Guerra de Inverno: diferenças entre revisões

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{{mais fontes|data=maio de 2019}}
{{Info/Guerra
| conflito = Guerra de Inverno
| parte_de = [[Segunda Guerra Mundial]]
| imagem = [[Ficheiro:Finn ski troops.jpg|300px]]
| legenda = Soldados finlandeses no norte da Finlândia a 12 de Janeiro de 1940.
| data = [[30 de novembro]] de [[1939]] a [[13 de março]] de [[1940]]<br />{{Pequeno|(3 meses, 1 semanas e 6 dias)}}
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|território território = Cessão das ilhas do [[Golfo da Finlândia]], [[Istmo da Carélia]], Ladoga da [[Carélia]], [[Salla]] e [[Península de Rybachy]] e parte de [[Hanko]] para os SovíeticosSoviéticos
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|combatente1 = {{FIN}}
*Voluntários estrangeiros
| combatente2 = [[Ficheiro:Flag of the Soviet Union 1923.svg|borda|22px]] [[União Soviética]]
* [[República Democrática da Finlândia]]
| comandante1 = {{FINb}} [[Kyösti Kallio]]<br />{{FINb}} [[Risto Ryti]]<br />{{FINb}} [[Carl Gustaf Emil Mannerheim|Carl Mannerheim]]
| comandante2 = [[Ficheiro:Flag of the Soviet Union 1923.svg|borda|22px|link=União Soviética]] [[Josef Stalin]]<br />[[Ficheiro:Flag of the Soviet Union 1923.svg|borda|22px|link=União Soviética]] [[Kirill Meretskov]]<br />[[Ficheiro:Flag of the Soviet Union 1923.svg|borda|22px|link=União Soviética]] [[Kliment Vorochilov]]<br />[[Ficheiro:Flag of the Soviet Union 1923.svg|borda|22px|link=União Soviética]] [[Semyon Timoshenko]]
| força1 = {{formatnum:300000}} – {{formatnum:340000}} soldados<br />32 tanques<br />130 aeronaves<ref name="Virrankoski">Pentti Virrankoski, ''Suomen Historia 2'', 2001, ISBN 951-746-342-1, SKS</ref><ref name="Käkelä">Erkki Käkelä, ''Laguksen miehet, marskin nyrkki: Suomalainen panssariyhtymä 1941-1944'', 1992, ISBN 952-90-3858-5, Panssarikilta</ref>
| força2 = {{formatnum:425000}} – {{formatnum:760000}} soldados<br />2 514 – 6 541 tanques<ref>Kantakoski, ''Punaiset panssarit - Puna-armeijan panssarijoukot 1918-1945'', p. 260</ref><br />3 800 aeronaves<ref name="Ries">Tomas Ries, ''Cold Will - The Defense of Finland'', 1988, ISBN 0-08-033592-6, Potomac Books</ref><ref name="Manninen">Ohto Manninen, ''Talvisodan salatut taustat'', 1994, ISBN 952-90-5251-0, Kirjaneuvos</ref>
| vítimas1 = {{formatnum:25904}} mortos<br />43 557 feridos<br />800 – 1 100 capturados<ref name="tappiot">Finnish Defence College, ''Talvisodan historia 4'', p.406, 1991, ISBN 951-0-17566-8, WSOY, Os mortos incluem 3.671 mortalmente feridos que morreram sem deixarem o hospital, alguns anos após a guerra.</ref><br />20 – 30 tanques perdidos<br />62 aeronaves perdidas
| vítimas2 = {{formatnum:126875}} – {{formatnum:167976}} mortos ou desaparecidos<br />{{formatnum:188671}} – {{formatnum:207538}} feridos<br />5 572 capturados<ref name="Krivosheev">G.F. Krivosheev, ''Soviet Casualties and Combat Losses in the Twentieth Century'', 1997, ISBN 1-85367-280-7, Greenhill Books</ref><br />1 200 – 3 543 tanques perdidos<ref>Kantakoski, p. 286</ref><br />261 – 515 aeronaves perdidas
| campanha = Segunda Guerra Mundial
}}
A '''Guerra de Inverno''', também conhecida como a '''Guerra Soviético-Finlandesa''' ou '''Guerra Russo-Finlandesa''' ({{lang-fi|''talvisota''}}, {{lang-sv|''vinterkriget''}}, {{lang-ru|''Зимняя война''}}) começoufoi quandoum conflito entre a [[União Soviética]] atacoue a [[Finlândia]],. bombardeandoIniciou-se com a capitalinvasão [[Helsínquia]]soviética aem [[30 de novembro]] de [[1939]], três meses após o início da [[Segunda Guerra Mundial]]., Oe conflitoterminou arrastou-setrês atémeses e meio depois, com o [[12Tratado de março]]Paz de [[1940Moscou]], quandoem um13 tratadode março de paz1940. foiApesar assinado,de cedendo 10%sua doforça territóriomilitar finlandêssuperior, eespecialmente 20%em datanques suae capacidade industrialaeronaves, àa União Soviética.<ref>{{Citar livrosofreu |sobrenome=Mäkeläperdas severas |nome=Essie |coautor=encontrou |título=Finlanddificuldade :em Republikenavançar Finland |subtítulo= |idioma=sueco |local=Kuopio |editora=Unipress |ano=2010 |páginas=32 |página=9 |capítulo=Historia|isbn=9789515793171 |acessodata= }}</ref><ref>{{citar web |url=http://wwwinicialmente.so-rummet.se/fakta-artiklar/finska-vinterkriget|título=Finska vinterkriget |publicado=SO-rummet |autor=Carsten Ryytty| língua=sueco |acessodata=13 de janeiro de 2016}}</ref><ref>{{Citar livro |sobrenome=Magnusson |nome=Thomas |coautor=Peter A. Sjögren |título=[[VadLiga varjedas svensk bör vetaNações]] (''Oconsiderou queo todosataque os suecos devem saber'') |língua=sueco |local=Estocolmo |editora=[[Editora Bonnier|Albert Bonniers Förlag]]ilegal e Publisherexpulsou Produktiona ABUnião |ano=2004Soviética |páginas=654de |página=21|capítulo=Finskasua vinterkriget|isbn=91-0-010680-1 |acessodata=}}</ref>organização.<ref>{{Citarcitar livro |sobrenomeúltimo1=HadeniusSander |nomeprimeiro1=StigGordon |coautor=Torbjörn Nilsson, Gunnar ÅseliusF. |título=SverigesThe historiaHundred -Day VadWinter varjeWar: svensk bör veta ('Finland'Histórias daGallant SuéciaStand against Othe queSoviet todos os suecos devem saber'')Army |idiomapublicado=suecoUniversity |local=EstocolmoPress |editora=Bonnierof AlbaKansas |anodata=19962013 |páginas=447 |página=374 |capítulo=Finska vinterkriget |isbn=91-34-51784-7}}</ref>
 
