Cousas q tem tanta graça, tam doces para ouuyr, termya por de maa rraça, se as nam deesse empremy... more Cousas q tem tanta graça, tam doces para ouuyr, termya por de maa rraça, se as nam deesse empremyr. Eu vejo bem como vou, & vos, senhor, como hys: & poys eu quys, contente estou como quem bem acertou. Garcia de rresende, ín Cancioneiro Geral, tom. Ill, p. 333. S Recordações de Jacome Ratton são um dos mais curiosos livros da nossa literatura do começo do século xix. Como livro de memórias, raríssimos entre nós, esta obra tem chamado as atenções de todos os curiosos da vida portuguesa, de todos os eruditos e historiadores a quem interessa o movimento de ressurgimento artístico levado a cabo pelo Marquês de Pombal, e o viver da sociedade burguesa do fim do século xviii e começo do século xix. E um deli-1 casa de commercio, que ficou unida á de Lisboa; e me deixarão em França entregue a meus Avós paternos. ' §3. Minha vinda a Portugal. Minha entrada no Commercio. Minha admissão na Sociedade. Em huma jornada que meu tio, Jacome Bellon, fez a França, donde voltou casado com Maria Purat, me trouxe comsigo, e me entregou, a 7 de Maio de 1747 a meus Pais residentes em Lisboa, em cuja companhia recebi a minha educação, e aprendi o commercio no seu escritório, no qual entrei antes de contar 14 annos de idade; e antes de completar os 17, fui admittido com interesse na Sociedade, que até entaõ corria debaixo da firma de Bellon e Ratton, e depois com a de Bellon, Ratton, e filho, continuando deste modo, até o fim de 1758, em que meus Pais, e tio largarão o commercio, e me cederão a liquidação, e continuação de todo elle. §4. Minha i.a Jornada a França, e com que fim. Instancias de meus Pais para me casar: como accedi: com que pessoa, e como foi pedida. Como o meu objecto n'esta producçaõ he fazer-me conhecer tal qual sou por factos passados, cumpre-me naÕ omittir cousa alguma que a isto diga respeito. A circunstancia de ser filho único excitou em meus Pais o desejo de me casarem, -IO visto durante a minha demora de oito dias naquella cidade, no anno antecedente. O mesmo foi fallar naquella Senhora que obrigarem-me a hir pedi-la no mesmo dia a sua irmaã, D\ Maria de Clamouse, casada com Mr. Darot Negociante Francez em Lisboa, os quaes me receberão mui bem; e no dia seguinte foi meu Pai comigo ratificar o meu pedimento, que sendo acceito por Mr. e Mde. Darot, escrevemos logo dali ao Pai da dita Senhora, por hum próprio que nos trouxe a resposta aflirmativa, a qual produzio huma união nunca dantes premeditada, que fez a felicidade da minha vida, e que devi ás instancias de meus Pais. Do mesmo modo gozaõ de igual felicidade meu filho Diogo, e minha neta Da. Júlia Francisca Daupias, cuja uniaõ eu suggeri na viagem que elle fez a instancias minhas por Inglaterra, Hollanda, e França, depois de viuvo de Da. Mariana Eulália de Mello falecida do primeiro parto; celebrando-se as segundas núpcias em Macon, no anno de 1800, em rasaõ de eu ter mandado educar a dita minha neta, e seu irmaõ em Paris conforme a recommendaçaõ de seus pais. §5 . 