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Resenha Do Livro Usos Sociais Da Ciência

1) Pierre Bourdieu desenvolve o conceito de "campo" para analisar a produção científica como um espaço intermediário entre as forças externas da sociedade e as leis internas da ciência. 2) Existem dois tipos de capital científico - "puro" adquirido por contribuições à ciência, e "institucional" por estratégias políticas - que influenciam as posições e lutas dentro do campo científico. 3) A análise sociológica do campo científico não revela ver

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Resenha Do Livro Usos Sociais Da Ciência

1) Pierre Bourdieu desenvolve o conceito de "campo" para analisar a produção científica como um espaço intermediário entre as forças externas da sociedade e as leis internas da ciência. 2) Existem dois tipos de capital científico - "puro" adquirido por contribuições à ciência, e "institucional" por estratégias políticas - que influenciam as posições e lutas dentro do campo científico. 3) A análise sociológica do campo científico não revela ver

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO EXERCÍCIO E DO ESPORTE


DISCIPLINA: Cultura, esporte e identidade
DOCENTE: Prof. Dr. Marcelo Moreira Antunes
DISCENTE: Fernanda Leocadio

Resenha do livro: Os usos sociais da ciência- Por uma sociologia


clínica do campo científico

Este livro é originado da Conferência e debates organizados pelo grupo Sciences en


questions, no INRA (Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica) em 11 de março de 1997.

Na obra “Os usos sociais da ciência” Pierre Bourdieu desenvolve o conceito de campo.
A reflexão oferecida pelo autor é um contraponto à dinâmica que vem contextualizando as
produções filosófica, artística, literária, científica, dentre outras. Neste contexto vai se iluminado
a importância de promovermos um ambiente favorável a trocas significativas, de modo que seja
permitido o desenvolvimento de reflexões e ações, que muitas vezes não tem valor, justamente
por contrariar convenções que predominam em determinado campo.

O autor apresenta alguns princípios do campo científico que seriam o “desinteresse”, o


“interesse pelo desinteresse” e por fim o “interesse desinteressado”. Vejamos: o desinteresse é a
imparcialidade do cientista ao analisar os resultados de sua pesquisa. O interesse pelo desinteresse
é a crença de que a ciência vale a pena independentemente dos resultados que determinado grupo
almeja. E o interesse desinteressado é partir desta crença na ciência para as ações, no caso os
investimentos, financiamentos em pesquisa sem a preocupação em ser beneficiado com os
resultados encontrados.

Para entender a ciência, Bourdieu nos aponta 2 perspectivas:

- Internalista: o texto científico explica se por si só, é uma ciência sem a intervenção da sociedade,
nomeada como ciência “pura”.

- Externalista: relaciona o texto ao contexto, é uma ciência em estrita relação com a sociedade,
denominada ciência “escrava”.

Diante destas perspectivas o autor nos propõe a noção de “campo”, que significa um
universo intermediário que liga dois polos distantes, também chamado de “microcosmo”,
representando um espaço relativamente autônomo dotado de suas leis próprias.

Existem as pressões externas do “macrocosmo”, sendo forças exercidas mediatizadas pela


lógica do campo. “Uma das manifestações mais visíveis da autonomia do campo é a sua
capacidade de refratar, retraduzindo sob uma forma específica as pressões ou elementos externos”
(p. 22)

Sendo assim é importante percebemos dentro de um campo qual é a natureza destas


pressões, a forma como são exercidas (ordens, contratos, créditos). As formas de manifestar
resistência dentro do campo às pressões externas é o que o autor vai chamar de “autonomia”.
Quanto mais autônomo o campo, maior é a sua capacidade de refração, ou seja, sua capacidade
de transfigurar as demandas externas a ponto destas tornarem se imperceptíveis.

Todo campo é um campo de forças, as lutas travadas ali dentro são para conservação ou
transformação. Estas lutas são estabelecidas pela estrutura das relações objetivas entre os agentes,
ou mais precisamente pela posição que estes agentes ocupam dentro da estrutura, para uma
verdadeira compreensão é necessário saber qual seu lugar de fala. Verifica se que quanto mais os
agentes ocupam uma posição favorecida, ou seja, de poder dentro da estrutura do campo, mais
eles tendem a conservar tal estrutura. É importante ressaltar que estas posições não são imutáveis,
podendo ser alteradas e questionadas.

Esta posição dentro da estrutura é definida pelo acúmulo de “capital”. Para Bourdieu
capital é toda forma de acumulação que leva ao poder, ele indica quatro tipos de capital: “capital
econômico”, “capital social”, “capital cultural”, “capital simbólico”. O capital científico é uma
espécie particular de capital simbólico, que consiste no reconhecimento atribuído aos pares
concorrentes no interior do campo científico, como exemplo temos o número de citações, os
prêmios, as traduções em outras línguas.

Para o autor existe duas espécies de capital científico, pois elas apresentam leis de
acumulação diferentes. O capital científico “puro” adquire-se pelas contribuições reconhecidas
pelo progresso da ciência como exemplo temos as publicações em órgãos extremamente seletivos.
A outra espécie seria o capital científico institucional, adquirido por meio de estratégias políticas,
como exemplo temos cargos de direção, participação em bancas, concursos, colóquios,
comissões. A prática de acúmulo de ambos os capitais é extremamente difícil. Analisando as
variações na forma de transmissão de tais capitais, Bourdieu cita que o capital “puro”
praticamente é mais difícil de ser transmitido, pois está indelevelmente associado à figura do
pesquisador, a seu talento e habilidade. Já o institucionalizado é transmitido com maior facilidade,
seguindo as mesmas regras de transmissão de qualquer capital burocrático. Contudo, apesar dessa
suposta polarização entre os dois tipos de capital, existe a possibilidade de existirem
simultaneamente em um centro de pesquisa, inclusive trazendo benefícios reais as investidas
realizadas em conjunto.
O autor aponta que dentro do campo existem diversos pontos de vista e alerta para que se
faça o uso da ciência da ciência para o progresso da mesma. Cada agente vê o campo com lucidez,
mas partindo do seu próprio ponto de vista.

Diante desta diversidade de olhares, das interpretações tão singulares é preciso não se
esperar revelações radicais das análises sociológicas, no entanto o que se percebe é “[...] que, num
certo sentido, muda tudo, é antes de qualquer coisa uma colocação em perspectiva sistemática de
visões perspectivas que os agentes produzem para as necessidades de suas lutas práticas no
interior do campo[...]” (p.47).

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