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A Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece direitos fundamentais para todos os seres humanos. Foi criada pela ONU em 1948 para promover o respeito universal a esses direitos através da educação e medidas progressivas.

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A Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece direitos fundamentais para todos os seres humanos. Foi criada pela ONU em 1948 para promover o respeito universal a esses direitos através da educação e medidas progressivas.

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História

Autor:
Henrique Pacini
Capítulo História

5 O Iluminismo

Declaração Universal dos Direitos Humanos


Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III)
da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948
A Assembleia Geral proclama
A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por
todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade,
tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover
o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional
e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto
entre os povos dos próprios Estados-membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.
Artigo I
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e
consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.
Artigo III
Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo VII
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei.
Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração
e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
Artigo XVII
1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.
Artigo XVIII
Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui
a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença,
pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou
em particular.
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Artigo XIX
Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade
de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por
quaisquer meios e independentemente de fronteiras.
Artigo XXI
1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou por intermédio
de representantes livremente escolhidos.
2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.
3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em
eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente
que assegure a liberdade de voto.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi criada pela ONU, em 1948, e ainda está em vigor.
(Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: < https://brasil.un.org/pt-br/91601-declaracao-universal-dos-direitos-
humanos>. Acesso em: 9 dez. 2020.)

1. De acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, qual é a forma mais eficiente para
a divulgação dos princípios regentes dessa importante carta de direitos?

2. Explique, com suas palavras, o significado de cada um dos artigos, destacados acima, da Declara-
ção Universal dos Direitos Humanos.

3. Como vimos em capítulos anteriores, a sociedade da Idade Média e do Antigo Regime era estamen-
tal, ou seja, as pessoas nasciam e morriam sempre na mesma condição social e havia privilégios
exclusivos para as camadas superiores. Compare as ideias do texto com a sociedade estamental.
Analise suas diferenças.

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4 História
4. O Antigo Regime também era baseado em uma prática política conhecida como Absolutismo, na
qual um soberano “enviado por Deus” detinha todos os poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário)
ficando, muitas vezes, acima das leis. Compare esse tipo de organização política com o que está
determinado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos.

5. Crie uma hipótese para explicar como as ideias da Declaração Universal dos Direitos Humanos
prevaleceram sobre aquelas defendidas pelo Antigo Regime.

No 7o ano, estudamos de que maneira se formaram as monarquias absolutistas, fundamentadas


nas ideias da Igreja e cujas economias eram controladas pelo Estado através das práticas mercantilis-
tas. O Absolutismo e o Mercantilismo, aliados ao pensamento religioso, criaram um modelo político,
econômico e social conhecido como Antigo Regime. Nele, a burguesia conquistou um papel cada vez
mais preponderante, mas ainda era refreada pela nobreza, pelo rei e pela Igreja. No Antigo Regime
não havia igualdade jurídica, isto é, não havia igualdade de todos perante a lei. O rei tinha poderes
absolutos, a sociedade era dividida em estamentos – havia ordens privilegiadas, como a nobreza e o
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História 5
alto clero, ou seja, era uma sociedade baseada na desigualdade –, a economia era controlada pelo rei
e não havia liberdade de expressão nem de pensamento.
Neste capítulo, estudaremos as críticas ao Antigo Regime e os novos ideais pregados pelos filóso-
fos que representavam as aspirações da burguesia a alcançar novos espaços na política e na economia
dos países.

Uma revolução intelectual


A partir do final da Idade Média ocorreu um processo de mudança no pensamento europeu. As Uni-
versidades, o comércio, o Renascimento, as descobertas de outras terras e povos contribuíram para que
a visão de mundo defendida pela Igreja – baseada na fé e nos dogmas estabelecidos por ela – fosse pau-
latinamente deixada de lado. De meados do século XV em diante, passou-se cada vez mais a defender
o racionalismo – o uso da Razão pelo Homem – e a liberdade de pensamento para encontrar a verdade
e descobrir como o mundo e as coisas que existem nele funcionam. No século XVIII, essa nova maneira
de pensar varreu a Europa e o mundo ocidental, ficando conhecida por Iluminismo (ou as Luzes), pois os
homens que participavam desse movimento acreditavam que apenas o conhecimento poderia “iluminar”
as trevas da ignorância e levar a humanidade a uma época de felicidade e prosperidade.
Para os iluministas do século XVIII, a Razão era uma força espiritual existente em cada ser humano,
que levava os homens à descoberta da verdade através do pensamento. Os iluministas defendiam que
o Homem podia encontrar o conhecimento através da Razão e não dependia de ninguém para isso,
a não ser dele mesmo. O Universo era como uma grande máquina, governada por leis naturais, que
podiam ser conhecidas e desvendadas por meio do estudo de seus fenômenos. Era necessário pesar,
comparar, julgar, avaliar, separar em partes ou juntar vários objetos ou fenômenos para comprovar
suposições e, assim, descobrir a verdade e adquirir novos conhecimentos. De acordo com essa visão,
todos os problemas poderiam ser solucionados pela Razão. Essa concepção libertou o Homem dos
dogmas da Igreja, pois ele já não dependia mais das Sagradas Escrituras (e da Igreja que as interpre-
tava) para descobrir a verdade sobre as coisas.

© Domínio público

Durante o século XVIII, na França, as ideias iluministas eram propagadas em casas da aristocracia, onde havia debates filosóficos.
“Leitura da ‘Tragédia dos órfãos da China’ de Voltaire no Salão da Madame Geoffrin”. Óleo de Anicet-Charles-Gabriel Lemonnier
(1743-1824). Museu nacional do castelo de Malmaison e de Bois-Préau.

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6 História
Os iluministas defendiam que o Homem possui direitos naturais, que não poderiam ser desrespei-
tados por quem quer que fosse. Tudo o que fosse contrário às leis e aos direitos naturais era conside-
rado irracional e, portanto, falso. Entre esses direitos, podemos destacar o direito à vida, à liberdade
de pensamento e ação, à propriedade. Dessa forma, ao desenvolver suas ideias, passaram a criticar
a monarquia absoluta e o mercantilismo, pois esses sistemas contradiziam as leis e os direitos natu-
rais – o primeiro privava os homens da liberdade política, enquanto o segundo era contrário às leis
naturais da economia, como veremos adiante.
Na verdade, o Iluminismo foi o auge de uma mudança no pensamento europeu que vinha ocorren-
do desde o Renascimento. Essa mudança era acompanhada pela ascensão da burguesia, que enrique-
cia e participava cada vez mais do poder. Como vimos nos capítulos anteriores, o rei e a burguesia
fizeram uma aliança, que resultou no Absolutismo e no Mercantilismo. Com o tempo, porém, tanto
o Absolutismo quanto o Mercantilismo passaram a oferecer obstáculos para a burguesia, que se via
limitada em sua influência política pelo poder do rei e impedida de obter mais lucros nos negócios
por causa dos monopólios mercantilistas. Assim, podemos dizer que o Iluminismo, surgido entre os
setores cultos descontentes da sociedade, acabou sendo um ideal da burguesia, que desejava acabar
com as limitações absolutistas e mercantilistas aos seus negócios.

1. (ENEM) O texto abaixo, de John Locke (1632-1704), revela algumas características de uma de-
terminada corrente de pensamento.

Se o homem no estado de natureza é tão livre, conforme dissemos, se é senhor absoluto da


sua própria pessoa e posses, igual ao maior e a ninguém sujeito, por que abrirá ele mão dessa
liberdade, por que abandonará o seu império e sujeitar-se ao domínio e controle de qualquer
outro poder?
Ao que é óbvio responder que, embora no estado de natureza tenha tal direito, a utilização
do mesmo é muito incerta e está constantemente exposto à invasão de terceiros porque, sendo
todos senhores tanto quanto ele, todo homem igual a ele e, na maior parte, pouco observadores
da equidade e da justiça, o proveito da propriedade que possui nesse estado é muito inseguro
e muito arriscado. Estas circunstâncias obrigam-no a abandonar uma condição que, embora
livre, está cheia de temores e perigos constantes; e não é sem razão que procura de boa vontade
juntar-se em sociedade com outros estão já unidos, ou pretendem unir-se, para a mútua
conservação da vida, da liberdade e dos bens a que chamo de propriedade.
Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1991.

Do ponto de vista político, podemos considerar o texto como uma tentativa de justificar:

a) a existência do governo como um poder oriundo da natureza.

b) a origem do governo como uma propriedade do rei.

c) o absolutismo monárquico como uma imposição da natureza humana.

d) a origem do governo como uma proteção à vida, aos bens e aos direitos.

e) o poder dos governantes, colocando a liberdade individual acima da propriedade.

2. Durante o século XVIII, filósofos iluministas criticavam duramente o regime autoritário de mo-
narcas absolutistas. Para Rousseau, por exemplo, o Absolutismo dos reis franceses era um
obstáculo político para a soberania do povo.

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História 7
Com base nessa informação, responda às questões a seguir:

a) Identifique nos princípios iluministas as propostas de mudanças sociais, políticas e econô-


micas reivindicadas pelos principais filósofos do movimento.

b) Em sua opinião, por que o antigo regime era um empecilho para a construção de uma so-
ciedade livre e justa?

As Luzes
Entre os precursores do Iluminismo do século XVIII, podemos destacar René Descartes, Isaac Newton
e John Locke. Esses pensadores viveram no século XVII e influenciaram os filósofos do século XVIII.
© Domínio público

© Domínio público
© Domínio público

René Descartes. Isaac Newton. John Locke.

René Descartes (1596/1650) foi considerado o pai da filosofia moderna, iniciando o racionalismo.
Escreveu o Discurso do Método, livro no qual expôs sua metodologia científica, ou seja, a forma pela
qual se deveria aplicar a razão para adquirir mais conhecimento. Descartes procurava encontrar uma
verdade que fosse incontestável. Para isso, começou a duvidar de tudo o que conhecia até então, até
mesmo de sua própria existência. No entanto, percebeu que, ao fazer isso, estava pensando e que,
portanto, a primeira verdade incontestável que encontrou foi o fato de que pensava. O fato de pensar
logo comprovava que ele existia – sua segunda verdade incontestável. Sua frase mais famosa é “Penso,
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logo existo”. A partir desse pensamento, Descartes construiu todo o seu sistema filosófico, baseado nas
verdades matemáticas, pois nessa disciplina os fatos são comprováveis através de cálculos. Segundo
Descartes, para se alcançar a verdade, o Homem deveria aceitar apenas o que a razão pudesse de-
monstrar. Se considerarmos que até então era costume acatar sem questionamento as verdades reve-
ladas pelas Escrituras, podemos verificar como as ideias de Descartes eram revolucionárias.
Isaac Newton (1642/1727) é considerado o pai do mecanicismo, no qual o Universo é visto como
uma grande máquina. Acreditava na existência de Deus, mas afirmava que Ele não era capaz de mo-
dificar as leis da natureza, uma vez que se manifestava nas próprias leis universais.
John Locke (1632/1704) defendia a existência de direitos naturais inerentes ao Homem, como os
direitos à vida, à liberdade de expressão e aos bens materiais. De acordo com ele, esses direitos de-
veriam ser garantidos por uma Constituição e, na luta por esses direitos, o povo estava autorizado a
se rebelar contra seus governantes, caso esses os desrespeitassem. A teoria da liberdade individual
dos cidadãos ficou conhecida como liberalismo político. Ao contrário de Descartes, que defendia ser o
conhecimento adquirido apenas pelo ato de pensar do Homem, Locke acreditava que o conhecimento
só era adquirido através da experiência dos sentidos. Assim, enquanto Descartes era defensor do ra-
cionalismo, Locke defendia o empirismo.

O século XVIII ficou conhecido pelos historiadores como o “Século das Luzes”. A atitude de seus
filósofos era diferente de seus predecessores. Enquanto até o século XVII os filósofos mantinham-se
isolados do público em geral, os iluministas do século XVIII tinham por objetivo divulgar o conhe-
cimento e interferir nos acontecimentos de seu tempo, aproveitando o desenvolvimento da im-
prensa, que proporcionava uma difusão de ideias mais rápida e para um público maior. Com isso,
criaram um círculo cada vez mais amplo de pessoas cultas e possibilitaram o surgimento de uma
“opinião pública”.

Entre os filósofos iluministas, podemos destacar Charles-Louis de Secondat, Barão de Montesquieu


(1689/1755). Montesquieu, como ficou conhecido, escreveu um livro intitulado O Espírito das Leis, no
qual analisa as diversas formas de governo para provar que a melhor organização política é aquela na
qual existem poderes que se controlam mutuamente: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Sua obra
influenciou a política contemporânea e, atualmente, a maioria dos países, sejam eles monárquicos,
sejam eles republicanos, adota essa divisão de poderes.

Outro filósofo muito importante foi François-Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire
(1694/1778). Voltaire fazia duras críticas aos privilégios da Igreja e da nobreza, defendendo as liber-
dades individuais. Criticava o Absolutismo e defendia a participação da burguesia no exercício do
poder. Influenciou vários governantes europeus, que ficaram conhecidos como déspotas esclarecidos,
como veremos adiante.