Os soviéticos fizeram diversas exigências, incluindo que a Finlândia cedesse territórios fronteiriços em troca de terras em outras áreas, alegando razões de segurança, principalmente para proteger [[Leningrado]], a 32 km da fronteira finlandesa. Quando a Finlândia recusou, os soviéticos invadiram. A maioria das fontes conclui que a União Soviética pretendia conquistar toda a Finlândia, apontando como evidência a criação de um [[República Democrática da Finlândia|governo comunista finlandês fantoche]] e os protocolos secretos do [[Pacto Molotov-Ribbentrop]]. Outros, no entanto, contestam essa visão. A Finlândia resistiu aos ataques soviéticos por mais de dois meses, infligindo perdas significativas em temperaturas que chegaram a −43 °C. As batalhas concentraram-se principalmente em Taipale, na [[Istmo da Carélia]]; em Kollaa, na Carélia Ladoga; e na [[Batalha de Raate Road|Estrada Raate]], em [[Caiânia|Kainuu]], com combates adicionais em [[Salla]] e [[Pechenga]], na [[Lapónia (Finlândia)|Lapônia]].<ref>{{citar jornal|último=Ahtiainen|primeiro=Ilkka|título=The Never-Ending Karelia Question|url=http://www2.hs.fi/english/archive/news.asp?id=20000718xx17|data=16 de julho de 2000|jornal=Helsinki Times|acessodata=5 de novembro de 2009|arquivourl=https://web.archive.org/web/20110629164923/http://www2.hs.fi/english/archive/news.asp?id=20000718xx17|arquivodata=29 de junho de 2011}}</ref><ref>{{citar livro |último1=Coates |primeiro1=William Peyton |último2=Coates |primeiro2=Zelda Kahan |título=Russia, Finland and the Baltic |local=London |publicado=[[Lawrence & Wishart]] |data=1940 }}</ref>
O motivo dos soviéticos não terem vencido tão facilmente, como previam, deve-se por um lado aos expurgos de 1937 no comando do [[Exército Vermelho]] e à falta de espírito de luta dos atacantes, e por outro lado ao êxito da resistência finlandesa, liderada pelo marechal [[Carl Gustaf Emil Mannerheim]].
 
