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Trigo de Deus (Amelia Rodrigues)

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TRIGO DE DEUS

Pelo Esprito AMLIA RODRIGUES

LIVRARIA ESPRITA ALVORADA - EDITORA


C.G.C. (MF) 15.176.233/0006-21 - I.E. 01.917.200 Rua Jayme Vieira Lima, 1 Pau da Lima 41235-000 - Salvador - Bahia - Brasil 1993
1* edio
Do Ia ao 10a milheiro
Copyright 1993 by Centro Esprita Caminho da Redeno Rua Jayme Vieira
Lima, 1 - Pau da Lima 41235-000 - Salvador - Bahia - Brasil
Capa de Jos Luiz Cechelero Reviso de Guiomar Hage Rebouas Composio
Eletrnica de Leonardo G. Ferreira
Impresso no Brasil Presita en Brazilo
Todo o produto desta obra destinado manuteno da Manso do Caminho,
Obra Social do Centro Esprita Caminho da Redeno (Salvador - Bahia - Brasil)

TRIGO DE DEUS
Aqueles eram dias semelhantes a estes.
O poder temporal galopava o ginete das ambies desmedidas, submetendo povos e
naes ao talante das suas arbitrariedades.
A criatura humana, despojada dos direitos legais, embora triunfasse por um dia no
fausto e na glria, noutro, vencida pelas guerras cruentas e incessantes, passava condio
servil, valendo menos que um animal de carga.
Os valores ticos, desconsiderados, estabeleciam o caos nos relacionamentos
individuais e comunitrios, facultando a hediondez e a predominncia do egosmo, que
favoreciam o orgulho vil, conduzindo as criaturas sob terrveis inquietaes.
Dominavam a suspeita sistemtica e a desconsiderao moral, permitindo que os
ideais da Humanidade fossem manipulados pelas conjunturas polticas odientas, que
levavam aos escombros as construes espirituais e filosficas do passado.
A Terra era, ento, uma imensa seara, na qual o trigo se encontrava mirrado,
vencido pelo escalracho destruidor.
A fome, a doena, a viuvez e a orfandade desvalidas davam-se as mos, a fim de
disputarem os cadveres e se nutrirem dos restos, que devoravam como chacais, e lhes eram
destinados pelos ricos, nos arredores das cidades, alm dos muros...
Mas hoje ainda permanece quase tudo assim.
Mudaram as pocas, aumentaram as populaes, e prosseguem quase as mesmas
causas da misria, que filha dileta do egosmo e da avareza de alguns poucos homens,
como ocorria naqueles tempos.
Foi nessa paisagem que Jesus veio apresentar a Doutrina de amor, propondo uma
Nova Ordem fundamentada na solidariedade fraternal.
Todo o Seu empenho centrou-se na transformao moral da criatura terrestre, que

deveria considerar como essencial a sua destinao espiritual, portanto, eterna.


Abrindo a boca e os braos, Ele cantou a msica sublime das bem-aventuranas,
conclamando todos os seres a irem na Sua direo, pois que os albergaria no seio generoso.
Seu poema incomum tomou das coisas simples e transformou-as em diamantes
estelares, como ningum o fez com tanta eloqncia.
Realizou mais do que anunciou; falou e comoveu as multides; porm, foi mais
importante o que no enunciou; poderoso, tornou-se frgil, e sbio, apresentou-se comum,
a fim de melhor fazer-se entender, vivendo quase annimo ao lado daqueles que O no
podiam identificar...
Presciente, aguardava os acontecimentos com naturalidade, negando-se s profecias
atemorizantes e perturbadoras.
A Sua Boa Nova toda uma cascata de luz e de alegria, prenunciando a vitria da
vida sobre a morte, do bem sobre o mal, da bondade sobre a perversidade...
O trigo bom da Sua palavra, lentamente, foi-se generalizando na gleba imensa,
enquanto a erva m era arrancada e levada fogueira.

Depois dEle, quando o incndio do amor tomou conta das vidas e os mrtires se
levantaram para glorific-10, colocando sobre os ombros as cruzes dos testemunhos, Incio
de Antioquia, Seu discpulo, denunciado e condenado, antes de seguir a Roma para o
holocausto, declarou:
Sou trigo de Deus e desejo ser triturado e os dentes das feras devem moer-me,
para que possa ser oferecido como limpo po de Cristo.
Recusou o apoio dos amigos influentes na capital do Imprio, porquanto a sua maior
ambio era a doao total, recordando o seu amado Crucificado, cujo madeiro lhe pesava
sobre os ombros.
... E desde ento, a aceitao do Evangelho unia pessoa o martrio futuro.

Hoje, ainda permanece assim.


As cruzes mudaram de forma e as suas traves so invisveis; a fogueira interior e o
circo aumentou as dimenses alcanando todo o planeta...
Fidelidade a Jesus torna-se auto-imolao com o sacrifcio da renncia.
O escrnio mal disfarado e o menosprezo dos vitoriosos no mundo atiram suas
pechas depreciativas naqueles que amam por Jesus e por Ele vivem.
Nem sempre so aceitos nas altas rodas, seno como personalidades singulares,
estranhas, merecedoras da curiosidade e, logo depois, do desdm.
Podem chamar a ateno por um instante como exticos, raramente, porm, recebem
respeito e poucas vezes so tidos como honrados, mesmo que homenageados por um
momento.
E natural que assim acontea, e eles o sabem, porque o reino, pelo qual anelam, no
deste mundo.
Vive-se a hora da grande transio, e as sombras que se adensam, logo mais, sero
diludas pelo Sol do Novo Tempo.
O trigal estua na gleba terrestre, mas pouco o trigo de Deus.

Examinamos e revimos alguns episdios da vida de Jesus naqueles memorveis dias


e os reunimos neste modesto livro, para estimular aqueles que O amam, chamar a ateno
de quem no se interessa por Ele, ensejar reflexes cuidadosas nas almas que cultivam as
Suas lies...
So revistas pela nossa ptica pessoal, como resultado de comentrios e
apontamentos que recolhemos em nossa Esfera de ao espiritual, tentando participar do
esforo dos cristos-espritas interessados em reviver o Mestre, no seu dia-a-dia, quando se
indagam: Nesta situao e circunstncia em que me encontro, como faria Jesus?
So tambm recordaes de que nos encontramos impregnada e que repassamos aos
puros de corao, aos pobres de esprito, aos simples e desataviados, objetivando comer
com eles o po feito com o trigo de Deus.
Salvador, 30 de dezembro de 1992.
Amlia Rodrigues.

NOTCIAS HISTRICAS
No obstante profundamente arraigado na Histria o pensamento cristo, ainda
existem aqueles que teimam em negar a existncia de Jesus, informando que Ele pertence
galeria dos mitos, bem como a Sua doutrina resultado de lendas e elaboraes imaginosas
muito ao gosto da tradio oriental...
A linguagem dos fatos no lhes basta, e a palavra insuspeita de inmeros
historiadores no lhes constitui prova.
Descomprometido, Flvio Josefo se refere existncia do Mestre e aos
acontecimentos que Lhe cercaram a vida, inscrevendo-0 nos fastos do Imprio Romano, sem
qualquer riqueza de comentrios.
A incomum adeso de milhares de pessoas em poucos anos aps a Sua morte, as
notveis Cartas de Paulo e as narraes das Testemunhas daqueles dias, que vieram a
formar os Evangelhos, igualmente, para eles, no passam de suspeitosos documentos
elaborados com o fim de torn-10 real, arrancando-0 do campo conceptual para o terrestre.
Desencadeadas as perseguies contra os Seus seguidores, sejam na Palestina, logo
aps Sua morte, ou em Roma, a partir de Nero, ou em todo o Imprio, quase imediatamente,
historiadores criteriosos, que se opunham Doutrina, testemunharam a Sua realidade.
Entre outros, Tcito, nos Anais, 15:44, referindo-se ao incndio de Roma e acusao
assacada por Nero e seus famanazes contra os cristos, para livrarem-se da suspeita geral
que lhes atribua a responsabilidade do crime, diz:
... Embora os conhecidos esforos humanos de todos, os da liberalidade do
imperador e dos sacrifcios oferecidos aos deuses, nada era suficiente para liberar a
crena, que se generalizava, de que o incndio fora ordenado. Desse modo, para acabar
com esse rumor, Nero conseguiu encontrar os responsveis nos cristos, gentalha
odiada por todos, face s suas abominaes, e os castigou com incomum crueldade.
Cristo, de quem tomam o nome, foi executado por Pncio Pilatos durante o reinado de
Tibrio. Detida por um iftstante, esta superstio daninha apareceu de novo, no
somente na Judia, onde se encontrava o mal enraizado, mas igualmente em Roma,
esse lugar onde se narra, etc...
Apesar do parcialismo do historiador sobre a crena crist, a sua referncia em
torno da morte de Jesus, nos dias de Pncio Pilatos, durante o reinado de Tibrio,

testemunha a existncia real do Crucificado.


Para bem situarmos Jesus e Sua Doutrina no contexto histrico da Humanidade,
devemos recuar um pouco mais no tempo.
Lendo-se o Evangelho de Lucas, anotamos que o nascimento de Jesus aconteceu
durante o perodo de Csar Augusto, sendo Quirino, o Governador da Sria (Lucas - 2:2).
E dando curso narrao, assevera que nos dias de Herodes, rei da Judia (Lucas - 1:5).
Por sua vez, estudando a genealogia do Senhor, Mateus situa-0 na histria, e em Israel,
informando que o Seu nascimento se deu nos dias do rei Herodes (Mateus - 2:1).
Aconteceu naqueles dias, esclarece Marcos (1:9), reafirmando a Sua existncia plena e
humana.
O povo hebreu, que constitua uma ilha do monotesmo no oceano politesta,
deveria encontrar na doutrina crist o apoio para as suas assertivas, porquanto Jesus no
combateu a tradio, a Lei, nem os Profetas, mas antes veio dar-lhes cumprimento, na
condio do Messias esperado, que no foi aceito pelo orgulho farisaico, nem a soberba
sacerdotal.
Assim, no comeo, o Cristianismo no era Doutrina antagnica ao Judasmo. Pelo
contrrio, os seus fundamentos se fixam na Revelao de Moiss, nos Profetas, desvestidos
porm, dos cultos externos, das aparncias, dos convencionalismos, dos radicalismos e
exageros, da hipocrisia que caracterizava a observncia religiosa, interessada mais nos
valores do mundo que nos do esprito.
A simplicidade e a pureza real pregadas por Jesus entravam em choque com o poder
temporal e as paixes mundanas, que disputavam primazia e destaque, mesmo que em
detrimento de outras criaturas ento reduzidas condio de ral.
Com o tempo, medida que os judeus ortodoxos investiam contra a Doutrina de
libertao, foi-se criando uma fissura, que se alargou, at o momento em que os dogmas,
alterando o pensamento primitivo do Mestre, e as adaptaes ao paganismo greco-romano,
criaram um deturpado Cristianismo, que deixava a condio de vtima gloriosa do poder
temporal, para tornar-se algoz dos que se lhe opunham, ou que, mesmo sendo favorveis,
no concordavam com os desmandos dos seus lderes nem sua conduta absurda,
abominvel.
Ocorre que, todo pensamento que se populariza, medida que se expande das
nascentes, sofre as injunes do percurso e dos condicionamentos ancestrais daqueles que o
aceitam, gerando confuso.
semelhante ao que sucede gua pura da fonte correndo pelo solo lodoso que lhe
serve de leito...
Prevendo essa ocorrncia infeliz, Jesus prometeu o Consolador, que viria restaurar
a Sua palavra esquecida, dizer coisas novas e ficar para sempre com os Seus discpulos
(Joo - 14:16 e seguintes).
O Consolador encontra-se na Terra, h mais de um sculo, e a restaurao tem
comeo, confirmando Jesus e Sua Doutrina, na Histria, como o caminho seguro e nico
para a plenificao.

1 PESCADORES DE ALMAS
Pairavam no ar desconhecidas vibraes de paz e alegria.
Quase inaudvel, escutava-se uma sinfonia que chegava de longe, to suave como
nunca se ouvira antes.

Aquela era uma regio aprazvel e abenoada. O lago, espelho imenso refletindo o
cu, emoldurava-se de praias largas, adornadas de rvores vetustas, e da grama verde que
parecia escorregar dos aclives cortados por ribeirinhos, nos quais se amontoavam as casas de
pedras, que se multiplicavam nos vilarejos, povoados e cidades.
A Galilia, bela e simples, fora o cenrio escolhido pelo Cantor, para apresentar a Sua
mensagem e embalar o mundo com a Sua voz.
Em Cafarnaum todos se conheciam. Suas praias e ancoradouros sempre regurgitavam
de pescadores, de negociantes, de homens da terra.
A profisso tradicional de amantes do mar passava de pais para filhos, de gerao em
gerao.
Homens rudes e generosos, face ao trabalho a que se dedicavam, confraternizavam
com vinhateiros, agricultores, as gentes humildes, raramente se envolvendo com as questes
discutidas na sinagoga, desinteressados dos problemas das classes abastadas.
A vida pulsava naquelas reas, no mercado, e os viajantes de outras provncias ali
narravam os acontecimentos dos lugares distantes, causando deslumbramento.
As caravanas que venciam o Jordo, no rumo dos pases fabulosos, seguiam outros
caminhos, e os acontecimentos ali permaneciam inalterados.
A natureza bordara a paisagem com tons escarlates, e as boninas misturavam-se com
as papoulas de haste esguia salpicando cores em toda parte.
Os problemas do cotidiano repetiam-se quase montonos, sem alterarem o ritmo de
vida das pessoas.
Por isso mesmo, percebia-se, sem palavras, que algo estava por acontecer.

A notcia chegou aos ouvidos do povo como uma ecloso de alegrias, embora
confusamente.
Narrava-se que um homem singular e profeta aparecera e informara ser o Filho de
Deus.
No trazia insgnias, nem se fazia acompanhar de squito algum deslumbrante.
Surgira inesperadamente e manifestara-se a pessoas diferentes, esclarecendo que
viera fundar um reino de amor e de justia para os deserdados e sofredores.
O mundo sempre esteve repleto de deserdados e sofredores. Marginalizados, em
todos os tempos, buscavam consolo e a herana da paz.
Nunca houve quem os quisesse escutar ou socorrer, e, formando multides, viviam
escassamente, na misria, na sordidez, no abandono...
Algum interessar-se por eles, era-lhes uma grande surpresa, desconcertante ventura
a que no se encontravam acostumados.
A boa nova, portanto, espalhou-se com velocidade, adiantando-se que, no sbado,
Ele falaria num monte prximo a Cafarnaum.

Simo, tambm conhecido como Cefas, era irmo de Andr, ambos pescadores.
As suas preocupaes restringiam-se s necessidades bsicas da famlia, da vida. Sem
aspiraes maiores, limitavam-se faina da pesca, venda dos frutos do mar e aos deveres
conseqentes de uma existncia simples.
Os amigos narraram-lhes as novidades, acrescentando, naturalmente, detalhes da

prpria imaginao.
As criaturas anelam por salvadores, que lhes solucionem os problemas, ajam no
momento dos desafios e atuem por elas. H uma latente irresponsabilidade, que deseja viver
sem o trabalho, sem o sofrimento.
Em razo disso, a esperana de paz sempre se turba com a ambio da ociosidade.
Simo era homem cptico, sem sutilezas de comportamento.
Portador dos conflitos humanos naturais, enrijecera a fibra moral na atividade a que
se entregava, desinteressando-se praticamente de tudo mais.
Ouvindo as informaes e sentindo o entusiasmo ingnuo dos amigos, experimentou
um desconhecido ressentimento do estranho Profeta, que certamente era mais um
mistificador que vivia explorando a ignorncia das massas.
Recusou-se a ir ouvi-10.
Algo, porm, remoa-se-lhe intimamente, e uma estranha curiosidade empurrou-o,
pela madrugada do sbado, a empreender a marcha na direo do lugar onde Ele iria
apresentar-se.
Respirando o ar balsmico e frio do amanhecer, o pescador viu-se surpreendido pelo
nmero de pessoas silenciosas que seguiam pela estrada real.
Os rostos apresentavam-se expectantes uns, tensos outros; em todos, porm, estavam
os sinais da esperana.
Enfermos de vrios matizes eram conduzidos: cegos, coxos, paralticos carregados,
obsidiados, dementes, ancios e outros cujas doenas eram a idade avanada, o desgaste, o
abandono irrecupervel...
Um misto de piedade e ira tomou Simo.
Como as pessoas lhe pareciam estpidas, entregando-se a qualquer aventureiro que
surgisse pensava, contrariado.
Quando atingiu o acume do cerro, a multido era densa.
Dali podia-se ver o mar querido, refletindo o fogo do dia nascente.
Procurou ouvir alguns comentrios. Todos falavam sobre as prprias necessidades e
expectativas de receberem ajuda, soluo para os problemas.
Naturalmente, acercou-se das primeiras filas, que renteavam uma larga pedra, qual se
fora um palco natural no imenso cenrio da natureza.
medida que o Sol bordava de luz a terra, o vozerio aumentava e as queixas
misturavam-se nas bocas dos sofredores.
Subitamente Ele apareceu. Esguio e belo, o rosto magro e queimado adornava-se de
barba e cabelos nazarena, onde brilhavam olhos transparentes como duas estrelas
engastadas. A tnica descia-lhe at os ps, tecida na roca, em tom carregado de mrmore...
Majesttico, a Sua figura imps silncio sem dizer nada.
Uma exclamao de jbilo escapou dos lbios da multido ao v-10.
Aps os momentos de expectativa, Ele falou:
A hora esta, para a grande revoluo pelo Reino de Deus.
Enquanto no mundo, a criatura somente experimenta aflies, porque tudo a quanto
se aferra efmero. So passageiros os prazeres, o poder, a fortuna, a sade, o prprio
corpo... Essa iluso de gozo a geradora dos sofrimentos, em razo da transitoriedade dele
e de como passam todas as coisas, por mais sejam aguardadas. Quando chegam e comeam
a ser frudas, j se encontram em deperecimento, de passagem, deixando memrias,
frustraes, ansiedades novas, amarguras...
O homem, prudente e sbio, que pensa no amanh, reserva-se bens duradouros, que

lhe favorecem tranquilidade e repouso. Esses bens imorredouros so as aes de amor, que
proporcionam paz, o esforo para domar as paixes inferiores, que oferece a felicidade.
Fez um silncio oportuno, a fim de facultar entendimento, reflexo, aos ouvintes.
Logo mais, prosseguiu:
Eu vos convido a virdes comigo, para a fundao da Nova Era, que se instalar
nos coraes, modificando as estruturas atuais e instaurando o primado do amor...
Quando ia prosseguir, uma mulher, que trazia nos braos uma criana cega, rogou:
Senhor, cura minha filha, e eu Te seguirei.
Os olhos da multido nEle cravados, voltaram-se na direo daquela que se atrevera a
interromp-10.
Por encontrar-se atrs de Simo, e porque, trmula, chorava, o pescador tomou-lhe a
menina nos braos e avanou at a primeira fila.
Jesus acercou-se e mergulhou, nos olhos de Simo, o seu doce olhar, sem uma
palavra. No entanto, emocionado, ele pareceu escutar no ntimo, a Sua voz, que dizia : Eu te
conheo Simo, desde ontem...
Acompanhou-lhe a mo, cujos dedos tocaram os olhos mortos da criana, e ouviu-0
falar: V, filha, em nome de meu Pai.
A criana comeou a chorar e gritar: Eu vejo, eu enxergo!
A me avanou e arrebatou-a, estuante.
Quando Ele desceu o brao, a manga da tnica rociou o trax de Simo, que
estremeceu, mergulhado na luz dos Seus olhos, e ali ficou, paralisado, havendo perdido o
contato com o mundo sensorial.
Ao retornar, realidade, sob a ardncia do dia, estava a ss; todos se haviam ido; a
hora avanava.
Simo, profundamente comovido, desceu a Cafamaum.
J no era o mesmo. Nunca mais voltaria a ser o que fora. O que se passou nele,
modificou-lhe a vida para todo o sempre, a partir daquele momento.
Interrogando-se, desejava saber de onde e desde quando O conhecia e O amava...
Na acstica da alma, ressoava-lhe a voz, confirmando, desde ontem...
Andr, os amigos notaram-lhe a modificao e a sbita tristeza que lhe refletia no
rosto.
O encontro com a verdade liberta e algema o ser. Desencarcera-o do mundo, e
aprisiona-o Vida. Produz jbilo e traz melancolia. po que alimenta, mas, nutre somente
a pouco e pouco at satisfazer plenamente.
Simo fez-se taciturno, como quem aguarda, embora permanecesse gentil e
cumpridor dos deveres.
Foi nesse estado de esprito que, em formosa manh, enquanto organizava as redes
com o irmo, foi surpreendido pela presena do Amigo, que se lhes acercou e, com uma voz
inesquecvel, convidou-os:
Segui-me, e eu vos farei pescadores de homens. (*)
Sem nenhuma contestao, eles abandonaram as redes e, embevecidos, dominados
pela Sua presena, O seguiram.
Amo que chama os servos, senhor que conduz escravos, Ele os tomou e fez de suas
vidas um poema de felicidade, com eles escrevendo a mais comovedora histria do mundo,
enquanto lanava as fundaes do Reino de Deus nos coraes.
Pescadores de almas, Ele os fez!

Mateus - 4:19 (Nota da Autora espiritual)

2 PRESENA EM CAFARNAUM
A regio escolhida para a base operacional do Seu ministrio no poderia ser outra
em Israel.
De Jerico at s guas profundas do Genezar o verde luxuriante confraternizava com
o azul transparente dos cus.
A terra, sorrindo flores silvestres e recoberta de rvores generosas, recebia os ventos
gentis do entardecer e das noites agradveis, salpicadas de estrelas luminferas.
Por isso, Jesus elegeu a Galilia, onde a alma simples e nobre das gentes afeioadas
ao trabalho poderia fascinar-se com a msica da Sua palavra libertadora.
Em Nazar, as dificuldades familiares e as lutas derivadas da inveja colocaram as
primeiras barreiras ante o desafio de implantar nas paisagens dos coraes o reino de Deus.
Na Galilia buclica, porm, beijada pelas espumas incessantes das vagas do mar,
entre tamarindeiros e latadas floridas, os pescadores, os vinhateiros, os agricultores, tinham
os ouvidos abertos para a mensagem da luz.
Cafarnaum, Magdala, Dalmanuta, faziam recordar prolas engastadas na coroa de um
rei, a duzentos metros abaixo do nvel do Mediterrneo, encravadas como um diamante
estelar para refletir a beleza do firmamento.
Cafarnaum notabilizara-se pela sua Sinagoga, pelo movimentado comrcio e pelas
guas piscosas de onde se retirava o alimento dirio. E pelas terras frteis que escorrem na
direo das guas, atendidas por filetes de crregos velozes que se avolumavam.
Ali, Jesus situou o fulcro do Seu ministrio, e foi na casa de Simo Bar Jonas que Ele
estabeleceu o piloti para erguer posteriormente o Seu reino.
Crivado de interrogaes que a ingenuidade dos pescadores arquitetava, Ele
respondia mediante a linguagem florida das parbolas, enternecendo-lhes as almas por usar
as palavras simples da boca do povo e profundas da sabedoria divina.
Inquirido a respeito da poltica arbitrria pela governana injusta, desviava o assunto,
apontando a poltica do amor e a governana divina em cujo bojo todas as criaturas se
encontram.
Observado com suspeio pela massa, e aceito sob desconfiana, Ele enriquecia as
mentes com os mais belos fenmenos da Sua poderosa fora, demonstrando, pelos
sucessivos silncios, ser o Messias esperado.

