Trigo de Deus (Amelia Rodrigues)
Trigo de Deus (Amelia Rodrigues)
TRIGO DE DEUS
Aqueles eram dias semelhantes a estes.
O poder temporal galopava o ginete das ambies desmedidas, submetendo povos e
naes ao talante das suas arbitrariedades.
A criatura humana, despojada dos direitos legais, embora triunfasse por um dia no
fausto e na glria, noutro, vencida pelas guerras cruentas e incessantes, passava condio
servil, valendo menos que um animal de carga.
Os valores ticos, desconsiderados, estabeleciam o caos nos relacionamentos
individuais e comunitrios, facultando a hediondez e a predominncia do egosmo, que
favoreciam o orgulho vil, conduzindo as criaturas sob terrveis inquietaes.
Dominavam a suspeita sistemtica e a desconsiderao moral, permitindo que os
ideais da Humanidade fossem manipulados pelas conjunturas polticas odientas, que
levavam aos escombros as construes espirituais e filosficas do passado.
A Terra era, ento, uma imensa seara, na qual o trigo se encontrava mirrado,
vencido pelo escalracho destruidor.
A fome, a doena, a viuvez e a orfandade desvalidas davam-se as mos, a fim de
disputarem os cadveres e se nutrirem dos restos, que devoravam como chacais, e lhes eram
destinados pelos ricos, nos arredores das cidades, alm dos muros...
Mas hoje ainda permanece quase tudo assim.
Mudaram as pocas, aumentaram as populaes, e prosseguem quase as mesmas
causas da misria, que filha dileta do egosmo e da avareza de alguns poucos homens,
como ocorria naqueles tempos.
Foi nessa paisagem que Jesus veio apresentar a Doutrina de amor, propondo uma
Nova Ordem fundamentada na solidariedade fraternal.
Todo o Seu empenho centrou-se na transformao moral da criatura terrestre, que
Depois dEle, quando o incndio do amor tomou conta das vidas e os mrtires se
levantaram para glorific-10, colocando sobre os ombros as cruzes dos testemunhos, Incio
de Antioquia, Seu discpulo, denunciado e condenado, antes de seguir a Roma para o
holocausto, declarou:
Sou trigo de Deus e desejo ser triturado e os dentes das feras devem moer-me,
para que possa ser oferecido como limpo po de Cristo.
Recusou o apoio dos amigos influentes na capital do Imprio, porquanto a sua maior
ambio era a doao total, recordando o seu amado Crucificado, cujo madeiro lhe pesava
sobre os ombros.
... E desde ento, a aceitao do Evangelho unia pessoa o martrio futuro.
NOTCIAS HISTRICAS
No obstante profundamente arraigado na Histria o pensamento cristo, ainda
existem aqueles que teimam em negar a existncia de Jesus, informando que Ele pertence
galeria dos mitos, bem como a Sua doutrina resultado de lendas e elaboraes imaginosas
muito ao gosto da tradio oriental...
A linguagem dos fatos no lhes basta, e a palavra insuspeita de inmeros
historiadores no lhes constitui prova.
Descomprometido, Flvio Josefo se refere existncia do Mestre e aos
acontecimentos que Lhe cercaram a vida, inscrevendo-0 nos fastos do Imprio Romano, sem
qualquer riqueza de comentrios.
A incomum adeso de milhares de pessoas em poucos anos aps a Sua morte, as
notveis Cartas de Paulo e as narraes das Testemunhas daqueles dias, que vieram a
formar os Evangelhos, igualmente, para eles, no passam de suspeitosos documentos
elaborados com o fim de torn-10 real, arrancando-0 do campo conceptual para o terrestre.
Desencadeadas as perseguies contra os Seus seguidores, sejam na Palestina, logo
aps Sua morte, ou em Roma, a partir de Nero, ou em todo o Imprio, quase imediatamente,
historiadores criteriosos, que se opunham Doutrina, testemunharam a Sua realidade.
Entre outros, Tcito, nos Anais, 15:44, referindo-se ao incndio de Roma e acusao
assacada por Nero e seus famanazes contra os cristos, para livrarem-se da suspeita geral
que lhes atribua a responsabilidade do crime, diz:
... Embora os conhecidos esforos humanos de todos, os da liberalidade do
imperador e dos sacrifcios oferecidos aos deuses, nada era suficiente para liberar a
crena, que se generalizava, de que o incndio fora ordenado. Desse modo, para acabar
com esse rumor, Nero conseguiu encontrar os responsveis nos cristos, gentalha
odiada por todos, face s suas abominaes, e os castigou com incomum crueldade.
Cristo, de quem tomam o nome, foi executado por Pncio Pilatos durante o reinado de
Tibrio. Detida por um iftstante, esta superstio daninha apareceu de novo, no
somente na Judia, onde se encontrava o mal enraizado, mas igualmente em Roma,
esse lugar onde se narra, etc...
Apesar do parcialismo do historiador sobre a crena crist, a sua referncia em
torno da morte de Jesus, nos dias de Pncio Pilatos, durante o reinado de Tibrio,
1 PESCADORES DE ALMAS
Pairavam no ar desconhecidas vibraes de paz e alegria.
Quase inaudvel, escutava-se uma sinfonia que chegava de longe, to suave como
nunca se ouvira antes.
Aquela era uma regio aprazvel e abenoada. O lago, espelho imenso refletindo o
cu, emoldurava-se de praias largas, adornadas de rvores vetustas, e da grama verde que
parecia escorregar dos aclives cortados por ribeirinhos, nos quais se amontoavam as casas de
pedras, que se multiplicavam nos vilarejos, povoados e cidades.
A Galilia, bela e simples, fora o cenrio escolhido pelo Cantor, para apresentar a Sua
mensagem e embalar o mundo com a Sua voz.
Em Cafarnaum todos se conheciam. Suas praias e ancoradouros sempre regurgitavam
de pescadores, de negociantes, de homens da terra.
A profisso tradicional de amantes do mar passava de pais para filhos, de gerao em
gerao.
Homens rudes e generosos, face ao trabalho a que se dedicavam, confraternizavam
com vinhateiros, agricultores, as gentes humildes, raramente se envolvendo com as questes
discutidas na sinagoga, desinteressados dos problemas das classes abastadas.
A vida pulsava naquelas reas, no mercado, e os viajantes de outras provncias ali
narravam os acontecimentos dos lugares distantes, causando deslumbramento.
As caravanas que venciam o Jordo, no rumo dos pases fabulosos, seguiam outros
caminhos, e os acontecimentos ali permaneciam inalterados.
A natureza bordara a paisagem com tons escarlates, e as boninas misturavam-se com
as papoulas de haste esguia salpicando cores em toda parte.
Os problemas do cotidiano repetiam-se quase montonos, sem alterarem o ritmo de
vida das pessoas.
Por isso mesmo, percebia-se, sem palavras, que algo estava por acontecer.
A notcia chegou aos ouvidos do povo como uma ecloso de alegrias, embora
confusamente.
Narrava-se que um homem singular e profeta aparecera e informara ser o Filho de
Deus.
No trazia insgnias, nem se fazia acompanhar de squito algum deslumbrante.
Surgira inesperadamente e manifestara-se a pessoas diferentes, esclarecendo que
viera fundar um reino de amor e de justia para os deserdados e sofredores.
O mundo sempre esteve repleto de deserdados e sofredores. Marginalizados, em
todos os tempos, buscavam consolo e a herana da paz.
Nunca houve quem os quisesse escutar ou socorrer, e, formando multides, viviam
escassamente, na misria, na sordidez, no abandono...
Algum interessar-se por eles, era-lhes uma grande surpresa, desconcertante ventura
a que no se encontravam acostumados.
A boa nova, portanto, espalhou-se com velocidade, adiantando-se que, no sbado,
Ele falaria num monte prximo a Cafarnaum.
Simo, tambm conhecido como Cefas, era irmo de Andr, ambos pescadores.
As suas preocupaes restringiam-se s necessidades bsicas da famlia, da vida. Sem
aspiraes maiores, limitavam-se faina da pesca, venda dos frutos do mar e aos deveres
conseqentes de uma existncia simples.
Os amigos narraram-lhes as novidades, acrescentando, naturalmente, detalhes da
prpria imaginao.
As criaturas anelam por salvadores, que lhes solucionem os problemas, ajam no
momento dos desafios e atuem por elas. H uma latente irresponsabilidade, que deseja viver
sem o trabalho, sem o sofrimento.
Em razo disso, a esperana de paz sempre se turba com a ambio da ociosidade.
Simo era homem cptico, sem sutilezas de comportamento.
Portador dos conflitos humanos naturais, enrijecera a fibra moral na atividade a que
se entregava, desinteressando-se praticamente de tudo mais.
Ouvindo as informaes e sentindo o entusiasmo ingnuo dos amigos, experimentou
um desconhecido ressentimento do estranho Profeta, que certamente era mais um
mistificador que vivia explorando a ignorncia das massas.
