RESP∴
∴ L∴
∴ OCIDENTE
O PAINEL OU “QUADRO” DO GRAU DE
APRENDIZ
ANTÓNIO SÉRGIO MARÇO 96
O PAINEL OU “QUADRO” DO GRAU DE APRENDIZ
1. INTRODUÇÃO
O Painel com que convivemos em cada sessão em Loja, no Grau de Aprendiz, encerra
em si uma simbologia riquíssima e diversificada, cujo significado a cada um de nós
importa decifrar e aperfeiçoar, no evoluir permanente e esforçado da construção do
nosso Templo interior.
Apesar de repositório físico de um conjunto de ideias base, genericamente
entendíveis a partir da mensagem subjacente a cada símbolo representado, e que
reflectem na sua singeleza a profundidade da mensagem e filosofia maçónicas, o
Painel é naturalmente visto e entendido de forma diferente por olhos diferentes, se
bem que na unidade da sua significância mais elementar.
Em termos de elemento integrante do templo, o Painel representa e motiva a
ambiência inerente ao espaço de debate maçónico, para além de se constituir como
catalizador de inspiração, meditação e elevação.
Neste particular, será de salientar o papel que o Painel desempenhou em épocas
remotas, quando ser-se maçom era motivo de perseguição e quando as reuniões em
Loja se realizavam em locais diversos, variando com frequência, sem carácter
permanente e geralmente sem condições próprias e adequadas para templo. Nestas
circunstâncias era vulgar o Painel ser desenhado a giz no chão do espaço
improvisado como templo, daí a sua outra designação de “Quadro”, e apagada a
respectiva representação após a sessão.
Nesses dias o Painel tinha uma importância ainda mais relevante que na actualidade,
pois constituía-se como um dos elementos fundamentais na decoração simbólica do
espaço de reunião maçónica, para além da sua função unificadora e mobilizadora
das vontades daqueles que se reuniam à sua volta.
Hoje o Painel tem a sua representação integral reproduzida na decoração do templo,
constituindo-se, para além do que já se referiu, como um dos elementos activos que
permitem identificar a ocorrência ou não dos trabalhos em Loja.
• O Painel desdobrado representa que os trabalhos em Loja estão a decorrer.
• O Painel dobrado representa que os trabalhos em Loja não foram iniciados ou
foram encerrados.
• A inexistência de Painel em templo representa que o templo está adormecido ou
sem actividade ritualizada.
2. DESCRIÇÃO GENÉRICA DOS SÍMBOLOS INTEGRANTES DO PAINEL
O Painel do Grau de Aprendiz integra cerca de dezoito símbolos, ou grupos de
símbolos, agrupados de forma harmónica e criteriosa, de acordo com a mensagem
que pretendem transmitir.
A sua descrição é feita de seguida, referindo sumariamente o significado subjacente
a cada um deles, tal como vulgarmente aceite.
2.1. As duas Colunas
As duas Colunas representadas no Painel, transportam-nos ao tempo e ao templo de
Salomão, onde as mesmas teriam sido construídas e onde supostamente estariam
colocadas no seu exterior. O material utilizado na sua construção terá sido o bronze,
tal como referido pela generalidade das fontes que sobre esta matéria se
pronunciaram. Já no que se refere às dimensões e decoração das Colunas as
opiniões, ou interpretações, são diversas pelo que deixo esta temática à curiosidade
e investigação dos Irmãos.
No Painel do Grau de Aprendiz as Colunas estão colocadas segundo um eixo paralelo
ao eixo Norte-Sul, imediatamente após os três degraus e antecedendo o mosaico
branco e negro e a Porta do templo. A sua forma faz lembrar as colunas Dóricas da
antiga Grécia e são encimadas por três romãs entreabertas, símbolo da fecundidade
da geração e da riqueza e da união dos maçons sob um ideal comum.
