "variação de 20% dos valores nutricionais" das matérias-primas utilizadas
na fabricação dos alimentos cause onerosidade excessiva aos fabricantes de alimentos.
Desse modo, o consumidor tem o direito de ser informado no rótulo dos produtos
alimentícios da existência de variação de 20% nos valores nutricionais, principalmente
porque existe norma da ANVISA permitindo essa tolerância. (Informativo nº 677)
RO 213-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em
Processo
5/12/2019, DJe 12/12/2019
Ramo do
Direito Administrativo
Direito
“Projeto Mais Médicos do Brasil”. Médico de nacionalidade estrangeira cooperado. Direito subjetivo
Tema
de permanência no programa social. Inexistência.
Destaque
Inexiste direito adquirido para os médicos cooperados estrangeiros de permanecer nos quadros de agentes públicos
da saúde pública, ainda que já tenham sido vinculados ao Projeto Mais Médicos para o Brasil.
317
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
PUIL 810-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 10/6/2020, DJE
Processo
5/8/2020
Ramo do
Direito Administrativo, Direito Previdenciário
Direito
Regime Geral de Previdência Social. Critério de cálculo de aposentadoria. Direito adquirido ao regime
Tema anterior à EC n. 20/1998. Aplicação do art. 187 do Decreto n. 3.048/1999. Salários de contribuição.
Correção até a data da reunião dos requisitos, sob pena de hibridismo de regime.
Destaque
É aplicável que o art. 187 do Decreto n. 3.048/1999 quando a aposentadoria foi deferida com base no direito adquirido
anterior à vigência da Emenda Constitucional n. 20/1998, devendo a atualização dos salários de contribuição
integrantes do período básico de cálculo observar como marco final a data ficta de dezembro de 1998 e, a partir de
então, a renda mensal inicial deverá ser reajustada até a data da entrada do requerimento administrativo pelos índices
de reajustamento dos benefícios.
318
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
REsp 1.596.203-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Seção, por unanimidade, julgado
Processo
em 11/12/2019, DJE 17/12/2019 (Tema 999)
Ramo do
Direito Previdenciário
Direito
Destaque
Aplica-se a regra definitiva prevista no art. 29, I e II, da Lei n. 8.213/1991, na apuração do salário de benefício, quando
mais favorável do que a regra de transição contida no art. 3º da Lei n. 9.876/1999, aos segurados que ingressaram no
Regime Geral da Previdência Social até o dia anterior à publicação da Lei n. 9.876/1999.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR. A Lei nº 9.876/1999 adotou nova regra de cálculo dos
benefícios previdenciários, ampliando gradualmente a base de cálculo dos benefícios, que
passou a corresponder aos maiores salários de contribuição relativos a 80% de todo o
período contributivo do segurado, substituindo a antiga regra que determinava o valor do
benefício a partir da média aritmética simples dos 36 últimos salários de contribuição dos
meses anteriores ao do afastamento do segurado da atividade ou da data da entrada do
requerimento administrativo. A nova lei trouxe, também, uma regra de transição, em seu
art. 3º, estabelecendo que no cálculo do salário de benefício dos segurados filiados à
Previdência Social até o dia anterior à data de publicação da Lei nº 9.876/1999, o período
básico de cálculo só abarcaria as contribuições vertidas a partir de julho de 1994
(estabilização econômica do Plano Real). A regra transitória deve ser vista em seu caráter
protetivo, como é típico do Direito Previdenciário. Assim, o propósito do art. 3º da referida
lei foi estabelecer regras de transição que garantissem que os segurados não fossem
atingidos de forma abrupta por regras mais rígidas de cálculo dos benefícios. Nesse passo,
não se harmoniza com o Direito Previdenciário admitir que tendo o segurado recolhido
melhores contribuições antes de julho de 1994, tais pagamentos sejam simplesmente
descartados no momento da concessão de seu benefício, sem analisar as consequências da
medida na apuração do seu valor, sob pena de infringência ao princípio da contrapartida. É
certo que o Sistema de Previdência Social é regido pelo princípio contributivo, decorrendo
de tal princípio a consequência de haver, necessariamente, uma relação entre custeio e
benefício, não se afigurando razoável que o segurado realize contribuições e não possa se
utilizar delas no cálculo de seu benefício. A concessão do benefício previdenciário deve ser
regida pela regra da prevalência da condição mais vantajosa ou mais benéfica ao segurado,
nos termos da orientação do STF e do STJ. Assim, é direito do segurado o recebimento de
prestação previdenciária mais vantajosa dentre aquelas cujos requisitos cumpre,
assegurando, consequentemente, a prevalência do critério de cálculo que lhe proporcione
a maior renda mensal possível, a partir do histórico de suas contribuições. Desse modo,
impõe-se reconhecer a possibilidade de aplicação da regra definitiva prevista no art. 29, I e
II, da Lei nº 8.213/1991, na apuração do salário de benefício, quando se revelar mais
favorável do que a regra de transição contida no art. 3º da Lei 9.876/1999, respeitados os
prazos prescricionais e decadenciais. Afinal, por uma questão de racionalidade do sistema
normativo, a regra de transição não pode ser mais gravosa do que a regra definitiva.
(Informativo 662)
319
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
Tema
Pensão por morte. Acordo efetivado em juízo. Divisão entre companheira do de cujus e a
genitora deste. Efeitos perante terceiros. Alteração da ordem legal de pensionamento.
Impossibilidade.
Destaque
O acordo de partilha de pensão por morte, homologado judicialmente, não altera a ordem
legal do pensionamento, podendo, todavia, impor ao órgão de previdência a obrigação de
depositar parcela do benefício em favor do acordante que não figura como beneficiário
perante a autarquia previdenciária.
Informações do Inteiro Teor
Na hipótese, foi homologado judicialmente acordo no qual se dividiu em partes iguais
pensão por morte entre companheira do de cujus - beneficiária da pensão de acordo com
as normas municipais - e a genitora do falecido. Nesse contexto, cinge-se a controvérsia,
dentre outros pontos, a analisar os efeitos gerados por esse acordo, em especial, em relação
à autarquia previdenciária municipal responsável pelo pagamento do benefício. De início,
consigna-se que o ajuste formulado inter partes, pode produzir efeitos em face do Instituto
de Previdência e Assistência de Servidores Municipais desde que a sua efetivação não
acarrete ônus à autarquia, além daquele estritamente relativo à efetivação dos registros
nos assentamentos e eventuais transferências de valores. Dito de outro modo: desde que
se restrinja à mera esfera de interesses particulares dos acordantes. No entanto, o acordo
homologado em juízo não pode alterar a ordem legal quanto aos beneficiários da pensão
por morte. No caso analisado, a homologação feita pela autoridade judicial do ajuste
formulado entre as partes "partilhou" o objeto da pensão, mas não pretendeu impor à
autarquia determinação no sentido de implantar a pensão por morte para a genitora do
segurado. Com isso, não tendo o ajuste homologado em juízo o condão – e nem o poderia
– de alterar ordem legal de pensionamento, a conclusão que dele decorre é que houve o
consentimento de uma parte, por expressa vontade, de pagar, em favor da outra,
determinado valor mensal com natureza jurídica geral de "alimentos". Todavia, o desconto
em favor da genitora não tem natureza de pensionamento, porque inexistente suporte legal
para tanto, não podendo gerar, para o futuro, qualquer direito em favor de terceiros
dependentes dessa beneficiária, bem como fica condicionado se e quando persistir a
pensão por morte de que é titular a companheira do de cujus. Por fim, caso dito desconto
seja suspenso, excluído ou diminuído, por qualquer motivo – morte ou revisão total ou
parcial do ajuste em juízo –, a parcela respectiva retorna para a beneficiária titular. Por seu
turno, a autarquia previdenciária tem a obrigação de, tão somente, implantar o benefício
de pensão por morte em nome da dependente legal, mas do valor total a ser pago
mensalmente à pensionista, por força de acordo inter partes, deve ser descontado o
percentual acordado, a ser depositado, pelo Instituto de Previdência e Assistência dos
Servidores Municipais em favor da genitora do falecido.
320
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
todos e, justamente por isso, devem ser distribuídos segundo regras que pressupõe o
direito igual ao bem e a impossibilidade do uso igual e simultâneo.
3. Esse estado de escassez, muitas vezes, é resultado de um processo de escolha, de uma
decisão. Quando não há recursos suficientes para prover todas as necessidades, a decisão
do administrador de investir em determinada área implica escassez de recursos para outra
que não foi contemplada. A título de exemplo, o gasto com festividades ou propagandas
governamentais pode ser traduzido na ausência de dinheiro para a prestação de uma
educação de qualidade.
4. É por esse motivo que, em um primeiro momento, a reserva do possível não pode ser
oposta à efetivação dos Direitos Fundamentais, já que, quanto a estes, não cabe ao
administrador público preteri-los em suas escolhas. Nem mesmo a vontade da maioria pode
tratar tais direitos como secundários. Isso, porque a democracia não se restringe na vontade
da maioria. O princípio do majoritário é apenas um instrumento no processo democrático,
mas este não se resume àquele. Democracia é, além da vontade da maioria, a realização
dos direitos fundamentais. Só haverá democracia real onde houver liberdade de expressão,
pluralismo político, acesso à informação, à educação, inviolabilidade da intimidade, o
respeito às minorias e às ideias minoritárias etc. Tais valores não podem ser malferidos,
ainda que seja a vontade da maioria. Caso contrário, se estará usando da "democracia" para
extinguir a Democracia.
5. Com isso, observa-se que a realização dos Direitos Fundamentais não é opção do
governante, não é resultado de um juízo discricionário nem pode ser encarada como Tema
que depende unicamente da vontade política. Aqueles direitos que estão intimamente
ligados à dignidade humana não podem ser limitados em razão da escassez quando esta é
fruto das escolhas do administrador.
Não é por outra razão que se afirma que a reserva do possível não é oponível à realização
do mínimo existencial.
6. O mínimo existencial não se resume ao mínimo vital, ou seja, o mínimo para se viver. O
conteúdo daquilo que seja o mínimo existencial abrange também as condições
socioculturais, que, para além da questão da mera sobrevivência, asseguram ao indivíduo
um mínimo de inserção na "vida" social.
7. Sendo assim, não fica difícil perceber que dentre os direitos considerados prioritários
encontra-se o direito à educação. O que distingue o homem dos demais seres vivos não é a
sua condição de animal social, mas sim de ser um animal político. É a sua capacidade de
relacionar-se com os demais e, através da ação e do discurso, programar a vida em
sociedade.
8. A consciência de que é da essência do ser humano, inclusive sendo o seu traço
característico, o relacionamento com os demais em um espaço público - onde todos são, in
abstrato, iguais, e cuja diferenciação se dá mais em razão da capacidade para a ação e o
discurso do que em virtude de atributos biológicos - é que torna a educação um valor ímpar.
No espaço público - onde se travam as relações comerciais, profissionais, trabalhistas, bem
como onde se exerce a cidadania - a ausência de educação, de conhecimento, em regra,
relega o indivíduo a posições subalternas, o torna dependente das forças físicas para
continuar a sobreviver e, ainda assim, em condições precárias.
9. Eis a razão pela qual o art. 227 da CF e o art. 4º da Lei nº 8.069/90 dispõem que a educação
deve ser tratada pelo Estado com absoluta prioridade. No mesmo sentido, o art. 54 do
Estatuto da Criança e do Adolescente prescreve que é dever do Estado assegurar às crianças
de zero a seis anos de idade o atendimento em creche e pré-escola. Portanto, o pleito do
Ministério Público encontra respaldo legal e jurisprudencial. Precedentes: REsp 511.645/SP,
Rel.Minº Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 18.8.2009, DJe 27.8.2009; RE
410.715 AgR / SP - Rel. Minº Celso de Mello, julgado em 22.11.2005, DJ 3.2.2006, p. 76.
10. Porém é preciso fazer uma ressalva no sentido de que mesmo com a alocação dos
recursos no atendimento do mínimo existencial persista a carência orçamentária para
atender a todas as demandas. Nesse caso, a escassez não seria fruto da escolha de
atividades não prioritárias, mas sim da real insuficiência orçamentária. Em situações
limítrofes como essa, não há como o Poder Judiciário imiscuir-se nos planos
governamentais, pois estes, dentro do que é possível, estão de acordo com a Constituição,
não havendo omissão injustificável.
11. Todavia, a real insuficiência de recursos deve ser demonstrada pelo Poder Público, não
sendo admitido que a tese seja utilizada como uma desculpa genérica para a omissão estatal
321
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
322
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
quando não foi esta a política legislativa. Precedentes citados: AgRg nos EDcl no REsp
1.040.653-SC, Primeira Turma, DJe 15/9/2011; e AgRg no Ag 1.424.039-DF, Segunda Turma,
DJe 21/10/2011.
(REsp 1.230.957-RS, Rel. Minº Mauro Campbell Marques, julgado em 26/2/2014).
É certo ter se firmado a jurisprudência deste Superior Tribunal no sentido de que é o óbito
do segurado que determina o suporte fático a ser analisado na concessão de benefício de
pensão por morte e que há de se aplicar a lei vigente àquela época.
Assim, constatado o falecimento da avó segurada na vigência da Lei nº 8.213/1991, já com
a redação determinada pela Lei nº 9.032/1995, não faz jus ao benefício seu neto, pois não
323
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
324
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
325
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
de proteção das crianças e adolescentes não podem ser utilizadas com o escopo de
restringir direitos.
5. Nos casos em que ocorreu, ainda que de forma indevida, a prestação do trabalho pela
menor de 16 (dezesseis) anos, é preciso assegurar a essa criança ou adolescente, ainda que
indígena, a proteção do sistema previdenciário, desde que preenchidos os requisitos
exigidos na lei, devendo ser afastado o óbice etário (REsp 1.650.697/RS, Rel. Ministro Mauro
Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 4/5/2017). No mesmo sentido: AgRg no REsp
1559760/MG, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 14/12/2015; REsp
1440024/RS, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 28/8/2015.
3. Recurso Especial não provido. (REsp 1709883/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 6/11/2018, DJe 19/11/2018)
326
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
327
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
328
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
mesmos, ante a boa-fé do servidor público." (REsp 1.244.182/PB, Rel. Ministro Benedito
Gonçalves, Primeira Seção, DJe 19.10.2012, grifei).
7. Não há dúvida de que os provimentos oriundos de antecipação de tutela (art. 273 do CPC)
preenchem o requisito da boa-fé subjetiva, isto é, enquanto o segurado os obteve existia
legitimidade jurídica, apesar de precária.
8. Do ponto de vista objetivo, por sua vez, inviável falar na percepção, pelo segurado, da
definitividade do pagamento recebido via tutela antecipatória, não havendo o titular do
direito precário como pressupor a incorporação irreversível da verba ao seu patrimônio.
9. Segundo o art. 3º da LINDB, "ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a
conhece", o que induz à premissa de que o caráter precário das decisões judiciais liminares
é de conhecimento inescusável (art. 273 do CPC).
10. Dentro de uma escala axiológica, mostra-se desproporcional o Poder Judiciário
desautorizar a reposição do principal ao Erário em situações como a dos autos, enquanto
se permite que o próprio segurado tome empréstimos e consigne descontos em folha
pagando, além do principal, juros remuneratórios a instituições financeiras.
11. À luz do princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF) e considerando o
dever do segurado de devolver os valores obtidos por força de antecipação de tutela
posteriormente revogada, devem ser observados os seguintes parâmetros para o
ressarcimento:
a) a execução de sentença declaratória do direito deverá ser promovida;
b) liquidado e incontroverso o crédito executado, o INSS poderá fazer o desconto em folha
de até 10% da remuneração dos benefícios previdenciários em manutenção até a
satisfação do crédito, adotado por simetria com o percentual aplicado aos servidores
públicos (art. 46, §1º, da Lei 8.213/1991).
12. Recurso Especial provido. (REsp 1384418/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/6/2013, DJe 30/8/2013)
329
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
2. Essa expectativa legítima de titularidade do direito, advinda de ordem judicial com força
definitiva, é suficiente para caracterizar a boa-fé exigida de quem recebe a verba de
natureza alimentar posteriormente cassada, porque, no mínimo, confia - e, de fato, deve
confiar - no acerto do duplo julgamento.
3. Por meio da edição da súm. 34/AGU, a própria União reconhece a irrepetibilidade da
verba recebida de boa-fé, por servidor público, em virtude de interpretação errônea ou
inadequada da Lei pela Administração. Desse modo, e com maior razão, assim também
deve ser entendido na hipótese em que o restabelecimento do benefício previdenciário dá-
se por ordem judicial posteriormente reformada.