Recusou-se a ir ouvi-10.
Algo, porm, remoa-se-lhe intimamente, e uma estranha curiosidade empurrou-o,
pela madrugada do sbado, a empreender a marcha na direo do lugar onde Ele iria
apresentar-se.
Respirando o ar balsmico e frio do amanhecer, o pescador viu-se surpreendido pelo
nmero de pessoas silenciosas que seguiam pela estrada real.
Os rostos apresentavam-se expectantes uns, tensos outros; em todos, porm, estavam
os sinais da esperana.
Enfermos de vrios matizes eram conduzidos: cegos, coxos, paralticos carregados,
obsidiados, dementes, ancios e outros cujas doenas eram a idade avanada, o desgaste, o
abandono irrecupervel...
Um misto de piedade e ira tomou Simo.
Como as pessoas lhe pareciam estpidas, entregando-se a qualquer aventureiro que
surgisse pensava, contrariado.
Quando atingiu o acume do cerro, a multido era densa.
Dali podia-se ver o mar querido, refletindo o fogo do dia nascente.
Procurou ouvir alguns comentrios. Todos falavam sobre as prprias necessidades e
expectativas de receberem ajuda, soluo para os problemas.
Naturalmente, acercou-se das primeiras filas, que renteavam uma larga pedra, qual se
fora um palco natural no imenso cenrio da natureza.
medida que o Sol bordava de luz a terra, o vozerio aumentava e as queixas
misturavam-se nas bocas dos sofredores.
Subitamente Ele apareceu. Esguio e belo, o rosto magro e queimado adornava-se de
barba e cabelos nazarena, onde brilhavam olhos transparentes como duas estrelas
engastadas. A tnica descia-lhe at os ps, tecida na roca, em tom carregado de mrmore...
Majesttico, a Sua figura imps silncio sem dizer nada.
Uma exclamao de jbilo escapou dos lbios da multido ao v-10.
Aps os momentos de expectativa, Ele falou:
A hora esta, para a grande revoluo pelo Reino de Deus.
Enquanto no mundo, a criatura somente experimenta aflies, porque tudo a quanto
se aferra efmero. So passageiros os prazeres, o poder, a fortuna, a sade, o prprio
corpo... Essa iluso de gozo a geradora dos sofrimentos, em razo da transitoriedade dele
e de como passam todas as coisas, por mais sejam aguardadas. Quando chegam e comeam
a ser frudas, j se encontram em deperecimento, de passagem, deixando memrias,
frustraes, ansiedades novas, amarguras...
O homem, prudente e sbio, que pensa no amanh, reserva-se bens duradouros, que
lhe favorecem tranquilidade e repouso. Esses bens imorredouros so as aes de amor, que
proporcionam paz, o esforo para domar as paixes inferiores, que oferece a felicidade.
Fez um silncio oportuno, a fim de facultar entendimento, reflexo, aos ouvintes.
Logo mais, prosseguiu:
Eu vos convido a virdes comigo, para a fundao da Nova Era, que se instalar
nos coraes, modificando as estruturas atuais e instaurando o primado do amor...
Quando ia prosseguir, uma mulher, que trazia nos braos uma criana cega, rogou:
Senhor, cura minha filha, e eu Te seguirei.
Os olhos da multido nEle cravados, voltaram-se na direo daquela que se atrevera a
interromp-10.
Por encontrar-se atrs de Simo, e porque, trmula, chorava, o pescador tomou-lhe a
menina nos braos e avanou at a primeira fila.
Jesus acercou-se e mergulhou, nos olhos de Simo, o seu doce olhar, sem uma
palavra. No entanto, emocionado, ele pareceu escutar no ntimo, a Sua voz, que dizia : Eu te
conheo Simo, desde ontem...
Acompanhou-lhe a mo, cujos dedos tocaram os olhos mortos da criana, e ouviu-0
falar: V, filha, em nome de meu Pai.
A criana comeou a chorar e gritar: Eu vejo, eu enxergo!
A me avanou e arrebatou-a, estuante.
Quando Ele desceu o brao, a manga da tnica rociou o trax de Simo, que
estremeceu, mergulhado na luz dos Seus olhos, e ali ficou, paralisado, havendo perdido o
contato com o mundo sensorial.
Ao retornar, realidade, sob a ardncia do dia, estava a ss; todos se haviam ido; a
hora avanava.
Simo, profundamente comovido, desceu a Cafamaum.
J no era o mesmo. Nunca mais voltaria a ser o que fora. O que se passou nele,
modificou-lhe a vida para todo o sempre, a partir daquele momento.
Interrogando-se, desejava saber de onde e desde quando O conhecia e O amava...
Na acstica da alma, ressoava-lhe a voz, confirmando, desde ontem...
Andr, os amigos notaram-lhe a modificao e a sbita tristeza que lhe refletia no
rosto.
O encontro com a verdade liberta e algema o ser. Desencarcera-o do mundo, e
aprisiona-o Vida. Produz jbilo e traz melancolia. po que alimenta, mas, nutre somente
a pouco e pouco at satisfazer plenamente.
Simo fez-se taciturno, como quem aguarda, embora permanecesse gentil e
cumpridor dos deveres.
Foi nesse estado de esprito que, em formosa manh, enquanto organizava as redes
com o irmo, foi surpreendido pela presena do Amigo, que se lhes acercou e, com uma voz
inesquecvel, convidou-os:
Segui-me, e eu vos farei pescadores de homens. (*)
Sem nenhuma contestao, eles abandonaram as redes e, embevecidos, dominados
pela Sua presena, O seguiram.
Amo que chama os servos, senhor que conduz escravos, Ele os tomou e fez de suas
vidas um poema de felicidade, com eles escrevendo a mais comovedora histria do mundo,
enquanto lanava as fundaes do Reino de Deus nos coraes.
Pescadores de almas, Ele os fez!
2 PRESENA EM CAFARNAUM
A regio escolhida para a base operacional do Seu ministrio no poderia ser outra
em Israel.
De Jerico at s guas profundas do Genezar o verde luxuriante confraternizava com
o azul transparente dos cus.
A terra, sorrindo flores silvestres e recoberta de rvores generosas, recebia os ventos
gentis do entardecer e das noites agradveis, salpicadas de estrelas luminferas.
Por isso, Jesus elegeu a Galilia, onde a alma simples e nobre das gentes afeioadas
ao trabalho poderia fascinar-se com a msica da Sua palavra libertadora.
Em Nazar, as dificuldades familiares e as lutas derivadas da inveja colocaram as
primeiras barreiras ante o desafio de implantar nas paisagens dos coraes o reino de Deus.
Na Galilia buclica, porm, beijada pelas espumas incessantes das vagas do mar,
entre tamarindeiros e latadas floridas, os pescadores, os vinhateiros, os agricultores, tinham
os ouvidos abertos para a mensagem da luz.
Cafarnaum, Magdala, Dalmanuta, faziam recordar prolas engastadas na coroa de um
rei, a duzentos metros abaixo do nvel do Mediterrneo, encravadas como um diamante
estelar para refletir a beleza do firmamento.
Cafarnaum notabilizara-se pela sua Sinagoga, pelo movimentado comrcio e pelas
guas piscosas de onde se retirava o alimento dirio. E pelas terras frteis que escorrem na
direo das guas, atendidas por filetes de crregos velozes que se avolumavam.
Ali, Jesus situou o fulcro do Seu ministrio, e foi na casa de Simo Bar Jonas que Ele
estabeleceu o piloti para erguer posteriormente o Seu reino.
Crivado de interrogaes que a ingenuidade dos pescadores arquitetava, Ele
respondia mediante a linguagem florida das parbolas, enternecendo-lhes as almas por usar
as palavras simples da boca do povo e profundas da sabedoria divina.
Inquirido a respeito da poltica arbitrria pela governana injusta, desviava o assunto,
apontando a poltica do amor e a governana divina em cujo bojo todas as criaturas se
encontram.
Observado com suspeio pela massa, e aceito sob desconfiana, Ele enriquecia as
mentes com os mais belos fenmenos da Sua poderosa fora, demonstrando, pelos
sucessivos silncios, ser o Messias esperado.
3 SOU EU (*)
A cena incomparvel da restituio da vista, ao cego de nascena, produzira um
impacto singular e poderoso nos que o conheciam.
Havendo nascido nas sombras da cegueira, o jovem tornara-se mendigo. Exibia sua
aflio misericrdia dos passantes, que o consideravam filho do pecado.
Preconceituoso, na sua imensa ignorncia, o povo, poca, desdenhava os enfermos
e considerava-os punidos por Deus. A impiedade, dessa atitude decorrente, caracterizava os
eleitos que, dia a dia, mais se distanciavam do objetivo sagrado da vida, que o amor.
Com a escudela na mo, o infortunado suplicava ajuda, at o momento em que Jesus
5 VIDAS RIDAS
Aquela era uma rida regio, quanto ridos eram os coraes que a habitavam.