1 Meu casamento, filhos que delle houve, e seus estabelecimentos. Em o principio de Janeiro de 1738, casei, na Cidade do Porto, com D. Anna Isabel Clamouse, filha mais nova de Bernardo Clamouse, ja viuvo de D. Genoveva Hartsoeker, Negociante Francez, e Cônsul honorário da Naçaõ Franceza na dita Cidade; e do meu feliz consorcio tive quatro filhos, e quatro filhas. O primogénito dos filhos, por nome Ber--IInardo, faleceo de bexigas na idade de 10 annos, achando-se no collegio de Tournus. O 2., chamado Diogo, agora o mais velho, e meu sucessor em Portugal, reside nas mesmas casas, de que eu fui tirado, e preso; e se acha casado, em segundas núpcias, com sua sobrinha D. Júlia Francisca Daupias. O 3. chamado Henrique Jozé, deixou de ser meu sócio haverá doze annos, e largando o commercio se retirou com sua mulher, e filhos para França, a viver junto com suas irmaãs. O 4. chamado Jozé Luiz, deixando igualmente de ser meu sócio ha cinco annos, passou com sua mulher, e hum filho em consequência das infelizes circunstancias do commercio em Portugal, a estabelecer huma casa de commercio em Londres, na companhia do qual me acho presentemente, por effeito da minha injusta deportação. As quatro filhas foraõ educadas em França, na companhia dos meus Pais, que successivamente mas pediaõ para este fim, e aos quaes as nao podia negar. A ia. chamada D. Francisca Júlia, foi casada com Gabriel Joaõ Lourenço Daupias, por cujo motivo o fiz meu sócio em 1780, sobrevivendo ella ao casamento pouco mais de dous annos, e elle pouco mais de três, falecerão deixando hum filho, e huma filha, que tomei ao meu cuidado. A filha he a espoza de meu filho, e successor Diogo Ratton, e o filho acha-se hoje casado, e estabelecido com casa de commercio em Paris. As outras três filhas D. Anna, D. Luzia, e D. Sophia educadas, como ja disse, por meus Pais, na Cidade de Macon em França, ali casarão, a 1. com Mr. de Mure, a 2. com Mr. Aujas, e a 3. com Mr. du Ruisseau ja falecido. 12 §6 . So ci ed ad e co m Bo ni fa s, e ou tr os . Contava eu 22 annos de idade, pouco mais, ou menos, quando meu Pai, e meu tio largando o commercio me deixarão, no fim de 1758, a liquidação, e continuação de suas casas em Lisboa, e Porto, dando-me por sócios durante seis annos ; em Lisboa Paulo Bonifas ; e no Porto Joaõ Baptista Bourgeois, e Carlos Dubar, sendo a firma, Ratton, Bonifas, e Companhia. Estes três sócios entrarão sem fundos pró- prios, devendo a casa laborar sobre os meus, representados por 24 contos de reis effectivos, e outras iguaes quantias de meu Pai, e tio, que deixarão na casa, como sócios commendatarios, levando cada hum huma outava parte de interesse sobre os lucros, que houvesse, e arriscando somente as suas entradas em caso de perdas, as quaes houve com eífeito; mas que elles, e eu somente supportamos. A paz inesperada de 1763, nos causou grandes perdas sobre géneros mandados a paizes estrangeiros; pelo que acabou a dita sociedade no fim do anno de 1764, e fiquei continuando o commercio em meu próprio nome. Extinguio-se a casa do Porto, tendo meu tio falecido em 1761, e creio que a bem testado, ficando a viuva com dous filhos, e huma filha todos menores, aos quaes se deu tutor; e a viuva passou depois a segundas núpcias com hum Gaudêncio Fontana. -i3 - §7-Retirada de meus Pais para França, e seu falecimento. No principio do anno de 1759, se retirarão meus Pais a Paris, aonde meu Pai adquirio hum dos cargos de Secretario do Rei, de ia. classe, que o ennobreceo, e a toda a sua descendência, cujo cargo he equivalente ao foro de fidalgo cavaleiro em Portugal. Poucos annos depois foraõ fixar a sua residência na cidade de Macon, Departamento