4. Na hipótese, impor ao embargado a obrigação de devolver a verba que por anos recebeu
de boa-fé, em virtude de ordem judicial com força definitiva, não se mostra razoável, na
medida em que, justamente pela natureza alimentar do benefício então restabelecido,
pressupõe-se que os valores correspondentes foram por ele utilizados para a manutenção
da própria subsistência e de sua família. Assim, a ordem de restituição de tudo o que foi
recebido, seguida à perda do respectivo benefício, fere a dignidade da pessoa humana e
abala a confiança que se espera haver dos jurisdicionados nas decisões judiciais.
5. Embargos de divergência no recurso especial conhecidos e desprovidos. (EREsp
1086154/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, julgado em 20/11/2013, DJe
19/3/2014)
330
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
331
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
332
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
17/12/2004, p. 420; AgRg nos EDcl no REsp 1.098.218/SP, Rel. Ministro Herman Benjamin,
Segunda Turma, DJe 9/11/2009).
(...)
CONCLUSÃO
9. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido. Acórdão
submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 8/2008. (REsp 1358281/SP,
Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 23/4/2014, DJe
5/12/2014)
Informativo nº 0470
Período: 25 a 29 de abril de 2011.
PRIMEIRA TURMA
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. AUXÍLIO-DOENÇA. QUEBRA DE CAIXA. Na espécie,
trata-se de saber se há a incidência da contribuição previdenciária sobre o auxílio-doença
pago até o 15º dia pelo empregador, bem como se a verba paga a título de "quebra de
333
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
334
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
335
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
4. O termo inicial para a contagem do prazo decadencial deve ser a edição da Medida
Provisória 201, de 23/7/2004, convertida na Lei 10.999/2004. A ação neste caso foi ajuizada
em 11/10/2011, portanto, não se passaram mais de dez anos entre o termo inicial e o
ajuizamento da ação.
5. Recurso especial conhecido e não provido.
(REsp 1501798/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado
em 21/5/2015, DJe 28/5/2015)
336
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
A princípio, a matéria ora em exame não comporta maiores discussões no âmbito deste
Superior Tribunal, que já firmou entendimento no sentido de que, para a contagem
recíproca de tempo de contribuição, mediante a junção do período prestado na
administração pública com a atividade rural ou urbana, faz-se necessária a indenização do
período rural exercido anteriormente à Lei nº 8.213/1991, acrescida de juros moratórios e
multa, a teor do previsto no art. 45, §4º, da Lei 8.212/91 (...)
3. Constata-se, todavia, que somente a partir da edição da MP 1.523, de 11/10/96, que
acrescentou o §4º ao art. 45 da Lei 8.212/91, é que se tornou exigível a incidência de juros
moratórios e multa nas contribuições pagas em atraso. Isto porque, antes desta alteração
legislativa, não havia sequer previsão legal dessa incidência nas contribuições apuradas a
título de indenização, para fins de contagem recíproca.
4. Inexistindo previsão de juros e multa em período anterior à edição da MP 1.523/96, ou
seja, 11/10/1996, não pode haver retroatividade da lei previdenciária para prejudicar os
segurados, razão pela qual devem ser afastados os juros e a multa do cálculo da indenização
no referido período. 5. Recurso especial parcialmente provido.
(REsp 774.126/RS, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em
11/10/2005, DJ 05/12/2005, p. 376)
Alega a autarquia federal que a regra insculpida no artigo 142 da Lei nº 8.213/91 não se
aplica ao caso presente, vez que a parte autora perdera a qualidade de segurada em data
anterior a 24 de julho de 1991. Assevera que referida norma de transição beneficia apenas
aqueles que tinham a condição de segurado até a data de promulgação da LBPS
(24/7/1991). É o relatório. (...) VOTO
O SENHOR MINISTRO PAULO MEDINA (Relator): Não merece acolhimento a irresignação
autárquica. Afirma o INSS que, em virtude de a parte autora ter perdido a qualidade de
segurada antes da edição da Lei nº 8.213/91, a ela não se aplica a regra de transição do
artigo 142 da LBPS. Assim, deve cumprir carência de 180 meses de contribuição para obter
a aposentadoria por idade. Ocorre que a Lei nº 8.213/91, ao aumentar o prazo de carência
de 60 para 180 meses para as aposentadorias por idade, por tempo de serviço e especial,
criou uma tabela progressiva (artigo 142) para a exigência desse novo lapso temporal a fim
de não prejudicar o segurado inscrito na Previdência Social em data anterior à vigência da
referida lei, levando-se em conta o ano em que o segurado implementa todas as condições
necessárias à obtenção do benefício. E o artigo 24, parágrafo único, da referida legislação,
fixou regra acerca do aproveitamento das contribuições anteriores em caso de perda da
qualidade de segurado, exigindo que o beneficiário contribua com, no mínimo, 1/3 do
número de contribuições necessárias para o cumprimento da carência do benefício a ser
requerido para que se possa computar as contribuições efetuadas em filiação anterior.
Ressalte-se que a lei, ao se referir às contribuições anteriores, não fez qualquer ressalva em
337
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
relação aos períodos que devam ser contabilizados, não cabendo ao intérprete fazê-lo
restritivamente.
(AgRg no REsp 512.592/PR, Rel. Ministro PAULO MEDINA, SEXTA TURMA, julgado em
19/8/2003, DJ 22/9/2003, p. 407)
338
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
339
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
340
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
341
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
2. De fato, revela-se incabível que o Instituto preveja, por mero prognóstico, em que data o
segurado está apto para retornar ao trabalho, sem avaliar efetivamente o estado de saúde
em que se encontra, tendo em vista que tal prognóstico pode não corresponder à evolução
da doença, o que não é difícil de acontecer em casos mais complexos, como é o versado nos
autos.
Precedentes: REsp 1.291.075/CE, Relatora Ministra Regina Helena Costa, DJe 18/2/2014;
REsp 1.544.417/MT, Relator Ministro Mauro Campbell Marques, DJe 19/8/2015; REsp
1.563.601-MG, Relator Ministro Humberto Martins, DJe 30/6/2016. 3. Recurso Especial não
provido. (REsp 1737688/MT, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado
em 12/6/2018, DJe 23/11/2018)
342
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
são deferidos por meio de decisão judicial, o que acarretaria excessiva demanda judicial,
afetando em demasia o Poder Judiciário, bem como o departamento jurídico da autarquia,
além da necessidade de defesa técnica, contratada pelo cidadão, sempre que houver
motivos para a revisão do benefício. Precedente citado do STJ: AgRg no Ag 1.105.324-BA,
Quinta Turma, DJe 17/8/2009. Precedente citado do STF: RE 469.657 AgR, Segunda Turma,
DJe 13/8/2012. REsp 1.429.976-CE, Rel. Minº Humberto Martins, julgado em 18/2/2014.
343
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
344
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
A definição, em ato regulamentar, de grau mínimo de disacusia, não exclui, por si só, a
concessão do benefício previdenciário.
O segurado especial, cujo acidente ou moléstia é anterior à vigência da Lei nº 12.873/ 2013,
que alterou a redação do inciso I do artigo 39 da Lei nº 8.213/ 91, não precisa comprovar o
recolhimento de contribuição como segurado facultativo para ter direito ao auxílio-
acidente.” (REsp 1.361.410/ RS, 1ª Seção, DJe 21.2.2018)
345
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
a juntada do laudo pericial aos autos, que deve nortear o termo inicial dos benefícios de
cunho acidentário.
3.O STJ tem entendimento consolidado de que o termo inicial do auxílio-acidente é a data
da cessação do auxílio-doença, quando este for pago ao segurado, e de que, inexistindo tal
fato, ou ausente prévio requerimento administrativo para a concessão do auxílio-acidente,
o termo inicial do recebimento do benefício deve ser a data da citação.
4. Recurso Especial provido para considerar a data da cessação do auxílio-doença como
termo inicial para a concessão do auxílio-acidente.
(RESP - RECURSO ESPECIAL - 1838756 2019.02.79166-3, HERMAN BENJAMIN, STJ -
SEGUNDA TURMA, DJE DATA:22/11/2019 ..DTPB:.)
346
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
É devida a pensão por morte aos dependentes do segurado que, apesar de ter perdido essa
qualidade, preencheu os requisitos legais para a obtenção de aposentadoria até a data do
seu óbito.
347
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
1.81. CC 166.107/BA
348
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
Esteves Lima, DJe de 7/5/2010; CC 89.282/RS, Rel. Minº Jane Silva (Desembargadora
Convocada do TJ/MG, DJ de 18/10/2007; AgRg no CC 139.399/RJ, Rel. Ministro Olindo
Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª Região), Primeira Seção, DJe 2/3/2016;
AgRg no CC 112.710/MS, Rel. Minº Og Fernandes, DJe de 7/10/2011. 2. Conflito de
Competência conhecido para determinar a competência do Juízo suscitado, qual seja, a 2ª
Vara do Juizado Especial Federal de Vitória da Conquista/BA.
(CC 166.107/BA, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
28/8/2019, DJe 18/10/2019)
1.84. CC 104.044/SP
349
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
Ao autor que deseje litigar no âmbito de Juizado Especial Federal Cível, é lícito renunciar,
de modo expresso e para fins de atribuição de valor à causa, ao montante que exceda os 60
(sessenta) salários mínimos previstos no art. 3º, caput, da Lei 10.259/2001, aí incluídas,
sendo o caso, até doze prestações vincendas, nos termos do art. 3º, §2º, da referida lei, c/c
o art. 292, §§1º e 2º, do CPC/2015.
350
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
Incide o prazo decadencial previsto no caput do artigo 103 da Lei 8.213/1991 para
reconhecimento do direito adquirido ao benefício previdenciário mais vantajoso.
2. STF
2.1. Tema 70
Ementa
BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO – ATUALIZAÇÃO. Não encontra amparo no Texto
Constitucional revisão de benefício previdenciário pelo valor nominal do salário-mínimo.
Decisão
O Tribunal, por unanimidade, apreciando o Tema 996 da repercussão geral, negou
provimento ao recurso extraordinário, nos termos do voto do Relator. Foi fixada a seguinte
tese: “Não encontra amparo no Texto Constitucional revisão de benefício previdenciário
pelo valor nominal do salário-mínimo”. Falou, pelo recorrido, o Dr. Antônio Armando Freitas
Gonçalves, Procurador Federal. Plenário, Sessão Virtual de 8.5.2020 a 14.5.2020.
Tese
Não encontra amparo no Texto Constitucional revisão de benefício previdenciário pelo valor
nominal do salário-mínimo. (RE 968414 - Órgão julgador: Tribunal Pleno - Relator(a): Min.
MARCO AURÉLIO - Julgamento: 15/5/2020 - Publicação: 3/6/2020)
351
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
Tema
Aposentadoria por invalidez. "Auxílio-acompanhante". Adicional de 25%. Art. 45 da Lei nº
8.213/1991. Assistência permanente de terceiro. Comprovação. Necessidade. Extensão a
outras espécies de aposentadoria. Possibilidade. Tema 982.
Destaque
Comprovadas a invalidez e a necessidade de assistência permanente de terceiro, é devido
o acréscimo de 25% (vinte e cinco por cento), previsto no art. 45 da Lei nº 8.213/1991, a
todos os aposentados pelo RGPS, independentemente da modalidade de aposentadoria.
Informações do Inteiro Teor
Inicialmente, insta salientar que a melhor exegese do art. 45 da Lei nº 8.213/1991 autoriza
o alcance do "auxílio-acompanhante" às demais modalidades de aposentadoria previstas
no Regime Geral de Previdência Social, uma vez comprovadas a invalidez e a necessidade
de ajuda permanente de outra pessoa para atividades cotidianas, tais como higiene ou
alimentação. Sob o prisma da dignidade da pessoa humana, do tratamento isonômico e da
garantia dos direitos sociais, previstos, respectivamente, nos arts. 1º, III, 5º, caput, e 6º, da
Constituição da República, tanto o aposentado por invalidez, quanto o aposentado por
idade, tempo de contribuição ou especial, são segurados que podem, igualmente,
encontrar-se na condição de inválidos, a ponto de necessitar da assistência permanente de
terceiro. Sublinhe-se, ademais, que o Brasil é signatário da Convenção Internacional de
Nova Iorque sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, de 2007, admitida com status
de emenda constitucional, promulgada pelo Decreto nº 6.949/2009, que em seu art. 1º
ostenta o propósito de "(...) promover, proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo
de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com
deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente", garantindo, ainda, em seus
arts. 5º e 28, tratamento isonômico e proteção da pessoa com deficiência, inclusive na seara
previdenciária. Posto isso, ao instituir a possibilidade de acréscimo pecuniário de 25%
(vinte e cinco por cento) sobre o valor do benefício, o qual pode vir, inclusive, a sobrepujar
o teto de pagamento dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, o legislador
352
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
ordinário não se orientou apenas pelo fato gerador da aposentadoria por invalidez, mas,
precipuamente, pela proteção do risco social consubstanciado no indispensável amparo ao
segurado, atribuindo-lhe o auxílio de terceira pessoa, buscando, assim, diminuir o impacto
financeiro sobre o valor de seus proventos com a contratação de assistência permanente.
O segurado que recebe aposentadoria por tempo de contribuição, por idade ou especial
acometido de limitações físicas e/ou mentais e que recebe 1 (um) salário-mínimo, encontra-
se em situação de risco social da mesma maneira que o aposentado por invalidez, porém
com a circunstância agravante de que, como não recebe o adicional de "grande invalidez",
terá que custear as despesas extras com a contratação de ajuda de terceiro, o que, por
óbvio, será feito em detrimento de outras necessidades básicas como alimentação e
moradia, e, em última análise, do chamado "mínimo existencial", um dos principais efeitos
da aplicação do princípio da dignidade da pessoa humana. Ademais, ressalte-se que o art.
45 da Lei nº 8.213/1991 não exige que a ajuda de outra pessoa seja imprescindível desde
o início da percepção do benefício, revelando que, na hipótese de o segurado ter se
aposentado por invalidez e, apenas posteriormente, passar a necessitar desse socorro, o
adicional será aplicável. Logo, em caso de invalidez superveniente do segurado
aposentado com fundamento em outro fato gerador, o indivíduo tornar-se-á pessoa
portadora de deficiência, devendo ser, igualmente, contemplado com o adicional do
referido artigo, caso seja imprescindível o auxílio de outra pessoa. Remarque-se que o
fato gerador do adicional em exame é a necessidade de assistência permanente de outra
pessoa, a qual pode estar presente ou não no momento do requerimento administrativo
da aposentadoria por invalidez, bem como sua concessão pode ter ou não relação com a
moléstia que deu causa à concessão do benefício originário, o que reforça seu caráter
assistencial. Da mesma maneira, consoante a alínea "c" do parágrafo único do art. 45 da Lei
nº 8.213/1991, o pagamento do adicional cessará com a morte do aposentado, não sendo
incorporado ao valor da pensão por morte, circunstância própria dos benefícios
assistenciais que, pela ausência de contribuição prévia, são personalíssimos e, portanto,
intransferíveis aos dependentes. Devido à sua natureza assistencial, outrossim, não há
previsão legal de fonte de custeio específica para o "auxílio-acompanhante" recebido pelos
aposentados por invalidez. Dessarte, não há falar, igualmente, em fonte específica para às
demais modalidades de aposentadoria, porquanto tal benefício é garantido pelo Estado,
independentemente de contribuição à Seguridade Social, nos termos do art. 203 da
Constituição da República.
(Publicação: 26 de outubro de 2018. RECURSOS REPETITIVOS. Processo. REsp 1.648.305-RS,
Rel. Minº Assusete Magalhães, Rel. Acd. Minº Regina Helena Costa, Primeira Seção, por
maioria, julgado em 22/8/2018, DJe 26/9/2018 (Tema 982, grifos nossos)
SEGUNDA TURMA
DIREITO PREVIDENCIÁRIO. CONVERSÃO DA APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO
EM APOSENTADORIA POR INVALIDEZ E RECEBIMENTO DO ADICIONAL DE GRANDE
INVALIDEZ.