O cativeiro prolongado, por mais de uma vez, no Egito e na Babilnia, tornara aquele
povo pastoril insensvel ao sofrimento, insensibilidade essa que passou, de gerao a
gerao, tornando as pessoas indiferentes s aflies do prximo.
A presena suave-doce de Jesus no lhes produzia alterao emocional, to marcadas
se encontravam as vidas, que se desacostumaram ao amor. No raro, pelo contrrio, Sua
conduta provocava a ira dos fariseus empedernidos e do povo insensato.
Desfilavam em toda parte as dores que maceravam os seres e a que todos se
encontravam acostumados, sem que a solidariedade e a compaixo distendessem mos
generosas em seu socorro.
A tradio somava s aflies uma terrvel pena, asseverando que os enfermos e
estropiados se encontravam sob a indiferena de Deus, porque viviam em pecado. Quando os
no expulsavam das suas cidades aos portadores de males mais graves concediam-lhes
a atitude de desprezo.
Uma vez, na Pscoa, os mais ricos abriam suas propriedades aos mais pobres e
permitiam-se ajud-los com esmolas, suavizando a conscincia de culpa. Logo, no outro dia,
retornavam frieza e desconsiderao para com eles.
A sade era, ento, um estado especial mui raro, e, por isso, o perodo mdio de vida
corporal, como ocorria noutros pases, era baixo.
Jesus, porm, amava esse povo. Queria resgat-lo da prpria presuno.
Viera para que todos os povos tivessem vida e a aproveitassem com elevao.
Osis de monotesmo no imenso deserto politesta, Israel no sintonizava com o
perdo, reverenciando Moiss, seu legislador mximo, e a Lei de Talio.
claridade aos olhos. Escamas pesadas pareceram cair das vistas e ele viu o olhar luminoso
que o envolvia, como raios divinos que se exteriorizavam de um rosto, belo e tranqilo.
No sara da surpresa, que o levara quase ao estupor, quando sentiu novamente a mo
poderosa tocar-lhe a boca.
Percebeu que um estrondo profundo iria arrebentar-lhe os tmpanos, e ento passou a
falar. Destravou-se-lhe a lngua.
Desejou gritar, agradecer o acontecimento, expressar alegria. Estava, porm,
emocionado, em xtase de felicidade que nenhuma palavra podia traduzir.
Aquela era uma rida regio e ridos eram tambm os coraes que a habitavam.
Saras e espinheiros medravam nas pedras e nos sentimentos. Assim mesmo, Ele
semeou a esperana e acenou aos sofredores as possibilidades da ventura mediante a
experincia do amor.
() Mateus 12 : 22 a 37 (Nota da Autora espiritual.)
6 O POEMA DE ELIAS
O Semeador de bnos distendia Sua misericrdia por toda parte. Onde chegava, as
multides O cercavam, exibindo-Lhe as misrias que as consumiam e suplicando-Lhe
socorro.
Compassivo, entendendo a gnese do mal e a necessidade de apoio aos que eram suas
A dor amesquinha os fracos e engrandece os fortes. Arrebenta as resistncias dos
tmidos e aumenta as dos esticos. Enlouquece os dbeis e sublima os corajosos.
Como a grande mole humana constituda de homens e mulheres em processo de
crescimento, sem segurana nem fortaleza de nimo, os sofrimentos, que os excruciam,
tornam-nos alucinados.
A algum com uma cefalalgia, no se ofeream palavras; antes se lhe d medicao
adequada... Ao faminto e ao sedento, primeiro se lhes resolvam o problema urgente, para
depois inform-los de como libertar-se das geratrizes dos males que os afligem.
Jesus sabia-o. Por essa razo, atendeu as dores variadas da humanidade.
A Sua viso do amor socorria o necessitado, conforme a carncia de que ele se fazia
portador.
A cada um de acordo com o seu grau de compreenso.
Agia, portanto, mais do que falava, ante os que falam mais do que agem.
Quando, outra vez, resolveu transferir-se de lugar, para que se acalmassem por um
pouco os Seus adversrios, Ele recomendou aos que havia curado, que no O dessem a
conhecer, para se cumprir o que foi dito pelo profeta Elias:
Eis aqui o meu servo que escolh;
O meu amado em quem a minha alma se agrada;
Sobre ele porei o meu Esprito,
E ele anunciar o juzo aos gentios.
No contender, nem clamar,
Nem ouvir algum a sua voz nas ruas.
No esmagar a cana quebrada,
Nem apagar a torcida que fumega,
At que faa triunfar o juzo.
Em seu nome esperaro os gentios. (*)
Eram gentios todos aqueles que no nasceram israelitas.
O orgulho de raa desprezava todas as raas, por sua vez por todas tambm
desprezada.
O dio, que gera dio, a resposta da loucura.
O orgulho, que desdenha, desdenhado pelas suas vtimas.
So eles cipoais e espinheirais que aguardam os incautos que lhes transitam pelos
caminhos escabrosos.
Elias, o Anunciador, j informava que os gentios O aguardavam e fariam triunfar o
juzo, a Verdade.
Ele a ningum, nem a nada esmagaria, nem a cana quebrada o cetro vergonhoso
que lhe poriam na mo posteriormente nem apagaria a torcida que fumega os ensinos,
s vezes arbitrrios e absurdos, da Lei moisaica decadente que seria conduzida pelo azeite
do amor.
Nesse tumulto e nas convulses sociais que abalavam Israel que esperava o
Enviado, na suposio falsa de livrar o seu povo da submisso romana Ele chegou e no
foi reconhecido, por ser pacfico e pacificador, no odiento e dspota como desejavam os
vingadores, sendo a Luz que liberta as conscincias e jamais se apaga.
Mesmo perseguido e no aceito, Jesus fez-se o Amanhecer do Novo Dia que nunca
mais se entenebrecer.
A sua claridade permanece, mesmo quando as sombras ainda no se dissiparam de
todo.
(*) Mateus 12 : 16 a 21. (Nota da Autora espiritual.)
7 NAQUELE TEMPO
Os reinos terrestres, para firmar-se, so sacudidos periodicamente por guerras
sangrentas e cataclismos outros dolorosos, que os esfacelam, para robustec-los depois.
As plantas suportam vendavais que as destroam, a fim de reverdecerem, logo mais,
com exuberncia.
O globo sofre convulses ssmicas freqentes, que lhe acomodam as camadas,
mesmo que a prejuzo da superfcie que estertora.
A luta, os constantes movimentos, so precondies para o soerguimento de qualquer
edificao que se candidata permanncia.
O Reino de Deus, igualmente, instala-se no mundo mediante os rudes embates que
lhe preparam os alicerces. Trata-se de uma revoluo estrutural e de contedo, a fim de ser
implantado com segurana, podendo resistir s conjunturas difceis dos tempos.
Aquele era um perodo singular da Humanidade.
A predominncia arbitrria da fora se fizera multifacetada, apresentando-se na
poltica, na religio, no comportamento, na sociedade.
Disputando hegemonia, os poderosos engalfinhavam-se em lutas perversas, uns
contra os outros e todos contra os simples, os pobres, os sem classe, que eram explorados at
a exausto.
Desconsiderados em toda parte, no havia lugar para eles em parte alguma. No
eram, sequer, notados, seno para padecer a explorao, o oprbrio, o trabalho escravo.
Apesar disso, multiplicavam-se, porque a avareza dos ricos, em pequeno nmero,
mais condenava os pretendentes independncia, posio misrrima e degradante.
A chegada de Jesus, Arauto da Verdade, foi saudada como o momento
grandeloqente da vida humana.
Simples e desataviado como a luz, Ele penetrava os coraes e alterava o
comportamento daqueles que O conheciam.
Nobre e bom como a verdade, Ele desconcertava todos quantos se lhe opunham.
Puro como o fogo, era incorruptvel, sustentando o ideal.
Perseverante como a vida, jamais receava.
Amante como a natureza, sempre se renovava para servir, a todos recebendo com
igualdade.
Sua voz, suave e forte, de acordo com a ocasio, quando ouvida, nunca mais seria
olvidada, ressoando na acstica da alma para todo o sempre.
Construtor do Reino de Deus nos coraes, convocou operrios para a ao concreta
e apresentou os planos no cenrio ridente das paisagens humanas vivas, sem ocultar detalhes
8 NO O RECEBERAM (*)
Ao tempo de Jesus, Nazar era uma aldeia perdida nas encostas dos montes de
calcreo, na regio da Baixa Galilia. Parecia uma prola, que esplendia entre pedras brutas,
O Esprito do Senhor est sobre mim. Pelo que me unge, para anunciar as boas
novas aos pobres.
Silenciou. Logo aps, disse:
Hoje se cumpriu esta Escritura na minha pessoa...
E prosseguiu comentando o texto em luz.
Houve silncio e interesse.
Alguns presentes indagaram, comovidos: No Ele o filho de Jos e de Maria,
que trabalhava na carpintaria, que todos conhecemos e no so os Seus irmos e irms os
amigos com os quais convivemos?