A doena que fere o corpo procede do esprito mutilado.


O esprito enfermo tem as suas razes nas imperfeies que o caracterizam.
Enquanto o homem no realiza o ministrio da santificao interior, o corpo se abrir
em chagas purulentas e o corao ficar despedaado de angsti.
No seja, pois, de estranhar, que o squito das dores compunha a sinfonia trgica das
necessidades humanas, onde quer que Ele aparecesse.
Cantor da vida, mergulhava no barro pegajoso das inquietaes e injunes dolorosas
daqueles a quem veio socorrer.
Consolador, via-se constrangido a descer s questinculas do povilu, para dirimir
conflitos e conduzir a Deus com segurana as almas ingnuas.

Mensageiro da cura total, detinha-se a remendar os farrapos orgnicos que as mentes


invigilantes voltavam a romper.
No se cansava nunca.
Jamais se escusava.
Em tempo algum se omitia, a ponto de entregar-se em pujana de vida para redimir
todas as vidas.

Iniciando o ministrio, chegou casa de Simo e encontrou-lhe enferma a sogra que


definhava sob injuno de febre, e, tocando-lhe a mo, fez que se arrefecesse a temperatura
elevada.
Feliz, de imediato, a veneranda mulher, recuperada nas foras, serviu ao ritmo da
festa que lhe estrugia no sentimento como flores de gratido.
Porque a notcia corresse pela circunvizinhana, que Ele ali se encontrava na
condio de Grande Luz, afluram, desesperados, os enfermos, para que lhes retificassem as
conjunturas orgnicas...
Mdiuns em aturdimento, sob injuno de obsessores vorazes, receberam a mo
generosa que os libertou da alucinao alienadora.
Subjugados em largos perodos de obsesses, foram desalgemados e colocados na
claridade inefvel da sade.
Portadores de tormentos profundos do ser, sob o domnio impiedoso de hostes
infelizes, recuperaram a lucidez para resgatarem sob outras condies, com a mente livre das
punies selvagens da treva dominadora...
Por essa razo, o Seu nome foi repetido de boca em boca, enquanto o mar, em vagas
sucessivas* aplaudia as homenagens que Lhe eram dirigidas em sculos de espumas brancas
nas areias vidas.

Jesus o pice das aspiraes humanas.


Enquanto todos sorriam de jbilos, Ele compreendia quanto era clere o
reconhecimento humano e fugaz a afeio daqueles amigos.
No obstante, os amou, a fim de que eles tivessem vida e vida abundante.
No foi sem razo que escolheu aquela regio, especialmente Cafarnaum, para que
nas noites perfumadas da Galilia ridente, em arameu Ele cantasse a epopia do Evangelho
aos coraes, onde a musicalidade sublime da natureza em flor inaugurasse a era do amor
para todo o sempre.

3 SOU EU (*)
A cena incomparvel da restituio da vista, ao cego de nascena, produzira um
impacto singular e poderoso nos que o conheciam.
Havendo nascido nas sombras da cegueira, o jovem tornara-se mendigo. Exibia sua
aflio misericrdia dos passantes, que o consideravam filho do pecado.
Preconceituoso, na sua imensa ignorncia, o povo, poca, desdenhava os enfermos
e considerava-os punidos por Deus. A impiedade, dessa atitude decorrente, caracterizava os
eleitos que, dia a dia, mais se distanciavam do objetivo sagrado da vida, que o amor.
Com a escudela na mo, o infortunado suplicava ajuda, at o momento em que Jesus

o resgatou da treva exterior.


Pode-se-lhe imaginar o jbilo, a emoo.
Apresentara-se famlia e aos amigos, dando a notcia feliz. Nunca, porm, esperava
reao em contrrio.
No conhecia os homens, ignorava o mundo.
Como o evento sucedera em um sbado, a hipocrisia farisaica convocou-o a
depoimento e inquirio srdida, assinalada por ameaas, desprezo da sua palavra e dvida
quanto evidncia de que fora portador.
Os pais, acovardados ante a truculncia predominante nos poderosos, quando
interrogados, responderam que o jovem, sim, era seu filho, que nascera cego, porm, como
sucedera a cura, no sabiam, somente ele o poderia informar com segurana, pois j era
responsvel por si mesmo, tinha idade para depor.
Desse modo, ele repetiu com riqueza de detalhes e ingenuidade, como ocorrera o fato
libertador.
Instado a afirmar que Jesus era pecador, no teve alternativa em discrepar dos
arrogantes, indagando, como poderia algum que no fosse de Deus realizar o que Ele
conseguira.
E, inesperadamente, perguntou-lhes se queriam ser Seus discpulos.
A resposta e a pergunta lcida, chocando os seus algozes, fizeram que o expulsassem
da sinagoga.
Repete-se o fato desse tipo de agresso todos os dias.
Urdindo as malhas do dio com os tecidos da inveja, o competidor desfora nos
fracos a sua fragilidade, por no poder superar aqueles a quem combate.
Solitrio, ao domnio da prpria pequenez, no se faz solidrio aos que o podem
agigantar.
Calunia, porque no acredita nos outros, face s dvidas que o assaltam, em relao
aos valores morais que no possui.
Presunoso, ostenta a fatuidade, por lhe escassearem os legtimos bens do esprito.
rido nas emoes, insensvel nas aes.
Pululam no mundo esses bitipos atormentados, em todos os tempos, formando a
legio dos infelizes-infelicitadores.
Jesus no se poderia furtar sanha deles. Ningum avana nos ideais de
engrandedmento humano, passando inclume diante deles.
Nenhuma evidncia leva-os constatao do bem, que os violenta, e, por isso, so
duplamente cegos: da razo e do discernimento, embora vejam...
Seria natural que expulsassem o recm-curado da sinagoga, ante a impossibilidade de
o recolocarem na cegueira.

Aquele sbado assinalava experincia nova, arrebatadora.


Desconsiderando o preceito hipcrita de guard-lo, Jesus recuperou inmeros
enfermos, nesse dia, demonstrando que ele fora feito para as criaturas e no estas para se lhe
submeterem.
A fria dos zelotes, que preferem a aparncia cuidadosa realidade profunda, sempre
explodia com azedume, exprobando o Senhor, porque no podiam fazer o que Ele realizava...
Sabendo que o jovem fora expulso da sinagoga, Jesus chamou-o.

No moo cantavam as msicas felizes da recuperao.


Os conhecidos discutiam quanto a ser ele o ex-cego ou algum parecido com ele.
O seu depoimento, repetido, mais causava espanto, enquanto no seu mundo ntimo as
emoes eram de superlativa alegria.
Sair da treva para a luz, inesperadamente, constitua-lhe prmio, porque nem ele nem
seus pais haviam pecado, mas assim viera para contribuir em favor do Reino de Deus.
A sua atual reencarnao no era de resgate, antes sim, de aprimoramento ntimo.
Diante do Mestre, comovido, ele escutou:
Conheces o Filho do Homem? interrogou-lhe o Benfeitor Divino.
No, senhor.
Pois, sou eu. Crs que eu seja o Emissrio do Pai Todo-Poderoso?
Sem titubear, ele que recebera a grandiosa ddiva, redargiu:
Sim, eu creio. Eu era cego, e agora vejo. Eu creio, Senhor!
A palavra do Mestre teceu comentrios sobre a cegueira dos que enxergam, atingindo
os que acompanhavam a cena e recalcitraram, dizendo-se ofendidos.
Se fsseis cegos, no tereis pecado algum redargiu o Mestre mas como
vedes, vossos pecados so mais graves.
Os cegos espirituais tm os olhos como candeias acesas, mas sua luz no os liberta
das sombras densas da ignorncia.
Bem-aventurados, no entanto, os cegos do corpo, cujo esprito v e discerne a
verdade.
O Mensageiro do Pai abria os olhos do mundo, naquele momento, e implantava as
bases da Era Nova, que at hoje ainda no foram identificadas por muitos dos Seus
seguidores, que permanecem cegos para com a Verdade e no se deram conta que Ele .
*Joo - 9: 1 a 41. (Nota da Autora espiritual)

4 EU QUE SOU BRANDO...


Os astros eram crisntemos luminiferos encrustrados no velrio da noite; no entanto,
pareciam lanternas mgicas lucilando ao longe...
O dia fora especialmente sufocante.
ardncia do Sol uniam-se as necessidades que empurraram multides compactas a
Cafarnaum, na busca de consolo e po, que as mos generosas do Rabi distriburam em
abundncia.
Mar humano em agitao, os grupos sucediam-se intrminos, como se todas as dores
se houvessem homiziado nos seus coraes e o Mestre devesse atend-las, sem cessar...
O aspecto dos infelizes enternecia e chocava.
As chagas morais expostas, na maioria, em feridas purulentas, confraternizavam com
as perverses que a muitos levaram aos estados de alucinao.
Aos magotes, misturavam-se leprosos a crianas em andrajos, e os estropiados
conduziam cegos, que blasfemavam.
Todos desejavam soluo urgente para os desenganos e exulceraes, sem manterem
dignidade ante a dor nem tolerncia uns em relao aos outros.
Engalfinhavam-se em discusses insensatas por motivos nenhuns, demonstrando o
atraso moral em que estagiavam, no raro terminando em pugilato vergonhoso.

A presena de Jesus magnetizava-os, acalmando-os, j que ficavam na expectativa de


serem atendidos.
Com incomum compaixo, Ele socorria mediante a ao luarizadora e a palavra de
esclarecimento, logrando assim asserenar a mar agitada dos coraes.
Mal terminava de atender um grupo e outro chegava, repetindo as mesmas paisagens
morais.
A notcia dos Seus feitos, como um perfume que se espraiara no ar, chegava s
regies mais distantes, e os infelizes acorriam, exaustos, ansiosos, na Sua busca.
Ele nunca deixava de os atender, envolto no halo da ternura, da piedade e do amor que
O caracterizava.
A noite, desse modo, ainda se apresentava morna, quando os ventos brandos
comearam a ameniz-la.
O Senhor, aps o repasto singelo, buscou a praia, e, sentando-se, deixou-se mergulhar
em profundas reflexes.
Acercando-se com discreto respeito, Joo, o discpulo amado, assentou-se ao Seu
lado e, contemplando-Lhe o perfil recortado no claro-escuro da noite estrelada, embriagou-se
de emoo...
Percebendo-lhe a presena querida, o Divino Amigo sorriu, esperando que o jovem
exteriorizasse os pensamentos.
Jesus sempre aguardava.
Conhecendo o ser humano desde o seu princpio, nunca se apressava.
Deixava-se inquirir.
Sentindo-se carinhosamente recebido, o filho de Salom e Zebedeu externou,
medindo as palavras:
Quanta misericrdia do Pai Celeste para conosco! As multides se renovam e o
amor sempre o mesmo! Semelhante fonte gentil, quanto mais se lhe retira o lquido, mais
parece produzi-lo.
E com nfase, interrogou:
De onde procedem tantos males, que aturdem os seres humanos, Senhor? So to
diferenciadas as dores! No entanto, todos aqueles que as sofrem se apresentam desesperados,
em rebeldia, vencidos! Por que, Mestre?
Compreendendo o interesse do jovem em penetrar na causalidade dos sofrimentos, o
Benfeitor olhou a noite em volta, e elucidou:
Recordas-te da pergunta que me dirigiram sobre o cego de nascena, os nossos
companheiros? Indagaram-me se fora ele ou seus pais quem havia pecado, para que ele
nascesse cego.
Quando lhes redargi que nem um nem os outros, desejei elucidar que, voluntrio, o
invidente se candidatara a servir de instrumento na dor, para que as obras de meu Pai por mim
se realizassem. , face a essa conduta, curei-o...
Mas, Mestre interrompeu-o, o moo interessado se ele era cego de nascena,
teria pecado antes? Quando isso teria acontecido?
Joo esclareceu o Mestre o Esprito tem a sua origem no silncio dos tempos
passados, e avana atravs de experincias corporais sucessivas. O nascimento na carne
continuao da vida, assim como a morte prosseguimento em outro nvel de vibrao. Em
cada etapa se adquire conhecimento ou sentimento, avanando sempre, a esforo do amor ou
da aflio.
Quando erra e se compromete, retorna mesma situao para aprender e reparar. O

sofrimento o educandrio que o disciplina e corrige, impulsionando-o para a frente, sem


soluo de continuidade, at quando, depurado, adianta-se sem chaga e deixa que brilhe a luz
do bem que em todos jaz.
E por que sofrem os bons, enquanto os maus parecem progredir? insistiu.
O Pastor Afvel entendeu o questionamento e, sem enfado, explicou:
Aqueles que hoje vemos como bons so as mesmas pessoas que antes exerceram a
maldade, quando poderam ser nobres; que optaram pelo crime e agora recomeam o
caminho, alquebrados pelo sofrimento; que compreendem a necessidade de elevar-se,
embora a contributo das aflies... eles sero consolados. Enquanto isto sucede, o Pai
Amantssimo proporciona, aos outros, oportunidades de ao dignificante, que preferem
utilizar prejudicialmente, gerando os efeitos tormentosos que adviro no futuro...
O tempo um suceder infinito de horas, e como no h pressa na evoluo, todos se
elevaro mediante a escolha pessoal. Eu tenho ensinado o amor, por ser o nico processo de
viver sem sofrer, sem promover futuras aflies para si mesmo. Todavia, os homens,
preferindo ignorar a verdade, desejam a sade para desperdi-la; a alegria para atir-la fora;
a paz para convert-la em conflito. Na sua insensatez, no se detm a meditar na realidade
transitria da vida fsica pensando na outra Realidade, a do ser eterno...
Como, porm, mudar essa situao? - indagou, com sincera emoo.
O Amigo levantou-se e, fitando o mar, agora calmo, salpicado de barcos no lenol das
guas, em faina de pesca, concluiu:
A nica soluo para o encontro da felicidade no fazer a outrem o que no
gostaria que este lhe fizesse... E a alternativa vir a mim todos os que se encontram cansados
e aflitos, tomando sobre os ombros o meu fardo, recebendo o meu jugo, pois s assim eu os
consolarei... (*)
No necessitava dizer mais nada.
As nsias da natureza silenciaram na paisagem da noite em festival de estrelas.
Distendendo a mo, na direo do amoroso discpulo, em silncio, Jesus rumou com
ele para a intimidade da casa adormecida de Simo.
() Mateus IX : 28 a 30. (Nota da Autora espiritual)

5 VIDAS RIDAS
Aquela era uma rida regio, quanto ridos eram os coraes que a habitavam.
O cativeiro prolongado, por mais de uma vez, no Egito e na Babilnia, tornara aquele
povo pastoril insensvel ao sofrimento, insensibilidade essa que passou, de gerao a
gerao, tornando as pessoas indiferentes s aflies do prximo.
A presena suave-doce de Jesus no lhes produzia alterao emocional, to marcadas
se encontravam as vidas, que se desacostumaram ao amor. No raro, pelo contrrio, Sua
conduta provocava a ira dos fariseus empedernidos e do povo insensato.
Desfilavam em toda parte as dores que maceravam os seres e a que todos se
encontravam acostumados, sem que a solidariedade e a compaixo distendessem mos
generosas em seu socorro.
A tradio somava s aflies uma terrvel pena, asseverando que os enfermos e
estropiados se encontravam sob a indiferena de Deus, porque viviam em pecado. Quando os
no expulsavam das suas cidades aos portadores de males mais graves concediam-lhes

a atitude de desprezo.
Uma vez, na Pscoa, os mais ricos abriam suas propriedades aos mais pobres e
permitiam-se ajud-los com esmolas, suavizando a conscincia de culpa. Logo, no outro dia,
retornavam frieza e desconsiderao para com eles.
A sade era, ento, um estado especial mui raro, e, por isso, o perodo mdio de vida
corporal, como ocorria noutros pases, era baixo.
Jesus, porm, amava esse povo. Queria resgat-lo da prpria presuno.
Viera para que todos os povos tivessem vida e a aproveitassem com elevao.
Osis de monotesmo no imenso deserto politesta, Israel no sintonizava com o
perdo, reverenciando Moiss, seu legislador mximo, e a Lei de Talio.

Sabendo que os fariseus pretendiam mat-10, na cidade onde curava enfermos,


vencidos pela inveja e a sordidez que os dominavam, Ele transferiu-se de lugar.
No que temesse a morte, pois que para o testemunho viera. Somente que no era
aquela a Sua hora. Fazia-se-Lhe necessrio divulgar as bases do Reino de Deus e preparar a
Era Nova.
Assim, chegando quela cidade, na rida regio, fora antecedido pelas notcias
desencontradas a Seu respeito.
As referncias conflitantes geraram um clima de expectativa relativamente hostil e
desagradvel contra Ele.
Ao ser identificado, trouxeram-Lhe um homem estigmatizado pela misria orgnica:
era cego e mudo.
Quando a enfermidade comeou a domin-lo, o jovem experimentou infinito
desconforto moral. Tinha a sensao de que uma fora dominadora passou a constringi-lo e
esmag-lo lentamente.
Sonhava que percorria longos e escuros caminhos sob a perseguio inclemente de
um ser que o odiava, deixando-o aturdido e agoniado. Despertava sempre banhado por
lgidos suores, vencido por abatimento crescente. Receava dormir, a partir de ento,
sofrendo, antes, os pesadelos que o aguardavam.
A perturbao espiritual de que se fizera objeto, aniquilara-o emocionalmente.
Lentamente sentiu-se subjugado, perdeu a viso, sentindo que a voz emudecera,
entorpecida na garganta trgida... No mais pde falar.
Vencido, deixou-se arrastar pela desdita e, vez que outra, descontrolava-se sob
alucinao lamentvel.
Ficou identificado como sendo endemoninhado.
Lograva raciocinar, nos interregnos das crises, anelando pelo retorno da sade.
Deixava-se, ento, dominar pelas lgrimas da saudade dos prados verdes com anmonas e
balsaminas em flor, e dos pssaros coloridos que flutuavam nos rios dos ventos...
Acalentava o desejo de retornar s paisagens de equilbrio, mas, j no tinha
esperanas...
Ele passava, atnito, no momento em que os fariseus e o povo cercaram o
Visitante. (*)
Sem entender o que acontecia, sentiu-se empurrado violentamente, e, sem
compreender o que ocorria, experimentou um frmito quando algum o tocou suavemente e
transmitiu-lhe uma energia to poderosa que o arrancou das sombras espessas e trouxe-lhe a

claridade aos olhos. Escamas pesadas pareceram cair das vistas e ele viu o olhar luminoso
que o envolvia, como raios divinos que se exteriorizavam de um rosto, belo e tranqilo.
No sara da surpresa, que o levara quase ao estupor, quando sentiu novamente a mo
poderosa tocar-lhe a boca.
Percebeu que um estrondo profundo iria arrebentar-lhe os tmpanos, e ento passou a
falar. Destravou-se-lhe a lngua.
Desejou gritar, agradecer o acontecimento, expressar alegria. Estava, porm,
emocionado, em xtase de felicidade que nenhuma palavra podia traduzir.

Jesus continuou curando, e foram muitos os que se recuperaram.


A alegria bordava de felicidade aqueles sofredores desacostumados ao festival de
ternura.
Desconcertados, os inimigos da Verdade logo encontraram um outro meio de O
atacar, e exclamaram:
Ele expele os demnios por Belzebu, chefe dos demnios.
Era o mximo da estupidez e da ousadia: conceber que o mal pode fazer o bem e que
a treva inunda o mundo de luz.
O Mestre perpassou o olhar pela multido e, compadecido do logro em que se
encontrava esta sob a astcia farisaica, ripostou:
Se Satans expele a Satans, est dividido contra si mesmo; como ento subsistir
o seu reino? Se eu expulso os demnios por Belzebu, por quem os expelem vossos filhos?
O Verbo libertador advertiu os insensatos e desonestos condutores religiosos do
povo, e explicou que a blasfmia contra o Esprito Santo, essa pliade de Enviados de Deus
para amenizar as dores do mundo, no tem perdo, exigindo dos infratores a reparao
inadivel.
Conhecia-lhes a desonestidade, a forma hbil de enganar, em que se tornaram
exmios os religiosos-polticos bajuladores dos poderosos e escravizadores do povo.
Perscrutando-lhes os escaninhos da alma infeliz, sabia que o pior inimigo do homem
a sua inferioridade, e que esta somente desaparece a esforo de trabalho, ao contributo das
lgrimas e da solido.

Aquela era uma rida regio e ridos eram tambm os coraes que a habitavam.
Saras e espinheiros medravam nas pedras e nos sentimentos. Assim mesmo, Ele
semeou a esperana e acenou aos sofredores as possibilidades da ventura mediante a
experincia do amor.
() Mateus 12 : 22 a 37 (Nota da Autora espiritual.)