O segurado aposentado por tempo de serviço que sofreu, após retornar à atividade laboral,
acidente de trabalho que lhe causou absoluta incapacidade, gerando a necessidade da
assistência permanente de outra pessoa, tem direito à transformação da aposentadoria
por tempo de serviço em aposentadoria por invalidez e, com a conversão, ao recebimento
do adicional de 25% descrito no art. 45 da Lei nº 8.213/1991 a partir da data de seu
requerimento administrativo. De fato, o adicional de 25% descrito no art. 45 da Lei nº
8.213/1991 (adicional de grande invalidez) - concedido ao segurado que necessitar da
assistência permanente de outra pessoa, observado o Anexo I do Regulamento da
Previdência Social (Dec. nº 3.048/1999) - só pode ser concedido ao aposentado por
invalidez. Se fosse da vontade o legislador acrescer 25% a todo e qualquer benefício
previdenciário concedido a segurado que necessitasse dessa assistência, ele incluiria a
norma em capítulo distinto e geral. Todavia, incluiu esse direito na Subseção I da Seção V,
dedicada exclusivamente à aposentadoria por invalidez. Ademais, não se pode admitir
interpretação extensiva/ampliativa, para estender o adicional aos segurados que
recebam aposentadorias de outras espécies - como, por exemplo, a aposentadoria por
tempo de serviço -, haja vista o princípio da contrapartida (ou princípio da precedência da
353
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
fonte de custeio), consagrado pelo §5º do art. 195 da CF, o qual assevera que nenhum
benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem
a correspondente fonte de custeio total. Esse princípio, conforme entendimento
doutrinário, tem íntima ligação com o princípio do equilíbrio financeiro e atuarial, de
modo que somente é possível ocorrer aumento de despesa para o fundo previdenciário
quando existir também, em proporção adequada, receita que venha a cobrir os gastos
decorrentes da alteração legislativa. Alerta-se, ademais, que a observância desse princípio
é de fundamental importância para que a Previdência Social Pública se mantenha em
condições de conceder as prestações previstas, sob pena de, em curto espaço de tempo,
estarem os segurados definitivamente sujeitos à privatização dessa atividade, em face da
incapacidade do Poder Público de gerar mais receita para cobertura de déficits. Nesse
sentido, a Primeira Turma do STJ já decidiu que o "art. 45 da Lei nº 8.213/91, ao tratar do
adicional de 25% (vinte e cinco por cento), restringiu sua incidência ao benefício da
aposentadoria por invalidez, na hipótese de o segurado necessitar de assistência
permanente de outra pessoa, cujo acréscimo, entretanto, não poderá ser estendido a
outras espécies de benefícios" (REsp 1.533.402-SC, Primeira Turma, DJe 14/9/2015).
Nessa conjuntura, cabe destacar que o segurado, para fazer jus à aposentadoria por
invalidez, deve estar trabalhando quando da eclosão da incapacidade ou, ao menos, deve
estar em gozo do auxílio-doença. Além disso, o benefício da aposentadoria por invalidez
será devido quando não houver mais capacidade alguma para o trabalho: isto é, a
incapacidade vivida pelo segurado deve ser total, consistente na impossibilidade de
desempenho de qualquer atividade que possibilite o seu sustento. Na hipótese aqui
analisada, o segurado, mesmo aposentado por tempo de serviço, voltou ao mercado de
trabalho e, nesse período, sofreu acidente de trabalho que lhe causou absoluta
incapacidade, passando a necessitar da assistência permanente de outra pessoa. Essa
situação fática autoriza a transformação da aposentadoria por tempo de serviço em
aposentadoria por invalidez, por ser justo e o benefício mais vantajoso. Ademais,
considerando a absoluta incapacidade e a necessidade de assistência permanente, o
segurado, após a transformação, faz jus ao adicional de 25% descrito no art. 45 da Lei nº
8.213/1991 (adicional de grande invalidez) a partir da data de seu requerimento
administrativo. Aliás, de modo similar, a Primeira Turma do STJ julgou caso em que o
segurado em gozo de auxílio-doença, desde o início da concessão do benefício, já fazia jus
à aposentadoria por invalidez, reconhecendo-se o direito à transformação do benefício com
o adicional de 25% (REsp 1.448.664-RS, Primeira Turma, DJe 2/6/2015). REsp 1.475.512-
MG, Rel. Minº Mauro Campbell Marques, julgado em 15/12/2015, DJe 18/12/2015 (grifos
nossos).
SEGUNDA TURMA
DIREITO PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL A CONTRIBUINTE INDIVIDUAL NÃO
COOPERADO.
É possível a concessão de aposentadoria especial prevista no art. 57, caput, da Lei
8.213/1991 a contribuinte individual do RGPS que não seja cooperado, desde que
preenchidos os requisitos legais para tanto. De fato, o art. 57, caput, da Lei 8.213/1991
("A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta Lei, ao
segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou
a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme
dispuser a lei") não traça qualquer diferenciação entre as diversas categorias de
segurados. Além disso, não se pode sustentar, tendo em vista o fato de o contribuinte
individual não cooperado não participar diretamente do custeio do benefício, a
inviabilidade de concessão da aposentadoria especial a ele. Realmente, os §§6º e 7º do art.
57 da Lei 8.213/1991 atribuem a sociedades empresárias que possuam em seus quadros
trabalhadores que exerçam atividade especial uma contribuição complementar com o
escopo de auxiliar no custeio da aposentadoria especial. Ocorre que, embora os benefícios
previdenciários devam estar relacionados a fontes de custeio previamente definidas
(princípio da contrapartida), essa exigência não implica afirmar que a fonte de custeio está
intimamente ligada ao destinatário do benefício. Pelo contrário, o sistema previdenciário
do regime geral se notabiliza por ser um sistema de repartição simples, no qual não há uma
354
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
355
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
2.9. RE 567985
356
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
357
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
358
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
POLÍTICAS PÚBLICAS, ESPECIALMENTE NA ÁREA DA SAÚDE (CF, ARTS. 6º, 196 E 197) – A
QUESTÃO DAS “ESCOLHAS TRÁGICAS” – A COLMATAÇÃO DE OMISSÕES
INCONSTITUCIONAIS COMO NECESSIDADE INSTITUCIONAL FUNDADA EM
COMPORTAMENTO AFIRMATIVO DOS JUÍZES E TRIBUNAIS E DE QUE RESULTA UMA
POSITIVA CRIAÇÃO JURISPRUDENCIAL DO DIREITO – CONTROLE JURISDICIONAL DE
LEGITIMIDADE DA OMISSÃO DO PODER PÚBLICO: ATIVIDADE DE FISCALIZAÇÃO JUDICIAL
QUE SE JUSTIFICA PELA NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DE CERTOS PARÂMETROS
CONSTITUCIONAIS (PROIBIÇÃO DE RETROCESSO SOCIAL, PROTEÇÃO AO MÍNIMO
EXISTENCIAL, VEDAÇÃO DA PROTEÇÃO INSUFICIENTE E PROIBIÇÃO DE EXCESSO) –
DOUTRINA – PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL EM TEMA DE
IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DELINEADAS NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
(RTJ 174/687 – RTJ 175/1212-1213 – RTJ 199/1219-1220) – EXISTÊNCIA, NO CASO EM
EXAME, DE RELEVANTE INTERESSE SOCIAL. 2. AÇÃO CIVIL PÚBLICA: INSTRUMENTO
PROCESSUAL ADEQUADO À PROTEÇÃO JURISDICIONAL DE DIREITOS REVESTIDOS DE
METAINDIVIDUALIDADE – LEGITIMAÇÃO ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO (CF, ART. 129, III)
– A FUNÇÃO INSTITUCIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO COMO “DEFENSOR DO POVO” (CF,
ART. 129, II) – DOUTRINA – PRECEDENTES. 3. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DAS PESSOAS
POLÍTICAS QUE INTEGRAM O ESTADO FEDERAL BRASILEIRO, NO CONTEXTO DO SISTEMA
ÚNICO DE SAÚDE (SUS) – COMPETÊNCIA COMUM DOS ENTES FEDERADOS (UNIÃO,
ESTADOS-MEMBROS, DISTRITO FEDERAL E MUNICÍPIOS) EM TEMA DE PROTEÇÃO E
ASSISTÊNCIA À SAÚDE PÚBLICA E/OU INDIVIDUAL (CF, ART. 23, II). DETERMINAÇÃO
CONSTITUCIONAL QUE, AO INSTITUIR O DEVER ESTATAL DE DESENVOLVER AÇÕES E DE
PRESTAR SERVIÇOS DE SAÚDE, TORNA AS PESSOAS POLÍTICAS RESPONSÁVEIS SOLIDÁRIAS
PELA CONCRETIZAÇÃO DE TAIS OBRIGAÇÕES JURÍDICAS, O QUE LHES CONFERE
LEGITIMAÇÃO PASSIVA “AD CAUSAM” NAS DEMANDAS MOTIVADAS POR RECUSA DE
ATENDIMENTO NO ÂMBITO DO SUS – CONSEQUENTE POSSIBILIDADE DE AJUIZAMENTO DA
AÇÃO CONTRA UM, ALGUNS OU TODOS OS ENTES ESTATAIS – PRECEDENTES – RECURSO DE
AGRAVO IMPROVIDO. (ARE 727864 AgR, Relator(a): CELSO DE MELLO, Segunda Turma,
julgado em 04/11/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-223 DIVULG 12-11-2014 PUBLIC 13-
11-2014)
359
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
360
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
361
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
acessibilidade das pessoas com deficiência. Por essa razão, diante da superveniência da lei
federal, a legislação mineira, embora constitucional, perde a força normativa, na
atualidade, naquilo que contrastar com a legislação geral de regência do Tema (art. 24, §4º,
CF/88). 5. Ação direta que se julga improcedente. (ADI 903, Relator(a): DIAS TOFFOLI,
Tribunal Pleno, julgado em 22/5/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-026 DIVULG 06-2-2014
PUBLIC 07-2-2014 RTJ VOL-00235-01 PP-00022)
362
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
363
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
(RE 580963, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 18/4/2013, PROCESSO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-225 DIVULG 13-11-2013 PUBLIC 14-11-
2013)
2.21. RE 262134
(...) não há, em nosso ordenamento, nenhuma norma jurídica válida que, como efeito
específico do fato jurídico da aposentadoria, lhe imunize os proventos e as pensões, de
modo absoluto, à tributação de ordem constitucional, qualquer que seja a modalidade do
tributo eleito, donde não haver, a respeito, direito adquirido com o aposentamento. (...)
(ADI 3105 ED, Relator(a): Minº CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, julgado em 02/02/2007, DJ
23-02-2007 PP-00017 EMENT VOL-02265-01 PP-00130 RT v. 96, nº 861, 2007, p. 83-85)
364
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
(...) 3. Inconstitucionalidade. Ação direta. Emenda Constitucional (EC nº 41/2003, art. 4º,
§únic, I e II). Servidor público. Vencimentos. Proventos de aposentadoria e pensões.
Sujeição à incidência de contribuição previdenciária. Bases de cálculo diferenciadas.
Arbitrariedade. Tratamento discriminatório entre servidores e pensionistas da União, de
um lado, e servidores e pensionistas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de
outro. Ofensa ao princípio constitucional da isonomia tributária, que é particularização do
princípio fundamental da igualdade. Ação julgada procedente para declarar
inconstitucionais as expressões "cinquenta por cento do" e "sessenta por cento do",
constante do art. 4º, §único, I e II, da EC nº 41/2003. Aplicação dos arts. 145, §1º, e 150, II,
cc. art. 5º, caput e §1º, e 60, §4º, IV, da CF, com restabelecimento do caráter geral da regra
do art. 40, §18. São inconstitucionais as expressões "cinqüenta por cento do" e "sessenta
por cento do", constantes do §único, incisos I e II, do art. 4º da Emenda Constitucional nº
41, de 19 de dezembro de 2003, e tal pronúncia restabelece o caráter geral da regra do
art. 40, §18, da Constituição da República, com a redação dada por essa mesma Emenda.
(ADI 3105, Relator(a): Minº ELLEN GRACIE, Relator(a) p/ Acórdão: Minº CEZAR PELUSO,
Tribunal Pleno, julgado em 18/8/2004, DJ 18-02-2005 PP-00005 EMENT VOL-02180-02 PP-
00123 RTJ VOL-00193-01 PP-00137 RDDT nº 140, 2007, p. 202-203)
365
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
1. Artigo 85, caput, da LC nº 64 estabelece que "o IPSEMG prestará assistência médica,
hospitalar e odontológica, bem como social, farmacêutica e complementar aos segurados
referidos no art. 3º e aos servidores não titulares de cargo efetivo definidos no art. 79,
extensiva a seus dependentes". A Constituição de 1988 --- art. 149, §1º --- define que "os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir contribuição, cobrada de seus
servidores, para o custeio, em benefícios destes, de sistemas de previdência e assistência
social". O preceito viola o texto da Constituição de 1988 ao instituir contribuição
compulsória. Apenas os servidores públicos titulares de cargos efetivos podem estar
compulsoriamente filiados aos regimes próprios de previdência. Inconstitucionalidade da
expressão "definidos no art. 79" contida no artigo 85, caput, da LC 64/02.
2. Os Estados-membros não podem contemplar de modo obrigatório em relação aos seus
servidores, sob pena de mácula à Constituição do Brasil, como benefícios, serviços de
assistência médica, hospitalar, odontológica, social e farmacêutica. O benefício será
custeado mediante o pagamento de contribuição facultativa aos que se dispuserem a dele
fruir. 3. O artigo 85 da lei impugnada institui modalidade complementar do sistema único
de saúde --- "plano de saúde complementar". Contribuição voluntária.
Inconstitucionalidade do vocábulo "compulsoriamente" contido no §4º e no §5º do artigo
85 da LC 64/02, referente à contribuição para o custeio da assistência médica, hospitalar,
odontológica e farmacêutica. (...)
(ADI 3106, Relator(a): Minº EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 14/04/2010, DJe-179
DIVULG 23-09-2010 PUBLIC 24-09-2010 EMENT VOL-02416-01 PP-00159 REVJMG v. 61, nº
193, 2010, p. 345-364)
2.30. RE 138284
2.31. RE 146733
CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO DAS PESSOAS JURIDICAS. LEI 7689/88. - NÃO E
INCONSTITUCIONAL A INSTITUIÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO DAS
PESSOAS JURIDICAS, CUJA NATUREZA E TRIBUTARIA. (...)
(RE 146733, Relator(a): Minº MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, julgado em 29/06/1992, DJ
06-11-1992 PP-20110 EMENT VOL-01683-03 PP-00384 RTJ VOL-00143-02 PP-00684)
(...) Dito isso, assento, desde logo, que não cabe, neste feito, reanalisar a natureza tributária
das contribuições sociais, eis que o assunto está há muito sedimentado na jurisprudência
do STF
366
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
2.33. RE 599309
367
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
instituições financeiras em relação àquelas suportadas pelas demais pessoas jurídicas. III –
Recurso extraordinário ao qual se nega provimento. (RE 599309, Relator(a): Minº RICARDO
LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 06/06/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO Dje-275
DIVULG 11-12-2019 PUBLIC 12-12-2019)
2.34. RE 390840
2.35. MS nº 28.576/DF
2.37. RE 351717
368
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
Todavia, não poderia a lei criar figura nova de segurado obrigatório da previdência social,
tendo em vista o disposto no art. 195, II, C.F. Ademais, a Lei 9.506/97, §1º do art. 13, ao
criar figura nova de segurado obrigatório, instituiu fonte nova de custeio da seguridade
social, instituindo contribuição social sobre o subsídio de agente político. A instituição
dessa nova contribuição, que não estaria incidindo sobre "a folha de salários, o faturamento
e os lucros" (C.F., art. 195, I, sem a EC 20/98), exigiria a técnica da competência residual da
União, art. 154, I, ex vi do disposto no art. 195, §4º, ambos da C.F. É dizer, somente por lei
complementar poderia ser instituída citada contribuição. III. - Inconstitucionalidade da
alínea h do inc. I do art. 12 da Lei 8.212/91, introduzida pela Lei 9.506/97, §1º do art. 13. IV.
- R.E. conhecido e provido.
(RE 351717, Relator(a): Minº CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno, julgado em 8/10/2003, DJ
21-11-2003 PP-00030 EMENT VOL-02133-05 PP-00875)
369
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
Congresso Nacional. É que o art. 201, §§1º e 7º, da C.F., com a redação dada pela E.C. nº
20, de 15.12.1998, cuidaram apenas, no que aqui interessa, dos requisitos para a obtenção
do benefício da aposentadoria. No que tange ao montante do benefício, ou seja, quanto
aos proventos da aposentadoria, propriamente ditos, a Constituição Federal de
5.10.1988, em seu texto originário, dele cuidava no art. 202. O texto atual da Constituição,
porém, com o advento da E.C. nº 20/98, já não trata dessa matéria, que, assim, fica
remetida "aos termos da lei", a que se referem o "caput" e o §7o do novo art. 201. Ora, se
a Constituição, em seu texto em vigor, já não trata do cálculo do montante do benefício da
aposentadoria, ou melhor, dos respectivos proventos, não pode ter sido violada pelo art.