Era, portanto, um momento singular, rico de expectativas e de carinho.
Ele prosseguiu integrrimo:
Ningum profeta em sua terra, nem encontrar guarida na sua prpria casa. E se
lhe dir: Mdico, cura-te a ti mesmo.
Quando os cus deixaram de fertilizar a terra com chuvas abenoadas, Elias no
atendeu a aflio das vivas, exceto de Sarepta, de Sidon... E quando Eliseu veio ao povo e
os leprosos o buscaram, ele no os limpou, dando preferncia ao srio Naaman...
Desse modo, foram maltratados pelos familiares e coetneos.
A ira, a inveja e a revolta uniram-se em desequilbrio e expulsaram-nO, levando-0 a
uma encosta, pensando em atir-lo do alto, em expiao, qual o fazem com o bode
sacrificado na festa do Yom Kippur.
Jesus olhou-os com infinita compaixo, liberou-se de suas mos e atravessou o grupo
furibundo, descendo a Cafarnaum...
Nazar possua apenas uma fonte de guas generosas e abundantes, e talvez isso haja
contribudo para que permanecesse, at o sculo II, quase desconhecida.
Graas a Jesus e s terras frteis do vale do Esdrelon tornou-se famosa, enriqueceu-se
de cisternas cavadas no calcreo dos montes.
A pequena prola cintilante, que era Nazar com os seus campos de papoulas
escarlates e amarelas ao vento, com os cachos de mirra e ervas aromticas, conheceu Jesus na
Sua infncia e juventude.
Ele correu por aquelas pradarias, cabelos brisa e olhar abrangendo os montes
altaneiros que a cercavam a distncia.
... Nunca mais Ele voltaria a Nazar, que significa lugar de sentinela.
Nazar no O recebeu.
A inveja, a mgoa, o despeito dos Seus, expulsaram-nO dali.
Outras Nazars existem ainda hoje, aguardando os cristos decididos a fim de os
expulsarem dali.
(*) Lucas 4 :
(Nota da Autora espiritual.)
16
30
Mateus
13
55
56.
O sbado fora eleito como o dia do descanso. A Lei e a tradio haviam estabelecido
com rigor o que se podia, ou no, fazer, sob rigorosa limitao. A observncia, no entanto,
era mais formal do que real, porquanto na dependncia do interesse de cada um.
A criatura humana, porm, que se compraz com as mesquinharias, demorando-se no
atendimento das formas sem preocupao com o contedo, estabelecera quanto se podia
caminhar, o volume e o peso a carregar, qual o servio a executar. Minudente no estabelecer
preceitos, no cuida do aprofundamento do significado, perdendo-se em aparncia, sem a
correspondente da realidade.
Era o dia dedicado ao formalismo, ao descanso, ociosidade, tambm religio.
Vale mais um ser humano do que um animal de carga, sem dvida. Quem o contesta?
A demorada sujeio deveria terminar. A sade o estado natural, e no a doena, a
desdita.
Ele estava ali naquele dia, no em outro, no depois. Aquela, portanto, a
oportunidade; o dia era secundrio.
A ao do bem tem o seu momento, ningum o determina. Ele esplende e acontece.
Quem o desperdia, no o reencontra nas mesmas condies.
Dezoito anos sob a ao do satnico obsessor, constituam purgao santificadora
suficiente para o resgate que terminava.
Escrava, sofria. Livre, exultava.
No cativeiro reabilitara-se. Na liberdade iria ser agente multiplicadora de vida e de
esperana.
A hora soara-lhe propcia; quisessem ou no os indiferentes, ela estava curada, o que,
realmente era importante.
Ningum que detenha a vitria da luz.
Os adversrios ficaram envergonhados e a multido alegrava-se com todas as
maravilhas que Ele fazia.
Jesus a Porta de libertao, que auspicia ventura.
Naquele sbado dedicado ao repouso, estuaram o amor, a sade, a liberdade, a vida.
Haver sempre um sbado de luz para quem chora nas sombras, nas sinagogas do
mundo hostil.
Carregando aflies e vergado sob injunes penosas, debatendo-se nas garras das
obsesses pertinazes, a criatura busca Jesus, mesmo sem o saber, at o momento de
encontr-10.
Nunca desistir, o desafio, avanando sempre.
A sinagoga era um centro comunitrio de ao social, religiosa e humana.
E aquele era um sbado...
(*) Lucas 13 : 10 a 17 (Nota da Autora espiritual)
No desejava testemunhas para o que iria fazer. Seria uma terna ao de amor,
discreta e rica de bondade.
To logo se encontrou a ss com o ansioso candidato luz dos olhos, umedeceu os
dedos com saliva e tocou-lhe a vista apagada.
Certamente, no necessitaria fazer desse modo. A saliva, porm, simbolizava o hlito
da vida, e como Ele se dizia a Vida, transmitia, dessa forma, a energia vital ao padecente, cuja
harmonia de conjunto estava alterada.
Logo aps, perguntou-lhe:
Vs alguma coisa?
Sim redargiu o jovem, emocionado vejo os homens; vejo-os como rvores
a andar.
A imagem era perfeita.
Sua viso das criaturas era sem contornos, sem discernimento, sem parmetros de
forma e de cores.
A sua era outra realidade.
Aberto recuperao, psiquicamente receptivo e expectante, percebeu Jesus
tocar-lhe os olhos por segunda vez e, inquirido, novamente, respondeu:
Agora vejo!
Havia uma indefinvel alegria bailando na sua face e a fulgurante luz estuante nos
olhos desmesuradamente abertos.
Vai disse-lhe o Terapeuta e no o digas a ningum. Nem sequer entres na
aldeia.
O silncio, naquele momento, era necessrio, indispensvel fixao da cura.
O tumulto, a presso psicolgica da massa, a suspeita dos frvolos, as tricas
sacerdotais e dos principais da aldeia certamente o perturbariam.
Imprescindvel que frusse do benefcio, que se adaptasse situao nova, inusitada.
O amor de Jesus prossegue ainda hoje dirigido especialmente aos cegos espirituais,
aos soberbos e dspotas, aos vos e dominadores...
Multiplicam-se as Betsaidas na atualidade humana e escasseiam filhos como aqueles
trs que alargaram o reino, que ento se iniciava e do qual participaram com abnegao e
entrega total.
Eles viam atravs dos olhos e enxergavam o futuro mediante a percepo
transcendente. No tinham dimenso do que aconteceria, entretanto, ofereceram-se ao
comando do Amor no amado.
Ele era cego e Jesus f-lo ver por amor.
(*) Marcos 8 : 22 a 26 (Nota da Autora espiritual.)
Judas vendera-Q por trinta moedas de prata, atormentado pelo valor efmero das
coisas o reino dos cus pelo de metais.
E tendo o dinheiro nas mos, percebendo que o seu Amigo no reagira, deixando-se
aprisionar e sendo condenado, retornou aos comparsas do crime e ante a frieza deles,
tardiamente desabafou: Pequei, entregando sangue inocente.
As gargalhadas roufenhas e a zombaria cida dos cnicos vencedores da mentira
O reino dos cus est no corao e dever ser exteriorizado atravs do amor, da paz,
em bnos de humildade e f.
Frgil, a criatura humana que se empenha em distend-lo, sofre aguerridas
perseguies, tentaes...
So-lhe oferecidas moedas de prata e ouro, poder e prazer, que aps recebidas,
quando se lhes constata o desvalor e se deseja reparar o mal, os onzenrios e enganadores,
ridicularizando aquele que se equivocou, certamente repetiro:
Isso l contigo.
() Mateus 27 : 3 a 10 Vide o captulo 23 de nosso livro H Flores
No Caminho. (Nota da Autora espiritual)
13 A CONSCINCIA DE CULPA
A noite esplendente estava ajaezada de diamantes estelares, que lucilavam ao longe
em poema de incomparvel harmonia.
Jesus huscara o Monte das Oliveiras para meditar, preparando-se para enfrentar a
urdidura traioeira da habilidade farisaica.
Fie conhecia a criatura humana e suas infinitas fraquezas.
Ao dedicar-se iluminao das conscincias humanas, sabia que os largos milnios
de ignorncia no podiam ser erradicados em um momento, ao impacto das emoes
apressadas.
Qjiornem quando avana no vcio, por largos anos, se deseja- abandon-lo, a trilha
exige-lhe perodo quase equivalente para a desintoxicao, a liberao dele.
Desse modo, o dilogo com as criaturas astutas, era-Lhe penoso, em razo de
defrontar enfermos morais gvesTdsTarados em apstolos da sade, criminosos de
conscincias ultrajadas, apresentando-se como fiis servidores da ordem, do bem e da justia.
Quando ainda sopravam os ventos frios do amanhecer,
Ele descera cidade de Jerusalm e demandara o Templo. (*)
A Sua fama antecedia-0 em toda parte.