de Saone e Loire, aonde também adquirirão bens de raiz, e falleceraÕ, meu Pai em 1779, e minha Mai em 1794; e como eu fosse o seu único filho fiquei sendo seu herdeiro universal. §8 . Minha hida a Macon, e circunstancias respectivas a meus filhos. Em consequência do falecimento de meu Pai, fui, em 1783, fazer huma visita de quatro mezes a minha Mai, na companhia da qual se achavaõ as duas minhas filhas, D. Luzia e D. Sophia, ainda solteiras, e D. Anna na companhia de seu marido, Mr. de Mure, que tinha passado á Alexandria do Egipto, na qualidade do Cônsul Geral da França. Deve saber-se, que antes de enviar meus filhos para a companhia de meus Pais em França, procurei o Beneplácito do Senhor Rei D. Jozé; por ter ja naquelle tempo a honra de ser seu vassalo. Dos meus três filhos existentes, somente o primogénito, Diogo Ratton, he que foi educado em França, aonde que todos a lerão, e approvarao, como consta do (Doe. No. 7.) § 11. Vivendo eu sempre em perfeito harmonia com todos os meus parentes, e de minha defuncta espoza, por effeito dos seus respeitáveis caracteres, me julgo na obrigação de expor aqui, para que se me naõ faça carga, a causa de minhas desavenças com a pessoa de meu concunhado Francisco Palyart, Negociante respeitável da praça de Lisboa, e com razaõ, pelo seu bem merecido credito; e vem a ser a condueta, que teve a meu respeito, na occasiaõ em que Verdier, e minha casa, separamos, no anno de 1794, os nossos inter e s s e s a respeito da fabrica de fiação, que tínhamos estabelecido em Thomar, e de que adiante darei conta: separação, que da minha parte, e de meus filhos proveio somente da incompatibilidade de génios, e que buscamos para nossa reciproca tranquilidade, propondo a Verdier a escolha, ou de ficar encarregado daquella fabrica, ou de no-la ceder, com a reciproca obrigação, de que, aquelle que com ella ficasse seria obrigado a pagar ao outro, no espaço de seis annos, o capital por elle desembolçado, tudo sem juros; porque o estabelecimento nada tinha rendido até aquelle tempo; á excepção de cousa de vinte contos de reis, que a minha casa tinha despendido de mais, os quaes, se elle Verdier se resolvesse a ficar com a fabrica, pagaria com juros nos prazos, em que conviessemos: proposta a todas as vistas a mais -45minha própria experiência me ensinou a emendar; mas naõ sem prejuízo de grande despeza, que junta com a indispensável foi assaz excessiva. Ao mesmo tempo que se trabalhava nas obras de vailados com a actividade expressada, se hiaõ construindo as accommodaçoens, e alojamentos para 24 famílias de criados; no que se occupava hum numero proporcionado de pedreiros, carpinteiros, e trabalhadores, de modo que, desde maio até o S. Miguel, se apromptaraõ os alojamentos dos criados, abegoaria, celleiros, palheiros, e até se repararão as casas para a minha habitação, e de minha família, quando ali hiamos passar algum tempo. Quanto ás arramadas para se recolherem os bois de lavoura, foraõ construídas pelos criados com esteios e varas de madeira, tecidas de palha--carga, e caniço, cujos esteios e varas, semelhantes ás das parreiras, mandei comprar a hum pinhal distante huma legoa, e pertencente a Excellentissima casa de Nisa: tal era o deplorável estado, em que se achava aquelle prédio, que nem madeira havia para tao insignificante construcçao. Todas as minhas esperanças se fundavaõ em...