2o da Lei nº 9.876, de 26.11.1999, que, dando nova redação ao art. 29 da Lei nº 8.213/91,
cuidou exatamente disso. E em cumprimento, aliás, ao "caput" e ao parágrafo 7o do novo
art. 201. 3. Aliás, com essa nova redação, não deixaram de ser adotados, na Lei, critérios
destinados a preservar o equilíbrio financeiro e atuarial, como determinado no "caput" do
novo art. 201. O equilíbrio financeiro é o previsto no orçamento geral da União. E o
equilíbrio atuarial foi buscado, pela Lei, com critérios relacionados com a expectativa de
sobrevida no momento da aposentadoria, com o tempo de contribuição e com a idade, até
esse momento, e, ainda, com a alíquota de contribuição correspondente a 0,31.
4. Fica, pois, indeferida a medida cautelar de suspensão do art. 2o da Lei nº 9.876/99, na
parte em que deu nova redação ao art. 29, "caput", incisos e parágrafos, da Lei nº 8.213/91.
(...) (ADI 2111 MC, Órgão julgador: Tribunal Pleno, Relator(a): Minº SYDNEY SANCHES,
Julgamento: 16/3/2000, Publicação: 5/12/2003)
A revisão de que trata o art. 58 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias não se
aplica aos benefícios previdenciários concedidos após a promulgação da Constituição de
1988.
Revisão de benefício previdenciário concedido após a promulgação da CF/1988
A pretensão de mérito do Autor, que consiste no reajuste de sua aposentadoria especial em
números de salários mínimos desde abril de 1989 até maio de 1992, não se coaduna com
a assentada jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Precedentes.
3. O art. 58 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias aplica-se somente quando
o benefício foi concedido antes da promulgação da Constituição da República, o que não
se tem no caso vertente, pois o Autor obteve aposentadoria especial em 15.11.1988, logo
após a promulgação da Constituição da República. Incidência da Súmula 687 do Supremo
Tribunal Federal. (AR 1.500, rel. min. Cármen Lúcia, P, j. 15.4.2009, DJE 162 de 28-8-2009.)
370
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
2.43. RE 1276977
371
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
O Poder Legislativo, em sua função típica de legislar, não fica vinculado. Isso também tem
como finalidade evitar a "fossilização da Constituição". Assim, o legislador, em tese, pode
editar nova lei com o mesmo conteúdo daquilo que foi declarado inconstitucional pelo STF.
Se o legislador fizer isso, não é possível que o interessado proponha uma reclamação ao STF
pedindo que essa lei seja automaticamente julgada também inconstitucional (Rcl 13019
AgR, julgado em 19/02/2014). Será necessária a propositura de uma nova ADI para que o
STF examine essa nova lei e a declare inconstitucional. Vale ressaltar que o STF pode até
mesmo mudar de opinião no julgamento dessa segunda ação. (...) (STF. Plenário. ADI
5105/DF, Rel. Minº Luiz Fux, julgado em 1º/10/2015)
372
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
(...) Lei 9.528/1997, que dá nova redação ao §1º do art. 453 da Consolidação das Leis do
Trabalho - CLT -, prevendo a possibilidade de readmissão de empregado de empresa pública
e sociedade de economia mista aposentado espontaneamente. (...) É inconstitucional o §1º
do art. 453 da CLT, com a redação dada pela Lei 9.528/1997, quer porque permite, como
regra, a acumulação de proventos e vencimentos - vedada pela jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal -, quer porque se funda na idéia de que a aposentadoria espontânea rompe
o vínculo empregatício. Pedido não conhecido quanto ao art. 11, e parágrafos, da Lei nº
9.528/1997. Ação conhecida quanto ao §1º do art. 453 da Consolidação das Leis do
Trabalho, na redação dada pelo art. 3º da mesma Lei 9.528/1997, para declarar sua
inconstitucionalidade. (ADI 1770, Relator(a): JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado
em 11/10/2006, DJ 01-12-2006 PP-00065 EMENT VOL-02258-01 PP-00067 RB v. 19, nº
518, 2007, p. 20-23 LEXSTF v. 29, nº 339, 2007, p. 74-87)
373
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
2.52. RE 318.684
374
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
prevista em lei complementar (art. 195, §4º). Inconstitucionalidade formal do art. 28, §2º,
e da parte final da alínea a, do §9º, da Lei nº 8.212/91.
4. Esta Corte já definiu que as disposições constitucionais são legitimadoras de um
tratamento diferenciado às mulheres desde que a norma instituidora amplie direitos
fundamentais e atenda ao princípio da proporcionalidade na compensação das diferenças.
No entanto, no presente caso, as normas impugnadas, ao imporem tributação que incide
somente quando a trabalhadora é mulher e mãe cria obstáculo geral à contratação de
mulheres, por questões exclusivamente biológicas, uma vez que torna a maternidade um
ônus. Tal discriminação não encontra amparo na Constituição, que, ao contrário, estabelece
isonomia entre homens e mulheres, bem como a proteção à maternidade, à família e à
inclusão da mulher no mercado de trabalho. Inconstitucionalidade material dos referidos
dispositivos.
5. Diante do exposto, dou provimento ao recurso extraordinário para declarar,
incidentalmente, a inconstitucionalidade da incidência de contribuição previdenciária sobre
o salário-maternidade, prevista no art. art. 28, §2º, e da parte final da alínea a, do §9º, da
Lei nº 8.212/91, e proponho a fixação da seguinte tese: “É inconstitucional a incidência de
contribuição previdenciária a cargo do empregador sobre o salário- maternidade”.
(RE 576967, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 5/8/2020,
PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-254 DIVULG 20-10-2020
PUBLIC 21-10-2020)
2.55. RE 791961
375
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
Em razão do caráter contributivo do regime geral de previdência (CF/1988, art. 201, caput),
o art. 29, §5º, da Lei nº 8.213/1991 não se aplica à transformação de auxílio-doença em
376
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
2.64. RE 587365
377
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
2.68. RE 661256
378
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
das contribuições vertidas após a concessão desse benefício pelo RGPS, obter junto ao
INSS regime de benefício posterior, mais vantajoso.
2. A Constituição de 1988 desenhou um sistema previdenciário de teor solidário e
distributivo. inexistindo inconstitucionalidade na aludida norma do art. 18, §2º, da Lei nº
8.213/91, a qual veda aos aposentados que permaneçam em atividade, ou a essa
retornem, o recebimento de qualquer prestação adicional em razão disso, exceto salário-
família e reabilitação profissional.
3. Fixada a seguinte tese de repercussão geral no RE nº 661.256/SC: “(n)o âmbito do Regime
Geral de Previdência Social (RGPS), somente lei pode criar benefícios e vantagens
previdenciárias, não havendo, por ora, previsão legal do direito à ‘desaposentação’, sendo
constitucional a regra do art. 18, §2º, da Lei nº 8213/91”. 4. Providos ambos os recursos
extraordinários (RE nºs 661.256/SC e 827.833/SC). (RE 661256, Relator(a): ROBERTO
BARROSO, Relator(a) p/ Acórdão: DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 27/10/2016,
PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-221 DIVULG 27-09-2017
PUBLIC 28-09-2017)
379
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
Para o cálculo da renda mensal inicial, cumpre observar o quadro mais favorável ao
beneficiário, pouco importando o decesso remuneratório ocorrido em data posterior ao
implemento das condições legais para a aposentadoria, respeitadas a decadência do direito
à revisão e a prescrição quanto às prestações vencidas.
380
FREDERICO MARTINS QUESTÕES
QUESTÕES
b) atualização dos proventos na mesma proporção e na mesma data, sempre que se modificar a remuneração
dos servidores em atividade.
d) média aritmética simples das maiores contribuições, correspondentes a todo o período contributivo.
e) atualização das remunerações consideradas no cálculo inicial dos proventos, mês a mês, no mesmo índice
fixado para o RGPS.
381
FREDERICO MARTINS QUESTÕES
4. (FGV/2017/TRT - 12ª Região (SC)/Analista Judiciário – Oficial de Justiça Avaliador Federal) O benefício
previdenciário de auxílio-reclusão é pago aos dependentes do segurado de baixa renda que for preso. Trata-
se de um princípio específico desse benefício previdenciário:
a) irredutibilidade do benefício;
c) universalidade da cobertura;
d) seletividade e distributividade;
c) Como exceção ao princípio da indisponibilidade dos benefícios previdenciários, admite-se que o benefício
seja sujeito a penhora ou sequestro, sendo apenas anulável a venda dos direitos do beneficiário ou a
constituição de ônus sobre o benefício.
d) Como decorrência do caráter compulsório e universal do regime previdenciário estatal, não se admite a
participação da iniciativa privada na atividade securitária, ainda que com a particularidade de ser facultativo
para os segurados.
e) A Emenda Constitucional 20/98 erigiu o equilíbrio financeiro e atuarial à condição de princípio básico do
sistema previdenciário, devendo o Poder Público se atentar sempre para a relação entre custeio e pagamento
de benefícios, a fim de manter o sistema em condições superavitárias.
6. (FADESP / 2019 / FADESP Prefeitura de Marabá - PA / Analista Previdenciário) O artigo 194 da Carta
Magna brasileira apresenta princípios constitucionais de seguridade social. O princípio segundo o qual as
normas apontam os requisitos legais para a concessão dos benefícios e serviços e consideram as
possiblidades econômico-financeiras do sistema é o da:
a) uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais.
d) seletividade e distributividade.
382
FREDERICO MARTINS QUESTÕES
b) garantidor do reajustamento dos benefícios previdenciários apenas para preservar-lhes o valor nominal.
d) organizado para atender, entre outros, à cobertura de eventos como doenças, invalidez e morte, mas não
o desemprego involuntário.
8. (TRT23R / 2011 / TRT - 23ª REGIÃO (MT) /Juiz do Trabalho) O . . . . . . . . . .é corolário do princípio da
isonomia e da capacidade contributiva dos contribuintes:
a) princípio da diversidade da base de financiamento.
b) A seletividade é um princípio voltado para o legislador e não diretamente aos beneficiários e beneficiados
da proteção social.
c) A universalidade de cobertura está relacionada às pessoas que têm direito à proteção social.
383
FREDERICO MARTINS QUESTÕES
d) da centralização administrativa.
a) Certo.
b) Errado.
a) Certo.
b) Errado.
a) Certo.
b) Errado.
a) Certo.
b) Errado.
384
FREDERICO MARTINS QUESTÕES
a) Certo.
b) Errado.
a) Certo.
b) Errado.
a) Certo.
b) Errado.
a) Certo.
b) Errado.
385
FREDERICO MARTINS QUESTÕES
b) serviço previdenciário.
c) serviço assistencial.
d) benefício previdenciário.
e) benefício assistencial.
20.(PUC-PR/2017/TJ-MS - Técnico de Nível Superior - Serviço Social) A Lei Orgânica de Assistência Social
prevê que o “benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com
deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover
a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família”. Sobre isso e considerando o disposto na referida
Lei, assinale a alternativa CORRETA.
a) A família é composta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a
madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde
que vivam sob o mesmo teto.
b) Para efeito de concessão do benefício de prestação continuada, considera-se pessoa com deficiência
aquela que tem impedimento de curto ou longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o
qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade
em igualdade de condições com as demais pessoas.
c) Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família cuja renda
mensal per capita seja inferior a 1 (um) do salário-mínimo.
d) O benefício de prestação continuada não pode ser acumulado pelo beneficiário com qualquer outro no
âmbito da seguridade social ou de outro regime, nem mesmo os da assistência médica e da pensão especial
de natureza indenizatória.
b) as ações do poder público no campo da saúde estão precipuamente voltadas para a prestação de serviços,
enquanto aquelas no âmbito da previdência social referem-se à prestação de benefícios previdenciários.
c) a função saúde atende aos segurados que se encontram no gozo dos direitos que, nessa qualidade, lhe são
inerentes, ao passo que a assistência social se destina aos que perderam essa qualidade.
d) o benefício de prestação continuada, previsto na Lei Orgânica da Assistência Social, destina-se a ações
direcionadas à saúde e à assistência social.
386
FREDERICO MARTINS QUESTÕES
e) a função saúde não se destina aos segurados da previdência que possuam planos privados de saúde.
c) os fatos sociais, políticos, econômicos que ensejam o surgimento da norma jurídica previdenciária.
d) os fatos sociais e políticos, a doutrina, a Constituição Federal de 1988, as emendas constitucionais, as leis
complementares, as leis ordinárias.
a) Certo.
b) Errado.
b) só poderá ser exigida tal contribuição após decorridos cento e oitenta dias da data da publicação da
referida lei.
c) não poderá ser exigida tal contribuição no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a
referida lei, independentemente da data de sua publicação.
387
FREDERICO MARTINS QUESTÕES
d) poderá ser exigida tal contribuição imediatamente após a data da publicação da referida lei.
e) só poderá ser exigida tal contribuição após decorridos cento e vinte dias da data da publicação da referida
lei.
b) As contribuições sociais de que trata o art. 195, da CF/88, só poderão ser exigidas após decorridos cento
e oitenta dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o
disposto no art. 150, III, b, da Carta Magna.
c) São isentas de contribuição para a seguridade social todas as entidades de assistência social que atendam
às exigências estabelecidas em lei complementar.
d) As contribuições sociais de que trata o art. 195, da CF/88, só poderão ser exigidas após decorridos noventa
dias da assinatura da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150,
III, b, da Carta Magna.
e) As contribuições sociais de que trata o art. 195, da CF/88, só poderão ser criadas e exigidas após decorridos
noventa dias da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto
no art. 150, III, b, da Carta Magna.
27. (QUESTÃO INÉDITA) Com relação aos princípios da Seguridade Social, julgue o item: os princípios da
Seguridade Social não são fontes formais do Direito, mas apenas orientações do Constituinte Originário, que
criam standards normativos a serem cumpridos pelo legislador ordinário.
a) Certo.
b) Errado.
28.(QUESTÃO INÉDITA) Com relação aos princípios da Seguridade Social, julgue o item: os princípios da
Seguridade Social são os pilares de todo o sistema da seguridade social previsto na Constituição Federal de
1988, possuindo amplo espectro normativo e funcionando como fontes materiais do Direito da Seguridade
Social.
a) Certo.
b) Errado.
388
FREDERICO MARTINS QUESTÕES
29.(QUESTÃO INÉDITA) Com relação aos princípios da Seguridade Social, julgue o item: os princípios da
Seguridade Social devem ser lidos sob a ótica do pós-positivismo jurídico e apresentam força normativa e
aplicabilidade direta, tal qual a força normativa que deriva das regras previstas nas leis previdenciárias,
devendo prevalecer, em regra, as normas principiológicas eis que superiores na Pirâmide Kelsen.
a) Certo.
b) Errado.
30.(QUESTÃO INÉDITA) Com relação aos princípios da Seguridade Social, julgue o item: os princípios da
Seguridade Social são fontes formais do Direito da Seguridade Social e deverão ser, sempre, interpretados
com base no princípio da solidariedade.
a) Certo.
b) Errado.
31. (QUESTÃO INÉDITA) Sobre as normas da Seguridade Social e sua interpretação, julgue o item: as normas
de Seguridade Social não podem ser vistas como normas de direito fundamental, eis que o Estado pode
promover reformas previdenciárias para alterá-las.
a) Certo.
b) Errado.
a) não pode ser considerado como dependente para os fins de obtenção de benefício previdenciário o irmão
não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência
intelectual ou mental ou deficiência grave.
c) a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um)
anos são exemplos de dependentes presumidos, que dispensam prova da dependência econômica.
d) as provas de união estável e de dependência econômica exigem início de prova material contemporânea
dos fatos, sendo admitida, porém, a prova exclusivamente testemunhal quando não houver provas
documentais.
e) os pais e os avós são considerados dependentes especiais do segurado e poderão obter o benefício por
meio de simples apresentação do documento que comprove a relação de parentesco, dispensados outros
meios de prova.
389
FREDERICO MARTINS QUESTÕES
a) Certo.
b) Errado.
Fátima e Ronaldo não preenchem os requisitos para serem dependentes previdenciários um do outro.
a) Certo.
b) Errado.
I. Mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições até 6 meses após a cessação das
contribuições, o segurado facultativo.
III. Mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições, sem limite de prazo, quem está
em gozo de benefício, exceto do auxílio-acidente.