Jean-Jacques Rousseau (1712/1778) foi um dos filósofos mais radicais


do Iluminismo. Criticava o Absolutismo, a sociedade burguesa e a pro-
priedade privada. Em seu livro O Contrato Social afirmava que, para
combater a desigualdade produzida pela propriedade privada, os in-
divíduos deveriam realizar um pacto entre si, em que cada um deve-
ria se submeter à vontade da comunidade. Para ele, os governantes
© Domínio público

eram apenas funcionários do povo – o verdadeiro soberano –, encar-


regados de promover a execução das leis.

Os ideais iluministas tinham como principal meio de divulgação


a Enciclopédia, ou Dicionário Racional das Ciências, das Artes e dos
Ofícios, organizada por Denis Diderot e Jean d’Alembert e compilada
a partir de 1751. Possuía 28 volumes e vários filósofos participaram
de sua elaboração, como Voltaire, Montesquieu e Rousseau. Seus 130
colaboradores eram filósofos, médicos, matemáticos, advogados, profes-
Voltaire.
sores, sacerdotes, enfim, diversos tipos de intelectuais. Os autores fica-
ram conhecidos como enciclopedistas.
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Os iluministas aplicaram o conceito das leis naturais à economia. François Quesnay (1694/1774),
Turgot (1727/1781) e Vincent de Gournay (1712/1759) criaram uma teoria que ficou conhecida
como escola fisiocrata, propondo que a economia funcionava por si mesma, de acordo com suas
próprias leis. Para eles, a terra e a agricultura eram a maior fonte de riqueza e o Estado, um mal
necessário, cabendo-lhe assegurar a proteção às pessoas e a seus bens materiais. Defendiam o
livre comércio, a abolição dos monopólios e das taxas alfandegárias. Suas ideias seriam a base do
liberalismo econômico.

Influenciado pelas ideias dos fisiocratas, o escocês Adam Smith


(1723/1790) escreveu a obra A Riqueza das Nações, na qual expôs suas
principais ideias. Smith acreditava que, em vez da terra e da agricultu-
ra, a verdadeira fonte de riqueza era o trabalho, pois este era capaz
de transformar a natureza em coisas úteis. Para ele, o Estado não
tinha o direito de intervir na economia, pois isso causaria um dese-

© Domínio público
quilíbrio nas leis naturais que a regulavam. De acordo com Adam
Smith, a economia era regulada pela lei da oferta e da procura.
Caso houvesse uma grande oferta de algum produto, seu preço
baixaria. Se houvesse uma grande procura, seu preço, ao contrá-
rio, aumentaria. Essa lei condicionava o que deveria ou não ser
produzido pelo país. Assim, havia uma “mão invisível” que contro-
lava a economia de um país e, toda vez que o governo interviesse,
esse equilíbrio seria rompido. Seu pensamento influenciou a burguesia
de sua época, desejosa de se ver livre dos monopólios reais. Além disso,
determinou todo o pensamento econômico dos séculos XIX e XX e
Adam Smith.
ainda hoje suas doutrinas são seguidas pelos economistas neoliberais.

3. A Inquisição é, como se sabe, uma invenção admirável e absolutamente cristã destinada a tornar o
papa e os monges mais poderosos e a tornar todo um reino hipócrita.
(VOLTAIRE. Dicionário Filosófico)

Podemos afirmar que a Igreja perdeu sua influência sobre as pessoas com a divulgação das
ideias iluministas? Justifique sua resposta a partir da afirmação de Voltaire.

4. O objetivo destas colônias é o de praticar o comércio em melhores condições do que aquelas em que
é praticado com os povos vizinhos, com os quais as vantagens são recíprocas. Estabeleceu-se que
somente a metrópole poderia comerciar com a colônia... A desvantagem das colônias, que perdem a
liberdade de comércio, é compensada pela proteção da metrópole, que a defende com as suas armas.
(MONTESQUIEU. Do Espírito das Leis)
a) Explique, com suas palavras, o texto de Montesquieu.

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b) A que tipo de prática econômica ele está se referindo? Explique-a.

c) Faça um comentário sobre essa prática econômica, a partir das ideias de Adam Smith.

Analise suas diferenças. Como vimos, os iluministas defendiam, entre outras coisas, a liberdade de
expressão e de pensamento e um governo que representasse o desejo dos cidadãos. Esses ideais estão
presentes até hoje na forma como entendemos e organizamos o nosso sistema político.

Com a ajuda de seu(sua) professor(a), leia o texto abaixo e identifique alguns dos valores e princípios
do Iluminismo no estatuto de diferentes partidos políticos brasileiros.

“Art. 2o O PSDB tem como base a democracia interna e a disciplina e, como objetivos programá-
ticos, a consolidação dos direitos individuais e coletivos; o exercício democrático participativo e
representativo; a soberania nacional; a construção de uma ordem social justa e garantida pela
igualdade de oportunidades; o respeito ao pluralismo de ideias, culturas e etnias; e a realização do
desenvolvimento de forma harmoniosa, com a prevalência do trabalho sobre o capital, buscando a
distribuição equilibrada da riqueza nacional entre todas as regiões e classes sociais.” (Estatuto do
Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB, 2007)
“Art. 1o O Partido dos Trabalhadores (PT) é uma associação voluntária de cidadãs e cidadãos que
se propõem a lutar por democracia, pluralidade, solidariedade, transformações políticas, sociais,
institucionais, econômicas, jurídicas e culturais, destinadas a eliminar a exploração, a dominação,
a opressão, a desigualdade, a injustiça e a miséria, com o objetivo de construir o socialismo demo-
crático.” (Estatuto do Partido dos Trabalhadores – PT, 2007)
“Art. 2o O PARTIDO VERDE – PV, tem como objetivo alcançar o poder político institucional, de
forma pacífica e democrática, em suas diversas instâncias, para aplicar e propagar o seu Programa.”
Art. 6o Não podem se filiar ao PV indivíduos comprovadamente responsáveis por violação dos
direitos humanos, agressão ao meio ambiente ou corrupção, bem como atitudes ou manifestações
ofensivas ou discriminatórias à origem étnica, ao sexo e à religião.” (Estatuto do Partido Verde –
PV, 2005)

1. Qual é o aspecto do Iluminismo que está presente no estatuto dos três partidos políticos?

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História 11
2. Retire dos textos pelo menos um trecho de cada um dos três estatutos que evidencie como os
diferentes partidos políticos brasileiros estão relacionados aos ideais iluministas.

O despotismo esclarecido
A partir de meados do século XVIII, vários soberanos europeus adotaram algumas ideias iluministas
em seus governos. Esses governantes procuravam modernizar seus países, que estavam atrasados em
relação à França e à Inglaterra. Ficaram conhecidos como déspotas esclarecidos. Na verdade, esses
governantes adotaram os ideais iluministas em seus países sem abrir mão do Absolutismo. No plano
econômico, adotaram medidas mercantilistas, enquanto no plano social adotavam as ideias iluministas
que não entrassem em conflito com o Absolutismo, como o combate à influência da Igreja.
Em última análise, o despotismo esclarecido tinha como objetivo buscar uma conciliação de in-
teresses entre o Absolutismo e a burguesia, a fim de evitar que houvesse rebeliões ou mesmo revo-
luções em seus países. Entre os principais déspotas esclarecidos, podemos destacar: Frederico II, da
Prússia; Catarina II, a Grande, da Rússia; José II, da Áustria; e o Marquês de Pombal, em Portugal.

5. “Porque em virtude dessa autoridade [do rei] que se lhe confere por cada homem particular no Es-
tado, possui e utiliza tanto poder e fortaleza, que, pelo terror que inspira é capaz de conformar as
vontades de todos eles para a paz, em seu próprio país, e para a mútua ajuda contra seus inimigos,
no estrangeiro.”
(HOBBES, Thomas. Leviatã)

“Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja de toda a força comum a pessoa e os
bens de cada associado, e pela qual, cada um, unindo-se a todos, não obedeça, portanto, senão a si
mesmo, e permaneça tão livre como anteriormente. Tal é o problema fundamental cuja solução é
dada pelo contrato social.”
(ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato Social)

a) O filósofo Thomas Hobbes, muito criticado pelos iluministas, trata a autoridade do rei de que
maneira?

b) Se, para Rousseau, a autoridade do rei não pode estar acima da sociedade, qual é a solução
apresentada por ele?

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12 História
c) Ambos os textos tratam do mesmo assunto. Aponte-o.

d) Em que os textos concordam e em que eles discordam?

O Iluminismo influenciou grandes transformações nos séculos XVIII e XIX e, ainda hoje, sentimos a
influência de seus pensadores. As ciências e o conhecimento avançaram e a ideia de progresso, ou seja,
de contínuo melhoramento do homem e da sociedade, passou a fazer parte do dia a dia das pessoas. A
partir daí, não havia mais limites para o saber humano. Muitas doutrinas políticas, sociais e econômicas
dos séculos XIX e XX foram baseadas nos ideais iluministas. O Iluminismo prometia uma era de prospe-
ridade, fraternidade e felicidade, por meio do conhecimento adquirido pelo uso da Razão.
As independências das colônias americanas e a Revolução Francesa tiveram como base os ideais
iluministas e ajudaram a consolidar a visão burguesa de mundo. A partir desses acontecimentos, surgiu
o mundo burguês, isto é, o mundo controlado pela burguesia, como veremos nos próximos capítulos.
Immanuel Kant, escrevendo em 1789, ano da Revolução Francesa, definiu o Iluminismo dessa maneira:
O que são as Luzes? A saída do Homem de sua minoridade pela qual ele próprio é responsável.
Minoridade, isto é, incapacidade de se servir de seu entendimento sem a direção de outrem,
minoridade pela qual ele é responsável, uma vez que a causa reside não em um defeito do
entendimento, mas numa falta de decisão e coragem em se servir dele sem a direção de outrem.
Sapere aude! (Ousai saber!). Tem a coragem de te servir de teu próprio entendimento. Eis a divisa
das Luzes.

Filme sugerido: Amadeus – Milos Forman, 1984.


Livro sugerido: Robinson Crusoé, de Daniel Defoe. Villa Rica editora

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História 13
Arbitrariamente: injustamente. Jurisdição: área sob influência de uma autoridade
Contradiziam: tinham ideias contrárias. jurídica.
Distinção: diferença. Prevalência: predominância.
Dotadas: equipadas. Programáticos: do programa, do planejamento.
Institucional: relativo às instituições do governo. Sufrágio: eleição.

A imagem ao lado é uma reprodução do frontispício da Enciclo-


pédia de Diderot e D’Alembert. Ela foi pintada por Charles-Nicolas

© Domínio público
Cochin e é carregada de simbolismo. Acima e ao centro podemos
ver a Verdade. Sobre ela brilha a luz da Iluminação. À sua esquer-
da está a Imaginação, preparando-se para adorná-la. À sua direita,
coroada, está a Razão e, mais abaixo, também puxando o véu que
encobre a Verdade, podemos observar a Filosofia. Ajoelhada aos
pés da Verdade, segurando uma Bíblia, está a Teologia.
Comente essa imagem e seu simbolismo. Em sua opinião ela
é correta? Justifique sua resposta.

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14 História
Capítulo
História

6 A Independência
dos Estados Unidos

Cremos como verdades evidentes por si próprias que todos os homens nasceram iguais, que rece-
beram de seu Criador alguns direitos inalienáveis; que entre estes direitos estão a vida, a liberdade
e a procura da felicidade; que é para assegurar estes que os Governos foram instituídos entre os
homens e seu justo poder advém somente do consentimento dos governados; todas as vezes que uma
forma de Governo torna-se destruidora destes fins, o povo está no direito de modificá-la ou aboli-la
e instituir um novo Governo, estabelecendo seus fundamentos nos princípios, e organizando seus
poderes nas formas que lhe parecerão as mais próprias para realizar sua segurança e felicidade...
E, para sustentar esta Declaração, com uma firme confiança na proteção da Divina Providência, nós
empenhamos mutuamente as nossas vidas, os nossos bens e a nossa honra sagrada.
(Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, 04/07/1776)

1. Explique com suas palavras as ideias do texto acima.

2. Quando estudamos a colonização inglesa na América do Norte, vimos que os ingleses estabelece-
ram treze colônias no continente, algumas de exploração e outras de povoamento. Você se lembra
das diferenças entre esses dois tipos de colonização? Descreva-as abaixo.

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3. A partir do que você aprendeu sobre o Iluminismo e a colonização inglesa na América do Norte, ela-
bore uma hipótese para explicar os motivos que levaram os colonos a declarar sua independência.

Os ideais iluministas não se limitaram ao continente europeu. Na América inglesa, os colonos, in-
satisfeitos com a política mercantilista imposta pela metrópole, valeram-se das ideias das Luzes para
justificar sua independência em relação à Inglaterra, como veremos a seguir.

