UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA
Ellen Rocha Esteves
Isabela Damasceno
Isabela Müller Cobucci
Lauanny de Almeida Silva
Leandra da Costa Oliveira
Resenha: Ensino de História: Fundamentos e conceitos
JUIZ DE FORA
2022
EDU082 - Fundamentos Teóricos-Metodológicos e Aprendizagem e Prática Escolar em História I
Introdução
Estudar sobre a temporalidade no ensino de História, juntamente a conceitos
como duração, ritmos, níveis, tempo histórico, entre outros, se torna imprescindível
se queremos formar criticamente nossos alunos para que sejam agentes ativos e
não passivos dessa história.
O texto “Ensino de História: fundamentos e conceitos”, de Circe Maria
Fernandes Bittencourt, em suas páginas de 191-215, nos permite aprofundar essas
questões em vista de uma perspectiva de história que engloba não apenas a visão
eurocêntrica, mas o entendimento de que há várias versões de uma mesma história
e nos cabe então falar de “histórias” e não de “história”.
Com a leitura desse texto, conseguimos pensar num ensino crítico e reflexivo
de conceitos que são passados desde sempre a nós em detrimento de outros.
Podemos ponderar também a respeito de datas que são comemoradas enquanto
outras são esquecidas, entre outros aspectos. Além disso, o texto nos ajudará a
rever certos métodos e instrumentos utilizados por nós na escola como as linhas do
tempo e uma maneira mais pontual de trabalhar com tal meio.
EDU082 - Fundamentos Teóricos-Metodológicos e Aprendizagem e Prática Escolar em História I
SEÇÃO 2 — Conhecimento histórico: conceitos fundamentais.
Na seção dois “Conhecimento histórico: conceitos fundamentais” do capítulo
“Aprendizagens em História”, da segunda parte de seu livro “Ensino de História:
Fundamentos e métodos”, Circe Maria Fernandes Bittencourt analisa quais os
principais desafios enfrentados pelos historiadores em selecionar conceitos,
contextualizá-los e utilizá-los na sistematização de dados.
A autora ressalta ainda que o mesmo ocorre com os professores no ensino de
História, porém de forma um pouco diferente. No contexto da sala de aula, é
constante a dificuldade do professor no ensino de História para alunos de diferentes
idades, contextos culturais, condições sociais e vivências. A seção divide-se em
duas partes: História e conceitos e Apreensão de conceitos históricos na
escola.
Primeiramente, ao discorrer sobre o emprego de conceitos para a
compreensão de períodos históricos, Bittencourt destaca que existem algumas
“noções históricas singulares”, isto é, conceitos que são geralmente utilizados para
designar um contexto distinto, tais como renascimento, feudalismo, mercantilismo e
cruzadas. A autora evidencia ainda como diversos conceitos históricos tornaram-se
meios de identificar povos, como bárbaros, donatários, bandeirantes e mercadores.
Bittencourt afirma que a escola utiliza diversos desses conceitos para
designar capítulos de livros didáticos e conteúdos programáticos e há ainda
conceitos provenientes de outras áreas das ciências.
Entretanto, os conceitos empregados frequentemente precisam ser
explicitados para que sejam aplicados corretamente, pois são necessários para
tornar o ensino de história inteligível. Dessa forma, a autora aponta a importância de
o historiador e o professor situarem o contexto histórico de que se trata ao utilizar
determinados conceitos, como ocorre quando se fala sobre escravidão, sendo um
acontecimento que ocorreu em locais e períodos distintos e com povos diferentes.
Nessa perspectiva, realiza-se fundamental o estudo de múltiplas fontes
históricas, de modo a compreender o assunto amplamente, considerando aspectos
econômicos, políticos e culturais de cada época e proporcionando uma
aprendizagem mais crítica e reflexiva.
EDU082 - Fundamentos Teóricos-Metodológicos e Aprendizagem e Prática Escolar em História I
Em seguida, ao versar sobre o emprego de conceitos históricos nas salas de
aula, Bittencourt afirma que o conhecimento histórico se dá por meio da aquisição de
conceitos, informações e valores.