Após os reveses iniciais, os [[Forças Armadas da União Soviética|soviéticos]] reduziram seus objetivos estratégicos e encerraram o governo comunista finlandês fantoche no final de janeiro de 1940, informando ao governo finlandês que estavam dispostos a negociar a paz. Depois de reorganizar suas forças militares e adotar táticas diferentes, os soviéticos renovaram sua ofensiva em fevereiro de 1940 e superaram as defesas finlandesas no Istmo da Carélia. Isso deixou o exército finlandês, no principal teatro de guerra, próximo ao ponto de ruptura, tornando a retirada praticamente inevitável. Consequentemente, o comandante-em-chefe finlandês [[Carl Gustaf Emil Mannerheim]] defendeu um acordo de paz com os soviéticos enquanto os finlandeses ainda tinham algum poder de negociação.<ref>{{citar livro |último1=Mannerheim |primeiro1=Carl Gustaf Emil |título=Memoirs |data=1953 |publicado=E.P. Dutton & Company |páginas=364–365}}</ref><ref>{{citar livro|último=Murphy|primeiro=David|url=https://www.worldcat.org/oclc/1261364794|título=The Finnish-Soviet Winter War 1939–40 Stalin's Hollow Victory|ano=2021|publicado=Bloomsbury Publishing Plc|outros=Johnny Shumate|isbn=978-1-4728-4394-4|local=London|oclc=1261364794|acessodata=22 de dezembro de 2021|arquivodata=7 de fevereiro de 2022|arquivourl=https://web.archive.org/web/20220207124244/https://www.worldcat.org/title/finnish-soviet-winter-war-1939-40-stalins-hollow-victory/oclc/1261364794}}</ref><ref>{{citar livro |editor-sobrenome1=Nenye |editor-nome1=Vesa |editor-sobrenome2=Munter |editor-nome2=Peter |editor-sobrenome3=Wirtanen |editor-nome3=Toni |editor-sobrenome4=Birks |editor-nome4=Chris |título=Finland at War: The Winter War 1939–1945 |ano=2015 |publicado=Osprey |isbn=978-1-4728-2718-0 }}</ref>
Como consequência, a União Soviética foi banida da [[Liga das Nações]] a [[14 de dezembro]] de 1939. [[Josef Stalin]] tinha esperado conquistar todo o país até ao final de 1939, mas a resistência finlandesa frustrou as forças soviéticas, que eram em maior número (3 soviéticos para 1 finlandês).
 
As hostilidades cessaram em março de 1940 com a assinatura do Tratado de Paz de Moscou, no qual a Finlândia cedeu 9% de seu território à União Soviética. As perdas soviéticas foram pesadas, e sua reputação internacional foi prejudicada. No entanto, seus ganhos territoriais superaram as exigências pré-guerra, com a anexação de territórios substanciais ao longo do [[Lago Ladoga]] e ao norte. A Finlândia manteve sua [[soberania]] e fortaleceu sua reputação internacional. O desempenho ruim do [[Exército Vermelho]] encorajou o chanceler alemão [[Adolf Hitler]] a acreditar que um ataque à União Soviética seria bem-sucedido, reforçando opiniões negativas ocidentais sobre os militares soviéticos. Após 15 meses de Paz Interina, em junho de 1941, a [[Alemanha Nazista|Alemanha]] iniciou a [[Operação Barbarossa]], marcando o início da [[Guerra de Continuação]] entre Finlândia e soviéticos.<ref>{{citar web|url=https://www.warhistoryonline.com/war-articles/winter-war-finland.html|título=The Winter War – When the Finns Humiliated the Russians|primeiro=Ivano|último=Massari|publicado=War History Online|data=18 de agosto de 2015|acessodata=19 de dezembro de 2021|arquivodata=19 de dezembro de 2021|arquivourl=https://web.archive.org/web/20211219185618/https://www.warhistoryonline.com/war-articles/winter-war-finland.html}}</ref>
O resultado da guerra foi misto. Embora as forças soviéticas finalmente tivessem conseguido atravessar a defesa finlandesa, nenhum lado, quer a União Soviética ou a Finlândia, emergiu do conflito vitorioso. As perdas soviéticas na frente de combate foram tremendas, e a posição internacional do país sofreu.
 
E ainda pior, as habilidades de combate do Exército Vermelho foram postas em questão, um facto que teve um grande impacto para a decisão de [[Adolf Hitler]] de lançar a [[Operação Barbarossa]]. Finalmente, as forças soviéticas não alcançaram o seu objectivo primário de conquistar a Finlândia, mas ganharam apenas uma extensão de território ao longo do [[lago Ladoga]]. Os finlandeses asseguraram a sua [[soberania]] e ganharam uma posição internacional considerável.
 