6 O POEMA DE ELIAS
O Semeador de bnos distendia Sua misericrdia por toda parte. Onde chegava, as
multides O cercavam, exibindo-Lhe as misrias que as consumiam e suplicando-Lhe
socorro.
Compassivo, entendendo a gnese do mal e a necessidade de apoio aos que eram suas

vtimas, amparava os sofredores, retirando-lhes as mazelas, por algum tempo, ensinando


como erradic-las depois, mediante o contributo da vontade e do esforo pessoal de cada um.
Incompreendido em todo lugar, Ele transferia-se de cidade e de aldeia, sem nunca
abandonar o labor misericordioso.
No havia lugar para Ele, e quase que ainda hoje tambm no h. Mas, indiferente s
circunstncias e reaes, que sabia procederem da ignorncia, da inferioridade humana,
continuava impertrrito, semeando o amor, socorrendo.
Luz do mundo, onde se apresentasse era claridade.
Pastor sublime, no lugar em que chegava arrebanhava os coraes.
Agua viva, matava a sede com a Sua simples presena.
Po do cu, nutria com ternura e palavras, esparzindo alimento com as mos ricas de
compaixo.
Quem com Ele contatasse uma vez, jamais ficaria indiferente: amava-0 ou
perseguia-O, porque Ele penetrava os labirintos do ser, despertando os sentimentos latentes
que, bons ou maus, reagiam conforme a sua procedncia.
Por onde passava, ali se insculpiam estrelas nas paisagens dos coraes.
Nem todos O seguiam, porque, crianas espirituais, no possuam entendimento para
penetrar-Lhe as lies. Ele sabia que o germinar das Suas palavras aconteceria nos sculos
porvindouros, no suceder das reencarnaes futuras... Por isso, sem pressa, semeava e regava
com amor, deixando que os tempos futuros realizassem o seu mister.
Antes, enviara Emissrios fiis, que Lhe anunciaram o advento, aplainaram os
caminhos, prepararam os ouvintes. Agora viera Ele prprio, Senhor dos Espritos e das
Vidas.
No O podiam compreender, por enquanto, os homens imediatistas e impulsivos,
venais e infantis. Mesmo a maldade de que davam mostras, iracundos e ferozes, resultava
mais da ignorncia, da inferioridade em que se demoravam, do que da perversidade lcida.
Por assim entender, atendia-os, desculpava-os, sendo enrgico com os desonestos e
astutos fariseus, contumazes exploradores do povo e instigadores perversos das massas, que
desprezavam, na razo direta que essas lhes eram mais subservientes, submissas.
No obstante demonstrasse a Sua procedncia curando enfermidades, expulsando
obsessores, difamavam-nO os inimigos e O expulsavam dos lugares em que se encontrava,
vtimas inconscientes de Entidades malignas da Erraticidade inferior.
Peregrino do amor, Ele seguia adiante, palmilhando as terras crestadas pelo Sol, no
vero causticante, ou vencendo o frio cortante, no inverno rigoroso...
Andarilho das estrelas, caminhava com os Seus, de lugar em lugar, acendendo luz
para o entendimento da Verdade, que logo depois apresentaria.
O comeo do Seu ministrio foram as curas dos corpos estropiados, que os olhos
vem, as emoes sentem e os comentrios divulgam.
Em muitas ocasies, porm, pediu que os beneficirios silenciassem os Seus feitos.
No porque temesse os inimigos, mas por desejar poupar dos maus os que se haviam
recuperado.
As armas dos perversos so infames e, quando no podem alcanar quem pretendem,
atingem outras pessoas que so testemunhas, desmoralizando-as, afligindo-as, com a
inteno de invalidar os seus depoimentos.
Assim ainda so os homens e este o seu mundo, pequeno mundo de homens-paixes
perturbadores.


A dor amesquinha os fracos e engrandece os fortes. Arrebenta as resistncias dos
tmidos e aumenta as dos esticos. Enlouquece os dbeis e sublima os corajosos.
Como a grande mole humana constituda de homens e mulheres em processo de
crescimento, sem segurana nem fortaleza de nimo, os sofrimentos, que os excruciam,
tornam-nos alucinados.
A algum com uma cefalalgia, no se ofeream palavras; antes se lhe d medicao
adequada... Ao faminto e ao sedento, primeiro se lhes resolvam o problema urgente, para
depois inform-los de como libertar-se das geratrizes dos males que os afligem.
Jesus sabia-o. Por essa razo, atendeu as dores variadas da humanidade.
A Sua viso do amor socorria o necessitado, conforme a carncia de que ele se fazia
portador.
A cada um de acordo com o seu grau de compreenso.
Agia, portanto, mais do que falava, ante os que falam mais do que agem.

Quando, outra vez, resolveu transferir-se de lugar, para que se acalmassem por um
pouco os Seus adversrios, Ele recomendou aos que havia curado, que no O dessem a
conhecer, para se cumprir o que foi dito pelo profeta Elias:
Eis aqui o meu servo que escolh;
O meu amado em quem a minha alma se agrada;
Sobre ele porei o meu Esprito,
E ele anunciar o juzo aos gentios.
No contender, nem clamar,
Nem ouvir algum a sua voz nas ruas.
No esmagar a cana quebrada,
Nem apagar a torcida que fumega,
At que faa triunfar o juzo.
Em seu nome esperaro os gentios. (*)
Eram gentios todos aqueles que no nasceram israelitas.
O orgulho de raa desprezava todas as raas, por sua vez por todas tambm
desprezada.
O dio, que gera dio, a resposta da loucura.
O orgulho, que desdenha, desdenhado pelas suas vtimas.
So eles cipoais e espinheirais que aguardam os incautos que lhes transitam pelos
caminhos escabrosos.
Elias, o Anunciador, j informava que os gentios O aguardavam e fariam triunfar o
juzo, a Verdade.
Ele a ningum, nem a nada esmagaria, nem a cana quebrada o cetro vergonhoso
que lhe poriam na mo posteriormente nem apagaria a torcida que fumega os ensinos,
s vezes arbitrrios e absurdos, da Lei moisaica decadente que seria conduzida pelo azeite
do amor.

Nesse tumulto e nas convulses sociais que abalavam Israel que esperava o

Enviado, na suposio falsa de livrar o seu povo da submisso romana Ele chegou e no
foi reconhecido, por ser pacfico e pacificador, no odiento e dspota como desejavam os
vingadores, sendo a Luz que liberta as conscincias e jamais se apaga.
Mesmo perseguido e no aceito, Jesus fez-se o Amanhecer do Novo Dia que nunca
mais se entenebrecer.
A sua claridade permanece, mesmo quando as sombras ainda no se dissiparam de
todo.
(*) Mateus 12 : 16 a 21. (Nota da Autora espiritual.)

7 NAQUELE TEMPO
Os reinos terrestres, para firmar-se, so sacudidos periodicamente por guerras
sangrentas e cataclismos outros dolorosos, que os esfacelam, para robustec-los depois.
As plantas suportam vendavais que as destroam, a fim de reverdecerem, logo mais,
com exuberncia.
O globo sofre convulses ssmicas freqentes, que lhe acomodam as camadas,
mesmo que a prejuzo da superfcie que estertora.
A luta, os constantes movimentos, so precondies para o soerguimento de qualquer
edificao que se candidata permanncia.
O Reino de Deus, igualmente, instala-se no mundo mediante os rudes embates que
lhe preparam os alicerces. Trata-se de uma revoluo estrutural e de contedo, a fim de ser
implantado com segurana, podendo resistir s conjunturas difceis dos tempos.
Aquele era um perodo singular da Humanidade.
A predominncia arbitrria da fora se fizera multifacetada, apresentando-se na
poltica, na religio, no comportamento, na sociedade.
Disputando hegemonia, os poderosos engalfinhavam-se em lutas perversas, uns
contra os outros e todos contra os simples, os pobres, os sem classe, que eram explorados at
a exausto.
Desconsiderados em toda parte, no havia lugar para eles em parte alguma. No
eram, sequer, notados, seno para padecer a explorao, o oprbrio, o trabalho escravo.
Apesar disso, multiplicavam-se, porque a avareza dos ricos, em pequeno nmero,
mais condenava os pretendentes independncia, posio misrrima e degradante.
A chegada de Jesus, Arauto da Verdade, foi saudada como o momento
grandeloqente da vida humana.
Simples e desataviado como a luz, Ele penetrava os coraes e alterava o
comportamento daqueles que O conheciam.
Nobre e bom como a verdade, Ele desconcertava todos quantos se lhe opunham.
Puro como o fogo, era incorruptvel, sustentando o ideal.
Perseverante como a vida, jamais receava.
Amante como a natureza, sempre se renovava para servir, a todos recebendo com
igualdade.
Sua voz, suave e forte, de acordo com a ocasio, quando ouvida, nunca mais seria
olvidada, ressoando na acstica da alma para todo o sempre.
Construtor do Reino de Deus nos coraes, convocou operrios para a ao concreta
e apresentou os planos no cenrio ridente das paisagens humanas vivas, sem ocultar detalhes

nem exagerar contornos.


Toda a atividade partiria de dentro para fora do ser, produzindo renovao, e os
mtodos para a ao, diferindo dos tradicionais, seriam fundamentados na mansido, na
humildade, na doao plena, e cimentados pelo amor.
A fim de fazer-se crer e amar, tornando-se respeitado pelo povo, Ele tomava as dores
humanas e, como remendo, unia as peas desarticuladas do corpo e da alma das criaturas,
dando-lhes equilbrio, corrigindo as deformidades, devolvendo a sade.
Advertia, porm, sempre, que sem a transformao interior profunda, era
impermanente o equilbrio exterior.
Face a essa viso grandiosa sobre o ser humano, Ele cuidou de despertar os que
dormiam nos vcios, atravs do socorro oferecido aos que choravam, desesperados, nas
dores.
A Sua atitude provocou dio e cime, inveja e reaes exacerbadas, mas Ele
permaneceu inaltervel at o fim.
Narra, Mateus , com um tom de saudade, que naquele tempo em um sbado (*), Jesus
atravessou com os amigos uma seara rica de gros dourados.
O Sol dardejava luz e as espigas oscilantes ao vento cantavam peculiar melodia.
Porque tivessem fome, os discpulos puseram-se a colher e a comer com alegria.
A fraternidade legtima descobre sempre motivos para sorrir. Os pequenos
acontecimentos se transformam em poemas de encantamento, e a felicidade intumesce os
coraes com jbilo.
Os homens mesquinhos e anes espirituais, porm, que vivem apegados s torpezas e
mazelas prprias, eglatras e vigias cruis dos outros, diante do grupo inocente, logo
reagiram, naquele dia, dizendo com interrogao de censura:
Teus discpulos esto fazendo, o que no lcito fazer aos sbados.
Penetrando-lhes os escaninhos do ser, com a percepo superior de que era dotado, o
Senhor lhes retrucou, bondoso:
No lestes o que fez Davi, quando ele e seus companheiros tiveram fome? Como
entrou na casa de Deus, e com eles comeram os pes da proposio, os quais no lhe era
lcito comer, nem aos seus companheiros, mas somente aos sacerdotes? Ou no lestes na Lei
que aos sbados os sacerdotes no templo violam o sbado e ficam sem culpa?
A resposta interrogativa, inesperada, emudeceu-lhes a censura injusta.
habitual, nos combatentes da prepotncia, usarem as leis nos artigos que lhes
convm, abandonando os outros, que os alcanam. A sua habilidade mental distorcida,
propiciando acomodao pessoal aos delitos que praticam e severidade contra as aes
alheias que os perturbam. Na impossibilidade de esvaziarem o efeito dos gestos nobres,
atacam-nos mediante expedientes de perturbao, de sofismas e retrica intil.
Pairando acima deles, o Construtor do Reino, adiu:
Digo-vos, porm: aqui est o que maior do que o templo. Se tivsseis conhecido
o que significa: Misericrdia quero e no holocaustos, no tereis condenado inocentes.
O Templo suntuoso era orgulho de toda uma raa que se impunha como privilegiada
por Deus, em detrimento de toda a humanidade.
Colocando-se em importncia superior que se atribua ao Templo, afrontava a
petulncia e ostentao de Israel, logo demonstrando que o mesmo se reduzira a escombros,
enquanto Ele mais se firmaria na rocha dos milnios.
O tempo consome as construes humanas, enquanto afirma e mantm o Esprito,
que eterno.

E desejando definir rumos e situaes, concluiu, lcido:


Pois o Filho do Homem senhor do sbado.
Bailavam no ar as onomatopias da natureza e se ouviam as vozes inarticuladas da
vida, confirmando o enunciado veraz.
Comeava a derrubada das obsoletas construes, a fim de ser aplainado o terreno
para o Reino.
As lutas iriam recrudescer, mas Ele viera para enfrent-las, irrigar o solo rido com o
prprio sangue, aps traar os planos com a doao da vida.
A ss, com Deus, Ele convocou homens frgeis e os tornou hercleos batalhadores
em favor da realizao suprema.
Nunca tergiversou ou temeu, porque conhecia os reinos terrestres e os seus
habitantes. O que trazia, no era conhecido por ningum, com programa de plenificao para
todos.
Desse modo, partindo daquele lugar, Jesus entrou na sinagoga deles e defrontou
com um homem que tinha seca uma das mos.
A astcia de imediato armou seu esquema de combate, porque onde se encontram os
homens-pigmeus a esto suas mesquinharias.
Assim, desafiaram-nO a curar o enfermo, advertindo-O, porm, que era proibido
faz-lo naquele dia.
A situao sinuosa afetaria qualquer atitude.
Se o curasse, violaria a Lei; se o no fizesse, demonstraria ser falsa a Sua mensagem.
Considerando uma ovelhq, que, tombada num poo, num sbado, seu dono a salvar,
quanto mais um homem, que tem maior valor do que o animal, elucidou:
Logo lcito fazer o bem nos sbados.
E disse ao enfermo.
Estende a mo.
Apiadado e compassivo, curou-o diante dos opositores gratuitos, magoados,
vencidos...
Eles, porm, saindo dali, tramaram o modo de tirar-lhe a vida.
Sempre agem assim os covardes: na treva, nos escusos recintos da prpria misria.
Quando no podem enfrentar os homens-gigantes, trabalham por mat-los, como se
tambm eles no avanassem na direo do tmulo.
Impossibilitados de acompanhar o rio, erguem barragens, que as guas,
momentaneamente represadas, mais tarde transpem.
Comeavam as lutas para a construo do Reino.
As pedras angulares estavam sendo colocadas.
Os sulcos nos coraes se aprofundavam.
Os obreiros surgiam e a paisagem, emoldurando-se de luz, modificava-se.
O Divino Construtor entregava-se Obra j naquele tempo.
(*) 12 : 1 e seguintes (Nota da Autora espiritual)

8 NO O RECEBERAM (*)
Ao tempo de Jesus, Nazar era uma aldeia perdida nas encostas dos montes de
calcreo, na regio da Baixa Galilia. Parecia uma prola, que esplendia entre pedras brutas,

cercada de flores midas quase que permanentes.


Fundada, fazia mais de dois mil anos, antes de Jesus, no tinha qualquer importncia,
porque nenhuma estrada significativa a atravessava, exceto quando se seguia a rota algo
escarpada na direo do Egito, caminho certamente percorrido por Maria, Jos e o Filho,
quando da fuga para liberar-se do dio de Herodes.
Nazar se tornaria conhecida depois dEle.
No o lugar que torna notvel o homem, mas este que, extraordinrio, dignifica o
lugar de sua origem elevando-o ao estado de grandeza, de notoriedade.
Nazar situa-se em uma bacia, a quase quatrocentos metros acima do nvel do mar
Mediterrneo.
O seu um clima privilegiado e o vale de Jezrael sempre frtil e verde, havendo
merecido do historiador Flvio Josefo comentrios entusisticos e comovedores.
Ao oeste, podem-se ver o monte Carmelo e o mar; a leste est o vale do Jordo; ao sul,
a plancie do Esdrelon, regio onde est Meguido e na qual o rei Josias sofreu sua terrvel
derrota; ali tambm lutaram os Macabeus, sonhando com a liberdade. Mais ao sul,
encontra-se o monte de Gelbo e, a nordeste, o lago de Tiberades.
Saul fora derrotado pelos filisteus muito perto dali, nas cercanias de Gelbo, ficando
assinalado o seu fracasso face desobedincia profecia de Samuel, o ltimo dos Juizes, que
lhe viera falar atravs da mediunidade exuberante da pitonisa do Endor...
No sendo uma aldeia importante, esteve sujeita a Jafa, a Sforis, a Quislot, e ficou
quase esquecida.
A populao da Galilia era constituda por srios, que vieram do Norte, gentios,
romanos do meado do sculo I, a.C, gregos que fugiram das conquistas de Alexandre Magno,
e pelo povo da regio, que falavam o dialeto arameu, uma linguagem pobre que se arrimava
s imagens vivas da Natureza, sem dispor de um vocabulrio prprio para vestir as idias.
No seja, portanto, de estranhar, que o Mestre usasse a mesma palavra para definir, s
vezes, coisas e acontecimentos diferentes.
Por outro lado, era comum que um mesmo vocbulo adquirisse um significado mais
genrico, o que, certamente, criou dificuldades para o entendimento das anotaes
escritursticas.

Em Nazar haviam chegado as notcias dos feitos que comoveram Cafarnaum.


O jovem ali conhecido passara a curar e o Seu magnetismo arrebatava as multides
necessitadas que O buscavam.
Nesse clima, Ele resolveu em um sbado vir a Nazar e visitar a sinagoga, como era
do Seu hbito.
A casa de oraes se encontrava repleta.
A Sua chegada houve uma comoo geral.
A beleza que dEle se irradiava parecia penetrar as almas, sensibilizando-as com amor
e ternura, ou despeito e inveja.
Sempre acontecer o mesmo fenmeno com as pessoas de vida pblica, guias e
lderes das massas...
NEle, no entanto, atingia-se o mximo e isto se generalizava por onde passasse Sua
grandeza.
Tomando da Tora, Ele leu o texto de Isaas e referiu-se:

O Esprito do Senhor est sobre mim. Pelo que me unge, para anunciar as boas
novas aos pobres.
Silenciou. Logo aps, disse:
Hoje se cumpriu esta Escritura na minha pessoa...
E prosseguiu comentando o texto em luz.
Houve silncio e interesse.
Alguns presentes indagaram, comovidos: No Ele o filho de Jos e de Maria,
que trabalhava na carpintaria, que todos conhecemos e no so os Seus irmos e irms os
amigos com os quais convivemos?
Era, portanto, um momento singular, rico de expectativas e de carinho.
Ele prosseguiu integrrimo:
Ningum profeta em sua terra, nem encontrar guarida na sua prpria casa. E se
lhe dir: Mdico, cura-te a ti mesmo.
Quando os cus deixaram de fertilizar a terra com chuvas abenoadas, Elias no
atendeu a aflio das vivas, exceto de Sarepta, de Sidon... E quando Eliseu veio ao povo e
os leprosos o buscaram, ele no os limpou, dando preferncia ao srio Naaman...
Desse modo, foram maltratados pelos familiares e coetneos.
A ira, a inveja e a revolta uniram-se em desequilbrio e expulsaram-nO, levando-0 a
uma encosta, pensando em atir-lo do alto, em expiao, qual o fazem com o bode
sacrificado na festa do Yom Kippur.
Jesus olhou-os com infinita compaixo, liberou-se de suas mos e atravessou o grupo
furibundo, descendo a Cafarnaum...
Nazar possua apenas uma fonte de guas generosas e abundantes, e talvez isso haja
contribudo para que permanecesse, at o sculo II, quase desconhecida.
Graas a Jesus e s terras frteis do vale do Esdrelon tornou-se famosa, enriqueceu-se
de cisternas cavadas no calcreo dos montes.
A pequena prola cintilante, que era Nazar com os seus campos de papoulas
escarlates e amarelas ao vento, com os cachos de mirra e ervas aromticas, conheceu Jesus na
Sua infncia e juventude.
Ele correu por aquelas pradarias, cabelos brisa e olhar abrangendo os montes
altaneiros que a cercavam a distncia.
... Nunca mais Ele voltaria a Nazar, que significa lugar de sentinela.
Nazar no O recebeu.
A inveja, a mgoa, o despeito dos Seus, expulsaram-nO dali.
Outras Nazars existem ainda hoje, aguardando os cristos decididos a fim de os
expulsarem dali.
(*) Lucas 4 :
(Nota da Autora espiritual.)

16

30

Mateus

13

55

56.

9 ELA DORME... (*)


Os discpulos permaneciam sob o dualismo das emoes que haviam vivenciado, h
pouco, em Gadara.
A cura do obsesso, instantnea e comovedora, deslumbrara-os, porm a reao do
povo, que perdera a sua vara de porcos, aturdira-os.

Vocifrantes e agressivos, os gerasenos pediram que eles se retirassem das suas


terras, e no se preocuparam com o enfermo restaurado na sade.
Eram-lhes mais importantes os sunos do que a criatura e, por isso, expulsaram
tambm o recuperado, acusando-o de intermedirio, responsvel pelo prejuzo dos porcos
que se atiraram ao mar...
A criatura humana sempre defronta opes para agir com segurana correta ou no.
E, invariavelmente, elege a perniciosa, por encontrar-se aturdida pelas paixes
desgovernadas, a tudo enxergando por lentes com distores pticas.
Dispondo do grande momento para o xito, para a felicidade, prefere o caminho
tortuoso da dor e da sombra, no se lhe furtando, no entanto, em definitivo, por no poder
fazer estacionar a marcha do progresso.
Retornando s praias queridas de Cafarnaum, ainda no se haviam tranqilizado,
quando uma multido ansiosa os cercou, rogando ajuda a Jesus.
O Mestre, impertrrito, amava aquela gente estrdia, sofredora e ansiosa.
Tinha pacincia para com todos e compreendia-lhes as necessidades, as inquietaes.
Ainda hoje Ele permanece assim em relao a ns.
Nesse natural tumulto, aproximou-se o chefe da sinagoga, homem honrado que,
aflito, prostrou-se-Lhe aos ps e rogou atender filhinha que enfermara e se encontrava
morte...
Jairo conhecia Jesus, sabia do Seu vnculo com Deus, embora os seus compromissos
com a religio que representava.
A cidade era pequena, a regio caracterizada pela simplicidade e pureza de costumes,
onde todos se conheciam de algum modo.
A notcia da cura do possesso chegara antes dEle, e ali, na multido, o que fora
enfermo louvava-O, narrando o episdio extraordinrio da sua libertao.
Havia, portanto, em Jairo, aflio e f.
A multido, essa massa informe que se agita de um para outro lado, arrancou-lhe o
Mestre da presena e logo todos exclamavam, frente, com entusiasmo, um novo
acontecimento.
Uma mulher hemorrossa muito conhecida, acabara de recuperar-se aps toc-10.
No meio das alegrias que espocavam, naturais, os conflitos e precipitaes cresciam,
pois que todos O queriam...
Subitamente Jairo deparou-se novamente com Ele.
O Seu olhar transparente penetrou-o em tons difanos.
O pai, emocionado, retornou rogativa.
Havia ternura e dor na voz quase sumida.
Vem minha casa, Senhor! Minha filhinha de doze anos est morte...
Jesus compreendeu-lhe a extenso do sofrimento e anuiu em acompanh-lo.
Quando j se encontravam porta da residncia confortvel, repleta de parentes
aflitos e curiosos, uma pessoa informou ao genitor, em pranto:
Est morta; no suportou, no incomodes mais o Mestre.
Os gritos e lamentos, o prantear em sinfonia lgubre, ergueram-se, e muitos em
solidariedade choravam.
O pai, trespassado pelo punhal da agonia, pediu-Lhe desculpas, e ia entregar-se ao
desespero, quando a voz lcida e melodiosa afirmou:
No temas; cr somente e ela ser salva.
Os cpticos, que O ouviram, retrucaram:

Ela morreu. tarde!