Desde criança que ouvia com algum espanto o nome Virgolino aplicado a pessoas da nossa família. E... more Desde criança que ouvia com algum espanto o nome Virgolino aplicado a pessoas da nossa família. Eu não tinha esse nome, e o meu pai também não, mas a minha avó paterna sim. Eu ainda não tinha aprendido que os nomes do lado feminino desapareciam, caindo, no espaço de duas gerações. E havia uma sonoridade curiosa, quase brincalhona, associada a este nome. Alguns adultos, por vezes, reflectiam em voz alta que-talvez-fosse originário de Itália, embora ninguém percebesse o como e o quando. Não era tema frequente, como correspondia a quem sabia pouco sobre os antepassados de há mais de duas ou três gerações e, para dizer a verdade, também não conheci nenhum parente que se preocupasse verdadeiramente com isso. Quanto ao nome Virgolino parece existirem hoje, em Portugal, várias famílias com o apelido Virgolino, não sabendo eu que relações genealógicas possa haver entre elas, se é que há, pois, só por si, usar um nome em comum, não implica necessariamente parentesco, como se verá aqui. Também se podem encontrar, em Portugal, um certo número de indivíduos do sexo masculino com primeiro nome Virgolino, na versão com "o" intercalar, com maior frequência, mas também com "u" nessa posição. A versão feminina, Virgolina, é muito mais rara. Já no Brasil, este nome é mais comum, mas naquele país há uma espécie de free for all, no que respeita a nomes. Voltando à minha família, à minha volta, estou convencido de que ninguém sabia muito sobre os antepassados mais distantes, mas lá que tinha que os haver, tinha. Foi só muito recentemente, mas muito recentemente mesmo, que soube que tinha havido um parente, primo da minha avó, e que eu conheci, de resto, que procurou investigar a genealogia dos Virgolino, tendo deixado papéis 2 que disso davam conta. A ideia base, certamente fundada na sonoridade italianizante do nome era a de que se trataria de imigrados de Itália. E tudo parecia sugerir que assim fosse. Há registos oficiais referentes ao Virgolino que veio de Itália, e esse parente terá inclusive contactado o arquivo do Vaticano para procurar mais informações, que lhe foram prestadas, e que pareciam tudo confirmar. Com o apoio de buscas simples, que inclusivamente eu próprio tinha feito através da internet, mas independentemente, pois ainda não sabia dos referidos papéis, encontrei a confirmação de uma efectiva imigração a
Memorias economicas da Academia real das sciencias de Lisboa, para o adiantamento da agricultura,... more Memorias economicas da Academia real das sciencias de Lisboa, para o adiantamento da agricultura, das artes, e da industria em Portugal, e suas conquistas
Em 1893 as relações do estado com a industria tor- nam-se continuas, estreitas. Ao periodo dos in... more Em 1893 as relações do estado com a industria tor- nam-se continuas, estreitas. Ao periodo dos inquéritos iudustriaes, intermittentes, extraordinários, segue-se o regimen da inspecção permanente e da estatistica annual das industrias. Organizou-se então o serviço da inspecção, aliás já creado e com o pessoal dirigente nomeado, mas sem verba para o seu desempenho effectivo. Logo se lhe dedicaram artigos especiaes do orçamento. Designação da despesa ARTIGO 30." Inspectores industriaes 2 engenheiros chefes de 2.* classe Vencimentos de exercieio, a 600^000 réis Ajudas de custo, a 90^000 Subsidios de marcha, a 84i^000 réis . 1 engenheiro subalterno de 1.^classe: Vencimento de exercício Ajudas de custo Subsidios de marcha 2 engenheiros subalternos de 2." classe Vencimentos de exercício, a 360^000 réis Ajudas de custo, a 60^000 réis Subsidios de marcha, a 84^000 réis . Augmento de ajudas de custo e subsi- dios de marcha aos mesmos engenhei- ARTIGO 31.0 Expediente para 5 SOi^OOO réis circumscripçoes, a Réis .
BREVE NOTICIA HISTÓRICA Depois de vários ensaios, foi definitivamente estabelecida por Guilherme ... more BREVE NOTICIA HISTÓRICA Depois de vários ensaios, foi definitivamente estabelecida por Guilherme Stephens, em 1769, sob o regimen protector do marquez de Pombal, a «Real fabrica de vidros da Marinha Grande», em logarde uma antiga e pequena fabrica do mesmo producto que já ali existia, concedendo-se ao emprezario, por alvará de 7 de julbo do mesmo anno, um empréstimo gratuito de 32:000?$i000 réis para as principaes despezas de fundação, e outras regalias ou isenções comprehendidas n'um caderno de quinze condições, entre as quaes se notava a faculdade de tirar gratuitamente do pinhal de Leiria o combustivel neces- sário para a fabrica, sem prejuizo das madeiras de construcção do mesmo pinhal. Taes concessões, feitas por tempo de quinze annos, foram seguidas : Em 1776 (16 de julho) de diversas providencias em favor da fabrica sobre o fornecimento das lenhas dos pinhaes reaes «tinuos e successivos, contados desde o dia de junho do «corrente anno de 1827, até ao dia 31 de maio de 1847, «debaixo das condições que baixam com este decreto, assi- «gnado pelo barão do Sobral, Hermano, conselheiro d'estado «honorário, ministro e secretario d'estado dos negocios da «fazenda, presidente do thesouro publico. «O conselho da fazenda o tenha assim entendido e faça «executar, expedindo para este effeito os despachos necessa- «rios. Sitio de Alfarrobeira, 8 de junho de 1827.