O tratado de paz de 12 de março de 1940 impediu as preparações franco-britânicas de envio de apoio para a Finlândia através do norte da [[Escandinávia]] (a [[campanha Aliada na Noruega]]) que impediria também o acesso alemão às minas de ferro no norte da [[Suécia]]. A invasão pela [[Alemanha Nazista]] da [[Dinamarca]] e da [[Noruega]] a [[9 de abril]] de 1940 ([[Operação Weserübung]]) desviou então a atenção do mundo para a luta pelo controlo da Noruega.
 
A Guerra de Inverno foi um desastre militar para a União Soviética. Contudo, Stalin aprendeu com este fiasco e compreendeu que o controlo sobre o Exército Vermelho já não era possível. Após a Guerra de Inverno, o [[Kremlin de Moscovo|Kremlin]] iniciou o processo de reinstaurar oficiais qualificados e de modernizar as suas forças, uma decisão que viria a permitir que os soviéticos resistissem à invasão alemã.
 
== Precedentes ==
A Finlândia tinha uma longa história de ser parte do [[Suécia|reino sueco]] quando fora conquistada em [[1808]], tornando-se num estado estabilizante para proteger a então capital russa [[São Petersburgo]]. Após a [[Revolução de Outubro]] que trouxe um governo soviético ao poder na Rússia, a Finlândia se auto-declarou independente a [[6 de dezembro]] de [[1917]].
 
Fortes relações entre a [[Finlândia]] e a [[Alemanha]] foram fundadas quando o movimento de independência da Finlândia era apoiado pelo [[Império Alemão]] durante a [[Primeira Guerra Mundial]]. Na subsequente [[Guerra Civil Finlandesa]] tropas [[Jäger]] finlandesas treinadas pelos alemães e tropas regulares alemãs tiveram um papel crucial. Apenas a derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial dificultou o estabelecimento de uma [[monarquia]] dependente da Alemanha, sob o poder de [[Frederico Carlos de Hesse]] como [[Lista de reis da Finlândia|Rei da Finlândia]]. Após a guerra, as relações entre a Alemanha e a Finlândia foram mantidas, embora a simpatia finlandesa com os [[Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães|Nacionais Socialistas]] não fosse a melhor.
 
Com as relações entre a União Soviética e a Finlândia tensas e congeladas - tanto os dois períodos de russificação forçada no virar do século, como o legado da rebelião socialista na Finlândia, contribuíram para uma forte desconfiança mútua. [[Josef Stalin]] temia que a Alemanha Nazi atacasse mais cedo ou mais tarde, e, que com a fronteira Soviético-Finlandesa apenas a 32 quilómetros de distância de São Petersburgo (na ocasião renomeada pelo governo comunista como ''Leninegrado,'' ou ''Leningrado)'', o território finlandês providenciaria uma excelente base para o ataque alemão - algo que EstalineStalin tentava evitar. Em [[1932]], a União Soviética assinou um [[pactoPacto de não agressão soviético-finlandês|pacto de não agressão]] com a Finlândia. O acordo foi renovado em [[1934]] para os 10 anos seguintes.
 
Em abril de [[1938]] ou possivelmente mais cedo, a União Soviética encetou negociações diplomáticas com a Finlândia, tentando melhorar as defesas mútuas contra a Alemanha. A principal preocupação da União Soviética era que a Alemanha utilizaria a Finlândia como uma ponte para o ataque a Leninegrado, e começou a fazer exigências ao governo finlandês de grandes áreas. Mais de um ano passou sem progresso significante e a situação política na Europa piorou.
 
A [[Alemanha Nazi]] e a União Soviética assinaram um pacto mútuo de não- agressão, o [[pacto Molotov-Ribbentrop]], a 23 de agosto de 1939. O pacto também incluía uma cláusula secreta incluindo a divisão dos países da [[Europa de Leste]] e bálticos entre os dois países. Foi concordado que a Finlândia estaria na "esfera de influência" soviética. O ataque alemão à [[Polónia]] a 1 de setembro foi seguido 16 dias depois pela [[Invasão Soviética da Polónia]] no leste. Em apenas algumas semanas tinham dividido o país entre si.
 
No outono de 1939, após o ataque alemão na Polónia, a União Soviética finalmente exigiu que a Finlândia concordasse em mover a fronteira mais 25 km para além de Leninegrado, que nesta altura estava apenas a 32 quilómetros da fronteira. E também exigiu que a Finlândia emprestasse a península de [[Hanko (Finlândia)|Hanko]] à União Soviética por 30 anos para a criação de uma base naval lá. Em troca, a União Soviética oferecia uma grande parte da [[Carélia]] (com o dobro da área, mas menos desenvolvida).
 