A Independência dos Estados Unidos


Como vimos no 6o ano, na América do Norte foram estabelecidas treze colônias inglesas, divididas en-
tre colônias de exploração ao Sul e de povoamento
ao Norte. Durante os séculos XVI e XVII, essas colô- As treze colônias na época da independência
nias, principalmente as do Norte, foram deixadas
por conta própria pela metrópole, devido aos con- CANADÁ
flitos em que a Inglaterra se envolveu na Europa. ço MAINE
en
ur
Dessa maneira, os colonos ingleses acostumaram- o
Lo

-se com o autogoverno e com a liberdade de ação Rio NEW HAMPSHIRE
nas colônias. Essa falta de fiscalização das colônias NOVA
YORK Boston MASSACHUSETTS
permitiu o surgimento de manufaturas na Nova In-
RHODE ISLAND
glaterra, que passaram a buscar novos mercados Nova York CONNECTICUT

para seus produtos nas colônias do Sul, na África PENSILVÂNIA


Filadélfia NOVA JÉRSEI
e no Caribe, fazendo concorrência com a metró- Baltimore
pole. A elite mercantil colonial passou a dominar a MARYLAND
s

DELAWARE
che

economia da colônia. Isso desagradou a burguesia


pala

VIRGÍNIA
da metrópole, principalmente após a Revolução In-
es A

Richmond
dustrial, no século XVIII, pois a Inglaterra precisava
t
Mon

cada vez mais de compradores para seus produtos CAROLINA


DO NORTE
e de fornecedores de matéria-prima. Assim, a co- OCEANO
CAROLINA
roa britânica procurou obrigar as colônias a cum- DO SUL ATLÂNTICO
prir os Atos de Navegação. Como já estudamos, Charleston
os atos de navegação eram medidas tomadas pelo GEÓRGIA
Savannah
governo inglês para proteger seu mercado interno
e o seu comércio externo. N

As medidas inglesas geraram grande descon-


tentamento nas colônias americanas, que não
0 200 400 km
concordavam com a interferência inglesa em
seus negócios. Baseando-se nos ideais do Ilumi-
nismo, os colonos ingleses passaram a contestar As Treze Colônias
o domínio da metrópole sobre as Treze Colônias. (Fonte: Com base em ARRUDA, José Jobson de A. Atlas Histórico Básico.
Outro fator agravou as relações entre os colonos São Paulo: Ática, 2009.)

e a metrópole: a Inglaterra e a França envolve-


ram-se em uma guerra na Europa e no continente americano, conhecida por Guerra dos Sete Anos
(1756/1763). Apesar de sair vitoriosa do conflito, recebendo o Canadá, a Índia e a Flórida, a Inglaterra
passou a ter grandes dificuldades financeiras, devido aos custos elevados da guerra. Para solucionar
esse problema, os ingleses passaram a cobrar vários impostos dos colonos americanos e a fiscalizar
a distribuição das terras americanas.
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16 História
Em 1763, o governo inglês proibiu os colonos de tomar as terras a oeste do rio Ohio, com o objetivo de
leiloar essas terras e arrecadar dinheiro. As terras eram a principal riqueza para os colonos, principalmen-
te para os grandes produtores do Sul, que necessitavam sempre de novas terras para suas lavouras. Isso
aumentou o descontentamento dos colonos em relação à metrópole. A Coroa estabeleceu impostos sobre
a produção e publicação de livros, sobre produtos que não vinham da Inglaterra ou de suas colônias, e
ainda sobre diversos produtos, como chá, vidro, papel, corantes etc. Além disso, determinou que a Com-
panhia Inglesa das Índias tivesse o monopólio do comércio de alguns produtos, como o chá. Essas medi-
das foram acompanhadas pela instalação de tropas inglesas e medidas de repressão aos descontentes.
Revoltados com as medidas in-

© Domínio público
glesas, os colonos realizaram vários
atos de revolta, como o episódio co-
nhecido como Boston Tea Party (Festa
do Chá de Boston), no qual colonos,
disfarçados de indígenas, atacaram e
destruíram um carregamento de chá
dos navios da Companhia Inglesa das
Índias. Em represália, os ingleses in-
terditaram o porto de Boston para o
comércio e instalaram tropas até os
prejuízos serem pagos pelos colo-
nos. As leis e os impostos decretados
pelos ingleses ficaram conhecidos
como Leis Intoleráveis. Boston Tea Party – Colonos ingleses atacam o carregamento de chá.

Assim, em 1774, representantes das treze colônias reuniram-se no Congresso Continental, na Fila-
délfia, exigindo o fim das Leis Intoleráveis. Como suas exigências não foram atendidas, os colonos re-
alizaram o Segundo Congresso Continental, também na Filadélfia, onde foi aprovada a Declaração de
Independência, elaborada por Thomas Jefferson e publicada em 4 de julho de 1776. Essa declaração
era baseada nos ideais iluministas (igualdade, liberdade, direito de escolher os próprios governantes
etc.) e a data de sua publicação é comemorada como o Dia da Independência dos EUA. Entretanto, a
independência dos Estados Unidos não ocorreu prontamente. A Guerra de Independência durou cinco
anos e os colonos tiveram a ajuda da França, que desejava se vingar dos ingleses pela derrota na
Guerra dos Sete Anos. Com a ajuda francesa, os colonos puderam vencer os ingleses em 1781. Dois
anos depois, em 1783, os colonos e os ingleses assinaram um acordo através do qual a Inglaterra
reconhecia a independência de suas ex-colônias.
© Domínio público

Quadro do pintor John Trumbull, de 1819. Encontra-se no Capitólio dos Estados Unidos (Washington
D.C.) e representa a apresentação ao Congresso do documento que estabelecia a Declaração de
Independência dos Estados Unidos.
8A-HIS-L2-21
História 17
Após a independência, os colonos trataram de organizar o governo do novo país. Optaram pelo
regime republicano, mas devemos ter em mente que a independência foi organizada pelos grandes
proprietários de terras e pelos mercadores mais ricos, que desejavam manter para si mesmos o poder
político, em detrimento do povo. Assim, foi estabelecido o voto censitário – apenas os proprietários
poderiam votar e ser eleitos –, e a eleição para presidente ficou indireta (a população votava nos elei-
tores, que depois votavam no presidente). Esse sistema ainda vigora nos EUA.

Além da forma de governo, os estadunidenses preocupa-

© Domínio público
ram-se com a unidade do novo país. Devemos lembrar que
eram treze colônias e não uma só. O próprio nome, Estados
Unidos da América, mostra que o novo país foi a união das
treze colônias originais em torno de um ideal comum: a in-
dependência. Entretanto, essas colônias, agora chamadas de
Estados, às vezes, nada tinham em comum, fora o desejo de
independência. Muitas tinham mais contato com a Inglaterra
do que com suas vizinhas. Surgiram duas tendências entre os
norte-americanos: aqueles que queriam um governo central
forte, que controlasse os Estados, eram chamados de “federa-
listas”; os que desejavam a autonomia para os Estados ficaram
conhecidos por “antifederalistas”. A disputa entre federalistas
e antifederalistas durou de 1776 a 1787, quando a posição
federalista venceu e foi aprovada a Constituição dos Estados
Unidos da América. Baseada nos moldes iluministas, a Cons-
tituição combinava as propostas federalista e antifederalista
(através de emendas constitucionais) e estabelecia uma repú-
blica com três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário).
O primeiro presidente foi George Washington, general que
se destacou durante a Guerra de Independência. George Washington, primeiro presidente dos EUA.

1. (Enem) Em 4 de julho de 1776, as treze colônias que vieram inicialmente a constituir os Estados
Unidos da América (EUA) declaravam sua independência e justificavam a ruptura do Pacto Colonial.
Em palavras profundamente subversivas para a época, afirmavam a igualdade dos homens
e apregoavam como seus direitos inalienáveis: o direito à vida, à liberdade e à busca da
felicidade. Afirmavam que o poder dos governantes, aos quais cabia a defesa daqueles direitos,
derivava dos governados.
Esses conceitos revolucionários que ecoavam o Iluminismo foram retomados com maior
vigor e amplitude treze anos mais tarde, em 1789, na França.
(Emília Viotti da Costa. Apresentação da coleção. In: Wladimir Pomar. Revolução Chinesa. São Paulo: UNESP, 2003. Adaptado.)

Considerando o texto acima, acerca da independência dos EUA e da Revolução Francesa, assinale
a opção correta.

a) A independência dos EUA e a Revolução Francesa integravam o mesmo contexto histórico, mas
se baseavam em princípios e ideais opostos.

b) O processo revolucionário francês identificou-se com o movimento de independência norte-


-americana no apoio ao absolutismo esclarecido.

c) Tanto nos EUA quanto na França, as teses iluministas sustentavam a luta pelo reconhecimento
dos direitos considerados essenciais à dignidade humana.
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18 História
d) Por ter sido pioneira, a Revolução Francesa exerceu forte influência no desencadeamento da
independência norte-americana.

e) Ao romper o Pacto Colonial, a Revolução Francesa abriu o caminho para as independências das
colônias ibéricas situadas na América.

2. Observe a imagem abaixo:


Nela podemos observar uma banda norte-americana chamada

© R. Gino Santa Maria – Shutterstock


“Sounding Fathers” (um trocadilho com o inglês “founding fathers”
ou “pais fundadores”). Essa banda tocou em uma série de eventos
conhecida como “Protestos do Tea Party”. Foi um movimento con-
servador contra o aumento de impostos nos EUA no primeiro ano do
mandato do presidente Barack Obama. A partir dessas informações
e do que você aprendeu neste capítulo:

a) Explique o que foi o Tea Party original.

b) Por que os membros do movimento estariam resgatando fatos e vestimentas da história


norte-americana?

A formação dos Estados Unidos não foi fácil. Como vimos, havia a disputa entre os federalistas e os
antifederalistas e as diferenças entre os treze novos Estados eram muito profundas. Uma parte desse
problema foi resolvida através da criação de mitos, ou seja, de histórias fictícias sobre a origem do povo
americano, que ajudariam na criação de uma história em comum para os treze Estados. Veja, abaixo, a
análise que a historiadora Mary Anne Junqueira faz sobre o mito de criação da nação norte-americana.
Em seguida, analise o trecho final do discurso de posse do presidente estadunidense Barack Obama,
proferido em 20 de janeiro de 2009.

A identidade nacional
Além da fragmentação política da Confederação, é preciso lembrar que a sociedade norte-
-americana era composta por imigrantes de várias origens e grupos religiosos distintos. A própria
existência de uma Confederação era sinal de que não havia unidade no novo país. Se se perguntas-
se a uma grande parte dos norte-americanos da época: “Quem é você?”, a resposta possivelmente
seria:

8A-HIS-L2-21
História 19
“Sou inglês das colônias do Atlântico ou sou virginiano”. A consciência nacional – o sentimento de
que, independentemente da origem, eram norte-americanos – não apareceu da noite para o dia.
Num primeiro momento, foi-se criando um sentimento de que não eram mais súditos do rei, nem
ingleses no Novo Mundo. Aos poucos, foi construída uma identidade norte-americana. Criava-se, portan-
to, uma unidade política, mas havia também a necessidade de se criar uma identidade cultural norte-
-americana. Algo que fizesse com que todos se sentissem pertencentes a uma mesma comunidade.Era,
portanto, necessário adotar símbolos que dessem unidade e fornecessem aos indivíduos um sentimento
de pertencimento. O que um habitante de Massachusetts teria em comum com outro da Virgínia? Certa-
mente o sentimento de ser norte-americano. Esse sentimento foi sendo forjado aos poucos, reforçado pela
evocação de uma história comum e de elementos também comuns ao grupo social.
Os heróis da nação
Para grande parte dos norte-americanos, os homens que fizeram a independência, pensaram
a Constituição e se tornaram os seus primeiros presidentes não eram homens comuns, mas pessoas
excepcionais como nunca houvera outros. Na verdade, foi criada uma galeria de heróis que passou
a ser reverenciada pelos norte-americanos. (É possível ver ainda hoje esse tratamento aos líderes
norte-americanos nas ruas, nas escolas, nos jornais, nos livros. Eles são frequentemente lembrados e
exaustivamente citados para defender esta ou aquela posição.)
São verdadeiros ídolos públicos que contribuem para dar aos norte-americanos um sentimento de
comunidade. O primeiro deles foi, sem dúvida, George Washington, considerado líder mílite sagrado –
espécie de panteão dos heróis – da nação norte-americana.
(...)
Assim foram criados os heróis nacionais – uma referência para todos os norte-americanos –, os
homens que “construíram a nação” eram vistos como uma “espécie de semideuses”, como disse o próprio
Thomas Jefferson. Esses símbolos e mitos funcionam ideologicamente como um grande guarda-chuva
para a população do país, dando-lhes uma identidade e uma “filiação” comuns.
O mito dos pais fundadores serviu a determinados fins, ao longo do tempo. Ajudou a consolidar
o projeto dominante (foram escolhidos, como heróis, os protagonistas do projeto vencedor norte-
-americano); ajudou também a criar uma atmosfera de unidade nacional e a minimizar conflitos
existentes na sociedade.
(André Fontenelle/Revista Época Online – 20/01/2009/Ed. Globo.)