Imperturbvel, Ele adentrou-se no lar sob o infausto acontecimento e repetiu:
Ela dorme!
Os mortos para a verdade reagiram.
So os mesmos de todas as pocas.
Estroinas emocionais, passam da humildade violncia facilmente, quando se
sentem ameaados, confundidos na sua prospia.
Ignorando a Vida, transitam nas sombras, nas quais se comprazem.
Os que morrem no corpo esto mais vivos do que eles, que perderam a vida no
engodo da matria e do egosmo.
Esses mortos rebateram, furibundos, enrgicos:
Ela morreu!
E desejavam-na morta, a fim de sentirem-se em deleite moral inferior, triunfantes na
sua opinio.
Jesus mandou que os frvolos sassem e permaneceu com o pai, a me, Pedro, Joo e
Tiago no quarto onde a jovem dormia.
Plida, enrijecendo-se, a pequena era a prpria morte na sua postura final.
Tocando-a com doura e imprimindo energia com meiguice voz, o Senhor
falou-lhe, tomando-a pela mo:
Menina, levanta-te!
Um suave rubor tomou-lhe a face e o Esprito retornou-lhe ao corpo em quase total
higidez.
Um doce aroma de anmonas em flor invadiu o quarto, e o hlito da vida espraiou-se
no aposento agora arejado.
A menina ergueu-se, sorrindo, enfraquecida.
Dem-lhe de comer ordenou o Amigo.
Estrondou a alegria, e os hinos de louvor bordaram
todos os lbios com melodias festivas.
Jesus a Vida Abundante penetrou a famlia com a Sua vitalidade e alegria.
A movimentao de jbilo percorreu a massa.
E Jairo, o responsvel pela sinagoga, aps beijar a filhinha que retornara da letargia,
ao procurar o Rabi para agradecer, j no O encontrou.
Ele sara.
A multido esperava-0 e seguiu-Lhe emps.
No futuro, anci e feliz, a filha de Jairo, em Cafarnaum, narrava o episdio
inesquecvel, e procurava definir o indefinvel daquela voz que a arrancara das sombras:
Talitha, Koum! (menina, levanta-te.)
No torvelinho das paixes, que predominam ameaando de morte e de condenao a
criatura desatenta Jesus ainda exclama com piedade:
Ela dorme!
(*) Lucas - 8 : 40 a 42 e 49 a 56 (Nota da Autora espiritual)

10 ERA UM SBADO... (*)


A sinagoga, ao tempo de Jesus, como ainda hoje, possua um papel preponderante na

vida da comunidade hebria.


Alm de templo religioso, caracterizava-se como ncleo social e escolar, onde se
estudava o manuscrito da Tora e se comentava em discursos comovedores o seu contedo
precioso, depois de desembrulh-la de um envoltrio de linho fino no qual ficava guardada.
A religio era a principal paixo de qualquer judeu e a freqncia sinagoga um
dever impostergvel.
O hazzan funcionrio do servio, que se encarregava de soprar com fora o chifre
de carneiro para anunciar o sbado coqduzia a Tora, que era tida como a fonte frtil de
toda a sabedoria.
As pessoas se distribuam pelo recinto conforme os espaos e, defronte da quarta
parede a que se erguia na direo frontal de Jerusalm tremeluziam as chamas dbeis
na menorah, ou candelabro, de sete braos, inspirada na planta Slvia judaica.
A Tora era copiada em folhas de pergaminho, costuradas umas s outras e enroladas
em talas de madeira, chamadas rvores da vida.
Lida em altas vozes por qualquer pessoa, constitua uma ventura para quem o fizesse.
Jesus teve ocasio de faz-lo, e interpret-la sob a admirao geral, quando declarou,
na primeira vez, que naquele dia se cumpria nEle o que estava escrito...
A sinagoga era, portanto, o ncleo central e relevante da comunidade.

O sbado fora eleito como o dia do descanso. A Lei e a tradio haviam estabelecido
com rigor o que se podia, ou no, fazer, sob rigorosa limitao. A observncia, no entanto,
era mais formal do que real, porquanto na dependncia do interesse de cada um.
A criatura humana, porm, que se compraz com as mesquinharias, demorando-se no
atendimento das formas sem preocupao com o contedo, estabelecera quanto se podia
caminhar, o volume e o peso a carregar, qual o servio a executar. Minudente no estabelecer
preceitos, no cuida do aprofundamento do significado, perdendo-se em aparncia, sem a
correspondente da realidade.
Era o dia dedicado ao formalismo, ao descanso, ociosidade, tambm religio.

Em um sbado Jesus ensinava na sinagoga.


Desde cedo os jovens se adestravam na leitura e na interpretao dos textos sagrados
e Ele j se revelara, mais de uma vez, portador da excelente virtude do discurso.
Nesse dia, porm, l estava tambm uma mulher possessa, que um esprito tornara
enferma havia dezoito anos. Andava curvada e no podia endireitar-se.
A interferncia das entidades perversas na vida humana de grande intensidade.
Doenas fsicas, emocionais, psquicas, multiplicam-se, afligindo multides que teimam por
ignorar-lhes a gnese obsessiva, de natureza espiritual atormentadora.
No se interrompendo a vida ante o fenmeno da morte, o intercmbio mental
prossegue natural, mediante sintonia e afinidade entre os seres.
Esse fenmeno est presente em todas as pocas, culturas e povos da humanidade, e
era muito comum nos dias de Jesus. Ele o enfrentou com elevao e terapia libertadora
mpar, graas Sua autoridade moral e perfeio espiritual.
A Sua acuidade para penetrar na causalidade das ocorrncias facultava-Lhe a
sabedoria para distinguir o momento quando deveria interferir a favor dos padecentes.

Ele conhecia o drama da desafortunada paciente obsessa. Vendo-a, chamou-a e


disse-lhe: Mulher, ests livre da tua enfermidade!, impondo-lhe as mos.
O momento foi grandioso, impactante. O inesperado a todos colheu de surpresa.
A enferma endireitou-se e ps-se a dar glria a Deus.
O sol da sade penetra as sombras do sofrimento e logo reina a alegria na paisagem
antes triste.
A libertao rompe as algemas e o escravo exulta.
A autoridade afasta o delinqente, facultando o equilbrio da sua vtima.
O amor sobrepe-se ao dio e alivia as aflies.
Jesus o Poder que vem de Deus e o mundo -lhe o grande cenrio para a realizao.
Fonte da vida Ele a Vida plena, que toma e deixa o corpo quando Lhe apraz.
Conhecendo a origem, interpreta os fenmenos e altera-lhes a rota.
A verdade e o bem sempre defrontam opositores: os invejosos, os pigmeus, os
homens-sombra, vazios de realizao interior, doentes da alma.
Ante a estupefao geral, o chefe da sinagoga, indignado por ver que Jesus fazia
curas ao sbado, disse multido: Seis dias h durante os quais se deve trabalhar. Vinde,
pois, nesses dias, para serdes curados e no em dia de sbado.
A astcia estabelece normas que so ultrajes razo.
Impossibilitada de produzir e fomentar o progresso, tenta obstar-lhe a marcha, o
avano.
A Natureza um poema de equilbrio, enquanto o ser humano entre os conflitos, nos
quais estertora, um paradoxo.
No segue o fluxo do amor, porque ainda primrio nos sentimentos, egocntrico nas
aspiraes.
Corrodo pelas mazelas, combate o que no tem condies de realizar e maldiz aquilo
de bom que o afeta negativamente.
Jesus, no entanto, conhecia o homem profundo, sua realidade, seus limites.
Fita, ento, apiedado, o infeliz e educa-o com severidade.
Nunca se deve deixar espao bom, aberto aos maus.
A tcnica de correo conforme o deslize. A terapia de acordo com a enfermidade.
Hipcritas! enuncia com rigor e serenidade.
A palavra vigorosa um relho que aoita e adverte, para logo prosseguir com a lgica
de bronze:
No solta cada um de vs, ao sbado, o seu boi ou o seu jumento da manjedoura e
o leva a beber?
Os egostas justificam os seus atos. Quando em jogo os seus interesses, tudo factvel
e legal. No, porm, o so as aes do seu prximo, mesmo quando legitimadas pela
necessidade superior.
Esto atentos sempre contra os outros; elegem-se sicrios do prximo, em cuja
funo infeliz comprazem-se.
E Ele prossegue:
E esta mulher que filha de Abrao, presa por Satans h dezoito anos, no devia
libertar-se desse jugo em um sbado?
A interrogao aturde a massa e o chefe da sinagoga se desconcerta. Sua conscincia
obliterada sacudida pela veemncia do amor espontneo.
No h contradita verdade. Ela sobrenada na corrente dos sofismas, negaes e
desvios de rota.

Vale mais um ser humano do que um animal de carga, sem dvida. Quem o contesta?
A demorada sujeio deveria terminar. A sade o estado natural, e no a doena, a
desdita.
Ele estava ali naquele dia, no em outro, no depois. Aquela, portanto, a
oportunidade; o dia era secundrio.
A ao do bem tem o seu momento, ningum o determina. Ele esplende e acontece.
Quem o desperdia, no o reencontra nas mesmas condies.
Dezoito anos sob a ao do satnico obsessor, constituam purgao santificadora
suficiente para o resgate que terminava.
Escrava, sofria. Livre, exultava.
No cativeiro reabilitara-se. Na liberdade iria ser agente multiplicadora de vida e de
esperana.
A hora soara-lhe propcia; quisessem ou no os indiferentes, ela estava curada, o que,
realmente era importante.
Ningum que detenha a vitria da luz.
Os adversrios ficaram envergonhados e a multido alegrava-se com todas as
maravilhas que Ele fazia.
Jesus a Porta de libertao, que auspicia ventura.
Naquele sbado dedicado ao repouso, estuaram o amor, a sade, a liberdade, a vida.
Haver sempre um sbado de luz para quem chora nas sombras, nas sinagogas do
mundo hostil.
Carregando aflies e vergado sob injunes penosas, debatendo-se nas garras das
obsesses pertinazes, a criatura busca Jesus, mesmo sem o saber, at o momento de
encontr-10.
Nunca desistir, o desafio, avanando sempre.
A sinagoga era um centro comunitrio de ao social, religiosa e humana.
E aquele era um sbado...
(*) Lucas 13 : 10 a 17 (Nota da Autora espiritual)

11 ELE ERA CEGO... (*)


Betsaida era, ao tempo de Jesus, uma aldeia quase insignificante a noroeste do lago
Tiberades.
Suas terras frteis respondiam s necessidades de todos quantos ali viviam.
Quase desconhecida, a pequena Betsaida beneficiava-se do clima ameno, que
resultava do imenso lago prximo cujas guas repousavam na profunda fossa de Ghor.
A pouca distncia das guas piscosas constitua um lugar buclico e agradvel,
passagem quase obrigatria dos viajantes que demandavam as regies altas.
Em Betsaida nasceram Pedro, Andr e Filipe.
Homens simples e sem cultura escreveram, com as suas vidas, a epopia do amor,
incorporando-se Galeria dos heris da Era Nova.
Jamais lhes havia passado pela mente a dimenso da empresa que ora iniciavam.
O seu Mestre, a Quem amavam, arrebatava-os, e o contedo do Seu discurso
fascinava-os. Todavia,
faltava-lhes sensibilidade, penetrao de conscincia para aquilatar a grandeza, todo

o significado da resoluo que o jovem galileu lhes propunha.


Aquelas palavras que fluam da Sua boca, como labaredas flamejantes,
incendiavam-lhes as modestas aspiraes. No entanto, tmidos, a sua percepo no os
projetava alm dos breves limites geogrficos dos lugarejos e cidades ribeirinhos, no
mximo, das margens do mar, que lhes parecia imenso, face sua extenso de vinte
quilmetros de comprimento por dez quilmetros de largura...
Por esses e outros fatores, a pequena Betsaida entraria na histria dos fastos esticos
da Boa Nova e parecera, posteridade, um risonho lugar, cercado de rosais delicados,
verdejante na sua policultura domstica.
Nos arredores de Betsaida vivia um jovem que era cego.
A cegueira amarga provao.
Os olhos so a candeia do corpo, como Ele prprio o dissera.
Graas a essas lmpadas luminescentes o ser pode deslumbrar-se com a beleza da
paisagem, penetrar o insondvel das coisas, entender o mistrio da vida.
So, os olhos, as janelas abertas para o firmamento, para o fascnio dos.astros.
Ser cego permanecer no sombrio corredor da solido emocional.
A cegueira torna-se fardo pesado, especialmente quando ocorre na juventude.
Diz-se que aquele que nasceu cego, porque no tem conhecimento da luz, certamente
no experimenta mais profunda frustrao, mais angustiante aflio.
Est acostumado assevera-se, e assim diz-se, porque no se conhece a marcha pela
rota em sombras.
O jovem era cego do corpo e desejava enxergar. No havia, porm, possibilidade,
perspectiva alguma para esse tentame.
Entregue sua realidade, seguia, a passo lento, sem aspirao em favor de um
amanhecer clareado pelo sol da alegria visual.
Ele era cego e quase feliz. Quase feliz, porque h outros cegos, aqueles que
enxergam, porm no querem ver a verdade, no procuram discernir.
O discernimento fenmeno da razo e do conhecimento, que norteia o destino do
homem honrado, que se lhe entrega antes de agir.
O cego do espirito, aquele que se recusa a utilizar a conscincia que discerne na
aplicao dos valores ticos, este, sim, realmente infeliz.
O cego dos olhos tropea nos caminhos por onde seguem os seus ps. O outro, o da
alma, corrompe os sentimentos e destroa os valores ntimos da dignidade, da paz.

Aquele jovem, sabendo da presena de Jesus em Betsaida, acercou-se, com


ansiedade, e sem palavras rogou socorro. Era, o seu, um apelo profundo que partia do
corao. Nele misturavam-se aspiraes e receios, necessidades e incertezas. Ele intumesceu
a alma de esperana e aguardou.
O Amigo Divino, que penetrava o mundo ntimo de todos, recebeu-lhe a rogativa e
compreendeu a sua aflio.
Jesus amava as criaturas e o Seu amor era feito de compreenso e ternura.
Sabia que elas ainda estagiavam nos patamares inferiores do imediatismo, do prazer.
E porque as entendia, descia, anuindo s suas necessidades, favorecendo os seus desejos, a
fim de ergu-las, depois, aos degraus mais elevados da vida.
O Senhor tomou o jovem pelas mos e levou-os aos aforas da aldeia.

No desejava testemunhas para o que iria fazer. Seria uma terna ao de amor,
discreta e rica de bondade.
To logo se encontrou a ss com o ansioso candidato luz dos olhos, umedeceu os
dedos com saliva e tocou-lhe a vista apagada.
Certamente, no necessitaria fazer desse modo. A saliva, porm, simbolizava o hlito
da vida, e como Ele se dizia a Vida, transmitia, dessa forma, a energia vital ao padecente, cuja
harmonia de conjunto estava alterada.
Logo aps, perguntou-lhe:
Vs alguma coisa?
Sim redargiu o jovem, emocionado vejo os homens; vejo-os como rvores
a andar.
A imagem era perfeita.
Sua viso das criaturas era sem contornos, sem discernimento, sem parmetros de
forma e de cores.
A sua era outra realidade.
Aberto recuperao, psiquicamente receptivo e expectante, percebeu Jesus
tocar-lhe os olhos por segunda vez e, inquirido, novamente, respondeu:
Agora vejo!
Havia uma indefinvel alegria bailando na sua face e a fulgurante luz estuante nos
olhos desmesuradamente abertos.
Vai disse-lhe o Terapeuta e no o digas a ningum. Nem sequer entres na
aldeia.
O silncio, naquele momento, era necessrio, indispensvel fixao da cura.
O tumulto, a presso psicolgica da massa, a suspeita dos frvolos, as tricas
sacerdotais e dos principais da aldeia certamente o perturbariam.
Imprescindvel que frusse do benefcio, que se adaptasse situao nova, inusitada.

O amor de Jesus prossegue ainda hoje dirigido especialmente aos cegos espirituais,
aos soberbos e dspotas, aos vos e dominadores...
Multiplicam-se as Betsaidas na atualidade humana e escasseiam filhos como aqueles
trs que alargaram o reino, que ento se iniciava e do qual participaram com abnegao e
entrega total.
Eles viam atravs dos olhos e enxergavam o futuro mediante a percepo
transcendente. No tinham dimenso do que aconteceria, entretanto, ofereceram-se ao
comando do Amor no amado.
Ele era cego e Jesus f-lo ver por amor.
(*) Marcos 8 : 22 a 26 (Nota da Autora espiritual.)

12 ARREPENDIMENTO TARDIO (3)


A construo material, por mais complexa, possvel de ser erguida cm relativa
facilidade. A de natureza moral demanda tempo, exige tenacidade, comeos e recomeos at
se tornar slida, resistente a qualquer devastao.
O aplainar das arestas morais mais sacrificial do que o desbastar os minerais,

corrigir-lhes as anfractuosidades, mold-los.


Por isso mesmo, o esprito o construtor da sua realidade, devendo entregar-se com
empenho ao mister sem descanso. Qualquer titubeio, surge a ameaa realizao. Um
descuido, e abrem-se os canais para o alagamento e desastre da obra.
Judas Iscariotes no alcanara a dimenso plena do reino que Jesus viera fundar.
Sem exterioridades, seria no corao a sua base e no carter os seus alicerces. De
natureza eterna, dispensaria as formas exteriores, erguendo-se com os materiais preciosos
que o ideal e o sacrifcio elegem.
Suas vigas mestras, seus pilares, so, ainda hoje, a deciso irrecusvel e a segurana
quanto excelncia do empreendimento.
Com estas convices, nada constitui impedimento, e o xito faz-se-lhe natural,
duradouro.
Judas, que era judeu, provavelmente de Kerioth, elegera-se o tesoureiro do grupo
heterogneo de amigos de Jesus, a quem Ele convidara para a edificao do reino.
Imediatista, considerava as pessoas e ocorrncias atravs da ptica distorcida da realidade,
pelo valor relativo, amoedado, social, transitrio, no real, e isto f-lo perder-se, tornando-se
a legendria personagem da traio, da desconfiana, da ingratido.
Jesus o amava e ele tambm amava o Mestre a seu modo, conforme as suas
possibilidades.

Toda Jerusalm ainda permanecia opressa em' decorrncia da crucificao do


Inocente.
Pesava sobre a cidade uma psicosfera densa e os receios dominavam os coraes.
As crucificaes eram relativamente comuns no monte sinistro da caveira, no,
porm, aquela.
Os inimigos de Jesus sentiam-se inseguros, tomados por supersties e intrigas que
deixavam entrever desforos.
Os seus amigos, que haviam ficado a distncia, ocultavam-se, amedrontados,
desconhecendo o que lhes estaria reservado.
Ouviram-nO e no O entenderam. Pareciam perdidos sem a voz suave de comando e
as seguras mos do Pastor.
As notcias enganosas, exageradas e deprimentes viajavam cleres de bocas a
ouvidos, mais aumentando-lhes o pnico.
Foi nesse clima psicolgico e social que raiou a madrugada do domingo, no qual as
mulheres afetuosas foram visitar-Lhe o tmulo e o encontraram vazio.
Logo depois viram-nO, receberam as instrues que suscitariam dvidas nos amigos
mais cpticos, quanto a seguirem para a Galilia.

Judas vendera-Q por trinta moedas de prata, atormentado pelo valor efmero das
coisas o reino dos cus pelo de metais.
E tendo o dinheiro nas mos, percebendo que o seu Amigo no reagira, deixando-se
aprisionar e sendo condenado, retornou aos comparsas do crime e ante a frieza deles,
tardiamente desabafou: Pequei, entregando sangue inocente.
As gargalhadas roufenhas e a zombaria cida dos cnicos vencedores da mentira

explodiram em resposta de indiferena: Que nos importa? Isso l contigo.


Sem dimenso para compreender a extenso vil daquelas almas, o tresloucado atirou
as moedas na direo do santurio, saiu e foi-se enforcar.

Os indivduos fracos no se enfrentam. Fugindo da conscincia so-lhe vtima


permanente, por no poderem liberar-se do seu aguilho.
A culpa ferrete cravado no cerne do ser a revolver-se cortante.
S a sujeio realidade com honesta disposio de reequilbrio arranca o espculo
cravado, amenizando a dor.
Fugir fcil, porm de que se foge, de quem e para onde?
Aonde quer que se v, vai-se consigo mesmo, e Judas, arrependido quo atenazado
por foras espirituais inferiores que o arrastaram ao crime por afinidade de propsitos, fugiu
para o abismo do suicdio pelo enforcamento.
Abandonava o reino de luz para cuja construo fora convidado, arrojando-se no de
trevas densas onde se demoraria em infinita desdita.
Antes de aparecer s mulheres que foram ao tmulo vazio, Jesus descera s regies
penosas do mundo inferior ao qual se arrojara Judas invigilante.
Debatendo-se na constrio psquica do lao que o enforcara e sob a truanesca
zombaria daqueles Espritos que o estimularam tragdia, tornara-se o smbolo da suprema
desdita.
No aturdimento mpar, sem poder ver o Amigo Divino, sentiu, momentaneamente,
atenuarem-se-lhe as dores e a loucura, e ouviu-Lhe a voz dlcida nos refolhos do ser:
Judas, sou Eu.
Confia e espera! Ainda h tempo. Nenhuma das minhas ovelhas se perder.
Perdoa-te o ultraje, a fim de que te possas libertar da culpa e recuperar-te.
Acende a candeia da esperana e a sombra ceder.
Recorda o amor, de modo que a paz se te aninhe no corao.
Nunca te deixarei, nem te condenarei.
Hoje comea poca nova e amanh o dia da vitria.
Repousa um pouco, pois os milnios te aguardam e eu tambm estarei esperando por
ti.
Suavizado o sofrimento pelo reconforto da Presena, Judas adormeceu por um pouco,
adquirindo foras para as futuras expiaes redentoras.
Os prncipes dos sacerdotes apanhando as moedas, disseram: No lcito
lan-las no tesouro, pois so preo de sangue.
Depois de terem deliberado, compraram com elas o campo do oleiro para servir de
cemitrio aos estrangeiros.
Por tal razo, aquele campo chamado at ao dia de hoje campo de Sangue.
Cumpriram-se as profecias.

O reino dos cus est no corao e dever ser exteriorizado atravs do amor, da paz,
em bnos de humildade e f.
Frgil, a criatura humana que se empenha em distend-lo, sofre aguerridas
perseguies, tentaes...