==Com a «rubrica da Sereníssima Senhora Infante Regente. (ído Sobral, Hermano. s condições a que se refere este decreto foram, em resumo, as seguintes, alem do praso de vinte annos . futuro ; na intelligencia de que o tempo da duração do con- tracto não será menor de dez annos, e de que devem nas mesmas propostas declarar quaes as garantias que offerecem, por fiança ou deposito, ás despezas de que necessita a laboração de similhante estabelecimento e a boa conservação e inte- gridade dos respectivos prédios, machinas e utensílios. CONDIÇÕES 1. ^Que a administração da fabrica dos vidros, erecta no sitio da Marinha Grande, suas pertenças e uíensilios, durará e terá o seu effeito e vigor, por espaço de dez annos contínuos e successivos (ou por aquelles que se convencionar), que hão de principiar no i.°de junho do anno proximo fu- turo de 1847, e acabar no ultimo de maio de 1857 ; 2. ^Que os socios poderão conservar ou diminuir os salários e 0 numero dos empregados, segundo a necessidade que tiverem de seus serviços e seu merecimento pessoal; suavisando n'um e n'outro caso a sorte dos mesmos empre- gados, não despedindo muitos ao mesmo tempo, e procurando sempre, como é de esperar da probidade dos administrado- res, satisfazer á ultima vontade e recommendações do testa- dor João Diogo Síepbens, e participando no fim de cada anno á' secretaria d'estado dos negocios da fazenda o estado da fabrica, pelo que pertence ao numero dos operários e mais pessoas n'ella occupadas ; 3. -^Q ue os socios gosarão de todos os privilégios, graças, isenções e regalias que foram concedidas ao ultimo pro- prietário e se não achem prejudicadas pela legislação vigente ; 4. Que para animar os socios e promover o adianta- mento e perfeição da fabrica serão as manufacturas d'ella admittidas a despacho, livres de direitos em todas as alfan- degas ou mesas de despacho, d'estes reinos e dominios ultra- marinos, quer sejam exportadas em navios nacionaes, quer em navios estrangeiros, gosando de todas as mais graças que se acham concedidas ou se houverem de conceder ás mais fabricas nacionaes, sujeitas ao unico imposto de 5 porcento, na conformidade da carta de lei de 29 de julho de 1839; 5. " Que 0 governo em geral e a economia interior da fa- brica e suas annexas dependerá unicamente do arbítrio dos socios, os quaes só podem conhecer o que é mais util e con- veniente para a boa ordem, adiantamento e perfeição da mes-No mesmo dia -Joaquim Manuel, atiçador do forno de crysíal, e João Francisco Monteiro, cinzeiro do mesmo, dis- seram : Que 0 trabalho do primeiro consistia emmetter lenha no lume e tirar as cinzas, mettendo aquelle, n'uma véla de seis horas, não menos de tres carradas, que regulam cada uma ;-por 50 arrobas para verde, e perdem 20 por cento na secca. Que os fornos antigos, de um systema inteiramente por- tuguez, queimavam mais do que os modernos, que são de um systema mixto ; tendo estes ainda a vantagem de queimar lenha menos feecca. Que alem de entreter o lume, e de conduzir a lenha, se / occupam em trabalhos braçaes da fabrica, ganhando o primeiro ySOO e 0 segundo 1^400 réis por semana. No mesmo dia. -Os ajudantes de estendedores, José Fer- reira Gandra, admittidoem 1847, e Joaquim Pereira Lopes •em 1853, disseram: Que são quatro os ajudantes dos estendedores de vidraça, que um d'elles fôra para Leiria, e o outro se acha doente. Que 0 seu trabalho consiste em estender em chapa, na so- leira do forno de estender, a manga previamente aquecida na boca lateral; e que ao ofíicial competia sómente pôl-a depois em pé na segunda divisão do mesmo forno. Que ganham, um 300 réis por dia, o outro 240 réis, sendo a obrigação de ambos servir os outros ajudantes, e dar avia- mentos aos quatro fornos de estender. Que nos intervallos do trabalho dos fornos se empregam em qualquer outro, recebendo sempre por inteiro os seus salarios. Que no tempo do conde do Farrobo ganhavam só a 240 réis diários, mas trabalhavam muito menos. Que 0 aprendizado podia durar só dois annos, uma vez que *0 official desse liberdade para praticar. Que na sua classe não ha inválidos. Que nenhum d'elles dem trabalhado nas fabricas de Lisboa. No mesmo dia. -O atiçador do forno da tempera Manuel Soares disse : Que aquecia o dito forno queimando n'uma véla uma car- rada de cincoenta arrobas de lenha: que nos intervallos se emprega no serviço dos fornos de vidro; que ganha 200 réis, lendo já ganho 180 réis por dia.