Discurso de posse do presidente Barack Obama (excerto)


“Por isso, marquemos este dia relembrando quem somos e o quanto já
viajamos. No ano do nascimento da América, no mês mais frio, um pequeno

© K2 images – Shutterstock
grupo de patriotas se reuniu em torno de fogueiras quase apagadas nas
margens de um rio gélido. A capital foi abandonada. O inimigo avançava.
A neve estava manchada de sangue. No momento em que o resultado
de nossa revolução estava mais incerto, o pai de nossa nação [George
Washington] ordenou que estas palavras fossem lidas ao povo:
‘Que seja contado ao mundo futuro... Que no auge de um inverno,
quando nada além de esperança e virtude poderiam sobreviver... Que a
cidade e o país, alarmados com um perigo em comum, se mobilizaram
para enfrentá-lo.”
América. Diante de nossos perigos em comum, neste inverno de
Barack Obama, presidente dos Esta-
nossa dificuldades, deixe-me lembrá-los dessas palavras imortais. dos Unidos no período de janeiro
Com esperança e virtude, vamos enfrentar mais uma vez as correntes de 2009 a janeiro de 2017.
gélidas e suportar as tempestades que vierem. Que os filhos de nossos filhos digam que, quando fomos
colocados à prova, nós nos recusamos a deixar esta jornada terminar, que nós não demos as costas e nem
hesitamos; e com os olhos fixos no horizonte e com a graça de Deus sobre nós, levamos adiante o grande
dom da liberdade e o entregamos com segurança às gerações futuras.
(Disponível em: <http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL964157-16108,00-LEIA+A+INTEGRA+DO+DISCURSO+
DE+POSSE+DE+BARACK+OBAMA.html>. Acesso em: 9 out. 2010.)
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20 História
3. “Nós, o povo dos Estados Unidos, com vistas a formar uma união mais perfeita, estabelecer a justiça,
assegurar a tranquilidade interna, prover a defesa comum, aumentar o bem-estar geral e assegu-
rar a nós próprios e à nossa posteridade os benefícios da liberdade, ordenamos e estabelecemos a
presente Constituição para os Estados Unidos da América (...)”
(Constituição dos Estados Unidos da América, 1787.)

a) Explique, com suas palavras, o conteúdo do texto acima.

b) Podemos afirmar que o texto foi baseado em ideias iluministas? Justifique sua resposta.

c) A partir do que você aprendeu sobre a independência dos EUA, comente a frase “Nós, o povo...”,
utilizada na Constituição desse país.

8A-HIS-L2-21
História 21
4. Como podemos relacionar a Independência dos EUA com a Revolução Industrial?

Como vimos, as imposições inglesas nas colônias americanas culminaram no rompimento delas
com a Metrópole. A Independência dos Estados Unidos originou um novo tipo de Estado: uma Repú-
blica burguesa presidencialista, baseada nos ideais iluministas. A Independência contribuiu para a
difusão desses ideais no século XVIII e, juntamente com a Revolução Francesa, serviu de exemplo para
movimentos separatistas nas demais colônias americanas.

Filme sugerido: O Patriota – Roland Emmerich, 2000.

Advém: vem de. Evidentes: muito claras, destacadas.


Agravou: piorou. Fragmentação política: situação em que um terri-
Assegurar: garantir. tório está dividido em vários governos.
Com vistas: com o objetivo de. Inalienáveis: que não se podem ser perdidos ou
Detrimento: em prejuízo de. retirados.

A independência dos Estados Unidos repercutiu inúmeros princípios iluministas, entre os quais
o direito à liberdade foi o mais destacado. No Brasil atual, a liberdade também foi promulgada
como um direito natural de todas as pessoas. Junto de um colega, pesquise um pouco mais a nossa
Constituição e identifique se há outros princípios do Iluminismo e/ou da própria independência dos
Estados Unidos que estão redigidos em nossa carta de direitos.

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22 História
Capítulo
História

7 A Revolução Industrial

Depoimento no 103, BETTY HARRIS, 37 anos, puxadora na mina de carvão,


Little Bolton [Inglaterra]:
Casei-me aos 23 e entrei numa mina de carvão logo que casei. Quando tinha cerca de 12 anos
de idade eu tecia, e não sei ler nem escrever. Trabalho para Andrew Knowles da Little Bolton,
e às vezes ganho uns 7 shillings por semana, às vezes menos. Sou uma puxadora [de vagões], e
trabalho das seis da manhã às seis da tarde. Paro por cerca de uma hora ao meio-dia para jantar:
como pão com manteiga; não bebo nada. Tenho dois filhos, mas são jovens demais para trabalhar.
Trabalhei enquanto estava grávida. Conheço uma mulher que foi para casa e se lavou, foi levada
à sua cama, deu à luz uma criança e voltou a trabalhar em menos de uma semana. Tenho uma
cinta em torno da minha cintura, uma corrente que passa por entre as minhas pernas, e ando
apoiada nas mãos e nos pés. O caminho é muito íngreme, e temos que segurar a corda; quando
não há nenhuma corda, seguramos em qualquer coisa que pudermos para nos apoiar. Há seis
mulheres e uns seis meninos e meninas na mina onde eu trabalho; é trabalho muito duro para
uma mulher. A mina está muito molhada onde trabalho, e a água sempre cobre os pés, e eu já a
vi até as coxas: a água pinga do teto terrivelmente; minhas roupas ficam molhadas quase o dia
inteiro. Eu nunca adoeci na vida, a não ser quando dei à luz.
Meu primo toma conta das crianças durante o dia. Eu estou muito cansada quando chego em
casa à noite; caio no sono às vezes antes de me lavar. Eu não sou tão forte como era, e não aguento
mais meu trabalho como antes. Já puxei até ficar em carne viva: o cinto e a corrente são piores
quando estamos grávidas. Meu capataz me bateu várias vezes por não terminar [o trabalho]. Eu
não estava acostumada com isso no começo, e ele era impaciente: eu já vi muitos homens baterem
em suas puxadoras. Já vi homens tomando liberdades com as puxadoras, e algumas delas terem
bastardos (filhos ilegítimos). Acho que seria melhor se recebêssemos toda a semana ao invés
de uma vez por mês, pois aí eu poderia comprar víveres com dinheiro vivo. É ruim viver com 7
shillings e pagar um aluguel de 1 shilling e 6 pence.
(Adaptado de Report by John L. Kennedy, Esq., on the Employment of Children and Young Persons in the Collieries of Lancashire,
Cheshire and part of Derbyshire; and on the State, Condition and Treatment of such Children and Young Persons, 1842. In: <http://www.
fordham.edu/halsall/mod/1842womenminers.html>. Acesso em: 9 out. 2010.

1. A partir do que você leu no texto acima, analise as condições de trabalho das mulheres mineiras
na Inglaterra.

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História 23
2. Além das mulheres, quem mais trabalhava nas minas?

3. Elabore uma hipótese para explicar por que as mulheres tinham que trabalhar tanto tempo e em
condições tão precárias em uma mina de carvão.

A partir de meados do século XVIII, a Inglaterra foi palco de uma das maiores revoluções que
ocorreram na História: a Revolução Industrial. Com ela, várias mudanças ocorreram no modo como
as sociedades transformam a natureza e produzem os bens para sua sobrevivência, determinando os
rumos da economia até os dias atuais. Representou a passagem da produção manufatureira, isto é,
feita à mão, para uma produção feita pelas máquinas. Além disso, determinou uma nova divisão na
sociedade. Neste capítulo, vamos estudar as causas da Revolução Industrial, como ela se processou e
quais foram suas consequências para a Europa e o mundo.

As causas da Revolução Industrial na Inglaterra


A Revolução Industrial, como foi dito anteriormente, teve como palco a Inglaterra do século XVIII.
Vários fatores concorreram para que ela acontecesse nesse país. Para entendermos esses fatores, deve-
mos estudar como a Inglaterra estava organizada política, econômica e socialmente durante o período.
A Inglaterra, durante o século XVII, havia passado por um período de conflitos políticos e sociais,
que ficou conhecido como Revolução Inglesa. O resultado dessa revolução (que estudaremos mais de-
talhadamente no próximo capítulo) foi a instituição de uma monarquia parlamentar, na qual o rei es-
tava subordinado às leis criadas pelo Parlamento. Este, por sua vez, era controlado pelos burgueses,
em sua maioria puritanos, cujo principal objetivo era o lucro. Dessa forma, o governo inglês passou
a apoiar e proporcionar aos mercadores e banqueiros burgueses melhores condições para suas ati-
vidades. Um sistema econômico baseado na livre-iniciativa, ou seja, na liberdade de investimentos e
comércio, foi estabelecido. O sistema financeiro inglês era o mais avançado do mundo, possibilitando
a obtenção de crédito fácil para os investimentos.

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24 História
A marinha inglesa era a mais poderosa do
A economia inglesa no século XVIII
mundo na época, possibilitando aos ingleses a
N
criação de um vasto império colonial, que lhes
fornecia matéria-prima e atuava como mercado
consumidor de seus produtos. Através de guer- 0 95 190 km
ras e tratados, a Inglaterra assumiu, durante o
século XVIII, uma posição bastante privilegiada
no comércio mundial. O Tratado de Methuen,
por exemplo, assinado entre Inglaterra e Portu- OCEANO Mar
gal, concedeu aos ingleses o privilégio de ven- ATLÂNTICO do
der seus produtos manufaturados para os portu- Norte
gueses. Estes, que adquiriram em troca o privilé- ESCÓCIA
gio de vender seu vinho para os britânicos, logo
se viram endividados com a Inglaterra, pois os Glasgow Edimburgo
manufaturados ingleses eram mais caros do que NORTHUMBERLAND
os vinhos portugueses. Para pagar suas dívidas, Newcastle
Portugal utilizava o ouro extraído no Brasil. Des- Durham

sa maneira, um dos fatores que possibilitaram o LANCASHIRE Leeds


surgimento da Revolução Industrial na Inglaterra Manchester
IRLANDA
foi o ouro brasileiro. Liverpool Sheffield
MIDLANDS
No campo, desde o século XVI, o processo de Birmingham Norwich
cercamentos permitiu que as terras ficassem nas GALES

da
mãos de grandes proprietários, que as utilizaram

an
Irl
Londres
para produzir gêneros agrícolas destinados ao

a
rd
Cardiff

Ma
Bristol
comércio ou, ainda, para a criação de ovelhas. No
primeiro caso, houve um aumento da produção,
causado pela adoção de novas técnicas de plan- Canal da Mancha
tio. Além disso, muitos camponeses procuravam
FRANÇA
novas terras ainda não utilizadas, ampliando a
fronteira agrícola e aumentando a produção. Esse Região dos cercamentos
Movimentos populacionais
aumento permitiu o crescimento populacional, de 1 a 25% das terras
Canais
fornecendo uma grande reserva de trabalhadores. de 25 a 50% das terras
Indústria Têxtil
Os cercamentos expulsaram muitos camponeses
Algodão Bacias carboníferas
de suas terras e muitos se dirigiram às cidades,
Lã Indústria metalúrgica
a fim de trabalhar nas manufaturas. Criou-se, as-
sim, um exército de operários disponíveis para o (Fonte: Com base em JR, Hilário Franco; ANDRADE, Ruy De O. Atlas
História Geral. São Paulo: Ed. Scipione.)
desenvolvimento da indústria.
Outra vantagem que a Inglaterra possuía era sua posição geográfica. Por ser uma ilha localizada
na Europa Ocidental, tinha acesso aos principais mercados europeus e não sofreu as devastações cau-
sadas pelas constantes guerras que assolavam o continente. A existência de grandes jazidas de ferro
e carvão forneceu a matéria-prima e o combustível para as fábricas.

1. A Revolução Industrial foi favorecida pela situação política da Inglaterra no século XVIII. Explique
como o governo inglês estava organizado e como isso influenciou a economia do país.

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História 25
O desenvolvimento industrial na Inglaterra
No caso da indústria têxtil, a lã era utilizada como matéria-prima para as manufaturas de tecidos,
controladas por capitalistas. Esses capitalistas eram os comerciantes e mercadores de tecidos, que
passaram a controlar de perto a produção, por causa da concorrência com outros mercadores. Ante-
riormente, a produção era feita de forma artesanal, na própria casa do artesão, que era auxiliado por
sua família ou aprendizes. Com o tempo, o aumento do número de consumidores, ocasionado pela
expansão marítima, fez com que os comerciantes passassem a exigir dos artesãos melhor qualidade
e maior quantidade de produtos. Para que isso fosse alcançado, esses comerciantes passaram a reunir
em locais específicos (as manufaturas) vários artesãos, fornecendo-lhes as ferramentas, as matérias-
-primas e o modo como queriam os produtos fabricados. Os comerciantes, agora chamados de fabri-
cantes, poupavam os artesãos de se deslocar à procura de matéria-prima (melhorando o tempo de
produção) e garantiam o mercado para seus produtos. Dessa maneira, acabaram dominando o merca-
do. Os artesãos, que antes tinham os meios de produção, ou seja, as ferramentas e a matéria-prima,
deixaram de possuí-las, transformando-se em operários assalariados.