Mas o governo finlandês recusou-se a seguir as exigências soviéticas. A 26 de novembro, os soviéticos simularam um [[Bombardeamento de Mainila|bombardeamento finlandês contra Mainila]], um incidente no qual a artilharia soviética bombardeou áreas perto da vila russa de Mainila, procedendo ao anúncio que um ataque de artilharia finlandesa tinha matado tropas soviéticas. A União Soviética exigiu que os finlandeses pedissem desculpas pelo incidente e movessem as suas forças 20 a 25 quilómetros da fronteira. Os finlandeses negaram qualquer responsabilidade pelo ataque e recusaram-se a seguir as indicações soviéticas. A União Soviética utilizou isto como uma desculpa para quebrar o pacto de não- agressão. A 30 de novembro, as forças soviéticas atacaram com 23 divisões, totalizando {{fmtn|450000}} homens, que rapidamente alcançaram a [[Linha Mannerheim]].
 
Um [[Estado fantoche|regime fantoche]] foi criado na vila fronteiriça finlandesa ocupada de [[Terijoki]] (hoje Zelenogorsk), a 1 de dezembro de 1939, sob a protecção da [[República Democrática da Finlândia|República Democrática Finlandesa]] e liderada por [[Otto Ville Kuusinen]], tanto por causas diplomáticas (imediatamente tornou-se o único governo da Finlândia reconhecido pela União Soviética) como militares (esperavam que levasse os socialistas e comunistas existentes no exército finlandês a abandonarem a luta) mas não foi bem-sucedido. Esta república existiu até 12 de março de 1940, quando foi incorporada na [[República Socialista Soviética Carelo-Finlandesa]] Russa.
 
== A guerra ==
[[Ficheiro:Winter-War-Overview.png|direitaminiaturadaimagem|thumb|upright=1.2esquerda|Direcções do ataque do [[Exército Vermelho]] contra as maiores formações em ambos os lados]]
[[Ficheiro:Talvisota Molotov Cocktail.PNG|direita|thumb|upright=1.2|Soldado finlandês com um [[coquetel molotov]] durante a Guerra de Inverno]]
Inicialmente a Finlândia mobilizou um exército de {{fmtn|180000}} homens; as tropas finlandesas mostraram ser adversários temíveis, empregando [[Guerrilha|tácticas de guerrilha]], tropas de [[esqui]] de rápida movimentação com camuflagem branca, e que utilizavam os seus conhecimentos locais. Uma bomba improvisada adaptada da [[Guerra Civil Espanhola]] foi utilizada com grande sucesso, e ganhou fama com o nome de [[coquetel molotov]]. As condições de inverno em 1939-1940 eram duras; as temperaturas de -40º não eram raras, e os finlandeses conseguiram utilizá-las para sua vantagem. Frequentemente, os finlandeses optavam por não atacar os soldados inimigos convencionalmente, mas em vez disso atacar as cozinhas de comida (que eram cruciais para a sobrevivência soviética) e matar tropas soviéticas que se aqueciam à volta de fogueiras.
 
Além disso, para surpresa de ambos os líderes soviéticos e dos finlandeses, a maioria dos socialistas finlandeses não apoiavam a invasão soviética mas lutavam lado a lado com os seus compatriotas contra o inimigo comum. Muitos finlandeses [[Comunismo|comunistas]] mudaram-se para a União Soviética nos anos 1930 para construir o socialismo mas apenas para acabarem como vítimas do [[Grande Expurgo]] de [[Stalin]], que conduziu à grande desilusão e até ódio contra o regime soviético por entre os socialistas na Finlândia. Outro fator foi o avanço da sociedade finlandesa e das leis após a guerra civil que ajudaram a diminuir as diferenças entre as diferentes classes da sociedade. Esta cura parcial das feridas do pós-guerra civil na Finlândia (1918), e do conflito da língua finlandesa, são ainda referidos como o espírito da Guerra de Inverno, embora deva ser referido que muitos comunistas não eram autorizados a lutar no exército finlandês por causa dos seus ideais políticos.
[[Ficheiro:Talvisota Molotov Cocktail.PNG|direita|thumb|upright=1.2|Soldado finlandês com um [[coquetel molotov]] durante a Guerra de Inverno]]
 