As multides vidas seguiam-nO ou antecipavam-nO, onde quer que se apresentasse.
Aproximavam-se j os dias das Suas grandes dores, e o fermento da intriga
aumentava o volume das hostilidades contra Ele.
Buscavam, os Seus inimigos gratuitos, esses permanentes adversrios do progresso,
motivos para O incriminar, ajustando a inveja e as acusaes vis, aos hediondos programas
arquitetados contra o Seu amor.
Os homens pequenos, os pigmeus, odeiam os gigantes. Incapazes de os enfrentar,
usam da artimanha e da fraude, da mentira e da pusilanimidade, para atingir as metas que
perseguem.
O Templo regurgitava. Era o orgulho da raa, e a presena do Nazareno provocava
especial interesse na curiosidade geral.
Aps comentar o texto aberto livremente ao pblico, Ele saiu ao trio, e ali, sob os
raios dourados do Astro-rei, prosseguiu entretecendo comentrios sobre a Lei, como se
aguardasse um acontecimento grave.
Subitamente, o alarido interrompeu-Lhe a alocuo, e os fariseus astuciosos, atirando
uma mulher desprotegida ao cho, no crculo natural de curiosos, deram incio s acusaes
da torpeza humana.
A pobre havia sido flagrada em adultrio vil e merecia a lapidao. Porque Ele
pregava o amor, qual a atitude que se deveria tomar?
Tal era a interrogao geral, hbil e perversa.
Narra Joo, que o olha misericordioso do Mestre penetrou-lhe a alma ferida e, por
sua vez, props que ela fosse apedrejada por aqueles que estivessem isentos de pecados.
Como resultado, todos se foram, inveterados pecadores que eram, ficando a ovelha
tresmalhada e o Seu pastor abnegado.
Porque ningum a punira, tambm Ele a dispensou, propondo-lhe que no retornasse
ao erro, essa geratriz de tantos martrios.
reabilitao...
PedindcLpara ser admitido como servidor arrependido, o antigo conquistador,
que deixara pegadas de sombras pelo caminho, recomeou a redeno atendendo os filhos do
Calvrio, no santurio da fraternidade, erguido em nome do Crucificado sem culpa que,
diante da mulher adltera, prescrevera o perdo, considerando que os seus acusadores eram,
por sua vez, todos eles, tambm culpados.
(*) Joo 8 : 3 a 11. (Nota da Autora espiritual)
(**) Vide Encontro de reparao, no livro Pelos Caminhos de Jesus,
Editora Alvorada. (Nota da Autora espiritual)
14 A PACINCIA DE JESUS
A usurpao do poder poltico abrira espao para as arbitrariedades e abusos de toda
ordem.
A famigerada guia romana sobrevoava o cadver dos povos dominados, espraiando
o cepticismo e o horror por onde se encontrava.
Os ideais de nobreza humana haviam cedido lugar aos ignbeis conluios do crime
com a insdia.
O povo, como si acontecer em circunstncias equivalentes, entregara-se lassido,
suspeita contumaz, ao abandono de si mesmo.
Antes, confiantes em Deus, os israelitas agora duvidavam da Sua proteo, cujos
interesses pareciam distantes das necessidades dos Seus eleitos.
Os profetas, que se apresentaram em perodos contnuos, agora eram vitimados pela
prpria inpcia e rapidamente abandonados por aqueles que lhes exalavam as parcas
virtudes.
O clima emocional, portanto, era desanimador.
Teimavam, permanecendo em alguns isolados bolses ideolgicos, aqueles que
ambicionavam pela libertao, pela restaurao da independncia da raa, que voltaria
a exaltar Jav, o Todo-Poderoso. Desejavam, no entanto, que surgisse um guerreiro,
que fosse igualmente impiedoso, utilizando-se da maquinaria da guerra para exterminar o
inimigo e propor o retorno da glria antiga ao pas decadente...
A suspeio predominava no relacionamento humano e a traio constitua fenmeno
necessrio sobrevivncia pessoal e social.
A presso do dominador conduzia as parcas esperanas a estado lamentvel de
pessimismo.
Em tal situao, apareceu a figura mpar de Jesus, abrindo os braos solidariedade
fraternal, acenando com perspectivas de um futuro iluminado para todos.
A Sua voz se erguia ante a multido expectante como um poema de consolo dirigido
aos desesperados e aflitos, facultando-lhes uma viso diferente e feliz da Vida.
Os Seus discursos se estribavam nos temas do cotidiano, nas coisas simples e nas
ocorrncias de cada hora.
As Suas eram propostas de amor com solues fceis de serem aplicadas.
Por essas razes, passou a chamar a ateno, atraindo grupos de curiosos ao Seu
crculo de atividades.
A notcia dos Seus feitos correu com a celeridade de uma centelha de fogo sobre
rastilho de plvora.
A sede de apoio leva o necessitado a uma busca incessante.
A ausncia de paz invita-o tomada de conscincia das aes transatas e do que pode
ser feito em favor da sua aquisio.
Assim, os sofredores, que se multiplicavam em inconcebvel nmero, acorriam em
busca de soluo para os problemas que os afligiam.
A variedade de conflitos e necessidades no os separava, antes unia-os na mesma
busca, vinculados pela fora telrica do sofrimento.
Desse modo, narra Mateus (*), acercaram-se dEle as multides, que trouxeram os seus
enfermos: cegos, endemoninhados, moucos, padecentes das vrias decomposies orgnicas.
Ele tomou as nossas enfermidades e carregou as nossas dores.
... E a todos curou, demonstrando a grandiosidade dos Seus valores e a Sua
procedncia divina.
Sempre se repetiro cenas de tal quilate.
A pacincia de Jesus propiciava uma viso mais profunda do que a superficialidade
daquelas dores, que eram decorrentes de causas mais graves, porquanto centradas no
comportamento anterior das existncias humanas.
As criaturas desejavam libertar-se do fardo, no do jugo moral a que prestavam
servido.
Ignorando a lei dos renascimentos, no sabiam entender a causalidade dos
sofrimentos. Tampouco se preocupavam em equipar-se com aes nobilitantes, a fim de se
precatarem de futuras dores.
Era a pressa pela liberdade, que no sabiam preservar, pela sade, que no entendiam
como manter.
Jesus compreendia-lhes o drama e ajudava todos, sem exigncias, sem reclamaes.
A Sua pacincia resultava da compaixo que Ele mantinha em relao aos homens e
mulheres sofridos.
Sabia que o povo, explorado e desiludido, era sempre atirado indiferena e ao
15 SOFRIMENTOS E JESUS
No processo da evoluo, o sofrimento se destaca, adquirindo preponderncia, face
aos constrangimentos esforos que impe a fim de ser superado.
Predominando, nas paisagens terrestres, ainda recurso de que se utilizam as Leis da
Vida para frear a alucinao humana, retemperar o nimo, aprimorar as arestas morais e
trabalhar os metais das imperfeies que prevalecem em a natureza animal dos seres.
Atendessem s instrues do amor, e no haveria defeces, no surgiram
compromissos negativos, no ocorreram abusos geradores de mecanismos de depurao por
meio da dor.
Desatentos lei natural, ao fenmeno do amor, os indivduos agridem-se,
deixando-se arrastar pelas opes do prazer fugidio, embrenhando-se no emaranhado das
paixes primrias e fortes, nas quais se aturdem, permanecendo por largos perodos em
desajustes aflitivos.
O sofrimento, disso resultante, propele-os a novas atitudes restauradoras da
harmonia, ensejando-lhes um saudvel campo de ao, no qual desenvolvem as aptides
inatas e aprimoram-nas com o cinzel do estudo, as ferramentas do trabalho edificante, os
instrumentos da abnegao.
O sofrimento irrompe quando o amor recua, ou se entorpece, ou tomba, envilecido,
pelos sentimentos torpes.
Certamente, h o sofrimento do amor, porm, em dimenso transcendente, qual o de
Jesus pelas criaturas, pelas multides inconscientes, que jornadeiam gerando aflies para si
mesmas.
Por isso, a Sua compaixo prossegue infinita, e as dores que Lhe so infligidas
permanecem como efeito do descaso geral ao Seu inefvel amor.
Genesar era uma cidade de pequeno porte, sem maior relevo ou importncia, s
margens do mar da Galilia.
Espraiada em uma enseada suave, entre as areias de seixos e pedras midas,
arredondadas, e os aclives cultivados de cereais, mantinha-se tranqila na geopoltica da
sociedade, indiferente aos acontecimentos de Israel.
Utilizaram-se do seu topnimo para tambm denominar o mar ou lago de gua doce,
com doze milhas e meia de comprimento, sete milhas e meia de largura no seu ponto mais
largo.
As notcias do Messias haviam tambm chegado l.
Naturalmente, despertaram grande interesse em conhec-10, privar-Lhe da
intimidade, principalmente receber os benefcios que somente Ele sabia e podia prodigalizar.