Com o tempo, os operários passaram a realizar apenas uma das várias tarefas necessárias para a
produção de um bem manufaturado. Por exemplo, na confecção de um tecido de lã, um artesão antes
comprava a matéria-prima, depois limpava, penteava, fiava e tecia a lã. Com o advento da divisão do
trabalho, cada operário realizava uma ou duas dessas operações, fazendo com que a produção de um
tecido ficasse muito mais rápida. Dessa maneira, os produtos passaram a ser fabricados em série. Es-
pecializando-se em apenas uma operação, o operário a realizava com mais qualidade e rapidez, o que
diminuía os custos de produção.
Além disso, por não realizar uma

© Ivan Burmistrov – iStockphoto


operação muito complexa, o salário
do operário podia manter-se baixo,
diminuindo ainda mais os custos do
fabricante.

Porém, a maior inovação ocorrida


na indústria inglesa foi o surgimento
das máquinas. Surgiram na indústria
têxtil e na metalurgia. Em ambos os
casos, as máquinas surgiram da ne-
cessidade de se reduzir os custos da
produção e triunfar sobre a concor-
rência. No caso da indústria têxtil, o
comércio de algodão criou um mer-
cado cada vez maior na Inglaterra.
Mais barato que a lã, o algodão era
fornecido pelas colônias da América
e da Índia. Entretanto, as manufatu-
ras inglesas não podiam competir
Um motor a vapor.
com a habilidade manual dos india-
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26 História
nos, nem com seus preços, pois o operário indiano ganhava bem menos que o operário inglês (que tam-
bém era mal remunerado). Dessa forma, era necessário que a indústria de algodão inglesa encontrasse
uma forma de competir com os indianos.

A primeira máquina a ser utilizada na indústria têxtil foi a lançadeira


volante, que aumentava a largura dos tecidos e diminuía o tempo que
um operário levava para tecer uma peça de pano. Daí por diante,
as invenções foram se sucedendo com as novas necessidades que
surgiam. Como a velocidade da tecelagem aumentou, foi neces-
sário que a fiação e a produção algodoeira a acompanhassem, e
novas máquinas foram inventadas, até se chegar ao tear mecâni-

© Domínio público
co em 1785, movido a vapor, criado por Edmund Cartwright. Na
metalurgia, as novas técnicas de produção de ferro e o avanço
das máquinas utilizadas nas minas puderam aumentar a quali-
dade e a quantidade de ferro e carvão utilizados nas fábricas. A
invenção mais importante do período foi o motor a vapor, criado
por James Watt. Através dele, a força do vapor poderia ser utiliza-
da em todas as máquinas, para os mais diferentes usos: tecelagem
(como o tear mecânico), fiação, moinhos, engenhos de cana-de-açú-
car. Já no século XIX, o motor a vapor permitiu a criação de navios
de ferro, que dispensavam as velas, e o símbolo da era industrial:
James Watt.
a locomotiva.

2. A figura abaixo representa uma manufatura de tecidos do século XVIII. Descreva a cena represen-
tada e explique as mudanças na forma de trabalhar ocorridas na Revolução Industrial.
© Steven Wynn – iStockphoto

8A-HIS-L2-21
História 27
A situação dos trabalhadores
Ao mesmo tempo em que se desenvolviam as máquinas, também surgiam as fábricas. Na indústria
têxtil, as fábricas eram instaladas em prédios de tijolos, de 4 ou 5 andares, e possuíam de 150 a 600
operários, que eram controlados de perto pelo fabricante. Com o tempo, essas fábricas passaram a se
concentrar em locais próximos aos rios ou portos marítimos, aos mercados de matéria-prima ou às
grandes concentrações populacionais. Por sua vez, as fábricas atraíam mais e mais operários, que pas-
saram a morar em locais próximos ao trabalho, fazendo com que as cidades crescessem. Bairros inteiros
foram criados com a vinda dos operários que, como vimos, saíam do campo por causa dos cercamentos.

© Duncan Walker – iStockphoto

Vila operária inglesa no início do século XIX.

As cidades industriais inglesas eram totalmente diferentes de tudo


© Duncan Walker – iStockphoto
o que já existira até então. Superpopulosas, com problemas de abas-
tecimento de água e saneamento, eram constantemente atacadas por
epidemias. A fumaça das chaminés cobria os céus; lixo e esgoto a céu
aberto eram comuns nas ruas, onde brincavam os filhos dos operários,
jovens demais para trabalhar. Liverpool, Manchester e Leeds, entre ou-
tras cidades, viviam essa realidade.
Além da situação habitacional precária, a vida do operário no tra-
balho não era fácil. Não havia uma legislação que regulamentasse a
relação entre o capitalista (dono da fábrica) e o operário, fazendo com
que este fosse sempre explorado. Os capitalistas desejavam que os
operários trabalhassem a semana inteira (geralmente 16 horas por
dia), para que a produção não parasse e seus lucros aumentassem.
Mas, no início, os operários não estavam acostumados com esse tra-
balho sistemático e tendiam a parar de trabalhar logo que juntassem o Gravura representando uma cena das
ruas de Londres no século XIX.
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28 História
dinheiro necessário para se sustentar durante a se-
mana. Isso ocorria porque o trabalho sempre tinha

© Duncan Walker – iStockphoto


ocorrido da seguinte maneira: o antigo trabalha-
dor rural estava acostumado com os períodos de
inatividade causados pelas estações do ano, e o ar-
tesão produzia apenas o necessário para sobrevi-
ver e, depois, parava o trabalho quando quisesse.
Desse modo, os capitalistas tinham que arrumar
uma maneira de educar o operário a exercer um
trabalho sistemático e ininterrupto.
Os capitalistas solucionaram esse problema
pagando baixíssimos salários, para que o ope-
rário não conseguisse juntar o dinheiro necessá-
rio para parar de trabalhar. Outra estratégia dos
capitalistas foi utilizar a mão de obra feminina
e infantil, inclusive nas minas, pois acreditava-
-se que as mulheres e crianças eram mais dó-
ceis e fáceis de controlar. Dessa forma, o apito
da fábrica, que determinava a hora de entrada,
descanso, almoço e o fim do expediente, passou
a regular o tempo das pessoas. O relógio pas-
sou a controlar cada vez mais a vida cotidiana
do trabalhador; criou-se o relógio de ponto para
controlar as entradas e saídas dos operários nas
fábricas e surgiu a expressão “tempo é dinheiro”.
Apesar da enorme riqueza trazida pela Revolução Industrial, não eram
Com a Revolução Industrial, a sociedade fi- todos que a usufruíam. Gravura representando um refúgio para pessoas
cou dividida em duas classes distintas: o capita- sem-teto em Londres, século XIX.

lista e o operário. O capitalista era o dono da fábrica, das máquinas e das matérias-primas, ou seja, ele
detinha os meios de produção. Geralmente, eram burgueses que haviam começado com um pequeno
investimento e enriquecido rapidamente com o surto industrial. Já os operários não possuíam a fábri-
ca, as máquinas ou a matéria-prima,
somente possuíam sua capacidade
de trabalhar, sua força de trabalho.

© Duncan Walker – iStockphoto


Como ganhavam muito pouco e só
podiam vender sua força de tra-
balho, costumavam ter muitos fi-
lhos, para que estes trabalhassem
e ajudassem na renda da família, e
acabaram conhecidos como prole-
tários (prole = filhos).
Com o tempo, as péssimas con-
dições de vida dos proletários e a
exploração que sofriam por parte
dos capitalistas resultaram em gre-
ves e revoltas, em que máquinas e
pessoas eram atacadas pelos operá-
rios enfurecidos. Na Inglaterra sur-
giu o ludismo, movimento liderado
por Ned Ludd, que responsabilizava
as máquinas pela situação de misé-
ria pela qual passavam os operários.
Os luditas, como eram conhecidos, A vida da burguesia capitalista: uma noite na Ópera.

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História 29
percorriam os distritos industriais destruindo todas as máquinas que encontravam. O governo inglês re-
primiu violentamente os luditas, executando seus membros por enforcamento.

3. (IFBA - adaptada) Observe e analise a imagem das crianças trabalhando nas fábricas, nos primór-
dios da Revolução Industrial e, em seguida, assinale a resposta correta acerca das condições dos
trabalhadores no período histórico dessa revolução.

© Domínio público
a) A atuação dos sindicatos dentro das fábricas, desde o início da Revolução Industrial, foi funda-
mental para garantir os direitos trabalhistas.

b) A mão de obra feminina foi pouco utilizada, porque as mulheres não conseguiam se adaptar ao
ambiente predominantemente masculino das fábricas.

c) A Inglaterra, por ser a pioneira no processo da Revolução Industrial, também foi pioneira em
garantir direitos trabalhistas, que serviram de modelo para a Carta del Lavoro Italiana.

d) Altas jornadas de trabalho sem direitos trabalhistas, sem segurança, sem remuneração mínima
fixa e a exploração da mão de obra eram alguns dos problemas enfrentados pelos trabalhadores
e trabalhadoras no início da Revolução Industrial.

e) A utilização de crianças como mão de obra nas fábricas era justificada como modelo de educa-
ção para tirá-los de condições perigosas nas ruas, oferecendo a esses jovens remuneração e a
oportunidade de aprender um ofício, contando com o apoio dos sindicatos.

Como vimos neste capítulo, os capitalistas utilizavam crianças para trabalhar nas fábricas e minas.
Infelizmente, essa é uma realidade também em nossos dias, com algumas diferenças. Atualmente, as
crianças são utilizadas em carvoarias, nas ruas das grandes cidades e até em aterros sanitários – os
famosos “lixões”. Podemos comprovar essa situação apenas trafegando pelas avenidas principais de São
Paulo ou do Rio de Janeiro, onde encontramos crianças vendendo de tudo nos faróis. O texto a seguir, de
autoria da procuradora do Ministério Púbico do Trabalho de Minas Gerais, Maria Amélia Bracks Duarte,
discute o significado do trabalho infantil para a sociedade brasileira atualmente.

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30 História
Infância perdida
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) proclamou 12 de junho como o Dia Interna-
cional contra o Trabalho Infantil. A lei brasileira classifica como trabalho infantil aquele exercido
por menores de 16 anos de idade, permitindo que um jovem trabalhe como aprendiz a partir dos
14 anos. O Brasil é o segundo país da América Latina que mais explora o trabalho infantil, per-
dendo, apenas, para a Nicarágua. Em 1998, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), 4,5 milhões de crianças e adolescentes, entre 5 e 15 anos, trabalhavam, o que
corresponde a 12,5% do total nessa faixa etária, sendo que 53,8% estão em áreas rurais, agricul-
tura familiar, e dois terços deles não recebem remuneração.
A sociedade tolera o trabalho infantil partindo da premissa de que o trabalho faz distanciar
da vadiagem, da droga, da prostituição. É preciso criar, então, uma terceira alternativa: a da
criança que frequenta a escola, que come pão com goiabada no recreio, que brinca de boneca e car-
rinho, que vai ter lembranças felizes do que é ... pique-de-esconder, passa-anel, bambolê, jogo da
amarelinha, pique-bandeira, bola de gude, queimada e bilboquê; que vai cantar cantigas de roda,
“atirando o pau no gato”, “se essa rua fosse minha”; é preciso ler revistinha da Mônica, do Pato
Donald e do Tarzan e se encantar com o mundo de Monteiro Lobato. É urgente e imprescindível
que toda criança saiba disputar no “bafão” a figurinha premiada, a difícil do pacotinho, que vale a
troca de bala de goma com o companheiro da calçada ou a corrida de rolimã.
Os exemplos de Lula, que perdeu o dedo como jovem torneiro mecânico e chegou à Presidência
da República, ou de Marina Silva, que saiu dos cafundós das seringueiras para ser ministra de
Estado, ou da menina empregada doméstica que transformou Benedita da Silva em outra minis-
tra, são exceções à regra de que é preciso trabalhar jovem para vencer na vida. O que se vê, na
verdade, é o contrário: a criança que trabalha, que não é protegida, que não tem estimulado o seu
desenvolvimento físico e mental, sem infância segura e afetuosa, não constitui um adulto sadio e
produtivo e ainda tem sequelas emocionais e de acidentes de trabalho.
(...) O trabalho só confere caráter se atrelado a bem-estar, lazer, higiene, educação, estudo, todos
princípios garantidos na Constituição Federal. A verdade que se ignora é que o trabalho infantil é
atraente para o mercado, por ser mais barato para o empregador. A criança não tem medo e se sub-
mete a situações de risco que comprometem sua saúde e segurança; a criança não tem sindicatos que
lhe defendam e assegurem os seus direitos.
No Dia Internacional contra o Trabalho
Infantil, quinta-feira próxima, quero lem-

© Alexandre Tokitaka – Pulsar


brar da Lu, uma menina alegre que tinha
seis anos quando a conhecemos, Celeste e
eu, nas caminhadas matinais, e que ven-
dia chicletes no semáforo da avenida Cora-
ção Eucarístico, perto da PUC Minas, sob o
olhar atento da mãe escondida atrás de um
poste. Hoje, com 14 anos, continua na mesma
lida, mas abandonou há tempos o grupo esco-
lar, porque ficava muito cansada para estu-
dar. Lu não teve infância, nem bonecas, nem
brincou de roda. Não vai ser secretária, nem
balconista de loja, nem jornalista. Os filhos Crianças vendem amendoim no fim do dia no Elevado Costa
e Silva, São Paulo.
da Lu, tão cedo, repetindo a mãe, vão repri-
sar o seu destino de vender balas nos sinais de trânsito, perpetuando o ciclo da pobreza e a solidão da
discriminação social. Por coincidência, o dia 12 deste mês [de junho] é também o Dia dos Namorados.
Poderia terminar este texto falando de mãos entrelaçadas de carinho, de um abraço terno e de um beijo
apaixonado no escuro do cinema. Mas os olhos frios, tristes e sem esperança de Lu e seu filho na barriga
revelam que ela também não vai viver essa etapa da vida.
(Adaptado de Duarte, Maria Amélia Bracks. “Infância perdida”.
In: <www.clickfamilia.org.br/default.aspx?pagecode=354>. Acesso em: 11 out. 2010.)