Olhando mais detalhadamente as Colunas verificamos a aposição da letra B na
Coluna da esquerda e da letra J na Coluna da direita. Esta característica é já referida
na Bíblia, sendo aí descrita a colocação da Coluna Jachin à direita da entrada do
templo e a colocação da Coluna Booz à esquerda da entrada do templo. Esta é a
disposição das Colunas tal como as vemos no Rito Escocês, contrariamente ao Rito
Francês que as coloca de forma inversa.
Por último será de referir o significado Bíblico dos nomes das Colunas. Assim, em
Hebraico, Jachin significa “ele estabelecerá” e Booz “na força”, pelo que se poderá
interpretar a mensagem como “Deus estabeleceu na força, solidamente, o templo e
a religião de que ele é o centro”. Ou, dito de outra forma, a construção do Templo é
solidamente fundada pelo empenho e pela força e vigor dos construtores, para além
da qualidade dos materiais que utilizam.
2.2 As Romãs
Na parte superior das Colunas que integram o Painel, bem como no caso das Colunas
que decoram os templos, verificamos a existência de três romãs, ligeiramente
abertas e com um aspecto que se assemelha a uma vulva. Daqui a conclusão de que
a sua simbologia representará a fecundidade, a geração e a riqueza. Por outro lado,
os inúmeros bagos que integram a romã representarão a multiplicidade dos maçons,
na unidade do seu ideal e da sua força.
Contrariamente ao aspecto simplificado das Colunas do Painel, supõe-se, tal como
nos é descrito na Bíblia, que as Colunas do templo seriam mais ricas na sua
decoração e as romãs localizar-se-iam na zona do capitel, em dois níveis separados
por sete voltas de correntes e integrando cada nível duzentas romãs. A encimar as
Colunas estaria um lírio, símbolo da inocência. Esta simbologia associada à
decoração mais rica das Colunas do templo de Salomão, terá como conceito geral a
unidade e riqueza de um ideal, na força e pureza das suas motivações.
2.3 Os três Degraus
Tal como já referido, a anteceder as Colunas e o mosaico no Painel do Grau de
Aprendiz, qual átrio que antecede a porta de entrada no templo, visualizam-se três
degraus que indiciam o esforço necessário à admissão no seu interior.
O facto de estarmos em presença de degraus indica-nos claramente, por um lado,
que é previsível e necessário um esforço de subida e elevação em três planos, rumo
à espiritualidade e perfeição. Indicia, por outro lado, que tal esforço está
dependente do próprio iniciado, da sua iniciativa e vontade.
O número de três degraus, número característico do estado de Aprendiz, tem a sua
explicação nos três planos iniciáticos correspondentes à divisão ternária do ser
humano em corpo, alma e espírito. Daí que aqueles representem o plano físico, o
plano intermédio, ou astral, e o plano psíquico ou mental, que corresponderão à
evolução do maçom rumo à espiritualidade.
O número três acompanha o Aprendiz de forma constante. Seja no número de
degraus do Painel do Grau, seja no número de passos da sua marcha, seja na sua
idade que é de três anos, seja na bateria que tem três golpes, seja na própria
cerimónia da sua iniciação, onde teve de fazer três viagens simbolizando os estados
por que passa até atingir a idade adulta.
Será ainda de referir que os três degraus representados no Painel não se encontram
materializados à entrada dos nossos templos, mas sim outros três degraus
antecedendo o altar do Venerável, os quais representam o esforço adicional que o
maçom terá de fazer para alcançar o Santuário.
2.4 O Mosaico Alvo e Negro
Imediatamente após os três degraus e as duas Colunas, que se vêm no Painel,
deparamos com um “átrio” que antecede a entrada do Templo. O piso deste átrio é
constituído por uma sucessão de mosaicos quadrados de cor branca e negra, que se
alternam e que nos sugerem várias interpretações.
Uma primeira interpretação será a de que esta estrutura consubstancia um princípio
de organização que presidirá a todas as coisas e se baseia e desenvolve na relação
entre os opostos, no contraste e na dualidade.