So-lhe oferecidas moedas de prata e ouro, poder e prazer, que aps recebidas,
quando se lhes constata o desvalor e se deseja reparar o mal, os onzenrios e enganadores,
ridicularizando aquele que se equivocou, certamente repetiro:
Isso l contigo.
() Mateus 27 : 3 a 10 Vide o captulo 23 de nosso livro H Flores
No Caminho. (Nota da Autora espiritual)

13 A CONSCINCIA DE CULPA
A noite esplendente estava ajaezada de diamantes estelares, que lucilavam ao longe
em poema de incomparvel harmonia.
Jesus huscara o Monte das Oliveiras para meditar, preparando-se para enfrentar a
urdidura traioeira da habilidade farisaica.
Fie conhecia a criatura humana e suas infinitas fraquezas.
Ao dedicar-se iluminao das conscincias humanas, sabia que os largos milnios
de ignorncia no podiam ser erradicados em um momento, ao impacto das emoes
apressadas.
Qjiornem quando avana no vcio, por largos anos, se deseja- abandon-lo, a trilha
exige-lhe perodo quase equivalente para a desintoxicao, a liberao dele.
Desse modo, o dilogo com as criaturas astutas, era-Lhe penoso, em razo de
defrontar enfermos morais gvesTdsTarados em apstolos da sade, criminosos de
conscincias ultrajadas, apresentando-se como fiis servidores da ordem, do bem e da justia.
Quando ainda sopravam os ventos frios do amanhecer,
Ele descera cidade de Jerusalm e demandara o Templo. (*)
A Sua fama antecedia-0 em toda parte.
As multides vidas seguiam-nO ou antecipavam-nO, onde quer que se apresentasse.
Aproximavam-se j os dias das Suas grandes dores, e o fermento da intriga
aumentava o volume das hostilidades contra Ele.
Buscavam, os Seus inimigos gratuitos, esses permanentes adversrios do progresso,
motivos para O incriminar, ajustando a inveja e as acusaes vis, aos hediondos programas
arquitetados contra o Seu amor.
Os homens pequenos, os pigmeus, odeiam os gigantes. Incapazes de os enfrentar,
usam da artimanha e da fraude, da mentira e da pusilanimidade, para atingir as metas que
perseguem.
O Templo regurgitava. Era o orgulho da raa, e a presena do Nazareno provocava
especial interesse na curiosidade geral.
Aps comentar o texto aberto livremente ao pblico, Ele saiu ao trio, e ali, sob os
raios dourados do Astro-rei, prosseguiu entretecendo comentrios sobre a Lei, como se
aguardasse um acontecimento grave.
Subitamente, o alarido interrompeu-Lhe a alocuo, e os fariseus astuciosos, atirando
uma mulher desprotegida ao cho, no crculo natural de curiosos, deram incio s acusaes
da torpeza humana.
A pobre havia sido flagrada em adultrio vil e merecia a lapidao. Porque Ele
pregava o amor, qual a atitude que se deveria tomar?
Tal era a interrogao geral, hbil e perversa.

Narra Joo, que o olha misericordioso do Mestre penetrou-lhe a alma ferida e, por
sua vez, props que ela fosse apedrejada por aqueles que estivessem isentos de pecados.
Como resultado, todos se foram, inveterados pecadores que eram, ficando a ovelha
tresmalhada e o Seu pastor abnegado.
Porque ningum a punira, tambm Ele a dispensou, propondo-lhe que no retornasse
ao erro, essa geratriz de tantos martrios.

O adultrio era e prossegue na condio de grave crime, passvel, poca, de punio


severa at a morte da r, por apedrejamento.
Condenava-se a mulher fragilizada pelo erro, sem examinar-se, a
responsabilidade do cnjuge ou a culpa daquele que delinquira e a levara ao deslize.
pobre criatura, a partir daquele instante, deu rumo novo existncia, aps ouvir o
Mestre generoso, no silncio daquele dia, quando asr sombras d noite se abateram sobre a
Terra.(**)
Oj>arceiro infeliz, porm, no foi levado praa do julgamento, da condenao,
aquele revel que a derrubara jio abismo.
Os conceitos arbitrrios de justia humana eximiram-no da humilhao, e, pervertido,
ele prosseguiu nos hbitos infelizes de torpes conquistas.
O gavio voraz salta de uma para outra vtima indefensa, deixando-as, insaciado, ao
abandono, destroadas...
Tornara-se, desse modo, um heri entre os amigos venais, que lhe exaltaram a
virilidade, a capacidade de seduo.
Passados os breves dias de recordao do infausto acontecimento, continuou no curso
danoso da sensualidade alucinada.
Os anos, porm, transcorreram rpidos para a sua licenciosidade.
Havendo destrudo um lar e despedaado os sentimentos atingidos, esqueceu a
dimenso do prprio crime, sem conscientizar-se dele.
A culpa, no entanto, urde, nas telas do infinito, os meios de reparao, e ningum foge
de si mesmo.
Dez anos transcorridos da cena dolorosa, na praa do Templo, o antigo sedutor
encontrava-se vencido por dermatoses sifilics que o retiraram do Livro dos Vivos,
sendo, por fim, expulso da cidade sob suspeio de lepra...
Aps vagar sem rumo, alquebrado quo infeliz, passou a recordar-se das suas vtimas,
quando, quase desfalecente, foi recolhido na Casa do Caminho, na est rada de Jo pe.
Ali recebeu das mos caridosas de Simo Pedro o tratamento adequado e o apoio
moral para a exulcerao ntima.
Ouvindo falar de Jesus, no pde fugir ao fascnio do Mestre e o pranto de
arrependimento tomou-o com freqncia.
Numa noite, quando se sentia reanimado, ante a pacincia e gentileza do ex-pescador,
narrou-lhe o drama ntimo com imensa dor na alma, agora que pensava de forma diferente.
Pedro recordou-se da cena imorredoura e comoveu-se tambm.
A saudade de Jesus volveu-lhe aos sentimentos, e, aps escutar a confisso do
culpado desconhecido, buscou diminuir-lhe o peso do fardo moral, falando-lhe do futuro e
das possibilidades de redeno.
Referiu-se Sua negao, ele que amava o Amigo, e, no obstante, ali estava em

reabilitao...
PedindcLpara ser admitido como servidor arrependido, o antigo conquistador,
que deixara pegadas de sombras pelo caminho, recomeou a redeno atendendo os filhos do
Calvrio, no santurio da fraternidade, erguido em nome do Crucificado sem culpa que,
diante da mulher adltera, prescrevera o perdo, considerando que os seus acusadores eram,
por sua vez, todos eles, tambm culpados.
(*) Joo 8 : 3 a 11. (Nota da Autora espiritual)
(**) Vide Encontro de reparao, no livro Pelos Caminhos de Jesus,
Editora Alvorada. (Nota da Autora espiritual)

14 A PACINCIA DE JESUS
A usurpao do poder poltico abrira espao para as arbitrariedades e abusos de toda
ordem.
A famigerada guia romana sobrevoava o cadver dos povos dominados, espraiando
o cepticismo e o horror por onde se encontrava.
Os ideais de nobreza humana haviam cedido lugar aos ignbeis conluios do crime
com a insdia.
O povo, como si acontecer em circunstncias equivalentes, entregara-se lassido,
suspeita contumaz, ao abandono de si mesmo.
Antes, confiantes em Deus, os israelitas agora duvidavam da Sua proteo, cujos
interesses pareciam distantes das necessidades dos Seus eleitos.
Os profetas, que se apresentaram em perodos contnuos, agora eram vitimados pela
prpria inpcia e rapidamente abandonados por aqueles que lhes exalavam as parcas
virtudes.
O clima emocional, portanto, era desanimador.
Teimavam, permanecendo em alguns isolados bolses ideolgicos, aqueles que
ambicionavam pela libertao, pela restaurao da independncia da raa, que voltaria
a exaltar Jav, o Todo-Poderoso. Desejavam, no entanto, que surgisse um guerreiro,
que fosse igualmente impiedoso, utilizando-se da maquinaria da guerra para exterminar o
inimigo e propor o retorno da glria antiga ao pas decadente...
A suspeio predominava no relacionamento humano e a traio constitua fenmeno
necessrio sobrevivncia pessoal e social.
A presso do dominador conduzia as parcas esperanas a estado lamentvel de
pessimismo.
Em tal situao, apareceu a figura mpar de Jesus, abrindo os braos solidariedade
fraternal, acenando com perspectivas de um futuro iluminado para todos.
A Sua voz se erguia ante a multido expectante como um poema de consolo dirigido
aos desesperados e aflitos, facultando-lhes uma viso diferente e feliz da Vida.
Os Seus discursos se estribavam nos temas do cotidiano, nas coisas simples e nas
ocorrncias de cada hora.
As Suas eram propostas de amor com solues fceis de serem aplicadas.
Por essas razes, passou a chamar a ateno, atraindo grupos de curiosos ao Seu
crculo de atividades.

Em poucas semanas tornara-se assunto de todas as conversaes, notrio em todos os


meios, e comentado sob os ngulos e a ptica daqueles que se afeioavam aos temas em
voga.

Era uma aragem refrescante na ardncia do sofrimento.


Mais do que uma esperana, fizera-se um lenitivo e um alento inesperado.
A prpria Natureza parecia haver-se alterado, tornando-se mais bela e calma.
Por onde Ele passava um vigor novo estabelecia metas elevadas nas mentes e nos
coraes.
Suas pegadas ficavam impressas nas paisagens das vidas.
Nunca, antes, houvera passado, vivido ali, algum como Ele.
Quem O visse, escutasse ou sentisse, jamais se olvidaria...

A notcia dos Seus feitos correu com a celeridade de uma centelha de fogo sobre
rastilho de plvora.
A sede de apoio leva o necessitado a uma busca incessante.
A ausncia de paz invita-o tomada de conscincia das aes transatas e do que pode
ser feito em favor da sua aquisio.
Assim, os sofredores, que se multiplicavam em inconcebvel nmero, acorriam em
busca de soluo para os problemas que os afligiam.
A variedade de conflitos e necessidades no os separava, antes unia-os na mesma
busca, vinculados pela fora telrica do sofrimento.
Desse modo, narra Mateus (*), acercaram-se dEle as multides, que trouxeram os seus
enfermos: cegos, endemoninhados, moucos, padecentes das vrias decomposies orgnicas.
Ele tomou as nossas enfermidades e carregou as nossas dores.
... E a todos curou, demonstrando a grandiosidade dos Seus valores e a Sua
procedncia divina.
Sempre se repetiro cenas de tal quilate.
A pacincia de Jesus propiciava uma viso mais profunda do que a superficialidade
daquelas dores, que eram decorrentes de causas mais graves, porquanto centradas no
comportamento anterior das existncias humanas.
As criaturas desejavam libertar-se do fardo, no do jugo moral a que prestavam
servido.
Ignorando a lei dos renascimentos, no sabiam entender a causalidade dos
sofrimentos. Tampouco se preocupavam em equipar-se com aes nobilitantes, a fim de se
precatarem de futuras dores.
Era a pressa pela liberdade, que no sabiam preservar, pela sade, que no entendiam
como manter.
Jesus compreendia-lhes o drama e ajudava todos, sem exigncias, sem reclamaes.

A Sua pacincia resultava da compaixo que Ele mantinha em relao aos homens e
mulheres sofridos.
Sabia que o povo, explorado e desiludido, era sempre atirado indiferena e ao

desprezo pelos poderosos, enquanto eles, os exploradores, banqueteavam-se no fausto e no


abuso da ostentao vazia.
Penetrando, psiquicamente, no futuro, Ele sabia que todo ttere revel, torna-se
desditoso, vindo a expungir o crime mais cedo ou tarde, a fim de liberar a conscincia e
reparar os males que engendrou e praticou em relao aos outros, certamente, contra si
mesmo.
Compadecia-se, o Senhor, da ignorncia humana, que centralizava suas aspiraes no
imediato, no transitrio, no insignificante.
Na condio de Mestre, Ele veio para despertar as mentes para realidades mais
transcendentes, portanto as que so legtimas, at ento desconhecidas.
Paciente, amava com ternura as multides e concedia-lhes o tempo necessrio para o
amadurecimento do raciocnio e captao de idias do bem.
Todo o Seu ministrio transcorreu, pois, como lio de paciente amor, ensejando,
queles que O buscavam, a recuperao orgnica, sem dvida, mas, tambm, o ensejo de
identificar os objetivos relevantes, essenciais, que constituem o impositivo da vida na Terra,
rumando para a imortalidade.

A compaixo de Jesus um apelo ao de socorro dor conforme esta se apresente.


E a Sua pacincia convite sem palavras para que o amor se espraie, aguardando o
desenvolvimento tico-moral dos seres, na elucidao dos seus desafios, assim como na
equao deles.
(*) Mateus 8 : 16 e 17 (Nota da Autora espiritual)

15 SOFRIMENTOS E JESUS
No processo da evoluo, o sofrimento se destaca, adquirindo preponderncia, face
aos constrangimentos esforos que impe a fim de ser superado.
Predominando, nas paisagens terrestres, ainda recurso de que se utilizam as Leis da
Vida para frear a alucinao humana, retemperar o nimo, aprimorar as arestas morais e
trabalhar os metais das imperfeies que prevalecem em a natureza animal dos seres.
Atendessem s instrues do amor, e no haveria defeces, no surgiram
compromissos negativos, no ocorreram abusos geradores de mecanismos de depurao por
meio da dor.
Desatentos lei natural, ao fenmeno do amor, os indivduos agridem-se,
deixando-se arrastar pelas opes do prazer fugidio, embrenhando-se no emaranhado das
paixes primrias e fortes, nas quais se aturdem, permanecendo por largos perodos em
desajustes aflitivos.
O sofrimento, disso resultante, propele-os a novas atitudes restauradoras da
harmonia, ensejando-lhes um saudvel campo de ao, no qual desenvolvem as aptides
inatas e aprimoram-nas com o cinzel do estudo, as ferramentas do trabalho edificante, os
instrumentos da abnegao.
O sofrimento irrompe quando o amor recua, ou se entorpece, ou tomba, envilecido,
pelos sentimentos torpes.
Certamente, h o sofrimento do amor, porm, em dimenso transcendente, qual o de

Jesus pelas criaturas, pelas multides inconscientes, que jornadeiam gerando aflies para si
mesmas.
Por isso, a Sua compaixo prossegue infinita, e as dores que Lhe so infligidas
permanecem como efeito do descaso geral ao Seu inefvel amor.

Genesar era uma cidade de pequeno porte, sem maior relevo ou importncia, s
margens do mar da Galilia.
Espraiada em uma enseada suave, entre as areias de seixos e pedras midas,
arredondadas, e os aclives cultivados de cereais, mantinha-se tranqila na geopoltica da
sociedade, indiferente aos acontecimentos de Israel.
Utilizaram-se do seu topnimo para tambm denominar o mar ou lago de gua doce,
com doze milhas e meia de comprimento, sete milhas e meia de largura no seu ponto mais
largo.
As notcias do Messias haviam tambm chegado l.
Naturalmente, despertaram grande interesse em conhec-10, privar-Lhe da
intimidade, principalmente receber os benefcios que somente Ele sabia e podia prodigalizar.
Em meio a essas esperanas pairavam, igualmente, dvidas, quanto Sua
procedncia, ao Seu poder e autoridade, com altas doses de curiosidade em torno da Sua
figura e mensagem.
Os indivduos so os seus prprios tormentos, aspiraes e desalinhos, mediante os
quais examinam tudo e todos.
Vivendo os limites que as circunstncias aldes lhes permitiam, os genesarenos no
podiam conceber a grandeza do messianato de Jesus.
Portanto, quando Ele e os Seus, aps a travessia do lago, aproximaram-se da cidade
e ali aportaram, houve uma comoo geral.
Narra Marcos (*) que, assim que saram do barco, os de l reconheceram-nO,
acorreram de toda aquela regio e comearam a levar enfermos nos catres para o lugar
onde sabiam que Ele se encontrava. Nas aldeias, cidades e casas, onde quer que entrava,
colocavam os enfermos nas praas e rogavam-Lhe que os deixasse tocar pelo menos a franja
da Sua capa. E quantos O tocavam, ficavam curados.
O poder de Jesus!
DEle se desprendiam virtudes como das rosas perfume.
Quem O tocasse, mimetizava-se de sade e paz, restaurava-se, plenificando-se de
harmonia.
Usina geradora de foras, exteriorizava energia curativa, sem qualquer prejuzo para
a fonte de produo.
Ele passeava o olhar compassivo sobre as humanas misrias, e recompunha as
paisagens conflitivas da alma.
O Seu vigor restaurava as carnes destroadas e, penetrando nos seres,
desobstrua-lhes os condutos, facilitando a circulao da vitalidade que devolvia os
movimentos aos membros hirtos, aos rgos paralisados, propiciando-lhes vida.
Ningum, jamais, surgira a Ele semelhante, ou nunca, antes, algum que a Ele se
aproximara.
Jesus nico na Terra!
Os miasmas gerados pelo pessimismo enfermam o ser, e as ondas morbficas das

doenas orgnicas perturbam a mente, alteram a conduta, alucinam a alma.


Jesus conhecia em profundidade o problema das parasitoses psquicas, das
enfermidades degenerativas, e sabia como control-las.
Irradiando a Sua energia restauradora, modificava-lhes a estrutura, deixando, no
entanto, ao enfermo, os resultados futuros, como decorrncia dos seus atos. Se pecaminosos,
piores dores se propiciavam a si mesmos. Quando sadios, permaneciam em paz.
A sade, portanto, resulta da harmonia entre o pensamento e a ao enobrecidos,
numa perfeita identificao do esprito que cumpre com o dever, e do corpo, por ele
impulsionado, que lhe executa as ordens.
O sofrimento surge como efeito da desobedincia, dos abusos, da agressividade, da
prevalncia do egosmo em a natureza.
A Boa Nova, em decorrncia, toda um hino ao amor, ao dever, vida, mediante a
utilizao correta dos fenmenos biolgicos para a elevao do Esprito.

Traziam-Lhe os enfermos e pediam para que os deixasse tocar!


Suas vestes eram condutoras da bioenergia curadora, da fora de restaurao, como
os fios que conduzem a eletricidade ou as ondas que portam as telecomunicaes.
Um toque nEle, ou dEle, e a vida se modificava, alterando a estrutura e o
comportamento.
Assim, todo sofrimento tem, em Jesus, o seu trmino e a oportunidade de mais
amplas experincias libertadoras.
Sofrimento e Jesus negao e afirmao da Vida, enigma e equao do ser.
(*) Marcos 6 : 53 a 56 (Nota da Autora espiritual)

16 A AUTORIDADE DE JESUS
A Galilia era, ento, regio de temperatura amena, em razo das guas do seu lago
ou mar.
As cidades, incrustadas quase s suas margens, pareciam prolas engastadas entre
tufos de tamareiras, laranjais, oliveiras, latadas em flor...
Tiberades, Cafarnaum, Magdala, Cesaria de Filipe, Betsaida, algumas dessas
cidades, desfrutavam de notoriedade e ergiam-se com certa majestade, ostentando ruas
pavimentadas entre palcios e manses elegantes, luxuosas, que denotavam poder e
ociosidade.
O mar coalhava-se de barcos, pela manh e tarde, colorindo-se com velas enfunadas
aos ventos, quais manchas diversificadas sobre o dorso das guas tranqilas.
Pela situao geogrfica, a quase duzentos e vinte metros abaixo do nvel do
Mediterrneo, aquele mar era subitamente sacudido por tempestades violentas, que o
vergastavam, ameaadoramente.
Piscoso, contribua para a manuteno da vida em suas praias e cercanias.
No lado oposto a Cafarnaum, Decpolis ou dez cidades gregas, algumas em
decadncia e quase abandonadas, atraam a ateno dos galileus humildes.
Era uma regio relativamente pobre, de pouca erudio, com uma Sinagoga, em
Cafarnaum, e, os que ali nasciam e viviam, eram desdenhados pelos oriundos da Judia,

orgulhosa e fria.
Certamente ingnuos, e at mesmo supersticiosos, sem maior tirocnio sobre a Tora e
as demais Leis de Israel, os galileus criam e amavam, sem muita exigncia ou qualquer
dificuldade.
Respeitavam os cdigos estabelecidos, e o povo, em geral, vivia com dignidade,
singeleza.

Jesus amava a Galilia e os seus filhos.


Afirmava, em Cafarnaum, que aquele era o Seu povo.
Ali exerceu o Seu ministrio em clima de doao total e ternura.
A paisagem, rica de beleza e cor, as criaturas, sem atavios e sinceras, trabalhadoras e
destitudas das ambies aviltadoras tocavam-Lhe os sentimentos sublimes.
Por isso, ao convocar o Colgio, reuniu onze discpulos galileus e apenas um da
Judia, Judas, de Kerioth, aquele que O trairia.
A mente, astuta e perquiridora, inquieta e desconfiada, desarmoniza o sentimento,
que se torna suspeitoso, levando perturbao e insegurana.
Entre os discpulos, Judas se destacava, por no lograr entrosamento emocional nem
comportamental com aqueles filhos da terra, como, s vezes, eram ironicamente tratados.
A presena dEle dava-lhes dignidade, erguia-os do anonimato e da pequenez para as
cumeadas de um futuro inimaginvel, irisado de bnos.
Seu verbo, rico de sabedoria, arrancava do cotidiano lies de mpar significado,
emulando-os conquista de valores antes desconsiderados, que os tornariam eleitos.
De Suas mos escorriam energias que recuperavam os corpos e as mentes em
desalinho, e os prodgios que operava produziram impactos profundos nas massas, que se
viam atradas, seguindo-0 em nmero crescente.
A verdadeira autoridade a do ser em si mesmo, que vem de Deus.
No se utiliza da violncia, no se impe.
Irradia-se e todos a sentem.
Respeita-se, desconhecendo-se as razes.
Portadora de estranha quo peculiar fora, predomina e convence.
Faz-se mais complexa diante dos Espritos perturbadores, dos seres aturdidos,
imundos moralmente, que a ningum respeitam. Na sua hediondez agridem e agridem-se,
violentos. Blasfemam e estertoram sem equilbrio. Frias estimuladas pela perversidade,
enfrentam quantos se lhes antepem ao avano torpe.
A autoridade de Jesus transcendia ao conhecido.
Sempre testada, jamais foi ultrapassada.
Exteriorizava-se ante a simples presena dEle, de Sua voz, de Sua vontade soberana,
de Seu amor...
Vrias vezes vemos Jesus diante dos Espritos obsessores, desafiado pela alucinao
e perversidade.
A Sua sempre a atitude do Terapeuta amoroso, que no se agasta, nem reage,
socorrendo sempre.
Narra Marcos (5) que, em Cafarnaum, no incio do Seu ministrio, entrando Ele, na
sinagoga, ali estava um homem, com um Esprito impuro, que comeou a gritar: Que
tens que ver conosco, Jesus de Nazar? Vieste para nos perder? Sei quem Tu s: O Santo de

Deus!.
A estupefao fez-se geral. Os Espritos conheciam-nO, sabiam da sua procedncia e
tarefa.
Patenteava-se a realidade do mundo causai, espiritual, de onde todos procedemos.
Percebendo-lhe a astcia, Jesus repreende-o, dizendo-lhe: Cala-te e sai desse
homem.
No havia outra alternativa. Nenhuma discusso intil, nenhuma perda de tempo.
Com poucas palavras e autoridade, encerrava o acontecimento.
Surpreendido, o Esprito imundo depois de sacudir (a vtima) com fora, dando um
grito saiu, desligou-se.
Os presentes, espantados, perguntaram-se, uns aos outros: Que isto? Eis uma
nova doutrina e feita com tal autoridade que at manda nos Espritos imundos, e eles
obedecem-Lhe!
E a sua fama concluiu o evangelista espalhou-se por toda a provncia da
Galilia.
Era a Doutrina nova do amor que chegava Terra, com tons de ternura e libertao.
Logo mais, prossegue Marcos (*) ao cair da tarde, quando o Sol se ps,
trouxeram-Lhe todos os enfermos e possessos, e a cidade inteira estava reunida junto
porta. Curou muitos enfermos atormentados por diversos males e expulsou muitos
demnios; mas no deixava falar os demnios porque sabiam quem Ele era.
A notcia deve ser apresentada no momento prprio.
As pessoas necessitam ver para crer. Primeiro os atos, depois as palavras.
No havia, nem h necessidade de pressa.
H um ciclo para que tudo acontea.
A precipitao pe a perder os melhores projetos humanos.
sabedoria saber esperar. (**)
Jesus era sbio.
No curou todos enfermos, naquele entardecer, nem deveria faz-lo.
H leis que regem o mrito e o demrito de cada pessoa, de cada paciente. So as de
causa e efeito, que Ele jamais violaria.
Para muitos enfermos, a mais til terapia seria, e ainda hoje, a continuao da
enfermidade, que lhes evita problemas mais graves, danos maiores.
Tampouco afastou todos os Espritos de suas vtimas.
H injunes que elucidam as obsesses e respondem pelos seus oportunos
mecanismos, que constituem necessidade de reparao emocional na economia espiritual da
Vida.
Jesus conhecia as causas profundas de tais alienaes e era parcimonioso, justo.
A autoridade de Jesus permanece na memria dos tempos e dos povos.
A regio da Galilia recorda-0 diante do seu mar piscoso e sob a claridade do mesmo
Sol que vestiu de luz as suas paisagens romanescas, amenas.
(**) (1) Marcos 1 : 32 a 34 (Nota da Autora espiritual)
(*) Marcos X : 23 a 28 (Nota da Autora espiritual)

17 A ORAO DOMINICAL (*)

Demoravam-se na paisagem tranqila os revrberos do entardecer, matizando com


tons rosas, rubros e amarelos as nuvens passantes.
A brisa balouava o leque verde das tamareiras exuberantes, carregadas de frutos.
Pairavam no ar, impregnando os coraes, as nsias e emoes dos acontecimentos
que h pouco presenciaram.
O Mestre agigantava-se aos olhos da multido.
O Seu estoicismo, revelado na conduta austera, exteriorizava-se na palavra ora
dlcida, ora enrgica, e nas aes enobrecidas com que favorecia aqueles que O buscavam.
Jamais algum conseguira realizar to admirveis fenmenos de que somente Ele se
fazia agente sublime.
A inveja rastreava-Lhe os passos, e as disputas vulgares entreteciam duelos
emocionais entre os frvolos que Lhe buscavam a afeio.
O certo que Ele viera para libertar as conscincias e insculpir vidas nos painis do
amor.
Desse modo, as multides sucediam-se-Lhe volta, sedentas, emocionadas,
confiantes.
Ele era portador das bnos de que todos necessitavam.
Na sua simplicidade afvel, Ele penetrava os recnditos do ser, sem exibir-lhes as
exulceraes.
Os Seus silncios eram to eloqentes quanto as Suas palavras, deixando impressas
nas almas as marcas de luz da libertao.