Dessa forma, a autora ressalta a importância do ensino de História atrelado à
relação dos estudantes com as dificuldades geradas pelo uso dos conceitos e
métodos de ensino. Nessa perspectiva, defende que, segundo Piaget, a História
sofre interferências sociais, isto é, pode ser contada do ponto de vista de quem
interessa. Daí a necessidade de se estudar diferentes fontes históricas como meio
de se ter uma interpretação ampla de diversos pontos de vista.
Por fim, Bittencourt discorre sobre o debate de múltiplos pesquisadores a
respeito do uso de métodos de ensino e as críticas em torno do uso de um mesmo
método para o ensino de diferentes disciplinas. Nesse contexto, percebe-se que o
ensino de disciplinas como a História não condiz com as mesmas metodologias do
ensino de exatas, visto que em história devem-se considerar aspectos políticos,
econômicos, culturais e as vivências dos alunos.
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SEÇÃO 3 - Tempo/espaço e mudança social: conceitos históricos
fundamentais
Bittencourt inicia essa nova seção afirmando que “Entre as noções e
conceitos históricos fundamentais tanto para a pesquisa quanto para para o ensino
de História, a noção de tempo histórica e a de espaço são fundamentais. Todo
objeto do conhecimento histórico é delimitado em determinado tempo e sem
determinado espaço.” (BITTENCOURT, 2008, p.199).
A autora afirma que a História é a “ciência dos homens no tempo” e que deve
ser visto como uma construção social, o espaço que foi concebido pelos
historiadores. E para finalizar essa introdução, ela diz que a História escolar não
pode prescindir de um aprofundamento, tanto das noções de tempo histórico e
espaço e da metodologia necessária e adequada a ser usada no processo de
ensino, de aprendizagem e de tais noções.
1. Noções de tempo e espaço
No primeiro tópico da seção 3, Bittencourt traz uma reflexão inicial
sobre as noções de tempo para esclarecer as especificidades do tempo
histórico. Ela fala que existe o que chamamos de Tempo Vivido e pode ser
definido como o tempo de experiência individual, e subdividido como: o tempo
psicológico, onde os acontecimentos agradáveis parecem “passar rápido” e
os desagradáveis parecem “durar mais tempo”. E também em tempo
biológico, que se refere às etapas da vida (infância, adolescência, fase adulta
e velhice) e que em nossa sociedade, ele é marcado por anos de vida e
comemorado com festas de aniversários.Uma curiosidade que a autora traz, é
que em culturas indígenas, a passagem do tempo biológico têm marcas
ritualísticas importantes, realizadas por cerimônias que indicam fases de
crescimento.
O tempo vivido é percebido e apreendido por todos grupos e
sociedades associado diretamente à vida e à morte.
Bittencourt fala também sobre o tempo concebido, que é organizado e
sistematizado pelas diferentes sociedades e tem por finalidade tentar
controlar o tempo vivido. Através do tempo concebido, se instituiu o tempo
cronológico, astronômico e o tempo geológico. Além disso, ele varia de
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acordo com as culturas e gera diferentes relações com o tempo vivido. Por
exemplo: Em uma sociedade capitalista ouvimos “ Tempo é dinheiro” e “Não
se pode perder tempo”. Enquanto isso, alguns grupos indígenas, essa
concepção capitalista gera outras perplexidades. Por exemplo, receber
dinheiro pelo tempo de trabalho e não pelo produto realizado.
As diferentes ciências têm se ocupado em entender o tempo. E
segundo os físicos e astrônomos, o tempo físico tem sido objeto de variadas
concepções. A autora afirma que os estudos psicológicos sobre o tempo
relacionam-se à memória e aos problemas decorrentes da ausência dela, da
amnésia e das variadas perturbações mentais provocadas por doenças. Os
estudos de Piaget contribuíram para visões importantes:“ O espaço é um
instantâneo tomado sobre o curso do tempo e o tempo é o espaço em
movimento” e outra sobre o tempo intuitivo e o tempo operatório.
O tempo intuitivo limita-se às relações de sucessão (antes e depois) e
de duração fornecidas pela percepção imediata, tanto externa quanto interna,
enquanto o tempo operatório se desenvolve relações de sucessão e de
duração por intermédio de operações lógicas. Pode ser métrico, ou
qualitativo.