Outra interpretação poderá ser a de conflitualidade permanente entre duas forças
que se justificam mutuamente e cuja relação dialéctica é o fundamento de toda a
nossa existência - não entendemos o conceito de Bem na ausência do conceito de
Mal, bem como não entendemos o conceito de Trevas dissociado do conceito de Luz
e assim sucessivamente.
Esta dualidade encerra ainda a oposição entre o positivo e o negativo representados,
respectivamente pelo branco e pelo negro. Se associado ao branco encontramos o
Bem, o Espírito, a Luz, a Acção, ao negro associamos o Mal, o Material, as Trevas, a
Reacção.
Uma outra abordagem deste tema é para mim muito cara e não resisto em
descrevê-la, tal como é apresentada na Simbólica Maçónica de Jules Boucher. Aí se
diz: “... Trevas e Luzes estão ligadas no Piso Mosaico; elas são tecidas juntas, se
considerarmos as fileiras de lajes; mas os traços virtuais que as separam formam um
caminho rectilíneo, tendo o branco e o negro ora à direita, ora à esquerda. Essas
linhas são o caminho do Iniciado, que deve, não rejeitar a moral comum, mas elevar-
se acima dela. É preciso cuidar continuamente de tudo o que diz respeito à ética.
Aliás, as religiões, à medida que remontamos no tempo, afastam-se das concepções
morais que costumamos associar a elas. Essas linhas não aparecem aos olhos dos
profanos: eles não vêm mais do que lajes brancas e negras e, seguindo a via “larga”,
a via exotérica, passam alternativamente do branco para o negro e do negro para o
branco; eles têm então, à sua direita, à sua esquerda, na frente e atrás deles uma cor
oposta à sua: desse modo são assinaladas as oposições múltiplas que se formam sob
os seus passos. O Iniciado, pelo contrário, segue a via esotérica, a via “estreita” mais
fina do que o fio da navalha, e passa entre o branco e o negro, que não constituem
obstáculos à sua caminhada. A estreiteza do caminho mostra por si mesma que não
pode ser esse o caminho do profano.”
2.5 A Porta do Templo
No limite do mosaico que acabei de descrever encontramos no Painel uma fachada
murada que integra uma porta de dimensões reduzidas, tanto em altura, como em
largura. Superiormente à fachada detectamos um frontão de forma triangular
encimado por um compasso com as pontas dirigidas para o céu.
Esta porta representa a barreira que temos de ultrapassar para entrarmos no
Templo e as suas reduzidas dimensões pretenderão significar que esta transposição
do plano profano para o plano iniciático se processa com dificuldade e esforço. A sua
colocação a Ocidente significará, por outro lado, a barreira física que se interpõe às
Trevas que caracterizam o mundo profano.
Em resumo, poder-se-á dizer que associadas ao conceito de porta exígua, que
identificamos no Painel, encontramos simbolicamente as ideias de transposição, de
planos, ou estados de espiritualidade diferente, para além da ideia de esforço na sua
transposição.
2.6 O Triângulo
A encimar a porta do templo no Painel do Grau de Aprendiz encontramos um
triângulo isósceles, cuja base, seu lado maior, se apoia a toda a largura da fachada
murada que atrás se referiu.
Este símbolo, de raiz ternária, poderá representar em termos maçónicos a tríade
Liberdade, Igualdade, Fraternidade ou, como diz Jules Boucher: a fórmula Bem
pensar, bem dizer, bem fazer. Por outro lado, sendo um símbolo constituído por três
elementos, ele representará o equilíbrio que o terceiro elemento contrapõe à
dualidade dos opostos. Por isso é geralmente associado ao conceito de divindade,
Suprema Estabilidade, Suprema Harmonia, fonte de Luz e Paz.
O Triângulo ou Delta Luminoso contém vulgarmente no seu interior o olho divino,
que tudo vê, ou ainda a letra G, que significa a própria divindade ou o conceito
menos conotado de Supremo Arquitecto do Universo. Tal facto não se regista, no
entanto, no Triângulo que integra o Painel.