A Sua voz, h pouco, terminara de envolver os homens nas esperanas e consolaes


do soberano cdigo das Bem-aventuranas.(**)
O odor de santidade e o vigor da sabedoria decorrentes da Carta Magna ainda
inebriavam os ouvintes, quando os Seus discpulos dEle se acercaram, e um deles, comovido,
interessado em compreend-10, interrogou:
Senhor, por que orais tanto? Sempre quando terminadas as tarefas, por que buscais
o silncio e penetrais na orao?
Havia sadia curiosidade no questionamento do discpulo devotado.
Relanceando o olhar em torno e aplaudido pela musicalidade da Natureza em festa,
Ele respondeu:
A alma tem necessidade da orao, em maior dosagem do que o corpo de po.
Orar buscar Deus, penetrando-Lhe nas mercs e haurindo resistncia nos Seus
recursos divinos.
O silncio propicia a busca; a solido renova as energias e a comunho com a Fonte
Geradora de Vida faculta o prosseguimento dos compromissos abraados.
Mesmo vs reinquiriu o amigo que sois o Caminho para o Pai e o Seu
Messias para a Humanidade, tendes necessidade de orar?
A chama que ilumina elucidou, paciente gasta o combustvel que a sustenta,
e a chuva que irriga o solo retorna nuvem de onde provm.
O intercmbio de foras com o Pai Criador restaura-as na criatura, e eu prprio nEle
encontro o reforo de sustentao para o messianato de amor em Seu nome.
Absorvido pelos ensinamentos elevados, Joo, que mais O amava, enternecido,

inquiriu:
E todos temos necessidade e dever de orar?
O Mestre benevolente envolveu o jovem em um luminoso olhar de bondade e
elucidou:
O homem.que ora eleva-se no rumo da Grande Luz e nimba-se de claridade
radiosa.
Desejando que o ensinamento jamais fosse esquecido, o Mestre exps:
O Pai Celeste pode ser comparado a um rei poderoso que administra os seus
domnios, mediante a cooperao de abnegados Ministros, que a seu turno se equipam de
secretrios, auxiliares e inumerveis cooperadores abnegados.
Cada um deles rege um departamento especfico, a fim de coordenar atividades e
atender-lhes o impositivo.
semelhana de todo reino, a variedade de deveres exige responsveis para a sua
execuo.
O Ministrio da orao um dos mais delicados setores, exigindo hbeis servidores
que se encarregam de registrar as solicitaes em preces, selecion-las e cuidar do seu
atendimento conforme a procedncia de cada emisso de onda mental.
Em razo disso, a orao deve ser uma vibrao sincera, carregada de emoo, ao
invs de expressivo palavreado sem a participao dos sentimentos honestos de elevao.
A orao um apelo que, no entanto, deve alcanar mais ampla expresso,
tornando-se, num momento, um hino de louvor; vezes outras, constituindo-se uma rogativa
de auxlio e, por fim, um cntico de gratido.
Examinados o mrito e as necessidades daquele que ora, so-lhe encaminhadas as
respostas compatveis com a sua realidade, tendo-se em vista sempre o seu progresso e
crescimento diante da Vida.
Esse intercmbio mental carreia vitalidade e restabelece os centros de energia da
criatura que ora.
Claro est que este um compromisso de cada indivduo quite com os deveres
sociais e comunitrios, a fim de merecer usufruir os benefcios que a cidadania lhe confere.
Silenciando e permitindo que todos auscultassem as vozes inarticuladas da Natureza,
aguardou que os companheiros assimilassem o ensinamento profundo, embora a linguagem
simples de que se revestia.
Foi nesse comenos que um deles, profundamente sensibilizado, rogou:
Senhor, ensina-nos, ento, a orar.
E Ele abrindo a Sua boca e desatando as melodias latentes no corao, props-lhes a
orao dominical, dizendo:
Pai Nosso que ests nos cus...
A dlcida palavra vestindo de sons o pensamento sublime, no qual esto exaradas
todas as necessidades humanas, ofereceu-nos o legado precioso da prece, mediante a qual a
criatura se comunica com o Seu Criador e este lhe responde pelos mecanismos santificantes
da inspirao, equipando-a com os recursos prprios para enfrentar todos os dissabores,
infortnios, amarguras, dasafios, ou as alegrias e benesses que fazem parte do seu dia-a-dia
no formoso processo da sua evoluo.
(**) Os Evangelistas no precisam o local do acontecimento. Mateus situao aps o Sermo da Montanha, de que nos utilizamos para os presentes come
ntrios. Vide o livro Luz do Mundo cap. V de nossa autoria Livraria Es

prita Alvorada -

Editora. (Nota da Autora espiritual)

(*) Mateus 6 : 9 a 15 (Nota da Autora espiritual)

18 O POEMA DE LIBERTAO (*)


Aquela montanha buclica era-lhe familiar.
Habituara-se a galg-la, vezes sem conta, deixando-se arrebatar pela paisagem
cromtica a desenhar-se da altura.
Abaixo, o lago de Genesar, normalmente em esplendor refletindo a beleza do cu
transparente, fascinava-o, e os montes altos, desolados, da regio oposta, pareciam falar da
aridez das terras e dos coraes que os habitavam.
Os tufos de tamareiras verdes, farfalhantes brisa noturna, desafiavam os ventos
inesperados, que sopravam durante as tempestades que agigantavam o dorso das guas
serenas repousando na imensa depresso terrestre...
Assim, depois que o Mestre, os discpulos e a multido se dispersaram, ele resolveu
ficar ali, ensimesmado, deliciando-se com o murmrio da brisa perfumada e a recordao das
palavras do Amigo Sublime.
Como O amava!
A Sua voz penetrava-lhe as carnes da alma qual lmina aguada, que rasga at s
profundidades mximas. Mas no o afligia, antes abria-lhe escaninhos preciosos onde
guardava os tesouros da ternura, da afabilidade e do amor gentil.
Ressoava-lhe na acstica da alma o poema da orao.
Nunca percebera, com preciso, a grandeza, a gravidade da prece, a sua magia e
exuberncia.
Nas palavras enunciadas com harmonia e ritmo havia beleza transcendente, mas de
fcil memorizao.
Comovido, Joo reclinou-se na relva macia e repousou a cabea jovem no dossel de
musgos suaves, contemplando o cu de azul-marinho salpicado de diamantes estelares.
Pela recordao afetuosa, comeou a repetir as frases, sntese de todas as
necessidades humanas:
Pai Nosso, que ests nos cus...
A frase convidava exaltao do pensamento. Toda a emotividade, embutida no ser,
rompeu-lhe as comportas-limites, e ele deixou-se arrebatar por inesperadas e inabituais
reflexes.
Seus pais raciocinou no eram apenas Salom e Zebedeu, que o geraram no
corpo. Tambm eles, de certo modo, eram seus irmos. Deus, sim, era o Genitor Divino, e
todas as criaturas, Seus filhos em processo de crescimento.
O adversrio, tambm, dessa forma se lhe tornava irmo, porque filho de Deus.
Para que, ento, ter inimigos?!
Conservar animosidade defraudar o amor, corromper os sentimentos trabalhados
para a fraternidade universal.
As consideraes alargavam-lhe os horizontes da humana compreenso, melhor
percebendo a magnitude do amor do Mestre.
Tinha a sensao de que Ele estava ali, a ciciar-lhe entendimento, pois que, antes,

jamais excogitara de elucubraes conforme as que ora lhe ocorriam.


Veio-lhe mente, a segunda proposio:
Santificado seja o Teu nome!
O Universo canta a glria de Deus, como relata o salmista David.(**)
As mirades de lanternas luminosas, presas no acolchoado da noite, glorificam o Pai
Criador.
O vergei derrama perfume no ar, bendizendo-Lhe a Obra.
A msica da Natureza expressa a gratido da Vida em formas infinitas, exaltando o
Excelso Construtor.
Tudo so expresses de reconhecimento ao Progenitor no Gerado.
O homem, porm, deve santificar-Lhe o nome no o pronunciando em vo,
todavia repetindo-o sem palavras atravs do amor ao prximo, do culto ao dever, das
realizaes enobrecedoras.
Em toda parte se pode sentir o pulsar de Deus, regendo a orquestrao da Sua
Sinfonia Imperecvel.
Havia lgrimas nos olhos que desciam quentes e vagarosas.
Envolvido pela emoo em crescimento, o jovem repetiu, quase sem dar-se conta:
Venha o Teu reino!
O reino de paz h de assenhorear-se do corao conjecturou. Esse reino estava
alm dos limites terrenais, invisvel, podendo expressar-se no comportamento, habitado pela
populao dos sentimentos elevados.
Nesse reino, a ternura deve confraternizar com a brutalidade e super-la; a inveja
ceder o passo solidariedade; a meiguice apagar o fogaru do dio.
O cardo e a erva boa medraro juntos no terreno do reino, sem que esta fique
asfixiada por aquele; o chacal deixar a sua presa viver, e as roseiras, despidas de espinhos,
em festes de cores e perfumes, balsamizaro a desolao do pntano...
O Seu o reino de esperanas e de solidariedade, que vir ao homem e o alar
harmonia.
A balsamina e a lavanda, carreadas pelo vento brando da noite, rociaram a face do
discpulo emocionado, e ele, por automatismo natural, sussurou:
Faa-se a Tua vontade...
Como entender o desejo do Pai, se o filho recusa-Lhe a convivncia em atitude de
rebeldia?!
Somente a docilidade abranda os golpes do destino, como o algodo diminui o
impacto dos petardos.
necessrio compreender que tudo ocorre para o maior crescimento do filho,
quando este aceitar o impositivo do sofrimento.
O Pai-Amor confere a experincia dolorosa, a fim de facultar ao homem a perfeita
compreenso da sua fragilidade terrestre e da sua destinao celeste.
Diante de qualquer ocorrncia, que ele possa repetir: Devo aproveitar o que me
acontece, por ser indispensvel ao meu aperfeioamento moral.
Submisso lcida atitude de sabedoria.
Paz no corao fruto de prolongada sementeira de amor.
Lutar contra o aguilho, significa aprofundar as feridas e as dilaceraes.
O corao, em ritmo descompassado, estava prestes a explodir-lhe no peito.
O crescendo das recordaes propiciou-lhe a frase:
Assim na Terra como no Cu...

O homem viajor das estrelas. No sero elas, por acaso, pousos divinos,
departamentos da Casa do Pai?
Em toda parte vige a vontade soberana, e, aceit-la, a alternativa nica.
O rebelde encontra-se em tresvario, e o caminho por ele no percorrido ficar
aguardando-o.
O egosta, que despreza os Cdigos do Amor e da Justia, padecer, por livre
escolha, constrio da prpria desdita.
Na Terra e no Cu se encontram os mesmos decretos divinos, promovendo a ventura
dos seres.
O cu comea na Terra, e o homem avana a passos de coragem e de abnegao.
Ao longe, as lanternas dos pescadores oscilando nas barcas pareciam confraternizar
com os astros fulgurantes no firmamento.
Joo ergueu-se e abriu os braos como se desejasse afagar a imensa, a abenoada
paisagem que Ele emoldurara com o Seu verbo de amor.
D-nos o po de cada dia recordou-se, entusiasmado.
O po fora motriz para a conservao do corpo, para o seu desenvolvimento.
L, a distncia, o mar piscoso, os campos de trigo, as vinhas, as plantaes de
leguminosas, o pastoreio...
Que no faltasse o alimento para o corpo, a fim de manter a alma, que se nutre de
amor e se vitaliza na ao do bem.
Po e vida so termos da equao existencial... D-nos hoje!
Perdoa as nossas dvidas, como perdoamos aos que nos devem. Perdoa as
nossas ofensas, como perdoamos aos que nos ofenderam...
A alma exultante penetrava na grandeza praticada do amor, que o perdo. Todavia,
somente quem o doa, merece-o; apenas quem desculpa as ofensas, credor de ser exonerado
da culpa.
Todos os homens se equivocam e, por isso mesmo, so frgeis que se tornam fortes,
face ao perdo que distendem na direo daqueles que os ofendem e magoam.
Maior a felicidade de quem expressa o perdo. O perdoado algum em processo
de recuperao; no entanto, aquele que lhe dispensa o esquecimento do mal, j alcanou as
alturas do bem e da solidariedade.
O perdo acalma e abenoa o seu doador.
Quando se entenda que perdoar conquistar enobrecimento, o homem se far forte
pelas concesses de amor e compreenso que seja capaz de distribuir.
A noite avanava com a sua carruagem de sombras e estrelas na direo da
madrugada.
A magia da hora eternizava no jovem o ensinamento sublime.
No nos deixes entregues tentao evocou, agora, quase a sorrir.
O maior inimigo do homem pensou, alargando reflexes est dentro dele
mesmo: so as paixes inferiores que o mantm asselvajado, furibundo, reacionrio.
A tentao alcana a sua vtima, graas s brechas morais que esta possui. Latentes,
as imperfeies favorecem a sintonia com as mazelas alheias. Dominadoras, exercem o seu
jugo levando aos desequilbrios e promovendo a runa das mais belas aspiraes.
S o auxlio divino possui o recurso liberativo contra as tentaes que pululam,
discretas ou bulhentas, em toda parte.
Venc-las a forma eficaz para conseguir-se a paz. No se deixar tentar, no possuir
tentaes, eis a meta.

O calidoscpio evocativo chegava ao seu final.


Ainda escutava as ltimas advertncias:
Mas livra-nos do mal...
O mal o adversrio do bem, mas que no tem existncia real; no entanto, entorpece
os sentimentos, esfacela os ideais, desarticula as emoes.
O mal desaparece ante a ao do bem.
Residente no interior do homem ainda primitivo, escraviza-o, atormentando-o em
profundidade e longo curso.
Acendendo-se a luz, desaparecem as sombras dominantes.
O mal transitrio, produz danos e no tem dignidade nem escrpulos.
O amor do Pai luariza-o, decompe-no, anula-o, caso a criatura se deixe conduzir
docilmente...
Chegava o momento ltimo. Poucas palavras.
Um grande silncio havia empolgado os ouvintes, quando Ele, Soberano e Justo,
declarara:
Assim seja.
Os desejos santificantes concluiu o jovem que se cumpram. Ante, porm, a
sabedoria do Amor, curve-se o homem, especialmente nas sutilezas que lhe escapam
compreenso, ao discernimento, necessrias ao desenvolvimento dos seus valores latentes.
Confiar e deixar-se conduzir. Seja assim a vida do filho em relao ao Pai.

A orao singela e profunda ficaria como diretriz, como modelo para o intercmbio
com Deus.
Nem o palavrrio insensato dos fariseus, nem o silncio rgido dos orgulhosos. Alma
e corao em colquio com o Amantssimo.
Joo voltou a recostar-se no leito maternal do solo, e, embriagado pelas bnos da
Natureza em festa, adormeceu...
(*) Mateus 6 : 9 a 13 (Nota da Autora espiritual)
(**) Salmo 19 : 1. Os cus proclamam a glria de Deus
e o firmamento anuncia as obras das Suas mos. (Nota da Autora espiritual.)

19 O SENHOR DOS ESPRITOS


Quando o mundo conhecido situava-se praticamente s margens do Mediterrneo, a
Fencia celebrizou-se, sobretudo, pela sua privilegiada posio geogrfica, notabilizando-se,
entre outras, as Colnias de Tiro e Sdon.
A primeira foi fundada, aproximadamente, no III milnio a.C, adquirindo hegemonia
sobre os demais portos do pas at o sculo XIV a.C.
Ali se encontravam as caravanas provindas de outras regies e do deserto,
tornando-se o centro de progresso do pas e expandindo-o pelo Mediterrneo.
Suas indstrias eram prsperas, e especialmente produziam tecidos, purpura,
vidrarias, que eram negociados por todo o Oriente.
Cartago tornou-se-lhe a principal e fecunda Colnia, impondo-se, mais tarde, a

Sdon, cerca do sculo IX a.C.


Lutou bravamente contra os assrios, fazendo-se respeitada nas guerras sustentadas
contra Nabucodonosor e, mais tarde, Alexandre, nos sculos VI e IV respectivamente, a.C.
Fez-se parte do reino Selucidas, e foi submetida ao imprio romano, a partir de 64
a.C.
Os rabes dominaram-na, desde 638 e a sua atividade comercial ficou gravemente
prejudicada, comeando a perder a pujana e poderio.
Renasceu o seu prestgio com a tomada pelos cruzados, em 1124, e foi beneficiada
com a assistncia dos venezianos em expanso na poca.
Sitiada e conquistada pelos mamelucos do Egito, voltou a entrar em decadncia e
passou a plano secundrio na Histria (1291).
Hoje, conhecida como Sur e pertencente ao Lbano.

Sdon, igualmente situada em uma ilha da Fencia, gozou de grande importncia


como porto prspero no Mediterrneo, por volta do II milnio a.C. Dominada pelos filisteus,
a partir de 1200 a.C., cedeu seu lugar de relevo para Tiro, que lhe rivalizava.
Vencida pelos assrios, em 678 a.C., foi arrasada por um terremoto, em 501 a.C.
Quando a Fencia passou dominao rabe, estes a transformaram em porto militar.
Celebrizou-se, posteriormente, pelos achados arqueolgicos, em Kafer Djara, cujas
necrpoles datam do II milnio a.C.
Os tmulos de paredes pintadas, pertencentes ao perodo helnico, foram descobertos
nos contrafortes do monte Lbano, retratando o seu perodo de grandeza, que deslumbra os
estudiosos contemporneos.
Os vrios sarcfagos encontrados, a partir do sculo XIX, do idia da opulncia dos
seus mandatrios, alguns dos quais se encontram no museu do Louvre, em Paris (rei
Eshumunazar) bem como no museu de Istambul (Tabnitz e os chamados de Alexandre,
das Carpideiras, do Strapas, do Licio.)
Atualmente pertence ao Lbano, com o nome de Saida, no gozando de maior
importncia.

Mais de uma vez o Evangelho refere-se s bandas de Tiro e Sdon, que Jesus
percorreu nas suas contnuas peregrinaes de expanso do reino de Deus.
Por serem terras estrangeiras, os judeus as tinham como gentias, no lhes merecendo
os seus filhos qualquer considerao.
O Mestre terminara, como de hbito, um dos seus sermes, e as advertncias
verberavam a conduta farisaica.
Admoestando os hipcritas, elucidava quanto ao comportamento honorvel, diante
de alguns fariseus e escribas que O vieram visitar, de Jerusalm, interrogando-O com a
habilidade malfazeja que os caracterizava.
O sofisma, brandindo astcia, ainda arma traioeira. A hipocrisia, que disfara os
sentimentos vis, constitui-lhe mecanismo de expresso.
Ainda hoje eles permanecem no contexto social, afligindo e zombando dos homens
nobres e dos seus ideais. Ningum lhes escapa mordacidade ou foge da sua gratuita
perseguio.

Os homens menores no perdoam os gnios, os santos, os heris, os grandes homens,


que se lhes tornam inacessveis.
No os podendo alcanar, por faltar-lhes a inteireza espiritual, tentam dificultar-lhes a
marcha, azucrinando-os ou desejando faz-lo, com a inveja, o cime, a mesquinhez que os
repletam.
Jesus sofreu-os, reiteradas vezes, imarcescvel e superior.
Naquele ensejo, o Senhor encerrara as suas cavilaes, repetindo Isaas: Este povo
honra-me com os lbios, mas o corao est longe de mim. E vo o culto que me prestam,
ensinando doutrinas que so preceitos humanos.
Deixou-os atnitos e, chamando a multido, saiu a ensinar.
As frases e parfrases, ricas de luz, eram enunciadas com a melodia que facultava a
sua memorizao.
Os conceitos, breves e diretos, mantinham um ritmo propiciatrio fixao mental.
Sem rebuos, nem rodeios, a Sua era, e , mensagem de vida.
Escutai e tratai de compreender disse com perspiccia. (*)
No aquilo que entra pela boca que torna o homem impuro, mas o que lhe sai da
boca.
E porque algum lhe informasse que os fariseus haviam ficado indignados com a Sua
palavra e liberdade, Ele prosseguiu:
Toda planta que no haja sido cultivada por meu Pai Celeste ser arrancada.
Deixai-os, so cegos a conduzirem outros cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, cairo
ambos no abismo.
o corao, o lugar de onde procedem os sentimentos do homem e que o tornam
bom ou desditoso.
O alimento que percorre o aparelho digestivo no tem interferncia moral.
A gula, a prevaricao, o crime, no decorrem do tipo de alimentao usada, mas sim
dos valores morais do homem. So eles que tornam impura a criatura.
Lavar as mos, atender aos deveres externos, so cuidados sociais, de higiene, de
sade, no de comportamento ou elevao espiritual.

