AULA: EFEITOS DA CONDENAÇÃO
1. INTRODUÇÃO:
Os efeitos da sentença condenatória estão divididos em:
a) principais; e
b) secundários.
Quando estudamos os efeitos principais, estamo-nos referindo à própria consequência
jurídico-penal primordial/direta/imediata da sentença condenatória; é a aplicação da pena
(privativa de liberdade, restritiva de direito, multa, possível medida de segurança).
Ligadas a essa consequência primordial está a secundária. Os efeitos secundários da
condenação podem ser classificados em penais e extrapenais. Estes, elencados nos arts.
91 e 92 do Código Penal. Aqueles, espalhados pelo ordenamento jurídico pátrio (Código
Penal, Código de Processo Penal e Lei da Execução Penal). Os efeitos extrapenais
repartem-se, ainda, em genéricos e específicos.
2. EFEITOS SECUNDÁRIOS PENAIS:
Como afirmado em linhas anteriores, a simples exposição destes efeitos já se faz
suficiente, no que tange ao presente estudo. Para tanto, válida a exposição feita por
Damásio de Jesus:
“a) é pressuposto da reincidência (CP, art. 63); b) impede, em
regra, o sursis (art. 77, I); c) causa a revogação do sursis (art. 81,
I, e § 1.º); d) causa a revogação do livramento condicional (art.
86);e) aumenta o prazo da prescrição da pretensão executória (art.
110, caput, in fine); f) transitada em julgado, a prescrição da
pretensão executória não se inicia enquanto o condenado
permanece preso por outro motivo (art. 116, parágrafo único); g)
causa a revogação da reabilitação (art. 95); h) tem influência na
exceção da verdade no crime de calúnia (art. 138, § 3.º, I e III); i)
impede o privilégio dos arts. 155, § 2.º; 170; 171, § 1.º; e 180, §
3.º, 1.ª parte, em relação ao segundo crime; j) aumenta a pena da
contravenção de porte de arma branca (LCP, art. 19, § 1.º); l)
constitui elementar da figura típica da contravenção de posse não
justificada de instrumento de emprego usual na prática de furto
(LCP, art. 25).”
3. EFEITOS SECUNDÁRIOS EXTRAPENAIS GENÉRICOS:
Os efeitos extrapenais genéricos têm previsão no art. 91 do CP. Cleber Masson, citado
por Rogério Sanches, observa:
''A interpretação a contrario sensu do artigo 92, parágrafo único,
do Código Penal, mostra serem tais efeitos automáticos, ou seja,
não precisam ser expressamente declarados na sentença. Toda
condenação os produz".
São eles:
a) Tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime (art. 91, I, CP):
Trata-se de efeito automático. Rogério Sanches o define como sendo o mais importante,
entre os efeitos extrapenais genéricos. Para melhor compreensão do artigo, válida a lição
de Bitencourt:
“A sentença penal condenatória faz coisa julgada no cível,
valendo como título executivo, nos termos do art. 584, II, do CPC,
cuja liquidação far-se-á na esfera cível. No entanto, a vítima ou
seus sucessores não estão obrigados a aguardar o desfecho da
ação penal, podendo buscar o ressarcimento do dano através de
ação própria no juízo cível. A obrigação de indenizar, como não
se trata de pena criminal, mas de efeito da condenação, transmite-
se aos herdeiros do delinquente, até os limites da herança.”
b) Confisco dos instrumentos e produtos do crime:
O art. 92 do Código Penal versa sobre o efeito extrapenal genérico do confisco dos bens
utilizados para a prática do crime, assim como do produto decorrente desse crime. Assim
como o efeito estudado anteriormente, é efeito automático.
"São efeitos da condenação:
( ... )
II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou
de terceiro de boa-fé:
a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo
fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito;
b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua
proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso.
§ 1 o Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes
ao produto ou proveito do crime quando estes não forem
encontrados ou quando se localizarem no exterior.
§ 2° Na hipótese do § 1°, as medidas assecuratórias previstas na
legislação processual poderão abranger bens ou valores
equivalentes do investigado ou acusado para posterior decretação
de perda".
Vejamos a observação feita por Rogério Sanches:
“a finalidade do confisco é óbvia: a) impedir a propagação dos
instrumentos idôneos para a prática de crimes; b) não permitir o
enriquecimento ilícito do criminoso; c) e, por fim, desmantelar as
organizações criminosas, destruindo a sua célula nervosa, qual
seja, impressionante capacidade financeira (fortuna), ainda que
localizada no exterior.”
4. EFEITOS SECUNDÁRIOS EXTRAPENAIS ESPECÍFICOS:
Estão previstos no art. 92 do Código Penal. Ao contrário do que ocorre com os efeitos
extrapenais genéricos, não é automático; portanto, é necessário que, neste caso, o juiz aja
motivadamente, na sentença condenatória (art. 92, parágrafo único, CP).
a) Perda de cargo, função pública ou mandato eletivo (inc. I):
Aqui, além da fundamentação, é necessário que estejam presentes alguns requisitos. Neste
sentido, Guilherme de Souza Nucci:
“a) nos crimes praticados com abuso de poder ou violação do
dever para com a Administração Pública, quando a pena aplicada
for igual ou superior a 1 ano; b) nos demais casos, quando a pena
for superior a 4 anos.”
b) incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes
dolosos, sujeitos a pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado
(inc. II):
Assim como no inciso anterior, é necessário que haja o preenchimento de alguns
requisitos para a aplicação desse efeito. Dando destaque a estes requisitos, Fernando
Capez: o efeito em análise "exige quatro requisitos: crime doloso; sujeito a pena de
reclusão; filho, tutelado ou curatelado como vítimas; declaração expressa na sentença".6
c) inabilitação para dirigir veículo (inc. III):
Ainda com amparo em Capez:
“inabilitação para dirigir veículo: exige três requisitos: crime
doloso; veículo como instrumento do crime; declaração expressa
na sentença. A inabilitação é, em princípio, permanente, mas
passível de ser atingida pela reabilitação. Não se deve confundir
essa inabilitação com a suspensão de permissão, autorização ou
habilitação para dirigir veículo aplicável nos crimes de trânsito
(CTB, Lei n. 9.503, de 23-9-1997).”
CITAÇÕES:
1 JESUS, Damásio E. Direito Penal - Parte geral, p. 683 a 684.
2 MASSON, Cleber apud CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal - Parte
geral, p. 499.
3 BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal - Parte geral, p. 1849.
4 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal - Parte geral, p. 501.
5 NUCCI, Guilherme de Souza. - Manual de Direito Penal - Parte geral, p.450.
6 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal - Parte geral, p. 528 a 529.
7 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal - Parte geral, p. 529.
REFERÊNCIA:
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: Parte geral. São Paulo: Saraiva, 2012.
NUCCI, Guilherme de Souza. - Manual de Direito Penal: Parte geral. Rio de Janeiro:
Forense, 2014.
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte geral. Salvador: JusPodivm,
2015.
BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal - Parte geral. São Paulo:
Saraiva, 2012.
JESUS, Damásio E. Direito Penal - Parte geral. São Paulo: Saraiva, 2011.