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História 31
1. No ano de 1899, eclodiu em Nova York uma greve de meninos jornaleiros (conhecidos como
newsies ou newsboys). A razão do protesto, que durou vários dias, foi o aumento de preço do
The New York World e do The New York Journal, de propriedade de Joseph Pulitzer e William
Hearst, respectivamente. Concorrentes, ambos viram seus lucros caírem quando acabou a
guerra hispano-americana (1898), que rendia grandes manchetes e garantia alta vendagem
de seus jornais.

Para manter os lucros, os empresários resolveram elevar o preço do exemplar, afetando


diretamente os jornaleiros que compravam os jornais e os revendiam ao público leitor. Era
com o pequeno ganho da revenda que esses meninos sobreviviam, pois a grande maioria era
pobre, muitos sem lar, órfãos ou fugitivos. Aos milhares, eles dormiam pelas ruas e vagavam
pela cidade, desprovidos de qualquer assistência, fosse em educação, saúde ou moradia.
Daquela vez, os meninos saíram vitoriosos da greve, mas a situação deles não melhorou.

(Meninos jornaleiros na Ponte do Brooklyn, Nova York, em 1906.


Foto de Lewis Hine) © domínio público
a) O que a greve representava para os trabalhadores do século XIX?

b) Explique a formação do chamado “trabalho infantil” desde a Revolução Industrial até os


dias atuais.

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32 História
As consequências da Revolução Industrial
Com a Revolução Industrial, a Inglaterra passou a ter uma grande vantagem sobre os demais países
europeus e o restante do mundo. Devido ao seu novo sistema de produção, os produtos ingleses eram
feitos mais rápido, em maior quantidade e por um preço muito menor. Isso fez com que a Inglaterra
se tornasse a “fábrica do mundo”. A partir do século XIX, a Revolução Industrial chegou aos países do
continente, como França e Bélgica. Os países industrializados necessitavam de matéria-prima para suas
fábricas e de mercados consumidores para seus produtos. Por causa disso, o mercado mundial se expan-
diu, através da integração internacional, facilitada pelos novos meios de transporte e de comunicações,
como o telégrafo. Surgiu uma divisão internacional do trabalho, em que alguns países produziam bens
industrializados, enquanto os demais produziam matéria-prima. Essa divisão determinou quais seriam os
países ricos (industrializados) e quais seriam os pobres (fornecedores de matéria-prima). Com o tempo,
os avanços tecnológicos acabaram por aprofundar essa diferença, como podemos observar atualmente.
No plano social, os operários e capitalistas passaram a lutar pelos seus interesses: os operários,
querendo melhores condições de vida e trabalho; os capitalistas, mais lucros nos negócios. Essa
luta de classes promoveu o surgimento de teorias sociais, como o socialismo e o anarquismo, que
estudaremos em um capítulo posterior. A divisão do trabalho fez com que os operários perdessem o
conhecimento do processo produtivo completo, desvalorizando seu trabalho e, consequentemente,
seus salários. Os ricos ficaram mais ricos e os pobres, mais pobres.
A indústria suscitou a procura por novas técnicas de produção, lançando as bases para o avanço
tecnológico e científico. Os países industrializados se urbanizaram e a burguesia tornou-se a classe
economicamente dominante. Veremos, no próximo capítulo, como ela dominou também o poder po-
lítico, através de revoluções que, juntamente com a Revolução Industrial, determinaram o surgimento
do mundo burguês, ou seja, o mundo dominado pelos valores da burguesia.

4. Uma cidade como Londres, onde podemos andar horas sem sequer chegar ao princípio do fim, sem
descobrir o menor indício que assinale a proximidade do campo, é realmente um caso singular.
Não conheço nada mais imponente que o espetáculo oferecido pelo rio Tâmisa, quando subimos o
rio desde o mar até a ponte de Londres. A massa de casas, os estaleiros navais dispostos ao longo
das duas margens, apertando-se cada vez mais uns contra os outros, a ponto de, por fim, deixarem
somente um estreito canal no meio do rio, sobre o qual se cruzam, a toda velocidade, uma centena
de barcos a vapor – tudo isso é tão grandioso, tão enorme, que nos sentimos atordoados e ficamos
estupefatos com a grandeza da Inglaterra antes mesmo de pôr os pés em terra.
Quanto aos sacrifícios que tudo isso custou, só os descobrimos mais tarde...
(Friedrich Engels, século XIX)

Friedrich Engels foi um socialista alemão que viveu durante muitos anos na Inglaterra no século
XIX. A partir de seu relato e do que você aprendeu nas aulas:

a) Explique, com suas palavras, o que Engels achou da Inglaterra.

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História 33
b) Por que a cidade de Londres cresceu tanto?

c) A que sacrifícios Engels estava se referindo no final do relato? Explique como ocorriam e quem
sofria com eles.

A Revolução Industrial eclodiu na Inglaterra por causa das condições favoráveis ao seu surgimento
naquele país: grande concentração de capitais, mão de obra abundante, recursos minerais e governo
burguês. Seu surgimento proporcionou uma explosão produtiva no mundo e moldou a economia do
planeta como a conhecemos hoje. A partir daí, o Capitalismo Industrial se expandiu pelo mundo e
a sociedade passou a ser dividida entre burgueses – donos dos meios de produção – e proletários
– aqueles que vendiam seus serviços para a burguesia. Com o tempo, essa sociedade de classes foi
ficando cada vez mais complexa, surgindo várias classes intermediárias.

Filmes sugeridos:
Os Miseráveis – Bille August, 1998;
Germinal – Claude Berri, 1993.
Livro sugerido:
Oliver Twist, de Charles Dickens.
Editora Loyola

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34 História
Adoeci: fiquei doente. Lida: trabalho.
Atrelado: ligado. Perpetuando: tornando permanente.
Confere: fornece. Proporcionar: fornecer.
Eclodiu: surgiu. Regulamentasse: criasse regras e leis.
Estupefatos: espantados. Remuneração: salário, pagamento.
Imponente: grandioso. Sequelas: consequências ruins.
Indústria têxtil: indústria que produz tecidos. Suscitou: criou a necessidade de.
Íngreme: muito inclinado.

Vimos neste capítulo que a situação da classe trabalhadora inglesa durante o processo de moder-
nização da produção fabril era marcada, principalmente, por longas jornadas de trabalho e salários
muito baixos. Na atualidade, uma série de direitos do trabalhador foi reconhecida na maioria dos
países, regulando, por exemplo, a jornada, os salários, as férias, o descanso remunerado etc. Porém,
ainda hoje, há inúmeras irregularidades que acometem a classe trabalhadora, sobretudo no Brasil.
Entre os grupos mais vulneráveis estão as mulheres e os jovens negros e pardos, que ainda ganham
menos do que homens e pessoas brancas ocupando os mesmos postos de trabalho. Em grupo, faça
uma pesquisa com seus colegas e reúna informações de jornais, blogs ou canais de vídeo em plata-
formas públicas sobre como o movimento que representa as mulheres e os negros têm organizado a
luta pela garantia de seus direitos.

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História 35
Capítulo
História

8 A Revolução Francesa

O texto a seguir, escrito por um revolucionário francês do século XVIII, faz algumas denúncias so-
bre a sociedade francesa que, desde a Idade Média, era dividida em ordens ou estados.

Que é o Terceiro Estado?


Que é o Terceiro Estado? Tudo. Que tem sido até agora na ordem política? Nada. Que deseja?
Vir a ser alguma coisa...
O Terceiro Estado forma em todos os setores os dezenove/vinte avos [da população], com a
diferença de que ele é encarregado de tudo o que existe de verdadeiramente penoso, de todos os
trabalhos que a ordem privilegiada se recusa a cumprir. Os lugares lucrativos e honoríficos são
ocupados pelos membros da ordem privilegiada...
Quem, portanto, ousaria dizer que o Terceiro Estado não tem em si tudo o que é necessário
para formar uma nação completa? Ele é o homem forte e robusto que tem um dos braços ainda
acorrentado. Se suprimíssemos a ordem privilegiada, a nação não seria algo de menos, e sim al-
guma coisa mais. Assim, que é o Terceiro Estado? Tudo, mas um tudo livre e florescente. Nada
pode caminhar sem ele, tudo iria infinitamente melhor sem os outros...
Uma espécie de confraternidade faz com que os nobres deem preferência a si mesmos para
tudo, em relação ao resto da nação. A usurpação é completa, eles verdadeiramente reinam...
É a Corte que tem reinado e não o monarca. É a Corte que faz e desfaz, convoca e demite os
ministros, cria e distribui lugares etc. Também o povo acostumou-se a separar nos seus murmú-
rios o monarca dos impulsionadores do poder. Ele sempre encarou o rei como um homem tão en-
ganado e de tal maneira indefeso em meio a uma Corte ativa e todo-poderosa, que jamais pensou
em culpá-lo de todo o mal que se faz em seu nome.
(Abade SIEYÈS. Que é o Terceiro Estado? 1789.)

1. Identifique no manifesto de Abade Sieyès a crítica dos revolucionários franceses à maneira como
a sociedade estava organizada no país?

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36 História
2. Qual é sua proposta para a promoção de justiça no país?

3. Elabore uma hipótese para explicar por que as ideias do Abade Sieyès tiveram um grande impacto
na sociedade francesa.

Como vimos anteriormente, o Absolutismo foi um modo de governo no qual os interesses do rei e
da burguesia foram colocados em acordo. O rei adquiria dinheiro para suas tropas, para a burocracia
governamental e para a manutenção de uma vida luxuosa na corte. Em troca, fornecia privilégios co-
merciais e monopólios para a burguesia, que enriquecia com o acordo. O poder político estava apenas
nas mãos do rei, enquanto a burguesia detinha cada vez mais o poder econômico.
Com o tempo, porém, esse sistema passou a prejudicar os interesses da burguesia, pois havia
mais burgueses do que privilégios que o rei poderia conceder. A burguesia estava descontente com
os monopólios mercantilistas e desejava liberdade de comércio e política.
Os burgueses perceberam que apenas exercendo o poder político poderiam assegurar a satisfação
de seus desejos. Neste capítulo, estudaremos de que maneira a burguesia assumiu o poder político
na Inglaterra e na França, inaugurando o mundo que conhecemos hoje.
A Revolução Francesa é geralmente considerada pelos historiadores como o marco inicial da Ida-
de Contemporânea. Como vimos no capítulo anterior, a Revolução Industrial forneceu o modelo de
economia para o mundo contemporâneo. A Revolução Francesa, por sua vez, forneceu os modelos
políticos e ideológicos, baseados nos ideais iluministas do século XVIII.
A Revolução Francesa, ao contrário de suas similares inglesa e americana, influenciou um grande
número de países, inclusive os países islâmicos, que até então tinham evitado as ideias ocidentais.
Para entendermos como ela ocorreu, devemos compreender de que maneira a França estava organi-
zada política, econômica e socialmente no período que antecede a Revolução.
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História 37
A sociedade francesa no século XVIII
A França era o país mais populoso da Europa no século XVIII: de cada 5 europeus, 1 era francês.
Destes, 90% eram camponeses e a economia do país era agrária, ou seja, dependia da agricultura.
Apesar de não ter uma economia tão evoluída quanto a Inglaterra, a França era a principal concorrente
comercial dos ingleses. No entanto, sua economia estava decaindo rapidamente devido ao Absolutis-
mo e ao Mercantilismo, que impediam o processo de evolução do capitalismo.
A sociedade francesa estava dividida em ordens ou estados, todos subordinados ao rei absolutista.
Cada uma dessas ordens, ou estados, possuía direitos e deveres específicos, herdados do passado
feudal da França.
O Primeiro Estado era constituído pelo clero, que se dividia em alto e baixo. O alto clero era for-
mado pelos bispos, abades e cônegos, saídos da nobreza e aliados a ela. O baixo clero era composto
por padres e vigários pobres, saídos do campesinato ou da burguesia. O clero não pagava impostos
e recebia pagamento de direitos feudais em suas terras.
O Segundo Estado era composto pela nobreza. Esta estava dividida entre a nobreza cortesã, forma-
da pelos nobres que viviam no palácio real e recebiam pensões do rei ou cargos militares; a nobreza
provincial, que vivia das rendas obtidas por suas terras; e a nobreza togada, composta por antigos
burgueses que haviam adquirido títulos de nobreza e cargos na administração pública. Esse estado
também estava isento do pagamento de impostos.
O Terceiro Estado, enfim, era composto pelo restante da população: burgueses, camponeses e os
chamados sans-culottes – trabalhadores urbanos, operários e desempregados marginalizados. Re-
presentava a maioria esmagadora do povo francês (24 milhões de pessoas), enquanto os outros dois
estados, juntos, contavam com 370 mil pessoas.