Dali retirando-se, Ele partiu com os discpulos para os lados de Tiro e Sdon.
Vendo-o, uma mulher canania, que viera daquela regio, comeou a gritar:
Tem piedade de mim, Senhor, Filho de Davi! Minha filha est cruelmente
atormentada por um demnio!
Mas Ele no respondeu palavra.
Psiclogo profundo, conhecedor da alma humana em detalhes, Jesus aguardou os
acontecimentos. Sabia da impacincia, conhecia a irritabilidade dos amigos. Estas logo se
manifestaram.
Despacha-a propuseram porque ela persegue-nos com os seus gritos.
Jesus redargiu, ento, compassivo: No fui enviado seno s ovelhas perdidas da
casa de Israel.
A mulher, exausta, prostou-se-Lhe aos ps e suplicou:
Socorre-me, Senhor!
Havia dores indefinveis na rogativa.
O corao e a alma dilacerados defrontavam a esperana e a f.

Ela sabia que Ele curaria a sua filha. Seus sentimentos maternos advinhavam-no.
Esqueceu-se de si mesma, perdeu os escrpulos, encorajou-se e enfrentou os preconceitos
srdidos.
Desejando insculpir a fogo, nas almas, a lio, Jesus pareceu indiferente e esclareceu:
No justo que se tome o po dos filhos para o lanar aos cachorros.
E verdade, Senhor retorquiu ela mas, at os cachorros comem as migalhas
que caem das mesas dos seus donos.
Um frmito percorreu os presentes.
A declarao verdadeira comoveu, arrancou a solidariedade adormecida nos
coraes, imps respeito.
Jesus, ento, respondeu-lhe:
O mulher, grande a tua f! Faa-se como desejas.
Uma aragem branda perpassou no ar morno e agitou os cabelos do Rabi.
A estrangeira se levantou e tinha os olhos nublados de pranto.
Reconhecimento e amor eram a melodia que lhe musicava o ntimo.
A palavra estava estrangulada na garganta trgida.
Ela correu ao lar, e a filha, antes subjugada por Esprito cruel, recebeu-a, emocionada.
E, a partir desse instante narra a testemunha evanglica a filha dela achou-se
curada.
O poder de Jesus a fora do Seu amor. Os Mentores Nobres obedecem-nO.
Ele deseja, e servidores abnegados atendem-nO, prestimosos.
Ele dilata a Sua vontade e altera a estrutura dos seres, as circunstncias vigentes, os
eventos.
Ele o Senhor dos Espritos, que se Lhe submetem de imediato.
(*) Mateus 15 : 8 a 14. (Nota da Autora espiritual)

20 JESUS E AVAREZA
A mole humana, em suas necessidades, de certo modo faz recordar as sucessivas
ondas do mar. Umas aps outras se sobrepem em contnuo af, para confundir-se nas areias
imensas das largas praias que se deixam afagar.
Jesus, da mesma forma, lembra um oceano de infinito amor, cuja ternura se espraiava
em constantes vagas de afeio, envolvendo as criaturas humanas que O buscavam.
Desse modo, dois oceanos se confundiam no mesmo infinito: a misericrdia do
Senhor e as ansiedades das massas em sofrimento.
Por onde Ele passava, as aflies lhe corriam emps, mantendo a certeza de que
seriam atendidas.
De cidade em cidade, seguiam-nO os coraes dilacerados e as almas em
padecimento, face s dadivosas mercs que dEle recebiam, alterando-lhes a paisagem
interior e proporcionando-lhes sade, paz, consolao...
As bnos de Jesus eram po e vida!

O poder poltico gerador de misrias, quando arbitrrio, fomenta os desequilbrios e

estabelece a vigncia do suborno moral, da indignidade.


Ao lado de tal infeliz conjuntura, medra a ignorncia, responsvel pelas mais terrveis
chagas da alma, dando nascimento aos inimigos do progresso e da felicidade humana.
A ignorncia, que engendra males graves, faz-se ainda mais cruel quando se
estabelece na alma e asfixia-a na teimosa indiferena ante as realidades do Esprito.
A conquista desses preciosos valores da vida, um dos quais derivado do amor, deve
constituir meta e linha de comportamento do homem: a generosidade!
Tem escasseado na sociedade de todas as pocas a vivncia da generosidade, que a
alma da beneficncia e da caridade, pilastras do equilbrio da comunidade, que a tornam
ditosa.
Em detrimento da elevao dos sentimentos, um morbo cancergeno se desenvolve e
termina por destruir o organismo no qual se sedia, que a avareza.
Jesus defrontou-a, inmeras vezes, sempre presente no mago dos seres.
Nas Suas jornadas niessinicas, encontrou-a naqueles que O buscavam
incessantemente.

Retornando de Corazim, aps atender as multides esfaimadas, eis que se Lhe acerca
um contendor, pede-Lhe que assuma a posio de juiz, e constranja-lhe o irmo a repartir a
herana do genitor com ele. (*)
A figura impoluta do Mestre, que desdenhava as mesquinharias e misrias humanas,
redargiu ao aturdido interrogante:
Quem me fez de magistrado civil para tal questincula ?
As Suas eram as intervenincias em favor do tesouro perene que no se gasta,
ningum rouba e no desperta as alucinaes alienadoras.
E porque se encontrava cercado pela ansiedade da massa curiosa e necessitada de
esclarecimentos, narrou a excelente parbola, na qual demonstrou como so secundrios os
bens terrestres.
Havia um homem poderoso contou com suavidade que, possuindo muitos
haveres e celeiros, no podia controlar a desmedida ambio. Assim, raciocinou: Se eu
demolir os meus silos e construir outros maiores, poderei plantar mais, segar em abundncia
e aumentar a minha fortuna. Aps amealhar ao mximo, direi minha alma: agora repousa,
dorme e s feliz. No entanto, naquela noite, Deus tomou-lhe a alma. Para que reuniu tantos
recursos e moedas?
Fazendo um breve silncio, o Amigo Divino considerou:
A avareza doena da alma que devora os alimentos da vida.
Txico letal, envenena primeiro aquele que lhe padece a ingesto, e contamina
quantos se lhe acercam, produzindo degenerescncias e morte.
Inimiga da sociedade, fomenta a violncia, que irrompe do corao lesado e estruge
na economia da comunidade onde se expressa. Expande o seu miasma e produz
desequilbrios.
O avaro algum que enlouqueceu e ainda no se deu conta.
A fim de que as Suas palavras se fixassem na memria dos ouvintes, ensejou algumas
reflexes mudas e prosseguiu:
No avaro, porm, somente aquele que asfixia, em cofres e celeiros, moedas e
gros; os que entesouram gemas e alimentos, ante as necessidades gerais; as pessoas que

acumulam com ambio desmedida. Mas, tambm, todos quantos, possuindo sade,
negam-se a repartir alegria e fraternidade.
A avareza igualmente se patenteia naqueles que possuem inteligncia, e se escusam
a ensinar os ignorantes; nos portadores de tendncias artsticas que se omitem, negando
beleza aos painis entristecidos dos homens.
H os avaros de amor, que se opem a distribuir afeio, enclausurando-se na
indiferena e na animosidade.
Ningum to destitudo de recursos que no possa espargir sementes de esperana,
sorrisos de alento, ddivas de ternura, incentivos e solidariedade espiritual.
Perpassavam pela Natureza as vagas perfumadas do cair da tarde, enquanto as
primeiras estrelas cintilavam no Alto, como respostas da generosidade de Deus para com as
imensas necessidades humanas.
Havia um enternecimento que reunia aquelas pessoas desconhecidas entre si, no
entanto, unidas pela mesma ansiedade de encontrar a Verdade e a Vida, para retornarem ao
ninho domstico transformadas, restabelecidas.
E como ainda ficassem nos coraes algumas ntimas inquietaes, o Senhor voltou
tnica e concluiu:
A avareza entorpece os sentimentos e a generosidade engrandece-os; a avareza
amesquinha e a generosidade multiplica; a avareza mata e a generosidade d vida.
Os tesouros de vida eterna, que a todos devem interessar por consegui-los,
constituem, tambm, um desafio aos seus depositrios que, felicitados, so convidados a
dividi-los, tarefa sublime que os faz multiplicados.
Anunciai, pois, o reino dos cus e suas riquezas, e alegrai-vos ante a generosidade
do Pai, que vos alcana e reparte as fortunas da luz do conhecimento que vos banha por
dentro, anulando toda a sombra de que vos deveis libertar.
E porque se fizesse um grandiloqente silncio, a multido comeou a dispersar-se
nutrida e amparada, enquanto o Mestre, reunindo os discpulos, disse-lhes com
enternecedora alegria:
Vamo-nos daqui!
... E saiu, antevendo a humanidade do futuro, quando liberada do cncer da avareza.
(*) Lucas 12 : 13 a 21 (Nota da Autora espiritual)

21 HINO DE ALEGRIA(*)
A musicalidade alentadora da esperana cantava em toda parte, naqueles dias, o hino
de alegria entre os seres renovados.
As notcias de jbilo espocavam e os coraes exultavam, guardando expectativas
que se transformavam em realidades ditosas.
O povo trazia at Ele os seus enfermos e a variedade das doenas recebia o mesmo
tratamento do amor que libertava.
Coxos e paralticos confraternizavam na recuperao; cegos e surdos comoviam-se
na mesma faixa da sade recobrada; mudos e epilpticos abraavam-se aps o beneplcito da
recomposio orgnica; loucos e obsidiados voltavam serenidade ante o Seu olhar

misericordioso e a Sua palavra generosa...


Esfaimados de po e de verdade repletavam-se, e, por onde passava Jesus, pegadas
luminosas permaneciam inapagveis.
A todos Ele atendia, a todos consolava, e a melodia da Boa Nova penetrava fundo nos
seres, como um punhal de luz que lhes rasgasse as trevas densas da ignorncia...

Muitos, fascinados, se lhe acercavam como candidatos revoluo que Ele pregava e
vivia a revoluo do amor incondicional.
Ouvindo-Lhe, porm, as admoestaes e diretrizes, afastavam-se, cabisbaixos,
receosos.
Este se encontrava ligado a compromissos inadiveis; esse necessitava regularizar
negcios interrompidos; aquele deveria sepultar o pai que morrera, e por isso, no O podiam
seguir...
Sem agastar-se jamais, Ele os compreendia, continuando o ministrio.
A hora porm, se aproximava e no era possvel posterg-la.

Ele chamou outros setenta discpulos, conforme narra Lucas(**) e mandou-os adiante
de si, dois a dois, a todas cidades e lugares aonde Ele estava para ir, a fim de anunciarem o
Evangelho.
Instruiu-os com amor e as Suas foram melodias incomparveis.
Nenhuma preocupao deveram manter, somente a entrega total e o servio reto.
O hino de alegria foi ento entoado pelos Seus lbios em recomendaes mpares.
Nunca mais seria olvidado e suas diretrizes permaneceram como roteiro perene.
Todos que O amam, tm insculpida na alma essa cano de alegria, de servio e de
paz.

Eles partiram, emocionados, e ao retomarem, narraram os sucessos, como os


Espritos infelizes se lhes submetiam, como os problemas eram solucionados, como as
serpentes e os escorpies eram pisados sem qualquer dano...
O terreno estava pois, preparado, e por isso, estuavam de felicidade.
Contemplando-lhes o encantamento juvenil, o Senhor completou-lhes a narrativa,
asseverando que a sua alegria no deveria vincular-se s conquistas realizadas, mas antes
deveriam regosijar-se por terem os nomes escritos nos cus.
Somente a interao pensamento e atos faculta o registro do candidato do Evangelho
no livro do reino dos cus.
As conquistas terrestres passam rpidas, mas as realizaes de auto-iluminao e
fraternal auxlio, permanecem inalteradas como tesouros de valor inestimvel.
A Sua palavra, em si mesma, um hino de alegria vida e de louvor constante ao Pai.
Transformada em ao, conduzia humildade, renncia, ao amor pleno.
Cada pensamento dEle como um raio de Sol penetrante e vencedor de sombras.

Por muitos sculos, a lio de trabalho dos setenta, sensibilizaria almas que se

doariam ao ministrio com alegria, mantendo viva a Sua lembrana e a Sua mensagem.
Doze sculos depois renasceu aquele discpulo amado, que O traria de retorno ao
convvio da humanidade, passando ao futuro como o irmo-sempre-alegre que, renunciando,
e tornando-se menor, o servo dos seus servos, entoou o hino de alegria perene, deixando
inscrito o nome para sempre no livro do reino dos cus.
(*)
Vide
o
Captulo
Embaixadores da esperana, em Primcias do reino, de nossa (Autoria espiritual
LEAL)
(**) Lucas 10 : X a 20 (Nota da Autora espiritual)

22 EIS AQUI O HOMEM(*)


A Sua presena incomodava.
A pulcritude e o absoluto desinteresse pelas quinquilharias humanas tornaram-nO
antiptico aos poderosos, e a Sua autoridade moral apavorava os fracos que se haviam
investido de falsa fora.
medida que crescia sua realidade entre as pessoas, mais aumentava a onda dos
dios e ressentimentos contra Ele.
Insubmisso aos dominadores de Roma e de Jerusalm, no os respeitava, porque lhes
conhecia as misrias, embora no os combatesse. Eles eram necessrios aos seus coevos, que
se lhes assemelhavam.
Seria breve o curso da Sua realizao e Ele o sabia. Por isso, no se detinha ante nada,
parecendo mesmo querer que tudo acontecesse, que Lhe chegasse a Morte, a fim de que
triunfasse a Vida.

Desde a morte de Herodes, o Grande, a Palestina estava em conflitos, que se


alastraram a partir da sua enfermidade.
Na demncia do poder, a sua crueldade fez-se insuportvel, e temendo no ser
pranteado, aps o decesso, quanto gostaria, deu ordens para que fossem aniquilados os
judeus ilustres que mandara aprisionar no hipdromo, igualmente deixando instrues para
que os seus guarda-costas matassem Antpatro, seu filho.
O reino ficou dividido entre os seus outros vrios filhos, incapazes e pusilnimes,
exceo de Herodes Antipas, outro filho de Maltace da Samaria, sua quarta mulher, que
mandaria degolar Joo Batista, a instncia de sua sobrinha Salom.
Sucederam-se, ento, atos intrminos de violncia, inclusive perpetrados por
Arquelau, etnarca dos territrios da Judia, da Samaria e da Idumia. Incapaz de frear os
acontecimentos em Jerusalm, convocou o exrcito e, num banho de sangue, ceifou trs mil
vidas, sendo exilado para Viena depois, aproximadamente em VI d.C. por ordem de
Augusto...
Em tal desordem, a Palestina passou a ser administrada por procuradores militares,
destacando-se, entre eles, Pncio Pilatos, que se tornou famoso em razo dos acontecimentos
que lhe assinalaram o perodo, com a priso, julgamento e morte arbitrrios de Jesus.
O poder religioso, confundindo-se com o civil e militar, criava no pas uma rede

infindvel de intrigas, suspeitas e perseguies que tornavam insuportveis as vidas


brilhantes.
Os triunfadores de um momento eram, noutro instante, combatidos pelo medo de
derrubarem os seus chefes, e as ameaas sucediam-se em malhas perigosas.
A Fortaleza Antnia, a noroeste do monte do Templo, vigiava a inquieta Jerusalm,
desafiando o poder do Sindrio e a prospia exagerada dos sacerdotes.
neste cenrio de conturbao e paixes que se encontra Jesus.
Depois de preso sem culpa formal, vendido traioeiramente pelo amigo invigilante,
Ele foi conduzido presena de Pilatos, que desconhecia as tricas e astcias religiosas desse
povo apaixonado e vingador.
Aguardando um Messias que lhe concedesse o mundo, repudiava Jesus, que lhe
oferecia a paz.
doao eterna preferia a transitoriedade terrena e, para consegui-la, utilizava-se de
todos os instrumentos imaginveis.
Aps dialogar com o prisioneiro e deslumbrar-se com a Sua altivez, Pilatos no Lhe
notara qualquer conduta ou pensamento passvel de punio, desabonador. Tentara, por isso
mesmo, negociar a Sua pela vida do salteador Barrabs, sem conseguir xito.
A alucinao que tomara conta da massa, sustentada pelos profissionais auladores
dos dios ali mesclados, queria o Justo, no o criminoso; o Sbio, rio o selvagem.
Para a multido, melhor matar quem lhe d a vida, quele que lhe insufla o dio em
cuja faixa sintoniza...
O heri provoca inveja, enquanto o rprobo, que inspira desprezo, aceito, pois que
serve de patamar para outros seus semelhantes mais astutos, que se destacam graas a eles...
Jesus no devia continuar vivo, pensavam os famanazes do poder temporal, e Pilatos
no sabia como solucionar honradamente a questo.
Pusilnime, no imps a autoridade que a Lex Romana lhe concedia. Quis negociar
com o crime organizado e tornou-se um cristicida.
Mandou, antes, que O aoitassem, que O flagelassem, a fim de acalmar a malta, que
se nutre de sangue inocente.

Ccero considerava a crucificao como a mais cruel e repugnante das penas, que os
romanos aplicavam contra os rebeldes escravos e criminosos brbaros. Em Jerusalm, ela era
reservada aos criminosos comuns.
Parece ter-se originado entre os persas, com o objetivo de impedir-se a ao da
impiedade dos delinqentes, coarctando a onda que se espraiava do crime pelo terror.
Jamais, porm, a pena de morte trar efeitos benficos sociedade ou evitar a
criminalidade. Onde viceje, sua sombra alastram-se a violncia, o vcio, os delitos mais vis.
S a educao pode prevenir o mal e corrigir o erro.
Posteriormente, cr-se que foi Alexandre Magno, no seu expansionismo, quem
difundiu a crucificao pelo Oriente Mdio, sendo aprimorada e mais refinada pelos mtodos
romanos.
A vtima deveria antes ser despida e atada a um poste, passando a receber os aoites,
normalmente em nmero de trinta e nove ou mais, com o flagrum, um chicote de couro com
vrias tiras ou correias, em cujas extremidades havia bolas de chumbo ou afiados pedaos de
ossos de carneiro para dilacerar as carnes. Dois sicrios aplicavam os golpes, nas costas e nas

pernas, sucessivamente, lanhando-as e despedaando-as, a fim de que as hemorragias


quebrassem as resistncias da vtima, sem possibilidade de sobrevivncia ou de mais demora
na cruz...
Jesus havia sido mandado de um para outro lugar e estava exausto, percorrendo,
naquela noite sinistra, mais de quatro quilmetros entre um palcio e outro...
Ao ser retirado do madeiro de flagcio, foi envolvido por uma tnica de prpura
escarlate e coroado de espinhos, em ultraje Sua pessoa, em ironia ao Seu reino, sendo
cuspido e azucrinado pela soldadesca.
Na mais terrvel solido humana Ele aceitou o fardo cruel da ingratido dos amigos,
um dos quais O negara, h pouco, por trs vezes consecutivas...
O sangue e o suor abundante misturavam-se na borda das carnes dilaceradas.
Empurrado para o centro do ptio onde Pilatos se encontrava, este gritou para a turba:
Eis aqui o homem!
Nenhuma emoo nos inimigos, prncipes dos sacerdotes e soldados. Mais dio e
rancor.
Em uma s voz, decretaram e selaram, no o destino dEle, mas, o prprio:
Crucifica-O! Crucifica-O!
Mas eu no encontro culpa nEle. Tomai-0 vs e crucificai-O vs!
Um reino em desafio e um Rei em julgamento, numa noite de horror, que nunca mais
passaria na histria de trevas da humanidade.
Ns temos uma Lei bradaram os enlouquecidos adversrios da Luz e,
segundo a nossa Lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus!
Jamais Ele dissera ser Deus, afirmando-se Seu Filho, como todos ns, e tornando-se o
caminho para o Pai.
Era necessrio demonstr-lo, porm.
A luz cega os que se aprisionaram longamente nas trevas, e ser aceita, bem recebida,
vagarosamente. Assim, era necessria a Sua morte, para que das sombras do sepulcro viesse a
claridade imortalista encontrar os Seus assassinos, na longa estrada das reencarnaes,
erguendo-os para os altiplanos da Verdade.
O processo era j irreversvel. Instalara-se a hora dolorosa na conscincia terrena. As
criaturas mergulhavam no abismo da insensatez, nele demorando-se milnios afora, em
peregrinao de retorno.
Em Jerusalm preferiram Barrabs e rejeitaram Jesus.
Pilatos prosseguiu lavando as mos sem limpar a conscincia culpada, sem jamais O
esquecer, ele que teve a oportunidade mxima. Suicidando-se depois, mais perturbou o
prprio futuro, ao invs de solucion-lo.
Na sucesso dos sculos a conscincia humana procura a vida, a libertao, enquanto
ouve a voz confusa do procurador romano gritar para a massa, na noite hedionda:
Eis aqui o homem!
(*) Joo 19 : 1 a 7 (Nota da Autora espiritual)

23 O TABOR E A IMORTALIDADE
Deslumbrados, ainda, aps a transfigurao do Mestre, no mpar dilogo com Moiss
e Elias, em recolhimento todos desceram o Tabor.