Os atacantes não estavam à espera de grande luta por parte dos finlandeses e começaram até a invasão com bandas a marchar antecipando uma vitória rápida. Registos históricos contam que os soldados russos avançavam no início em direcção às linhas finlandesas de braços dados, cantando hinos soviéticos. Devido aos expurgos de Stalin, os comandantes do [[Exército Vermelho]] tinham tido 80% das suas perdas durante o tempo de paz. Estes eram frequentemente substituídos por pessoas menos competentes mas mais "leais" aos seus superiores, desde que Stalin tinha supervisionado os seus comandantes com [[comissário]]s ou oficiais políticos. Tácticas que eram obsoletas já no tempo da Primeira Guerra Mundial eram empregues, com a obrigação de serem seguidas ao detalhe. Muitas tropas soviéticas foram simplesmente perdidas devido ao seu comandante se recusar a retirar ou estar impedido de o fazer, pelos seus superiores.
 
O exército soviético estava mal preparado para a guerra durante o inverno, particularmente em florestas, e utilizava veículos motorizados extremamente vulneráveis. Estes veículos eram mantidos a trabalhar 24 horas por dia de modo ao seu combustível não congelar, mas continuaram a haver registos de motores a quebrar e de falta de combustível. Uma das perdas mais marcantes na história militar é o tão chamado [[Incidente de Raatteentie]], durante a [[Batalha de Suomussalmi]]. A 44.ª Divisão de Infantaria Soviética (de 25 mil soldados) foi completamente destruída após marchar numa rua estreita de uma floresta até a uma armadilha da unidade finlandesa ''Osasto Kontula'' (de 300 homens). Esta pequena unidade parou o avanço da Divisão Soviética, enquanto o coronel finlandês Siilasvuo e a sua 9.ª Divisão (de 6 mil homens) cortou a rota de retirada soviética, dividindo a força inimiga em unidades menores, destruindo unidade por unidade. Em adição, as tropas finlandesas tomaram 43 [[Carro de combate|carros de combate]], 71 canhões de artilharia e de defesa antiaérea, 29 [[Arma anticarro|canhões anticarro]], [[Veículo blindado de transporte de pessoal|VBTPs]], tratores, 260 camiões, 1170 cavalos, armas de infantaria, munição, material de comunicações, medicamentos e botas de inverno.
 
[[Ficheiro:Finnish soldiers during the Winter War.jpg|esquerda|thumb|upright=1.2|Soldados finlandeses]]
A Finlândia tinha uma força de 130 mil homens de 500 canhões no [[istmo da Carélia]], o principal teatro da guerra, e os soviéticos atacaram com 200 mil homens e 900 canhões. Os soviéticos enviaram mil carros de combate para a frente, mas foram mal utilizados e sofreram grandes perdas.
 
A falta de equipamento finlandês também era um problema. No início da guerra, apenas os soldados que tinham recebido treino básico tinham uniformes e armas. O resto dos soldados tinha de fazer a sua própria roupa e uma insígnia semelhante era depois adicionada. Estes uniformes recebiam a alcunha de [[Modelo Cajander]], segundo o nome do primeiro-ministro [[Aimo Cajander]]. Os finlandeses aliviavam a sua falta de equipamento fazendo uma utilização intensiva de equipamento, armas e munições capturadas ao inimigo. Por sorte, o exército não tinha alterado o [[calibre]] das suas armas após a independência e conseguia assim utilizar a munição soviética. Ironicamente, o envio de soldados mal treinados conduziu as tropas soviéticas directamente para as mãos dos finlandeses, permitindo a ampla oportunidade mais tarde de capturar o equipamento.
 
[[Ficheiro:Simo hayha honorary rifle.jpg|thumb|direita|upright=1.2|[[Simo Häyhä]] (1905–2002) soldado finlandês e o maior [[franco-atirador]] da história, autor de mais de 500 mortes confirmadas durante sua carreira militar]]
Dois outros factos devem ser mencionados. Devido à sua opinião e decisão de Stalin que os soldados russos da área fronteiriça com a Finlândia não eram de confiança para lutar contra os finlandeses, devido a uma história comum, o vasto número de soldados do Exército Vermelho eram recrutados das regiões do sul da União Soviética. Estes soldados do Exército Vermelho das regiões do sul não tinham absolutamente qualquer experiência com as condições do inverno do Árctico e virtualmente qualquer habilidade para sobrevivência na floresta, quanto mais experiência de combate. As tropas finlandesas tinham a sua própria roupa de inverno, e tinham vivido maior parte da sua vida na floresta, pois uma maioria dos finlandeses eram trabalhadores rurais até aos anos 1950. O tempo durante a Guerra de Inverno foi um dos três piores invernos registados na Finlândia.
 