IV. A perda da qualidade de segurado ocorrerá no dia seguinte ao do término do prazo fixado no Plano de
Custeio da Seguridade Social para recolhimento da contribuição referente ao mês imediatamente posterior
ao do final dos prazos estabelecidos pela Lei n.° 8.213/1991.
a) II e IV.
b) I, III e IV.
c) I e IV
390
FREDERICO MARTINS QUESTÕES
e) I, II e III.
36. (Quadrix/2019/CRF-PR/Advogado) A Lei nº 8.213/1991, em seu art. 124, dispõe sobre as vedações de
recebimento conjunto de benefícios previdenciários. A aplicabilidade trazida por esse dispositivo restringe‐
se ao âmbito do RGPS, ou seja, proíbe o recebimento conjunto de certos benefícios no mesmo regime.
Contudo, é permitido o recebimento conjunto dos seguintes benefícios no RGPS:
a) aposentadoria e auxílio‐doença.
c) salário‐maternidade e auxílio‐doença.
e) auxílios‐acidente.
a) Certo.
b) Errado.
38. (CESPE/2018/EMAP/Analista Portuário - Área Jurídica - ADAPTADA) Maria, casada, sofreu acidente de
trabalho em 1.º/2/2018 e ficou afastada da empresa em que trabalha por três meses, recebendo auxílio-
doença até a data imediatamente anterior ao seu retorno, que ocorreu em 2/5/2018. Na data do acidente,
o cônjuge de Maria tinha quarenta e quatro anos de idade.
Nessa situação hipotética, tendo em vista que o acidente se deu antes da EC 103/19, durante o afastamento
por incapacidade temporária, a renda mensal inicial do benefício previdenciário recebido por Maria deve ter
correspondido a 91% do salário-de-benefício.
a) Certo.
b) Errado.
391
FREDERICO MARTINS QUESTÕES
39. (CESPE/2016/INSS/Técnico do Seguro Social) No próximo item, é apresentada uma situação hipotética
acerca de salário-de-contribuição, seguida de uma assertiva a ser julgada.
O contrato de trabalho de Carlos, empregado da empresa L & M Ltda., foi rescindido antes que ele pudesse
usufruir de férias vencidas. Nessa situação, haverá a incidência de contribuição previdenciária sobre a
importância paga a título de indenização das férias vencidas e sobre o respectivo adicional constitucional.
a) Certo.
b) Errado.
40. (CESPE/2016/INSS/Técnico do Seguro Social) No próximo item, é apresentada uma situação hipotética
acerca de salário-de-contribuição, seguida de uma assertiva a ser julgada.
Gustavo inscreveu-se na previdência social na condição de segurado facultativo. Nessa situação, o salário-
de-contribuição de Gustavo deverá variar entre um salário-mínimo e o teto máximo fixado em portaria
interministerial.
a) Certo.
b) Errado.
41. (CESPE/2016/INSS/Técnico do Seguro Social) No próximo item, é apresentada uma situação hipotética
acerca de salário-de-contribuição, seguida de uma assertiva a ser julgada.
Bruna, empregada da empresa Vargas & Vargas Cia. Ltda., entrou em gozo de licença-maternidade. Nessa
situação, haverá incidência da contribuição previdenciária sobre o valor recebido por Bruna a título de
salário-maternidade.
a) Certo.
b) Errado.
Compete privativamente aos Estados e DF legislar sobre normas gerais de organização, efetivos, material
bélico, garantias, convocação, mobilização, inatividades e pensões das polícias militares e dos corpos de
bombeiros militares.
a) Certo.
b) Errado.
392
FREDERICO MARTINS QUESTÕES
a) Certo.
b) Errado.
O servidor público titular de cargo efetivo poderá ser readaptado para exercício de cargo cujas atribuições e
responsabilidades sejam compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental,
enquanto permanecer nesta condição, desde que possua a habilitação e o nível de escolaridade exigidos para
o cargo de destino, podendo ser, mediante lei específica do ente federativo, alterada a remuneração do cargo
de origem.
a) Certo.
b) Errado.
a) Certo.
b) Errado.
a) Certo.
b) Errado.
A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência Social, de caráter
contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e
atenderá, na forma da lei complementar.
393
FREDERICO MARTINS QUESTÕES
a) Certo.
b) Errado.
A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência Social, sendo certo que a
Constituição Federal de 1988 assegura que haja a cobertura dos eventos de doença e invalidez.
a) Certo.
b) Errado.
Para a aposentadoria por incapacidade permanente previdenciária, a RMI será de 60% (sessenta por cento)
do SB, acrescidos de 2% (dois por cento) para cada ano de contribuição que exceder 15 (quinze) anos de
contribuição, no caso da mulher, e 20 (vinte), no caso do homem, nos termos do art. 26 da EC nº 103, de
2019.
a) Certo.
b) Errado.
a) Certo.
b) Errado.
Na regra de transição prevista para a antiga aposentadoria por tempo de contribuição no RGPS, tal como
previsto na EC 103, deve ser concedida a aposentadoria calculada com o coeficiente de 60% sobre o salário
de benefício, calculado esse na forma da lei.
a) Certo.
b) Errado.
394
FREDERICO MARTINS QUESTÕES
É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados para concessão de benefícios, ressalvada, nos
termos de lei ordinária, a possibilidade de previsão de idade e tempo de contribuição distintos da regra geral
para concessão de aposentadoria exclusivamente em favor de alguns segurados.
a) Certo.
b) Errado.
É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados para concessão de benefícios, ressalvada, nos
termos de lei complementar, a possibilidade de previsão de idade e tempo de contribuição distintos da regra
geral para concessão de aposentadoria exclusivamente em favor dos segurados com deficiência,
independentemente de avaliação biopsicossocial realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar.
a) Certo.
b) Errado.
É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados para concessão de benefícios, ressalvada, nos
termos de lei complementar, a possibilidade de previsão de idade e tempo de contribuição distintos da regra
geral para concessão de aposentadoria exclusivamente em favor dos segurados cujas atividades sejam
exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação
desses agentes, sendo possível a caracterização por categoria profissional ou ocupação.
a) Certo.
b) Errado.
Será concedida aposentadoria programada no RGPS aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 62
(sessenta e dois) anos de idade, se mulher, observado tempo mínimo de contribuição.
a) Certo.
b) Errado.
Será concedida aposentadoria ao trabalhador rural no RGPS aos 60 (sessenta) anos de idade, se homem, e
57 (cinquenta e sete) anos de idade, se mulher, para os trabalhadores.
395
FREDERICO MARTINS QUESTÕES
a) Certo.
b) Errado.
O auxílio por incapacidade temporária será devido ao segurado que, uma vez cumprido, quando for o caso,
o período de carência exigido, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por
mais de vinte dias consecutivos, conforme definido em avaliação médico-pericial.
a) Certo.
b) Errado.
Será devido auxílio por incapacidade temporária ao segurado que se filiar ao RGPS já portador de doença ou
lesão invocada como causa para a concessão do benefício, ainda quando a incapacidade sobrevier por motivo
de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão.
a) Certo.
b) Errado.
a) Certo.
b) Errado.
Não há óbice ao pagamento do auxílio por incapacidade temporária ao segurado recluso em regime fechado.
a) Certo.
b) Errado.
O segurado recluso em cumprimento de pena em regime aberto ou semiaberto fará jus ao auxílio por
incapacidade temporária.
a) Certo.
b) Errado.
396
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
397
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
GABARITO COMENTADO
1. GABARITO: E.
Alternativa A: ERRADA, pois não há limitação mínima para a incidência de contribuições previdenciárias nos
salários de contribuição dos servidores públicos. Ao contrário, o que pode haver – veja, pode haver – é
limitação máxima para a incidência dessas contribuições. Isso porque se o ente administrativo implementar
um regime de previdência complementar, conforme previsto no art. 40, §14, da CF, poderá haver a limitação
das contribuições ao PSS – Plano de Seguridade Social até o teto do salário de contribuição previsto para o
RGPS.
§14 - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, desde que instituam regime
de previdência complementar para os seus respectivos servidores titulares de cargo efetivo,
poderão fixar, para o valor das aposentadorias e pensões a serem concedidas pelo regime
de que trata este artigo, o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral
de previdência social de que trata o art. 201. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20,
de 15/12/98)
Veja, inclusive, que a alternativa mostra outra incorreção. É que essa limitação foi permitida a partir
da EC 20/98 e não pela EC 41/2003.
Alternativa B: ERRADA, pois o que aconteceu com a EC 41/2003 foi justamente o contrário, com o fim da
paridade entre os servidores da ativa e da inatividade. Logo, para os servidores que ingressaram após a EC
41/2003, não haverá a paridade (assim como a integralidade, que também foi extinta por meio dessa Emenda
Constitucional).
Alternativa C: ERRADA, pois quando a alternativa diz que a aposentadoria corresponderá à totalidade da
remuneração do servidor público na ativa, está querendo dizer que haverá a integralidade como direito do
servidor. E, como visto acima, foi justamente isso que também foi extinto com a EC 41/2003, não havendo
mais o que sobre integralidade e paridade para os servidores que ingressaram a partir de 31/12/2003, data
da publicação daquela Emenda Constitucional.
Alternativa D: ERRADA, pois a média aritmética será obtida, não com base em todo o período contributivo,
mas a partir da competência julho/1994, conforme determina o art. 1º, da Lei nº 10.887/04, que assim diz:
Art. 1º No cálculo dos proventos de aposentadoria dos servidores titulares de cargo efetivo
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
incluídas suas autarquias e fundações, previsto no §3º do art. 40 da Constituição Federa l e
no art. 2º da Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003, será considerada a
média aritmética simples das maiores remunerações, utilizadas como base para as
contribuições do servidor aos regimes de previdência a que esteve vinculado,
correspondentes a 80% (oitenta por cento) de todo o período contributivo desde a
competência julho de 1994 ou desde a do início da contribuição, se posterior àquela
competência.
Veja que a EC 41/2003, ao dar nova redação ao §3º, do art. 40, da CF, deixou claro que seriam
consideradas as remunerações do servidor para o cálculo de sua aposentadoria, mas não disse nada sobre a
extensão e os limites temporais do período contributivo que serviria de base para isso, relegando tal matéria
à regulamentação da lei.
398
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
§3º Para o cálculo dos proventos de aposentadoria, por ocasião da sua concessão, serão
consideradas as remunerações utilizadas como base para as contribuições do servidor aos
regimes de previdência de que tratam este artigo e o art. 201, na forma da lei. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)
Alternativa E: CERTA, pois, conforme o §17, do art. 40, CF/88, todos “os valores de remuneração
considerados para o cálculo do benefício previsto no §3° serão devidamente atualizados, na forma da lei”,
redação essa que foi incluída pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003. Assim, a alternativa se encontra
correta, sendo a fundamentação disso a literalidade da norma constitucional.
2. GABARITO: E.
Alternativa A: ERRADA, pois a universalidade de cobertura nada tem a ver com a imposição estatal de
realizar, nos termos da lei, o reajuste dos benefícios previdenciários.
Alternativa B: ERRADA, pois o fato dos benefícios, em regra, não serem pagos abaixo do salário-mínimo, daí
não resulta a possibilidade de se reduzir o valor nominal e real dos benefícios.
Alternativa C: ERRADA, pois a irredutibilidade do valor dos benefícios não assegura o reajustamento para
manter o valor real da prestação previdenciária, mas tão somente o valor nominal. Nada obstante, cabe
chamar à atenção de que o Supremo Tribunal Federal tem dado o entendimento no sentido de que, também
no campo previdenciário, o que se tem garantido na norma constitucional é tão somente o valor nominal,
com base na regra geral da seguridade social prevista no art. 194, parágrafo único, inciso IV, da CF. Sobre
isso, muito importante você se lembrar de que quando se fala em seguridade social, de modo genérico, a CF
fala em preservação do valor nominal (art. 194, parágrafo único, inciso IV). De outro lado, quando normatiza
na seara previdenciária, a CF diz que deve haver a preservação do valor real dos benefícios. No campo da
previdência social, a previsão constitucional de preservação do “valor real” encontra-se prevista no art. 201,
§4º, que assim diz:
No campo amplo da seguridade social, ou seja, com a consideração não apenas da previdência social,
mas também da assistência social e da saúde, a previsão da preservação do valor nominal dos benefícios e
prestações encontra-se previsto justamente no princípio da “irredutibilidade do valor dos benefícios”,
previsto no art. 194, parágrafo único, inciso IV, da CF, que assim diz:
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade
social, com base nos seguintes objetivos:
(...)
IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;
Alternativa D: ERRADA, pois a atualização monetária dos salários de contribuição é obrigação administrativa
relacionada ao cálculo do salário de benefício, nada tendo a ver com a preservação do valor encontrado para
a renda mensal inicial do benefício concedido.
399
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
Alternativa E: ERRADA, pois o princípio da irredutibilidade não se atrela unicamente ao valor real, mas
também e, sobretudo, ao valor nominal da renda mensal inicial, ou seja, da prestação concedida pelo INSS
ao deferir administrativamente um benefício previdenciário.
3. GABARITO: D.
Alternativas A, B, C e E. ERRADAS, pois em todas elas há erro manifesto com o texto literal da Constituição
Federal de 1988, que em seu art. 201, §7º, I, assim diz:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter
contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 1998)
(...)
§7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos da lei,
obedecidas as seguintes condições: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de
1998)
I - trinta e cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de contribuição, se mulher;
(Incluído dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
Lembrando, como se pode perceber da leitura do dispositivo transcrito, que essas regras etárias
foram introduzidas pela Emenda Constitucional nº 20/98, a 1ª grande reforma previdenciária no pós
Constituição de 1988. Embora o regime previdenciário geral tenha sido sempre contributivo, não havia a
denominada “aposentadoria por tempo de contribuição” antes da EC 20/98. Aliás, não havia nada no texto
constitucional de 1988 sobre a aposentadoria do RGPS. O que se tinha previsto literalmente no texto original
da CF/88 era apenas a menção no inciso I, do art. 201, de que os “planos de previdência social, mediante
contribuição, atenderão, nos termos da lei, a (...) cobertura dos eventos de (...) velhice”. Os requisitos,
portanto, da aposentadoria – então denominada “aposentadoria por tempo de serviço” – estavam previstos
unicamente nos artigos 52 e seguintes da Lei nº 8.213/91. Claro está que o artigo 52 foi derrogado
tacitamente pela Emenda Constitucional nº 20/98, já que, além de estipular que se trata de aposentadoria
por “tempo de serviço” e não “tempo de contribuição”, elenca requisito etário diverso do previsto na CF/88
após a EC 20, exigindo apenas 30 anos de “serviço” para homens e 25 anos de “serviço” para as mulheres.
Lembro, ainda, de que isso se trata de simples constatação de revogação da lei, pelo critério da lex posterior
derrogat legi priori (lei posterior derroga lei anterior), não sendo caso de inconstitucionalidade
superveniente, conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal, que já se expressou nos seguintes
termos62:
62.Extraído.de:.http://www.stf.jus.br/portal/diarioJustica/verDecisao.asp?numDj=188&dataPublicacao=25/09/2012&incidente=419
400
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
4. GABARITO: D.
Alternativa A: ERRADA, pois a irredutibilidade se refere à proteção do valor nominal e real, esse
condicionado à edição de lei, dos benefícios previdenciários, nada tendo a ver com a escolha de contingencias
sociais para que haja a proteção social da seguridade social.
Alternativa B: ERRADA, pois a equidade na forma de participação no custeio se relaciona, em essência, com
a capacidade contributiva daqueles que custeiam o sistema, orientando o legislador à escolha equânime das
bases de cálculo e alíquotas componentes das contribuições sociais destinadas à seguridade social.
Alternativa C: ERRADA, pois a universalidade da cobertura se refere à expansividade da proteção dada pelo
sistema constitucional de seguridade social, mas não é o princípio que, especificamente, elege as
contingências que serão objeto dessa expansão.
Alternativa D: CORRETA, pois a seletividade se atrela à escolha parlamentar relativa aos riscos que serão
cobertos pela seguridade social, enquanto que a distributividade é o efeito dessa seletividade, já que acaba
por distribuir a renda entre as camadas sociais cobertas pela proteção social. A distributividade também
acaba por promover a distribuição geográfica e demográfica dos benefícios e serviços prestados pela
seguridade social.
Alternativa E: ERRADA, pois a diversidade da base de financiamento se dirige ao custeio da seguridade social
e não com a escolha do risco social que será coberto, tal como no caso da seleção, da contingência social
relacionada à ausência de renda de um grupo familiar, decorrente do encarceramento daquele que o provê
economicamente.
5. GABARITO: E.
Alternativa A: ERRADA, pois o princípio da filiação obrigatória impõe que, havendo atividade remunerada,
haverá filiação no sistema previdenciário do RGPS. Logo, se é trabalhador, está filiado.