L, em cima, ficaram as esplndidas paisagens espirituais, a comunho plenificadora


com Deus, o 'silncio e o xtase.
Era necessrio, porm, por enquanto, retornarem ao torvelinho, ao cotidiano, s
mesquinharias do imediatismo, s criaturas humanas apaixonadas, sem rumo...
O planalto, onde haviam comungado com o Pensamento Divino, cedia lugar
plancie das lutas e disputas pessoais.
Eles, os discpulos, eram criaturas frgeis, que se iam fortalecendo nos sucessivos
embates com os olhos postos no futuro.
Criam no Mestre e temiam, no sabiam o qu.
Amavam-nO, e cada vez mais O conheciam, identificando-0 como o Enviado.
Na descida, rompendo o silncio majestoso, disse-lhes Jesus:
A ningum conteis esta viso, at que o Filho do Homem ressuscite dentre os
mortos. (*)
0 exuberante fenmeno medinico, que trouxera de alm da morte os ilustres lderes
da raa, Moiss e Elias, deveria ficar ignorado pelas massas, que no o podiam compreender.
Somente as pessoas preparadas emocional e psiquicamente dispunham da percepo
necessria para entender que, ali, Moiss revogava a proibio de se falar com os mortos,
vindo, ele prprio, demonstrar a possibilidade, ora tornada real. A sua proibio, quanto
evocao dos mortos, justificava-se, para evitar o abuso em voga; porque nem todos os
mortos podem retornar, atendendo aos reclamos dos vivos, e sendo, no raro, substitudos
pelos frvolos e mentirosos, que lhes usam os nomes; para impor ao homem a liberdade de
ao com responsabilidade e o uso do livre-arbtrio; pelo respeito que devem merecer aqueles
que aos outros precedem na viagem de volta...
Agora estava derrogada a interdio; porm, o povo no deveria sab-lo, seno,
quando Ele prprio, ressurrecto e vivo, retornasse aps a tragdia que todos conheceram.
Aqueles eram momentos de extraordinrias revelaes.
As mentes se dilatariam ao infinito, a fim de absorverem os contedos imortalistas ali
testemunhados.
A morte sempre se apresentou como a grande destruidora da vida, a amarga
separadora daqueles que se amam, a indesejada...
Para fugir-lhe sanha, adornaram o culto memria dos mortos com exquias e
homenagens, flores e incensos, leituras e lgrimas, de alguma forma tentando dissimular-lhe
a face trgica. Apesar disso, ela permanecia enigmtica.
No passado, essas exquias e o culto aos mortos revestiam-se de processos
ritualsticos e complexos cerimoniais, em prova de amor para com alguns, assim como para
aplacarem os gnios maus, que velavam junto ao cadver.
Entre os gregos era hbito colocar-se uma moeda entre os dentes do defunto, que
variava de valor conforme as posses do extinto, a fim de pagar Caronte, o barqueiro que o
fazia atravessar as guas do Estige, conduzindo-o outra margem.
Jesus veio demonstrar que a conscincia a portadora do tesouro dos atos de cada
um, e que dela ningum se exime, a partir do momento do grande transe.
Jamais fez apologia da morte, em razo de ela no existir conforme era descrita.
Toda a Sua mensagem de ao e, por isso mesmo, Ele declarou ser a ressurreio e
a vida, em incessante convite ao crescimento espiritual.
A partir daquele momento, no monte Tabor, fora inaugurado, conscientemente, por
Jesus, o intercmbio entre os homens e os Espritos, demonstrando a sobrevivncia da vida
morte. '

O reino dos Cus, que est no ntimo de cada criatura, ali esplendeu, grandioso, e
Jesus, superando os visitantes do Alm, em beleza, poder e glria, transfigurou-se diante dos
amigos deslumbrados.
Nunca mais as criaturas perderam o contato com o mundo transcendente onde se
originam a vida, os seres, a realidade, e se reencontram os que mergulham na carne, para o
processo de evoluo, quando cessa o fenmeno biolgico.
O Tabor e a imortalidade permaneceram como smbolos da Nova Era.
(*) Mateus 17 : 9 (Nota da Autora Espiritual)

24 TRS VEZES O NEGOU


Agigantavam-se as responsabilidades dos discpulos, medida que se popularizava a
mensagem de Jesus.
O Mestre permanecia consciente da gravidade da hora e do significado do tempo.
No eles, porm, que no conseguiam impregnar-se da magnitude do ministrio.
Desacostumados s tarefas de alto porte, viviam da rotina no trabalho, que faculta o
po e preenche as necessidades dirias imediatas, sem descortino intelectual para os vos
gigantescos.
Deslumbravam-se com a Sua doutrina, amavam-nO, porm, sem dimenso mental
para a grandeza do que ocorria.
Ainda hoje assim.
Os cristos no se do conta do poder da mensagem a que se vincularam por osmose,
ou receberam por hereditariedade.
Se a penetrassem com a razo e a vivessem, alterariam completamente a face
scio-moral da humanidade, resolvendo os problemas econmicos, polticos, raciais, que
enlouquecem e enlutam os povos dizimando centenas de milhes de vidas.
Aceitam as teses do amor e do perdo, da fraternidade e da justia, vivendo sobre os
vencidos e tripudiando sobre os fracos e necessitados...
Jesus e Sua doutrina ainda so enigmas para a mentalidade hodierna.
Aqueles, no entanto, que se deixaram contagiar, renovaram a sociedade e tornaram-se
exemplos que comovem, dignificam e inspiram o gnero humano.
A turbamulta queria de Jesus po para o estmago e ungento para as chagas, sade
para os rgos enfermos, mas, nenhum compromisso com a vida responsvel.
Como a via na condio de criana leviana, o Senhor a socorria e ministrava-lhe as
orientaes salvadoras, que se tornavam rumo de segurana e de libertao das paixes
selvagens.
Era natural que as foras da ignorncia e da perversidade se unissem, para impedirem
a propagao dos ensinos superiores.
Simbolizadas na figura mitolgica de Satans, ainda hoje respondem pelas indues
ao mal, indignidade, ao crime, defeco, covardia...
Na roupagem fsica ou dela despidos, esses seres rondam os obreiros do bem e
aguardam o momento prprio para desferirem as suas srdidas agresses.
Sintonizando na faixa dos conflitos das criaturas, facilmente arrastam-nas presas s

malhas das suas funestas insinuaes.


Porque ingnuos e desarmados de malcia, mesmo advertidos pelo Mestre, os
discpulos, a cada momento, cediam s insinuaes da fora perturbadora que os sitiava.
O poema, rico de detalhes, sobre o Reino de Deus, era apresentado sem cessar.
Naquela noite amena, pontilhada por interrogaes quase infantis e expectativas mal
definidas, Jesus acercou-se de Pedro e advertiu-o:
Simo, Simo, eis que Satans obteve permisso para vos joeirar como trigo. (*)
O trigo joeirado torna-se po e mil alimentos outros.
O gro produz o gro, e quando esmagado, propicia a manuteno da vida.
Gro vida!
O corao humano, quando ralado pela dor, liberta emoes transcendentes, qual
diamante bruto que, aps burilado, fulge como uma estrela.
As resistncias morais do ser valem pela forma e grandeza com que suportam as
provaes e sofrimentos.
Ralar o gro meio para libertar os recursos nutrientes que nele dormem.
O mesmo ocorre com as pessoas idealistas...
Simo comoveu-se com a revelao. Mas Ele prosseguiu:
Porm, eu roguei por ti, para que a tua f no desfalea; e tu, uma vez
arrependido, fortalece teus irmos.
A grave informao tomou o companheiro de grande amargura, e ele respondeu:
Senhor, estou pronto a ir contigo, no s para a priso, mas tambm para a
morte.
Havia sinceridade na resposta; no entanto, o ser humano a sua prpria fragilidade.
Gostaria de ter um comportamento, quando derrapa noutro; ser fiel, enquanto foge ou
delata...
Jesus conhecia a fundo a fraqueza moral dos seres, e assim mesmo os amava, sem os
censurar.
Para que no houvesse dvida, o Amigo arrematou, algo apiedado do discpulo fraco:
Declaro-te, Pedro, que hoje, antes de cantar o galo, trs vezes ters negado que
me conheces.
O companheiro protestou confrangido. Era-lhe impossvel assim comportar-se. Ele O
amava. Abandonara tudo para segui-10. Demonstr-10-ia no momento prprio protestou
intimamente.
Jesus sentia que Lhe chegava a hora. As nuvens borrascosas, prenunciando a tragdia,
adensavam-se.
Ele havia realizado o ministrio. Amara at o mximo, e agora daria a prpria vida
em amor.
O Getsmani, aureolado de luar, aguardava.
A ceia terminara, e o smbolo da unio que deveria permanecer arrebentava-se com a
sada de Judas, que fora vender o Cordeiro.
Uma infinita comoo tomaria conta da Terra, logo mais, e produziria um terrvel
sulco nos coraes humanos.
Tudo ento sucedeu conforme estava previsto.
Os companheiros, sem solidariedade, dormiam, enquanto Ele suava sangue e
aguardava.
A agonia mortal comeava, para alongar-se por vrios sculos.
As estrelas, como olhos divinos, piscavam ao longe, testemunhando.

Ele foi preso e arrastado de um para outro lugar, sem uma palavra de justificativa,
sem ningum que O defendesse...
... E naquela noite inesquecvel, sob o velrio dos astros, trs vezes Pedro O negou,
aps o que cantou o galo.
... Trs vezes, no apenas uma vez. Mas, arrependendo-se, depois, fortaleceu os seus
irmos.
(*) Lucas 22 : 31 a 34 (Nota da Autora espiritual.)

25 APASCENTA O MEU REBANHO


Ainda predominavam nas almas saudosas a melancolia e a dor quase insuportvel.
No obstante os acontecimentos festivos mais recentes, pairavam nos seus coraes e
mentes as lembranas do Amado...
E verdade que Ele retornara do tmulo e dialogara com eles. No, porm, como
acontecera anteriormente.
A glria do reencontro parecia-lhes uma aquarela de luz na lembrana, enquanto
aqueles dias, que precederam ao Calvrio, eram toda uma sinfonia mstica, a cantar na
memria das suas recordaes.
Nunca mais as suas seriam as mesmas vidas, nem eles voltariam a ser como antes.
Arrancados do anonimato e da simplicidade de homens do povo, eles se viram
subitamente atirados ao torvelinho da grande revoluo ideolgica. certo que no tinham
dimenso da grandeza dos acontecimentos passados nem dos porvindouros. Apesar disso,
podiam pressenti-los e temiam.
Permanecia naquela querida regio a presena dEle,
que impregnara o mar, suas cercanias, com o Seu sublime canto. Cada recanto e
aldeia, cada cidade e lugar, possuam marcas da Sua passagem, e as Suas pegadas se faziam
visveis no povilu, nos aglomerados de pessoas, nos comentrios gerais.
Retornando s atividades anteriores, sem terem idia exata do que fazerem, os
companheiros surpreendiam-se chorando, evocando os episdios que ali sucederam e
deveram abalar as estruturas da Humanidade, qual ocorreu depois.
Tentavam recordar cada fato e acontecimento, mantendo-Lhe viva a memria nos
comentrios incessantes, repassados de ternura e melancolia.
Jesus fora o divisor dos tempos e assinalaria de forma especial a Nova Era com a Sua
mensagem.

Eles pescavam narra Joo (*) e nada haviam conseguido.


Subitamente, um estranho, da praia sugeriu-lhes que atirassem as redes para o lado
direito da barca, e, ao faz-lo, por pouco no se romperam ao serem recolhidas.
Retiraram das guas calmas cento e cinqenta e trs peixes grandes...
Imediatamente reconheceram o Mestre, que ali estava como no passado, vivo e
estuante, sorrindo e jovial, superando todas as expectativas do desencanto pelo Seu
desaparecimento, que ainda era comentado.

Almoaram com a alacridade de outrora.


Ao terminar, tarde, Ele assumiu a postura habitual e, acercando-se de Pedro,
interrogou-o com doura:
Simo, filho de Joo, amas-me mais do que a estes?
A interrogao inesperada fulminou o amigo pescador, que se recordou das negaes,
envergonhando-se. Porm, honesto e firme, redargiu:
Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo.
A resposta soou como doce campana no ar.
O Mestre relanceou o olhar pelo grupo sorridente, ingnuo, e disse:
Simo, apascenta os meus cordeiros.
Ato contnuo, indagou, com preocupao na voz:
Simo, filho de Joo, amas-me?
Surpreso, o discpulo contestou:
Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo.
Houve um silncio rpido e profundo, aps o que, pediu:
Pastoreia as minhas ovelhas.
Suave msica da natureza, trazida pela brisa do mar, parecia uma moldura de
vibraes elevadas para a tela que formava o cenrio do dilogo.
Por terceira vez, Ele inquiriu:
Simo, filho de Joo, amas-me?
O discpulo, emocionado, chorou e ripostou:
Senhor, Tu conheces todas as coisas, Tu sabes que Te amo. Por que me interrogas
por trs vezes?
Se me amas, apascenta as minhas ovelhas.
Penetrando nos tempos do porvir, Jesus sabia das dificuldades para pastorear o
rebanho; da diversidade de ovelhas a apascentar; das problemticas de cada poca; das
defeces humanas... Mas era necessrio resguardar os candidatos ao rebanho, e Simo, na
primeira etapa, por amor, que a sublime cano que Ele sempre entoara, deveria ser o
condutor.
... E enquanto o silncio se enriquecia de reflexes e vises de um longnquo futuro
de bem-aventuranas, Jesus prosseguiu:
Quando eras mais moo, tu te cingias e andavas por onde querias. Quando fores
velho, estenders as tuas mos e outro te cingir e te levar para onde no queres...
Simo percebeu que seria conduzido ao matadouro por estranhas mos. Isto, porm,
no lhe importava naquele momento. O Mestre ali estava, e isto, sim, era-lhe tudo. Desejava
sorver at a ltima gota a Sua presena.
Mas Ele prosseguiu falando, anunciando que Joo, o discpulo amado, no provaria
da morte pelo martrio... Seria poupado por amar demais, porm os outros...
O amor supre todas as necessidades, elimina todos os erros, porque propicia
renovao e reparao.
O amor o perene amanhecer, aps as sombras ameaadoras.
A palavra de Jesus, na tnica do amor, a cano sublime que embalou Sua poca e
at hoje constitui o apoio e a segurana das vidas que se lhe entregam em totalidade.
Simo reuniu as ovelhas, conduziu-as com carinho e compreendeu, afeioado, o
ministrio que lhe cumpria realizar.
Ao encerrar a jornada na cruz do martrio, pde deixar por e com amor o rebanho
unido, fiel, seguindo no rumo da Luz.

... Sim, Senhor, eu Te amo.


Ento apascenta o meu rebanho...
(*) Joo 21 : 15 a 23 (Nota da Autora espiritual.)

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Manso do Caminho - 40 Anos
Joo Neves/Jos Ferraz/
Nilo Calazans/Geraldo Azevedo Projeto Manoel P. de Miranda -Reunies
Medinicas
TRADUES
Manoel P. de Miranda
(EM INGLS)
Obsession (Grilhes Partidos)
Joanna de ngelis
(EM ESPANHOL)
Dimensiones de la Verdad Reoetas de Paz (4 cores) Invitadones de la Vida En el
Borde dei Infinito Floraciones Evanglicas (EM FRANCS)
Au Seuil de LTnfmi Lumire Spirite (EM INGLS)
After the Storm
Amlia Rodrigues
(EM ESPERANTO)
La Semisto (4 cores) - INFANTIL (EM ESPANHOL)
Las Primicias dei Reino Cuando Regrese la Primavera (EMINGLES)
The Sower (4 cores) - INFANTIL Eros
(EM ESPANHOL)
Herencias de Amor
Victor Hugo
(EM ESPANHOL)
Parias en Redencin
Otflia Gonalves
(EM FRANCS)
Le Passage
DISCOS
Viver e Amar (mensagens)
Filho de Deus (mensagens)
MENSAGENS, CONFERNCIAS E CURSOS GRAVADOS EM FITAS POR
DIVALDO FRANCO
UDIO
40 Anos deMediunidadede Divaldo Franco 40 Anos do Caminho da Redeno 60
Anos de Mediunidade de Chico Xavier A Busca Interior A Calhandra (O Servio)

A Cincia da Poltica A Cincia Perante o Esprito A Conscincia Integral A


Converso do Apstolo Pedro A Converso ntima A Cura Real
A Era da Nova Conscincia - 4 Vols. AEvoluoHumana(AHistriadeBebete) A
Ex-meretriz A Felicidade
A Fisiologia do Mdium e os Mecanismos da Mediunidade - 3 Vols.
A Humanidade 3e Milnio A Me de Dimas
A Mediunidade Luz do Espiritismo A Mediunidade, o Exerccio Medinica e suas
Implicaes A Obsesso
A Obsesso e a Teraputica, 2 Vols.
A Paranormalidade Humana A Providncia Divina A Psicologia da Morte A
Psicologia Espiritualista A Realidade do Esprito A Reencarnao no Evangelho A Rotina e
os Homens Vazios A Sociedade Moderna A Unificao, a Divulgao - Imprensa Esprita, 2
Vols.
A Vida de Kardec
Aborto - Viso Esprita
Alm das Dimenses Humanas
Allan Kardec e a Caridade
Anlise Histrica da Mediunidade
Ansiedade
As Alienaes Mentais Cincia do Esprito - Vit. da Conquista -BA, 6 Vols.
Cincia e Espiritismo Cincia e Fenomenologia Cincia e Religio Cludia - O
Perdo
Comprovao Cient. da Reencarnao Cristianismo e Espiritismo Cristo Histrico
Crueldade (Mauthausen)
Deus No Tem Pressa Diante da Sociedade, 2 Vols.
Do Outro Lado da Vida Eleonora Piper (mediunidade)
Em Busca do Espao Interior Encerramento do Congresso Internacional Encontro
com Dirigentes, 2 Vols. Encontro com Jovens, 4 Vols.
Entrevista Cincia do Esprito, 2 Vols. Entrevista com Divaldo, 2 Vols. Espiritismo e
Psicologia Espiritismo e seu Trplice Aspecto Espiritismo, Psicanlise e Terapia Esprito de
Natal, 2 Vols.
Estados de Conscincia Estesia (mensagens R. Tagore)
Eufrasia - O Poder do Amor Eunice Weaver (Hansenase) Evangelizao, 2 Vols.
Flopette (O Poder do Amor)
Floresa Onde For Plantado Imortalidade da Alma Jesus e a Mulher Equivocada
Jsus Gonalves (Hansenase)
Jesus Sempre Joo Batista
Joo C. Machado (Hansenase)
Joana de Cusa
Lucien - A Sublime Expiao
Maria de Magdala
Maria de Nazar
Mediunidade
Mme. Requien (Aborto)
Morte: Portal da Vida Neuroses e Sade Mental Ningum Morre
Nveis de Conscincia Segundo Ouspensky, 2 Vols.
Novo Enfoque Sobre Loucura e Obsesso Novos Rumos Para a Doutrina Esprita, 2

Vols.
O Bispo Pike e Sua Converso O Centro Esprita, 5 Vols.
O Cristo Csmico O Evangelho, a Orao
Alm das Dimenses Humanas Allan Kardec e a Caridade Anlise Histrica da
Mediunidade Ansiedade
As Alienaes Mentais Caminho da Redeno - 1987 (Palestra) Cincia do Esprito Vit. da Conquista-BA, 3 Vols.
Cincia do Esprito, 3 Vols. (Seminrio) Cincia e Espiritismo Comemorao dos 40
Anos da Manso do Caminho (Manso) Vol. I Comemorao dos 40 Anos da Manso do
Caminho (Centrode Convenes) Vol. II Comprovaes Cientficas da Reencama-o
Cristianismo e Espiritismo (de Paulo a Kardec)
Curso: O Homem Perante a Conscincia, l 2 O Homem Psicolgioo 2 O Homem
Social 32 O Homem Imortal 42 O Homem Integral Debate Especial com Divaldo Divaldo
Especial na TV Documentrio - Manso do Caminho 40 Anos - Uma Obra de Amor na
Educao -1992
Em Busca do Espao Interior EncerramentodoCongresso Internacional Encontro com
Dirigentes - SP Encontro com Mdicos - SP Encontro com Mocidade - SP Enfoque Especial
com Divaldo Enfoque Sobre Espiritismo e Temas Contemporneos
Entrevista - Cincia do Esprito Entrevista Especial na TV Entrevista Sobre
Mediunidade Entrevista Sobre Temas Gerais Espiritismo, Evangelho e Atualidade
Espiritismo, Psicanlise e Terapia Eufrsia - A Fora do Amor FenmenosMedinicose
Parapsicolgicos Flvio A. Gomes (Entrevista)
Flopette (A Fora do Amor)
Frente a Frente com Divaldo Imortalidade da Alma Jesus e a Mulher Equivocada
Maria de Magdala Maria de Nazar
Mediunidade - Do Outro Lado da Vida Morte: Portal da Vida
Neuroses e Sade Mental Ningum Morre
Nveis de Conscincia Segundo Ouspensky, 2 Vols.
Novo Enfoque Sobre Loucura e Obsesso Novos Rumos Para a Doutrina Esprita O
Bispo Pike e Sua Converso O Exerccio do Amor (Anjo da Noite)
O Homem Diante de Sua Realidade O Homem Feliz (Felicidade)
O Homem Integral, 2 Vols.
O Homem Paranormal O Homem Perante Cristo O Homem Perante o Sofrimento - A
Arte de Bem Viver O Quarto Rei Mago O Que Espiritismo (33 Viso)
O Significado da Vida O Sofrimento Perante o Budismo O Triunfo da Vida Os
Caminhos do Amor - Natal Os Mecanismos da Obsesso e Terapia Paulo Scort (Hansenase)
Precipitao e Destino Problemas Atuais e a Teraputica Provas Cientficas da
Existncia de Deus (RJ)
Psiquiatria e Espiritismo Reencamao e Memria Extra Cerebral Reencamao e
Justia Divina .
Reflexes (Entrevista na TV) Relacionamento do Homem com Deus Seminrio:
Loucura e Obsesso, 3 Vols. Seminrio: Reencamao, 4 Vols, com Convidados Sexo e
Conscincia Tramas do Destino
Transcomunicao Instrumental (Vidicon e Spiricon)
Ugolin: A Vida Sobre Novo Prisma Um Conto de Natal - A Histria de Lucien
Valorizao da Vida Viagem EUA e Europa I (Crueldade) Viagem EUA e Europa II
(Violncia e No Violncia)

Vida Interior e Vida Imortal Violncia e Paz


Workshop de Meditao, 3 Vols.
II Workshop de Meditao, 3 Vols.
II Workshop: A Era da Nova Conscincia II Seminrio: O Centro Esprita, 2 Vols.
Workshop: Sade Integral (Loucura e Obsesso), 3 Vols.
Alegria de Viver Alerta
Aps a Tempestade ...
Celeiro de Bnos Convites da Vida Dimenses da Verdade Episdios Dirios
(2 cores)
Esprito e Vida Filho de Deus (4 cores)
Floraes Evanglicas Leis Morais da Vida Messe de Amor Momentos de
Alegria (4 cores) Momentos de Coragem (4 cores) Momentos de Esperana (4 cores)
Momentos de Felicidade (4 cores) Momentos de Harmonia (4 cores) Momentos de
Iluminao (4 cores) Momentos de Meditao (4 cores)
No Limiar do Infinito Oferenda
O Homem Integral Otimismo
Receitas de Paz (4 cores)
Reflexo do Dia (calendrio) (4 cores) Repositrio de Sabedoria - l2 vol.
Repositrio de Sabedoria - 22 vol. Responsabilidade Rumos Libertadores Vigilncia (4
cores)
Viver e Amar (4 cores)
Pedidos :
Livraria Esprita Alvorada Editora Rua Jayme Vieira Lima, 1 Pau da Lima
41235-000 - Salvador - Bahia - Brasil
1
Mateus 17 : 9
Nota da Autora Espiritual
2
Lucas 22 : 31 a 34 Nota da Autora espiritual.
3
Joo 21 : 15 a 23 Nota da Autora espiritual.

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