Passados 85 anos da greve geral de 18 de janeiro de 1934 muitas dezenas de pessoas concentram-se ... more Passados 85 anos da greve geral de 18 de janeiro de 1934 muitas dezenas de pessoas concentram-se junto ao cemitério na Marinha Grande. Entre estes um vidreiro, com a indumentária, a bicicleta, a cesta do almoço e o frasco do vidreiro, onde levavam o vinho para o almoço, como se usava naquele dia, há 85 anos. Dentro do cemitério os dirigentes do sindicato leem uma lista e indicam a quem os acompanha os nomes de todos aqueles que ali estão sepultados e que participaram na ação insurrecional. Em todas as campas são colocadas flores. Cravos vermelhos! Como pode um acontecimento destes ser, passado tanto tempo, objeto de recordação de uma comunidade e de que forma é que esta memória coletiva se tornou um emblema comunitário é o pretendemos equacionar.
No dealbar da segunda metade do século XIX, na senda da implantação do regime liberal saído do go... more No dealbar da segunda metade do século XIX, na senda da implantação do regime liberal saído do golpe militar liderado pelo duque de Saldanha, a modernidade chega a Portugal num surto de grandes investimentos na construção de redes viárias, caminhos de ferro e infraestruturas de abastecimento público, criando oportunidades à emergência de uma indústria do ferro, até então praticamente inexistente. O investimento estrangeiro, avoluma-se, destacando-se o afl uxo de capitais britânicos, consolidando um relacionamento comercial que lhes era largamente favorável. A indústria mineira e minero-siderúrgica foi uma das áreas abrangidas pelas transferências de capitais ingleses e tecnologia, num movimento que, entre 1845 e 1925, levou ao estabelecimento de cerca de 650 companhias em Portugal e Espanha (VERNON, 2006: 59, 62). Estas exploraram, sobretudo, minérios de estanho, ferro, cobre, chumbo e zinco e, mais tarde, volfrâmio, os quais eram transformados em solo britânico, facto que lhes garantiu, durante mais de um século, supremacia industrial. Um processo idêntico ao praticado, de resto, desde as primeiras décadas do século XVIII, na América Latina e nas colónias britânicas da América do Norte. Jorge Croft (1808-1874), natural de Manchester, industrial, residente em Portugal, promotor deste projeto, quiçá de olhos postos na vizinha Espanha, onde já desde meados de 1830 funcionavam altos-fornos, em Marbella e Málaga (AZE-VEDO, 1872: 15), ou mesmo na Asturian, Coal and Iron Company (Mieres), que mantinha desde 1848, um "alto-forno à inglesa", o primeiro naquele país a usar coque na fundição de ferro, substituindo o carvão vegetal e a forja catalã (PRIETO e SOLÍS, 2015: 3, 7), almejava colocar Portugal ao nível dos grandes produtores de ferro europeus. Para isso, constituiu em Londres, em 1863, a Portugal Iron and Coal Company (doravante designada por PICC ou por Companhia), um refl exo das ligações históricas entre os dois países, que se lançou, pouco
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