Em meio a essas esperanas pairavam, igualmente, dvidas, quanto Sua
procedncia, ao Seu poder e autoridade, com altas doses de curiosidade em torno da Sua
figura e mensagem.
Os indivduos so os seus prprios tormentos, aspiraes e desalinhos, mediante os
quais examinam tudo e todos.
Vivendo os limites que as circunstncias aldes lhes permitiam, os genesarenos no
podiam conceber a grandeza do messianato de Jesus.
Portanto, quando Ele e os Seus, aps a travessia do lago, aproximaram-se da cidade
e ali aportaram, houve uma comoo geral.
Narra Marcos (*) que, assim que saram do barco, os de l reconheceram-nO,
acorreram de toda aquela regio e comearam a levar enfermos nos catres para o lugar
onde sabiam que Ele se encontrava. Nas aldeias, cidades e casas, onde quer que entrava,
colocavam os enfermos nas praas e rogavam-Lhe que os deixasse tocar pelo menos a franja
da Sua capa. E quantos O tocavam, ficavam curados.
O poder de Jesus!
DEle se desprendiam virtudes como das rosas perfume.
Quem O tocasse, mimetizava-se de sade e paz, restaurava-se, plenificando-se de
harmonia.
Usina geradora de foras, exteriorizava energia curativa, sem qualquer prejuzo para
a fonte de produo.
Ele passeava o olhar compassivo sobre as humanas misrias, e recompunha as
paisagens conflitivas da alma.
O Seu vigor restaurava as carnes destroadas e, penetrando nos seres,
desobstrua-lhes os condutos, facilitando a circulao da vitalidade que devolvia os
movimentos aos membros hirtos, aos rgos paralisados, propiciando-lhes vida.
Ningum, jamais, surgira a Ele semelhante, ou nunca, antes, algum que a Ele se
aproximara.
Jesus nico na Terra!
Os miasmas gerados pelo pessimismo enfermam o ser, e as ondas morbficas das
16 A AUTORIDADE DE JESUS
A Galilia era, ento, regio de temperatura amena, em razo das guas do seu lago
ou mar.
As cidades, incrustadas quase s suas margens, pareciam prolas engastadas entre
tufos de tamareiras, laranjais, oliveiras, latadas em flor...
Tiberades, Cafarnaum, Magdala, Cesaria de Filipe, Betsaida, algumas dessas
cidades, desfrutavam de notoriedade e ergiam-se com certa majestade, ostentando ruas
pavimentadas entre palcios e manses elegantes, luxuosas, que denotavam poder e
ociosidade.
O mar coalhava-se de barcos, pela manh e tarde, colorindo-se com velas enfunadas
aos ventos, quais manchas diversificadas sobre o dorso das guas tranqilas.
Pela situao geogrfica, a quase duzentos e vinte metros abaixo do nvel do
Mediterrneo, aquele mar era subitamente sacudido por tempestades violentas, que o
vergastavam, ameaadoramente.
Piscoso, contribua para a manuteno da vida em suas praias e cercanias.
No lado oposto a Cafarnaum, Decpolis ou dez cidades gregas, algumas em
decadncia e quase abandonadas, atraam a ateno dos galileus humildes.
Era uma regio relativamente pobre, de pouca erudio, com uma Sinagoga, em
Cafarnaum, e, os que ali nasciam e viviam, eram desdenhados pelos oriundos da Judia,
orgulhosa e fria.
Certamente ingnuos, e at mesmo supersticiosos, sem maior tirocnio sobre a Tora e
as demais Leis de Israel, os galileus criam e amavam, sem muita exigncia ou qualquer
dificuldade.
Respeitavam os cdigos estabelecidos, e o povo, em geral, vivia com dignidade,
singeleza.
Deus!.
A estupefao fez-se geral. Os Espritos conheciam-nO, sabiam da sua procedncia e
tarefa.
Patenteava-se a realidade do mundo causai, espiritual, de onde todos procedemos.
Percebendo-lhe a astcia, Jesus repreende-o, dizendo-lhe: Cala-te e sai desse
homem.
No havia outra alternativa. Nenhuma discusso intil, nenhuma perda de tempo.
Com poucas palavras e autoridade, encerrava o acontecimento.
Surpreendido, o Esprito imundo depois de sacudir (a vtima) com fora, dando um
grito saiu, desligou-se.
Os presentes, espantados, perguntaram-se, uns aos outros: Que isto? Eis uma
nova doutrina e feita com tal autoridade que at manda nos Espritos imundos, e eles
obedecem-Lhe!
E a sua fama concluiu o evangelista espalhou-se por toda a provncia da
Galilia.
Era a Doutrina nova do amor que chegava Terra, com tons de ternura e libertao.
Logo mais, prossegue Marcos (*) ao cair da tarde, quando o Sol se ps,
trouxeram-Lhe todos os enfermos e possessos, e a cidade inteira estava reunida junto
porta. Curou muitos enfermos atormentados por diversos males e expulsou muitos
demnios; mas no deixava falar os demnios porque sabiam quem Ele era.
A notcia deve ser apresentada no momento prprio.
As pessoas necessitam ver para crer. Primeiro os atos, depois as palavras.
No havia, nem h necessidade de pressa.
H um ciclo para que tudo acontea.
A precipitao pe a perder os melhores projetos humanos.
sabedoria saber esperar. (**)
Jesus era sbio.
No curou todos enfermos, naquele entardecer, nem deveria faz-lo.
H leis que regem o mrito e o demrito de cada pessoa, de cada paciente. So as de
causa e efeito, que Ele jamais violaria.
Para muitos enfermos, a mais til terapia seria, e ainda hoje, a continuao da
enfermidade, que lhes evita problemas mais graves, danos maiores.
Tampouco afastou todos os Espritos de suas vtimas.
H injunes que elucidam as obsesses e respondem pelos seus oportunos
mecanismos, que constituem necessidade de reparao emocional na economia espiritual da
Vida.
Jesus conhecia as causas profundas de tais alienaes e era parcimonioso, justo.
A autoridade de Jesus permanece na memria dos tempos e dos povos.
A regio da Galilia recorda-0 diante do seu mar piscoso e sob a claridade do mesmo
Sol que vestiu de luz as suas paisagens romanescas, amenas.
(**) (1) Marcos 1 : 32 a 34 (Nota da Autora espiritual)
(*) Marcos X : 23 a 28 (Nota da Autora espiritual)
inquiriu:
E todos temos necessidade e dever de orar?
O Mestre benevolente envolveu o jovem em um luminoso olhar de bondade e
elucidou:
O homem.que ora eleva-se no rumo da Grande Luz e nimba-se de claridade
radiosa.
Desejando que o ensinamento jamais fosse esquecido, o Mestre exps:
O Pai Celeste pode ser comparado a um rei poderoso que administra os seus
domnios, mediante a cooperao de abnegados Ministros, que a seu turno se equipam de
secretrios, auxiliares e inumerveis cooperadores abnegados.
Cada um deles rege um departamento especfico, a fim de coordenar atividades e
atender-lhes o impositivo.
semelhana de todo reino, a variedade de deveres exige responsveis para a sua
execuo.
O Ministrio da orao um dos mais delicados setores, exigindo hbeis servidores
que se encarregam de registrar as solicitaes em preces, selecion-las e cuidar do seu
atendimento conforme a procedncia de cada emisso de onda mental.
Em razo disso, a orao deve ser uma vibrao sincera, carregada de emoo, ao
invs de expressivo palavreado sem a participao dos sentimentos honestos de elevao.
A orao um apelo que, no entanto, deve alcanar mais ampla expresso,
tornando-se, num momento, um hino de louvor; vezes outras, constituindo-se uma rogativa
de auxlio e, por fim, um cntico de gratido.
Examinados o mrito e as necessidades daquele que ora, so-lhe encaminhadas as
respostas compatveis com a sua realidade, tendo-se em vista sempre o seu progresso e
crescimento diante da Vida.
Esse intercmbio mental carreia vitalidade e restabelece os centros de energia da
criatura que ora.
Claro est que este um compromisso de cada indivduo quite com os deveres
sociais e comunitrios, a fim de merecer usufruir os benefcios que a cidadania lhe confere.
Silenciando e permitindo que todos auscultassem as vozes inarticuladas da Natureza,
aguardou que os companheiros assimilassem o ensinamento profundo, embora a linguagem
simples de que se revestia.
Foi nesse comenos que um deles, profundamente sensibilizado, rogou:
Senhor, ensina-nos, ento, a orar.
E Ele abrindo a Sua boca e desatando as melodias latentes no corao, props-lhes a
orao dominical, dizendo:
Pai Nosso que ests nos cus...
A dlcida palavra vestindo de sons o pensamento sublime, no qual esto exaradas
todas as necessidades humanas, ofereceu-nos o legado precioso da prece, mediante a qual a
criatura se comunica com o Seu Criador e este lhe responde pelos mecanismos santificantes
da inspirao, equipando-a com os recursos prprios para enfrentar todos os dissabores,
infortnios, amarguras, dasafios, ou as alegrias e benesses que fazem parte do seu dia-a-dia
no formoso processo da sua evoluo.