Bittencourt finaliza esse tópico dizendo que é necessária uma
estruturação biológica para a construção do tempo. Ela também diz que o
espaço e tempo são referências básicas para diferentes áreas do
conhecimento das ciências, o que nos traz o questionamento: Como se situa
a História no processo de apreensões do tempo e do espaço? Como os
historiadores pensam o tempo e o espaço?
2. Historiadores e tempo histórico
Ademais, o texto aborda que todo estudo da história se baseia em dimensões
espaciais e temporais. O domínio da Igreja Católica sobre diversos povos e culturas
determinou vários aspectos que permanecem presentes na nossa sociedade, um
deles é o calendário gregoriano, que atualmente é o modelo mais utilizado no mundo
e, por isso, a organização do tempo cronológico foi marcado pela periodização
cristã. Entretanto, essa maneira linear de organizar o tempo, exclui povos e grupos,
uma vez que considera abranger toda a história da humanidade, mas a organização
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temporal se baseia na ideologia do progresso, dos povos dominantes. Dessa forma,
o historiador sempre precisou esclarecer em que período ocorreu determinado fato
histórico e converter os acontecimentos passados para o presente, mas, além disso,
é seu papel ir além dessa ordenação cronológica e considerar o acontecimento, a
estrutura e a conjuntura para analisar determinado período histórico.
3. Tempo histórico e espaço
É importante frisar que para que seja assegurado o conhecimento e
aprendizagem de história, é preciso que a noção de tempo histórico e espaço sejam
levados em conta. Pois todo o conhecimento histórico é delimitado em determinado
tempo e um determinado espaço, o qual deve ser entendido como uma construção
social. Portanto, o texto traz um aprofundamento muito pertinente sobre essa
temática no tópico 3.3 denominado: “Tempo histórico e espaço”. Nele, é abordado
que se deve, além de relatar as ações humanas, situá-las no espaço. E um dos
instrumentos para isso, é a cartografia, que aqui vale ressaltar o brilhante trabalho
com cartografias para bebês, realizado pelo professor Jader Janes da Universidade
Federal de Juiz de Fora. Na outra parte desse tópico, nos é apresentado às distintas
percepções de espaço, os quais se caracterizam como; imediato que é usar o corpo
como medidor (palmas, pés, braças, etc); geográfico sendo a percepção da região,
da terra como maior que a casa; sociológico o espaço apreendido pelos contatos
comerciais; cultural como a diferenciação das pessoas por seus sotaques e o
espaço político caracteriza pelo domínio/poder da terra nas mãos dos mais ricos. Por
fim, é discorrido que o estudo da natureza, do meio, influencia na compreensão de
uma sociedade, pois o homem não é determinado pelo meio em que vive, porém é
afetado por ele e o afeta, mutuamente.
4. Tempo histórico e ensino
Outro tema tratado no texto é: “Tempo histórico e ensino”, o qual é de grande
importância para futuros professores, pois nele é discutido alguns obstáculos a
serem enfrentados para efetivar a aprendizagem. Sendo uma das maiores
dificuldades dos alunos é localizar e identificar acontecimentos no tempo, antes e
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depois de Cristo e às datações decorrentes dessa divisão temporal. E uma das
motivações para isso, é a limitada referência do tempo histórico com o tempo
cronológico. Visto isso, é nítido que apenas conhecer e memorizar datas não nos faz
especialistas nelas e muito menos constitui algum aprendizado. Para que isso
aconteça efetivamente, é imprescindível um estudo/reflexão sobre o porquê de
essas datas serem lembradas e outras não além de vinculá-las a uma explicação
sobre o que vem antes ou depois, ou o que é simultâneo ou ainda sobre o tempo de
separação de diversos fatos históricos. O trabalho com a linha do tempo é
interessante e muito facilita o ensino deste tempo histórico, contudo este também
deve ser refletido. Dessa forma, um bom meio para usar esse instrumento é associar
à história dos pais e avós dos alunos, para que o conhecimento se torne mais
significativo e próximo das crianças; “Organizar os estudos de História por períodos
é importante, mas depende das marcas de referência.” (p. 213) O texto termina nos
dizendo sobre a importância de se apreender a duração para a compreensão do
tempo histórico. “Pela duração, podem-se compreender as mudanças, as
transformações e as permanências.” (p. 215)