Alternativa B: ERRADA, pois o princípio da prévia fonte de custeio diz justamente o contrário. Logo, é
necessário que haja a contribuição previdenciária para que haja a qualidade de segurado no RGPS. Sabe-se,
contudo, que o art. 34, inciso I, da Lei nº 8.213/91, protege o segurado empregado e segurado empregado
doméstico, ao afirmar que serão considerados os seus salários de contribuição “ainda que não recolhidas
pela empresa ou pelo empregador doméstico”. Todavia, disso não resulta que possa haver, ao menos no
aspecto formal da lei, concessão de benefícios previdenciários sem que tenha havido o recolhimento
previdenciário, notadamente porque o próprio dispositivo legal assinala que haverá ao empregador a
“respectiva cobrança e da aplicação das penalidades cabíveis”.
Alternativa C: ERRADA, pois vai de encontro com o previsto no art. 114, da Lei nº 8.213/91, na medida em
que a venda dos direitos do beneficiário ou a constituição de ônus sobre o benefício é “nula de pleno direito”:
Art. 114. Salvo quanto a valor devido à Previdência Social e a desconto autorizado por esta
Lei, ou derivado da obrigação de prestar alimentos reconhecida em sentença judicial, o
benefício não pode ser objeto de penhora, arresto ou sequestro, sendo nula de pleno direito
a sua venda ou cessão, ou a constituição de qualquer ônus sobre ele, bem como a outorga
de poderes irrevogáveis ou em causa própria para o seu recebimento.
Alternativa D: ERRADA, pois a assertiva vai de encontro com o previsto no art. 202, da CF/1988:
401
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
Alternativa E: CORRETA, pois, de fato, a EC 20 assinalou na literalidade do art. 201, caput, a observância
indispensável do equilíbrio financeiro e atuarial da previdência social.
6. GABARITO: D.
Alternativa A: ERRADA, pois a uniformidade e equivalência é princípio que se refere ao trato da isonomia
entre as populações urbanas e rurais.
Alternativa B: ERRADA, pois a universalidade da cobertura é, em verdade, princípio que encontra relação
lógica anterior com o princípio relacionado no enunciado da questão. A seletividade e distributividade visam
otimizar a expansão da seguridade social por meio da seleção das contingências sociais mais prioritárias e
relevantes, dentro das possibilidades orçamentarias estatais.
Alternativa D: CORRETA, pois é a seletividade que vai apontar quais são as vulnerabilidades sociais que
podem, no momento, ser atendidos pela seguridade social. Assim, o orçamento da seguridade social pode
cumprir seu objetivo de universalização do sistema, oferecendo a proteção social àqueles que mais
necessitam, bem como em regiões geográficas nas quais mais se demanda a presença do Estado nas políticas
sociais relativas à previdência, assistência e saúde.
7. GABARITO: E.
Alternativa A: ERRADA, pois o art. 201, inciso II, não dá exclusividade à mãe gestante, englobando também
a mãe adotiva e, bem assim, todas as formas de maternidade socioafetiva:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter
contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 1998)
(...)
II - proteção à maternidade, especialmente à gestante; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 1998)
Alternativa B: ERRADA, pois o art. 201, §4º, da CF/88, abre a possibilidade de que seja protegido também o
valor real dos benefícios previdenciários e não apenas o valor nominal. Contudo, como foi estudado, tal
direito depende de lei ordinária para que isso seja de fato atingido pelo segurado.
Alternativa D: ERRADA, pois o art. 201, III, da CF/88, diz justamente o contrário, incluindo também a proteção
contra o desemprego involuntário.
Alternativa E: CORRETA, pois conforme o art. 201, §2º, da CF/88, nenhum “benefício que substitua o salário
de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário-mínimo”.
402
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
8. GABARITO: C.
Alternativa A: ERRADA, pois a diversidade da base de financiamento não decorre da isonomia e não
fundamenta a capacidade contributiva do custeio da seguridade social, sendo proveniente, mais, da
solidariedade na sustentação financeira do sistema de proteção social do Estado.
Alternativa B: ERRADA, pois a solidariedade social não é corolário de qualquer princípio, mas sim a base de
todos os objetivo e vetores da seguridade social.
Alternativa E: ERRADA, pois, embora a uniformidade e equivalência se baseiem na isonomia, não decorrem,
de outro lado, da capacidade contributiva.
9. GABARITO: B.
Alternativa A: ERRADA, pois a uniformidade entre os trabalhadores rurais e urbanos não significa que haja
diferença de tratamento entre esses segurados, sob pena de violação da isonomia. O fato de haver benefícios
com requisitos diversos entre rurais e urbanos não resulta concluir disso que se trata de diferenciação de
tratamento. Claro que há nuances e diferenças materiais entre uma categoria e outra de segurado
obrigatório, mas isso é decorrente da natureza das atividades e não do princípio da uniformidade, que visa
dar os mesmos benefícios previdenciários para ambos, na medida das desigualdades existentes entre cada
um deles.
Alternativa B: CORRETA, pois a seletividade, de fato, reside na ponderação parlamentar sobre os destinos
do orçamento da Seguridade Social, a fim de que contingências sociais desnecessárias não sejam eleitas como
objeto da cobertura da proteção social estatal.
403
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
Alternativa E: ERRADA, pois é justamente o contrário. A literalidade da Constituição Federal de 1988, em seu
art. 194, parágrafo único, refere-se ao termo “objetivos”, mas a doutrina é uníssona no sentido de que se
trata, também, de um rol de princípios da seguridade social, dada a indiscutível carga axiológica que eles
carregam, como verdadeiros mandados de otimização da proteção social estatal no Brasil.
10. GABARITO: C.
Alternativa B: ERRADA, pois o princípio da consideração dos salários de contribuição do segurado é feito
com a correção monetária “nos termos da lei”, nada se garantindo sobre a aplicação dos índices da inflação
nessa correção (art. 201, §3º, da CF/88).
Alternativa C: CORRETA, pois se trata de reprodução literal do art. 2º, inciso I, da Lei nº 8.213/91.
11. GABARITO: B. A assertiva vai de encontro com a literalidade do art. 194, caput, da Constituição Federal
de 1988, de maneira que a seguridade social não compõe a previdência complementar dos servidores
públicos. Dogmaticamente, seria possível considerar, sim, a previdência complementar dos servidores
públicos como integrante do grande complexo normativo de seguridade social de nossa Constituição.
Contudo, o enunciado da questão reclamou a leitura das normas escritas, devendo o candidato buscar, nesse
caso, a literalidade do art. 194, caput, da CF/88, até porque se trata de questão objetiva.
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social.
12. GABARITO: A. A assertiva vai ao encontro do texto escrito do art. 194, caput, da Constituição Federal de
1988:
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social.
13. GABARITO: B. A assertiva vai de encontro com o texto escrito do art. 194, parágrafo único, da
Constituição Federal de 1988, bem como com o art. 1º, do Decreto 3.048/99. No caso da questão, o
enunciado se encontra errado em função da indicação do princípio da “redutibilidade” do valor dos
benefícios, contrariando o art. 194, parágrafo único, IV, CF/88 c/c art. 1º, IV, do Decreto 3.048/99, de sorte
que o correto é “princípio da irredutibilidade dos benefícios”. Também há erro na indicação do “princípio da
404
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
diversidade dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais”, de modo que o correto seria
“diversidade da base de financiamento”, não se confundindo com outro princípio, qual seja o da
“uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais”.
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade
social, com base nos seguintes objetivos:
I - universalidade da cobertura e do atendimento;
II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;
III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;
IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;
V - eqüidade na forma de participação no custeio;
VI - diversidade da base de financiamento, identificando-se, em rubricas contábeis
específicas para cada área, as receitas e as despesas vinculadas a ações de saúde,
previdência e assistência social, preservado o caráter contributivo da previdência social;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão
quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e
do Governo nos órgãos colegiados. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de
1998)
Art. 1º A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
poderes públicos e da sociedade, destinado a assegurar o direito relativo à saúde, à
previdência e à assistência social.
Parágrafo único. A seguridade social obedecerá aos seguintes princípios e diretrizes:
I - universalidade da cobertura e do atendimento;
II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;
III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;
IV - irredutibilidade do valor dos benefícios, de forma a preservar-lhe o poder aquisitivo;
V - eqüidade na forma de participação no custeio;
VI - diversidade da base de financiamento; e
VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão
quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e
do governo nos órgãos colegiados.
14. GABARITO: A.
A assertiva vai ao encontro do texto escrito do art. 194, parágrafo único, da Constituição Federal de
1988, assinalando corretamente os princípios que nosso Constituinte asseverou como balizas da seguridade
social. Cabe lembrar que ainda há os princípios da equidade na forma de participação de custeio,
diversidade da base de financiamento, bem como o princípio do caráter democrático e descentralizado da
administração, mediante gestão quadripartite.
405
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
15. GABARITO: A.
O enunciado está correto, uma vez que a seguridade social compreende ações de iniciativa dos
poderes públicos e da sociedade destinadas a assegurar os direitos à saúde, à previdência e à assistência
social, conforme art. 194, caput, CF/88.
16. GABARITO: B.
O enunciado está errado, já que nos termos do art. 196, caput, da Constituição Federal o acesso à
saúde é universal e igualitário. Assim, o enunciado do item erra ao afirmar que a saúde é voltada ao acesso
apenas dos menos favorecidos economicamente.
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais
e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
17. GABARITO: B.
O enunciado está errado, uma vez que não se encontra entre as contingências cobertas pela
previdência social os encargos de família. Cabe lembrar que a previdência possui como benefício o salário-
família, todavia isso não é a mesma coisa que “encargos de família”.
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 103, de 2019)
I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho e
idade avançada; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
II - proteção à maternidade, especialmente à gestante; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 1998)
III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa
renda; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e
dependentes, observado o disposto no §2º. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
20, de 1998)
18. GABARITO: B. O enunciado está incorreto, de sorte que a assistência social não é um sistema
contributivo. O enunciado da questão descreveu a função da previdência dentro do tripé da seguridade
social.
19. GABARITO: E.
A alternativa “A” está INCORRETA. É inegável que dentro da visão macro, ou seja, dentro do espectro
normativo da seguridade social como um todo, trata-se de um benefício da seguridade social. Contudo, a
questão exigia conhecimento técnico e específico, obviamente, do ramo da seguridade social ao qual
406
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
pertence o benefício assistencial. Por isso, está errada a alternativa. Tecnicamente, trata-se do benefício
assistencial de amparo ao idoso e ao deficiente, tal como previsto no art. 203, V, da CF/88, bem como no art.
2º, caput, da Lei nº 8.742/1993:
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de
contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua
integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário-mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência
e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la
provida por sua família, conforme dispuser a lei.
Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à
pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem
não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família.
(Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011) (Vide Medida Provisória nº 871, de 2019)
A alternativa “B” está INCORRETA. O benefício assistencial ao idoso e ao deficiente não é um “serviço
previdenciário”. Quanto aos serviços previdenciários, eles estão previstos no art. 18, da Lei nº 8.213/91. As
prestações de serviços previdenciários são, conforme os artigos 88 e 89, da Lei nº 8.213/91: a) o serviço
social; e b) o serviço de habilitação e reabilitação profissional.
Art. 18. O Regime Geral de Previdência Social compreende as seguintes prestações, devidas
inclusive em razão de eventos decorrentes de acidente do trabalho, expressas em
benefícios e serviços:
Art. 88. Compete ao Serviço Social esclarecer junto aos beneficiários seus direitos sociais e
os meios de exercê-los e estabelecer conjuntamente com eles o processo de solução dos
problemas que emergirem da sua relação com a Previdência Social, tanto no âmbito interno
da instituição como na dinâmica da sociedade.
Art. 89. A habilitação e a reabilitação profissional e social deverão proporcionar ao
beneficiário incapacitado parcial ou totalmente para o trabalho, e às pessoas portadoras de
deficiência, os meios para a (re)educação e de (re)adaptação profissional e social indicados
para participar do mercado de trabalho e do contexto em que vive.
A alternativa D está INCORRETA. Não se trata de um benefício previdenciário, mas, sim, assistencial,
para o qual não se exige nenhuma contribuição.
20. GABARITO: A.
A alternativa A está CORRETA, sendo cópia do texto do art. 20, §1º, da Lei nº 8.742/1993, que assim
diz:
§1º Para os efeitos do disposto no caput, a família é composta pelo requerente, o cônjuge
ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos
solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o
mesmo teto. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)
407
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
A alternativa C está INCORRETA. O enunciado da alternativa está contrário ao texto do art. 20, §3º,
I, da Lei nº 8.742/1993:
A alternativa D está INCORRETA, eis que vai de encontro com o disposto no art. 20, §4º, da Lei nº
8.742/1993:
§4º O benefício de que trata este artigo não pode ser acumulado pelo beneficiário com
qualquer outro no âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo os da assistência
médica e da pensão especial de natureza indenizatória. (Redação dada pela Lei nº 12.435,
de 2011)
A alternativa “E” está INCORRETA, eis que vai de encontro com o disposto no art. 20, §6º, da Lei nº
8.742/1993:
408
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
21. GABARITO: B.
A alternativa A está INCORRETA. O direito à previdência não se condiciona à existência ou não de previdência
complementar privada.
A alternativa B está CORRETA. A assertiva está de acordo com o texto dos arts. 196 e 201, da Constituição
Federal de 1988:
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais
e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público
dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua
execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou
jurídica de direito privado.
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes
diretrizes:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 103, de 2019)
I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho e
idade avançada; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
II - proteção à maternidade, especialmente à gestante; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 1998)
III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa
renda; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e
dependentes, observado o disposto no §2º. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
20, de 1998)
A alternativa C está INCORRETA. O direito à saúde e à assistência social não são interdependentes.
O direito à saúde é de acesso universal e igualitário, enquanto que o direito à assistência social é destinado
a quem dele necessitar.
A alternativa E está INCORRETA, uma vez que o direito à saúde é de acesso universal e igualitário.
Esse direito não depende do fato da pessoa ser ou não filiado a plano de saúde privado.
22. GABARITO: C.
Alternativa A. ERRADA, pois a doutrina e os costumes não são, sequer, fontes do Direito da
Seguridade Social. A doutrina funciona como instrumento de hermenêutica jurídica, enquanto a analogia é
meio de integração da norma jurídica (conforme art. 4º, da LINDB).
Alternativa B. ERRADA, pois todos os veículos normativos citados são fontes formais do Direito da
Seguridade Social.
409
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
Alternativa C. CORRETA, pois as fontes materiais são os fatos sociais, políticos e econômicos que
ensejam o surgimento da norma jurídica previdenciária. Ou seja, é tudo aquilo que propicia, motiva e
estimula o surgimento da lei e, dessa maneira, da norma relativa à seguridade social. Uma fonte material do
Direito da Seguridade Social, pois, pode ser facilmente exemplificado pelo déficit nas contas públicas
relacionado à Previdência Social no país. A necessidade de equilíbrio das contas públicas é fonte material
clara do Direito da Seguridade Social, fazendo com que o Congresso Nacional vote atos normativos (emendas
constitucionais, leis ordinárias etc.) que possam atender às contingências socioeconômicas advindas
daquelas circunstâncias financeiras atuais do Estado.
Alternativa D. ERRADA, pois a doutrina não é fonte material do Direito da Seguridade Social, assim
como também não o são a CF/88, as emendas constitucionais, leis complementares e leis ordinárias. Todas
essas últimas são fontes formais do Direito.
23. GABARITO: D.
Alternativa A: ERRADA, pois o costume é elemento de integração da norma jurídica e depende, para
ser invocado, da omissão da lei, conforme o art. 4º, da LINDB. Como se trata de questão objetiva, que não
exige maiores conhecimentos ou divagações sobre o Tema, a letra da lei deve ser o norte para a resposta. De
todo modo, cabe lembrar que o costume somente poderá ser invocado no Direito da Seguridade Social se
não criar nenhuma norma, mas apenas preencher lacuna da lei, sem que haja, ainda, violação aos demais
princípios norteadores da Seguridade Social, em especial o princípio da prévia fonte de custeio. É possível
concluir, ademais, que pelo princípio da norma mais favorável, a lacuna da lei apta a gerar dúvida em sua
interpretação não poderia jamais direcionar o interprete a uma conclusão contrária à máxima efetividade
dos direitos fundamentais da Seguridade Social.