(**) Os Evangelistas no precisam o local do acontecimento. Mateus situao aps o Sermo da Montanha, de que nos utilizamos para os presentes come
ntrios. Vide o livro Luz do Mundo cap. V de nossa autoria Livraria Es
prita Alvorada -
O homem viajor das estrelas. No sero elas, por acaso, pousos divinos,
departamentos da Casa do Pai?
Em toda parte vige a vontade soberana, e, aceit-la, a alternativa nica.
O rebelde encontra-se em tresvario, e o caminho por ele no percorrido ficar
aguardando-o.
O egosta, que despreza os Cdigos do Amor e da Justia, padecer, por livre
escolha, constrio da prpria desdita.
Na Terra e no Cu se encontram os mesmos decretos divinos, promovendo a ventura
dos seres.
O cu comea na Terra, e o homem avana a passos de coragem e de abnegao.
Ao longe, as lanternas dos pescadores oscilando nas barcas pareciam confraternizar
com os astros fulgurantes no firmamento.
Joo ergueu-se e abriu os braos como se desejasse afagar a imensa, a abenoada
paisagem que Ele emoldurara com o Seu verbo de amor.
D-nos o po de cada dia recordou-se, entusiasmado.
O po fora motriz para a conservao do corpo, para o seu desenvolvimento.
L, a distncia, o mar piscoso, os campos de trigo, as vinhas, as plantaes de
leguminosas, o pastoreio...
Que no faltasse o alimento para o corpo, a fim de manter a alma, que se nutre de
amor e se vitaliza na ao do bem.
Po e vida so termos da equao existencial... D-nos hoje!
Perdoa as nossas dvidas, como perdoamos aos que nos devem. Perdoa as
nossas ofensas, como perdoamos aos que nos ofenderam...
A alma exultante penetrava na grandeza praticada do amor, que o perdo. Todavia,
somente quem o doa, merece-o; apenas quem desculpa as ofensas, credor de ser exonerado
da culpa.
Todos os homens se equivocam e, por isso mesmo, so frgeis que se tornam fortes,
face ao perdo que distendem na direo daqueles que os ofendem e magoam.
Maior a felicidade de quem expressa o perdo. O perdoado algum em processo
de recuperao; no entanto, aquele que lhe dispensa o esquecimento do mal, j alcanou as
alturas do bem e da solidariedade.
O perdo acalma e abenoa o seu doador.
Quando se entenda que perdoar conquistar enobrecimento, o homem se far forte
pelas concesses de amor e compreenso que seja capaz de distribuir.
A noite avanava com a sua carruagem de sombras e estrelas na direo da
madrugada.
A magia da hora eternizava no jovem o ensinamento sublime.
No nos deixes entregues tentao evocou, agora, quase a sorrir.
O maior inimigo do homem pensou, alargando reflexes est dentro dele
mesmo: so as paixes inferiores que o mantm asselvajado, furibundo, reacionrio.
A tentao alcana a sua vtima, graas s brechas morais que esta possui. Latentes,
as imperfeies favorecem a sintonia com as mazelas alheias. Dominadoras, exercem o seu
jugo levando aos desequilbrios e promovendo a runa das mais belas aspiraes.
S o auxlio divino possui o recurso liberativo contra as tentaes que pululam,
discretas ou bulhentas, em toda parte.
Venc-las a forma eficaz para conseguir-se a paz. No se deixar tentar, no possuir
tentaes, eis a meta.
A orao singela e profunda ficaria como diretriz, como modelo para o intercmbio
com Deus.
Nem o palavrrio insensato dos fariseus, nem o silncio rgido dos orgulhosos. Alma
e corao em colquio com o Amantssimo.
Joo voltou a recostar-se no leito maternal do solo, e, embriagado pelas bnos da
Natureza em festa, adormeceu...
(*) Mateus 6 : 9 a 13 (Nota da Autora espiritual)
(**) Salmo 19 : 1. Os cus proclamam a glria de Deus
e o firmamento anuncia as obras das Suas mos. (Nota da Autora espiritual.)
Mais de uma vez o Evangelho refere-se s bandas de Tiro e Sdon, que Jesus
percorreu nas suas contnuas peregrinaes de expanso do reino de Deus.
Por serem terras estrangeiras, os judeus as tinham como gentias, no lhes merecendo
os seus filhos qualquer considerao.
O Mestre terminara, como de hbito, um dos seus sermes, e as advertncias
verberavam a conduta farisaica.
Admoestando os hipcritas, elucidava quanto ao comportamento honorvel, diante
de alguns fariseus e escribas que O vieram visitar, de Jerusalm, interrogando-O com a
habilidade malfazeja que os caracterizava.
O sofisma, brandindo astcia, ainda arma traioeira. A hipocrisia, que disfara os
sentimentos vis, constitui-lhe mecanismo de expresso.
Ainda hoje eles permanecem no contexto social, afligindo e zombando dos homens
nobres e dos seus ideais. Ningum lhes escapa mordacidade ou foge da sua gratuita
perseguio.
Dali retirando-se, Ele partiu com os discpulos para os lados de Tiro e Sdon.
Vendo-o, uma mulher canania, que viera daquela regio, comeou a gritar:
Tem piedade de mim, Senhor, Filho de Davi! Minha filha est cruelmente
atormentada por um demnio!
Mas Ele no respondeu palavra.
Psiclogo profundo, conhecedor da alma humana em detalhes, Jesus aguardou os
acontecimentos. Sabia da impacincia, conhecia a irritabilidade dos amigos. Estas logo se
manifestaram.
Despacha-a propuseram porque ela persegue-nos com os seus gritos.
Jesus redargiu, ento, compassivo: No fui enviado seno s ovelhas perdidas da
casa de Israel.
A mulher, exausta, prostou-se-Lhe aos ps e suplicou:
Socorre-me, Senhor!
Havia dores indefinveis na rogativa.
O corao e a alma dilacerados defrontavam a esperana e a f.
Ela sabia que Ele curaria a sua filha. Seus sentimentos maternos advinhavam-no.
Esqueceu-se de si mesma, perdeu os escrpulos, encorajou-se e enfrentou os preconceitos
srdidos.
Desejando insculpir a fogo, nas almas, a lio, Jesus pareceu indiferente e esclareceu:
No justo que se tome o po dos filhos para o lanar aos cachorros.
E verdade, Senhor retorquiu ela mas, at os cachorros comem as migalhas
que caem das mesas dos seus donos.
Um frmito percorreu os presentes.
A declarao verdadeira comoveu, arrancou a solidariedade adormecida nos
coraes, imps respeito.
Jesus, ento, respondeu-lhe:
O mulher, grande a tua f! Faa-se como desejas.
Uma aragem branda perpassou no ar morno e agitou os cabelos do Rabi.
A estrangeira se levantou e tinha os olhos nublados de pranto.
Reconhecimento e amor eram a melodia que lhe musicava o ntimo.
A palavra estava estrangulada na garganta trgida.
Ela correu ao lar, e a filha, antes subjugada por Esprito cruel, recebeu-a, emocionada.
E, a partir desse instante narra a testemunha evanglica a filha dela achou-se
curada.
O poder de Jesus a fora do Seu amor. Os Mentores Nobres obedecem-nO.
Ele deseja, e servidores abnegados atendem-nO, prestimosos.
Ele dilata a Sua vontade e altera a estrutura dos seres, as circunstncias vigentes, os
eventos.
Ele o Senhor dos Espritos, que se Lhe submetem de imediato.
(*) Mateus 15 : 8 a 14. (Nota da Autora espiritual)
20 JESUS E AVAREZA
A mole humana, em suas necessidades, de certo modo faz recordar as sucessivas
ondas do mar. Umas aps outras se sobrepem em contnuo af, para confundir-se nas areias
imensas das largas praias que se deixam afagar.
Jesus, da mesma forma, lembra um oceano de infinito amor, cuja ternura se espraiava
em constantes vagas de afeio, envolvendo as criaturas humanas que O buscavam.
Desse modo, dois oceanos se confundiam no mesmo infinito: a misericrdia do
Senhor e as ansiedades das massas em sofrimento.
Por onde Ele passava, as aflies lhe corriam emps, mantendo a certeza de que
seriam atendidas.
De cidade em cidade, seguiam-nO os coraes dilacerados e as almas em
padecimento, face s dadivosas mercs que dEle recebiam, alterando-lhes a paisagem
interior e proporcionando-lhes sade, paz, consolao...
As bnos de Jesus eram po e vida!
Retornando de Corazim, aps atender as multides esfaimadas, eis que se Lhe acerca
um contendor, pede-Lhe que assuma a posio de juiz, e constranja-lhe o irmo a repartir a
herana do genitor com ele. (*)
A figura impoluta do Mestre, que desdenhava as mesquinharias e misrias humanas,
redargiu ao aturdido interrogante:
Quem me fez de magistrado civil para tal questincula ?