2.7 As Três Janelas
Ao olharmos para o Quadro do Aprendiz verificamos a existência de três janelas com
uma rede colocadas a Oriente, a Sul e a Ocidente. Na sua parte superior as janelas
têm a forma de uma semi-circunferência, a que se sobrepõe uma moldura de igual
forma.
O simbolismo que geralmente é associado às janelas poderá ser analisado segundo
duas ópticas: a óptica da sua localização e a óptica da sua constituição.
No que se refere à localização das janelas, verificamos que as mesmas se implantam
segundo os pontos cardeais ligados ao movimento do Sol no Hemisfério Norte, facto
que permite a iluminação do templo durante todo o dia.
Assim, verificamos que após a aurora os raios de Sol penetram através da janela do
Oriente iluminando a zona Ocidental do templo, local onde se instalam os Vigilantes
e despertando-os para o início do dia. Ao meio-dia, momento em que a intensidade
dos raios solares é mais forte, a incidência processa-se através da janela Sul,
permitindo um forte espalhamento de Luz segundo o eixo transversal do templo e
iluminando com maior intensidade a zona onde se concentram os Aprendizes,
obreiros mais necessitados da Luz, se comparados com os Companheiros. Ao fim do
dia os raios de Sol penetram através da janela de Ocidente, iluminando a zona
Oriental do templo com uma Luz suave e difusa, claramente consentânea com o alvo
atingido, ou seja o Santo dos Santos.
O facto de não existir nenhuma janela do lado Norte é perfeitamente compreensível,
se atendermos que essa localização não é iluminada pelo Sol, se nos localizarmos no
Hemisfério Norte e, como tal, torna-se desnecessária.
Ao analisarmos as janelas na óptica da sua constituição, verificamos que as mesmas
se caracterizam por uma forma e estrutura vulgares denotando, no entanto, a
existência de uma rede, ou grade, que pretenderá simbolizar que o acesso ao templo
é impedido pela sua transposição.
2.8 A Pedra Bruta
Continuando o percurso através do Painel do Grau de Aprendiz encontramos do lado
Norte, nas proximidades do Ocidente e junto à Coluna B, um bloco de pedra com
forma irregular, que correntemente designamos por Pedra Bruta.
Este elemento representa, por um lado, o Aprendiz que, após a iniciação, se libertou
dos preconceitos e grilhetas do mundo profano. É assim um símbolo de liberdade e
purificação após o renascimento para uma nova vida. Poderemos concluir, por outro
lado, que a sua forma irregular representará um estado imperfeito no plano
maçónico, que urge desbastar e facetar, tendo em vista o aperfeiçoamento que todo
o maçom busca na contínua construção do seu Templo interior.
2.9 A Pedra Cúbica Pontiaguda e o Machado
Associado ao simbolismo da Pedra Bruta encontramos a Pedra Cúbica que,
simbolicamente, mais não é que o produto do trabalho árduo de desbaste da
primeira, através do estudo, do esforço e do trabalho que todo o maçom
desenvolve.
No Painel do Grau de Aprendiz, do lado Sul, nas proximidades do Ocidente e junto à
Coluna J, visualizamos uma Pedra Cúbica encimada por uma pirâmide quadrangular
que designamos correntemente por Pedra Cúbica Pontiaguda. No seu pico integra-se
um machado.
A Pedra Cúbica e o Machado estão ligados ao estado de desenvolvimento do
Companheiro, daí a sua localização a Sul junto à Coluna J.
No sentido de melhor interpretar o simbolismo destes elementos conjugados,
socorrer-me-ei novamente da Simbólica Maçónica de Jules Boucher. Aí se pode ler:
“... A Pedra é colocada sub ascia, sob o machado, para indicar o seu carácter
sagrado; ela continua ‘cúbica’, embora encimada por uma pirâmide que a protege da
Água, como o machado a protege do Fogo (o raio). Essa Pedra representa o ideal
maçónico, que sempre será preciso defender contra a Água e o Fogo: a primeira,
representando as forças dissolventes; o segundo, as forças demasiado ´sublimantes’.