A guerra aérea durante a Guerra de Inverno viu a formação inovadora finlandesa, "quatro dedos", de combate aéreo (quatro aviões, divididos em duas unidades de dois aviões, uma unidade a voar a baixa e a outra a alta altitude, cada avião combatia independentemente dos outros mas apoiava o seu colega-de-asa em combate) esta não era apenas superior à táctica russa de três caças em formação delta, mas como também foi mais tarde adoptada pelas maiores potências combatentes na guerra durante a [[Segunda Guerra Mundial]], sendo inclusive actualmente ainda utilizada. Esta formação "quatro dedos" contribuiu para a incapacidade dosde os bombardeiros russos infligirem danos sequenciais contra posições finlandesas, cidades e reservas.
 
== Apoio estrangeiro ==
[[Ficheiro:Winter war.jpg|upright=1.2|thumb|left|Soldados finlandeses em combate]]
O mundo exprimiu um grande apoio à causa finlandesa. A [[Segunda Guerra Mundial|Guerra Mundial]] não tinha realmente ainda começado e era vista pelo público como uma [[Guerra falsa|Guerra Falsa]]; nesta altura a Guerra de Inverno era a única luta real ao lado da invasão alemã e soviética da Polónia, e por isso um maior foco do interesse mundial. A agressão soviética era geralmente vista como totalmente injustificada. Várias organizações estrangeiras enviaram material de ajuda, tais como medicamentos. Vários imigrantes finlandeses nos [[Estados Unidos]] e no [[Canadá]] voltaram a casa, e vários voluntários (um deles que seria mais tarde o actor [[Christopher Lee]]) viajaram para a Finlândia e entraram nas forças armadas finlandesas: 10101 010 [[Dinamarca|dinamarqueses]], 895 [[Noruega|noruegueses]], 346 finlandeses expatriados, e 210 voluntários de outras nacionalidades conseguiram chegar à Finlândia antes que a guerra terminasse.
 
A [[Suécia]], que se tinha declarado como não- beligerante em vez de país neutro (como na guerra entre a Alemanha Nazi e as Potências Ocidentais) contribuiu com materiais militares, dinheiro, créditos, e ajuda humanitária e com alguns 8. 400 suecos voluntários preparados para combater pela Finlândia. Talvez a mais significante tenha sido a [[Força Aérea Voluntária Sueca (Guerra de Inverno)|Força Aérea Voluntária Sueca]], em acção desde 7 de janeiro, com 12 caças, 5 bombardeiros, e outros 8 aviões, sendo um terço da força aérea sueca naquela altura. Pilotos e mecânicos voluntários tinham sido chamados. O aviador de renome [[Carl Gustav von Rosen|Conde Carl Gustav von Rosen]], parente de [[Hermann Göring]], voluntariou-se independentemente.
 
O [[Corpo Voluntário Sueco (Guerra de Inverno)|Corpo Voluntário Sueco]], com 8. 402 homens na Finlândia, começou a render cinco batalhões finlandeses em Märkäjärvi em Fevereiro. Juntamente com os três batalhões finlandeses que ficaram, os corpos prepararam-se para um ataque de duas divisões soviéticas em Março. 33 homens morreram na acção, entre eles o comandante da primeira unidade rendida, o Tenente-Coronel Magnus Dyrssen.
 
O próprio [[Benito Mussolini]] decidiu ajudar a [[Finlândia]], enviou cerca de 100 mil rifles e 35 caças [[Fiat G.50]], que só não chegaram a tempo porque os alemães proibiram o trânsito de material militar para a [[Finlândia]] sobre o seu território e sobre o território polonês ocupado. A França também enviou milhares de rifles, munição, algumas dezenas de [[Morane-Saulnier M.S.406]]. Os britânicos por sua vez venderam a prazo algumas dúzias de caças [[Gloster Gladiator]].
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Dentro de um mês, a liderança soviética começou a considerar abandonar a operação, mas o governo finlandês tinha sido já abordado com uma proposta preliminar (através do governo Sueco) a 29 de janeiro. Até esta altura, a Finlândia lutava apenas pela sua existência. Quando rumores chegaram aos governos de Paris e de Londres, os incentivos para apoio militar mudaram dramaticamente. Agora a Finlândia combatia apenas para manter o mais possível do seu território perto de Leninegrado. Mas claro que o público não podia saber nada sobre isto — fosse na Finlândia, ou mundialmente. Para opinião pública, a luta da Finlândia continuava a ser uma luta pela vida e pela morte.
 