1. Analise a figura a seguir. É a reprodução de um cartaz que

© Domínio público
circulou durante a Revolução Francesa, representando as três
ordens ou estados da sociedade. Após observá-la com atenção,
responda.

a) Como os três estados da sociedade do Antigo Regime


francês estão representados na figura?

b) Observando a figura, é possível compreender por que a


Revolução Francesa ocorreu? Justifique sua resposta.

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38 História
A crise econômica e o início da Revolução
A França passava por uma grave crise econômica. Seu antigo império colonial havia diminuído devido
às sucessivas guerras em que o país se envolvera. Secas e inundações haviam comprometido as colheitas
ao longo da década de 1780, causando fome e revoltas entre os camponeses, que ainda tinham de arcar
com o peso dos impostos devidos à nobreza e ao clero. Na verdade, apenas o Terceiro Estado suportava
a economia francesa, pois o clero e a nobreza não pagavam impostos.
Nas cidades, as regras impostas pelas corporações de ofício impediam o desenvolvimento pleno da in-
dústria. Como na Inglaterra, começaram a surgir muitas manufaturas domésticas no campo. Além delas, as
manufaturas reais monopolizavam a indústria de produtos de luxo para a exportação e consumo das elites.
Essas manufaturas, funcionando nos moldes mercantilistas, impediam a livre concorrência e prejudicavam
os investimentos burgueses. A grande indústria, produtora de tecidos e metalurgia, era pouco numerosa
na França, e foi prejudicada por um tratado assinado com a Inglaterra, semelhante ao Tratado de Methuen,
chamado Tratado de Éden, no qual a França fornecia vinhos em troca de tecidos.

© Popperfoto – Getty Images


Pintura representando a abertura da Assembleia dos Estados Gerais.

O comércio também era prejudicado pela existência de alfândegas dentro da França, que encareciam
os produtos e diminuíam suas vendas. O envolvimento da França na guerra de independência dos Estados
Unidos e em outras guerras ao longo do século XVIII, aliado a uma corte gastadora e parasitária, esvaziou o
Tesouro Público e aumentou a dívida externa. Os sucessivos ministros das finanças buscaram modernizar
a economia francesa, como o fisiocrata Turgot. Entretanto, não puderam realizar suas reformas devido à
resistência da nobreza, do clero e das manufaturas reais. Com o agravamento da crise, ficou claro que era
necessário cobrar impostos do clero e da nobreza e reestruturar a economia francesa.

Os nobres e o clero se rebelaram contra a decisão do rei Luís XVI de acabar com a isenção dos impostos.
Convenceram o rei a reunir a Assembleia dos Estados Gerais, que era composta por representantes dos três
estados. Com isso, pretendiam obrigar o Terceiro Estado a arcar com os tributos que não queriam assumir.
O sistema de votação adotado nos Estados Gerais era feito em grupo. Cada estado tinha direito a um voto.
Dessa maneira, o clero e a nobreza sempre venceriam o Terceiro Estado por 2 votos a 1.

Entretanto, os nobres e o clero não contavam com os desejos da burguesia, que passou a exigir a vota-
ção por voto individual. Como o Terceiro Estado era tão numeroso quanto os demais juntos, os burgueses
pretendiam aprovar as mudanças políticas e econômicas que desejavam. Para isso, contavam com a popu-
lação das cidades, que se tornava cada dia mais turbulenta, devido à sua crescente condição de miséria.
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História 39
© Domínio público
Juramento no Salão do Jogo da Péla. Óleo de Jacques-Louis David, 1791.

O clero e a nobreza se opuseram veementemente ao desejo da burguesia e tinham o apoio do rei.


Como não houve acordo, o Terceiro Estado proclamou a Assembleia Nacional Constituinte. O rei determi-
nou o fechamento da sala de reuniões, tentando dissolver a Assembleia, mas o Terceiro Estado, liderado
pela burguesia, reuniu-se em um salão de jogos, onde realizou um juramento de não sair enquanto não
elaborassem uma Constituição para

© HultonArchive – iStockphoto
a França. O rei ainda tentou reprimir
os burgueses através da violência,
mas, nas ruas de Paris, o povo, em ar-
mas, apoiado por parte do exército,
rebelou-se, tomando de assalto, em
14 de julho de 1789, a Bastilha, uma
prisão política onde eram presos os
inimigos da Monarquia. A insurreição
se espalhou pelo país. No campo, os
camponeses também se rebelaram,
invadindo castelos e assassinando
nobres e suas famílias. Esse período
de revoltas camponesas ficou conhe-
cido como Grande Medo. Gravura do século XIX representando a tomada da Bastilha.

A Revolução Francesa pode ser dividida em três fases distintas, nas quais cada setor da burguesia
dominou o governo revolucionário: a Assembleia (1789/1792), a Convenção (1792/1795) e o Diretó-
rio (1795/1799). Em dez anos, os revolucionários desmontaram completamente o Antigo Regime na
França e criaram um novo modelo de governo, baseado nos ideais burgueses iluministas.

2. Convicto de sua autoridade, o rei Luís XVI convocou, em maio de 1789, os Estados Gerais para
discutir os rumos políticos e econômicos da França. A decisão real surpreendeu a todos, já que
a última reunião tinha acontecido dois séculos atrás. Com o auxílio do(a) professor(a), discuta
com os seus colegas os resultados desse encontro realizado às vésperas da Revolução Francesa.

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40 História
3. Os historiadores afirmam que a exigência da aristocracia em convocar a Assembleia dos Estados
Gerais foi um suicídio político. Comente essa afirmação a partir do que você aprendeu sobre a
Revolução Francesa.

A Assembleia (1789/1792)
Luís XVI, percebendo que não poderia conter a população, acabou aceitando a Assembleia Nacional
Constituinte, que iniciou seus trabalhos aumentada pelos nobres e pelo clero, obrigados pelo rei a par-
ticipar. Pouco tempo depois da tomada da Bastilha, a Assembleia aboliu os direitos feudais devidos à
nobreza e ao clero. Em 26 de agosto de 1789, foi promulgada a Declaração dos Direitos do Homem e
do Cidadão, baseada nos ideais iluministas, na qual ficavam assegurados o direito à liberdade de pensa-
mento e opinião, à igualdade de todos os cidadãos e à propriedade individual, entre outros. Em 1790, a
Assembleia promulgou a Constituição Civil do Clero, na qual foram confiscadas as terras da Igreja, a fim
de reerguer a economia francesa, e o clero ficou submetido ao Estado. O papa condenou essa medida
e pronunciou-se contra a Revolução. Alguns padres juraram fidelidade às novas leis, enquanto outros
saíram da França ou ficaram para lutar contra os revolucionários. Enquanto isso, vários membros da
nobreza (conhecidos como emigrados) fugiram do país para organizar a contrarrevolução no exterior.
A Constituição ficou pronta em 1791, tornando a França uma Monarquia Constitucional, dominada
pela alta burguesia. Ficou estabelecido, através da Constituição, que haveria igualdade jurídica para
todos os indivíduos, ou seja, que todos seriam iguais perante a lei, acabando com as diferenças entre
nobres e plebeus; haveria liberdade de produção e de circulação de mercadorias, sem que o Estado
interferisse na economia; o Estado foi separado da Igreja; e o governo passou a contar com três po-
deres: Executivo (rei), Legislativo (a Assembleia Legislativa, controlada pela burguesia) e o Judiciário.
A grande massa do povo, porém, foi mantida fora das decisões políticas, pois o voto era censitário,
ou seja, só poderia votar quem possuísse uma certa renda por ano. Além disso, apenas os grandes
proprietários poderiam ser eleitos para representar o povo francês.
Na Assembleia, os burgueses estavam divididos em facções. A facção dominante era a dos giron-
dinos, que representavam a alta burguesia e foram apelidados dessa maneira porque seus membros
provinham da região de Gironda, ao sul do país. Depois deles, havia o grupo dos jacobinos, que repre-
sentavam a média e pequena burguesia, e foram apelidados dessa maneira por causa do lugar onde seu
clube se reunia: um convento jacobino em Paris. Os jacobinos ainda representavam os sans-culottes na
Assembleia. Além dessas facções, a alta burguesia financeira era representada pelo feuillants – também
chamados de “Pântano” ou “Planície” porque sentavam-se nos assentos de baixo – e as camadas mais
pobres, pelos cordeliers. Esses grupos estavam em conflito entre si, por causa das diferentes visões
políticas que possuíam.

8A-HIS-L2-21
História 41
O rei, por sua vez, pre-

© Domínio público
tendia que o Absolutismo
voltasse e preparou no exte-
rior um contra-ataque, com
o apoio da Áustria, da Prús-
sia e dos nobres franceses
emigrados. Quando tentou
fugir para se juntar às for-
ças contrarrevolucionárias,
foi preso próximo à frontei-
ra, na cidade de Varennes,
sendo conduzido sob guar-
da de volta para Paris. Esse
acontecimento teve profun-
das repercussões tanto na
França quanto no resto da
Europa. O exército prussia-
no invadiu a França, mas O retorno de Luís XVI de Varennes, para ser preso em Paris. Gravura de Jean-Duplessis Bertaux, s/d.
foi rechaçado pelo povo. Os
jacobinos haviam formado a Comuna Insurrecional de Paris, um exército popular comandado por
Marat, Robespierre e Danton, fornecendo armas para a população, na qual os sans-culottes tiveram
uma participação decisiva. Vencido o exército prussiano, o rei foi considerado um traidor da nação
por colaborar com os invasores e, em 1792, foi proclamada a República da França. O calendário
francês foi modificado, sendo 1792 considerado o ano I da República.

4. Em 1791, a promulgação de uma Constituição alinhada ao lema dos revolucionários marcou o


início de uma etapa conturbada da política francesa. Explique e caracterize os principais aspec-
tos do período denominado Monarquia Constitucional.

A Convenção Nacional (1792/1795)


Com a República, a Assembleia Nacional foi convertida em Convenção Nacional. Nas reuniões, os
deputados ficavam divididos da seguinte maneira: à direita ficavam os girondinos, que desejavam
consolidar as conquistas burguesas e refrear a revolução, mantendo os privilégios apenas para a alta
burguesia; ao centro, na parte mais baixa, ficavam os deputados da Planície ou Pântano, representan-
do os feuillants, que não tinham posição política definida, pendendo sempre para o lado mais forte; à
esquerda ficavam os deputados jacobinos, conhecidos também por Montanha, pois ficavam na parte
mais alta e defendiam mudanças radicais. Conforme as dificuldades militares e econômicas aumenta-
vam, o conflito entre as facções crescia. Por isso, atualmente, ainda utilizamos os termos esquerda e
direita para denominar as posições políticas progressistas e conservadoras, respectivamente.

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Gravura do século XIX representando a Convenção Nacional.

De início, a Convenção foi dominada pelos girondinos. Documentos que incriminavam o rei por
ser um traidor foram encontrados. Os girondinos ficaram divididos entre aqueles que queriam julgar
o rei por traição e aqueles que queriam perdoá-lo. Os jacobinos, apoiados pelos sans-culottes, dese-
javam que o rei fosse executado. Prevaleceu a posição dos jacobinos e o rei Luís XVI foi executado na
guilhotina em 21 de janeiro de 1793, causando um grande temor nos países absolutistas, que temiam
o exemplo francês. Para combater a revolução, os países absolutistas formaram a Primeira Coligação
contra a França, encabeçada pela Inglaterra, que, apesar de não ser um país absolutista, temia a as-
censão e concorrência da burguesia francesa.
Com o aumento das dificuldades, agravadas pela crise econômica e revoltas monarquistas no interior
do país, os jacobinos, auxiliados pela massa da população, tomaram a Convenção, prendendo os líderes
girondinos. Os líderes jacobinos Marat, Saint-Just, Danton, Hébert e Robespierre formaram o Comitê de
Salvação Pública para combater os invasores estrangeiros e os revoltosos. Foi o período mais radical
da Revolução Francesa, sendo aprovada uma nova Constituição, na qual ficava estabelecido o sufrágio
universal e a democratização. No plano político, o governo jacobino adotou medidas que favoreciam a
população, como a Lei do Preço Máximo, que controlava os preços dos gêneros alimentícios. Aprovou,
também, a venda dos bens da Igreja e dos nobres emigrados que não haviam sido confiscados, o fim
dos privilégios, a criação de um sistema de educação pública e gratuita, e reformulou o exército francês,
promovendo os oficiais pela sua capacidade militar e não pelo nascimento.
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A execução de Luís XVI.