As Suas eram as intervenincias em favor do tesouro perene que no se gasta,
ningum rouba e no desperta as alucinaes alienadoras.
E porque se encontrava cercado pela ansiedade da massa curiosa e necessitada de
esclarecimentos, narrou a excelente parbola, na qual demonstrou como so secundrios os
bens terrestres.
Havia um homem poderoso contou com suavidade que, possuindo muitos
haveres e celeiros, no podia controlar a desmedida ambio. Assim, raciocinou: Se eu
demolir os meus silos e construir outros maiores, poderei plantar mais, segar em abundncia
e aumentar a minha fortuna. Aps amealhar ao mximo, direi minha alma: agora repousa,
dorme e s feliz. No entanto, naquela noite, Deus tomou-lhe a alma. Para que reuniu tantos
recursos e moedas?
Fazendo um breve silncio, o Amigo Divino considerou:
A avareza doena da alma que devora os alimentos da vida.
Txico letal, envenena primeiro aquele que lhe padece a ingesto, e contamina
quantos se lhe acercam, produzindo degenerescncias e morte.
Inimiga da sociedade, fomenta a violncia, que irrompe do corao lesado e estruge
na economia da comunidade onde se expressa. Expande o seu miasma e produz
desequilbrios.
O avaro algum que enlouqueceu e ainda no se deu conta.
A fim de que as Suas palavras se fixassem na memria dos ouvintes, ensejou algumas
reflexes mudas e prosseguiu:
No avaro, porm, somente aquele que asfixia, em cofres e celeiros, moedas e
gros; os que entesouram gemas e alimentos, ante as necessidades gerais; as pessoas que
acumulam com ambio desmedida. Mas, tambm, todos quantos, possuindo sade,
negam-se a repartir alegria e fraternidade.
A avareza igualmente se patenteia naqueles que possuem inteligncia, e se escusam
a ensinar os ignorantes; nos portadores de tendncias artsticas que se omitem, negando
beleza aos painis entristecidos dos homens.
H os avaros de amor, que se opem a distribuir afeio, enclausurando-se na
indiferena e na animosidade.
Ningum to destitudo de recursos que no possa espargir sementes de esperana,
sorrisos de alento, ddivas de ternura, incentivos e solidariedade espiritual.
Perpassavam pela Natureza as vagas perfumadas do cair da tarde, enquanto as
primeiras estrelas cintilavam no Alto, como respostas da generosidade de Deus para com as
imensas necessidades humanas.
Havia um enternecimento que reunia aquelas pessoas desconhecidas entre si, no
entanto, unidas pela mesma ansiedade de encontrar a Verdade e a Vida, para retornarem ao
ninho domstico transformadas, restabelecidas.
E como ainda ficassem nos coraes algumas ntimas inquietaes, o Senhor voltou
tnica e concluiu:
A avareza entorpece os sentimentos e a generosidade engrandece-os; a avareza
amesquinha e a generosidade multiplica; a avareza mata e a generosidade d vida.
Os tesouros de vida eterna, que a todos devem interessar por consegui-los,
constituem, tambm, um desafio aos seus depositrios que, felicitados, so convidados a
dividi-los, tarefa sublime que os faz multiplicados.
Anunciai, pois, o reino dos cus e suas riquezas, e alegrai-vos ante a generosidade
do Pai, que vos alcana e reparte as fortunas da luz do conhecimento que vos banha por
dentro, anulando toda a sombra de que vos deveis libertar.
E porque se fizesse um grandiloqente silncio, a multido comeou a dispersar-se
nutrida e amparada, enquanto o Mestre, reunindo os discpulos, disse-lhes com
enternecedora alegria:
Vamo-nos daqui!
... E saiu, antevendo a humanidade do futuro, quando liberada do cncer da avareza.
(*) Lucas 12 : 13 a 21 (Nota da Autora espiritual)
21 HINO DE ALEGRIA(*)
A musicalidade alentadora da esperana cantava em toda parte, naqueles dias, o hino
de alegria entre os seres renovados.
As notcias de jbilo espocavam e os coraes exultavam, guardando expectativas
que se transformavam em realidades ditosas.
O povo trazia at Ele os seus enfermos e a variedade das doenas recebia o mesmo
tratamento do amor que libertava.
Coxos e paralticos confraternizavam na recuperao; cegos e surdos comoviam-se
na mesma faixa da sade recobrada; mudos e epilpticos abraavam-se aps o beneplcito da
recomposio orgnica; loucos e obsidiados voltavam serenidade ante o Seu olhar
Muitos, fascinados, se lhe acercavam como candidatos revoluo que Ele pregava e
vivia a revoluo do amor incondicional.
Ouvindo-Lhe, porm, as admoestaes e diretrizes, afastavam-se, cabisbaixos,
receosos.
Este se encontrava ligado a compromissos inadiveis; esse necessitava regularizar
negcios interrompidos; aquele deveria sepultar o pai que morrera, e por isso, no O podiam
seguir...
Sem agastar-se jamais, Ele os compreendia, continuando o ministrio.
A hora porm, se aproximava e no era possvel posterg-la.
Ele chamou outros setenta discpulos, conforme narra Lucas(**) e mandou-os adiante
de si, dois a dois, a todas cidades e lugares aonde Ele estava para ir, a fim de anunciarem o
Evangelho.
Instruiu-os com amor e as Suas foram melodias incomparveis.
Nenhuma preocupao deveram manter, somente a entrega total e o servio reto.
O hino de alegria foi ento entoado pelos Seus lbios em recomendaes mpares.
Nunca mais seria olvidado e suas diretrizes permaneceram como roteiro perene.
Todos que O amam, tm insculpida na alma essa cano de alegria, de servio e de
paz.
Por muitos sculos, a lio de trabalho dos setenta, sensibilizaria almas que se
doariam ao ministrio com alegria, mantendo viva a Sua lembrana e a Sua mensagem.
Doze sculos depois renasceu aquele discpulo amado, que O traria de retorno ao
convvio da humanidade, passando ao futuro como o irmo-sempre-alegre que, renunciando,
e tornando-se menor, o servo dos seus servos, entoou o hino de alegria perene, deixando
inscrito o nome para sempre no livro do reino dos cus.
(*)
Vide
o
Captulo
Embaixadores da esperana, em Primcias do reino, de nossa (Autoria espiritual
LEAL)
(**) Lucas 10 : X a 20 (Nota da Autora espiritual)
Ccero considerava a crucificao como a mais cruel e repugnante das penas, que os
romanos aplicavam contra os rebeldes escravos e criminosos brbaros. Em Jerusalm, ela era
reservada aos criminosos comuns.
Parece ter-se originado entre os persas, com o objetivo de impedir-se a ao da
impiedade dos delinqentes, coarctando a onda que se espraiava do crime pelo terror.
Jamais, porm, a pena de morte trar efeitos benficos sociedade ou evitar a
criminalidade. Onde viceje, sua sombra alastram-se a violncia, o vcio, os delitos mais vis.
S a educao pode prevenir o mal e corrigir o erro.
Posteriormente, cr-se que foi Alexandre Magno, no seu expansionismo, quem
difundiu a crucificao pelo Oriente Mdio, sendo aprimorada e mais refinada pelos mtodos
romanos.
A vtima deveria antes ser despida e atada a um poste, passando a receber os aoites,
normalmente em nmero de trinta e nove ou mais, com o flagrum, um chicote de couro com
vrias tiras ou correias, em cujas extremidades havia bolas de chumbo ou afiados pedaos de
ossos de carneiro para dilacerar as carnes. Dois sicrios aplicavam os golpes, nas costas e nas
23 O TABOR E A IMORTALIDADE
Deslumbrados, ainda, aps a transfigurao do Mestre, no mpar dilogo com Moiss
e Elias, em recolhimento todos desceram o Tabor.
O reino dos Cus, que est no ntimo de cada criatura, ali esplendeu, grandioso, e
Jesus, superando os visitantes do Alm, em beleza, poder e glria, transfigurou-se diante dos
amigos deslumbrados.
Nunca mais as criaturas perderam o contato com o mundo transcendente onde se
originam a vida, os seres, a realidade, e se reencontram os que mergulham na carne, para o
processo de evoluo, quando cessa o fenmeno biolgico.
O Tabor e a imortalidade permaneceram como smbolos da Nova Era.
(*) Mateus 17 : 9 (Nota da Autora Espiritual)
Ele foi preso e arrastado de um para outro lugar, sem uma palavra de justificativa,
sem ningum que O defendesse...
... E naquela noite inesquecvel, sob o velrio dos astros, trs vezes Pedro O negou,
aps o que cantou o galo.
... Trs vezes, no apenas uma vez. Mas, arrependendo-se, depois, fortaleceu os seus
irmos.
(*) Lucas 22 : 31 a 34 (Nota da Autora espiritual.)
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