O Maçom deve manter-se num ‘meio termo’ com segurança e rectidão.
2.10 Corda com três nós que emoldura o Painel
A emoldurar o Painel do Grau de Aprendiz visualizamos uma corda com três nós,
localizados a meio dos lados Sul, Oriente e Norte, e que termina junto ao Ocidente
por duas borlas. Uma junto à Coluna B e a outra junto à Coluna J. Este conjunto toma
correntemente a designação de Borda Dentada.
Os nós, apelidados de laços de amor, serão em número diferente para alguns
estudiosos maçónicos, de acordo com teses que justificarão tal diferença. Não me
deterei a interpretar estas divergências. Limitar-me-ei a tentar interpretar o
simbolismo associado a este elemento.
Analisando a Borda Dentada, verificamos que estamos em presença de uma corda
sem descontinuidades que, de quando em quando se entrelaça formando nós. Daqui
poderemos retirar duas possíveis conclusões que permitirão fazer luz sobre a sua
simbologia. Uma primeira conclusão é a de que estamos em presença de um
elemento contínuo que poderá simbolizar a Cadeia de União que liga todos os
maçons e que tem um carácter indissolúvel. A segunda conclusão será a de que o
entrelaçamento, que a corda faz para formar os nós, poderá significar o segredo que
cumpre assegurar na salvaguarda dos mistérios da nossa Augusta Ordem.
2.11 O Sol
À direita do Painel e do lado de Oriente vislumbramos um Sol, astro associado
geralmente ao elemento Fogo e que simboliza a fecundidade, a expansividade e a
emissão de calor e luz.
O Sol é o princípio activo e benéfico, daí localizar-se do lado direito do Painel.
A sua Luz ilumina o Templo e os maçons bebem da sua influência a força que
necessitam para o trabalho denodado que têm de desenvolver.
2.12 A Lua
À esquerda do Painel e do lado de Oriente vislumbramos uma Lua, elemento este
associado geralmente ao elemento Água e que simboliza a fertilidade, a instabilidade
e mudança, bem como a sensibilidade e a criatividade.
A Lua é o princípio passivo e maléfico, daí localizar-se do lado esquerdo do Painel. É
representada, no entanto, com o aspecto de Quarto Crescente, fase da Lua
considerada benéfica.
A Lua não é concebível sem que exista o Sol. Ela reflecte para a Terra a luz emitida
por aquele astro após o seu ocaso. É pois um fenómeno de substituição na emissão
de luz, fenómeno reflexo e de intensidade radicalmente diferente à do astro rei.
2.13 O Compasso
Tal como já anteriormente referido ao analisarmos a Porta do Templo, verificámos
que esta apresenta na sua parte superior um triângulo isósceles, a que damos
correntemente a designação de Delta Luminoso. Após este e apoiado no seu vértice
superior encontramos um compasso invertido que aponta as suas extremidades para
o Oriente.
O Compasso é dos instrumentos mais ricos e complexos no seu significado esotérico,
de entre todos aqueles que a tradição maçónica utiliza nas suas representações
simbólicas. Ele, à semelhança do Sol, é também considerado um elemento activo.
O Compasso é normalmente identificado como o símbolo do Espírito e do poder
sobre a Matéria, esta representada pelo Esquadro.
A sua forma, com dois braços e um ponto de ligação, assimilável a uma cabeça,
poderá fazer lembrar o Homem. O significado da sua forma prender-se-á com a
resolução da conflitualidade entre os opostos, representados pelos braços do
compasso, e a síntese daí resultante, representada pela parte comum, ou cabeça.