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História 43
Muitas pessoas foram executadas na guilhotina, acusadas de atividades contrarrevolucionárias:
era o início do Terror. Nobres, girondinos e até jacobinos foram executados em nome da Revolução.
Entretanto, as constantes execuções e conflitos entre os líderes revolucionários foram, aos poucos,
enfraquecendo o poder dos jacobinos. Estes estavam divididos entre aqueles que queriam o fim do
terror, como Danton, e aqueles que queriam sua continuidade, como Hébert. Robespierre, o líder dos
jacobinos, ordenou a execução de ambos, o que lhe valeu o fim do apoio das classes populares aos ja-
cobinos e a perda de seu prestígio. Por fim, o próprio Robespierre foi julgado e executado, juntamente
com os líderes jacobinos que ainda não haviam sido mortos. Aproveitando-se da situação, o Pântano
pôde dar um golpe e assumir o comando revolucionário, iniciando o período do Diretório.

5. Durante a Convenção Nacional (1792-1795), duas facções políticas divergentes se destacavam


na linha de frente da revolução: os girondinos e os jacobinos. Em momentos diferentes, ambos
ocuparam os principais cargos da recém-inaugurada República francesa. Sobre esse período,
responda:

a) Destaque as principais diferenças entre jacobinos e girondinos.

b) Por que o rei Luís XVI foi executado em praça pública pelos revolucionários?

Como vimos, a noção política de direita e de esquerda surgiu no processo da Revolução Francesa.
Essa diferença ainda se mantém atualmente, com algumas diferenças. O texto a seguir, do escritor pa-
raibano Ariano Suassuna, autor de O Auto da Compadecida, discute a natureza da esquerda e da direita
utilizando exemplos retirados da religião cristã e da História do Brasil atual. Repare nas associações
que ele faz para quem é de direita e para quem é de esquerda.

Esquerda e direita
Não concordo com a afirmação, hoje muito comum, de que não mais existem esquerda e direita.
Acho até que quem diz isso normalmente é de direita. Talvez eu pense assim porque mantenho,
ainda hoje, uma visão religiosa do mundo e do homem, visão que, muito moço, alguns mestres me
ajudaram a encontrar. Entre eles, talvez os mais importantes tenham sido Dostoiévski e aquela
grande mulher que foi Santa Teresa de Ávila.
Como consequência, também minha visão política tem influência religiosa. Olhando para o futu-
ro, acredito que, enquanto houver um desvalido, enquanto perdurar a injustiça com os infortunados
de qualquer natureza, teremos que pensar e repensar a história em termos de esquerda e direita.

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44 História
Temos também que olhar para trás e constatar que Herodes e Pilatos eram de direita, enquan-
to o Cristo e São João Batista eram de esquerda. Judas, inicialmente, era da esquerda. Traiu e
passou para o outro lado: o de Barrabás, aquele criminoso que, com o apoio da direita e do povo
por ela enganado, na primeira grande “assembleia geral” da história moderna, ganhou contra o
Cristo uma eleição decisiva.
De esquerda eram também os apóstolos que estabeleceram a primeira comunidade cristã,
em bases muito parecidas com as [de] (...) Canudos [criadas] por Antônio Conselheiro. Para de-
monstrar isso, basta comparar o texto de São Lucas, nos “Atos dos Apóstolos”, com o de Euclides
da Cunha, em Os Sertões. Escreve o primeiro: “Ninguém considerava exclusivamente seu o que
possuía, mas tudo entre eles era comum. Não havia entre eles necessitado algum”.
“Os que possuíam terras e casas, vendiam-nas, traziam os valores das vendas e os depunham
aos pés dos apóstolos. Distribuía-se, então, a cada um, segundo a sua necessidade”. Afirma o se-
gundo, sobre o pré-socialismo dos seguidores de Antônio Conselheiro: “(...) apropriação pessoal
apenas de objetos móveis e das casas, comunidade absoluta da terra, das pastagens, dos rebanhos
e dos escassos produtos das culturas, cujos donos recebiam exígua quota parte, revertendo o resto
para a companhia” (isto é, para a comunidade).
Concluo recordando que, no Brasil atual, outra maneira fácil de manter clara a distinção é a
seguinte: quem é de esquerda, luta para manter a soberania nacional e é socialista; quem é de
direita, é entreguista e capitalista. Quem, na sua visão do social, coloca a ênfase na justiça, é de
esquerda. Quem a coloca na eficácia e no lucro, é de direita.
(Adaptado de Suassuna, Ariano. Esquerda e direita. In: Folha de S. Paulo, 14 set. 1999.)

1. De acordo com o autor, quais personagens bíblicos estão associados à esquerda e quais estão
relacionados com a direita.

2. Por essas associações, podemos descobrir se o autor é de esquerda ou de direita? Justifique sua
resposta.

3. Vamos supor que o autor fosse do polo político contrário. Você acha que ele explicaria as diferenças
entre esquerda e direita dessa maneira? Justifique sua resposta.

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História 45
O Diretório (1795/1799)
Entre as medidas adotadas pelo Diretório, pode-
mos citar a abolição da Constituição de 1793 e a pro-

© Domínio público
mulgação de uma nova, que privilegiava a alta bur-
guesia. A Lei dos Preços foi abolida e o voto voltou
a ser censitário. O governo revolucionário passou a
ser controlado por um diretório formado por cinco
burgueses, escolhidos pelo poder Legislativo.
Durante esse período, a França passou a invadir
outros países, a fim de aumentar seus domínios ter-
ritoriais, enquanto impunha o liberalismo econômico
em seu território. Foi um período conturbado, pois
os monarquistas ainda queriam derrubar o governo
revolucionário, enquanto grupos radicais de esquerda
conspiravam para criar um governo mais democrá-
tico e uma sociedade mais justa, como é o caso de
Gracchus Babeuf, que foi preso e guilhotinado. Ansio-
sa pelo estabelecimento da ordem, essencial para os
negócios, a alta burguesia precisava de um governo Napoleão Bonaparte e o Golpe de 18 de Brumário.
forte e que contasse com prestígio popular. Encontrou
na pessoa de Napoleão Bonaparte a resposta para seus problemas. Napoleão era um vitorioso general
francês que havia vencido os ingleses no Egito, invadido a Itália e reprimido os revoltosos monarquis-
tas. Assim, em 10 de novembro de 1799 (18 de Brumário, pelo calendário da Revolução), Napoleão deu
um golpe de Estado, estabelecendo um novo governo, denominado Consulado, que estudaremos no
próximo capítulo. O Golpe de 18 de Brumário pôs fim ao ciclo de turbulência revolucionária na França,
consolidando as conquistas burguesas. A partir daí, a Revolução Francesa vai modificar a Europa e o
mundo, através dos exércitos de Napoleão e de suas ideias.

6. Em sua opinião, por que as medidas implementadas pelos girondinos, após a queda dos jacobinos,
não foram capazes de superar a profunda crise na qual a República francesa estava mergulhada?

A palavra “revolução” originou-se provavelmente da astronomia a partir da teoria de Copérnico,


“De Revolutionibus Orbium Coelestium”. No seu uso científico o termo reteve o seu significado original
latino, designando o movimento rotativo, regular e inexorável dos astros. Por ser infenso aos desígnios
do homem e, portanto, irresistível, jamais se caracterizou pela novidade ou pela violência. Ao contrário,
a palavra claramente indica uma tendência à recorrência, ao movimento cíclico. Se transferido para
a linguagem dos negócios dos homens na terra, o termo “revolução” poderia apenas significar que as

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46 História
poucas e conhecidas formas de governo revolvem-se como opções aos mortais numa oferta permanente
e com a mesma força que os astros obedecem nas suas precisas órbitas no espaço.
Quando a palavra “revolução” desceu dos céus e foi introduzida para descrever os acontecimentos
humanos, apareceu primeiramente como uma metáfora, substituindo aquela noção do imutável e
oferecendo, em troca, a noção dos altos e baixos dos destinos humanos. No século XVII encontramos
pela primeira vez a utilização política da palavra, mas o conteúdo metafórico ainda estava ligado ao
sentido original, o movimento de retornar a um ponto preestabelecido. A palavra foi primeiramente
usada na Inglaterra não para designar a assunção de Cromwell ao poder (a primeira ditadura revo-
lucionária), mas ao contrário, depois da queda do despota por ocasião da restauração da monarquia.
Podemos precisar o exato instante em que a palavra “revolução” foi utilizada no sentido de
mudança irresistível e não mais como um movimento recorrente. Foi durante a noite de 14 de
julho de 1789 em Paris, quando Luís XVI ouviu de um emissário que a Bastilha havia caído. “É
uma revolta”, disse o rei. Ao que o mensageiro retrucou: “Não, majestade, é uma revolução”.
Nas décadas seguintes conformou-se um quadro de que as revoluções não são feitas de homens
isolados, mas resultado de um processo incontrolável do qual os homens são parte. E foi somente na
metade do século XIX que Proudhon cunhou a expressão “revolução permanente” e com ela trouxe o
conceito de que não existem revoluções, mas uma só, total e perpétua. Teoricamente, a consequência
mais ampla da Revolução Francesa foi o nascimento da noção de História e do processo dialético,
da filosofia de Hegel. Foi a Revolução Francesa e não a Americana que incendiou o mundo e foi
consequentemente dela e não do curso dos acontecimentos na América que a presente conotação da
palavra ganhou o formato atual. Neste nosso século as ocorrências revolucionárias passaram a ser
examinadas dentro dos padrões franceses e em termos de necessidades históricas.
(ARENDT, Hannah. Da Revolução. São Paulo: Ática, 1988. p. 16.)

7. (Enem) Algumas transformações que antecederam a Revolução Francesa podem ser exemplifica-
das pela mudança de significado da palavra “restaurante”. Desde o final da Idade Média, a pala-
vra ‘restaurant’ designava caldos ricos, com carne de aves e de boi, legumes, raízes e ervas. Em
1765 surgiu, em Paris, um local onde se vendiam esses caldos, usados para restaurar as forças
dos trabalhadores. Nos anos que precederam a Revolução, em 1789, multiplicaram-se diversos
‘restaurateurs’, que serviam pratos requintados, descritos em páginas emolduradas e servidos não
mais em mesas coletivas e malcuidadas, mas individuais e com toalhas limpas. Com a Revolução,
cozinheiros da corte e da nobreza perderam seus patrões, refugiados no exterior ou guilhotinados,
abriram seus restaurantes por conta própria. Apenas em 1835, o Dicionário da Academia Francesa
oficializou a utilização da palavra restaurante com o sentido atual.
A mudança do significado da palavra restaurante ilustra
a) a ascensão das classes populares aos mesmos padrões de vida da burguesia e da nobreza.
b) a apropriação e a transformação, pela burguesia, de hábitos populares e dos valores da nobreza.
c) a incorporação e a transformação, pela nobreza, dos ideais e da visão de mundo da burguesia.
d) a consolidação das práticas coletivas e dos ideais revolucionários, cujas origens remontam à
Idade Média.
e) a institucionalização, pela nobreza, de práticas coletivas e de uma visão de mundo igualitária.

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8. O lema da Revolução Francesa foi “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Comente esse lema a
partir do que você aprendeu sobre o Iluminismo.

9. Associe o Golpe de 18 de Brumário aos interesses da burguesia francesa.

As revoluções burguesas permitiram que a burguesia ascendesse ao poder político e, através dele,
consolidasse suas conquistas econômicas. A Revolução Inglesa permitiu o surgimento de uma socie-
dade voltada para o lucro, o que possibilitou a eclosão da Revolução Industrial, enquanto a Revolução
Francesa disseminou os ideais burgueses para o restante do mundo, influenciando, a partir de então,
as formações políticas, sociais e ideológicas do mundo contemporâneo. Veremos, nos próximos capí-
tulos, as consequências dessas revoluções.

Filme sugerido: Danton, o Processo da Revolução – Andrzej Wajda, 1982.

Conturbado: tumultuado. Penoso: difícil.


Desígnios: desejos. Perdurar: continuar.
Desvalido: pobre. Rechaçado: repelido, expulso.
Honoríficos: que trazem honra. Similares: parecidas.
Inexorável: que não pode ser detido. Suprimíssemos: eliminássemos.
Infenso: contrário. Turbulenta: tumultuada.
Parasitária: que age como parasita. Usurpação: roubo.

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48 História
Pesquise o significado atual das denominações políticas “direita” e “esquerda” no Brasil para, a seguir,
classificar, com base em suas descobertas, as agremiações partidárias e as personalidades públicas bra-
sileiras nesses dois campos políticos.

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ANOTAÇÕES

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