Em fevereiro de 1940 os [[Aliados]] ofereceram ajuda: O plano Aliado, aprovado a 5 de Fevereiro pelo Alto Comando Aliado, consistia em 100. 000 soldados britânicos e 35. 000 franceses que desembarcariam no porto norueguês de [[Narvik]] e que apoiariam a Finlândia através da Suécia enquanto asseguravam as rotas de suporte ao longo do caminho. O plano tinha sido aceite para ser lançado a 20 de março sob a condição que os finlandeses pedissem ajuda. A 2 de março, direitos de trânsito foram oficialmente requisitados aos governos da Noruega e da Suécia. Era esperado que isto trouxesse eventualmente estes dois países nórdicos neutros, Noruega e Suécia, para o lado dos Aliados - reforçando as suas posições contra a Alemanha, embora Hitler tivesse em Dezembro declarado ao governo sueco que tropas ocidentais em terra sueca provocariam imediatamente uma invasão alemã, que praticamente significava que a Alemanha Nazista tomaria a parte sul da Escandinávia enquanto a França e a Inglaterra combateriam no longínquo norte.
 
O governo sueco, liderado pelo primeiro-ministro [[Per Albin Hansson]], recusou permitir o trânsito de tropas estrangeiras através de território sueco. Embora a Suécia não se tivesse declarado neutra em relação à Guerra de Inverno, ela era neutra na guerra entre a França e a Inglaterra num lado e a Alemanha no outro.
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Diplomaticamente, a Finlândia estava dependente entre as promessas Aliadas para uma guerra prolongada e dos medos escandinavos de uma guerra contínua se espalhar aos países vizinhos (ou os refugiados que resultariam de uma potencial derrota finlandesa). Também de [[Wilhelmstraße]] chegaram conselhos distintos para paz e concessões - as concessões poderiam sempre ser mais tarde emendadas.
 
Enquanto [[Berlim]] e [[Estocolmo]] aplicavam pressão sobre [[Helsínquia]] para aceitar umaum tratado de paz sob más condições, [[Paris]] e [[Londres]] tinham o objectivo oposto. De tempo em tempo, diferentes planos e números eram apresentados aos finlandeses. Para começar, a França e a Inglaterra prometeram enviar 20 mil homens que chegariam em finais de fevereiro, embora sob a condição que a caminho da Finlândia seria dada a oportunidade de ocupar o norte da Escandinávia.
 
No final de fevereiro, o comandante supremo da Finlândia, Mannerheim, estava pessimista quanto à situação militar, sendo por isso que o governo decidiu a 29 de fevereiro começar negociações de paz. Nesse mesmo dia, os soviéticos começaram um ataque contra [[Viipuri]].
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Pelo final de fevereiro, os finlandeses tinham consumido os seus fornecimentos de munições. Adicionalmente a União Soviética tinha finalmente sido bem-sucedida em quebrar a [[Linha Mannerheim]], anteriormente impenetrável.
 
Finalmente a 29 de fevereiro] de 1940, o governo finlandês tinha concordado em começar as negociações. A 5 de março, o exército soviético tinha avançado de 10 a 15 quilómetros de lá da Linha Mannerheim e tinha entrado nos subúrbios de [[Viipuri]].
 
== Paz de Moscou ==
[[Ficheiro:Finnish areas ceded in 1940.png|direita|thumb|upright=1.2|Guerra de Inverno: Concessões finlandesas]]
No [[Tratado de Paz de Moscovo]] de 12 de março, a Finlândia foi forçada a ceder a parte finlandesa de [[Carélia]]. O território incluía a cidade de [[Viipuri]] (a segunda maior cidade do país), muito do território industrializado da Finlândia, e partes significantes ainda protegidas pelo exército finlandês: quase 10% do pré-guerra finlandês. AlgunsCerca de {{formatnum:442000}} carelianos, 12% da população da Finlândia, perderam as suas casas. Militares e civis foram rapidamente evacuados devido aos termos do tratado, e apenas alguns civis escolheram ficar sob a governação soviética.
 
A Finlândia teve também de ceder uma parte da área de [[Salla]], [[península de Kalastajansaarento]] no [[mar de Barents]] e quatro ilhas no [[golfo da Finlândia]]. A península de Hanko foi também emprestada à União Soviética como uma base militar por 30 anos.
 
Os termos de paz foram duros para a Finlândia, ainda mais porque os soviéticos receberam a cidade de Viipuri, além das suas exigências pré-guerra. Nem a simpatia por parte da Liga das Nações, aliados ocidentais, e dos suecos em particular, parece ter sido de grande ajuda aos finlandeses.
 
Apenas um ano mais tarde as hostilidades continuaram na [[Guerra da Continuação]].
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== Bibliografia ==
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{{Relações entre Alemanha e União Soviética (1918–1941)}}
 
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