Alternativa C: ERRADA, pois a analogia, assim como descrito no quanto referente a alternativa “A”,
somente pode ser empregada quando houver lacuna da lei. As demais observações feitas em relação às
limitações de emprego do costume também valem para a analogia (observância dos demais princípios da
Seguridade Social e, ainda, o princípio da norma mais favorável).
Alternativa D: CORRETA, pois bate com o disposto no art. 4º, da LINDB, sendo certo que, na letra da
lei, os princípios gerais de Direito desempenham a função de integrar a norma jurídica quando houver
omissão normativa. Nada obstante, como vimos em nossa aula, os princípios na era do pós-positivismo
desempenham função normativa de primeiro grau, ou seja, são efetivamente fontes do Direito e não apenas
elemento de integração da norma quando essa for omissa.
Alternativa E: ERRADA, pois o princípio do in dubio pro societate nada tem a ver com o Direito da
Seguridade Social, pertencendo às lições de Direito Processual Penal.
24. GABARITO: A.
Alternativa A é a CORRETA, uma vez que, de fato, não há nenhuma peculiaridade em relação à
legislação de Seguridade Social no que toca ao momento em que ela entra em vigor, seguindo a regra geral
prevista no art. 1º, da LINDB. Deve-se apenas ter em mente que as normas-custeio, quando instituírem ou
410
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
modificarem contribuição social, somente poderão ser exigidas 90 dias após a data da publicação da
respectiva lei, conforme art. 195, §6º, da CF/88 (princípio da anterioridade nonagesimal). Note-se que esse
princípio não altera a vigência da lei, mas apenas a exigibilidade do tributo criado ou majorado. Daí é que o
enunciado não peca ao generalizar a afirmação para qualquer lei de natureza previdenciária.
25. GABARITO: A.
Alternativa A: CORRETA, pois vai ao encontro do disposto no art. 195, §6º, da CF/88.
§6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos
noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se
lhes aplicando o disposto no art. 150, III, "b".
Alternativa B: ERRADA, pois o prazo é de noventa dias e não de 180 dias, conforme o art. 196, §6º,
da CF/88.
Alternativa C: ERRADA, pois o princípio da anualidade tributária (ou da anterioridade anual), previsto
no art. 150, III, “b”, da CF/88, não se aplica às contribuições sociais previstas no art. 195, CF/88, por expressa
vedação indicada na parte final do art. 195, §6º, da CF/88.
Alternativa E: ERRADA, pois o prazo no enunciado está errado, sendo de 90 dias e não 120 dias.
26. GABARITO: A.
§6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos
noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se
lhes aplicando o disposto no art. 150, III, "b".
Alternativa B: ERRADA, pois indica prazo diverso do disposto no art. 150, §6º, da CF/88.
Alternativa C: ERRADA, pois não bate com a letra do art. 195, §7º, da CF/88, sendo que somente as
entidades beneficentes de assistência social, que atendam aos requisitos previstos em lei complementar, é
que contarão com a isenção dada pelo Constituinte Originário em relação às contribuições previstas no art.
195, CF/88.
Alternativa D: ERRADA, pois o prazo para que as contribuições previstas no art. 195, CF/88, possam
ser exigidas é contado da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado e, não como
constou do enunciado, da assinatura da lei.
Alternativa E: ERRADA, pois troca completamente o sentido do art. 195, §6º, da CF/88.
411
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
27. GABARITO: B.
A afirmação está ERRADA, pois os princípios da Seguridade Social são fontes formais do Direito da
Seguridade Social, sendo essa a parte incorreta do enunciado. Com relação à segunda parte, sim, de fato
criam standards normativos a serem cumpridos pelo legislador ordinário.
28. GABARITO: B.
A afirmação está ERRADA, pois a parte final do enunciado está incorreta, sendo certo que os
princípios da Seguridade Social não são fontes materiais do Direito da Seguridade Social, mas sim fontes
formais.
29. GABARITO: A.
A afirmação está CORRETA, pois, realmente, os princípios da Seguridade Social devem ser lidos
dentro da ótica pós-positivista, na qual os princípios deixam de funcionarem unicamente como elementos
de integração da norma jurídica, ostentando, doravante, força normativa própria. Assim, tal qual as regras
legais e positivadas, os princípios, ainda quando não escritos, possuem força normativa e são fontes formais
do Direito. Em regra, embora não haja hierarquia entre princípio e regra, quando se tratar, porém, de
princípio de estirpe constitucional, esse deverá prevalecer, salvo se a norma mais favorável for a prevista na
regra (com base no princípio da norma mais favorável em matéria de Seguridade Social).
30. GABARITO: B.
31. GABARITO: B.
A afirmação está ERRADA, pois as normas de Seguridade Social são, sim, normas que representam a
tutela de direitos fundamentais sociais, vistos esses como direitos fundamentais de 2ª dimensão. E o fato de
haver reformas previdenciárias que alterem o conteúdo desses direitos não implica qualquer
desconsideração de sua natureza. Pelo contrário, justamente por serem considerados direitos fundamentais,
as reformas previdenciárias encontram limitações referentes à proibição do retrocesso social, bem como às
vedações impostas pelo art. 60, §4º, IV, da CF/88. Assim, as alterações no sistema de Seguridade Social não
podem excluir direitos, mas apenas modulá-los com razoabilidade e dentro de ponderações voltadas à
manutenção do sistema, eis que, ao lado das garantias sociais que o Constituinte alberga, também há de ser
respeitado o princípio do equilíbrio financeiro e atuarial.
412
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
32. GABARITO: C.
A letra A está incorreta, pois, vai de encontro com o previsto no art. 16, III, da Lei nº 8.213/1991:
A letra B está incorreta, pois vai de encontro com o previsto no art. 16, §2º, da Lei nº 8.213/1991:
A letra C está correta, pois está em consonância com o previsto no art. 16, I e §4º, da Lei nº
8.213/1991:
A letra D está incorreta, pois, vai de encontro com o previsto no art. 16, §5º, da Lei nº 8.213/1991:
§5º As provas de união estável e de dependência econômica exigem início de prova material
contemporânea dos fatos, produzido em período não superior a 24 (vinte e quatro) meses
anterior à data do óbito ou do recolhimento à prisão do segurado, não admitida a prova
exclusivamente testemunhal, exceto na ocorrência de motivo de força maior ou caso
fortuito, conforme disposto no regulamento.
A letra E está incorreta, pois, apenas os pais são dependentes do segurado, mas o disposto na alternativa vai
de encontro com o previsto no art. 16, §4º, da Lei nº 8.213/1991:
§4º A dependência econômica das pessoas indicadas no inciso I é presumida e a das demais
deve ser comprovada
33. GABARITO: A.
A assertiva está, de fato, correta, eis que seu enunciado vai ao encontro do disposto no art. 15, §4º,
da Lei nº 8.213/1991:
413
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
34. GABARITO: A.
A assertiva está, de fato, correta, eis que os irmãos apenas são dependentes entre si nas situações
previstas no art. 16, III, da Lei nº 8.213/1991, sendo certo que somente poderiam ser considerados
dependentes, no caso da questão, se inválidos ou com deficiência mental ou intelectual ou deficiência grave,
pois nessas hipóteses a relação de dependência com o segurado vai além dos 21 anos. No mais, seria
necessária a comprovação de dependência econômica:
35. GABARITO: B.
O item I está correto, eis que vai ao encontro do disposto no art. 15, VI, da Lei nº 8.213/1991:
O item II está incorreto, eis que vai de encontro com o disposto no art. 15, V, da Lei nº 8.213/1991:
V - até 3 (três) meses após o licenciamento, o segurado incorporado às Forças Armadas para
prestar serviço militar;
O item III está correto, eis que vai ao encontro do disposto no art. 15, I, da Lei nº 8.213/1991:
O item IV está correto, eis que vai ao encontro do disposto no art. 15, §4º, da Lei nº 8.213/1991:
36. GABARITO: D.
Atenção! Mantive a questão acima na sua forma original apenas para treinarmos, mas cabe destacar
que houve alteração de seu teor, de acordo com a EC 103/2019:
414
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
a) agora, as regras de acumulação previstas no RGPS também valem para os regimes próprios, conforme o
§6º, do art. 40, da CF:
b) agora, há expressa previsão no art. 201, §15, da CF, no sentido de que é será uma lei complementar que
tratará dos casos de acumulação de benefícios previdenciários.
Além disso, o art. 24, da própria EC 103/19, trata de disposições constitucionais relativas às mudanças
nas regras de acumulação de benefícios previdenciários:
Art. 24. É vedada a acumulação de mais de uma pensão por morte deixada por cônjuge ou
companheiro, no âmbito do mesmo regime de previdência social, ressalvadas as pensões
do mesmo instituidor decorrentes do exercício de cargos acumuláveis na forma do art. 37
da Constituição Federal.
§1º Será admitida, nos termos do §2º, a acumulação de:
I - pensão por morte deixada por cônjuge ou companheiro de um regime de previdência
social com pensão por morte concedida por outro regime de previdência social ou com
pensões decorrentes das atividades militares de que tratam os arts. 42 e 142 da
Constituição Federal;
II - pensão por morte deixada por cônjuge ou companheiro de um regime de previdência
social com aposentadoria concedida no âmbito do Regime Geral de Previdência Social ou
de regime próprio de previdência social ou com proventos de inatividade decorrentes das
atividades militares de que tratam os arts. 42 e 142 da Constituição Federal; ou
III - pensões decorrentes das atividades militares de que tratam os arts. 42 e 142 da
Constituição Federal com aposentadoria concedida no âmbito do Regime Geral de
Previdência Social ou de regime próprio de previdência social.
§2º Nas hipóteses das acumulações previstas no §1º, é assegurada a percepção do valor
integral do benefício mais vantajoso e de uma parte de cada um dos demais benefícios,
apurada cumulativamente de acordo com as seguintes faixas:
I - 60% (sessenta por cento) do valor que exceder 1 (um) salário-mínimo, até o limite de 2
(dois) salários-mínimos;
II - 40% (quarenta por cento) do valor que exceder 2 (dois) salários-mínimos, até o limite de
3 (três) salários-mínimos;
III - 20% (vinte por cento) do valor que exceder 3 (três) salários-mínimos, até o limite de 4
(quatro) salários-mínimos; e
IV - 10% (dez por cento) do valor que exceder 4 (quatro) salários-mínimos.
§3º A aplicação do disposto no §2º poderá ser revista a qualquer tempo, a pedido do
interessado, em razão de alteração de algum dos benefícios.
§4º As restrições previstas neste artigo não serão aplicadas se o direito aos benefícios
houver sido adquirido antes da data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional.
§5º As regras sobre acumulação previstas neste artigo e na legislação vigente na data de
entrada em vigor desta Emenda Constitucional poderão ser alteradas na forma do §6º do
art. 40 e do §15 do art. 201 da Constituição Federal.
415
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
a) não pode acumular mais de uma pensão por morte no âmbito do mesmo regime, seja no RGPS,
seja nos RPPS´s. Se houver pensão uma pensão no RGPS e outra em algum RPPS, sim, é possível. Também
será possível acumular no caso de cargos acumuláveis previstos nos termos do art. 37, CF, de modo que
nesses casos poderá haver mais de uma pensão dentro do mesmo regime.
• Pensão de um regime + pensão de outro regime de previdência social (regime próprio, regime de
previdência complementar fechada, regime de previdência complementar privada);
• Pensão de um regime qualquer não militar + pensão de um regime militar (Polícias Militares,
Corpo de Bombeiros Militares e Forças Armadas);
• Pensão por morte de um regime qualquer (RGPS/RPPS/Militar/Previdências Complementares
fechadas, abertas, públicas ou privadas) + aposentadoria do RGPS ou de um RPPS;
• Pensão por morte de um regime qualquer (RGPS/RPPS/Militar/Previdências Complementares
fechadas, abertas, públicas ou privadas) + proventos de inatividade de militares;
• Pensão militar (Polícias Militares, Corpo de Bombeiros Militares e Forças Armadas) +
aposentadoria do RGPS ou de um RPPS;
Mas mesmo nas hipóteses de acumulação, não haverá o recebimento integral de ambos os benefícios
acumuláveis. Haverá o recebimento do benefício de maior valor, mais uma parte do outro, que variará
conforme a sua correspondência quantitativa em salários mínimos, da seguinte forma:
§2º Nas hipóteses das acumulações previstas no §1º, é assegurada a percepção do valor
integral do benefício mais vantajoso e de uma parte de cada um dos demais benefícios,
apurada cumulativamente de acordo com as seguintes faixas:
I - 60% (sessenta por cento) do valor que exceder 1 (um) salário-mínimo, até o limite de 2
(dois) salários-mínimos;
II - 40% (quarenta por cento) do valor que exceder 2 (dois) salários-mínimos, até o limite de
3 (três) salários-mínimos;
III - 20% (vinte por cento) do valor que exceder 3 (três) salários-mínimos, até o limite de 4
(quatro) salários-mínimos; e
IV - 10% (dez por cento) do valor que exceder 4 (quatro) salários-mínimos.
Essas alterações somente valerão para as hipóteses de acumulação ocorridas após a vigência da EC
103, ou seja, a partir de 13/11/2019, conforme art. 36, III, da referida Emenda, sendo assegurados os direitos
adquiridos até então, de acordo com expressa previsão do §4º, do art. 24:
§4º As restrições previstas neste artigo não serão aplicadas se o direito aos benefícios
houver sido adquirido antes da data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional.
Por fim, a EC 103 deixa ressalvado que as regras acima, bem como as que atualmente se encontram
vigentes na legislação previdenciárias, poderão ser alteradas por meio de lei complementar, conforme o art.
201, §15, da CF:
§5º As regras sobre acumulação previstas neste artigo e na legislação vigente na data de
entrada em vigor desta Emenda Constitucional poderão ser alteradas na forma do §6º do
art. 40 e do §15 do art. 201 da Constituição Federal
Assim, a resposta é a letra D, mesmo com as alterações acima, conforme a seguinte possibilidade de
cumulação prevista no texto do art. 24, da EC 103/19:
416
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
Note, contudo, que deverá haver a aplicação do §2º, do art. 24, da Emenda, de modo que, apesar da
possibilidade de recebimento conjunto, não será possível o recebimento integral de ambos os benefícios,
sendo garantido o valor do maior, acrescido de um percentual do outro conforme as faixas abaixo previstas:
§2º Nas hipóteses das acumulações previstas no §1º, é assegurada a percepção do valor
integral do benefício mais vantajoso e de uma parte de cada um dos demais benefícios,
apurada cumulativamente de acordo com as seguintes faixas:
I - 60% (sessenta por cento) do valor que exceder 1 (um) salário-mínimo, até o limite de 2
(dois) salários-mínimos;
II - 40% (quarenta por cento) do valor que exceder 2 (dois) salários-mínimos, até o limite de
3 (três) salários-mínimos;
III - 20% (vinte por cento) do valor que exceder 3 (três) salários-mínimos, até o limite de 4
(quatro) salários-mínimos; e
IV - 10% (dez por cento) do valor que exceder 4 (quatro) salários-mínimos.
Quanto às demais opções, cabe salientar que o §5º, do art. 24, da EC 103/19, assevera que ainda
estão vigentes as hipóteses e regramentos atualmente previstos na legislação previdenciária, até que seja
editada uma lei complementar para tratar dos casos de acumulação de benefícios, suas vedações, regras e
condições. Assim, ainda estão vigentes as regras do art. 124, da Lei nº 8.213/1991, na medida em que não
foi editada qualquer lei complementar naquele sentido:
Art. 124. Salvo no caso de direito adquirido, não é permitido o recebimento conjunto dos
seguintes benefícios da Previdência Social:
I - aposentadoria e auxílio por incapacidade temporária;
II - mais de uma aposentadoria;
III - aposentadoria e abono de permanência em serviço;
IV - salário-maternidade e auxílio por incapacidade temporária;
V - mais de um auxílio-acidente;
VI - mais de uma pensão deixada por cônjuge ou companheiro, ressalvado o direito de
opção pela mais vantajosa.
A letra A está incorreta, pois vai de encontro com o previsto no art. 124, I, da Lei nº 8.213/1991.
A letra B está incorreta, pois vai de encontro com o previsto no art. 124, III, da Lei nº 8.213/1991.
A letra C está incorreta, pois vai de encontro com o previsto no art. 124, IV, da Lei nº 8.213/1991.
A letra D está correta, conforme fundamentação e explicação dada acima, estando alinhada com o
disposto no art. 24, §1º, II, da EC 103/19.
A letra E está incorreta, pois vai de encontro com o previsto no art. 124, V, da Lei nº 8.213/1991.