Refira-se ainda quanto a esta interpretação que o afastamento entre os braços
evolui das suas extremidades até à zona comum, facto que nos poderá levar a
concluir que um esforço de convergência se torna necessário para a resolução dos
conflitos duais e que o mesmo terá um carácter evolutivo.
Analisemos agora o significado da abertura do Compasso, ou seja o afastamento
maior ou menor entre os respectivos braços.
Desde uma abertura reduzida até à sua abertura teórica máxima, que é de 180
graus, o Compasso reproduz o domínio sobre a Matéria. Ele permite traçar círculos
variáveis em dimensão, quais representações do astro-rei.
Ao alcançar a sua abertura máxima o Compasso revela-se incapaz de desenhar
qualquer traço. Atingiu o limite do seu domínio, o Absoluto, o limite a partir do qual
o conhecimento humano ainda não penetrou. Daqui se poderá concluir também que
ao Compasso estará associado o conceito de Relativo.
Voltando ao Painel e analisando a abertura que o Compasso apresenta verificamos
que o mesmo se encontra aberto a 45 graus, facto que pretenderá revelar que o
grau de domínio sobre a Matéria é sempre imperfeito.
2.14 O Esquadro
O esquadro é um instrumento que na simbologia maçónica aparece geralmente
associado ao Compasso. Contrariamente ao já referido para o Compasso, que
simboliza o princípio activo, o Espírito, o Esquadro simboliza o princípio passivo, a
Matéria.
Se observarmos o Painel do Grau de Aprendiz, verificamos que o Esquadro aí
representado é um esquadro de lados desiguais, desenhado acima do Compasso, em
direcção ao Oriente e cujas pontas estão viradas para baixo, em direcção às pontas
do Compasso. A sua posição, tal como o Compasso, é central relativamente aos
lados Norte e Sul.
Detenhamo-nos um pouco na interpretação de algumas das características que este
instrumento apresenta.
Em primeiro lugar verificamos que a relação de abertura entre os dois lados é de 90
graus, a perpendicular. Esta posição relativa representará o princípio da rectidão que
encontramos associado a este instrumento.
Por outro lado, o Esquadro aparece associado ao Venerável da Loja, fonte de
rectidão no seu exercício e catalizador e transmissor dos ensinamentos para a
transformação da Pedra Bruta, a qual não será realizável sem a ajuda do Esquadro.
Ainda é de referir que a diferença de comprimento dos braços do Esquadro se
prende com a relação pitagórica estabelecida pelo Princípio de Pitágoras, sendo o
lado mais pequeno representado pelo número 3 e o lado maior pelo número 4.
Daqui se poderá ainda retirar que associado ao Esquadro se encontra a ideia de
Conhecimento.
2.15 A Perpendicular
Continuando a nossa caminhada através do Painel do Grau de Aprendiz,
encontramos do lado Norte e após a Coluna B, uma Perpendicular, geralmente
conhecida por fio de prumo.
Associado à Perpendicular está o princípio activo, contrariamente ao Nível, que é
associado ao princípio passivo.
A Perpendicular é o instrumento ligado ao 2º Vigilante, contrariamente ao que se
poderia depreender pela sua localização no Painel. Tal dever-se-á, eventualmente à
sua associação ao local onde se encontram sentados os Aprendizes, ou seja a Norte.
Simbolicamente poderemos concluir que a Perpendicular representará a busca da
Verdade e do aprumo, com profundidade e equilíbrio. Para o efeito haverá que
caminhar com coerência e sem tergiversações, geradoras de inconsistências e
desequilíbrios.
2.16 O Nível
Em posição simétrica à da Perpendicular, encontramos, no Painel do Grau de
Aprendiz, o Nível. Ele está representado no lado Sul e após a Coluna J.
Associado ao Nível está o princípio passivo, contrariamente ao que já analisámos
quanto à Perpendicular, que é associada ao princípio activo.