37. GABARITO: A.
A assertiva está correta, eis que o salário de contribuição possui, de fato, limites mínimo e máximo
para que sobre ele haja a incidência de contribuição previdenciária. O conceito legal do salário de
contribuição está previsto no art. 28, da Lei nº 8.212/1991:
417
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
Importa para o gabarito da questão, também, sabermos o quanto disposto no art. 214, §§3º e 5º, do
Decreto n. 3.048/99:
38. GABARITO: A.
A assertiva está correta, indo ao encontro do que dispõe o art. 61, da Lei nº 8.213/1991:
Ressalte-se, contudo, que é preciso ficar atento ao fato de que a incapacidade, no caso do enunciado
da questão, ocorreu antes da EC 103/19, de modo que, sendo assim, aplica-se a regra prevista no art. 61, da
Lei nº 8.213/1991.
418
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:
I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho e
idade avançada;
Cabe frisar que o art. 26, §2º, da EC 103, determinou que o coeficiente do salário de benefício das
aposentadorias será de 60%, a princípio:
Como se vê, a regra não alcança o auxílio-doença (benefício por incapacidade temporária),
restringindo-se às aposentadorias, em regra, de modo que, nesse cenário normativo, continua sendo
aplicável o art. 61, da Lei de Benefícios do RGPS.
39. GABARITO: B.
A assertiva está errada, pois vai contra o disposto no art. 28, §9º, “d”, da Lei nº 8.212/1991:
40. GABARITO: A.
A assertiva está correta, pois vai ao encontro do disposto no art. 214, inciso VI, §§3º e 5º, do RPS
(Decreto nº 3.048/1999):
419
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
41. GABARITO: A.
A assertiva está correta, uma vez que, conforme determina o art. 28, §2º, da Lei nº 8.212/1991, o
salário maternidade é considerado salário de contribuição:
42. GABARITO: B.
A assertiva está realmente incorreta, uma vez que vai de encontro com o previsto no art. 22, XXI, da
CF, com a redação dada pela EC 103:
43. GABARITO: A.
A assertiva está perfeita, de acordo com a literalidade do art. 37, §14, CF, com a redação dada pela
EC 103:
Art. 37 (...)
§14. A aposentadoria concedida com a utilização de tempo de contribuição decorrente de
cargo, emprego ou função pública, inclusive do Regime Geral de Previdência Social,
acarretará o rompimento do vínculo que gerou o referido tempo de contribuição.
44. GABARITO: B.
De fato, não há como se considerar correta a assertiva, uma vez que a remuneração não poderá ser
alterada quando da readaptação do servidor público, segundo determina o mandamento constitucional
previsto no art. 37, §13, com a redação dada pela EC 103:
420
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
que possua a habilitação e o nível de escolaridade exigidos para o cargo de destino, mantida
a remuneração do cargo de origem.
45. GABARITO: B.
A assertiva está errada, na medida em que, embora estejam realmente vedadas as complementações
de aposentadoria que não sejam aquelas previstas nos planos de previdência complementar dos respectivos
entes federativos, na forma enunciada no §§14 a 16, do art. 40, as complementações instituídas por outras
vias institucionais anteriores a EC 103 poderão permanecer, conforme norma prevista no art. 7º, da referida
Emenda:
46. GABARITO: B.
A assertiva está errada, uma vez que, na hipótese do servidor público ser eleito para cargo eletivo,
permanecerá ele vinculado ao seu regime próprio de origem:
Em síntese, deve ser conjugada a regra do art. 40, §13, com a do art. 38, V, conforme o seguinte: a)
se o ocupante de mandato eletivo não for também servidor público efetivo, ou seja, se já não estiver
vinculado a regime próprio da previdência social, ficará automaticamente filiado ao RGPS quando ocupar o
cargo para o qual foi eleito; b) de outro lado, se o ocupante de mandato eletivo já for, antes da eleição,
servidor público efetivo e vinculado a regime próprio da previdência social, permanecerá filiado a esse regime
mesmo quando estiver ocupando o cargo para o qual foi eleito.
47. GABARITO: B.
A assertiva está realmente incorreta, uma vez que vai de encontro com o previsto no art. 201, caput,
da CF, com a redação dada pela EC 103:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:
421
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
Note-se que não há nenhuma exigência de que lei complementar trate da previdência social, de
modo geral. O caput, do art. 201, CF, mesmo na redação anterior à EC 103, sempre exigiu que a cobertura
previdenciária das contingências sociais indicadas na Constituição Federal seja tratada por lei ordinária.
48. GABARITO: B.
A assertiva está realmente incorreta, uma vez que vai de encontro com o previsto no art. 201, caput,
da CF, com a redação dada pela EC 103:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:
I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho (...);
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
Perceba que a Emenda 103 não trata mais da doença e da invalidez como contingência social a ser
coberta pela previdência social. A partir da nova redação dada pela referida Emenda, trata-se de cobertura
destinada à incapacidade para o trabalho, a qual pode ser temporária ou permanente. Na redação anterior,
apesar da indicação literal da cobertura de doença, a norma infraconstitucional sempre tratou da doença
incapacitante, ou seja, aquela que gerou efetivamente a restrição funcional laboral do segurado, a ponto de
impedi-lo de trabalhar, temporária ou permanentemente.
A norma constitucional dada pela EC 103, portanto, corrigiu um desvio técnico que poderia gerar
interpretações desconformes com a vontade do Constituinte, eis que a essência da previdência, nesse caso,
é cobrir os riscos pelo afastamento do trabalhador e não apenas a existência da doença em si enquanto ainda
não incapacitante. Lembre-se, ademais, que a partir da EC 103, as denominações auxílio-doença e
aposentadoria por invalidez foram substituídas por benefício por incapacidade temporária e benefício por
incapacidade permanente.
49. GABARITO: A.
A assertiva está perfeita, indo ao encontro do disposto no art. 41, da Portaria nº 450/2020, que assim
diz:
Art. 41. Para a aposentadoria por incapacidade permanente previdenciária, a RMI será de
60% (sessenta por cento) do SB, acrescidos de 2% (dois por cento) para cada ano de
contribuição que exceder 15 (quinze) anos de contribuição, no caso da mulher, e 20 (vinte),
no caso do homem, nos termos do art. 26 da EC nº 103, de 2019.
Além disso, a norma infralegal acima está em perfeita sintonia com o disposto no art. 26, §2º, III c/c
§5º, da Emenda Constitucional nº 103:
Art. 26. Até que lei discipline o cálculo dos benefícios do regime próprio de previdência
social da União e do Regime Geral de Previdência Social, será utilizada a média aritmética
simples dos salários de contribuição e das remunerações adotados como base para
contribuições a regime próprio de previdência social e ao Regime Geral de Previdência
Social, ou como base para contribuições decorrentes das atividades militares de que tratam
422
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
50. GABARITO: B.
Está incorreto o enunciado, de modo que o gabarito a ser marcado é a letra B. Veja que, no caso de
benefício por incapacidade permanente que tenha sido derivado de acidente de trabalho, doença
profissional ou doença do trabalho, não há que se falar em aplicação da regra geral de cálculo estabelecida
pelo art. 26, §2º, da Emenda 103. Aplica-se, neste caso, a exceção prevista no art. 26, §3º, III, da EC 103, bem
como o disposto no art. 42, da Portaria 450/20:
EMENDA 103
Art. 26. Até que lei discipline o cálculo dos benefícios do regime próprio de previdência
social da União e do Regime Geral de Previdência Social, será utilizada a média aritmética
simples dos salários de contribuição e das remunerações adotados como base para
contribuições a regime próprio de previdência social e ao Regime Geral de Previdência
Social, ou como base para contribuições decorrentes das atividades militares de que tratam
os arts. 42 e 142 da Constituição Federal, atualizados monetariamente, correspondentes a
100% (cem por cento) do período contributivo desde a competência julho de 1994 ou desde
o início da contribuição, se posterior àquela competência.
(...)
§2º O valor do benefício de aposentadoria corresponderá a 60% (sessenta por cento) da
média aritmética definida na forma prevista no caput e no §1º, com acréscimo de 2 (dois)
pontos percentuais para cada ano de contribuição que exceder o tempo de 20 (vinte) anos
de contribuição nos casos:
(...)
§3º O valor do benefício de aposentadoria corresponderá a 100% (cem por cento) da média
aritmética definida na forma prevista no caput e no §1º:
(...)
II - no caso de aposentadoria por incapacidade permanente, quando decorrer de acidente
de trabalho, de doença profissional e de doença do trabalho.
PORTARIA 450
Art. 42. Para a aposentadoria por incapacidade permanente acidentária, a RMI será 100%
(cem por cento) do SB.
51. GABARITO: B.
423
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
Está incorreto o enunciado, eis que há nessa regra de transição uma exceção à regra geral da Emenda
103, de que o cálculo dos benefícios previdenciários deve partir da aplicação de um coeficiente de 60% sobre
o salário de benefício. Essa norma geral de cálculo está prevista no art. 26, §2º, da Emenda, mas ela comporta
algumas exceções expressas, sendo uma delas o caso da concessão de benefício por incapacidade
permanente decorrente de acidente de trabalho, doença profissional ou doença do trabalho, enquanto que
a outra hipótese de exceção é justamente o caso da regra de transição da antiga aposentadoria por tempo
de contribuição no RGPS. Essa hipótese de regra de transição está prevista no art. 20, §2º, II, da Emenda 103,
exigindo tempo de contribuição, idade mínima e pedágio de 100% do tempo de contribuição que faltava para
se aposentar na data da vigência da EC 103. Nesse caso, o cálculo do benefício de aposentadoria, portanto,
será feito com base em 100% do salário de benefício:
EMENDA 103
Art. 26. Até que lei discipline o cálculo dos benefícios do regime próprio de previdência
social da União e do Regime Geral de Previdência Social, será utilizada a média aritmética
simples dos salários de contribuição e das remunerações adotados como base para
contribuições a regime próprio de previdência social e ao Regime Geral de Previdência
Social, ou como base para contribuições decorrentes das atividades militares de que tratam
os arts. 42 e 142 da Constituição Federal, atualizados monetariamente, correspondentes a
100% (cem por cento) do período contributivo desde a competência julho de 1994 ou desde
o início da contribuição, se posterior àquela competência.
§1º A média a que se refere o caput será limitada ao valor máximo do salário de
contribuição do Regime Geral de Previdência Social para os segurados desse regime e para
o servidor que ingressou no serviço público em cargo efetivo após a implantação do regime
de previdência complementar ou que tenha exercido a opção correspondente, nos termos
do disposto nos §§14 a 16 do art. 40 da Constituição Federal.
§2º O valor do benefício de aposentadoria corresponderá a 60% (sessenta por cento) da
média aritmética definida na forma prevista no caput e no §1º, com acréscimo de 2 (dois)
pontos percentuais para cada ano de contribuição que exceder o tempo de 20 (vinte) anos
de contribuição nos casos:
(...)
§3º O valor do benefício de aposentadoria corresponderá a 100% (cem por cento) da média
aritmética definida na forma prevista no caput e no §1º:
I - no caso do inciso II do §2º do art. 20;
Art. 20. O segurado ou o servidor público federal que se tenha filiado ao Regime Geral de
Previdência Social ou ingressado no serviço público em cargo efetivo até a data de entrada
em vigor desta Emenda Constitucional poderá aposentar-se voluntariamente quando
preencher, cumulativamente, os seguintes requisitos:
I - 57 (cinquenta e sete) anos de idade, se mulher, e 60 (sessenta) anos de idade, se homem;
II - 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, e 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se
homem;
(...)
§2º O valor das aposentadorias concedidas nos termos do disposto neste artigo
corresponderá:
II - em relação aos demais servidores públicos e aos segurados do Regime Geral de
Previdência Social, ao valor apurado na forma da lei.
PORTARIA 450
Art. 57. A aposentadoria por tempo de contribuição com idade e período adicional de 100%
(cem por cento) terá RMI igual ao SB, que equivale a 100% (cem por cento) da média, na
forma do inciso II do §2º do art. 20 da EC nº 103, de 2019.
Cabe anotar que a regra do art. 26, EC 103 é norma transitória, que valerá, portanto, até que lei
regule a matéria. Tanto é assim, que, como se pode observar, o art. 20, §2º, II, EC 103, assevera que o valor
da aposentadoria tratada naquele dispositivo será apurado na forma da lei. Essa “lei”, entretanto, ainda é o
art. 26, da EC 103, o qual será poderá, futuramente, ser substituído por lei ordinária, dado o fenômeno da
desconstitucionalização operado na reforma da previdência neste e em outros institutos previdenciários.
424
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
52. GABARITO: B.
53. GABARITO: B.
54. GABARITO: B.
55. GABARITO: A.
§7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos da lei,
obedecidas as seguintes condições:
I - 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 62 (sessenta e dois) anos de idade, se
mulher, observado tempo mínimo de contribuição;
425
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO
56. GABARITO: B.
57. GABARITO: B.
Art. 71. O auxílio por incapacidade temporária será devido ao segurado que, uma vez
cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido, ficar incapacitado para o seu
trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de quinze dias consecutivos, conforme
definido em avaliação médico-pericial.
58. GABARITO: B.
§1º Não será devido auxílio por incapacidade temporária ao segurado que se filiar ao RGPS
já portador de doença ou lesão invocada como causa para a concessão do benefício, exceto
quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença
ou lesão.
59. GABARITO: A.
60. GABARITO: B.
§3º Não será devido o auxílio por incapacidade temporária ao segurado recluso em regime
fechado.
61. GABARITO: A.
§9º O segurado recluso em cumprimento de pena em regime aberto ou semiaberto fará jus
ao auxílio por incapacidade temporária.
426
FREDERICO MARTINS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Abner; MASTRODI, Josué. Sobre a teoria dos custos dos direitos. Revista Quaestio Iuris, Rio de
Janeiro v. 09, nº 2, pp. 695-722, 2016. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/267263801_SOBRE_A_TEORIA_DOS_CUSTOS_DOS_DIREITOS
(DOI: 10.12957/rqi.2016.19270). Acesso em: 8 nov. 2021.
AMADO, Frederico. Curso de Direito e Processo Previdenciário. 11ª edição. Salvador: JusPodvim, 2019.
BERBEL, Fábio Lopes Vilela. Teoria Geral da Previdência Social. São Paulo: Quartier Latin, 2005.
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
CANABRAVA, CM et al. sistema Único de Saúde e o terceiro setor: caracterização de entidades não
hospitalares que possuem serviços em atenção básica de saúde em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, pp. 115-126. v. 23, nº 1, jan. 2007.
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. Locais do
Kindle 2812-2816. Forense. Edição do Kindle.
DINIZ, Maria Helena. Conflito de Normas. São Paulo: Editora Saraiva, 2003.
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 24ª Edição. Rio de Janeiro: Ed. Impetus, 2019.
LEITE, Harisson. Manual de Direito Financeiro. 7ª edição. Salvador: Editora JusPodivm, 2018.
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 27ª ed. São Paulo: Ed. Malheiros, 2006.
MONTESQUIEU, Martin Claret. Do Espírito das Leis. São Paulo, 2011. Disponível em:
https://jornalggn.com.br/justica/la-bouche-de-la-loi-no-caso-do-triplex. Acesso em: 5 dez. 2019.
PIOLA, Sérgio F. e Andrea Barreto de Paiva, Edvaldo Batista de Sá, Luciana Mendes Santos Servo
Financiamento Público Da Saúde: Uma História À Procura De Rumo. Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada. Brasília: Rio de Janeiro: Ipea , 1990.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 10ª Edição, Revista e Atualizada, Editora Saraiva
– São Paulo. 2012.
RODOVALHO, Thiago. Magna Carta Ainda Continua A Inspirar Liberdades Contra O Estado Arbitrário.
ConJur, 2015.
427
FREDERICO MARTINS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SANTOS, Marisa Ferreira dos. Direito Previdenciário Esquematizado. 6ª edição – São Paulo, 2016.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 6.ed. 2ª. tiragem. São Paulo: RT, 1990.
SILVA, Leny Pereira da. Direito à saúde e o princípio da reserva do possível. Monografia apresentada como
requisito parcial à obtenção do título de Especialista em Direito Público, no Curso de Pós-Graduação Lato
Sensu, do Instituto Brasiliense de Direito Público – IDP. 2017.
STOLZE, Pablo; PAMPLONA, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: Parte Geral. 14ª edição. Editora Saraiva,
2012, São Paulo.
TARTUCE, Flávio. Breve Estudo das Antinomias ou Lacunas de Conflito. Gen Jurídico, 2015. Disponível em:
http://genjuridico.com.br/2015/02/25/breve-estudo-das-antinomias-ou-lacunas-de-conflito/. Acesso em: 3
nov. 2021.
428