O Nível é o instrumento ligado ao 1º Vigilante, contrariamente ao que se poderia
depreender, tal como já referido para a Perpendicular, pela sua localização no
Painel. Tal dever-se-á, eventualmente à sua associação ao local onde se encontram
sentados os Companheiros, ou seja a Sul.
Simbolicamente poderemos admitir que o Nível representará a ideia de igualdade,
sem que daí resulte o conceito de nivelamento, que esquece as especificidades e as
diferenças.
O Nível, na forma que nos aparece no Painel, é um instrumento mais complexo que
a Perpendicular, facto que permite imediatamente retirar que a sua simbologia será
mais rica. Com efeito a forma sob a qual o Nível nos aparece integra um esquadro
justo, esquadro de lados iguais, em cujo vértice se liga um fio-de-prumo. Ligando os
dois lados do esquadro deparamos com um elemento horizontal, através do qual e
na sua relação com o prumo, verificamos o conceito de nivelamento. Trata-se pois
de um instrumento mais completo, que integra não só o conceito simbólico de
verticalidade, mas também a ideia de equidade.
2.17 O Malhete e o Cinzel
Continuemos na análise do Painel do Grau de Aprendiz.
Do lado Norte e acima da Pedra Bruta, encontramos um Malhete e um Cinzel,
símbolos do Aprendiz na sua luta esforçada de transformação da Pedra Bruta em
Pedra Cúbica.
O Malhete é assim um instrumento que encerra em si o conceito de força, a força
que é aplicada no desbaste da pedra. É por outro lado um instrumento associado ao
princípio activo, ao trabalho, à inteligência, à determinação moral e ao comando. É o
instrumento característico do Venerável, usado na direcção dos trabalhos com rigor,
clarividência e vigor.
O Cinzel, como referido anteriormente, está ligado ao trabalho do Malhete no
desbaste da pedra.
O Cinzel é um instrumento passivo e emblema das belas artes, através do qual e sob
a acção do Malhete, é simbolicamente possível libertar a canga de preconceitos e
excrescências que revestem a natureza humana. Por seu intermédio é possível
facetar a pedra, mediante o correcto posicionamento da sua lâmina, quer segundo a
direcção adequada, quer mediante a inclinação de corte mais correcta.
2.18 A Prancha de Traçar
Voltemos à análise do Painel do Grau de Aprendiz.
Junto à Janela do Oriente, imediatamente abaixo, encontramos desenhada uma
Prancha de Traçar.
Este símbolo está intimamente ligado ao grau de Mestre, assim como a Pedra Cúbica
ao grau de Companheiro e a Pedra Bruta ao grau de Aprendiz.
É na Prancha de Traçar que o Mestre desenvolve os seus pensamentos, escrevendo.
Qualquer texto que elaboramos na nossa actividade maçónica é traduzido pela
palavra prancha. Por seu turno o verbo escrever é substituído pelo verbo traçar.
Em termos simbólicos a Prancha de Traçar representa a actividade intelectual, mais
evoluída, que caracteriza o estado de evolução dos Mestres, se comparado com os
Companheiros ou com os Aprendizes. É, por outro lado, uma referência que os
Aprendizes e Companheiros devem manter presente, por forma a que, pelo seu
trabalho dedicado, se revelem progressivamente mais capazes de traçar sem
dificuldades e com perfeição as pranchas do Conhecimento.
Após esta breve descrição dos elementos constituintes do Painel do Grau de
Aprendiz, resta-me esperar que o prazer que tive na elaboração desta prancha seja
partilhado por vós, meus Irmãos, a quem a mesma se dirige.
Espero, por outro lado, que os seus destinatários principais, os Aprendizes,
encontrem nela fonte de inspiração para os seus estudos e ânimo suficiente para a
sua mais profícua valorização enquanto maçons.
Que o Grande Arquitecto do Universo nos ilumine na busca da Verdade e da
Suprema Harmonia!
Lisboa, Março de 1996 (e:.v:.)
ANTÓNIO SÉRGIO M:. M:.